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SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES
Sermão de Santo António aos Peixes
Porquê o nome deste sermão dado por Padre António Vieira?
• Homenagem ao Sto. António (pregado no dia de Santo António)
• Segue o exemplo do sermão de Santo António (aos peixes)
• Tal como Sto. António tenta converter os hereges, também Padre António Vieira tenta
fazer isso com os colonos portugueses no Brasil.
Objetivos:
• Pretende agitar as consciências (abrir os olhos), conduzir à reflexão.
• Pretende evitar o mal e preservar o bem (sal que tenta salgar)
1. INTRODUÇÃO – CAPÍTULO I
- Contêm a TESE inicial, o ponto de vista ao qual o autor pretende fazer aderir o leitor.
1.1. EXÓRDIO – o orador apresenta o plano (como se vai organizar o sermão), que vai
defender baseado num CONCEITO PREDICÁVEL, extraído da Sagrada Escritura. Tenta
captar a atenção do auditório.
CONCEITO PREDICÁVEL – “Vos estis sal terrae” – “Vós sois o sal da terra

Pregadores

= Doutrina
Funções:

OFÍCIO DE
SAL
CONSERVA
R

Aqueles que já
estão convertidos

OUVINTES
AUDITÓRI
O

PURIFICA
R

PREGADORES “SAL”
“SAL NÃO SALGA”
Falsa doutrina “ Não pregam a verdadeira
doutrina”
Palavras = comportamento: ”Dizem uma
coisa e fazem outra”
Vaidade dos pregadores (“Se pregam a si e

Converter os
corruptos, hereges

OUVINTES “TERRA”
“TERRA NÃO SE DEIXA SALGAR”
Recusa da verdadeira doutrina “(…) ouvintes,
sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a
não querem receber”
Imitação de comportamentos incorretos
“querem antes imitar o que eles fazem, que
fazer o que dizem”
Egocentrismo, satisfação das vontades (“em

1
não a Cristo”)
vez de servir a Cristo, servem a seus apetites”)
1.2. INVOCAÇÃO – orador invoca auxílio divino para pedir bênçãos/auxílio para levar a
bom termo a sua missão de orador e fazer uma boa exposição das ideias
Invocação à Virgem Maria – “Maria, quer dizer, Domina Maria: “Senhora do Mar”; e posto
que o assunto seja tão desusado, espero que não me falte com a costumada graça. Ave
Maria”

o

o
o

o

1.3. Recursos
QUESTÕES RETÓRICAS:
• Efeito rítmico
• Retardamento da solução para aguçar a curiosidade
• Induz à reflexão
• Captar a atenção do auditório - “CAPTATIO BENEVOLENTIA”
ARGUMENTO DE AUTORIDADE – solução de Cristo para os pregadores que não pregam a
verdadeira doutrina
ALEGORIA – figura de estilo que consiste na apresentação de metáforas ou comparações
que servem para concretizar um pensamento ou uma realidade abstrata. (sal – doutrina,
terra – ouvintes/auditório
ANÁFORA, METÁFORA, REPETIÇÃO…

2. DESENVOLVIMENTO (Exposição – CAPÍTULO II, IV; Confirmação – CAPÍTULO III, V)
"(...) para que procedamos com alguma clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois
pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos
vícios.
2.1. CAPÍTULO II – LOUVOR DAS VIRTUDES EM GERAL (1.º momento da Exposição)
o

o
o
o

O sermão → ALEGORIA: os peixes são metáfora dos homens, as suas virtudes são por
contraste metáfora dos defeitos dos homens e os seus vícios são diretamente metáfora dos
vícios dos homens.
Os peixes ouvem e não falam. Os homens falam muito e ouvem pouco, têm pouco respeito
pela palavra de Deus.
Divide o sermão em duas partes: o sal conserva, o pregador louva as virtudes dos peixes; o
sal preserva da corrupção, o pregador repreende os vícios dos peixes.
Devem manter-se longe dos Homens pois caso contrário sofrerão consequências. Mostra-se
que aqueles que convivem com os homens foram castigados, estão domados e
domesticados, sem liberdade.

