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Bolha de carvão chinesa
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A Bolha de Carvão Chinesa… e como ela esvaziará os esforços americanos para
produzir “carvão limpo”
Por Richard Heinberg
A ideia generalizada nos círculos ligados ao setor de energia e meio-ambiente é a de que a economia
chinesa, que cresce à razão de oito por cento ou mais por ano, é hoje alimentada em sua maior parte
pelo carvão e continuará assim durante as décadas que virão. O carvão é barato e abundante, e a China
o utiliza muito mais do que qualquer outra nação. O país está tentando desenvolver rapidamente outras
fontes de energia – incluindo a nuclear, a solar e a eólica – mas estas não serão suficientes para reduzir
sua dependência do carvão. Isto é uma das razões pelas quais é importante que os EUA desenvolvam a
tecnologia do “carvão limpo”, que a China poderá adotar para reduzir os terríveis impactos causados no
clima pela energia gerada na maior parte pelo carvão.
Essa ideia está correta em sua maior parte, mas há algo nela que está visivelmente errado – na verdade
tão errado que os especialistas em políticas ambientais, econômicas e energéticas estão delineando
cenários para o futuro dos Estados Unidos, da energia mundial, e da economia global, que apresentam
pouca ou nenhuma semelhança com a realidade que se está revelando.
Vamos ver se podemos separar o que está certo do que está errado e, também, ver se isto pode nos
ajudar a ter uma noção mais exata de para onde a China e o resto do mundo estão realmente indo.
Trem Descarrilhado
É verdade, é claro, que o consumo de carvão da China é enorme e está em crescimento, e que o carvão
é a base da economia chinesa, sendo responsável por mais de 80% da geração de eletricidade. A
produção chinesa de carvão cresceu surpreendentemente 28,1 por cento entre o primeiro trimestre de
2.009 e o primeiro trimestre de 2.010, chegando a mais de 750 milhões de toneladas métricas
consumidas apenas nos últimos três meses. Porém, isso é uma situação obviamente insustentável – não
apenas por causa das emissões de carbono que acarreta, mas porque a China simplesmente não tem
carvão suficiente para suportar por mais tempo o crescimento do consumo.
Vamos começar pelas estatísticas e usar uma matemática simples. A China está atualmente extraindo e
queimando mais de três bilhões de toneladas de carvão por ano. Se seu consumo de carvão crescer,
digamos, a sete por cento ao ano, isto significa que dobrará em dez anos (a taxa anual de crescimento
era na verdade de mais que nove por cento nos últimos um ou dois anos, acarretando uma duplicação a
cada oito anos – mas vamos ser conservadores e imaginar um crescimento de sete por cento). Nesse
caso, até 2.020, a China estaria usando cerca de seis bilhões de toneladas ao ano.
É preciso refletir um pouco para aceitar a enormidade destes números. Em 2.000, o consumo de carvão
pela China era apenas levemente maior que o dos EUA. Hoje, uma década depois, ele é três vezes o
consumo dos Estados Unidos. (É preciso notar que os Estados Unidos têm o dobro das reservas
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chinesas de carvão). Some agora níveis nunca vistos de consumo a taxas violentas de crescimento e
você chegará rapidamente ao absurdo e à impossibilidade. Não vai dar certo. As rodas do vagão se
soltarão antes.
Há Limites
Para minerar e usar carvão é preciso ter infraestrutura. Trilhos e vagões, além de caminhões e estradas,
são necessários para transportar o carvão das minas às usinas de energia. Depois, há as minas em si,
assim como as câmaras de combustão e turbinas que realmente produzem a eletricidade. (Neste artigo
não faremos maiores considerações sobre a importância vital do carvão para indústria de aço chinesa,
nem sobre a necessidade do aço para a indústria e para o crescimento econômico em geral).
A China está construindo tudo isto em um ritmo frenético – mas a matemática inexorável do
crescimento exponencial está começando a funcionar. Em termos práticos, é relativamente fácil dobrar
pequenos níveis de produção e consumo, mas, à medida que as quantidades aumentam, crescem as
dificuldades. A China conseguiu, na década passada, realizar uma admirável façanha, adicionando
quase dois bilhões de toneladas por ano à produção, à capacidade de consumo e à infraestrutura de
transporte de carvão. Adicionar mais três bilhões de toneladas de capacidade por ano durante a próxima
década seria, digamos, uma façanha duas vezes maior. Imagine construir uma infraestrutura para
mineração e transporte três vezes maior que todas as indústrias americanas de ferrovia e de carvão em
apenas dez anos. É isso o que a China terá que fazer para manter taxas de crescimento de sete por
cento.
