O documento descreve as principais atividades realizadas pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS), incluindo mapear e cadastrar famílias, identificar doenças endêmicas, promover a saúde de gestantes, crianças, idosos e outras populações, participar de ações de saneamento e educação comunitária. Também discute atividades específicas com gestantes e crianças, como encaminhamento para pré-natal e acompanhamento do cartão da gestante e da criança.
1. ...............
........................................................................................................................................
atividades comuns a todas as comunidades, mas há cidades e outros locais que precisam de atividades
especiais para as suas comunidades.
EXEMPLOS DE ATIVIDADES REALIZADAS PELO ACS
Faz o cadastramento das famílias da sua área de trabalho;
faz o mapeamento da sua área de trabalho;
analisa com a equipe de saúde as necessidades da sua comunidade, participando do diagnóstico
de saúde da comunidade;
atua, junto com os serviços de saúde, nas ações de controle das doenças endêmicas (cólera,
dengue, doença de chagas, esquistossomose, febre amarela e outras);
atua, junto com os serviços de saúde, nas ações de promoção e proteção da saúde da criança, da
mulher, do adolescente, do idoso e dos portadores de deficiência física e de deficiência mental;
atua, junto com os serviços de saúde, nas ações de promoção da saúde e prevenção do câncer de
mama e câncer do colo do útero, da hipertensão e do diabetes, da tuberculose e da hanseníase;
participa das ações de saneamento básico e melhoria do meio ambiente;
estimula a educação e a participação comunitária.
A instrutora-supervisora disse que tinha mais alguns cartazes que mostravam outras atividades do
ACS e perguntou se eles queriam que ela continuasse a falar sobre isso. Francisco achou que seria
interessante conhecer um pouco mais sobre o trabalho do ACS, pois parecia um trabalho muito
importante. Inês então continuou a falar, agora sobre algumas atividades com gestantes e crianças.
ATIVIDADES QUE O ACS FAZ COM GESTANTES E CRIANÇAS
encaminha todas as gestantes da sua área de trabalho à Unidade
de Saúde para fazer o pré-natal;
orienta todas as gestantes sobre a importância de fazerem o pré-
acompanha todas as gestantes, através do Cartão da Gestante;
.............................................................
natal;
CAPÍTULO II
Identifica e cadastra todas as gestantes da sua área de trabalho,
preenchendo a Ficha B do cadastramento.
39
2. ...............
O ACS - UM AGENTE DE MUDANÇAS
.................................................................................................................................................................
cadastra todas as crianças de 0 a 5 anos. No cadastramento que faz da família, o ACS registra
o número de crianças, por idade;
acompanha o desenvolvimento físico e psicológico das crianças de 0 a 5 anos de idade,
através do Cartão da Criança;
incentiva a vacinação e acompanha o esquema de vacina das crianças, através do Cartão da
Criança;
estimula o aleitamento materno;
identifica as crianças com diarréia e promove o uso do SRO - sais de reidratação oral;
identifica, logo no início, as crianças com infecções respiratórias agudas, as IRAs. Encaminha
as crianças aos serviços de saúde, quando necessário. Orienta as mães e familiares sobre a prevenção
e o tratamento. Acompanha as crianças para que fiquem logo curadas.
A instrutora/ supervisora falou que o ACS é treinado também para orientar as pessoas:
nos cuidados de higiene com o corpo, com a água de beber, com a casa, no preparo dos
alimentos;
na construção de privadas ou "casinhas":
nos cuidados com o lixo.
Inês destacou quatro ações importantes que o agente comunitário faz:
identifica áreas e situações de risco individual e coletivo;
encaminha as pessoas que vivem essas situações e nessas situações aos serviços que
podem ajudar a resolvê-los;
40
acompanha as pessoas, para ajudá-las a conseguir bons resultados.
.............................................................
CAPÍTULO II
orienta as pessoas, de acordo com as instruções da equipe de saúde;
D. Josefa: Dona Inês, o que são situações de risco?
Inês: São aquelas situações em que uma pessoa ou grupo de pessoas "corre perigo", isto é, tem
maior chance de adoecer ou mesmo morrer. O local onde essas situações de risco ocorrem são
chamadas de Microáreas de Risco. Vamos ver uns exemplos de situações de risco? Estão em situação
de risco:
3. ...............
...............................................................................................................................
os bebês que não são amamentados no peito;
os bebês que nascem com menos de 2 quilos e meio;
os filhos de mães que fumam, bebem bebidas alcoólicas e
usam drogas na gravidez;
as crianças que estão desnutridas;
as gestantes desnutridas;
as gestantes que têm pressão alta e não fazem pré-natal;
as gestantes menores de 20 anos e, também, mulheres que
engravidam depois dos 36 anos.
Inês (continuando a falar): Nesses casos, essas pessoas têm
mais chance de ficar doentes e até morrer, se não forem tomadas as
providências necessárias.
Francisco: Se "dona" Inês me permite um aparte, já vi gente
ficar doente por conta de:
falta de água tratada;
lixo jogado em qualquer lugar;
mau uso de venenos na lavoura;
desmatamento das florestas;
.............................................................
Inês: O que "seu" Francisco falou é verdade. Existem situações que aumentam o risco de as pessoas
ficarem doentes, mas também existem situações que impedem as pessoas de irem até os serviços de saúde,
quando estão em risco de vida ou até para se prevenirem contra as doenças. Nesses casos, as barreiras que
impedem as pessoas de se locomoverem até as Unidades de Saúde podem aumentar o risco e até levá-las à
morte. Existem barreiras geográficas, como o mar, rios, lagoas, morros, serras, locais sem acesso, assim
como barreiras temporais, como o engarrafamento no trânsito, transportes bastante lentos, e outros. E até
barreiras culturais que impedem as pessoas de cuidarem adequadamente da sua própria saúde.
Inês: Vamos falar um pouco sobre as Microáreas de Risco. São áreas pequenas,
CAPÍTULO II
poluição dos rios.
41
4. ...............
O ACS - UM AGENTE DE MUDANÇAS
..................................................................................................................
daí o nome micro, onde existe perigo, ameaça, risco. Para o Agente Comunitário de Saúde, Microárea de
Risco é todo aquele lugar, setor ou situação, no território da comunidade, onde existe algum tipo de perigo
para a saúde das pessoas que moram ali. Os exemplos que o "seu" Francisco nos deu há pouco foram de
Microáreas de Risco. Vamos ver outros exemplos?
Esgoto a céu aberto é uma das Microáreas de Risco que o Agente Comunitário de Saúde mais
costuma encontrar. Tanto na periferia das cidades como na zona rural, há muitos esgotos a céu aberto.
Água de poço também pode ser uma ameaça à saúde das pessoas. Sempre que comunidade usa
água que não é encanada, sem o devido tratamento, o Agente Comunitário de Saúde deve ficar atento e
orientar como tratar a água em casa, além de mobilizar as pessoas para que elas possam tomar
providências para sanear o poço ou buscar ajuda para isto.
Riacho é igualmente uma ameaça à saúde das pessoas. A água está contaminada e as pessoas não
podem usar a água para tomar banho, lavar roupa, e até os peixes não servem para ser consumidos.
Isolamento - a distância às vezes isola as pessoas e elas acabam não querendo levar os filhos às
unidades de saúde para vacinar; as gestantes não vão fazer o pré-natal; os idosos acham difícil ir tão longe.
Inês: Existem algumas situações de risco que podem ser resolvidas individualmente, como uma
gestante em situação de risco que, fazendo o pré-natal completo e sendo acompanhada de acordo com as
orientações da unidade de saúde, pode ter o seu filho e não ter complicações no parto. Mas há situações que
só poderão ser resolvidas coletivamente, através da participação das pessoas da comunidade na busca de
soluções, dentro da própria comunidade, ou procurando parcerias ou pressionando as autoridades e
42
Inês: Meu tempo está acabando, mas ainda falta eu dizer o que é preciso para ser um ACS, já
que eu percebi que tem aqui interessados....
O ACS deve ser:
.............................................................
CAPÍTULO II
serviços públicos a fazer a sua parte.
uma pessoa que mora na comunidade
onde vai trabalhar, há pelo menos dois anos;
ter no mínimo 18 anos;
5. ...............
........................................................................................................................................
saber ler e escrever;
dispor de oito horas diárias para trabalhar.
Moacir: É, "dona" Inês, mas ele precisa também:
conhecer os problemas da comunidade;
gostar de aprender coisas novas;
gostar de conversar com as pessoas: falar e ouvir;
gostar de observar as pessoas, as coisas, os ambientes;
ser ativo e ter iniciativa.
.............................................................
