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INDUÇÃO FINITA
1 Provas de propriedades sobre o conjunto
dos naturais
Muitas vezes precisamos provar a vali-
dade de propriedades sobre o conjunto
dos números naturais. Ou seja, propri-
edades que são aplicáveis a um número
natural n.
Por exemplo, provar que a seguinte
relação é verdadeira:
1 + 3 + 5 + · · · + (2n − 1) = n2
para n ∈ N∗
Observações:
• N = {0, 1, 2, 3, . . . } e
N∗ = {1, 2, 3, . . . }
• Consideremos a soma do lado esquerdo
da igualdade em relação ao n:
Para n = 1 a soma tem apenas 1
termo, pois 2.1−1 = 1, soma = 1
Para n = 2 a soma tem 2 termos
pois 2.2 − 1 = 3, soma = 1 + 3
Para n = 3 a soma tem 3 termos
pois 2.3−1 = 5, soma = 1+3+5
E assim por diante
2
Então, verifiquemos a propriedade para
os números 1, 2, 3 e 10:
n = 1 ⇒ 1 = 12 ⇒ V
n = 2 ⇒ 1 + 3 = 22 ⇒ V
n = 3 ⇒ 1 + 3 + 5 = 32 ⇒ V
n = 10 ⇒ 1+3+5+· · ·+19 = 100 = 102 ⇒ V
3
Outro exemplo seria provar a seguinte
propriedade:
2n ≥ n + 1
para n ∈ N∗
Verificando para os números 1, 2 e 3:
n = 1 ⇒ 2.1 ≥ 1 + 1 ⇒ V
n = 2 ⇒ 2.2 ≥ 2 + 1 ⇒ V
n = 3 ⇒ 2.3 ≥ 3 + 1 ⇒ V
4
2 Problema com esta verificação
Qual o problema com esta verificação?
Por que ela não é efetiva?
Porque o conjunto N é um conjunto
infinito e nunca terminarı́amos a veri-
ficação. A solução é usar o princı́pio que
chamamos de Princı́pio da Indução Fi-
nita.
5
3 Princı́pio da Indução Finita
Uma proposição P(n), aplicável aos nú-
meros naturais n, é verdadeira para todo
n ∈ N, n ≥ n0, quando:
1. P(n0) é verdadeiro, ou seja, a pro-
priedade vale para n = n0
2. Seja k ∈ N, k ≥ n0. Supomos
que P(k) é verdadeiro (hipótese da
indução). Então, devemos provar que
P(k + 1) também é verdadeiro.
Isso significa provar a seguinte im-
plicação (prova direta):
P(k) → P(k + 1)
6

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  • 1. INDUÇÃO FINITA 1 Provas de propriedades sobre o conjunto dos naturais Muitas vezes precisamos provar a vali- dade de propriedades sobre o conjunto dos números naturais. Ou seja, propri- edades que são aplicáveis a um número natural n. Por exemplo, provar que a seguinte relação é verdadeira: 1 + 3 + 5 + · · · + (2n − 1) = n2 para n ∈ N∗
  • 2. Observações: • N = {0, 1, 2, 3, . . . } e N∗ = {1, 2, 3, . . . } • Consideremos a soma do lado esquerdo da igualdade em relação ao n: Para n = 1 a soma tem apenas 1 termo, pois 2.1−1 = 1, soma = 1 Para n = 2 a soma tem 2 termos pois 2.2 − 1 = 3, soma = 1 + 3 Para n = 3 a soma tem 3 termos pois 2.3−1 = 5, soma = 1+3+5 E assim por diante 2
  • 3. Então, verifiquemos a propriedade para os números 1, 2, 3 e 10: n = 1 ⇒ 1 = 12 ⇒ V n = 2 ⇒ 1 + 3 = 22 ⇒ V n = 3 ⇒ 1 + 3 + 5 = 32 ⇒ V n = 10 ⇒ 1+3+5+· · ·+19 = 100 = 102 ⇒ V 3
  • 4. Outro exemplo seria provar a seguinte propriedade: 2n ≥ n + 1 para n ∈ N∗ Verificando para os números 1, 2 e 3: n = 1 ⇒ 2.1 ≥ 1 + 1 ⇒ V n = 2 ⇒ 2.2 ≥ 2 + 1 ⇒ V n = 3 ⇒ 2.3 ≥ 3 + 1 ⇒ V 4
  • 5. 2 Problema com esta verificação Qual o problema com esta verificação? Por que ela não é efetiva? Porque o conjunto N é um conjunto infinito e nunca terminarı́amos a veri- ficação. A solução é usar o princı́pio que chamamos de Princı́pio da Indução Fi- nita. 5
  • 6. 3 Princı́pio da Indução Finita Uma proposição P(n), aplicável aos nú- meros naturais n, é verdadeira para todo n ∈ N, n ≥ n0, quando: 1. P(n0) é verdadeiro, ou seja, a pro- priedade vale para n = n0 2. Seja k ∈ N, k ≥ n0. Supomos que P(k) é verdadeiro (hipótese da indução). Então, devemos provar que P(k + 1) também é verdadeiro. Isso significa provar a seguinte im- plicação (prova direta): P(k) → P(k + 1) 6