Para consumir carvão é necessário dispor de outros recursos: a água é de importância crucial para
mover usinas que usam carvão para gerar energia. Uma usina normal produzindo 500 megawatts a
partir do carvão usa cerca de 2,2 bilhões de galões(*) de água por ano para produzir o vapor que
movimentará suas turbinas - água suficiente para sustentar uma cidade de 250.000 pessoas. Secas
recentes arruinaram grandes áreas na China, paralisando represas hidroelétricas e aumentando a
demanda pelo carvão. Se as secas voltarem a ocorrer e piorarem (como sugere o cenário da mudança
climática), em algum momento as usinas nucleares e hidroelétricas serão obrigadas a parar,
ocasionando o mesmo tipo de problema de abastecimento de energia elétrica que já está atormentando
o Paquistão e dezenas de outras nações, onde as luzes ficam apagadas por horas diariamente, mesmo
nas grandes cidades.
E assim, em parte por causa desses fatores, mas principalmente porque a maioria das estradas, shopping
centers e equipamentos que o povo chinês provavelmente necessitará já foram construídos, a China está
entrando em um período caracterizado pelo que é chamado de “efeitos de saturação”, que trará uma
significativa desaceleração dos principais setores da economia consumidores de energia industrial. A
expansão da infraestrutura chinesa, que tanto impulsionou o crescimento da demanda energética na
década passada atingiu provavelmente seu pico, e o crescimento da demanda de cimento e aço
diminuirá em breve. O pacote nacional de estímulos, representando 40% do PIB, prolongou a festa,
mas estará esgotado ao redor do próximo ano e provavelmente não poderá ser repetido.
Mas isto ainda deixa no ar uma questão latente: pode a indústria chinesa de carvão continuar a suprir a
demanda doméstica mesmo com modestas taxas de crescimento, caindo talvez para algo como dois por
cento ao ano?
Se Não Está Aí, Você Não Pode Queimá-lo
De acordo com o Instituto Mundial do Carvão, as reservas chinesas totalizam mais de 110 bilhões de
toneladas. Isto é quase a quantidade necessária para 37 anos, mantidas as taxas atuais de consumo (isto
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é, três bilhões de toneladas por ano). Porém, acreditar que a China não terá problemas de suprimento de
carvão até que se passem 37 anos, é acreditar também em dois absurdos: que a demanda, produção e
consumo de carvão da China permanecerá constante; e que, depois de manter uma taxa constante de
extração e consumo por 37 anos, a China descobrirá um dia, repentinamente, que seu carvão acabou.
Na realidade, acredita-se que a demanda por carvão chinesa cresça. Adicionando-se à previsão dez por
cento de crescimento anual de consumo, teríamos como resultado apenas 16 anos de duração das
reservas. Embora uma taxa constante de crescimento dessa magnitude seja extremamente improvável,
vale a pena não esquecer esse fato.
Na realidade, curvas de produção mapeadas ao longo do tempo assumem a forma de um sino
distorcido, começando em zero e terminando em zero, apresentando um pico em algum lugar no meio.
Sabemos que isto é verdade no caso da extração do carvão porque várias regiões no mundo já tiveram
um pico e um declínio substancial nas taxas de extração e, até agora, nenhuma região conseguiu manter
um ritmo alto e constante de produção (ou uma taxa de produção crescente) até o momento em que,
subitamente, as reservas terminem. Isto significa que a produção chinesa de carvão atingirá o pico e
começará a declinar muito mais cedo do que as relações ente reservas e produção possam sugerir (37
anos para taxas constantes ou 16 para taxas com dez por cento de crescimento anual).
A China poderia aumentar suas reservas de carvão? Em princípio, sim. Reservas são definidas como a
parte do total de carvão que os geólogos acreditam poder ser extraída economicamente. Novas
tecnologias de extração e preços mais altos para o carvão poderiam modificar estas estimativas.