Virtudes que dependem sobretudo de Deus
• foram as primeiras criaturas criadas por
Deus
• foram as primeiras criaturas nomeadas pelo
homem
• são os mais numerosos e os maiores
• obediência, quietação, atenção, respeito e
devoção com que ouviram a pregação de

Virtudes naturais dos peixes
• não se domam
• não se domesticam
• escaparam todos do dilúvio porque não
tinham pecado

2
Santo António
2.1.1.Recursos
o IRONIA - “Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes:
ouvem e não falam”
o A ANTÍTESE Céu/lnferno, bem/mal, está ligada quer à divisão do Sermão em duas partes,
quer às duas finalidades globais do mesmo.
o A APÓSTROFE refere diretamente o destinatário da mensagem e do pregador,
aproximando o emissor e recetor.
o A GRADAÇÃO CRESCENTE na enumeração dos animais que vivem próximos dos homens
mas presos.
o A COMPARAÇÃO, "como peixes na água", tem o caráter de um provérbio que significa viver
livremente.
o Utiliza articuladores do discurso (assim, pois…)
o INTERROGAÇÕES RETÓRICAS, ANÁFORAS
2.2. CAPÍTULO III – LOUVORES EM PARTICULAR (1.º momento da Confirmação)
Peixe de Tobias
- O fel sara a
cegueira.
- O coração lança
fora os demónios.
- Curou a cegueira do
pai de Tobias.
- Lançou fora os
demónios de sua
casa.
Sto. António
- Abria a boca contra
os hereges.
- Curava a cegueira.
- Lançava fora os
demónios.

Rémora

Torpedo
VIRTUDES
- Pequena no corpo.
- Energia.
- Grande na força e
no poder.
EFEITOS
- Pega-se ao leme de
- Faz tremer o braço
uma nau.
do pescador.
- Impede que ela
- Impede que o
avance.
pesquem.
COMPARAÇÃO
Sto. António
Sto. António
- A língua de Sto.
- 22 pescadores
António domou as
tremeram ao ouvir as
paixões humanas.
palavras de Sto.
António e
converteram-se.

Quatro-olhos
- Dois olhos olham
p/cima
- Dois olhos olham
p/baixo.
- Defende-se dos
outros peixes.
- Defende-se das
aves.

Pregador
- O peixe ensinou o
pregador a olhar para
cima (Céu) e para
baixo (Inferno).

2.2.1.Recursos:
o

o

o
o

Anáforas: Ah homens… Ah moradores… Quantos, correndo… Quantos, embarcados…
Quantos, navegando… Quantos na nau… A interjeição visa atingir o coração dos ouvintes; a
repetição do pronome indefinido realiza uma enumeração.
Gradações: Nau Soberba, Nau Vingança, Nau Cobiça, Nau Sensualidade; "passa a virtude do
peixezinho, da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do
pescador." O sentido é sempre uma intensificação para mais ou para menos.
Antíteses: mar/terra, para cima/para baixo, Céu/Inferno. Palavras de sentido oposto
indicam as duas direções do sermão: peixes - homens, bem - mal.
Comparações: "… parecia um retrato maritimo de Santo António"; o peixe de Tobias, com
um burel e uma corda, era uma espécie de Santo António do mar: as suas virtudes eram

3
como as de Santo António. "… unidos como os dois vidros de um relógio de areia,": o peixe
Quatro-Olhos possuía grande visão e precisão.
o Metáforas: "… águias, que são os linces do ar; os linces, que são as águias da terra": sentido
de rapidez e de visão excecional.
o Ironia: "Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes!"
2.3. CAPÍTULO IV – REPREENSÕES EM GERAL - (2.º momento da Exposição)
"Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as
vossas repreensões."
1ª Repreensão: Os peixes “comem-se” uns aos outros – Os homens “comem-se” uns aos
outros. – “VÓS COMEIS UNS AOS OUTROS”
o
o
o
o

Os peixes/homens comem-se uns aos outros.
Os peixes/homens maiores comem os mais pequenos
Comem não só o povo mas a sua plebe
Não só os comem, mas engolem-nos e devoram-nos

2ª Repreensão: A ignorância dos peixes/A ignorância e cegueira dos homens – “NOTÁVEL
IGNORÂNCIA E CEGUEIRA”
2.4. CAPÍTULO V – REPREENSÕES EM PARTICULAR - (2.º momento da Confirmação)
Peixes
Os Roncadores

