5. O século XX
Foi marcado pelo triunfo do projeto de
escolarização
A hegemonia da forma escolar, a naturalização e a
persistência da configuração organizacional do
estabelecimento de ensino
6. Mas esse mesmo século pode ser visto como um
período de barbáries que tiveram, na Europa
civilizada e escolarizada, as suas expressões máximas
7. Quanto mais as nossas sociedades se escolarizam, mais
se confrontam com problemas de ordens social e
ambiental que configuram autênticos impasses de
civilização
8. Há um desequilíbrio acentuado entre:
- o conhecimento científico e técnico que
marca as nossas sociedades
&
- a imaturidade social e política
(expressa na incapacidade de controlar os efeitos
indesejáveis do progresso)
10. Acontece que a escola – invenção histórica
recente – instituiu um espaço e um tempo
distintos, destinados às aprendizagens.
11. Consagrou, por um lado, a
dicotomia aprender-
agir e, por outro,
modalidades de
aprendizagem que se
baseiam não na
continuidade, mas na
ruptura com a
experiência.
12. A separação da realidade social produziu um
efeito de fechamento da escola sobre si
mesma, cujos inconvenientes estão bem
patentes no desejo recorrentemente
manifestado de “ligar a escola à vida”.
13. Subestimar a experiência dos aprendentes tem-
se traduzido em um déficit de sentido do
trabalho escolar, marcando negativamente a
relação com o saber.
14. Na prática
“é necessário que as crianças que chegam à escola sejam
rapidamente transformadas em alunos. Essa
transformação, no entanto, tem um preço: é o fim da individualidade e da
singularidade de cada sujeito, além da não-valorização de sua
experiência anterior na construção e aquisição de novos
conhecimentos, o que torna difícil dar um sentido positivo para o
trabalho e a experiência escolares.”
fonte: entrevista a Revista Impressão Pedagógica
15. ExemploExemplo
Esta história diz respeito a um exame acadêmico e
se passou com o célebre físico Niels Bohr, a
quem, em prova oral, o professor teria perguntado
como se media a altura de um edifício com base na
utilização de um barômetro. A resposta esperada
tinha como base a variação dos valores da pressão
atmosférica, medida na base e no topo do edifício.
O aluno foi propondo soluções, sucessivamente
rejeitadas pelo professor por não corresponderem
a uma “boa resposta”
16. • Primeira solução: deixar cair o barômetro do telhado e
calcular a altura do edifício a partir da medição do tempo
gasto na queda (recorrendo a um cronômetro)
• Segunda: pendurar o barômetro com uma corda, a partir
do telhado e até tocar no chão. Descer e medir a corda
• Terceira: colocar o barômetro ao sol e determinar a altura
do edifício, a partir do conhecimento da altura do
barômetro, do comprimento de suas sombras e do próprio
edifício
• Quarta: utilizar o barômetro como unidade-padrão para
“medir” o edifício em “barômetros”
17. Depois de enunciar várias
outras soluções e perante um
professor previsivelmente irritado,
o aluno ainda conseguiu propor,
de forma provocativa, uma última maneira de
proceder para resolver o problema, recorrendo, desta
vez, a competências de natureza social.
18. Tratava-se de utilizar o barômetro como moeda
de troca para obter a informação desejada na
portaria do prédio.
19. As três características mais marcantes
da ESCOLA
1. Menosprezo pela experiência não-
escolar do aluno
20. 2. Dificuldade dos alunos em atribuir sentido
às tarefas escolares impostas
21. 3. Tendência a ensinar soluções e dar
respostas
Subestimando a capacidade de pesquisa e de
descoberta, que exige competências para equacionar
problemas e imaginar diferentes soluções.
22. Afinal, a maior parte dos problemas importantes tem caráter
aberto e indeterminado, admitindo uma pluralidade
de soluções possíveis
23. Hegemonia
Esta forma escolar de conceber o processo de aprender
foi, progressiva e tendencialmente, constituindo-se como a
única maneira de conceber a educação, o que teve duas
consequências fundamentais:
1. Conferir à escola o quase monopólio da ação
educativa (desvalorizando os saberes não adquiridos por
via escolar)
2. Contaminar todas as modalidades educativas
não-escolares, transformando-as à sua imagem e
semelhança
24. Esse empobrecimento do campo e do
pensamento educativos privou a própria forma
escolar de referenciais exteriores que lhe
permitiriam criticar-se e se transformar. Em
síntese, durante o século XX, a educação
tornou-se refém da forma escolar.
26. A escola corresponde
a uma invenção
histórica recente que
emerge nos
princípios da
modernidade,
coincidindo com a
transição das
sociedades de Antigo
Regime para as
modernas
sociedades liberais e
industriais.
27. Apesar de ser
inequivocamente uma
criação humana, a escola,
ao tornar-se hegemônica,
sofreu um processo de
“naturalização”, que
torna difícil um
distanciamento crítico. Ou
seja, a escola não é vista
como uma realidade
social, mas sim como algo
de “natural” e, portanto,
imutável.
28. Só coisa ruim?
Não, também uma conquista histórica
“a escola correspondeu a uma formidável invenção
organizacional, que permitiu que um mestre
pudesse ensinar simultaneamente muitos alunos,
como se fossem um só. A invenção da organização
por classes permitiu passar do ensino individual ao
ensino simultâneo e, assim, lançar a base do que
viria a ser uma escola de massas.”
fonte: entrevista a Revista Impressão Pedagógica
29. A escola do futuro?
Do meu ponto de vista, é desejável que, no
futuro, a escola possa ser um lugar onde se
aprende pelo trabalho, e não para o
trabalho.
30. Também é desejável
que a escola seja um lugar privilegiado para
desenvolver e estimular o gosto pelo ato
intelectual de aprender
cujo valor reside na possibilidade de
investir o que se aprende
(para “ler” e intervir no mundo)
34. É preciso pensar a escola a
partir da educação não-
escolar
1. A escola é muito dificilmente
modificável a partir da sua
própria lógica
2. Nossas aprendizagens
mais importantes são
da ordem do não-
formal
1.
35. É imprescindível caminhar no
sentido de desalienar o
trabalho escolar, para que a
ação de aprender possa ser
vista como uma “obra”.
2.
36. As transformações da
educação, e em particular da
escola, devem ser o resultado
de movimentos sociais que
articulem um projeto de
escola com um projeto social
Não será possível uma escola
que promova a realização da
pessoa, livre de tiranias e de
exploração, em um sociedade
baseada em valores e em
pressupostos que sejam o seu
oposto
3.
37. Em Suma
“O grande problema hoje
não é só saber como será a
escola do futuro, mas
saber se há um futuro para
a escola.
De uma entrevista a
Paula Nadal
38. Muitas das críticas à
escolarização, particularmente
as que foram desenvolvidas
pelo filósofo austríaco IvanIvan
IllichIllich (1926-2002), que
defendia uma sociedade sem
instituições oficiais de ensino,
aparecem hoje como bastante
realistas. Em muitos
aspectos, a escola deixou
de ser a solução para fazer
parte do problema.
39. A Educação transcende em muito as fronteiras
da escola e o modelo ali desenvolvido só terá
futuro se ele tornar-se poroso e deixar-se
contaminar por diferentes formas educativas.”