Inês: O Agente Comunitário de Saúde é um agente de mudanças, quando procura aprender com as
experiências das pessoas, com os profissionais de saúde, compartilhando o que foi aprendido com a própria
comunidade. Agindo assim, estará sempre num processo de aprendizagem e transformação, crescendo junto
com as pessoas da sua comunidade no entender, no saber e no fazer, não somente na área da saúde, mas
também no despertar do potencial humano e da consciência coletiva.
CAPÍTULO II
Inês (olhando para o Secretário de Saúde): É, pelo visto, secretário, vamos ter um monte de
candidatos a ACS na próxima seleção!
A instrutora-supervisora elogiou o comentário de Moacir e acrescentou que, como já tinha falado
antes, o ACS para fazer o seu trabalho vai receber vários treinamentos e ser acompanhado por um
profissional enfermeiro, o instrutor-supervisor municipal, que tem a responsabilidade de treinar e
supervisionar o trabalho de até 30 agentes.
Antes de encerrar a reunião, Francisco agradeceu as presenças do secretário de saúde, da instrutorasupervisora e pediu para que ela dissesse como era a ligação do ACS com o PACS e quando é que o ACS é
um agente de mudanças. Ela mostrou um cartaz que dizia:
43
6. ...............
O ACS EM AÇÃO*
...............
...........................................................................................................
................................................................................................................................................................
Após sete anos de implantação do PACS, já se pode
constatar uma expansão considerável dos Agentes Comunitários
de Saúde, assim como expansão das ações de promoção da saúde e
prevenção de doenças. Das ações que priorizam as crianças e as
mulheres às mais abrangentes, que já envolvem os demais membros
da família da sua área, você precisa estar atento a quatro verbos
Identificar
Encaminhar
Orientar
Acompanha
importantes no seu trabalho e que refletem a maioria das suas
ações:
Identificar - –
Identificar
esta é uma ação que precisa de muita
atenção. É preciso que você esteja treinado (a) para ouvir e para
reconhecer fatores de risco e sinais de alerta de determinadas
doenças, a fim de poder encaminhar as pessoas corretamente à
unidade de saúde.
Você deve estar sempre atento aos problemas de saúde das
famílias de sua microárea, identificando com eles os fatores sócioeconômicos, culturais e ambientais que estão afetando a saúde da
comunidade.
Ao identificar qualquer problema de saúde, você precisa
conversar com a pessoa e ou seus familiares e depois encaminhá-la
à unidade de saúde para um diagnóstico seguro.
Encaminhar – esta é uma ação que precisa de muito jeito e
muito cuidado. É um momento muito delicado, porque é o
momento em que você faz a ligação entre a comunidade e a
unidade de saúde e precisa estar bastante entrosado com a sua
equipe, a fim de que as pessoas encaminhadas possam ser
44
Muitas vezes, você vai precisar levar a pessoa até a unidade,
quando ela não tiver condições de ir sozinha. Nestes casos,
encaminhar não significa apenas enviar, mas significa conduzir, ir
com a pessoa.
.............................................................
CAPÍTULO II
atendidas com atenção e eficiência e possam ter sua saúde de volta.
Orientar –
esta é uma ação que você realiza
diariamente. É a ação de examinar cuidadosamente os diferentes
aspectos de um problema com as pessoas, para encontrar com elas
as melhores soluções. Assim, após o diagnóstico, você precisa
orientar a pessoa e ou familiares em relação às recomendações
feitas pela unidade de
*Texto elaborado pela equipe técnica do Departamento de Atenção Básica, a partir da
prática cotidiana dos Agentes Comunitários de Saúde.
7. ...............
Texto de Apoio nº 2
...........................................................................................................
saúde (por médico, enfermeira, auxiliar de enfermagem), procurando
refletir com a pessoa sobre todas as dificuldades que ela enfrenta ou
vai enfrentar durante o período em que se encontra em tratamento.
Acopanhar
Acompanhar – esta é uma ação que significa dar assistência às
pessoas da sua comunidade que estão em situação de risco. Exemplos:
mulheres gestantes, puérperas, recém-nascidos, crianças, adolescentes,
idosos, hipertensos, diabéticos, outros.
Esta é uma ação muito gratificante para você como agente de
saúde, pois é quando pode ver resultados satisfatórios, tais como
acompanhar um pré-natal com o Cartão da Gestante, ver a criança
nascer, acompanhar a mãe durante o resguardo, acompanhar a criança
com o Cartão da Criança, e ver a família crescendo saudável.
Todas as ações são importantes e a soma de todas elas vai
qualificar o seu trabalho. Assim, você precisa pensar nas quatro ações,
todas as vezes que tiver que lidar com um problema de saúde na sua
microárea.
É preciso que você compreenda que cada pessoa da sua
microárea precisa participar das discussões sobre a saúde e o meio
ambiente em que vive, a fim de que possa tomar decisões sobre o que
fazer, como preservar, como evitar, como reivindicar e muitas outras
ações.
Não se pode pensar em tratar a comunidade como se ela não
precisasse
aprender
nada,
só
obedecer.
Precisamos
de
uma
comunidade educada, atuante e que tenha voz, a fim de que possa
exercitar a autoconfiança e construir alianças com outras comunidades
favoráveis para viver.
Agindo assim, você pode ajudar, e muito, as pessoas a
aumentarem o seu poder de decisão, e entenderem que também são
responsáveis por sua saúde e de sua comunidade.
que significa que cada pessoa pode e deve cuidar da sua própria saúde.
.............................................................
Um dos frutos desse trabalho é a valorização dos autocuidados
CAPÍTULO II
ou com pessoas que possam ajudar a promover a saúde e ambientes
45
8. ...............
O ACS EM AÇÃO
..........................................................................................................
E você, como agente comunitário de saúde, vai poder
fortalecer os autocuidados, orientando-as para isto.
Volte a ler o sentido do verbo orientar e reflita sobre o que
significa. Vamos a um exemplo: você identificou um caso
suspeito de tuberculose em uma família. Encaminhou a pessoa
para a unidade de saúde. Na unidade, foi feito o diagnóstico e
comprovado ser tuberculose. Na unidade, o médico prescreveu
os medicamentos e orientou a pessoa sobre como tomá-los.
Você, na comunidade, passa então a orientar e acompanhar o
tratamento da pessoa, a fim de que ela não desista e possa
ficar curada. Mas isto não é tão fácil assim. Vamos ver os
motivos:
os
medicamentos
são
agressivos,
em
grande
quantidade, e as pessoas rejeitam tomar.
o tratamento tem a duração de seis meses e não pode
46
.............................................................
CAPÍTULO II
ser
9. ...............
Texto de Apoio nº 2
..........................................................................................................................
interrompido.
muitas vezes a pessoa que tem tuberculose tem uma história de
alcoolismo e fumo.
na maioria das vezes são pessoas com condições de vida precárias,
desnutrição e vivendo em ambientes não favoráveis.
Com essas dificuldades, você precisa orientar a pessoa, e orientar
não significa dizer como fazer e sim examinar com ela cada uma das
dificuldades e como enfrentá-las, a fim de ficarem curadas, em seis
meses. Na maioria das vezes, você vai precisar ver a pessoa tomar os
medicamentos, como forma de evitar que ela abandone o tratamento. Aí
começa o seu trabalho de acompanhamento.
Como você pode ver, chamamos a sua atenção apenas para os
quatro verbos que constituem a base do seu trabalho, mas inúmeros
outros verbos compõem este texto e fazem parte do seu dia-a-dia: ouvir,
conversar, observar, atender, agir, defender, estimular, convencer,
mobilizar, reagir, refletir, recusar, ajudar, cuidar, notificar, convocar,
convidar, reunir, e tantos outros... Afinal, a vida se constrói com ações e
para vivê-la é preciso que as ações aconteçam. Para finalizar,
convidamos você a pensar nas ações que acontecem na vida das famílias
da sua área e nas ações que ocorrem no dia-a-dia da sua Unidade de
Saúde. Tenha a certeza de que é um exercício interessante e que vai lhe
.............................................................
CAPÍTULO II
ajudar a descobrir muitas, muitas coisas. Sucesso pra você!
47
11. ................
CAPÍTULO III
.........................................................................................................................................
Tinha muita diarréia na comunidade. Eu chegava numa
casa e tinha três, quatro crianças com diarréia; dava em
adultos também. Então a gente começou a despertar: "Espera,
tem alguma coisa". Aí a gente sentou junto com a comunidade
e discutiu.
A conclusão foi que aquilo vinha da água, porque tínhamos um
poço só na comunidade, de boca aberta, e durante o tempo de
inverno aquela água da chuva caía toda ali e depois era
consumida pela comunidade. Vinha dali a contaminação do
cogumelo, uma bactéria que dá na água. Então, conversamos
com o padre e ele abriu um poço artesiano. Depois, viemos
conversar com o prefeito e ele mandou fazer mais dois poços.