Defeitos
soberba
arrogância
vaidade

Argumentos
pequenos mas muita língua;
facilmente pescados
os peixes grandes têm pouca língua
muita arrogância, pouca firmeza

Os Pegadores

Parasitismo
Oportunismo
bajulação

vivem na dependência dos grandes,
morrem com eles

O Polvo

presunção
ambição
vaidade

Os Voadores

os grandes morrem porque
comeram, os pequenos morrem
sem terem comido
foram criados peixes e não aves

Traição
humilhação

Golias
Caifás
Pilatos
Toda a família da
corte de Herodes

são pescados como peixes e
caçados como aves
morrem queimados
ataca sempre de emboscada
porque se disfarça

Exemplos de homens
Pedro

Adão e Eva

Simão mago

Judas

4
2.4.1.Comparação entre os peixes e Santo António
Peixes
Os Roncadores: soberbos e orgulhosos,
facilmente pescados
Os Pegadores: parasitas, aduladores,
pescados com os grandes
Os Voadores: ambiciosos e presunçosos

O Polvo: traidor

Santo António
tendo tanto saber e tanto poder, não se
orgulhou disso, antes se calou. Não foi
abatido, mas a sua voz ficou para sempre
pegou-se com Cristo a Deus e tornou-se
imortal
tnha duas asas: a sabedoria natural e a
sabedoria sobrenatural. Não as usou por
ambição; foi considerado leigo e sem ciência,
mas tornou-se sábio para sempre
Foi o maior exemplo da candura, da
sinceridade e verdade, onde nunca houve
mentira

3. CONCLUSÃO (Peroração) – CAPÍTULO VI
"Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus peixes. E para que
vades consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma
desconsolação mui antiga, com que todos ficastes desde o tempo em que se publicou o
Levítico."
Peroração: conclusão com a utilização de um desfecho forte, capaz de impressionar o
auditório e levá-lo a pôr em prática os ensinamentos do pregador.

Animais/Peixes
foram escolhidos para os
sacrifícios

Peixes
não foram escolhidos para os
sacrifícios

estes podiam ir vivos para os
sacrifícios

só poderiam ir mortos. Deus não
quer que Lhe ofereçam coisa morta

ofereçam a Deus o ser sacrificado

ofereçam a Deus não ser sacrificados

ofereçam a Deus o sangue e a
vida

Homens

ofereçam a Deus o respeito e a
obediência

os homens também
chegam mortos ao altar
porque vão em pecado
mortal. Assim, Deus
não os quer.

Orador

Peixes

•
•
•
•
•
•
•

• têm mais vantagens do que o pregador
• a sua bruteza é melhor do que a razão do orador
• não ofendem a Deus com a memória
• o seu instinto é melhor que o livre arbítrio do
orador; não falam; não ofendem a Deus com o
pensamento; não ofendem a Deus com a vontade;
atingem sempre o fim para que Deus os criou

tem inveja dos peixes
ofende a Deus com palavras
tem memória
ofende a Deus com o pensamento
ofende a Deus com a vontade
não atinge o fim para que Deus o criou
ofende a Deus

5
• não ofendem a Deus

4. SÍNTESE RECURSOS ESTILÍSTICO
o Apostrofes:
Estes e outros louvores, estas e outras excelências de vossa geração e grandeza vos pudera
dizer, ó peixes..."
"Ah moradores do Maranhão..."
"Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador (...)"
"Peixes, contente-se cada um com o seu elemento."
"Oh alma de António, que só vós tivestes asas e voastes sem perigo (...)"
"Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade (...)"
o Antíteses:
Tanto pescar e tão pouco tremer!"
"No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (...)"
"(...) deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima (...) e outros dois que
direitamente olhassem para baixo (...)"
"A natureza deu-te a água, tu não quiseste senão o ar (...)"
"(...) traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras."
"(...) António (...) o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade, onde nunca
houve dolo, fingimento ou engano."
"Oh que boa doutrina era esta para a terra, se eu não pregara para o mar!"
o Comparações:
Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia um retrato
marítimo de Santo António."
"O que é a baleia entre os peixes, era o gigante Golias entre os homens."
"(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela;
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)"
"As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia (...)"
"(...) e o salteador, que está de emboscada (...) lança-lhe os braços de repente, e fá-lo
prisioneiro. Fizera mais Judas?"
"Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos
traidor
o Paralelismos e Anáforas:
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes...
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes...
Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...;
ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes..."
"Deixa as praças, vai-se às praias;
deixa a terra, vai-se ao mar..."
"Quantos, correndo fortuna na Nau Soberba (...), se a língua de António, como rémora (...)
Quantos, embarcados na Nau Vingança (...), se a rémora da língua de António (...)