Contudo, a tendência global dominante é rebaixar reservas à categoria de meros recursos quando os
geólogos levam em consideração mais restrições para determinar a quantidade de carvão que é possível
extrair - restrições como localização, profundidade, espessura dos estratos e qualidade do carvão. É esta
tendência global que faz com que alguns analistas duvidem dos números oficiais chineses, de 187
bilhões de toneladas de reservas (quantidade notavelmente mais alta do que as estimativas publicadas
pelo Conselho Mundial de Energia, pelo Instituto Mundial do Carvão e outros): o carvão certamente
está lá, mas – como a maioria do carvão no mundo todo – a maior parte dele está provavelmente
destinada a permanecer no lugar em que está.
Em meu livro de 2.009, Blackout: Coal, Climate and the Last Energy Crisis (Blecaute: Carvão, Clima
e a Última Crise de Energia), analisei quatros estudos que projetavam a data da ocorrência do pico da
produção de carvão na China. Em um dos extremos, um estudo de 2.006, do Grupo de Vigilância da
Energia da Alemanha, usou a estimativa de 62,2 bilhões de toneladas de reservas para projetar um pico
de produção em 2.015, com um rápido declínio da produção começando em 2020. No outro extremo,
um estudo de 2.007, publicada no Energy Policy (Política Energética) pelos acadêmicos chineses Tao e
Li, usando o número oficial do governo chinês de 187 bilhões de toneladas, chegou a um pico
ocorrendo entre 2.025 e 2.032.
Nenhuma destas projeções previu o rápido crescimento da produção chinesa de carvão que de fato
ocorreu nos últimos anos. Este erro de prognóstico poderia ser interpretado de duas maneiras,
sugerindo que: ou as reservas chinesas são maiores do que foi anteriormente estimado, permitindo
assim manter altas taxas sustentadas de extração, ou os funcionários governamentais chineses, para
sustentar o crescimento econômico, forçaram os ritmos de extração ao nível máximo mais cedo do que
se esperava, antecipando assim o pico de produção – que poderia, portanto, possivelmente ocorrer
ainda antes da data mais próxima prevista (2.015).
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Sem Alternativas
Crescimento econômico requer energia, e a China precisa do crescimento econômico para manter a
estabilidade política nacional e a competitividade internacional. Se não houver suficiente carvão para
sustentar o crescimento energético do país, outras opções precisam ser consideradas.
A China está desenvolvendo fontes alternativas de energia; será que elas poderão entrar em
funcionamento em tempo para fazer uma diferença? Vamos trabalhar alguns números. O objetivo da
China é alcançar 100 gigawatts (GW) de capacidade de energia eólica até 2.020 e os líderes da nação
planejam expandir a capacidade instalada de energia solar para 20 GW no mesmo período. São
objetivos verdadeiramente inacreditáveis, e se a China chegar pelo menos perto de atingi-los, terá se
tornado o líder mundial em energia renovável. Contudo, há um problema: a capacidade total chinesa de
geração de eletricidade é atualmente de 900 GW; com um crescimento de sete por cento, a demanda
nacional de eletricidade em 2.020 será algo em torno de 1.800 GW. A energia eólica e solar juntas
forneceriam menos que sete por cento desse total. A única coisa que poderia melhorar bastante este
percentual seria uma dramática redução no crescimento da demanda energética para, digamos, dois por
cento anuais.
A situação com a energia nuclear é semelhante: a China tem hoje 11 usinas nucleares e está no
processo de construção de mais 20, com o objetivo de alcançar a capacidade de gerar 60 GW, ou
possivelmente mais, até 2.010. Porém, isto fornecerá apenas de três a cinco por cento da demanda total
de eletricidade, dependendo das taxas de crescimento da demanda de energia.
A conclusão é preocupante, mas inevitável: a dependência chinesa do carvão não pode ser reduzida
significativamente enquanto a demanda pela energia elétrica continuar a crescer a taxas semelhantes às
atuais. E ainda que o crescimento da demanda energética diminua e fontes alternativas de energia
comecem a operar rapidamente, a capacidade do país para suprir a necessidade nacional de carvão
continuará sendo posta à prova.
Importações Não Podem Compensar a Diferença
Até recentemente, a China tem sido autossuficiente em carvão (importando carvão, mas exportando a
mesma quantidade ou até mais), mas problemas de suprimento nos últimos anos levaram ao
crescimento das importações e à redução das exportações. Se as minas chinesas não podem mais
atender a demanda nacional, por que não expandir as importações ainda mais para compensar a
diferença?