Hoje, a gente não tem mais esse problema. Diminuiu a diarréia
depois desse trabalho preventivo. Ela vinha da água e a gente
não sabia...
Aroldo Vieira Ferreira,
Agente Comunitário de Saúde na comunidade de
Tartarugueiro, Ponta de Pedras, PA
"Um dos primeiros casos que surgiram na minha
comunidade, quando comecei a trabalhar, foi a questão de uma
carvoaria que estava próxima às casas e soltava muita fumaça.
Isso começou a irritar os olhos das crianças, elas começaram a
apresentar doenças, a vizinhança inteira estava com problemas.
Dez horas da noite, eles passavam levando crianças para o
hospital. Então eu disse: “A gente vai lutar”. Na primeira reunião
que teve do Conselho Municipal de Saúde eu participei o
problema; passei no Secretário de Saúde e também coloquei o
problema, até que fizeram uma visita lá na carvoaria e pediram
que se retirassem do meio da comunidade. Graças a Deus,
resolveu o problema."
Deusenir Pereira da Silva,
Agente Comunitária de Saúde, Aliança do Tocantins, TO
12. ...............
INCENTIVANDO A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
............................................................................................................................................................................
50
Uma andorinha só não faz verão!
A união faz a força!
A corda de três nós é mais difícil de romper!
.............................................................
CAPÍTULO III
Um assunto puxa o outro...
Esses três ditados lembram a importância de vivermos com os outros, de discutirmos nossos
problemas, de trocarmos experiências, de aprendermos com as pessoas, de compartilharmos com elas
nossos conhecimentos e esperanças. Tudo isso pode ser feito na vida comunitária.
13. ...............
........................................................................................................................
Vida Comunitária é isto:
• viver com os outros;
• trabalhar juntos pelas mesmas coisas;
• dividir alegrias e tristezas;
• dividir, também, os problemas;
• procurar, juntos, as soluções;
• lutar pela organização e participação de todos, para garantir seus direitos de cidadãos.
Vamos saber mais sobre vida comunitária?
Vila Nova é uma pequena comunidade.
Com sua igrejinha, sua escola, a venda do seu Joaquim, o Posto de Saúde, suas casas
espalhadas, é um lugar gostoso de se viver.
Vila Nova faz parte do município de Santa Maria.
Em Vila Nova, as pessoas se encontram, por exemplo: no trabalho, nas festas, no Posto de
Saúde, na feira, na igreja, nas escolas e nas associações comunitárias.
Em Vila Nova, as famílias, os amigos, a vizinhança, todos já descobriram que, para melhorar
suas condições de vida, a organização comunitária é muito importante. Eles então se juntam para:
●
conhecer e discutir seus problemas e necessidades;
●
tentar resolver seus problemas;
●
discutir seus direitos e deveres.
Quando muitas pessoas estão no mesmo barco a remo, elas têm de remar juntas. Quando muitas
pessoas passam pelas mesmas dificuldades, esse negócio de cada um por si ou de salve-se quem puder
não funciona mesmo.
Na comunidade nem tudo é harmonia, nem os interesses são sempre os mesmos. Como em todas as
sociedades, há a disputa pelo poder, as diferenças entre as pessoas, as ambições de cada um e muitas
preciso que cada um de nós faça a força de todos.
A gente se junta, para ficar forte!
A gente fica forte, porque se junta!
uma com as outras, conseguem resolver muitos problemas.
.............................................................
Só de viver um pouco essa experiência, a gente já descobre que as pessoas, quando se juntam
CAPÍTULO III
coisas mais. O trabalho com a comunidade não é uma tarefa simples. E para ter vida comunitária, é
51
14. ...............
INCENTIVANDO A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
..........................................................................................................................................................................
E descobrem nesta união que:
Mobilização lembra Organização!
Organização lembra Movimento!
Movimento lembra Mudança!
Quem fica parado, esperando que as coisas aconteçam, que os problemas sejam resolvidos,
não muda a situação em que vive, não está mobilizado! Não está organizado!
Para se comunicar com a comunidade, a equipe de saúde usa alto-falante, rádio, jornal,
cartazes, e o ACS, além de ajudar a mobilizar todos esses meios, tem a visita domiciliar, onde
conversa com as famílias, e os bate-papos informais.
O ACS é uma pessoa que está sempre em ação pela saúde da sua comunidade. Para mobilizála, ele promove reuniões e encontros com diferentes grupos – com gestantes, mães, pais,
adolescentes, idosos, com grupos em situação de risco ou com comportamentos de risco e com
pessoas portadoras da mesma doença.
Nessas reuniões é fundamental que o ACS observe as diferenças culturais, religiosas, e até o
jeito de falar, para que se crie um clima de respeito às opiniões de cada participante.
Mas não basta fazer reuniões isoladas. É preciso que o ACS, os grupos e a comunidade se
organizem, para que possam obter resultados.
Há várias maneiras de o ACS contribuir para a organização da comunidade e de grupos em
situação de risco. Por exemplo:
informando, convocando as pessoas para reuniões, palestras, encontros, campanhas,
para dar oportunidade às pessoas de colocarem os seus problemas, refletirem e discutirem
sobre eles.
E como o Agente Comunitário de Saúde participa dessas atividades?
52
maioria dos problemas, e junto com ela decide a forma de:
encontrar o melhor jeito de fazer as coisas;
descobrir o que podem e o que mais sabem fazer;
.............................................................
CAPÍTULO III
Ele participa estimulando as discussões, pois ele também vive na comunidade e vivencia a
dividir as tarefas entre todos;
escolher as pessoas certas para cada situação.
Cada pessoa da comunidade sabe alguma coisa, sabe fazer alguma coisa e sabe dizer alguma
coisa diferente. São os saberes, os fazeres e os dizeres da comu-
15. ...............
........................................................................................................................
nidade. A comunidade funciona quando existe uma troca entre os
conhecimentos de todos. Cada um tem um jeito de contribuir, e toda
contribuição tem valor. O ACS tem de estar muito atento a tudo isso.
A troca de conhecimentos entre as pessoas de uma comunidade faz
parte de um processo de educação para a participação em saúde.
Assim, participando, cada um ajuda muito a todos.
Ajudando, cada um aprende muito com todos.
Mas como em uma comunidade os problemas são muitos, é preciso
que o ACS ajude as pessoas a definir os problemas mais urgentes, as
prioridades. O agente de saúde tem um papel essencial nessa hora, ao
lado da equipe de saúde e da comunidade.
Depois de ter definido as prioridades, em conjunto com a
comunidade, a equipe de saúde, os profissionais de saúde da prefeitura, o
agente de saúde deve se preocupar com o planejamento das ações que vai
ajudar a resolver.
E não dá para planejar nada, sem a participação de todos: a
comunidade, a equipe de saúde e os profissionais de saúde da secretaria de saúde do município. É
preciso que todos participem, dêem opiniões, apresentem idéias, discutam, para planejar as ações
necessárias.
Participando do planejamento de cada ação de saúde, a comunidade tem condições de ir
realizando uma de cada vez, etapa por etapa, usando pessoas e recursos da própria comunidade ou,
quando for o caso, buscando pessoas e recursos fora da comunidade.
Prefeitura, outros órgãos públicos e instituições, sempre de acordo com as prioridades decididas pela
comunidade. Num lugar pode ser a implantação de uma infra-estrutura básica (água, luz, esgoto, destino
do lixo, rampas para cadeiras de rodas, sinais sonoros em semáforos para os portadores de deficiência
.............................................................
visual); em outro pode ser a construção de uma unidade de saúde, de uma creche
CAPÍTULO III
O ACS, com o apoio da equipe de saúde, deve estimular ações conjuntas em parceria com a
53
16. ...............
INCENTIVANDO A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
...........................................................................................................................................................................
comunitária, de uma escola, de uma lavanderia pública; em outro ainda, pode ser a recuperação de
poços, pequenas estradas e muitas outras necessidades.
O direito de participar
O direito de participar na saúde é um direito da comunidade, previsto na Constituição da
República. Lá está escrito:
Título VII, Da Ordem Social
Capítulo II, Da Seguridade Social
Seção II, Da Saúde
Artigo 198: As ações e serviços de saúde integram uma rede organizada e hierarquizada e
constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,
sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III – participação da comunidade.
Participação quer dizer tomar parte, partilhar, trocar, ter influência direta nas decisões e ações.
Isto significa que o ACS não trabalha sozinho, nem a equipe de saúde é a única responsável pelas ações
da saúde. Toda a comunidade tem que participar.