6
Quantos, navegando na Nau Cobiça (...), se a língua de António (...)
Quantos, na Nau Sensualidade (...), se a rémora da língua de António (...)"
"(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge;
com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela;
com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)"
"Se está nos limos, faz-se verde;
se está na areia, faz-se branco;
se está no lodo, faz-se pardo (...)"
o Enumeração:
No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (e tanta sorte de varas); pescam as
ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões e até os cetros pescam (...)"
"(...) que também nelas há falsidades, enganos, fingimentos, embustes, ciladas e muito
maiores e mais perniciosas traições."
"Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com palavras; eu lembro-me, mas não ofendeis a Deus
com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu quero,
mas vós não ofendeis a Deus com a vontade."
o Metáforas
"Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi rémora vossa, enquanto o
ouvistes; e porque agora está muda (...) se veem e choram na terra tantos naufrágios."
"(...) pois às águias, que são os linces do ar (...) e aos linces que são as águias da terra (...)"
"(...) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há
tantos séculos?!"
" (...) vestir ou pintar as mesmas cores (...)"
"(...) e o polvo dos próprios braços faz as cordas
o Paradoxos:
a terra e o mar tudo era mar."
"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o
maior traidor do mar."
"hipocrisia tão santa"
o Trocadilhos
Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a
Jonas, para o levar vivo à terra."
"E porque nem aqui o deixavam os que o tinham deixado, primeiro deixou Lisboa, depois
Coimbra, e finalmente Portugal."
"(...) o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se
não queriam lavar."
o Interrogações retóricas
qual será, ou qual pode ser, a causa desta corrupção?"
"Não é tudo isto verdade?"
"(...) que se há de fazer a este sal, e que se há de fazer a esta terra?"
"Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? (...) Que faria logo? Retirar-se-ia?
Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo?"
"(...) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há
tantos séculos?!"
o Ironia
Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes."

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"E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o
maior traidor do mar."

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Sermaodesantoantonioaospeixes

