1. VISITA DE AHMADINEJAD
Discurso de Priscila Krause
Saudações aos presentes
Hoje, 23 de novembro, Sua Excelência, o Presidente Luís Inácio Lula da Silva
recebe uma visita inconveniente – o Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad – e,
estou certa, indesejada pela grande maioria do povo brasileiro.
O esforço para entender as razões da política externa brasileira é
insuficiente para justificar reiteradas demonstrações de simpatia e apreço por um
governante cujo comportamento contraria valores cultivados pela sociedade
brasileira e a visão estratégica das nossas relações internacionais. De logo,
ressalvo: a avaliação que faço do homem de Estado não se confunde com o respeito
que tenho pelo povo que governa.
Ahmadinejad é anti-semita. Nega o Holocausto e não hesita em propor a
destruição do Estado de Israel. Tremem os restos mortais de Oswaldo Aranha, o
brasileiro que presidiu a reunião histórica da ONU, em 29 novembro de 1947, e teve
participação decisiva na aprovação do Plano de Partilha da Palestina, criando dois
estados, um Árabe e outro Judeu. Assusta o mundo o proclamado anti-semitismo do
Senhor Ahmadinejad que segue vivo e ameaçador. Para ele, Ahmadinejad, vale o um
dito antigo: “Os judeus eram amaldiçoados por fazer e eram amaldiçoados por não
fazer”; valem as palavras do filósofo judeu Max Nordau: “Os pretextos variam, mas
o ódio continua”. E no caso do Presidente do Irã o anti-semitismo nada tem de
enrustido ou dissimulado: é frontalmente destrutivo.
Significa, pois, o anti-semitismo hostilidade étnica, religiosa, cultural e
política, dissimulada ou ostensiva, preconceituosa ou efetiva na relação como os
judeus. Segundo alguns historiadores, trata-se do “mais duradouro dos ódios”:
abrange desde comportamentos discriminatórios ao martírio genocida, o
Holocausto, empreendido pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
O Brasil estende o tapete vermelho para Ahmadinejad, um chefe de Estado
beligerante que prepara seu país para se transformar numa potencia nuclear.
Precisamente o Brasil, nação cuja Constituição Federal determina que a energia
nuclear somente pode ser usada para fins pacíficos.
Ahmadinejad é um caudilho cujas inclinações ditatoriais não permitiram que
a imprensa livre mostrasse ao mundo as suspeita de fraude na recente reeleição; o
reverso do Brasil, país que, a despeito das distorções do sistema político, desfruta
de liberdade política, realiza eleições limpas, utilizando mais avançados métodos de
votação do mundo.
Ahmadinejad é um contumaz violador dos direitos humanos. Aqui ele vai
encontrar uma sociedade que tem avançado sistematicamente no respeito às
minorias e às diferenças entre as pessoas.
Os dois chefes de Estado falam ou deveriam falar idiomas políticos
completamente diferentes. Lidam com realidades políticas completamente distintas.
Entretanto, o entorno no Presidente Lula, e setores do seu partido, o PT, e o
2. desfigurado e aparelhado Itamaraty, têm dado reiteradas demonstrações de apreço
por aliados declaradamente anti-semitas.
Vamos a elas:
I – Por ocasião do agravamento dos bombardeios na faixa de Gaza, foi
publicada nota do PT, subscrita pelos Srs. Ricardo Berzoini e Valter Pomar cujo
texto acusa a reação israelense à artilharia palestina de “prática nazista” e ação
terrorista. Ainda bem que esta nota foi repudiada por respeitadas lideranças petistas
(cerca de 36), salientando que o referido texto “posiciona equivocadamente o PT em
relação a um conflito de notável complexidade”. Por sua vez, O Centro Simon
Wiesenthal rechaçou firmemente a posição oficial do PT ao afirmar: “O comunicado
do PT é escandaloso, mas não surpreende em razão do seu acordo com o PARTIDO
BAATH ÁRABE SOCIALISTA DA SÍRIA. Lembremos que, sob o regime do Baath, a
Síria deu refúgio ao criminoso nazista Alois Brunner, o braço direito de Adolf
Eichmann na implementação da ‘solução final’. Isto sim é cumplicidade com o
nazismo. Se o PT busca a paz, então, sua melhor contribuição seria condenar o anti-
semitismo do Hamas e protestar contra a chuva de foguetes que essa organização
dispara contra civis israelenses, assim como contra seu abuso de civis palestinos
ao utilizá-los como escudos humanos”.
II – Seria um exagero repetir o dito popular “dize-me com quem andas que te
direis quem és”, porém, soa no mínimo estranho que o grande aliado do governo de
Lula, o socialista bolivariano, Presidente da Venezuela, seja um declarado anti-
semita. Eis o que ele disse no discurso natalino de 2005: “O mundo existe para
todos, mas acontece que os descendentes dos mesmos que crucificaram Cristo (...)
se apropriaram da riqueza do mundo”. Não surpreende que esta surrada retórica
anti-semita venha estimulando ações anti-judaicas na Venezuela a exemplo do
ataque à mais antiga Sinagoga de Caracas, em 30 de janeiro de 2009, deixando
ameaçadoras inscrições “não os queremos, assassinos”, “morte a todos”.
III – O incômodo hóspede da embaixada brasileira em Honduras, o delirante
e anti-semita Zelaya, divulgou o boatos segundo os quais “mercenários israelenses
estavam tentando assassiná-lo” e que foi torturado por “radiação de alta freqüência
e gases tóxicos” por supostos agentes de Israel”.
IV – O governo brasileiro apoiou um anti-semita, o egípcio Farouk Hosni,
para dirigir a UNESCO, em prejuízo de dois candidatos brasileiros Marcio Barbosa e
o Senador Cristovam Buarque que, também, era postulante desde que tivesse apoio
do governo. A posição brasileira desagradou grandes aliados EUA, Rússia, México,
França, Índia, China, declarados eleitores do candidato brasileiro; o Senhor Farouk
perdeu a eleição para a búlgara Irina Bukova; e o Brasil perdeu um espaço
importante no órgão da ONU que tem atribuições no campo da educação e cultura.
Infelizmente, a política externa brasileira que sempre primou pela
competência profissional e pela visão estratégica de situar Brasil como um país de
vocação pacifista, plural, encontra-se hoje contaminada por um forte viés
ideológico. O que não deixa de ser um contra-senso na medida em que o Brasil em
razão dos avanços conquistados no campo político, econômico e social é tido no
jargão da economia internacional como a “bola da vez”, ou seja, um país que exerce
forte atração pelo capital externo. Ideologia e pragmatismo são categorias que se
repelem. É compreensível que se tenha por objetivo elevar um fluxo de comércio
Brasil/Irã de dois para 15 bilhões de dólares. Mas que o Brasil reitere sua firmeza em
relação aos princípios e valores democráticos e pacíficos que sempre nortearam a
3. nossa agenda internacional; que reafirme o seu apreço pelo respeito aos direitos
humanos dos povos; que se empenhe na luta pela paz no oriente médio sem fazer
concessões aos fanáticos de quaisquer credos religiosos e políticos. Para tanto o
que se exige do governo Lula, no mesmo diapasão, é que o Brasil mantenha a
distância política de um chefe de Estado anti-semita, beligerante e autoritário. Com
este perfil, nem Ahmadinajad, nem qualquer outro chefe de Estado é bem-vindo ao
nosso país. Isto precisa ser dito pela imprensa livre, pela tribuna política, pela voz
do protesto popular nas ruas brasileiras.