Na maioria das cidades brasileiras já existe o Conselho Municipal de Saúde, que reúne gestores,
prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários dos serviços de saúde, que tomam parte nas
decisões.
O ACS pode estimular as pessoas da comunidade a participarem do Conselho Municipal de
Saúde, através de associações, instituições e conselhos locais de saúde. O ACS pode criar um canal de
comunicação entre a equipe de saúde e o Conselho Municipal de Saúde, estimulando representantes da
comunidade a conversarem com os conselheiros sobre os seus problemas de saúde e as ações de
54
Em seu trabalho diário, o ACS pode e deve contactar e estimular as pessoas da comunidade a
discutir e buscar, em conjunto, soluções para os problemas que anotou nas visitas domiciliares.
É essencial que a comunidade seja estimulada a participar, pois só assim ele pode exercer o
.............................................................
CAPÍTULO III
promoção da saúde e prevenção de doenças que já estão acontecendo na comunidade.
direito de discutir as ações que interferem na sua própria saúde e na saúde da comunidade. Só reclamar
não vai levar a nada. É preciso ter consciência do que se quer exigir e do direito que se tem de fazer isso.
17. ...............
........................................................................................................................
Usando de criatividade e contando com o empenho
da
comunidade,
é
possível
organizar
atividades
tradicionais, como jogos, brincadeiras, arte popular, ou
utilizar técnicas mais modernas, como oficinas, videotecas,
seminários, etc.
Vamos ver alguns exemplos de como incentivar a
participação da comunidade em atividades de saúde?
Semanas de saúde
A semana de saúde é um momento forte para a
comunidade, onde muitos assuntos são discutidos e as
pessoas vão trocando seus conhecimentos e ficando mais
informadas sobre as maneiras de melhorar suas condições de
vida e saúde.
É importante que as pessoas da comunidade sejam
informadas de todas as atividades, dos temas, dos dias, do
horário e do local. É sempre bom convidar autoridades,
médicos,
enfermeiros,
parteiras
e
benzedeiras
para
participarem, contando suas experiências.
Em cada dia, pode ser feita uma atividade diferente.
Em cada atividade pode ser tratado um tema diferente. Por
exemplo, podem ser feitas palestras, teatro, exposição de
plantas medicinais e muitas outras coisas.
A gente pode envolver a escola, a igreja, a associação
de moradores na organização da semana da saúde. Também
é interessante montar barracas com plantas medicinais, alimentação alternativa, cartazes sobre
Campanhas de vacinação
Nas campanhas de vacinação, o ACS precisa incentivar as famílias a levarem as crianças para
vacinar.
.............................................................
CAPÍTULO III
saúde, etc.
55
18. ...............
INCENTIVANDO A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
......................................................................................................................................................................
Para isso, o agente pode, antes do dia marcado, fazer visitas casa a casa, verificando os
Cartões da Criança. Pode também:
orientar, informar e preparar reuniões e palestras que expliquem a importância da
vacinação;
preparar junto com algumas crianças teatrinho, músicas, gincanas e brincadeiras que, ao
mesmo tempo que animam a meninada, estão ensinando noções importantes sobre a vacinação.
aproveitar as experiências de outros agentes comunitários de saúde de várias cidades do
Brasil, que trabalham com teatro de rua e mamulengos nas ações de saúde, para estimular a sua
comunidade ou os agentes da sua comunidade a desenvolverem experiências com o tema
vacinação e muitos outros temas que interessem a população.
Mutirão
Fazer mutirão é juntar muita gente para trabalhar em proveito de uma ou de várias pessoas da
comunidade.
No mutirão, um apóia o outro. As pessoas se unem para resolver os problemas mais
importantes, ajudando a comunidade a crescer em sua luta.
Alguns municípios têm tido sucesso com mutirões para organização do lixo, para construção
de fossas, para limpeza de riachos e canais e muitas outras motivações.
Festas da comunidade
O ACS pode aproveitar a oportunidade das festas da cidade, como o dia do padroeiro ou
padroeira, novenas e quermesses, aniversário da cidade e outras ocasiões importantes, para juntar
a comunidade e apresentar peças de teatro de rua, repentes, cantadores, que através da sua arte
questionem e façam as pessoas refletirem sobre alguns temas de importância para a proteção da
saúde.
Na próxima reunião com a comunidade, o ACS pode procurar saber o que as pessoas acharam
56
sobre os temas. É claro que, para fazer isso, o ACS precisa contar com o apoio da equipe de saúde e
o apoio da sua comunidade. E buscar parcerias dentro e fora da comunidade para realizar qualquer
atividade.
Mas ainda existem muitos outros jeitos para mobilizar a comunidade. É preciso estar muito
.............................................................
CAPÍTULO III
dos espetáculos e verificar até que ponto eles atingiram as pessoas e até que ponto elas aprenderam
envolvido com as pessoas e incentivar cada uma delas a pensar, cada uma a trabalhar uma com a
outra, na certeza de que, para a situação mudar, todos temos que participar, fazendo a nossa
história.
19. ...............
........................................................................................................................
E aí?
A história acabou?
Que nada!
Tem muito caminho pela frente!
Tem muita história para ser feita!
Estar mobilizado é caminhar, é não estar parado, é continuar.
Sabe por quê?
Porque um problema puxa outro, porque há sempre um jeito
de melhorar um pouco mais a nossa saúde, a nossa qualidade de
vida!
Vamos ver a experiência de uma comunidade em uma favela
da cidade de São Paulo?
Conhecendo a história de seu Júlio, você vai ver que a gente
nunca pode parar...
Seu Júlio, a mulher e os filhos foram morar numa das grandes
favelas de São Paulo: a Favela Funerária. No tempo em que
foram morar lá, não tinha água, luz, esgoto, nem transporte, nem
escola, nem creche... Era só o terreno para fazer o barraco. A vida
lá era muito difícil e a solução dos problemas parecia longe
demais. Seu Júlio falou: - "Precisava de água e luz para minha
família poder ter uma vida melhor".
Seu Júlio, então, começou a discutir com outros moradores da favela sobre seus problemas,
sobre o que faltava e o que dava para fazer. Foi aí que ele começou a entender que sozinho não ia
conseguir fazer nada, e falou:
Reuniu as pessoas da comunidade para conseguir a doação do terreno pela Prefeitura e ajeitar
os documentos. Feito isso, as pessoas se organizaram para colocar água na favela.
Foi uma história muito grande de luta. Depois de muita reunião com o pessoal da Prefeitura,
conseguiram a ligação da água. A maior precisão dentro da favela era a água.
baixos. Tinha hora que dava vontade de desistir, de parar. Mas um animava o outro. E a luz chegou!
Hoje, os moradores da Favela Funerária vivem na Cidade Nova Parque Novo Mundo. Conseguiram
muitas melhorias.
.............................................................
Depois da água, foi a luta pela luz. Foram muitas reuniões, muitas idas e vindas, altos e
CAPÍTULO III
“Uma mão de um, uma mão de outro, nós fomos em frente".
57
20. ...............
INCENTIVANDO A PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
......................................................................................................................................................................
Tudo isso, porque as pessoas se juntaram, se organizaram, discutiram e descobriram, juntas, as
soluções para seus problemas. Mas todos eles sabem que muita coisa precisa ser ainda melhorada e
que só com o esforço de todos, isso será possível.
A história da Favela Funerária nos mostra que quase todo o aprendizado e mudanças
ocorrem, quando uma comunidade não está satisfeita com algum aspecto da sua vida.
O trabalho do ACS pode criar uma situação que faz o grupo ou grupos pararem para refletir,
para pensar sobre o que estão fazendo, como estão vivendo, identificar o que precisam e, então,
planejar a ação.
Muitas vezes, o primeiro plano de ação resolve alguma parte do problema, mas não chega às
suas causas em profundidade. Mas um ciclo regular de reflexão e ação, em que o grupo vibra com
seus sucessos e analisa criticamente as causas dos erros e fracassos, torna esse grupo cada vez mais
58
Esse esquema foi proposto por Anne Hope e Sally Timmel2 e nos lembra que fazer uma
atividade, depois parar e refletir sobre ela, descobrindo pontos positivos e negativos e a partir daí
planejar novas atividades, reforçando as conquistas e eliminando os erros, isto é que nos faz
crescer, transformar a nossa realidade.
Assim, Ação-Reflexão-Ação pode nos ajudar a engajar a comunidade na transformação da
.............................................................
CAPÍTULO III
capaz de transformar eficazmente seu dia-a-dia, assim:
qualidade de vida de cada pessoa, do meio ambiente e de toda a comunidade.
2
Treinar para Transformar, in: Contact, 1989,
21. ...............