  • 1. SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES Sermão de Santo António aos Peixes Porquê o nome deste sermão dado por Padre António Vieira? • Homenagem ao Sto. António (pregado no dia de Santo António) • Segue o exemplo do sermão de Santo António (aos peixes) • Tal como Sto. António tenta converter os hereges, também Padre António Vieira tenta fazer isso com os colonos portugueses no Brasil. Objetivos: • Pretende agitar as consciências (abrir os olhos), conduzir à reflexão. • Pretende evitar o mal e preservar o bem (sal que tenta salgar) 1. INTRODUÇÃO – CAPÍTULO I - Contêm a TESE inicial, o ponto de vista ao qual o autor pretende fazer aderir o leitor. 1.1. EXÓRDIO – o orador apresenta o plano (como se vai organizar o sermão), que vai defender baseado num CONCEITO PREDICÁVEL, extraído da Sagrada Escritura. Tenta captar a atenção do auditório. CONCEITO PREDICÁVEL – “Vos estis sal terrae” – “Vós sois o sal da terra Pregadores = Doutrina Funções: OFÍCIO DE SAL CONSERVA R Aqueles que já estão convertidos OUVINTES AUDITÓRI O PURIFICA R PREGADORES “SAL” “SAL NÃO SALGA” Falsa doutrina “ Não pregam a verdadeira doutrina” Palavras = comportamento: ”Dizem uma coisa e fazem outra” Vaidade dos pregadores (“Se pregam a si e Converter os corruptos, hereges OUVINTES “TERRA” “TERRA NÃO SE DEIXA SALGAR” Recusa da verdadeira doutrina “(…) ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber” Imitação de comportamentos incorretos “querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem” Egocentrismo, satisfação das vontades (“em 1
  • 2. não a Cristo”) vez de servir a Cristo, servem a seus apetites”) 1.2. INVOCAÇÃO – orador invoca auxílio divino para pedir bênçãos/auxílio para levar a bom termo a sua missão de orador e fazer uma boa exposição das ideias Invocação à Virgem Maria – “Maria, quer dizer, Domina Maria: “Senhora do Mar”; e posto que o assunto seja tão desusado, espero que não me falte com a costumada graça. Ave Maria” o o o o 1.3. Recursos QUESTÕES RETÓRICAS: • Efeito rítmico • Retardamento da solução para aguçar a curiosidade • Induz à reflexão • Captar a atenção do auditório - “CAPTATIO BENEVOLENTIA” ARGUMENTO DE AUTORIDADE – solução de Cristo para os pregadores que não pregam a verdadeira doutrina ALEGORIA – figura de estilo que consiste na apresentação de metáforas ou comparações que servem para concretizar um pensamento ou uma realidade abstrata. (sal – doutrina, terra – ouvintes/auditório ANÁFORA, METÁFORA, REPETIÇÃO… 2. DESENVOLVIMENTO (Exposição – CAPÍTULO II, IV; Confirmação – CAPÍTULO III, V) "(...) para que procedamos com alguma clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios. 2.1. CAPÍTULO II – LOUVOR DAS VIRTUDES EM GERAL (1.º momento da Exposição) o o o o O sermão → ALEGORIA: os peixes são metáfora dos homens, as suas virtudes são por contraste metáfora dos defeitos dos homens e os seus vícios são diretamente metáfora dos vícios dos homens. Os peixes ouvem e não falam. Os homens falam muito e ouvem pouco, têm pouco respeito pela palavra de Deus. Divide o sermão em duas partes: o sal conserva, o pregador louva as virtudes dos peixes; o sal preserva da corrupção, o pregador repreende os vícios dos peixes. Devem manter-se longe dos Homens pois caso contrário sofrerão consequências. Mostra-se que aqueles que convivem com os homens foram castigados, estão domados e domesticados, sem liberdade. Virtudes que dependem sobretudo de Deus • foram as primeiras criaturas criadas por Deus • foram as primeiras criaturas nomeadas pelo homem • são os mais numerosos e os maiores • obediência, quietação, atenção, respeito e devoção com que ouviram a pregação de Virtudes naturais dos peixes • não se domam • não se domesticam • escaparam todos do dilúvio porque não tinham pecado 2
  • 3. Santo António 2.1.1.Recursos o IRONIA - “Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam” o A ANTÍTESE Céu/lnferno, bem/mal, está ligada quer à divisão do Sermão em duas partes, quer às duas finalidades globais do mesmo. o A APÓSTROFE refere diretamente o destinatário da mensagem e do pregador, aproximando o emissor e recetor. o A GRADAÇÃO CRESCENTE na enumeração dos animais que vivem próximos dos homens mas presos. o A COMPARAÇÃO, "como peixes na água", tem o caráter de um provérbio que significa viver livremente. o Utiliza articuladores do discurso (assim, pois…) o INTERROGAÇÕES RETÓRICAS, ANÁFORAS 2.2. CAPÍTULO III – LOUVORES EM PARTICULAR (1.