A China importará 150 milhões de toneladas (Mt) de carvão neste ano, o dobro do que importou no ano
passado. Não é muito, se pensarmos neste valor como um percentual do total de consumo nacional de
carvão. Mas, esses 150 milhões de toneladas representam mais de 60 por cento da exportação total da
Austrália, maior exportador mundial de carvão. Isto significa que se a China dobrar novamente as
importações no próximo ano – o que não é impossível - ela terá necessidade de importar mais carvão
do que a Austrália pode atualmente fornecer. Com uma duplicação a mais na demanda por importação,
a China vai precisar de 600 milhões de toneladas ao ano, o que se aproxima da quantidade total de
carvão que foi exportada por todas as nações exportadoras no ano passado.
A Austrália pode aumentar a produção de carvão? Sim, pode e sem dúvida o fará. Da mesma forma que
a Indonésia e a África do Sul. Mas haverá capacidade, em algum desses países ou em todos eles juntos,
para aumentar as exportações com a rapidez necessária para fazer frente à demanda chinesa? Mais uma
vez, a expansão será limitada pelas necessidades de infraestrutura – navios, portos, trens e linhas
ferroviárias. Leva tempo para construir tudo isso. Nas últimas décadas do século XXI a Austrália
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poderia chegar a ser o maior produtor mundial de carvão, ainda que suas reservas sejam menores do
que as dos Estados Unidos, da China ou da Índia. (Como isso seria possível? Isso poderia simplesmente
acontecer se as citadas nações engolirem rápida e imediatamente suas próprias reservas; a Austrália, até
esse momento, tem sido um produtor um pouco menos importante). Mas isto trará pouco benefício à
China na próxima década, caso sua produção de carvão doméstica atinja o pico e entre em um declínio
acentuado.
A crescente dependência chinesa da importação de carvão não é uma boa notícia para a Índia, a Europa
e outros importadores de carvão. A Índia queima 500 milhões de toneladas por ano e está enfrentando
problemas crescentes em sua indústria mineradora. A solução parece ser, evidentemente, importar mais
carvão. A Índia quer que sua economia cresça sete por cento anualmente, exatamente como a China
está fazendo, e a economia da Índia é exatamente tão dependente do carvão quanto a chinesa.
Até recentemente, o carvão era um recurso usado na maior parte das vezes no próprio país de origem.
O carvão comercializado internacionalmente era uma pequena percentagem do total do consumo
mundial – uma situação bem diferente da do petróleo, do qual a metade é exportada pelo país de
origem. Entretanto, há uma tendência crescente para o desenvolvimento de um mercado integrado
mundial de carvão – e parece que essa tendência está prestes a entrar em marcha acelerada.
Isto significa que, se a demanda por carvão importado da China e da Índia empurrar os preços do
mercado exportador de carvão para cima (como é quase certo que venha a acontecer e, provavelmente,
com uma força considerável), o preço do carvão subirá em todos os lugares – inclusive nos países que
são autossuficientes neste recurso. Afinal, se uma empresa mineradora americana puder conseguir o
dobro do preço para seu produto vendendo-o no exterior, em vez de vendê-lo dentro do próprio país,
ela não vai optar por exportá-lo? A menos que os governos estabeleçam restrições às exportação ou
limites para os preços nacionais, o preço internacional do carvão exportado acabará sendo o preço
interno praticado por todos os países.
Se os preços do carvão subirem muito, causarão queda na demanda, pois os potenciais compradores de
carvão escolherão outras fontes de energia ou simplesmente não comprarão nada. Como resultado,
teremos nos preços do carvão a mesma espécie de volatibilidade que vimos acontecer com os preços do
petróleo nos últimos anos. Esta volatibilidade nos preços minará os mercados de energia em geral, e as
nações mais pobres que se utilizam do carvão não terão recursos para acompanhar o mercado.
Consequências para os Estados Unidos: Esqueçam o “Carvão Limpo”
O que tem isso tudo a ver com a tecnologia do “carvão limpo”?