........................................................................................................................
Sugestão para condução de debates
Durante os debates, o ACS pode guiar o grupo através de uma série de passos. Ele pode
perguntar:
Qual é a situação?
Por que acontece isso?
Quais os problemas que isso traz?
Observe o jogo de perguntas que David Werner2 idealizou para ajudar o grupo a descobrir as
causas mais profundas dos problemas - Mas por quê? "A criança está com o pé inflamado."
"Mas por quê?"
"Porque pisou no espinho."
"Mas por quê?"
"Porque estava descalço."
"Mas por quê?"
"Porque não tinha sandália."
"Mas por que não tinha?"
"Porque arrebentou e o pai não tinha dinheiro
para comprar outra."
"Mas por quê?" e assim por diante...
Essa técnica ajuda as pessoas a aprenderem, pois estudos comprovam que as pessoas se lembram
.............................................................
CAPÍTULO III
aproximadamente de 80% do que descobrem por si mesmas; de 40% do que ouvem e vêem e
20% daquilo que só ouvem.
59
22. ................
DINÂMICA E PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
................................................................................................................................................................
David Werner e Bill Bower
Para ser eficiente, o agente de saúde precisa conhecer muitos aspectos
da vida comunitária: os costumes da população, suas crenças, seus
problemas de saúde e suas aptidões especiais. Mas, acima de tudo, ele
precisa compreender a estrutura de poder na comunidade: como
as pessoas se relacionam, como se ajudam ou prejudicam umas às
outras. Vamos agora analisar esses aspectos da dinâmica comunitária
e o que significa participação da comunidade. "Comunidade" e
"participação" têm significados bem diferentes para pessoas
diferentes. O modo como vemos a "comunidade" afeta nossa visão de
como dever ser a "participação".
É essencial que monitores e agentes de saúde analisem juntos as idéias
conflitantes e cheguem a conclusões com base em suas experiências.
O que é uma comunidade?
Muitos planejadores da área de saúde consideram comunidade "um
grupo de pessoas que vive em determinado lugar (por exemplo, um
povoado), tem interesses comuns e um modo de vida semelhante".
Segundo este ponto de vista, o mais importante é o que as pessoas
têm em comum. O relacionamento entre os membros da comunidade
é considerado basicamente harmonioso.
60
nem sempre têm os mesmos interesses ou se dão bem. Algumas
crianças vão à escola. Outras crianças têm que trabalhar ou ficar em casa
tomando conta de irmãos menores enquanto as mães trabalham. Alguns
comem muito. Outros passam fome. Uns falam alto nas reuniões do
.................................................................
CAPÍTULO III
Na vida real, as pessoas que moram no mesmo povoado ou vizinhança
povoado. Outros têm medo de abrir a boca. Uns dão as ordens. Outros
obedecem.
Alguns emprestam dinheiro ou sementes em condições injustas.
*Texto extraído de: Aprendendo e Ensinando a Cuidar da Saúde, pp. 133-139.
Edições Paulinas, 1984.
23. ...............
Texto de Apoio nº 3
.................................................................................................
Outros têm que pedir emprestado ou mendigar. Alguns têm poder,
influência e autoconfiança, outros têm pouco ou nada disso.
Numa comunidade também os pobres e humildes estão divididos
entre si. Alguns defendem os interesses dos poderosos, em troca de
favores. Outros sobrevivem mentindo e roubando. Uns aceitam o
destino em silêncio. Outros, quando ameaçados, unem-se para
defender seus direitos. Algumas famílias brigam, lutam ou não se
falam — às vezes durante anos. Outros se ajudam mutuamente, trabalhando juntos e, nos tempos difíceis, repartem o que têm.
Muitas
famílias fazem tudo isso ao mesmo tempo.
Existem elementos de harmonia e interesses comuns em todas as
comunidades, mas também existem elementos de conflito. Ambos
têm efeito profundo sobre a saúde e o bem-estar das pessoas.
Ambos precisam ser enfrentados pelo agente de saúde que quer
ajudar os fracos a se tornarem mais fortes.
O que é participação?
A maioria das comunidades não
é homogênea (todos iguais). A
comunidade é um pequeno
reflexo local da sociedade ou do
país em que está situada.
Apresenta as mesmas relações
entre o fraco e o forte, a mesma
situação de justiça e injustiça, os
mesmo problemas de luta pelo
poder.
A idéia de que as pessoas se dão
bem, simplesmente porque vivem
e trabalham juntas, é um mito!
Há dois pontos de vista sobre a participação das pessoas na saúde.
O primeiro ponto de vista, mais convencional, vê a participação como
um meio de melhorar o atendimento. Fazendo a população exercer
certas atividades predefinidas, os cuidados de saúde podem ser
O segundo ponto de vista vê a participação como um processo em
que a população trabalha para superar os problemas e adquirir
maior controle sobre a saúde e suas próprias vidas.
entre as pessoas, em todos os níveis sociais. Presume que os
interesses comuns constituem a base da dinâmica comunitária — que
a saúde do povo vai melhorar se todos trabalharem juntos e
cooperarem com as autoridades de saúde.
.............................................................
O primeiro ponto de vista focaliza os valores comuns e a cooperação
CAPÍTULO III
ampliados e serão melhor aceitos.
61
24. ...............
DINÂMICA E PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
..........................................................................................................................................................................
O segundo ponto de vista reconhece conflitos de interesses, dentro
e fora da comunidade. Considera que esses conflitos exercem forte
influência sobre a saúde da população. Não nega o valor da organização e
cooperação entre pessoas para resolver problemas comuns. Mas percebe
que as pessoas e grupos sociais diferentes ocupam posições econômicas e
políticas diferentes.
Ao dar muita ênfase aos interesses comuns, as pessoas deixam de
enfrentar os interesses conflitantes que estão por trás das causas sociais da
saúde precária. Esse segundo ponto de vista sugere:
O programa comunitário deve começar por identificar os principais
conflitos de interesses dentro da comunidade.
É importante, também, identificar os conflitos como forças fora da
comunidade e observar como eles se relacionam com os conflitos dentro
da comunidade.
A maneira como o líder do programa vê a participação dependerá daquilo
que ele acredita ser a causa da pobreza e das más condições de saúde.
Alguns acreditam que a pobreza é resultado de deficiência e defeitos
pessoais do pobre. O objetivo de seu programa é, portanto, mudar as
pessoas para que funcionem melhor dentro da sociedade. Acreditam que,
dando ao pobre mais serviços, maiores benefícios e melhores hábitos, seu
padrão de vida se tornará mais saudável. Quanto mais as pessoas
aceitarem e participarem desse processo, melhor.
62
econômico que favorece o forte às custas do fraco. Somente adquirindo
força política é que o pobre consegue mudar as regras que determinam
seu bem-estar. Os programas que partem desse ponto de vista procuram
transformar a sociedade, para que atenda melhor às necessidades das
.............................................................
CAPÍTULO III
Outros acreditam que a pobreza é resultado de um sistema social e
pessoas. Para essa transformação, a participação popular é essencial.
Observando diferentes projetos de saúde e desenvolvimento, verificamos
que a visão da participação comunitária varia entre dois opostos:
25. ...............
Texto de Apoio nº 3
.......................................................................................................
• A participação como meio de controlar as pessoas.
• A participação como meio de as pessoas adquirirem maior
controle.
Entre esses dois extremos há muitos estágios intermediários.
Eles variam de acordo com...
1. quem realmente participa,
2. a função da participação,
Podemos saber até que ponto a participação é controlada
pela cúpula ou pela base, verificando quais pessoas da
comunidade participam do programa – pessoas de saúde,
membros de comissões e outros. Podemos perguntar:
• Qual o seu nível social? Quais as suas posses em comparação
com a maioria da comunidade?
• Qual a ligação deles com as pessoas em posições elevadas
dentro e fora da comunidade?
• Qual é sua aparência em comparação com a maioria no povoado? Em
geral é fácil observar se a participação comunitária é controlada pela
cúpula ou pela base.
.............................................................
• Como foram escolhidos os membros da comunidade?
CAPÍTULO III
3. centro de poder.
63
27. ................
CAPÍTULO III
.........................................................................................
“Meu dia-a-dia de trabalho é assim: saio na
parte da manhã, às 8h15, e ali pela 1 hora volto,
almoço, tomo um banho e retorno de novo para
terminar as oito visitas do dia, lá pelas 5 horas, mas
sempre chego em casa mais tarde. Vou de bicicleta,
sempre com o uniforme. Boné uso pouco, porque é
muito quente. Mas do jaleco eu gosto muito, não saio
sem ele. É born porque a gente é logo identificado. Na
mochila eu levo as Fichas de Cadastro, os Cartões da
Criança, a balança e a redinha para pesar as
criancas menores; o lápis, a borracha, urn caderno
para a gente anotar alguma coisa que precisa.