º momento da Confirmação) Peixe de Tobias - O fel sara a cegueira. - O coração lança fora os demónios. - Curou a cegueira do pai de Tobias. - Lançou fora os demónios de sua casa. Sto. António - Abria a boca contra os hereges. - Curava a cegueira. - Lançava fora os demónios. Rémora Torpedo VIRTUDES - Pequena no corpo. - Energia. - Grande na força e no poder. EFEITOS - Pega-se ao leme de - Faz tremer o braço uma nau. do pescador. - Impede que ela - Impede que o avance. pesquem. COMPARAÇÃO Sto. António Sto. António - A língua de Sto. - 22 pescadores António domou as tremeram ao ouvir as paixões humanas. palavras de Sto. António e converteram-se. Quatro-olhos - Dois olhos olham p/cima - Dois olhos olham p/baixo. - Defende-se dos outros peixes. - Defende-se das aves. Pregador - O peixe ensinou o pregador a olhar para cima (Céu) e para baixo (Inferno). 2.2.1.Recursos: o o o o Anáforas: Ah homens… Ah moradores… Quantos, correndo… Quantos, embarcados… Quantos, navegando… Quantos na nau… A interjeição visa atingir o coração dos ouvintes; a repetição do pronome indefinido realiza uma enumeração. Gradações: Nau Soberba, Nau Vingança, Nau Cobiça, Nau Sensualidade; "passa a virtude do peixezinho, da boca ao anzol, do anzol à linha, da linha à cana e da cana ao braço do pescador." O sentido é sempre uma intensificação para mais ou para menos. Antíteses: mar/terra, para cima/para baixo, Céu/Inferno. Palavras de sentido oposto indicam as duas direções do sermão: peixes - homens, bem - mal. Comparações: "… parecia um retrato maritimo de Santo António"; o peixe de Tobias, com um burel e uma corda, era uma espécie de Santo António do mar: as suas virtudes eram 3
  • 4. como as de Santo António. "… unidos como os dois vidros de um relógio de areia,": o peixe Quatro-Olhos possuía grande visão e precisão. o Metáforas: "… águias, que são os linces do ar; os linces, que são as águias da terra": sentido de rapidez e de visão excecional. o Ironia: "Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes!" 2.3. CAPÍTULO IV – REPREENSÕES EM GERAL - (2.º momento da Exposição) "Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões." 1ª Repreensão: Os peixes “comem-se” uns aos outros – Os homens “comem-se” uns aos outros. – “VÓS COMEIS UNS AOS OUTROS” o o o o Os peixes/homens comem-se uns aos outros. Os peixes/homens maiores comem os mais pequenos Comem não só o povo mas a sua plebe Não só os comem, mas engolem-nos e devoram-nos 2ª Repreensão: A ignorância dos peixes/A ignorância e cegueira dos homens – “NOTÁVEL IGNORÂNCIA E CEGUEIRA” 2.4. CAPÍTULO V – REPREENSÕES EM PARTICULAR - (2.º momento da Confirmação) Peixes Os Roncadores Defeitos soberba arrogância vaidade Argumentos pequenos mas muita língua; facilmente pescados os peixes grandes têm pouca língua muita arrogância, pouca firmeza Os Pegadores Parasitismo Oportunismo bajulação vivem na dependência dos grandes, morrem com eles O Polvo presunção ambição vaidade Os Voadores os grandes morrem porque comeram, os pequenos morrem sem terem comido foram criados peixes e não aves Traição humilhação Golias Caifás Pilatos Toda a família da corte de Herodes são pescados como peixes e caçados como aves morrem queimados ataca sempre de emboscada porque se disfarça Exemplos de homens Pedro Adão e Eva Simão mago Judas 4
  • 5. 2.4.1.Comparação entre os peixes e Santo António Peixes Os Roncadores: soberbos e orgulhosos, facilmente pescados Os Pegadores: parasitas, aduladores, pescados com os grandes Os Voadores: ambiciosos e presunçosos O Polvo: traidor Santo António tendo tanto saber e tanto poder, não se orgulhou disso, antes se calou. Não foi abatido, mas a sua voz ficou para sempre pegou-se com Cristo a Deus e tornou-se imortal tnha duas asas: a sabedoria natural e a sabedoria sobrenatural. Não as usou por ambição; foi considerado leigo e sem ciência, mas tornou-se sábio para sempre Foi o maior exemplo da candura, da sinceridade e verdade, onde nunca houve mentira 3. CONCLUSÃO (Peroração) – CAPÍTULO VI "Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus peixes. E para que vades consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma desconsolação mui antiga, com que todos ficastes desde o tempo em que se publicou o Levítico." Peroração: conclusão com a utilização de um desfecho forte, capaz de impressionar o auditório e levá-lo a pôr em prática os ensinamentos do pregador. Animais/Peixes foram escolhidos para os sacrifícios Peixes não foram escolhidos para os sacrifícios estes podiam ir vivos para os sacrifícios só poderiam ir mortos. Deus não quer que Lhe ofereçam coisa morta ofereçam a Deus o ser sacrificado ofereçam a Deus não ser sacrificados ofereçam a Deus o sangue e a vida Homens ofereçam a Deus o respeito e a obediência os homens também chegam mortos ao altar porque vão em pecado mortal. Assim, Deus não os quer. Orador Peixes • • • • • • • • têm mais vantagens do que o pregador • a sua bruteza é melhor do que a razão do orador • não ofendem a Deus com a memória • o seu instinto é melhor que o livre arbítrio do orador; não falam; não ofendem a Deus com o pensamento; não ofendem a Deus com a vontade; atingem sempre o fim para que Deus os criou tem inveja dos peixes ofende a Deus com palavras tem memória ofende a Deus com o pensamento ofende a Deus com a vontade não atinge o fim para que Deus o criou ofende a Deus 5
  • 6. • não ofendem a Deus 4. SÍNTESE RECURSOS ESTILÍSTICO o Apostrofes: Estes e outros louvores, estas e outras excelências de vossa geração e grandeza vos pudera dizer, ó peixes..." "Ah moradores do Maranhão..." "Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador (...)" "Peixes, contente-se cada um com o seu elemento." "Oh alma de António, que só vós tivestes asas e voastes sem perigo (...)" "Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade (...)" o Antíteses: Tanto pescar e tão pouco tremer!" "No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (...)" "(...) deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima (...) e outros dois que direitamente olhassem para baixo (...)" "A natureza deu-te a água, tu não quiseste senão o ar (...)" "(...) traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras." "(...) António (...) o mais puro exemplar da candura, da sinceridade e da verdade, onde nunca houve dolo, fingimento ou engano." "Oh que boa doutrina era esta para a terra, se eu não pregara para o mar!" o Comparações: Certo que se a este peixe o vestiram de burel e o ataram com uma corda, parecia um retrato marítimo de Santo António." "O que é a baleia entre os peixes, era o gigante Golias entre os homens." "(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)" "As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia (...)" "(...) e o salteador, que está de emboscada (...) lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas?" "Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor o Paralelismos e Anáforas: Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes... Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes... Ou é porque o sal não salga, e os pregadores...; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes..." "Deixa as praças, vai-se às praias; deixa a terra, vai-se ao mar..." "Quantos, correndo fortuna na Nau Soberba (...), se a língua de António, como rémora (...) Quantos, embarcados na Nau Vingança (...), se a rémora da língua de António (...) 6
  • 7. Quantos, navegando na Nau Cobiça (...), se a língua de António (...) Quantos, na Nau Sensualidade (...), se a rémora da língua de António (...)" "(...) com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura (...)" "Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo (...)" o Enumeração: No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (e tanta sorte de varas); pescam as ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões e até os cetros pescam (...)" "(...) que também nelas há falsidades, enganos, fingimentos, embustes, ciladas e muito maiores e mais perniciosas traições." "Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com palavras; eu lembro-me, mas não ofendeis a Deus com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu quero, mas vós não ofendeis a Deus com a vontade." o Metáforas "Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi rémora vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (...) se veem e choram na terra tantos naufrágios." "(...) pois às águias, que são os linces do ar (...) e aos linces que são as águias da terra (...)" "(...) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos?!" " (...) vestir ou pintar as mesmas cores (...)" "(...) e o polvo dos próprios braços faz as cordas o Paradoxos: a terra e o mar tudo era mar." "E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar." "hipocrisia tão santa" o Trocadilhos Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o levar vivo à terra." "E porque nem aqui o deixavam os que o tinham deixado, primeiro deixou Lisboa, depois Coimbra, e finalmente Portugal." "(...) o peixe abriu a boca contra quem se lavava, e Santo António abria a sua contra os que se não queriam lavar." o Interrogações retóricas qual será, ou qual pode ser, a causa desta corrupção?" "Não é tudo isto verdade?" "(...) que se há de fazer a este sal, e que se há de fazer a esta terra?" "Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? (...) Que faria logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo?" "(...) onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos?!" o Ironia Mas ah sim, que me não lembrava! Eu não prego a vós, prego aos peixes." 7
  • 8. "E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar." 8