SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  42
Télécharger pour lire hors ligne
As cores
   de
 Mateus
Mateus é um menino de cor.
Mas não é de cor vermelha…
Nem verde…
Nem azul…
Nem sequer amarela…
Ou com bolinhas…
Mateus é um menino
   de cor negra.
Mateus é
 negro
como a
noite. E
 escuro
como o
mistério.
Mateus tem a pele tostada,
cor de azeviche e de ameixa,
e é por isso que no seu rosto
 resplandecem as duas luas
  dos seus olhos, pequenos
  faróis que lhe iluminam o
         sorriso claro.
Mateus gosta do som das palavras que a
      sua mãe usa para chamá-lo.

               Azeviche.

- Que coisa é azeviche, mamã?
- O azeviche, Mateus, é um mineral
especial, de uma tonalidade de preto tão
bonita que se utiliza para fazer jóias.
- Aaaaaaaaaaaaah!

 Mateus gosta que a mãe o compare com
           esse carvãozinho.
E ameixa.
- E também és uma
pequena ameixa –
sussurra-lhe        a
mamã . - Como as
da ameixoeira da
quinta     da     tia
Margarida,       que
todos os verões
nos          oferece
deliciosas ameixas
negras.
Mateus sorri por
ser parecido com
esse fruto redondo,
saborosa ameixa
morena…
- E de certeza
que     também
gostarás     de
saber, Mateus,
que o azeviche
é um pássaro
pequeno, com o
corpo cinzento
e a cabeça e as
asas negras…
- Um pássaro!

Que sorte tem
Mateus por se
parecer com um
pássaro.
Mateus tem uma mamã
que lhe canta canções de
embalar e lhe conta
histórias, como a história
da sua vida, que ele
escuta prestando muita
atenção.
- Sabes, Mateus?
E a voz da mamã de
Mateus fica suaaaaave,
para contar:
- Tu nasceste numa ilha
distante das Caraíbas.
Uma ilha bonita, onde a
vegetação      transborda
das montanhas e os
coqueiros se aproximam
da praia para acariciar a
água cristalina.
- Lá, Mateus – continua
ela, repetindo o seu
nome,     enquanto    o
abraça -, os homens e
as mulheres têm pele
da cor da canela e
caminham como se
dançassem entre as
bananeiras, o cacau e a
doce cana de açúcar.
À noite
     costumam
cantar canções
    nostálgicas
     para que o
     vulcão e o
 furacão sejam
bons; para que
       durmam
     tranquilos
o papagaio,
a tartaruga e
o caimão…
Quando for grande, sonha Mateus, irá
navegando na sua canoa, até chegar à
longínqua ilha e trepará às árvores
mais altas para deslizar depois até à
praia como se descesse por um
escorrega. De certeza que ali, entre
animais selvagens e perigosas plantas
carnívoras, viverá mil aventuras com
final feliz e, se calhar, até poderá travar
amizade com um macaco, como o
Tarzan.
Mateus já o sabe.
Aquela senhora da ilha não podia
cuidar dele.
- Ela, que também te amava muito,
pediu-me que eu cuidasse de ti –
diz-lhe a sua mãezinha branca -, e
é por isso que agora eu sou a tua
mamã.
O menino quer ouvir mais.
- Oh, Mateus, aquele foi um
grande dia para mim. Não
imaginas a emoção enorme que
senti quando te conheci e te
peguei ao colo. Estava tão
contente por seres meu filho,
Mateus, que desatei a chorar de
felicidade. Nunca tinha visto um
bebé tão bonito como tu!
E Mateus, que adora que a sua mãezinha branca o
aconchegue e lhe diga todas as palavras que ele já sabe
da história da sua vida, deixa-se embalar pelo doce
murmúrio, como se essa voz fosse o vento morno que
faz mexer as papoilas e o trigo ou um passarinho que
tem o ninho no mais fundo do seu coração.
O menino
           é adotado, não é?