Quando não tinha bicicleta, eu ia a pé e fazia três,
quatro quilômetros andando.
Lúcia Ribero Alves, Agente Comunitária de Saúde em
Padre Bernardo, Entorno do Distrito Federal
A gente trabalha por rua. Quem faz a minha rua é
a Edja, é ela quern tern que me visitar, porque eu sou
gestante. Antes de eu ficar gestante, ela sempre passava
para fazer a visita. Mas agora ela passou a vir mais,
para acompanhar a minha gravidez. Estou corn sete
meses. Ela chega aqui, pergunta como é que estou nas
questões da gravidez, se está mexendo muito, se não
está, se eu estou me alimentando direito, se eu fui ao
médico para fazer o pré-natal, porque a gente tern que
fazer, se a gente não for a agente de saúde obriga. Ela
procura saber da pressão, se está bem.
Se a gente tern algum problema de inchaço, que é
edema”.
Edvânia Tereza de Souza Silva, gestante – usuária do PACS
e Agente Comunitária de Saúde, Camaragibe, PE
28. ...............
O ACS – TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE
...........................................................................................................................................................................
O trabalho do Agente Comunitário de Saúde é um trabalho de construção.
Para se construir uma casa, além de todo o material necessário, é preciso alguém que saiba
construir e que tenha as ferramentas necessárias.
O agente comunitário de saúde também precisa de algumas ferramentas, que chamamos de
instrumentos de trabalho. Os instrumentos mais utilizados são:
a entrevista, a visita domiciliar, o cadastramento das famílias,
o mapeamento da comunidade, as reuniões comunitárias.
Esses instrumentos ajudam o agente comunitário de saúde a conhecer melhor as necessidades das
pessoas da sua comunidade. E também a encontrar maneiras de resolver os problemas. Para conhecer a
comunidade, o ACS vai precisar:
reunir informações sobre a comunidade;
identificar os principais problemas de saúde.
Com as informações, o ACS, juntamente com a equipe de saúde e a comunidade, vai participar da
elaboração do diagnóstico de saúde da comunidade.
E que instrumentos ele utiliza para coletar as informações?
São vários os instrumentos e cada um deles tem um objetivo. A soma de todos eles ajuda a fazer o
diagnóstico:
1 – a entrevista/visita domiciliar;
2 – o cadastramento das famílias;
3 – o mapa da comunidade;
4 – as reuniões comunitárias.
1. FALANDO DA VISITA DOMICILIAR
66
através dela que ele vai poder fazer o cadastramento e o acompanhamento das famílias e,
principalmente, o trabalho educativo, orientando as pessoas como evitar as doenças e cuidar melhor
da sua saúde.
As visitas domiciliares devem ser feitas sempre. Elas fazem parte da rotina do trabalho do agente
.............................................................
CAPÍTULO IV
A visita domiciliar é uma das atividades mais importantes do agente comunitário de saúde. É
comunitário de saúde.
Quando visitamos uma família, utilizamos a entrevista, que é uma conversa direcionada com as
pessoas. Fazendo o acompanhamento das famílias através da visita domiciliar, é possível:
identificar as pessoas que estão bem de saúde e as que não estão;
29. ...............
........................................................................................................................
conhecer os principais problemas de saúde das pessoas;
conhecer as condições de moradia, de trabalho, os hábitos, as crenças, os costumes, os valores;
descobrir o que as pessoas precisam saber para cuidar melhor de sua saúde;
ajudar as pessoas a refletirem sobre os seus problemas de saúde e ajudá-las a organizar suas ações
para tentar resolvê-los;
identificar as famílias que precisam de um acompanhamento mais próximo e mais freqüente;
ensinar às pessoas medidas simples de prevenção e orientá-las a usar corretamente os
medicamentos.
Uma visita, para ser bem-feita, precisa ser planejada.
Planejar é ver os detalhes da visita antes de fazê-la. Planejando, o Agente Comunitário de Saúde
aproveita melhor o seu tempo e respeita o tempo das pessoas que vai visitar.
Assim, antes de fazer uma visita,
Dá licença! Posso entrar?
E é preciso:
1 – Ter claro o motivo da visita: se é para fazer o cadastramento da
família, para o acompanhamento das crianças, ou gestantes ou de
alguma pessoa doente. É importante informar às pessoas o motivo da
visita, sua utilidade e importância.
2 – Quando você for visitar pela primeira vez a casa de uma família,
antes de qualquer coisa, é importante que você se apresente: diga seu
seu trabalho, a importância que ele tem, o motivo da sua visita e se você pode ser recebido naquele
momento.
interesse e respeito pelas pessoas.
.............................................................
3 – É importante saber o nome de alguém da família que você vai visitar. É uma demonstração de
CAPÍTULO IV
nome, qual o
67
30. ...............
O ACS – TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE
......................................................................................................................................................................
4 – É recomendável escolher um bom horário e definir o tempo de duração da visita. Isso não quer
dizer que você não possa mudar o horário ou ficar mais um tempinho, se for necessário. Na hora da
visita, é preciso ter sensibilidade para saber se as pessoas querem ou não conversar mais um
pouquinho.
5 – Para conquistar a confiança e o respeito das pessoas, é preciso valorizar os seus costumes, as
suas crenças, o seu modo de ser, seus problemas e seus sentimentos. E é preciso saber que todas as
informações que lhe são repassadas pela família são confidenciais e você deve guardar sigilo, por
questões éticas.
6 – Antes de começar a fazer perguntas, é bom conversar um pouco com as pessoas sobre assuntos
que elas gostam de falar, sobre o trabalho, a casa, as crianças, as notícias de rádio, as novelas de
televisão, etc.
7 – Só se deve pedir informações que têm sentido.
É necessário explicar o porquê das perguntas, a importância das respostas e para que elas vão servir.
8 – A entrevista é uma oportunidade para ensinar e aprender. É bom
fazer perguntas não só para conseguir informações, mas também para
levar as pessoas a pensarem de novas maneiras.
Depois de fazer uma visita...
O Agente Comunitário de Saúde deve verificar se conseguiu as
informações necessárias, vendo o que deu certo na visita, para poder
68
Toda família deve ser visitada uma vez por mês, mas ela deve
receber mais de uma visita, se existir alguma situação de risco, como:
recém-nascido com menos de dois quilos e meio;
criança desnutrida;
.............................................................
CAPÍTULO IV
corrigir as falhas. Isso é importante para planejar as próximas visitas.
recém-nascido que não está sendo amamentado no peito;
criança com doenças graves;
31. ...............
........................................................................................................................
gestantes com problemas de saúde;
outras pessoas com problemas de saúde;
famílias isoladas por barreiras geográficas, culturais.
Além disso, na primeira semana de vida do bebê, é muito importante que ele seja visitado, assim
como a mãe de resguardo (a puérpera). Sempre que existirem situações de risco, você deve apresentar o
problema para o seu instrutor/supervisor e procurar com ele um jeito de dar prioridade a esses casos e
planejar ações para resolvê-los.
2. CADASTRANDO AS FAMÍLIAS
Uma das primeiras informações que o Agente Comunitário de Saúde precisa ter e saber é
quantas e quais são as pessoas que ele vai acompanhar. De acordo com as Normas e Diretrizes do
Programa de Agentes Comunitários de Saúde, cada agente acompanha em média 575 pessoas da sua
comunidade.
Para conhecer as condições de vida das famílias que vai acompanhar, o Agente Comunitário de
Saúde precisa cadastrar todas as famílias.
O cadastramento é colocar no papel todas as informações a respeito da comunidade e para
isso o ACS tem fichas para preencher, e você vai aprender a preenchê-las no Capítulo V deste
manual.
O cadastramento vai mostrar quem são, quantos são, quais são suas idades, quais seus problemas de
saúde e as condições de moradia e saneamento.
O cadastramento ajuda o Agente Comunitário de Saúde a saber por onde começar o seu trabalho, e
priorizar suas atividades.
As informações coletadas pelo agente têm um objetivo muito importante. É com elas que o
pessoal da Unidade de Saúde vai saber exatamente o que é preciso fazer, para evitar as doenças que
Após cadastrar as famílias, as fichas vão para a Unidade de Saúde formar o cadastro daquela
comunidade. As informações vão ser analisadas e discutidas pelo ACS com a equipe de saúde.
Essas informações são fundamentais para fazer o diagnóstico da comunidade, que você vai saber
.............................................................
como é feito no Capítulo V.
CAPÍTULO IV
mais ameaçam a comunidade.