Também conhecido como Captura e Armazenamento de Carbono (CAC), o “carvão limpo” é
considerado como a solução para um dos maiores quebra-cabeças que a civilização industrial está
enfrentando no século XXI: como reduzir a emissão de gases do efeito estufa, evitando assim
mudanças catastróficas no clima, mantendo ao mesmo tempo o crescimento dos suprimentos de energia
e, portanto, da atividade econômica. Já que nenhuma autoridade pode aparentemente imaginar como
manter o crescimento econômico deixando o carvão fora da equação energética mundial, e já que quase
todos imaginam que o carvão continuará barato e abundante por um longo tempo dentro do futuro
previsível, a resposta óbvia para o dilema é encontrar uma maneira de continuar a queimar quantidades
crescentes de carvão evitando que o CO2 resultante vá para a atmosfera.
Sabemos que isso pode ser feito – em uma pequena escala. Todos os componentes da tecnologia já
estão operando em vários projetos-piloto. Companhias petrolíferas já injetam dióxido de carbono nos
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poços de petróleo para aumentar a produção. Oleodutos, compressores e bombas – nenhum destes
equipamentos requer física quântica.
Há dois empecilhos: dificuldade para ampliar esse projeto e seu impacto no preço da eletricidade.
Como muitos analistas comentaram, o simples tamanho da operação proposta - se colocada em prática
apenas nos EUA, sem incluir o mundo inteiro – será estonteante. E os custos de todos esses oleodutos,
bombas, compressores e novas usinas de gaseificação do carvão (que são necessárias porque é
realmente difícil e caro adicionar o CAC às termelétricas atuais que queimam carvão pulverizado)
seriam acrescentados rápida e abruptamente. Todos os especialistas em energia concordam que isso
elevará o preço da eletricidade.
Mesmo assim, o esquema pode funcionar razoavelmente bem – enquanto o preço do carvão permanecer
constante.
Entretanto, adicione preços do carvão muito mais altos à equação e o resultado obtido serão custos de
eletricidade que reduzirão o crescimento econômico, tornarão outras fontes de energia
comparativamente mais viáveis economicamente – ou ambas as coisas. Conclusão: a hora do “carvão
limpo” não chegará nunca.
Há outras razões para acreditar que o preço do carvão nos Estados Unidos aumentará daqui a mais ou
menos uma década. As estimativas oficiais das reservas americanas de carvão estão provavelmente
infladas e problemas no suprimento doméstico poderiam começar a aparecer mais cedo do que a
maioria dos analistas de energia está disposta a admitir. Além disso, se a produção mundial de petróleo
começar logo a declinar (de acordo com as previsões de um número cada vez maior de analistas), a
infraestrutura do transporte de carvão americana poderia começar a claudicar por causa dos preços mais
altos do diesel, uma vez que os custos com o transporte com frequência correspondem à parte do leão
no preço do carvão entregue. Mas mesmo se ignorarmos esses limites sistêmicos assustadores e
considerarmos somente as implicações do crescimento da demanda chinesa por carvão importado, é
claro que o preço do carvão nos Estados Unidos não fará outra coisa senão subir. A única probabilidade
de evitar isso seria um colapso econômico na China – e no mundo.
China: Levando a Economia Global… para o Fosso
Alguns analistas estão preocupados com a economia chinesa por razões que nada têm a ver com o
carvão. O melhor exemplo: parece que Pequim está tendo um problema com uma excessiva
dependência da expansão imobiliária como motor do crescimento econômico nacional. Uma das
pessoas que está alertando para o problema é o administrador de fundos de cobertura James Chanos,
fundador da empresa Kynikos Associates Ltd.; segundo ele, a China está “à beira do abismo” e
corresponde a “mil vezes Dubai”. Ele também foi citado dizendo que “eles não podem se dar ao luxo
de se livrar do vício da expansão imobiliária. É a única coisa que mantém os dados ... econômicos em
crescimento”.
Se bolha imobiliária da China estourar, pode fazer com que sua economia entre em colapso rápida e
imediatamente. Mas isso é essencialmente um problema de dinheiro, e o dinheiro é uma criação da
mente humana. Moedas nacionais podem ser reformadas; sistemas bancários podem ser reorganizados.
Estas coisas são dolorosas e levam tempo, mas são certamente possíveis – e os exemplos históricos são
inúmeros.
Com a energia o assunto é diferente. Sem energia, nada acontece. Os sistemas de transporte são
interrompidos, a construção civil e a indústria param. As luzes são apagadas. Não é possível obter
energia do nada, nem criá-la usando as teclas do computador, como os banqueiros podem fazer com o
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dinheiro. Para gerar eletricidade são necessários recursos físicos, infraestrutura e trabalho. Portanto,
existem limites naturais para a quantidade de energia que podemos mobilizar a qualquer momento para
atender nossos objetivos.
A China tornou-se uma grande força industrial principalmente por ter sido capaz de aumentar seu
fornecimento de energia de maneira rápida e barata. Portanto, a contribuição chinesa à economia
mundial é, neste contexto, uma função da contribuição chinesa à energia mundial. Um sinal importante
desta ligação é o fato de que a produção de carvão chinesa representa mais do que o dobro da
quantidade de energia com a qual a produção de petróleo da Arábia Saudita contribui para a economia
mundial (1.100 milhões de toneladas de equivalentes de petróleo contra 540 toneladas de equivalentes
de petróleo).
Se a China enfrenta sérios limites de energia, isto significa que sua economia está vivendo uma
situação precária. Isto também significa que o mundo, como um todo, está enfrentando restrições
energéticas e econômicas que são mais rigorosas e estão mais próximas do que se diz.
Criando Bolhas Para Sempre?
Carvão com preços altos e “carvão limpo” não se misturam. A insaciável fome chinesa por mais carvão
fará o preço do carvão subir pelo mundo todo. A China não pode manter sua expansão industrial
movida a carvão por muito mais tempo, e a economia mundial não pode acelerar sem o motor chinês. A
evidência destes fatos não poderia ser mais clara: os números que analisamos não são discutíveis e a
matemática do crescimento composto constante é fácil. Entretanto, nenhuma destas realidades entrou
em nosso discurso público. O fato em si é realmente peculiar e perturbador. Estamos participando de
um acidente de trem em câmera lenta, e só conseguimos discutir sobre a qualidade da refeição no carro
restaurante.
Talvez isto aconteça porque, para reconhecer o desastre do trem, precisaríamos enfrentar uma série de
contradições no núcleo do projeto industrial moderno todo. Sem carvão limpo, não há solução para a
crise climática – a menos que estejamos dispostos a desistir do crescimento econômico. Porém, o
crescimento futuro pode ser inatingível em todo caso, uma vez que o mundo aproxima-se do limite dos
recursos fundamentais. Ninguém quer pensar sobre essas coisas, e muito menos falar sobre elas. Nem
os líderes chineses, nem os economistas de outros países, nem muitos ambientalistas, nem políticos e
nem jornalistas.
Mas não podemos desejar que esses limites desapareçam por mágica. Coisas impossíveis (como
crescimento econômico infinito) não acontecem só porque as pessoas querem que elas aconteçam. E
coisas terríveis (como o desastre do trem chinês), não serão evitadas só porque reconhecer que elas
existem nos causa mal-estar.
Há, evidentemente, medidas que poderiam ser tomadas pelo governo chinês – e, na verdade, por todos
nós – para melhorar a situação. Deveríamos desenvolver e empregar energia renovável o mais
rapidamente possível, dando-lhe a mesma prioridade e dedicação dos tempos de guerra. E deveríamos
fazer planos para o fim do crescimento, na verdade para a retração econômica. Estas coisas serão
difíceis, mas não há como evitá-las. Porém, em princípio, são possíveis. Mas, certamente fracassaremos
se continuarmos a nos negar a reconhecer a realidade e sem pelo menos nos esforçarmos.
A bolha econômica da China, de certa maneira, representa um microcosmo de todo o período industrial
– ele próprio uma era relativamente breve de urbanização, expansão movida à combustão de fósseis,
inovação tecnológica, e explosão de consumo jamais vista. A China precisou de apenas três décadas
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para realizar o que outras nações fizeram ao longo de alguns séculos. Isto sugere que, no caso desse
país, a implosão virá igualmente de maneira rápida.
Tudo isso é um espetáculo notável. Sente confortavelmente, assista e maravilhe-se se você quiser. Mas
saiba de uma coisa: a menos que todos acordem, puxem os freios deste trem descarrilhado (e aqui não
estou falando somente da China), e comecem a discutir como iremos nos ajustar ao fim do crescimento
econômico, como o conhecemos e da maneira como o definimos, nada disto terminará bem.
(*) Um galão americano corresponde a aproximadamente 3.79 litros.
Tradução R. Seelaender
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