- E é assim que és meu filho, agora e para sempre.
Que te parece?
- Bem!
Mateus acha ótimo.
Sim, Mateus já sabe que é uma criança adotada.
Mas quando sobem no elevador, não gosta de ouvir o
vizinho do terceiro andar dizer:
Naturalmente        que
Mateus é adotado.
Por isso mesmo é que
Mateus, o próprio,
adora explicar isso
aos seus colegas de
turma,       fazendo-se
interessante:
-Eu não sou biológico,
sou      um      menino
adotado.
Todos o olham com
olhos       espantados,
olhos     de   meninos
brancos que não se
parecem com as luas
cheias que Mateus tem
a brilhar na cara.
- Puxa! Que sorte! –
exclamam admirados.
Outras vezes, Mateus não
se conforma, e então
brinca. Mateus brinca que
é um menino que nasceu
de um ovo redondinho.
Assim, bem enrolado,
encolhidinho, tapa-se com
o roupão.

Toc, toc,toc! Cataplof!

Agora sairá da casca
branca para surpreender a
mãe.
- Olá!, sou eu mamã, sou
o teu próprio filho, vês?,
nasci…
A mãe da cor da rosa e do
nácar beija-o e abraça-o.
- Mateus, meu filho.
A sua mamã é tão clara…
Mateus anda numa
escola perto de casa.
Tão perto, que da
varanda se vê o pátio
do recreio.
Um dia a mamã do
Mateus foi à varanda
para ver o seu filho a
brincar na hora do
recreio.
E o que é que ela vê?
Que horror!
Mateus está a lutar
com outras crianças.
A mãe sabe que não se deve lutar, mas espera
que Mateus volte da escola, e espera que
Mateus lanche, e espera que Mateus brinque,
e espera que Mateus jante e espera que
Mateus se lave e se deite.
E quando Mateus está quentinho entre os
lençóis e depois de lhe ter lido uma bonita
história, a mamã diz-lhe:
- Hoje, daqui da varanda de casa, vi-te no
recreio a brigar com os teus amigos. Isso não
se deve fazer e quero saber o que se passou…
- Nada.
- Lutavas por nada, Mateus?
- Sim, por nada – respondeu teimosamente. O
pequenino, que não quer contar que o Óscar e
o Jaime lhe chamaram preto.
Por isso Mateus tem
que ouvir tudo o que
a sua mamã continua
a dizer:
- Sabes que lutar é
uma             grande
estupidez, porque no
fim      todos       se
magoam. Além de
que ser negro não é
uma coisa má –
continua     a    mãe,
adivinhando-lhe      as
razões      –      pelo
contrário, só tens que
explicar-lhes que ser
diferente é bonito.
Realmente Mateus não se
aborrece ao ouvir aquele
sermão da mamã, bla, bla,
bla, bla, sobre os empurrões
e a violência, e como é feio
zangar-se com os amigos,
quando era bem melhor fazer
cócegas nos pés ou jogar à
bola, em vez de andar a
puxar os cabelos com
aqueles modos.
Que bonita é a sua mamã,
pena Mateus enquanto a
observa      embevecido     e
escuta com        atenção   o
sermão. Embora o repreenda,
nunca deixa de ser como um
plácido     entardecer    nas
margens de um rio, como um
passeio de barco pelo mar,
nas férias, ou até como um
gelado de dois sabores, de
morango e de pistacho.
Mateus decide que
nunca mais voltará a
lutar: nem com o Óscar
nem com o Jaime, nem
com ninguém. E, da
próxima      vez,  dirá
simplesmente:
-O     meu    nome    é
Mateus, e não gosto
quando      vocês   me
chamam preto. Sou
preto porque sou de
outro país.
Para que saibam.
Para que fiquem a
saber.

E Mateus, que é um
menino com a pele da
cor da noite, das
ameixas    e     dos
pássaros…
… sorri para a
mãe com uma
boca cheia de
dentes          tão
brancos, que na
sua cara alegre
se desenha meia
lua cor de amora.
E a sua mamã,
esta mamã tão
próxima e tão
sua, que Mateus
tem aqui junto a
si para tratar dele
e o amar, embora
não seja negra…
Nem vermelha…
Nem verde…
Nem azul…
Nem amarela…
… esta mamã
que,        quando
apanha sol é
capaz      de     se
queimar ou ficar
morena, abraça-o
e diz-lhe:
- Mateus,     filho,
amo-te tanto!
- Quanto, mamã?
- Do tamanho de todas as
cores, Mateus!
FIM
As cores de Mateus

    Texto de Marisa López Soria
 Ilustrações de Katarzyna Rogowicz
           Everest Editora

Trabalho realizado por Carlos Samina, no âmbito do
   projecto Romeus e Julietas/Educação Sexual


     Ano Lectivo 2010/2011 - Fevereiro

Contenu connexe

Tendances

Cuca, qual é a cor da sua toca_ (1).pdf
Cuca, qual é a cor da sua toca_ (1).pdfCuca, qual é a cor da sua toca_ (1).pdf
Cuca, qual é a cor da sua toca_ (1).pdfRita Ofrante
 
O menino que não gostava de sopa
O menino que não gostava de sopaO menino que não gostava de sopa
O menino que não gostava de sopaDébora Frazao
 
O monstro das cores pdf
O monstro das cores pdfO monstro das cores pdf
O monstro das cores pdfKatia Soares
 
Dia do pai todos os pais são diferentes
Dia do pai todos os pais são diferentesDia do pai todos os pais são diferentes
Dia do pai todos os pais são diferentesTeresa Ramos
 
O dia em que um monstro veio à escola
O dia em que um monstro veio à escolaO dia em que um monstro veio à escola
O dia em que um monstro veio à escolaMafalda Souto
 
A ovelha rosa da Dona Rosa - Donaldo Buchweitz
A ovelha rosa da Dona Rosa - Donaldo BuchweitzA ovelha rosa da Dona Rosa - Donaldo Buchweitz
A ovelha rosa da Dona Rosa - Donaldo BuchweitzMARIANE SUZARTE
 
Chapeuzinho vermelho
Chapeuzinho vermelhoChapeuzinho vermelho
Chapeuzinho vermelhoRF-ANTUNES
 
Escola dos meninos felizes livro
Escola dos meninos felizes   livroEscola dos meninos felizes   livro
Escola dos meninos felizes livroRoberto Schkolnick
 
Livro o coelhinho que não era da páscoa
Livro o coelhinho que não era da páscoaLivro o coelhinho que não era da páscoa
Livro o coelhinho que não era da páscoatlfleite
 
Meninos de todas as cores
Meninos de todas as coresMeninos de todas as cores
Meninos de todas as coresLúcia Cruz
 

Tendances (20)

Cuca, qual é a cor da sua toca_ (1).pdf
Cuca, qual é a cor da sua toca_ (1).pdfCuca, qual é a cor da sua toca_ (1).pdf
Cuca, qual é a cor da sua toca_ (1).pdf
 
O caracol
O caracol O caracol
O caracol
 
O menino que não gostava de sopa
O menino que não gostava de sopaO menino que não gostava de sopa
O menino que não gostava de sopa
 
Hoje é amanhã.
Hoje é amanhã.Hoje é amanhã.
Hoje é amanhã.
 
O monstro das cores pdf
O monstro das cores pdfO monstro das cores pdf
O monstro das cores pdf
 
Dia do pai todos os pais são diferentes
Dia do pai todos os pais são diferentesDia do pai todos os pais são diferentes
Dia do pai todos os pais são diferentes
 
Bruxa bruxa pdf
Bruxa bruxa pdfBruxa bruxa pdf
Bruxa bruxa pdf
 
Qual é a cor do amor...
Qual é a cor do amor...Qual é a cor do amor...
Qual é a cor do amor...
 
O dia em que um monstro veio à escola
O dia em que um monstro veio à escolaO dia em que um monstro veio à escola
O dia em que um monstro veio à escola
 
Os três jacarezinhos
Os três jacarezinhosOs três jacarezinhos
Os três jacarezinhos
 
A ovelha rosa da Dona Rosa - Donaldo Buchweitz
A ovelha rosa da Dona Rosa - Donaldo BuchweitzA ovelha rosa da Dona Rosa - Donaldo Buchweitz
A ovelha rosa da Dona Rosa - Donaldo Buchweitz
 
Chapeuzinho vermelho
Chapeuzinho vermelhoChapeuzinho vermelho
Chapeuzinho vermelho
 
A descoberta da joaninha
A descoberta da joaninhaA descoberta da joaninha
A descoberta da joaninha
 
Escola dos meninos felizes livro
Escola dos meninos felizes   livroEscola dos meninos felizes   livro
Escola dos meninos felizes livro
 
Peixinho arco íris
Peixinho arco írisPeixinho arco íris
Peixinho arco íris
 
Livro o coelhinho que não era da páscoa
Livro o coelhinho que não era da páscoaLivro o coelhinho que não era da páscoa
Livro o coelhinho que não era da páscoa
 
A bruxa salomé
A bruxa saloméA bruxa salomé
A bruxa salomé
 
Meninos de todas as cores
Meninos de todas as coresMeninos de todas as cores
Meninos de todas as cores
 
Uma história de carnaval
Uma história de carnavalUma história de carnaval
Uma história de carnaval
 
Pe de pai
Pe de paiPe de pai
Pe de pai
 

En vedette

As cores de mateus
As cores de mateusAs cores de mateus
As cores de mateusjifonteseca
 
"Meninos de todas as cores..."
"Meninos de todas as cores...""Meninos de todas as cores..."
"Meninos de todas as cores..."isabel preto
 
As cores de Mateus
As cores de Mateus As cores de Mateus
As cores de Mateus Rose Tavares
 
As cores de mateus 1º e 2º anos
As cores de mateus 1º e 2º anosAs cores de mateus 1º e 2º anos
As cores de mateus 1º e 2º anosbibliotecap
 
Meninos de todas as cores
Meninos de todas as coresMeninos de todas as cores
Meninos de todas as coresguest188b998
 
Princesa arabela-mimada-que-só ela
Princesa arabela-mimada-que-só elaPrincesa arabela-mimada-que-só ela
Princesa arabela-mimada-que-só elaArlete Rodrigues
 
Jardim dos afectos
Jardim dos afectosJardim dos afectos
Jardim dos afectosAcilu
 
Livros para baixar 4shared
Livros para baixar 4sharedLivros para baixar 4shared
Livros para baixar 4sharedEdna Andrade
 
23 de maio de 2012 letria
23 de maio de 2012 letria23 de maio de 2012 letria
23 de maio de 2012 letriaaesjl
 
Conto maravilhoso
Conto maravilhosoConto maravilhoso
Conto maravilhosomarima111
 
As cores-dos-amigos
As cores-dos-amigosAs cores-dos-amigos
As cores-dos-amigosAmadeu Wolff
 
Lila e o Segredo da Chuva
Lila e o Segredo da ChuvaLila e o Segredo da Chuva
Lila e o Segredo da ChuvaGustavo Claudia
 
Menino de todas as cores
Menino de todas as coresMenino de todas as cores
Menino de todas as coresprofa2011
 
Na minha escola todo mundo é igual
Na minha escola todo mundo é igualNa minha escola todo mundo é igual
Na minha escola todo mundo é igualElisete Nunes
 
O coração do baobá
O coração do baobáO coração do baobá
O coração do baobáIracema Perin
 

En vedette (20)

As cores de mateus
As cores de mateusAs cores de mateus
As cores de mateus
 
"Meninos de todas as cores..."
"Meninos de todas as cores...""Meninos de todas as cores..."
"Meninos de todas as cores..."
 
As cores de Mateus
As cores de Mateus As cores de Mateus
As cores de Mateus
 
As cores de mateus 1º e 2º anos
As cores de mateus 1º e 2º anosAs cores de mateus 1º e 2º anos
As cores de mateus 1º e 2º anos
 
Meninos de todas as cores
Meninos de todas as coresMeninos de todas as cores
Meninos de todas as cores
 
O Menino Marrom
O Menino MarromO Menino Marrom
O Menino Marrom
 
Sistema monetario
Sistema monetarioSistema monetario
Sistema monetario
 
Princesa arabela-mimada-que-só ela
Princesa arabela-mimada-que-só elaPrincesa arabela-mimada-que-só ela
Princesa arabela-mimada-que-só ela
 
Jardim dos afectos
Jardim dos afectosJardim dos afectos
Jardim dos afectos
 
Jogo de afetos
Jogo de afetosJogo de afetos
Jogo de afetos
 
Livros para baixar 4shared
Livros para baixar 4sharedLivros para baixar 4shared
Livros para baixar 4shared
 
23 de maio de 2012 letria
23 de maio de 2012 letria23 de maio de 2012 letria
23 de maio de 2012 letria
 
Folder registro
Folder registroFolder registro
Folder registro
 
Conto maravilhoso
Conto maravilhosoConto maravilhoso
Conto maravilhoso
 
As cores-dos-amigos
As cores-dos-amigosAs cores-dos-amigos
As cores-dos-amigos
 
Apresentacao campanha contra racismo UNICEF
Apresentacao campanha contra racismo UNICEFApresentacao campanha contra racismo UNICEF
Apresentacao campanha contra racismo UNICEF
 
Lila e o Segredo da Chuva
Lila e o Segredo da ChuvaLila e o Segredo da Chuva
Lila e o Segredo da Chuva
 
Menino de todas as cores
Menino de todas as coresMenino de todas as cores
Menino de todas as cores
 
Na minha escola todo mundo é igual
Na minha escola todo mundo é igualNa minha escola todo mundo é igual
Na minha escola todo mundo é igual
 
O coração do baobá
O coração do baobáO coração do baobá
O coração do baobá
 

Similaire à As+cores+de+mateus

Mateus e o brinquedo desaparecido
Mateus e o brinquedo desaparecidoMateus e o brinquedo desaparecido
Mateus e o brinquedo desaparecidoMarisa Seara
 
A truta Mocha - 1ª Parte
A truta Mocha - 1ª ParteA truta Mocha - 1ª Parte
A truta Mocha - 1ª Partehcbmelo
 
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃ
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃUM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃ
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃAdriana Matheus
 
Mateus e o muiraquitã
Mateus e o muiraquitãMateus e o muiraquitã
Mateus e o muiraquitãMarisa Seara
 
A Truta Mocha
A Truta MochaA Truta Mocha
A Truta Mochapoletef
 
A sementinha alves redol (1)
A sementinha alves redol (1)A sementinha alves redol (1)
A sementinha alves redol (1)Sandra Pinheiro
 
A truta Mocha - 2ª Parte
A truta Mocha - 2ª ParteA truta Mocha - 2ª Parte
A truta Mocha - 2ª Partehcbmelo
 

Similaire à As+cores+de+mateus (14)

Mateus e o brinquedo desaparecido
Mateus e o brinquedo desaparecidoMateus e o brinquedo desaparecido
Mateus e o brinquedo desaparecido
 
10 sonhos de_natal
10 sonhos de_natal10 sonhos de_natal
10 sonhos de_natal
 
A truta Mocha - 1ª Parte
A truta Mocha - 1ª ParteA truta Mocha - 1ª Parte
A truta Mocha - 1ª Parte
 
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃ
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃUM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃ
UM OLHAR VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS - A HISTÓRIA DE UMA CORTESÃ
 
A VIDA DE MAOMÉ(MOHAMMED)
A VIDA DE MAOMÉ(MOHAMMED)A VIDA DE MAOMÉ(MOHAMMED)
A VIDA DE MAOMÉ(MOHAMMED)
 
A mãe na poesia
A mãe na poesiaA mãe na poesia
A mãe na poesia
 
Mateus e o muiraquitã
Mateus e o muiraquitãMateus e o muiraquitã
Mateus e o muiraquitã
 
A Truta Mocha
A Truta MochaA Truta Mocha
A Truta Mocha
 
Miguilim
MiguilimMiguilim
Miguilim
 
Miguilim
MiguilimMiguilim
Miguilim
 
Carta para belém
Carta para belémCarta para belém
Carta para belém
 
A sementinha alves redol (1)
A sementinha alves redol (1)A sementinha alves redol (1)
A sementinha alves redol (1)
 
A truta Mocha - 2ª Parte
A truta Mocha - 2ª ParteA truta Mocha - 2ª Parte
A truta Mocha - 2ª Parte
 
Vila criança
Vila criançaVila criança
Vila criança
 

Plus de blog4c

Urban art best of 2011
Urban art   best of 2011Urban art   best of 2011
Urban art best of 2011blog4c
 
Pontes do minho
Pontes do minhoPontes do minho
Pontes do minhoblog4c
 
Copiade lasmejoresposturasenlacama
Copiade lasmejoresposturasenlacamaCopiade lasmejoresposturasenlacama
Copiade lasmejoresposturasenlacamablog4c
 
A sopa verde maria
A sopa verde mariaA sopa verde maria
A sopa verde mariablog4c
 
Horta bio pedagogica
Horta bio pedagogicaHorta bio pedagogica
Horta bio pedagogicablog4c
 
Felismina cartolina e joão papelão
Felismina cartolina e joão papelãoFelismina cartolina e joão papelão
Felismina cartolina e joão papelãoblog4c
 
A horta pedagógica
A horta pedagógicaA horta pedagógica
A horta pedagógicablog4c
 
A liberdade o que é
A liberdade o que éA liberdade o que é
A liberdade o que éblog4c
 
Encontro inter escolas emrc 2012
Encontro inter escolas emrc 2012Encontro inter escolas emrc 2012
Encontro inter escolas emrc 2012blog4c
 
As partes de_uma_planta[1]ppt maria maia
As partes de_uma_planta[1]ppt maria maiaAs partes de_uma_planta[1]ppt maria maia
As partes de_uma_planta[1]ppt maria maiablog4c
 
Histria do dobro_e_do_triplo
Histria do dobro_e_do_triploHistria do dobro_e_do_triplo
Histria do dobro_e_do_triploblog4c
 
Pronome indefinido
  Pronome indefinido  Pronome indefinido
Pronome indefinidoblog4c
 
Pronome indefinido
  Pronome indefinido  Pronome indefinido
Pronome indefinidoblog4c
 
Todos os pais são diferentes
Todos os pais são diferentesTodos os pais são diferentes
Todos os pais são diferentesblog4c
 
Todos os pais são diferentes
Todos os pais são diferentesTodos os pais são diferentes
Todos os pais são diferentesblog4c
 

Plus de blog4c (15)

Urban art best of 2011
Urban art   best of 2011Urban art   best of 2011
Urban art best of 2011
 
Pontes do minho
Pontes do minhoPontes do minho
Pontes do minho
 
Copiade lasmejoresposturasenlacama
Copiade lasmejoresposturasenlacamaCopiade lasmejoresposturasenlacama
Copiade lasmejoresposturasenlacama
 
A sopa verde maria
A sopa verde mariaA sopa verde maria
A sopa verde maria
 
Horta bio pedagogica
Horta bio pedagogicaHorta bio pedagogica
Horta bio pedagogica
 
Felismina cartolina e joão papelão
Felismina cartolina e joão papelãoFelismina cartolina e joão papelão
Felismina cartolina e joão papelão
 
A horta pedagógica
A horta pedagógicaA horta pedagógica
A horta pedagógica
 
A liberdade o que é
A liberdade o que éA liberdade o que é
A liberdade o que é
 
Encontro inter escolas emrc 2012
Encontro inter escolas emrc 2012Encontro inter escolas emrc 2012
Encontro inter escolas emrc 2012
 
As partes de_uma_planta[1]ppt maria maia
As partes de_uma_planta[1]ppt maria maiaAs partes de_uma_planta[1]ppt maria maia
As partes de_uma_planta[1]ppt maria maia
 
Histria do dobro_e_do_triplo
Histria do dobro_e_do_triploHistria do dobro_e_do_triplo
Histria do dobro_e_do_triplo
 
Pronome indefinido
  Pronome indefinido  Pronome indefinido
Pronome indefinido
 
Pronome indefinido
  Pronome indefinido  Pronome indefinido
Pronome indefinido
 
Todos os pais são diferentes
Todos os pais são diferentesTodos os pais são diferentes
Todos os pais são diferentes
 
Todos os pais são diferentes
Todos os pais são diferentesTodos os pais são diferentes
Todos os pais são diferentes
 

As+cores+de+mateus

  • 1. As cores de Mateus
  • 2. Mateus é um menino de cor.
  • 3.
  • 4. Mas não é de cor vermelha…
  • 5.
  • 8.
  • 10.
  • 12.
  • 13. Mateus é um menino de cor negra.
  • 14.
  • 15. Mateus é negro como a noite. E escuro como o mistério.
  • 16. Mateus tem a pele tostada, cor de azeviche e de ameixa, e é por isso que no seu rosto resplandecem as duas luas dos seus olhos, pequenos faróis que lhe iluminam o sorriso claro.
  • 17. Mateus gosta do som das palavras que a sua mãe usa para chamá-lo. Azeviche. - Que coisa é azeviche, mamã? - O azeviche, Mateus, é um mineral especial, de uma tonalidade de preto tão bonita que se utiliza para fazer jóias. - Aaaaaaaaaaaaah! Mateus gosta que a mãe o compare com esse carvãozinho.
  • 18. E ameixa. - E também és uma pequena ameixa – sussurra-lhe a mamã . - Como as da ameixoeira da quinta da tia Margarida, que todos os verões nos oferece deliciosas ameixas negras. Mateus sorri por ser parecido com esse fruto redondo, saborosa ameixa morena…
  • 19. - E de certeza que também gostarás de saber, Mateus, que o azeviche é um pássaro pequeno, com o corpo cinzento e a cabeça e as asas negras… - Um pássaro! Que sorte tem Mateus por se parecer com um pássaro.
  • 20. Mateus tem uma mamã que lhe canta canções de embalar e lhe conta histórias, como a história da sua vida, que ele escuta prestando muita atenção. - Sabes, Mateus? E a voz da mamã de Mateus fica suaaaaave, para contar: - Tu nasceste numa ilha distante das Caraíbas. Uma ilha bonita, onde a vegetação transborda das montanhas e os coqueiros se aproximam da praia para acariciar a água cristalina.
  • 21. - Lá, Mateus – continua ela, repetindo o seu nome, enquanto o abraça -, os homens e as mulheres têm pele da cor da canela e caminham como se dançassem entre as bananeiras, o cacau e a doce cana de açúcar.
  • 22. À noite costumam cantar canções nostálgicas para que o vulcão e o furacão sejam bons; para que durmam tranquilos o papagaio, a tartaruga e o caimão…
  • 23. Quando for grande, sonha Mateus, irá navegando na sua canoa, até chegar à longínqua ilha e trepará às árvores mais altas para deslizar depois até à praia como se descesse por um escorrega. De certeza que ali, entre animais selvagens e perigosas plantas carnívoras, viverá mil aventuras com final feliz e, se calhar, até poderá travar amizade com um macaco, como o Tarzan.
  • 24. Mateus já o sabe. Aquela senhora da ilha não podia cuidar dele. - Ela, que também te amava muito, pediu-me que eu cuidasse de ti – diz-lhe a sua mãezinha branca -, e é por isso que agora eu sou a tua mamã. O menino quer ouvir mais. - Oh, Mateus, aquele foi um grande dia para mim. Não imaginas a emoção enorme que senti quando te conheci e te peguei ao colo. Estava tão contente por seres meu filho, Mateus, que desatei a chorar de felicidade. Nunca tinha visto um bebé tão bonito como tu!
  • 25. E Mateus, que adora que a sua mãezinha branca o aconchegue e lhe diga todas as palavras que ele já sabe da história da sua vida, deixa-se embalar pelo doce murmúrio, como se essa voz fosse o vento morno que faz mexer as papoilas e o trigo ou um passarinho que tem o ninho no mais fundo do seu coração.
  • 26. O menino é adotado, não é? - E é assim que és meu filho, agora e para sempre. Que te parece? - Bem! Mateus acha ótimo. Sim, Mateus já sabe que é uma criança adotada. Mas quando sobem no elevador, não gosta de ouvir o vizinho do terceiro andar dizer:
  • 27. Naturalmente que Mateus é adotado. Por isso mesmo é que Mateus, o próprio, adora explicar isso aos seus colegas de turma, fazendo-se interessante: -Eu não sou biológico, sou um menino adotado. Todos o olham com olhos espantados, olhos de meninos brancos que não se parecem com as luas cheias que Mateus tem a brilhar na cara. - Puxa! Que sorte! – exclamam admirados.
  • 28. Outras vezes, Mateus não se conforma, e então brinca. Mateus brinca que é um menino que nasceu de um ovo redondinho. Assim, bem enrolado, encolhidinho, tapa-se com o roupão. Toc, toc,toc! Cataplof! Agora sairá da casca branca para surpreender a mãe. - Olá!, sou eu mamã, sou o teu próprio filho, vês?, nasci… A mãe da cor da rosa e do nácar beija-o e abraça-o. - Mateus, meu filho. A sua mamã é tão clara…
  • 29. Mateus anda numa escola perto de casa. Tão perto, que da varanda se vê o pátio do recreio. Um dia a mamã do Mateus foi à varanda para ver o seu filho a brincar na hora do recreio. E o que é que ela vê? Que horror! Mateus está a lutar com outras crianças.
  • 30. A mãe sabe que não se deve lutar, mas espera que Mateus volte da escola, e espera que Mateus lanche, e espera que Mateus brinque, e espera que Mateus jante e espera que Mateus se lave e se deite. E quando Mateus está quentinho entre os lençóis e depois de lhe ter lido uma bonita história, a mamã diz-lhe: - Hoje, daqui da varanda de casa, vi-te no recreio a brigar com os teus amigos. Isso não se deve fazer e quero saber o que se passou… - Nada. - Lutavas por nada, Mateus? - Sim, por nada – respondeu teimosamente. O pequenino, que não quer contar que o Óscar e o Jaime lhe chamaram preto.
  • 31. Por isso Mateus tem que ouvir tudo o que a sua mamã continua a dizer: - Sabes que lutar é uma grande estupidez, porque no fim todos se magoam. Além de que ser negro não é uma coisa má – continua a mãe, adivinhando-lhe as razões – pelo contrário, só tens que explicar-lhes que ser diferente é bonito.
  • 32. Realmente Mateus não se aborrece ao ouvir aquele sermão da mamã, bla, bla, bla, bla, sobre os empurrões e a violência, e como é feio zangar-se com os amigos, quando era bem melhor fazer cócegas nos pés ou jogar à bola, em vez de andar a puxar os cabelos com aqueles modos. Que bonita é a sua mamã, pena Mateus enquanto a observa embevecido e escuta com atenção o sermão. Embora o repreenda, nunca deixa de ser como um plácido entardecer nas margens de um rio, como um passeio de barco pelo mar, nas férias, ou até como um gelado de dois sabores, de morango e de pistacho.
  • 33. Mateus decide que nunca mais voltará a lutar: nem com o Óscar nem com o Jaime, nem com ninguém. E, da próxima vez, dirá simplesmente: -O meu nome é Mateus, e não gosto quando vocês me chamam preto. Sou preto porque sou de outro país. Para que saibam. Para que fiquem a saber. E Mateus, que é um menino com a pele da cor da noite, das ameixas e dos pássaros…
  • 34. … sorri para a mãe com uma boca cheia de dentes tão brancos, que na sua cara alegre se desenha meia lua cor de amora. E a sua mamã, esta mamã tão próxima e tão sua, que Mateus tem aqui junto a si para tratar dele e o amar, embora não seja negra…
  • 39. … esta mamã que, quando apanha sol é capaz de se queimar ou ficar morena, abraça-o e diz-lhe: - Mateus, filho, amo-te tanto! - Quanto, mamã?
  • 40. - Do tamanho de todas as cores, Mateus!
  • 41. FIM
  • 42. As cores de Mateus Texto de Marisa López Soria Ilustrações de Katarzyna Rogowicz Everest Editora Trabalho realizado por Carlos Samina, no âmbito do projecto Romeus e Julietas/Educação Sexual Ano Lectivo 2010/2011 - Fevereiro