69
32. ...............
O ACS – TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE
...........................................................................................................................................................................
Algumas coisas que você não pode esquecer.
Quando
mente
as
você
for
instruções
fazer
da
o
visita
cadastramento
domiciliar.
das
Cada
famílias,
família
é
importante
deve
ter
um
ler
só
nova-
formulário
preenchido. Não importa o número de pessoas na casa.
As
na
informações
organização
atividades.
mês,
à
A
das
ficha
unidade
de
que
você
visitas
de
conseguir
domiciliares,
cadastramento
saúde,
serão
para,
das
deve
junto
úteis
reuniões
ficar
com
para
o
com
seu
planejar
o
seu
comunitárias
você,
que
a
e
de
levará,
instrutor/supervisor,
trabalho,
outras
a
cada
organizar
as
informações e planejar o seu trabalho.
Anote
em
seu
caderno
qualquer
outra
informação
sobre
a
família
que
você
considerar importante, para discutir com o seu instrutor/supervisor.
Orientações para preenchimento da ficha de cadastramento – Ficha A
As anotações na ficha devem ser feitas a lápis. Se você errar, é só apagar
Agora, repare bem na parte de cima da ficha de cadastro. No alto, à esquerda, está identificada a
1. Depois vem a referência à Secretaria Municipal de Saúde e ao Sistema de Informação
de Atenção Básica – SIAB 2 – que é um sistema de informação, montado pelo Departamento de
70
Atenção Básica/Ministério da Saúde responsável pelo PACS e PSF, para juntar todas as informações
de saúde das microáreas dos municípios brasileiros, onde você, agente, atua, assim como as Equipes
de Saúde da Família. As informações registradas na Ficha A vão para a Secretaria de Saúde do
.............................................................
CAPÍTULO IV
Ficha A
Município, e parte delas vai para a Secretaria de Saúde do Estado e, finalmente para o Ministério da
Saúde. É um instrumento que permite aos gestores municipais, estaduais e federal conhecerem a
realidade da saúde das pessoas nos municípios brasileiros. E tudo isso começa com o seu trabalho!
33. ...............
........................................................................................................................
Vamos continuar?
No canto direito da ficha, ao lado das letras UF (Unidade da Federação)
dois
do
quadrinhos
Estado.
que
Por
devem
exemplo:
ser
PB
preenchidos
para
Paraíba;
com
as
MG
duas
para
letras
Minas
3,
referentes
Gerais;
PA
há
à
sigla
para
Pará;
GO para Goiás; RS para Rio Grande do Sul; BA para Bahia e assim por diante.
Logo
abaixo,
você
encontra
espaço
para
escrever
o
endereço
4,
da
família
com o nome da rua (ou avenida, ou praça, ou beco, ou estrada, ou fazenda, ou
5,
qualquer que seja a denominação), o número da casa
6
o bairro
e o CEP
7,
que é a sigla para Código de Endereçamento Postal.
Na
linha
de
fornecidos
pelo
município)
8,
baixo,
vêm
Instituto
os
Brasileiro
espaços
de
que
devem
Geografia
e
ser
preenchidos,
Estatística
-
IBGE
pela Secretaria Municipal de Saúde (segmento e área)
ou pela equipe de saúde (microárea)
!.
com
(o
números
código
9
e
do
0,
A equipe de saúde vai lhe ajudar a encon-
trar esses números e explicar o que eles significam.
Depois
número
da
estão
os
família
três
na
quadrinhos
ficha
,.
para
A
o
próprio
primeira
agente
família
será
de
a
saúde
número
registrar
001,
a
o
10ª
família será 010, a 13ª será 013, a centésima será 100, e assim por diante. Por fim,
o espaço para a data
$
, onde o ACS deve colocar o dia, o mês e o ano em que está
sendo feito o cadastramento daquela família.
Vamos agora continuar a orientação para preencher o cadastro da família.
Observe a ficha a seguir:
Abaixo
da
palavra
Nome
1,
tem
uma
linha
reservada
para
cada
pessoa
da
na continuidade de cada linha, estão os espaços (campos) para dizer o dia, mês e
ano do nascimento
F para feminino).
2,
a idade
3
e o sexo
44de
cada pessoa (M para masculino,
.............................................................
CAPÍTULO IV
casa (inclusive os empregados que moram ali) que tenha 15 anos ou mais. À direita,
71
34. ...............
O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE
....................................................................................................................................................................
Caso não tenha informação sobre a data do nascimento, anotar a idade que a pessoa diz
ter.
5
O quadro alfabetizado
alfabetizada
a
pessoa
que
é para informar se a pessoa sabe ler ou não. Não é
só
sabe
escrever
o
nome.
Se
é
alfabetizada,
marque
com
um X na coluna sim. Se não é alfabetizada, marque com um X na coluna não.
6
Depois vem o espaço
para informar a ocupação de cada um. É muito impor-
tante que registre com cuidado essa informação.
Ocupação é o tipo de trabalho que a pessoa faz. Se a pessoa estiver de férias,
ou
licença
ou
afastado
mesmo
assim.
O
nerado.
Se
pessoa
a
temporariamente
trabalho
do
doméstico
mais
tiver
é
uma
de
trabalho,
uma
você
ocupação,
ocupação,
deve
mesmo
registre
anotar
que
aquela
a
não
a
ocupação
seja
que
remu-
ela
dedi-
ca mais horas de trabalho.
Será
considerada
desempregada
a
pessoa
que
foi
desligada
do
emprego
e
não
está fazendo qualquer atividade , como prestação de serviços a terceiros, “bicos”, etc.
7
Por fim, vem o quadro
se
encontra
a
pessoa.
O
para registrar o tipo de doença ou condições em que
ACS
não
deve
solicitar
comprovação
de
diagnóstico
e
não
condições
em
deve registrar os casos que foram tratados e já alcançaram cura.
ATENÇÃO:
que
as
A
família,
além
se
encontram,
pessoas
de
referir
como
doenças,
gestação,
pode
e
deve
deficiência,
referir
dependência
de
drogas,
etc. Nesses casos, deve ser anotada a condição referida.
É
saber
ras:
interessante
melhor
ou
72
da
dificuldade
você
anotar
é
o
realizar
ou
de
essa
que,
realização
ou
saiba
defeito
permanente
trabalho
consegue
de
lazer.
se
de
condição
alguma
que
as
física
forma,
determinadas
considera
de
desde
situações
as
atividades
que
adaptações,
até
aquelas
sempre precisa de ajuda nos cuidados pessoais e outras atividades :
3
Adaptado de David Werner (1994)
portado-
mental
de
duração
atividades
inclui,
para
são
dificulta
Isso
Deficiência,
pessoas
ou
todas
sozinho
através
que
condição
ou
de
o
3
.............................................................
CAPÍTULO IV
pessoa
de
como
Deficiência
longa
que
ou
impede
cotidianas,
em
que
necessita,
em
que
uma
escolares,
o
indivíduo
porém
o
com
indivíduo
35. ...............
........................................................................................................................
A segunda parte do cadastro é para a identificação de pessoas de 0 a 14 anos, 11 meses e 29 dias, isto é,
pessoas com menos de 15 anos.
.............................................................
CAPÍTULO IV
Os campos para nome, data de nascimento, idade e sexo devem ser preenchidos como no primeiro
quadro de pessoas com 15 anos e mais. No campo destinado a informar se freqüenta a escola, marcar
com um X se ela está indo ou não à escola. Se ela estiver de férias, mas for continuar os estudos no
período seguinte, marcar o X para SIM.
Anotar a ocupação de crianças e adolescentes é importante no cadastramento, pois irá ajudar a
equipe de saúde a procurar as autoridades competentes sobre os direitos da criança e do adolescente, para
medidas que possam protegê-las contra violência e exploração.
Veja a situação descrita que serve de exemplo:
A família cadastrada na ficha A é a família do Sr. Nelson de Jesus Souza, que é composta de
sete pessoas: ele, a esposa, três filhos, D. Umbelina (sua mãe) e Ana Rosa Oliveira (empregada
doméstica que mora com eles).
O ACS registrou na ficha os dados de idade, sexo, escolaridade, ocupação e ocorrência de
doenças ou condições referidas de todas as pessoas da família.
A data de nascimento de D. Umbelina não foi anotada, porque ela não sabia informar. Mas
sabia que tinha mais ou menos 63 anos. Então o ACS anotou, no campo idade, o número 63.
Cristina tem de 3 meses, menos de 1 ano de idade. Assim, o ACS registrou 0 (zero).
Agora que você já sabe como preencher a frente da ficha, vamos aprender a parte de trás, o
verso da ficha.
73
36. ...............
O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE
...................................................................................................................................................................
Os campos do verso da Ficha A servem para caracterizar a situação de moradia e saneamento e
outras informações importantes acerca da família.
Repare que há um campo para o tipo de casa, com quadrinhos para assinalar com X o material
usado na construção
1 . Se o material não é nenhum dos referidos, você tem um espaço para
explicar o que foi usado na construção da moradia. É ali onde está escrito Outro - Especificar.
Logo abaixo, você tem onde informar o número de cômodos. Uma casa de quarto, sala, banheiro e
cozinha tem quatro cômodos
2. Se é só um quarto e uma cozinha, são dois cômodos. Atenção para
o que não é considerado cômodo: corredor, alpendre, varanda aberta e outros espaços que pertencem à
casa, mas não são usados para morar.
Abaixo, deve ser informado se a casa tem energia elétrica
seja regularizada. Em seguida, o destino do lixo
3, mesmo que a instalação não
4.
No lado direito da ficha, estão os quadros para informar sobre o tratamento da água na
5,
7.
74
6,
a origem do abastecimento da água utilizada
e qual o destino das fezes e urina
Continuando o exemplo da família do Sr. Nelson:
.............................................................
CAPÍTULO IV
casa
A casa onde reside a família do Sr. Nelson de Jesus tem 3 quartos, uma sala, um banheiro e um
pátio, na área externa (5 cômodos). Tem paredes de taipa, sendo que apenas as da sala são rebocadas.
37. ...............
........................................................................................................................
Na metade de baixo da ficha estão os quadros para outras informações.
1
Primeiro, o agente tem um espaço
para dizer (sim ou não) se alguém da família
possui Plano de Saúde e outro para informar quantas pessoas são cobertas pelo
plano. Logo abaixo, quadradinhos para cada letra do nome do plano.
Depois, você deve anotar que tipo de socorro aquela família está acostumada a
doença
os
2
quadros
e
quais
para
4
os
anotar
meios
se
de
comunicação
aquela
família
3
mais
utiliza-
de
grupos
participa
5.
e para informar que meios de transporte mais utiliza
comunitários
Para completar, vem o espaço para você escrever
as
observações
que
considerar
6
.............................................................
.
importantes a respeito da saúde daquela família
Vamos continuar com o exemplo da família do Sr. Nelson de Jesus Souza?
O Sr. Nelson tem um irmão que colocou D. Umbelina, a mãe, como dependente no seu Plano de Saúde. Dona
Umbelina, porém, freqüentemente vai também à benzedeira. Sempre que as outras pessoas da família adoecem,
procuram o Centro de Saúde.
A família ouve rádio, assiste à televisão e lê jornal. O Sr. Nelson é membro da
cooperativa
de
agricultores
e
Maria
de
Fátima,
sua
mulher,
está
filiada
ao
Sindicato dos Comerciários.
Quando
necessitam,
utilizam
ônibus
e/ou
carroça
para
locomoção.
Em
julho
do
ano
passado,
faleceu,
aos
80
anos,
D.
Lindinalva,
irmã
mais
velha
de
Dona
Umbelina, que residia na casa. Segundo sua sobrinha, a causa do óbito foi derrame.
Maria de Fátima apresenta tosse com expectoração há cerca de 20 dias.
CAPÍTULO IV
procurar em caso de
dos na casa.
À direita, estão
75
38. ...............
O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE
.....................................................................................................................................................................
3. CONHECENDO A COMUNIDADE ATRAVÉS DE MAPAS
Um outro jeito de aumentar seus conhecimentos sobre a sua comunidade é trabalhar com mapas.
O mapa é um desenho que representa, no papel, o que existe nos lugares: as ruas, as casas, a prefeitura,
as escolas, os serviços de saúde, a feira, o comércio, as igrejas, o correio, o posto policial, os rios, as
pontes, os córregos e outras coisas importantes.
É como se fosse uma foto, um retrato de sua comunidade vista de cima e que, quando você olha,
fica sabendo, por exemplo, que a rua S. José está perto da igreja e que o Centro de Saúde fica perto do
Posto Policial.
Na Prefeitura de sua cidade devem existir alguns mapas para você consultar: o mapa do Brasil,
o do Estado, o da cidade. Você vai perceber que o mapa do Brasil é dividido em Estados, e cada
Estado é formado por vários municípios. O município pode ser formado por distritos, vilas, bairros,
povoados.
Cada um desses municípios é marcado no mapa com um pontinho cheio ou uma bolinha.
Quando você quiser saber onde fica sua cidade, procure no mapa do seu Estado qual o pontinho que
tem o nome da sua cidade. Vai estar no mapa, também, o nome das cidades vizinhas à sua.
O mapa do Agente Comunitário de Saúde é o desenho de toda a área onde ele trabalha.
O mapa mostra onde ficam as casas, as ruas, as praças, as Microáreas de Risco, todos os pontos
que você considerar importantes.
Como fazer o mapa da comunidade?
O ACS não precisa ser bom desenhista para fazer o mapa. Não há necessidade de mostrar as
casas como elas são. Quadradinhos, por exemplo, servem para indicar que naqueles pontos ficam as
famílias que o ACS visita. Da mesma forma, o ACS pode representar um lixão, um charco, com
símbolos bem fáceis de desenhar.
E ele não faz o mapa sozinho. Em todo o seu trabalho, o agente conta sempre com a ajuda dos
seus colegas da Unidade de Saúde. Principalmente a enfermeira (ou enfermeiro) que exerce a função
76
O agente pode também contar com a comunidade para ajudá-lo na preparação do mapa. Um
ótimo motivo para se conhecerem mais. O agente mostra o mapa que está fazendo e ouve sugestões
para corrigir, acrescentar, de modo que no final o mapa dê uma boa idéia do como é aquela
comunidade. Quando o mapa fica pronto, o ACS pode organizar melhor o seu trabalho.
.............................................................
CAPÍTULO IV
de instrutor-supervisor.
39. ...............
........................................................................................................................
Com o mapa ele pode:
ficar conhecendo os caminhos mais fáceis para chegar a todos os locais;
planejar as visitas de cada dia sem perder tempo;
ficar mais seguro na hora de prestar socorro a alguém;
marcar todas as Microáreas de Risco;
identificar com símbolos as casas com famílias em situação de risco;
marcar as barreiras geográficas que dificultam o caminho das pessoas até os serviços de saúde (rios,
morros, mata cerrada, etc.).
Vamos ver como é que se faz um mapa?
Existem algumas regras importantes para que o
mapa feito pelo ACS tenha utilidade.
Noção de distância. O agente deve reproduzir
de forma reduzida no mapa o que existe na
comunidade. Se o Centro de Saúde fica no final da
rua, é ali que ele coloca o símbolo que representa o
Centro. Se a escola fica de um lado da rua e a
padaria do outro, é assim que o ACS deve desenhar
no seu mapa. Cada símbolo deve ocupar, no
desenho, o lugar daquilo que ele representa.
Noção de direção. O que fica ao Norte deve
ser desenhado ao Norte. O que fica a Oeste deve ser
desenhado a Oeste. E assim por diante.
Norte, Sul, Leste e Oeste são os pontos cardeais. Para saber onde fica cada um deles, a maneira mais
Vamos ver como é que se marcam os pontos cardeais?
Você aponta o seu braço direito para onde o Sol nasce e o braço esquerdo para onde o Sol se põe, no
Oeste. Nessa posição, de braços abertos, a pessoa fica de frente para o Norte. E de costas para o Sul.
.............................................................
CAPÍTULO IV
simples é verificar onde o Sol nasce. Ali fica o Leste.
77
40. ...............
O ACS - TRABALHANDO E APRENDENDO COM A COMUNIDADE
..........................................................................................................................................................................
Agora, pense na sua comunidade e faça uma lista de coisas que são importantes para a vida comunitária.
Por exemplo:
• Prefeitura
• Postos de Saúde
• Centros de Saúde
• Hospitais
• Escolas
• Igrejas
• Centros Religiosos
• Delegacias
• Postos Policiais
• Quadras de esporte
• Campo de futebol
Escreva também outras coisas que podem ser lembradas com seus nomes:
• Rua principal
• Cartório
• Correio
• Parada de ônibus
• Casa da parteira, da benzedeira, da curandeira.
E outras coisas de que você se lembra.
Agora pegue uma folha de papel, marque os pontos cardeais e tente desenhar um mapa de sua
comunidade com as quadras, as casas, as ruas, as praças, os caminhos, os córregos ou rios que passam
por ali. Depois, vá marcando onde ficam esses estabelecimentos de que você se lembrou, com
símbolos.
78
.............................................................
CAPÍTULO IV
Sugestões de alguns sinais para você usar: