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R evista
  C apital C ientífico
Rua Salvatore Renna, 875, Santa Cruz
       Cep 85015-430 Guarapuava, Paraná
            Fone: (0xx42) 3621-1019
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            Revista Capital Científico - RCCi
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	   Volume 7	 			        Número 1	   	           2009




    Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO
              Guarapuava/Irati - Paraná- Brasil
                   htttp://www.unicentro.br
Revista Capital Científico - RCCi
                                  Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO
                                                  Reitor: Vitor Hugo Zanette
                                                Vice-reitor: Aldo Nelson Bona
                   Editora UNICENTRO                                                      Comissão Científica
                     Beatriz Anselmo Olinto                           Dra. Lucia Cortes da Costa – Universidade Estadual de Ponta
 Assessoria Técnica: Bruna Silva, Luiz Gilberto Bertotti, Luciano                            Grossa (UEPG)
              Farinha Watzlawick, Waldemar Feller                     Dr. Eduardo Fernando Appio – Centro Universitário Filadélfia
             Divisão de Editoração: Renata Daletese                                              (UNIFIL)
                                                                     Dra. Márcia Maria Dos Santos Bortolocci Espejo – Universidade
     Seção de Revisão de Inglês: Raquel Cristina Mendes de
                                                                                        Federal do Paraná (UFPR)
                            Carvalho.
                                                                      Dra. Patrícia Morilha Muritiba – Universidade Nove de Julho
  Estagiários: André Justus Czovny; Fernanda Gongra; Marcio
                                                                                               (UNINOVE)
                Fraga de Oliveira; Lucas Casarini
                                                                      Dra. Rúbia Nara Rinaldi – Universidade Estadual do Oeste do
             Revisão: Dalila Oliva Lima de Oliveira                                        Paraná (UNIOESTE)
                 Diagramação: Lucas Casarini                         Dr. Weimar Freire da Rocha Júnior – Universidade Estadual do
                 Capa: Lucas Gomes Thimoteo                                          Oeste do Paraná (UNIOESTE)
               Impressão: Gráfica UNICENTRO



                                            Setor de Ciências Sociais Aplicadas
                                                   Santa Cruz: Luiz Fernando de Lima
                                                       Irati: Edelcio José Stroparo
                                                        Comissão Editorial
Dr. Ivan de Souza Dutra (presidente-editor); Ms. Ana Léa Macohon Klosowski; Dr. Carlos Alberto Marçal Gonzaga; Ms. Carlos
Alberto Ferreira Gomes; Ms. Diogo Lüders Fernandes; Ms. Ivonaldo Brandani Gusmão; Ms. Juliane Sachser Angnes; Ms. Rosangela
                                                     Bujokas de Siqueira

                                  Publicação do Setor de Ciências Sociais Aplicadas
                                                     capitalcientifico@unicentro.br
                           Para submissões: http://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico


                           Edição aprovada pelo Conselho Editorial da UNICENTRO

                                                      Catalogação na publicação
                                                      Biblioteca da UNICENTRO



                                        Capital Científico / Centro de Ciências Sociais Aplicadas da
                                     	    Universidade Estadual do Centro-Oeste. – v.1,
                                     n.1 (2003) – Guarapuava: UNICENTRO, 2009 -


                                          Anual.

                                          ISSN 1679-1991

                                            1. Ciências Sociais – Periódicos.




                    Versão online, ISSN 2177-4153 em http://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico
                                           Copyright © 2009 Editora UNICENTRO
                   Nota: Os conteúdos dos artigos desta revista são de inteira responsabilidade de seus autores.
Editorial
        A Revista Capital Científico - RCCi encerrou o ano de 2009 com várias novidades de volume,
comunicação eletrônica e impressa, design gráfico, bem como na especialização e balanceamento
temático dos artigos, marcando uma fase de crescimento, decorrente de mudanças significativas que estão
sendo implementadas desde 2008.
        A Comissão Editorial ensejou a procura incessante em conteúdos com melhor qualidade científica
e contribuição para a sociedade, tendo sempre em vista a missão do periódico, um desafio que foi e
continua árduo, o que pode ser observado nas considerações que seguem.
        Diante da conjuntura recente, verificaram-se obstáculos comuns como em vários periódicos
acadêmicos de instituição pública que não têm receita por assinaturas ou fomento institucional externo,
a exemplo do trabalho com equipe reduzida. Além disso, existiu a dificuldade de recebimento de artigos
relevantes, que pudessem ser aprovados dentro das exigências e condições necessárias, atendendo à
qualidade e contribuição almejadas, dentro do prazo estabelecido para encerramento da edição. Isso
também é explicado pela fase atual do periódico, que ainda é relativamente pouco conhecido para o
público de estudiosos externos e não tem alto fator de impacto, ao verificar-se o baixo volume de artigos
recebidos para dar giro de publicação das edições. Por causa dessas circunstâncias, a comissão considerou
publicar artigos recebidos e aprovados após o ano de 2009 dentro dos critérios exigidos, sem perda da
qualidade exigida, como pode ser verificado nesta edição.
        Por outro lado, as contribuições dos autores desta publicação, e o recebimento mensal de novas
submissões especialmente a partir de 2010, por autores de diversas origens institucionais, serviram de
estímulo para superar as dificuldades de manutenção, e as crescentes exigências do sistema de avaliação
Qualis, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES/MEC. É importante
ressaltar que várias manifestações de sugestões ou críticas dos pesquisadores, discentes e leitores recebidas
ao longo do ano, contribuíram em boa parte para as modificações de melhoria do formato e consolidação
do conteúdo.
        Sendo assim, apresentamos essa edição com novo design gráfico para abarcar as temáticas
contemporâneas do campo de Sociais Aplicadas. Na nova capa, buscou-se uma síntese dessa proposta,
pela representação do globo terrestre estilizado, dando a idéia da característica interdisciplinar desse
campo, em face de estudos que alcançam dimensão mundial, na perspectiva de que não é possível
distinguir as fronteiras entre novas e diferentes realidades sócio-econômicas, bem como nas várias ciências
do escopo das Ciências Sociais Aplicadas. A formatação interna de fonte e conteúdo acompanhou essa
filosofia, também adaptada às novas tendências.
        Para as ações de gestão e editoração periódica, foi implantado o Sistema Eletrônico de Editoração
de Revistas – SEER, uma ferramenta desenvolvida pelo Public Knowledge Project (Open Journal Systems) da
Universidade British Columbia e customizada no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia – IBICT. Com isso, iniciou-se um novo ciclo de edições com publicações eletrônicas em portal
da revista via Internet, por meio do endereço http://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico. Em
consequência, foi requerido e registrado um segundo número de ISSN, o 2177-4153, que é designado
para a versão on line da revista. Com esse sistema, que é visto com aprovação pelo Qualis/CAPES/MEC,
ganha-se em segurança, aumenta-se o controle, melhora a qualidade e cresce o nível de compartilhamento
e socialização do conhecimento publicado.
        Uma Comissão Científica foi criada para a constante melhoria das diretrizes, normas e conteúdos
do periódico, constituída por doutores de instituições externas, representados em cada uma das seis áreas
de Sociais Aplicadas aceitas no periódico. Nessa edição, a RCCi tem um privilégio de contar com essa
comissão composta por professores e pesquisadores que se destacam nas suas áreas de trabalho e na
academia nacional, cujos nomes dão reconhecimento à missão e aos propósitos científicos do periódico.
       Os artigos publicados nesta edição são de autores vinculados a instituições de ensino e organizações
de pesquisa de renome, com a participação em mais de 70% de autores externos, que não possuem
qualquer vínculo formal com a UNICENTRO, conferindo legitimidade e seriedade à revista aos seus
objetivos editoriais. Esses autores também contribuíram significativamente com seus estudos em qualidade
e relevância do conteúdo.
       Esta edição contempla estudos, discussões e aspectos sobre a mudança social, organizacional e a
sustentabilidade. Assim, apresentam-se artigos que trazem pesquisas e reflexões sobre as transformações
organizacionais diante da vida no mundo, em termos macroambientais e microambientais, de sistemas em
que vivem pessoas e organizações sócio-econômicas. O leitor encontrará estudos do processo produtivo
sobre o trabalho e o capitalismo, e outros, das desigualdades sociais, das alternativas de desenvolvimento
sustentável e a crise ambiental, dos sistemas de gestão ambiental e de responsabilidade social, bem
como do perfil daqueles que dirigem organizações com esses processos. Em perspectiva adjacente, são
apresentados artigos tais como: o da hierarquização de atrativos turísticos da cidade de Irati-PR; o da
análise dos objetivos do balanço social, da análise das metodologias de intervenção de consultores em
ONG no Recife-PE; da qualidade de serviços em uma IES, utilizando-se o modelo metodológico 5 GAP´s;
recursos de tecnologia e informação para o apoio ao ensino, pesquisa e extensão, além de trabalhos
das narrativas (storytellings) contadas pelos anúncios e vídeos institucionais da organizações, de casos de
ações em Customer Relationship Management (CRM) e sobre os processos de seleção de empregados por
competência. Um ensaio que discute e traz metáfora para a mudança organizacional encerra o periódico.
       Diante disso, a Revista Capital Científico traz conteúdos pela busca e auxílio do conhecimento
contemporâneo nas Ciências Sociais Aplicadas, em suas diversas áreas, com a contribuição dos autores,
sempre seremos agradecidos. Desejamos uma excelente leitura!

                                                                             Dr. Ivan de Souza Dutra
                                                                  Editor da revista Capital Científico
Sumário
Capitalismo e as Transformações no Processo de Trabalho.................... 11
Caroline Goerck

Crise Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: a nanotecnologia como
uma das soluções de longo prazo........................................................... 21
Marcia Regina Gabardo da Camara
Rafael Borim de Souza

A Polarização e as Desigualdades Regionais no Brasil.......................... 35
Francieli do Rocio de Campos
Patrícia Estanislau

A Evolução dos Sistemas de Gestão Ambiental: o caso do Laboratório de
Camarões Marinhos................................................................................. 47
Antonio Costa Gomes Filho
Fernando Antonio Forcellini
Marilene Bronoski
Rafael Feyh Jappur

Projetos Brasileiros de Aterro Sanitário no Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo: uma análise dos indicadores de sustentabilidade...................... 57
Miriam Tiemi Oliveira Takimura
Valdir Machado Valadão Júnior

Avaliação e Hierarquização dos Atrativos Turísticos de Irati-PR............ 73
Diogo Lüders Fernandes
Vanessa de Oliveira Menezes

Gestão da Responsabilidade Social e o Perfil dos Gestores: análise das
organizações de Blumenau - SC..............................................................85
Danielle Regina Ullrich
Marialva Tomio Dreher

Balanço Social: uma análise comparativa entre objetivos propostos na
literatura e a realidade empírica............................................................ 99
Diocesar Costa de Souza
Marcos Roberto Kuhl
Vicente Pacheco
Metodologias de Intervenção Utilizadas pelos Consultores no Trabalho
Realizado com ONGs: um estudo na região metropolitana de Recife-
PE..................................................................................................... 115
Marcos Gilson Gomes Feitosa
Naldeir dos Santos Vieira

Avaliação da Qualidade dos Serviços de uma Instituição de Ensino
Superior Utilizando a Aplicação do Modelo Adaptado de Mensuração dos
5 GAP’s................................................................................................... 129
Rodrigo Navarro Xavier

BRT-ADM/I – Banco de Recursos Tecnológicos: apoio ao ensino, pesquisa
e extensão..............................................................................................139
Carlos César Garcia Freitas

Dados de Clientes no Customer Relationship Management (CRM): estudo
de casos múltiplos no desenvolvimento de software............................151
Flávio Régio Brambilla

Storytellings Organizacionais: narrativas contadas pelos anúncios e
vídeos institucionais............................................................................... 163
Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros

Mudando para Seleção por Competência: um caso paranaense..........175
Keyla Cristina Pereira Prado
Sérgio Bulgacov

Ensaio: O Princípio da Bicicleta: revisitando a mudança organizacional....187
Antonio Teodoro Ribeiro Guimarães
Summary
Capitalism and the Changes in the Working Process.............................. 11
Caroline Goerck

Environmental Crisis and Sustainable Development: the nanotechnology
as one of the long run solutions.............................................................. 21
Marcia Regina Gabardo da Camara
Rafael Borim de Souza

The Polarization of Regional Inequalities in the Brazil........................... 35
Francieli do Rocio de Campos
Patrícia Estanislau

Environment Management System Evolution: the case of Marine Shrimps
Laboratory................................................................................................ 47
Antonio Costa Gomes Filho
Fernando Antonio Forcellini
Marilene Bronoski
Rafael Feyh Jappur

Brazilian’s Landfill Projects to Clean Development Mechanism: analyzing
the indicators of sustainability................................................................. 57
Miriam Tiemi Oliveira Takimura
Valdir Machado Valadão Júnior

Evaluation and Hierarchy of Turistic Attractive of Irati-PR...................... 73
Diogo Lüders Fernandes
Vanessa de Oliveira Menezes

Social Responsibility Management and the Managers Profile: an analysis
of Blumenau-SC organizations................................................................85
Danielle Regina Ullrich
Marialva Tomio Dreher

Social Balance: comparative analysis between goals proposed in the
literature and empirical reality............................................................... 99
Diocesar Costa de Souza
Marcos Roberto Kuhl
Vicente Pacheco
Methods of Intervention Used in Labor Performed by the Consultants
with NGOs: a study in the metropolitan area of Recife-PE.............. 115
Marcos Gilson Gomes Feitosa
Naldeir dos Santos Vieira

Evaluation of Higher Education Service Quality through the Adapted
Measure Model of 5 GAPs...................................................................... 129
Rodrigo Navarro Xavier

Clients’ data from the Customer Relationship Management (CRM): multiple
cases study for software development...................................................139
Flávio Régio Brambilla

Organizationals Storytellings: the narratives told in the videos and ads
institutional............................................................................................ 151
Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros

Moving to Competency-Based Selection: a Parana case...............................163
Keyla Cristina Pereira Prado
Sérgio Bulgacov

The Bicycle Principle: revisiting an organizational change...........................175
Antonio Teodoro Ribeiro Guimarães
Capitalismo e as Transformações no Processo de
                               Trabalho
                                        Capitalism and the Changes in the Working Process


Caroline Goerck1

Resumo

No capitalismo, os proprietários dos meios de produção exercem a hegemonia absoluta sobre as forças
produtivas, apropriando-se com exclusividade dos excedentes gerados no processo de trabalho. Os capitalistas
almejam intensificar a acumulação de capital, por meio da mais-valia absoluta e relativa, reduzindo os custos
de produção e aumentando a sua produtividade. O processo de produção realizado pelo maquinário a
vapor, durante a I Revolução Industrial, pelo petróleo e pela eletricidade, na II Revolução Industrial, e pelo
desenvolvimento da automação, robótica e microeletrônica, elaborado por meio da III Revolução Industrial,
foram submetendo os trabalhadores à máquina. Entretanto, faz-se necessário enfatizar que o desemprego
é permanente no sistema capitalista, sendo que o investimento em mais-valia relativa, só o acentua. Este
estudo está relacionado com uma revisão bibliográfica sobre o assunto apresentado e propõe-se também a
desencadear alguns questionamentos junto a estudantes e/ou profissionais que trabalham com a questão social
e suas manifestações, para serem objeto de prospecções sobre a realidade social e econômica. Nesse sentido,
este artigo propõe-se a desencadear reflexões sobre as transformações que estão ocorrendo no processo de
trabalho, visando prospectar alternativas à conjuntura macro social e econômica vigente.
Palavras-chave: Capitalismo; Processos de Trabalho; Revoluções Industriais; Desigualdade Social


Abstract

The owners of means of production in the capitalist system exert an absolute hegemony over the productive
forces, suiting themselves exclusively from the surplus generated through the work processes. The capitalists
intend to intensify the cumulative capital by relative and absolute surplus value, reducing the production costs
and increasing their productivity. Production achieved by steam engines, during the First Industrial Revolution, by
petroleum and electricity, during the Second Industrial Revolution, and by the development of automation, robots
and micro-electronics, originated during the Third Industrial Revolution, were substituting machine operators.
However, it becomes necessary to emphasize that unemployment is permanent in the capitalist system, considering
that the investment in relative surplus accentuates this unemployment. In this sense, the present article proposes
to elicit some reflections with students and/or professionals who carry about social manifestation issues, aiming
to prospect alternatives to the social macro and economical conjuncture being viewed.
Key words: Capitalism; Work Processes; Industrial Revolutions; Social inequality




1	    Possui doutorado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS.Contato: goerck@yahoo.com.br


Revista Capital Científico - Guarapuava - PR - v.7 n.1 - jan./dez. 2009 - ISSN 1679-1991
Recebido em 04/10/2009 - Aprovado em 04/06/2010
Introdução                                                   de alienação. Na manufatura, entretanto, o
                                                             trabalhador ainda possuía certa autonomia, em
        As questões referentes ao trabalho e                 relação às atividades que estava desempenhando,
seus processos produtivos, exercem influência                pois a ferramenta era utilizada para auxiliá-lo na
fundamental na forma de organização da sociedade,            produção, e não substituí-lo. “Na manufatura, o
com suas respectivas relações sociais e econômicas,          trabalho é desenvolvido pelo esforço humano, as
políticas e culturais. Para a existência de alternativas     operações são manuais e dependem da habilidade,
e proposições em relação ao capitalismo,                     rapidez, segurança e destreza individual dos
primeiramente se faz necessário, um conhecimento             trabalhadores” (PIRES, 1998, p. 31). Assim, no
mais elaborado desse sistema.                                trabalho desenvolvido pela manufatura, o capital
        Esse artigo tem como finalidade, introduzir e        ainda dependia da habilidade manual do operário.
elucidar conceitos do modo de produção capitalista                  Durante o século XVIII, na Inglaterra, emergiu
e sobre o processo de trabalho, por meio de uma
                                                             um intenso processo de transformação nos processos
retrospectiva histórica de forma que a questão
                                                             produtivos, intitulado de 1ª Revolução Industrial.
social seja evidenciada. Primeiramente, serão
                                                             “A Revolução Industrial assinala a mais radical
apresentadas as primeiras formas de sistematização
                                                             transformação da vida humana já registrada em
do trabalho coletivo e os procedimentos adotados
                                                             documentos escritos” (HOBSBAWM, 1983, p. 13).
pelo capital, para a obtenção da mais-valia. Num
                                                             Nesse momento histórico, acentuou-se a divisão
segundo momento, serão abordadas a II Revolução
                                                             entre a classe trabalhadora e os proprietários dos
Industrial e as transformações que estão ocorrendo
                                                             meios de produção.
no final do século XX e limiar do século XXI, com
                                                                    O período da 1ª Revolução Industrial
suas respectivas implicações sociais e econômicas.
                                                             corresponde ao momento de consolidação do
Por fim, serão tecidas as considerações finais.
                                                             capitalismo industrial, principalmente na Inglaterra.
                                                             O trabalho manufatureiro fora substituído pela
1. O Processo de Trabalho e o Sistema
                                                             criação da máquina a vapor, pelo tear mecânico,
Capitalista                                                  pelas estradas de ferro e pelo surgimento das fábricas.
       Antes de introduzir a I Revolução Industrial, faz-    “Ainda que a indústria seja a forma através da qual a
se necessário abordar um dos primeiros processos             sociedade apropria-se da natureza e transforma-a,
de trabalho existentes no sistema capitalista, como          a industrialização é um processo mais amplo, que
por exemplo, o trabalho manufaturado artesanal.              marca a chamada Idade Contemporânea, e que se
Os processos de trabalho manufaturados artesanais            caracteriza pelo predomínio da atividade industrial
foram caracterizados pela fragmentação das                   sobre as outras atividades econômicas” (SPOSITO,
atividades produtivas, pelo acirramento da divisão           2000, p. 43). A I Revolução Industrial foi mais do
do trabalho, pela redução dos custos de produção             que uma simples causa dessas invenções, do tear
e pela culminação do trabalho assalariado. Essa              mecânico, da estrada de ferro etc. Contrapondo-
dissociação entre o produtor e os meios de produção          se a isso, essas inovações são consequências das
é nomeada de acumulação primitiva (MARX, 1988).              mutações que estavam ocorrendo nos processos de
       No trabalho manufatureiro artesanal,                  produção industrial, desde o trabalho manufaturado,
cada trabalhador se tornou especialista de uma               visando a realização do capital.
determinada função, auxiliado pela ferramenta.                      “A máquina, por meio de uma força externa,
Pelo intermédio do parcelamento das atividades               faz com suas próprias ferramentas, o que o homem
laborais, realizadas na manufatura, ocorreu um               fazia com suas ferramentas manuais” (PIRES, 1998,
processo de estranhamento, entre os trabalhadores            p. 31). Assim, a industrialização e as inovações de
e as mercadorias por eles produzidas (MARX,                  maquinarias, reduziram os custos de produção,
1988). Esse processo de estranhamento é nomeado              aumentaram a produtividade e substituíram a mão-

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de-obra, ocasionando um crescente desemprego              como o conflito suscitado entre o capital (proprietários
e uma exacerbada exploração dos trabalhadores,            dos meios de produção) e o trabalho (trabalhadores
entre eles, o trabalho feminino e o infantil.             que vendem suas forças de trabalho em troca de
        Por intermédio da perspectiva social e            um salário), bem como, as desigualdades geradas
econômica liberal, os processos de produção               através dessa relação social, de compra e venda da
continuaram sendo modificados. A produção                 força de trabalho (BULLA, 1992).
realizada pelo maquinário a vapor – na 1ª Revolução               Os trabalhadores, ao disponibilizarem a
Industrial, e pelo petróleo e pela eletricidade -         sua mão-de-obra aos capitalistas, são explorados
durante a II Revolução Industrial, foram submetendo       gerando a mais-valia, que perpetua a acumulação
os trabalhadores à máquina. A II Revolução Industrial     capitalista. A força de trabalho pode ser caracterizada
teve como características, o desenvolvimento dos          como o conjunto das faculdades físicas e intelectuais
setores de transportes, comunicação, produção em          do trabalhador que as vende à burguesia (SALAMA,
série e, principalmente, a utilização do aço e de novas   1975). Os proprietários dos meios de produção
formas de energia (petróleo e eletricidade), gerando      compram a força de trabalho do proletariado,
a concentração de capital e favorecendo a transição       em troca de salários. “[...] o que distingue o pior
do capitalismo concorrencial ao monopolista.              arquiteto da melhor abelha é que ele figura na
Esses novos protótipos de produções industriais,          mente da sua construção antes de transformá-la
ocasionados pela I e II Revoluções Industriais,           em realidade” (MARX, 1968, p. 202). A mão-de-
desencadearam o acirramento da divisão social do          obra é vendida como mercadoria pelos próprios
trabalho. Nessa época, a classe trabalhadora era          trabalhadores. “Ao firmar o contrato salarial [...] os
destituída de direitos trabalhistas e as condições de     trabalhadores submetem-se ao empregador, que
trabalho eram precárias.                                  disporá da força de trabalho alienada” (CATTANI,
        No modo de produção capitalista, os               1996, p. 93). O valor desse salário é definido pela
detentores dos meios de produção exerciam                 quantidade de horas trabalhadas pelos operários
(exercem) a hegemonia absoluta sobre as forças            (jornada de trabalho).
produtivas (meios de produção e força de trabalho),               Para os capitalistas, o processo produtivo
apropriando-se com exclusividade dos excedentes           possui um valor, pois lhes são úteis, gerando a
gerados (mais-valia) na atividade econômica. Os           mais-valia. Esta realiza-se, quando os trabalhadores
proprietários dos meios de produção exploram os           consomem mercadorias adquiridas, por intermédio
trabalhadores pela obtenção da mais-valia, gerando        de seus valores de troca, com os seus salários.
a concentração de riquezas. Essa concentração de          Ou seja, o salário dos operários que foi gasto
capital e do trabalho socialmente produzido resultou      em mercadorias, retorna aos capitalistas, que por
em tensões e lutas sociais, especialmente a luta de       sua vez, acumulam mais capitais, perpetuando o
classes, processo analisado no livro “O Capital”          sistema (MARX, 1988). A mais-valia produzida pela
(MARX, 1988).                                             classe operária é apropriada pelos capitalistas que
        O trabalho produzido pela classe trabalhadora     sempre tentam aumentar os seus lucros, através da
era (é) apropriado pelos capitalistas e, na medida em     intensificação da produção que não é paga - através
que a força de trabalho é algo passível de compra, ela    dos salários, aos trabalhadores. Para o aumento
passa também a ser considerada uma mercadoria.            da mais-valia, da produtividade, os capitalistas
Nesse processo, o valor da força de trabalho é            usufruem de duas possibilidades. A primeira ocorre
determinado pelo tempo de duração destinado à             com a mais-valia absoluta, que se subdivide em
produção e à reprodução das mercadorias. Essa             outras duas alternativas: ampliação da duração
relação entre a compra e venda da mão-de-obra             da jornada de trabalho (horas trabalhadas); e a
é considerada uma relação social e desencadeia a          segunda pelo aumento da intensidade do trabalho,
questão social. A questão social pode ser apreendida,     visando à produção máxima dos trabalhadores


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junto às máquinas (quase robóticos) durante a            pura e simples do progresso técnico é, na realidade,
execução do trabalho (MARX, 1988). Entretanto,           um fenômeno inerente ao sistema capitalista e das
ambas sofrem limitações, a primeira se contrapõe à       suas próprias contradições (MARX, 1988). Nesse
resistência física dos trabalhadores, que não teriam     trabalho, ressalta-se o significado econômico da
condições de trabalhar muitas horas consecutivas;        mais-valia, pois essa acirra a desigualdade social.
na segunda, os operários não possuem condições                   Conforme Karl Marx (1818–1883) e Friedrich
de acompanhar o ritmo dos maquinários, quando            Engels (1820–1895), pensadores do Socialismo
muito acelerados.                                        Científico, somente existiriam sociedades mais justas e
        A outra possibilidade de ampliação do            igualitárias, quando o sistema capitalista se esgotasse
acúmulo de capital é obtido pela mais-valia relativa,    e fosse substituído por outro modo de produção, que
que é responsável por uma grande exacerbação             superasse a contradição capitalista. Esse outro sistema
da produtividade no trabalho. A mais-valia relativa      produtivo, segundo esses autores, seria o socialismo.
é realizada a partir do uso intensivo de capital         Neste, a propriedade privada e as classes sociais
constante (maior investimento em compra de               deveriam ser eliminadas, gerando a propriedade
maquinários, do que em contratação da força de           social dos meios de produção. Na sequência dessas
trabalho), ocasionando uma redução nos custos de         transformações, entre os modos de produção, em seu
produção e no tempo socialmente necessário para          último estágio, pregavam Marx e Engels, haveria a
a fabricação de uma mercadoria, sem alterar o            passagem do socialismo ao comunismo, eliminando
tempo de duração na jornada de trabalho (MARX,           assim, as classes sociais e o Estado Burguês.
1988). É nesse processo de intensificação da mais-               Para Marx, a práxis “está presente como
valia relativa, que se reduz o tempo socialmente         elemento fundamental de transformação da sociedade
necessário à produção de mercadorias, que                e da natureza pela ação dos homens” (GOHN, 2002,
geram acumulação de capital. Assim, as máquinas          P 176). A transformação do social por intermédio de
                                                          .
aumentam a produção reduzindo a quantidade de            atividades teóricas, conjuntamente com atividades
trabalhadores contratados.                               políticas e/ou produtivas, constituem a práxis, que tem
        A redução da contratação de mão-de-              como base fundante o mundo do trabalho. Entretanto,
obra suscita o desemprego. O desemprego pode             para que ocorra a transformação por meio da práxis,
ser para os proprietários dos meios de produção,         é necessário que exista a consciência de classe. Essa
uma vantagem, pois se cria um exército de reserva        consciência de classe, que Marx se refere, foi uma das
(muita oferta de força de trabalho) a disposição dos     condições necessárias à emergência dos movimentos
capitalistas, que podem escolher a mão-de-obra,          sociais existentes no século XIX. As Internacionais
de acordo com as suas necessidades de produção.          Socialistas, organizadas pelo próprio Marx e Engels,
Portanto, o progresso técnico reduziu a contratação      se constituíram em movimentos de organização da
da mão-de-obra. Mas se faz necessário o                  classe operária. A Primeira Internacional, realizada
esclarecimento de que o desemprego é permanente          em Londres (1824) e a Segunda Internacional em
no capitalismo, sendo que o investimento na              Paris (1889), fixou a data de 1º de maio como o
mais-valia relativa só o acentua. O objetivo dos         Dia Internacional do Trabalho, em homenagem à
proprietários dos meios de produção é intensificar       mobilização realizada pelos grevistas em Chicago,
a acumulação de capital, permitindo-lhe competir         no ano de 1886. Outros movimentos sociais
com os demais capitalistas, mantendo-se no sistema       emergiram no século XIX frente ao capitalismo, como
e evitando a sua eliminação ou incorporação a outro      forma de resistência dos trabalhadores diante do
capitalista e/ou grupo de maior porte. A lógica do       capital. No próximo subitem, serão problematizadas
capitalismo se sobrepõe ao processo técnico, esse        as transformações que ocorreram e estão ocorrendo
último só complementa-o. O desemprego, longe             no processo de produção e gestão que envolvem o
de ser um fenômeno natural ou uma decorrência            sistema.


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2. As Transformações no Processo de trabalho de concepção e de execução; utilização
Trabalho desenvolvidas nos Cenários do conhecimento, para controlar cada fase da
dos Séculos XX e XXI                produção e o seu modo de execução (HARVEY,
                                                         1999). Através da cisão entre o trabalho intelectual
        Os Séculos XX e XXI são cenários de acentuadas   e o operacional, a gerência científica racionalizava
transformações no mundo do trabalho, com suas            a produção, estabelecendo rigidamente os modos
respectivas implicações sociais e econômicas. Para       e tempos de produção, bem como os rendimentos
apresentar as novas transformações que estão             da força de trabalho, colocando os trabalhadores
ocorrendo nos processos de trabalho - que têm            sobre uma estrutura hierárquica de produção, em
como finalidade a intensificação da acumulação           que eles eram vigiados e controlados.
capitalista, é necessário que se introduza, o contexto          O Taylorismo caracterizou-se pelo controle
social e econômico existente no Século XX - cenário      do capital (com o objetivo de elevar a produtividade
originário e que permeou essas transformações.           do trabalho) sobre processos de produção, nos
O sistema capitalista, com a finalidade de               quais o capital dependia ainda da habilidade do
expandir a acumulação de capital, promoveu               trabalhador. Esse controle era efetivado através
a Segunda Revolução Industrial, manifestada,             dos tempos e movimentos do trabalhador. Após
principalmente, pelo binômio Taylorismo/Fordismo.        as inovações dos processos produtivos de Taylor,
Esses dois modelos predominaram no processo de           em 1913 Henry Ford, utilizando essas inovações,
industrialização, tendo sua ascensão na segunda          criou a linha de montagem (automobilismo) e o
década do século XX. Suas caracterizações estão          método de produção em massa (esteira), obtendo
relacionadas à hierarquização das relações de            produtos padronizados (FLEURY; VARGAS, 1983). O
trabalho, a homogeneização das mercadorias, a            Fordismo, que teve seu desenvolvimento hegemônico
produção em massa e em série (ANTUNES, 2003).            no período pós-guerra, pôde ser desenvolvido ao
        Na indústria automobilística Taylorista e        fundir-se com o Taylorismo.
Fordista, foram considerados elementos centrais
à produção, a racionalização das operações, o                O Fordismo caracteriza o que poderíamos chamar de
combate ao desperdício na produção (redução                  socialização da proposta de Taylor, pois, enquanto este
                                                             procurava administrar a forma de execução de cada tra-
de tempo), o aumento do ritmo do trabalho e da
                                                             balho individual, o Fordismo realiza isso de forma cole-
intensificação das formas de exploração pelos                tiva, ou seja, a administração pelo capital da forma de
capitalistas (ANTUNES, 2003). Taylor, fundador               execução das tarefas individuais se dá de uma forma
da gerência científica, começou sua carreira como            coletiva, pela via da esteira (NETO, 1991, p. 36).
operário numa fábrica. A partir de suas experiências,
enquanto sujeito trabalhador, dedicou-se em                      Ao contrário do Taylorismo, que se baseava
observar e em estudar os tempos e movimentos             no rendimento individual de cada trabalhador, no
realizados em cada tarefa e atividade da produção.       Fordismo, o controle dos tempos e dos movimentos
“O ‘Taylorismo’ ou ‘administração científica do          era determinado pelo ritmo do funcionamento das
trabalho’ surge como uma nova cultura do trabalho        maquinarias. Nesse modelo, eram as máquinas
na passagem do século XIX para o século XX, nos          (esteiras) que levavam o trabalho até os operários,
Estados Unidos, nação que começava a despontar           eliminando assim, os tempos mortos de produção.
como potência mundial” (DRUCK, 1999, p. 41).             Com esse protótipo, que desenvolveu a mecanização
        Para o enfrentamento do capital em relação       associada e parcialmente automatizada, o controle
à dependência da habilidade manual da força de           sobre o trabalho não precisava mais ser realizado
trabalho, Taylor estabeleceu os seguintes princípios:    diretamente pelo gerente, mas sim, pelos maquinários
dissociação dos processos de produção das                (PIRES, 1998). O Fordismo constituiu-se no processo
especialidades dos trabalhadores; separação do           contínuo da produção que agregou a produtividade


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ao consumo, ou seja, sempre dispondo de estoque          de vigência do Welfare State e com os modelos
mínimo às mercadorias (Just-In-Case). Também             de produção Fordistas e Tayloristas, ocorreu a
pode ser considerado, o modelo de produtividade          massificação da classe operária, conjuntamente
que separou rispidamente o trabalho de concepção         com a precarização das condições e relações de
e o de execução. Esse tipo de produção ocasionou         trabalho, fazendo com que eclodissem movimentos
a “expansão das unidades fabris concentradas e           reivindicatórios e questionadores desses métodos de
verticalizadas e pela constituição/consolidação do       produção. Essas manifestações foram concebidas
operário-massa, do trabalhador coletivo fabril”          por meio de greves, boicotes e resistência ao trabalho
(ANTUNES, 1995, p. 17).                                  despótico e verticalizado, oriundo do Taylorismo/
        O Fordismo criou as linhas de montagem,          Fordismo (ANTUNES, 2003).
desqualificando, parcelando e desenvolvendo                       Outros elementos, além das manifestações
atividades laborais repetitivas, prejudiciais à saúde    operárias, que constituíram a crise desses
dos trabalhadores. Tanto o Taylorismo como o             modelos produtivos foram: a queda dos ganhos
Fordismo, foram modelos produtivos degradantes           de produtividade pelo capital; a abertura à
das condições e relações de trabalho. A ruptura          concorrência internacional, caracterizada pelo
entre o trabalho de concepção e o de execução            processo de globalização; a flexibilização do capital;
foram elementos preponderantes para a alienação          a desterritorialização e a crise do Welfare State
dos operários diante do trabalho. Porém, não se          (COCCO, 2001). A crise do Welfare State, modelo
deve confundir o Taylorismo com o Fordismo. O            de Estado que regulava o capital e reproduzia
Taylorismo se caracterizou pela racionalização           a força de trabalho, efetivou-se pela retirada das
científica do trabalho, eliminando os tempos mortos      coberturas sociais públicas e pelo corte nos direitos
de produção e pôde ser viabilizado em pequenas           sociais, num processo de ajuste do Estado que visa à
e médias empresas; enquanto que o Fordismo               diminuição dos ônus do capital e do déficit público,
envolveu uma nova organização dos processos              na esquematização da reprodução da força de
de trabalho, através de máquinas-ferramentas             trabalho e das condições para a perpetuação da
especializadas, mecanização e intensa divisão de         acumulação capitalista (NETTO, 1996). O Estado
atividades laborativas, sendo que foi desenvolvido       mínimo proposto pelas políticas neoliberais propõe
em grandes empresas com produtos padronizados            a retirada do Estado, junto aos bens e serviços
(CATTANI, 2000). Esses modelos contribuíram para         sociais públicos e não em relação ao financiamento
a exploração da classe trabalhadora no século XX.        do capital.
        Paralelamente ao modelo de produção                       Nesses contextos sociais e econômicos, os
Taylorista/Fordista, também no período Pós-              governos dos Estados de capitalismo avançado,
Guerra, emergiu o modelo de Estado designado             liderados por Margaret Tatcher na Inglaterra, em
como Welfare State nos países liberais. “O Estado        1979, e Ronald Reagan nos Estados Unidos, em
é chamado para arbitrar o conflito entre o capital e     1980, implementaram uma política econômica e
o trabalho” (SCHONS, 1999, p. 119). Esse modelo          social embasados no aporte teórico neoliberal. Essa
de Estado contribuiu para o Boom Econômico até           política econômica e social tem como medidas: o
o final da década de 1960 e “é entendido como a          enxugamento e a redução das responsabilidades dos
mobilização em larga escala do aparelho do Estado        Estados diante das sociedades; o fortalecimento da
em uma sociedade capitalista, a fim de executar          liberdade de mercado; as privatizações de instituições e
medidas orientadas diretamente ao bem-estar              organismos estatais; a redução e a extinção do capital
de sua população” (MEDEIROS, 2001, p. 6). O              produtivo estatal; o desenvolvimento de uma legislação
Welfare State interviu no planejamento econômico,        “desregulamentadora” das relações de trabalho e
montando esquemas de transferências sociais e            “flexibilizadora” dos direitos sociais; o enfraquecimento
de distribuição de bens e serviços. Nesse período        dos movimentos sindicais etc (ANTUNES, 2003).


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Outro elemento preponderante que constituiu      Terceira Revolução Industrial, intensificam-se as
a crise do Taylorismo e Fordismo foi o processo          mais-valias relativas, que são responsáveis por um
de globalização do capitalismo. A globalização,          grande aumento da produtividade nos processos de
intensificada durante a década de 1990, é                trabalho. Com a revolução tecnológica, “o homem
constituída pela: mundialização dos mercados;            deve exercer na automação funções mais abstratas
dinamização do mercado mundial; acumulação               e intelectuais” (IANNI, 1999, p. 19), fazendo
flexível; liderança econômica dos grandes bancos         com que o mercado requisite constantemente um
e empresas oligopólicas; revolução tecnológica;          profissional mais qualificado e polivalente. Com
implementação do referencial teórico neoliberal          os novos processos tecnológicos - mecanização,
nas políticas econômicas e sociais; subordinação         automação e robótica -, o capital não gera mais
dos países periféricos aos de capitalismo avançado       uma significativa quantidade de emprego, a ponto
(ANTUNES, 2003). Na mundialização do capital, os         de absorver a força de trabalho disponível, pois as
países periféricos são subordinados às instituições      inovações tecnológicas intensificam a produção e
financeiras dos países de economia avançada, não         racionalizam os processos produtivos.
possuindo condições de competir em condições de                  O processo de reestruturação do capital,
igualdade nos mercados internacionais.                   juntamente com o neoliberalismo, vem apresentando
        Juntamente com a globalização, outro             no aspecto econômico, porém, limitações, que estão
fenômeno emergiu no término do século XX, o              sendo materializadas pelas crises que ocorreram
processo de desterritorialização. Este é caracterizado   nos Tigres Asiáticos (1997-1999), no México
pela mobilidade do capital e consequentemente dos        (1994-1995), na Argentina (2001-2002), e, mais
trabalhadores, em escala mundial (IANNI, 1999).          recentemente, nos Estados Unidos da América,
O trabalhador migra conforme os movimentos               desencadeando a crise mundial em 2008 e 2009.
do capital, e este, por meio das transnacionais e/       A recessão norte-americana que está ocasionando
ou multinacionais, direciona-se conforme os seus         a crise mundial possui sua origem vinculada à
interesses de aumento na reprodução e acumulação         crise das hipotecas dos EUA, desde agosto de
de capital.                                              2007, alastrou-se rapidamente por todo o setor
        A crise dos modelos de produção que              financeiro da economia norte-americana e do
vigoraram no Século XX e do Welfare State, o advento     mundo - mundialização do capital. Esse mecanismo
do neoliberalismo, a infiltração do capital nos países   permitiu a expansão do consumo nos EUA e no
tidos como socialistas, a expansão da globalização,      desenvolvimento da economia chinesa, entre outros
juntamente com o processo de desterritorialização,       aspectos.
são elementos que integraram o cenário do Século XX.             Ainda não se tem conhecimento de quais
Diante dessas circunstâncias, iniciou-se um processo     serão as consequências futuras dessa crise, porém,
de reorganização do próprio capital, com seu sistema     sabe-se que ela não é equivalente a de 1929, que
ideológico e político de dominação, resultando num       desencadeou a depressão econômica generalizada
acentuado processo de reestruturação da produção         (FACHIN, 2008). O que está ocorrendo constitui-se
e do trabalho (ANTUNES, 2003). O término do              numa recessão materializada pela redução na taxa
século XX e o limiar do século XXI são marcados por      de crescimento econômico, que gera desempregos,
uma profunda transformação do mundo do trabalho          entre outros elementos. O que se sabe, entretanto,
e seus processos produtivos.                             com a atual recessão mundial - advinda da crise norte-
        Essa transição do Taylorismo/Fordismo ao         americana -, é que o protótipo neoliberal respaldado
Toyotismo também é expressa pela passagem da             na autorregulação do mercado, na liberalização
máquina-ferramenta, ao sistema de máquinas               e expansão da economia em escala mundial e na
auto-reguladas, em que “a máquina se vigia e se          não intervenção estatal nas relações comerciais,
regula a si mesma” (IANNI, 1999, p. 18). Com a           vem demonstrando sinais sérios de esgotamento,


                                                     17
principalmente nos EUA, no Japão e na Europa               de 20,4% (outubro de 2008) (ATLAS..., 2009). Já
Ocidental - que possui como moeda o Euro.                  em relação à taxa de crescimento econômico no
        Na América Latina, diante desse cenário            Brasil, ocorreu uma redução maior do que 3%
mundial, o trabalho informal constitui-se num dos          entre os anos de 2007 e 2008. Em 2007, houve
elementos que contribui para a sobrevivência dos           um crescimento de 7,0%, e, em 2008, com a crise
sujeitos que estão exclusos do mercado formal              mundial, o crescimento no Brasil reduziu para 3,8%.
de trabalho (CATTANI, 2003). Já no Brasil 32,6%                    Outra característica fundamental que se atribui
dos municípios possuem mais da metade de sua               ao trabalho feminino é que, para a inserção da mulher
população vivendo na pobreza, e a Região Nordeste          no mercado formal de trabalho, faz-se necessário
possui a realidade mais alarmante, totalizando             um nível de qualificação, que comumente é superior
77,1% dos municípios nessas condições.                     ao masculino, devido à desigualdade de gênero
        Salienta-se ainda que, além das velhas             nas relações de (re) produção social e econômica.
formas estocadas de exclusão social nos países             Mesmo com o fato das mulheres brasileiras terem
periféricos - entre eles os países latino-americanos -,    em média um ano a mais de escolaridade que os
designada de “velha pobreza”, representada pelos           homens, as mesmas recebem salários inferiores a
pobres, miseráveis, mendigos, pedintes, indigentes         eles mesmos (CAMPUS, 2008). Uma trabalhadora
subnutridos e minorias sociais (idosos, deficientes,       que possui escolaridade entre 8 e 10 anos, recebe
mulheres, negros, índios), com a Reestruturação            valor semelhante ao de um trabalhador que estudou
do Capital ou III Revolução Industrial, surge tanto        no máximo 3. Além do aspecto cultural, outro motivo
nos países centrais, como também nos periféricos           que possivelmente desencadeie essa diferença salarial
- emergentes -, outra forma de exclusão social,            pode ser explicado pelo fato de os homens possuírem
nomeada de “nova pobreza” (REIS, 2002). Essas              uma maior taxa de abandono e defasagem escolar
novas exclusões sociais, que atingem tanto os              maior do que as mulheres, e por entrarem em média
países periféricos como os centrais, são originárias       com menos idade do que as mulheres no mercado
do desemprego estrutural e de suas manifestações,          de trabalho (CAMPUS, 2008).
compreendidas como exclusão de bens e serviços,                    Frente a essa realidade de desemprego tanto
do mercado formal de trabalho, da terra, da                feminino como também o masculino, constata-se
segurança, dos direitos humanos (REIS, 2002).              que estão sendo prospectadas novas formas ou
        Segundo os dados coletados pela PED-IBGE           possibilidades de geração de trabalho e renda,
(Pesquisa de emprego e desemprego) entre os anos           com vistas a incluir os sujeitos – especialmente os
de 2002 e 2008, houve uma redução na taxa de               menos qualificados - no sistema, possibilitando
desemprego total em todas as capitais pesquisadas,         uma melhoria nas suas condições de vida e
e em Belo Horizonte, chegou a diminuir 11%. Em             consequentemente de seus familiares. Para isso,
Porto Alegre, teve uma redução de 4,7%, pois a             estão sendo pensados novos             protótipos de
região metropolitana de Porto Alegre, em outubro           desenvolvimento (DE PAULA, 2001) que podem ser
de 2008, possuía 10,6% de sua população                    observados sob o aspecto de que o desenvolvimento
economicamente ativa desempregada (dados para              social significa desenvolvimento não-desigual e que
outubro de 2008). Na região metropolitana de São           visa à inclusão social de todos os sujeitos.
Paulo, os índices de desemprego correspondiam a
12,5% (outubro de 2008); na região metropolitana           Considerações Finais
de Belo Horizonte, a 9,0% (outubro de 2008); na
região metropolitana de Recife, a 18,9% (outubro                  Neste artigo pretendeu-se esclarecer o modo
de 2008); no Distrito Federal, a 16,0% (outubro            de produção capitalista e seus processos de trabalho,
de 2008) e, na região metropolitana de Salvador            durante as três Revoluções Industriais. No sistema
ainda há o maior índice de desemprego, em torno            capitalista, os proprietários dos meios de produção,


                                                          18
sempre visam intensificar a acumulação de capital,     trabalhadores sobrantes - desnecessários ao capital,
seja através da mais-valia absoluta, ou por meio da    que não conseguirão mais serem absorvidos pelo
mais-valia relativa, reduzindo os custos de produção   sistema? Será que emergirá alguma alternativa
e aumentando a sua produtividade. O processo de        viável ao crescente desemprego? Será que não está
acumulação e centralização de capital é inerente a     no momento da sociedade como um todo, bem
esse sistema, pois deles dependem, a permanência       como, profissionais, refletirem seriamente sobre as
de qualquer empreendimento no mercado, evitando        “novas armadilhas” do capital? Ou será que, ao
sua eliminação e/ou incorporação a outro capitalista   criar alternativas para atenuar as manifestações da
de maior porte.                                        questão social, não se está novamente deixando de
       Nesse sentido, este estudo propõe-se a          prospectar mudanças, que realmente transformem
desencadear algumas reflexões, a estudantes            a realidade, reduzindo a desigualdade social e
ou profissionais que trabalham com a questão           econômica, assim como a exploração capitalista?
social e suas manifestações, para serem objeto de      E por último, será que a criação de alternativas de
prospecções sobre a realidade social e econômica.      geração de trabalho e renda, além de serem fruto das
Diante das transformações que estão ocorrendo          próprias contradições do capital, não se constituem
no processo de trabalho, o que será proposto aos       também, como uma forma de alienação?


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                                                    20
Crise Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: a
  nanotecnologia como uma das soluções de longo prazo
 Environmental Crisis and Sustainable Development: the nanotechnology as one of the long run solutions


Marcia Regina Gabardo da Camara1
Rafael Borim de Souza2

Resumo

O artigo discute os determinantes da crise ambiental e possíveis soluções, a partir da emergência de uma nova
realidade internacional e organizacional, amparada por um paradigma de sustentabilidade ambiental e social.
O objetivo do artigo é o de analisar o comportamento organizacional que desencadeou a crise ambiental e a
reflexão sobre as soluções não imediatistas que permitiriam uma produção sustentável e suas consequências.
A pesquisa é de natureza qualitativa, exploratória, bibliográfica e documental. Foi realizado um levantamento
teórico-metodológico a partir do paradigma de sustentabilidade e convergências tecnológicas. Apresentou-
se, também, como exemplificação, o movimento nanotecnológico do continente europeu, possibilitado pela
análise do documento: European activities in the field of ethical, legal and social aspects (ELSA) and governance
of nanotechnology, cuja primeira versão foi disponibilizada em outubro de 2008, pela European Comission,
DG Research, Unit “Nano and Converging Sciences and Technologies”. A disseminação das nanotecnologias,
coordenadas por uma governança multilateral global responsável por institucionalizar e legitimar valores sociais
e ambientais necessários em tais convergências tecnológicas, é apresentada como uma das possíveis soluções
para a problemática ambiental.
Palavras-chave: Nanotecnologia; Sustentabilidade e Governança Multilateral.


Abstract

This article discusses the determinants of environmental crisis and its possible solutions which come from the
emergence of a new international and organizational reality structured in a sustainable paradigm. The objective
of this qualitative, exploratory, bibliographic and documental research was to analyze the organizational behavior
that resulted in the environmental crisis and its consequences. A survey on theories and methodologies that deals
with sustainable paradigm and technologic convergences was carried out. It was presented, for instance, the
European movement on nanotechnology, through the following document: European activities in the field of
ethical, legal, and social aspects (ELSA) and governance of nanotechnology, which first version was published
in October 2008, by the European Commission, DG Research, Unit ‘Nano and Converging Sciences and
Technologies’. One of the solutions for the environmental problem is the dissemination of the nanotechnologies,

1	   Professora Associada da Universidade Estadual de Londrina - UEL, Brasil. Desenvolve estudos e tem experiência em Economia, com ênfase
em Organização Industrial e Estudos Industriais.Possui doutorado em Economia pela Universidade de São Paulo - USP Brasil, mestrado em
                                                                                                                       ,
Economia pela mesma instituição, e graduação em em Economia pela Universidade de Brasília - UnB, Brasil. Contato: mgabardo@uel.com.br
2	 Discente do curso de Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Estadual de Londrina e
Universidade Estadual de Maringá, consorciadas - PPA/UEM-UEL, Brasil.Possui especialização em Controladoria e Finanças pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná - PUCPR, Brasil, e especialização em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro -
FGV-RJ, Brasil, ambas nível latu sensu. Bacharelado em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, Brasil. Contato:
rafaelborim@yahoo.com


Revista Capital Científico - Guarapuava - PR - v.7 n.1 - jan./dez. 2009 - ISSN 1679-1991
Recebido em 27/06/2010 - Aprovado em 18/12/2010
coordinated by a global governance, which is responsible for institutionalize social and environmental values
needed in these technologic convergence.
Key words: Nanotechnology; Sustainability and Multilateral Governance


Introdução                                                        O artigo levanta o problema que alimenta
                                                           o debate sobre produção sustentável nos meios
        A solução da crise ambiental passa por um          acadêmicos e empresariais: a crise ambiental
amplo debate internacional. Pesquisadores das              derivada da ação humana e empresarial. A questão de
mais diversas áreas têm destacado a importância da         pesquisa que o estudo busca responder é: há soluções
criação de um órgão internacional multidisciplinar,        para a crise ambiental? O objetivo do trabalho é
através de um grupo consultivo constituído por             analisar os comportamentos organizacionais que
membros de diversos países, que possua a                   desencadearam a crise ambiental e refletir sobre
capacidade e a legitimidade para estabelecer em            as soluções não imediatistas que permitiriam uma
nível global, um sistema de governança multilateral        produção sustentável.
como resposta institucional à crise ambiental. É nesse            O trabalho está estruturado em cinco
contexto também que surgem propostas focando               capítulos: introdução, metodologia, a crise do
às convergências tecnológicas e à necessidade de           meio ambiente e o contexto de ascensão de um
avaliação dos impactos transformativos oriundos            paradigma pautado por valores de sustentabilidade
das novas tecnologias. O estabelecimento de um             social e ambiental, a convergência tecnológica
conceito avançado de desenvolvimento responsável           como fenômeno exigente de uma governança
deve abranger critérios como: avaliação de                 multilateral e global sobre os anseios do paradigma
saúde, segurança e ética, engajamento de atores            de sustentabilidade: a nanotecnologia na Europa, e
internacionais quanto a parcerias, e instigação            considerações finais.
de um comprometimento social, pautado por
planejamentos e investimentos interessados em              1. Metodologia
fatores de longo prazo.
        As convergências da nanotecnologia,                       A abordagem do problema aconteceu de
biologia, revolução digital e ciências cognitivas, por     maneira qualitativa, por ser uma forma adequada
exemplo, promovem o desenvolvimento de inovações           de entender a natureza de um fenômeno social.
construtivas e transformadoras à concepção de novos        O objetivo foi analisado pelo ponto de vista
produtos e serviços, oportunidades de melhores             exploratório, uma vez que se orienta por conhecer
condições de desenvolvimento ao potencial humano           as características de um fenômeno, para procurar,
e conquistas sociais necessárias, que, com o tempo,        em um momento posterior, explicações de suas
remodelarão os relacionamentos estruturais e               causas e consequências. Em relação às estratégias
institucionais até então vivenciados. Para tanto, a        de pesquisas abordadas, o estudo classifica-se como
participação de todos os sujeitos sociais influenciados    bibliográfico, uma vez que busca conhecer, analisar
por essas novas tecnologias, a transparência das           e explicar contribuições sobre o tema abordado, e
estratégias dessa governança, e a responsabilidade         documental, por utilizar documentos como fonte de
específica de cada stakeholder precisam efetivar-se        dados, informações e evidências (RICHARDSON,
plenamente. A nova realidade é promotora de uma            2008; MARTINS; THEÓPHILO, 2007).
emancipação social, caracterizada, principalmente,                Três possíveis soluções de longo prazo à
pela legitimação urgente do paradigma de                   problemática ambiental são apresentadas: os
sustentabilidade, o qual retira os ferramentais            programas de responsabilidade social adotados por
decisórios de uma unilateralidade e os insere em           organizações com poder de atuação local, regional,
um multilateralismo interdisciplinar.                      nacional e internacional (CLAPP 2005); a reforma
                                                                                           ,

                                                          22
mediante determinadas atitudes mercadológicas,
ecológica (BORINELLI, 2007); e o desenvolvimento
oriundo do movimento de convergências    tomadas no intuito único de incrementarem seus
                                         lucros, sem estarem preocupadas com as respectivas
tecnológicas exemplificado pelas nanotecnologias
                                         consequências sociais e ambientais de tais decisões.
(MARTINS, 2005). O artigo aborda as diferentes
                                         A legitimação dos lucros empresariais por uma
soluções e concentra-se na última proposição.
                                         aceitação social e comunitária, portanto, passa a
        O levantamento teórico-metodológico é
                                         ser imprescindível.
realizado a partir do paradigma de sustentabilidade e
                                                A ação de tais agentes sociais incorre em
convergências tecnológicas. Apresenta-se, também,
                                         consequências ambientais, estas nem sempre
como exemplificação, o movimento nanotecnológico
                                         agradáveis. A análise da problemática ambiental se
do continente europeu, possibilitado pela análise do
                                         dá por uma diversidade de abordagens, as quais se
documento: European activities in the field of ethical,
                                         mostram distintas em alguns pontos e convergentes
legal and social aspects (ELSA) and governance
                                         em outros. Nesse sentido, adota-se a via interpretativa
of nanotechnology, elaborado pela Dra. Angela
                                         das ciências sociais.
Huffman, cuja primeira versão foi disponibilizada
em outubro de 2008 pela European Comission, DG  Zioni (2005, p.39) destaca que “para discutir
                                         a relação entre as ciências sociais e o meio ambiente,
Research, Unit “Nano and Converging Sciences and
Technologies”.                           é fundamental uma reflexão sobre o cenário em
                                         que essas questões emergiram: a modernidade”.
        A análise do documento permite verificar
                                         O ambiente tem sofrido os impactos das ações
que o financiamento das atividades de pesquisas
                                         capitalistas; no caso específico das revoluções
acontece através de programas sistêmicos (framework
                                         industriais, caracterizaram-se pela exploração do
programme - FP) com períodos de duração pré-
                                         solo e da mão-de-obra, gerando inúmeros resíduos
determinados. No documento mencionado, são
                                         sólidos, líquidos e gasosos que se intensificaram no
apresentados 2 projetos referentes ao 5º FP (1998-
                                         século XX.
2002); 20 projetos referentes ao 6º FP (2002-
                                                A modernidade trouxe gradativamente uma
2006), e 5 projetos referentes ao 7º FP (2007-2008)
                                         exigência de sociabilidade do homem para com o
(HULLMANN, 2008).
                                         meio e vice-e-versa. Os mecanismos de produção
        A essência dos programas são as pesquisas
                                         desenvolvidos, ao serem analisados de maneira
tecnológicas e científicas, mas há a presença de
                                         isolada, pouco emancipam a sociedade atual
projetos interessados em evidenciar os aspectos
                                         das comunidades antigas, porém se aliados aos
éticos, legais e sociais dessas atividades européias,
                                         acontecimentos ambientais, permitirão constatar a
tais como os: Science and Society, The New Emerging
                                         emergência de uma nova representação simbólica
Science and Technology e Citizens and Governance,
                                         do mundo por inéditas relações de poder.
os quais pertencem ao 6º FP e serão apresentados
                                                As ocorrências históricas, os acontecimentos
com maiores detalhes no capítulo quatro, deste
                                         sociais e o desenvolvimento econômico permitem
trabalho.
                                         a construção na modernidade de uma nova
                                         representatividade da vida social. A sequência de
2. A crise do meio ambiente e o contexto movimentações econômicas é caracterizada como
de ascensão de um paradigma pautado o próprio desenvolvimento, que, segundo Coimbra
por valores de sustentabilidade social (2002, p.51), é:
e ambiental
                                                           um progresso contínuo e progressivo, gerado na co-
       Em um momento de questionamento sobre               munidade e por ela assumido, que leva as populações
as estruturas mundiais, as relações de poder estão         a um crescimento global e harmonizado de todos os
ameaçadas e as empresas líderes nos mercados               setores da sociedade, através do aproveitamento dos
globais podem ter seu posicionamento questionado,          seus diferentes valores e potencialidades, em modo a


                                                      23
produzir e distribuir os bens e serviços necessários a na engenharia econômica das organizações que
     satisfação das necessidades individuais e coletivas do buscam a minimização de seus custos privados.
     ser humano, por meio de um aprimoramento técnico e
                                                                  A insuficiência dos instrumentos estatais de
     cultural, e com menor impacto ambiental possível.
                                                              combate e a busca incessante de lucros pelo setor
                                                              privado oneram a sociedade e agravam as questões
         Ao longo da historicidade econômica, não             ambientais. É necessário, portanto, discutir novos
foram promovidas metodologias de desenvolvimento              modelos, normas e valores, que vislumbrem a melhoria
aplicáveis a todas as sociedades e ao meio ambiente,          na qualidade de vida das populações.
pois pequeno foi o interesse em preservar os recursos                 O modelo capitalista é o “representante legítimo
e energias não renováveis para as futuras gerações,
                                                              e universal da racionalidade, cuja proposta era libertar
através de seu uso racional. Surgiram inúmeras
                                                              o homem do reino das necessidades pelo uso científico
explicações para justificar a escassez de atitudes
                                                              dos recursos naturais e econômicos do planeta, pela
favoráveis ao ambiente nos meios governamentais
                                                              adaptação do conhecimento científico à produção,
e organizacionais; mas o debate contribuiu para o
                                                              processos que criariam riquezas incessantemente”
desenvolvimento científico, econômico e social.
                                                              (ZIONI, 2005, p.41).
         Segundo Montibeller (2007, p.57), as teorias
                                                                      O desenvolvimento capitalista contribui
do desenvolvimento são “o conjunto de formulações
                                                              para o incremento da inovação e do desempenho
que visam compreender e modificar a realidade
                                                              tecnológico, entretanto, os índices de desenvolvimento
pelo exame dos mecanismos, segundo os quais, os
                                                              humano e de qualidade de vida não acompanham
fenômenos sociais inter-relacionam-se, dos elementos
                                                              o fator econômico. Segundo Montibeller (2007),
principais que respondem pela evolução da economia
                                                              o crescimento capitalista instiga a degradação, a
e das tendências seculares”. Mas o desenvolvimento
                                                              poluição e o esgotamento de bens ambientais e,
econômico pode ocorrer em diferentes ambientes
                                                              quando da retração das atividades econômicas, as
institucionais, por meio de atividades produtivas,
negociações virtuais, redes de relacionamento, cadeias        questões ambientais são desprezadas por implicarem
de suprimento, entre outros.                                  custos adicionais.
         Nesse contexto, a instituição se apresenta                   De acordo com Brunacci e Philip Jr. (2005), a
como protetora da propriedade privada ao incentivar           era de conquistar o desenvolvimento econômico sem
investimentos que apreciem decisões democráticas              qualquer restrição e às custas de prejuízos ambientais
capazes de disponibilizar socialmente os benefícios           já não permanece, entretanto, persistem em algumas
oriundos de tais negociações. Para Montibeller                ideologias empresariais. Há de se compreender a
(2007), o desenvolvimento adequado e a qualificação           insuficiência de fatores naturais, dos quais, depende
institucional são condições necessárias, mas insuficientes    a sobrevivência social do planeta. É, ainda mais
para sanar os problemas sociais e ambientais em toda          importante, necessário reconhecer que, após a
sua contingência.                                             geração presente, outras virão e também habitarão
         Muitos são os fatores inerentes a uma                neste mesmo território.
concepção solucionadora de inúmeras patologias                        Segundo Diaz (2002) é iminente a precisão de
sociais e ambientais provenientes de mecanismos de            romper definitivamente com a filosofia do crescimento
desenvolvimento econômico. Através da concepção               ilimitado, uma vez que, o desenvolvimento insustentável
capitalista da economia, a sociedade e o meio                 apresentará seu limite de esgotamento em tempos
ambiente estão imersos em uma rede entrelaçada                breves caso as tendências sociais e econômicas
de custos privados e sociais; os custos ambientais em         não sejam transformadas em prol do bem estar da
particular, pelas situações de poluição, e incremento         população mundial.
da produção diferenciam os custos privados dos custos                 Logo, mediante os “impasses gerados por essa
sociais. Todavia a importância dos últimos, em grande         conjuntura social, faz-se extremamente urgente uma
maioria dos estudos, é relegada a um segundo plano            rediscussão sobre normas, valores, orientações culturais

                                                             24
e formas de conhecimento em todas as sociedades. A              diferentes tempos. A iminência de tais transformações
crise ambiental é, com certeza, a maior razão para que          faz notória a insustentabilidade do antigo paradigma
isso ocorra com amplitude e profundidade” (ZIONI,               desenvolvimentista. Por essa evolução da importância
2005, p.56).                                                    da questão ambiental através da economia,
        Uma nova interpretação sobre o funcionamento            vislumbram-se as decisões políticas e econômicas
econômico no mundo é necessária. Mesmo que                      sendo alinhadas a preceitos sustentáveis.
algumas ações voluntárias ocorram por empresas                           Os interesses econômicos coincidem com
e governantes, ainda sim são insatisfatórias, pois é            os ecológicos em um quadro de desenvolvimento
reconhecida a capacidade econômica das nações                   sustentável que foca o longo prazo, pois os recursos
de apresentarem, conforme Montibeller (2007), um                são limitados e esgotáveis. Entretanto, no paradigma
comportamento menos agressivo à natureza somente                anterior os cálculos eram fundamentados na
quando pressionadas por externalidades com poder                minimização dos custos privados e na ótica neoclássica
de regulação.                                                   da economia que até recentemente não inseriam os
        Meio ambiente e economia entrelaçam-                    custos e benefícios sociais nas contas capitalistas.
se no campo teórico e econômico. Há uma série                            Os institucionalistas integram as discussões
de denominações tais como economia ambiental,                   econômicas e ambientais, ao adicionarem custos
economia ecológica, economia humana, em que                     e benefícios sociais à análise econômica das
cada uma representa uma abordagem explicativa do                organizações (EHLERS, 2007; NORTH, 1990).
problema. Todavia, o que mais interessa é a dimensão            Porém, a essência da sustentabilidade tem de
econômica associada às questões ambientais, por ser             ser compreendida, no intuito de evitar falsas
situação fundamental na formulação de diretrizes de             interpretações a ações não condizentes com
atuação do governo, das empresas e dos cidadãos                 valores éticos, ambientais e representativos de uma
para a própria compreensão dos fatos e das relações             responsabilidade social corporativa.
sociais, culturais e políticas (CALDERONI, 2004).                        Segundo Brunacci e Philip Jr.(2005, p.268),
        O paradigma da sustentabilidade, então,                 há “a possibilidade de um entendimento pragmático
emerge entendido como aquele que                                e imediatista que conduz ao risco de se implantar um
                                                                programa de sustentabilidade do desenvolvimento
    expressa hoje o desejo de quase todas as sociedades,        como sutil desdobramento de uma política moldada
    em qualquer parte do mundo, por uma situação em que         por um sistema capitalista ainda conservador e
    o econômico, o social e o ambiental sejam tomados de
                                                                predatório”. Assim, iniciativas que envolvam políticas,
    maneira equânime. Então, não basta apenas haver cres-
    cimento econômico, avanço tecnológico e as instituições;    instituições, tratados ou acordos internacionais,
    e, sim, pensar na revolução tecnológica e no arcabouço      interessados na problemática ambiental e abordagem
    institucional objetivando o bem-estar social com a ampli-   sustentável, devem ser capazes de transpor as barreiras
    tude a este inerente (MONTIBELLER, 2007, p.59).             físicas no intuito de se obter uma maior eficácia na
                                                                resolução de calamidades.
        Observa-se a ocorrência de um crescimento                        Flora, fauna, microorganismos, atmosfera, solo,
econômico pautado por características de                        água e formas geológicas formam os ecossistemas. Os
sustentabilidade, logo, o vocábulo ‘sustentável’, em            componentes se ligam mediante cadeias alimentares,
palavras de Brunacci e Philip Jr. (2005, p.274), ao             ciclos minerais e hidrológicos e pela circulação de
qualificar o tipo de desenvolvimento que se deseja              energia. Há um equilíbrio dinâmico que pode ser
“deve ser aplicado à realidade ambiental do presente”.          alterado com o uso intensivo e desordenado dos
        Dentro desse aparato interpretativo, as                 elementos e a deposição de resíduos. A intervenção
mudanças institucionais tornam-se necessárias,                  humana e a produção capitalista, em particular,
uma vez que as instituições precisam ser eficientes             modificaram os sistemas produtivos, os conhecimentos
no atendimento pleno dos anseios originados em                  científicos e tecnológicos (BORINELLI, 2007).


                                                            25
A resposta ao uso desordenado dos recursos            organizações com poder de atuação local, regional,
naturais e a crescente demanda por energia tem de             nacional e internacional (CLAPP 2005). E uma terceira
                                                                                            ,
ocorrer por uma ótica capaz de abranger as diferenças         vertente solucionadora pode advir das transformações
e especificidades entre as nações, de maneira                 geradas pelas nanociências, nanobiotecnologias e
que, uma intervenção em favor da humanidade e                 nanotecnologias, em geral (MARTINS, 2005).
do meio ambiente seja aceita como verdade, e,
conseqüentemente, como um apoio ao acontecimento              3. A convergência tecnológica como
do desenvolvimento sustentável. Os vieses ambientais          fenômeno exigente de uma governança
não são de responsabilidade exclusiva das nações,             multilateral e global sobre os anseios
das empresas e da humanidade, mas de todos os que
                                                              do paradigma de sustentabilidade: a
habitam e agem intensivamente sobre o planeta Terra.
                                                              nanotecnologia na Europa
        Como afirmou MacNeill e outros autores (1992,
p.16) “o mundo avançou agora da interdependência                       Convergência tecnológica caracteriza, segundo
econômica para a interdependência ecológica – e               Sáenz e Souza-Paula (2008), o moderno processo de
até, para além desta, para um entrelaçamento entre            avanço do conhecimento e inovação já estabelecido
ambas”.                                                       em um elevado nível de complexidade, o qual, não
        Tanto é verdade que, “o sistema climático             permite a separação entre o teor científico e técnico
global possui um alto grau de inércia e cria uma              pela prerrogativa intensa de inserir nas discussões
grande defasagem entre as alterações nas emissões             as relações dialéticas entre ciência, tecnologia e
e as consequências sobre os sistemas naturais, o que          sociedade.
significa que, quando se descobre que uma catástrofe                   A interação temática é imprescindível, pois a
vai acontecer, talvez seja tarde demais para evitá-la” (LA    partir das novas tecnologias surgem implicações sociais
TORRE; FAJNZYLBER; NASH, 2009, p.20). Questões                a serem analisadas por um processo criterioso, através
ambientais, tal como a mudança climática, incorporarão        de metas estabelecidas, ao vislumbrar os benefícios
custos significativos à humanidade e aos ecossistemas.        sociais, e as possíveis consequências inesperadas,
A amenização desses efeitos pode ocorrer através de           por meio de uma combinação dos possíveis riscos
possíveis ações globais solucionadoras, pois iniciativas      prospectados em diferentes cenários. Para Roco (2008)
individuais serão muito limitadas, implementadas com          tais adversidades apresentam-se como influentes em
grande atraso, e realizadas por países e organizações         diversas áreas, tais como economia, ambiente, saúde,
inadequadas. Nesse sentido, quais seriam as possíveis         educação, ética, moral e filosofia.
soluções à crise ambiental?                                            Por esse entrelaçamento de ideologias e
        Zioni (2005) aponta o novo paradigma de               ciências, constata-se a busca por um mecanismo
sustentabilidade para a solução dos problemas                 organizador, tal como uma governança global e
e desequilíbrios evidenciados, o qual deve partir             multilateral capaz de abranger, compreender e
da crítica do conhecimento existente, e evoluir do            institucionalizar convergências tecnológicas livres de
monoculturalismo ao multiculturalismo de tal forma            atuações prejudiciais a qualquer ordem ambiental
que o domínio global da ciência moderna não possa             e social. Para tanto, um sistema politicamente
silenciar os outros saberes, e assim, emancipe-se um          democrático, consenso social e conhecimento da
conhecimento que consiga discernir a objetividade da          engenharia econômica do sistema promovem um
neutralidade.                                                 quadro agradável à implantação de uma eficaz
        Por esse contexto, a reforma ecológica torna-se       governança.
uma solução viável e equacionadora do problema da                      Caberá a esse sistema de governança, de
degradação ambiental (GIDDENS apud BORINELLI,                 acordo com Roco (2008), a adaptação das instituições
2007, p.7). Uma segunda solução está nos                      e organizações já existentes; o estabelecimento de
programas de responsabilidade social adotados por             novos programas, regulamentações e organizações


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interessadas em propagar inovações não promotoras        e comercialização dos produtos. Através da
de prejuízos ao meio; a promoção de mecanismos           figura, é possível verificar que cada ciclo gera
de legitimação de tais mudanças por vias políticas e     novas classes de produtos, os quais determinam
institucionais; e, a realização de parcerias e acordos   diferentes implicações sociais e exigem diversos
internacionais.                                          patamares de decisões. Pelo fato de transformações
         Conforme Sáenz e Souza-Paula (2008), os         fundamentais ocorrerem sobre os conhecimentos
processos que envolvem tal anseio são essencialmente     implícitos em cada ciclo, estabelece-se um sistema
dinâmicos e cumulativos e, para acompanhar a             aberto em termos tecnológicos e socioeconômicos
evolução de tais convergências tecnológicas é de         (ROCO, 2008).
extrema importância que as ações ocorram de forma               As questões éticas devem constar como
contínua, rápida e flexível. A governança multilateral   objetos de monitoramento e discussões, desde
e global deve preparar-se para antever os riscos         o início de um projeto até as avaliações ex-post.
complexos e de elevado impacto negativo dos tipos        As avaliações dessas tecnologias, por meio de
social e ambiental. A figura 1 mostra a representação    um mecanismo regulador de governança, devem
de um sistema de governança baseado nos critérios        ocorrer no entorno de tais inovações e considerar
inseridos na realidade das convergências tecnológicas    todos os respectivos ciclos, ao levar em conta
(ROCO, 2008).                                            sua disposição futura e confluentes efeitos ao
         Os processos de decisões sobre as questões      meio, oriundos de suas manufaturas e operações
de convergências tecnológicas seguem um ciclo de         (ROCO, 2008).
interferências aberto, constituído por etapas que               Em todo esse processo, é imprescindível
levam desde a pesquisa até a efetiva fabricação          a análise da presença dos fatores envolvidos
Figura 1 – Sistemas abertos em uma governança de convergências tecnológicas




Fonte: adaptado de ROCO, 2008.

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em uma governança de risco, para amparar                         Dentre as novas tecnologias, destaca-se a
as decisões e as ações tomadas no intuito de              importância da nanotecnologia. Nano é um prefixo
amenização das patologias sociais e ambientais.           usado nas ciências para designar uma parte em um
Tal sistemática é de extrema importância nos casos        bilhão e, assim, um nanômetro (1nm) corresponde
constatados com altos riscos, cuja redução dos            a um bilionésimo de um metro. Dado o seu caráter
mesmos exige a coordenação e colaboração de               integrador, convergente e por caracterizar-se por
inúmeros stakeholders. As decisões unilaterais se         inovações concentradas no tempo, poderá gerar
apresentam como ineficazes e inaplicáveis, pois, a        um processo de destruição criadora atenuando os
disseminação de novas tecnologias promove uma             impactos do uso intensivo dos fatores produtivos,
interferência dos possíveis riscos nas esferas social,    gerando redução do consumo energético e,
ambiental, tecnológica, e, com maior evidência            possivelmente, uma revolução produtiva (SÁENZ;
na dinâmica evolutiva e interativa de todo o              SOUZA-PAULA, 2008).
sistema social. As convergências tecnológicas,                   Para Martins (2005), as nanotecnologias
por exemplo, focam suas prioridades sobre os              validam a necessidade de uma governança global
possíveis benefícios a serem gerados nos âmbitos          e multilateral, pois, somente por um mecanismo
individuais e sociais. Os parâmetros de sucesso           como esse, será possível gerenciar os benefícios
para essas redes de empresas e instituições são           econômicos, sociais e ambientais oriundos de tais
os indicadores de qualidade de vida, saúde,               inovações. Suas aplicabilidades implicam diminuir
segurança, e, principalmente, a análise de como           os problemas ambientais nos processos produtivos,
se dá a distribuição desses resultados sociais a          ou seja, responsabilizam-se por eliminar os conflitos
todos os seres humanos inseridos em um modelo             sociais fundamentados em questões de prejuízos à
democrático. Roco (2008) apresenta, através               natureza.
da figura 2, quais são os atores afetados pelas                  Entretanto Schnaiberg (2005) assume que
convergências tecnológicas.                               tudo o que for apresentado e produzido pelo setor
Figura 2 – Visão geral de uma governança de convergência tecnológica




Fonte: adaptado de ROCO, 2008.

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Revista Científica - Capital Científico - v7n1

  • 1. R evista C apital C ientífico
  • 2. Rua Salvatore Renna, 875, Santa Cruz Cep 85015-430 Guarapuava, Paraná Fone: (0xx42) 3621-1019 Fax: (0xx42) 3621-1090 editora@unicentro.br www.unicentro.br/editora Revista Capital Científico - RCCi Fone: (55+) 042 3621-1072 Fax: (55+) 042 3623-8644 http://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico
  • 3. R evista C apital C ientífico Volume 7 Número 1 2009 Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO Guarapuava/Irati - Paraná- Brasil htttp://www.unicentro.br
  • 4. Revista Capital Científico - RCCi Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO Reitor: Vitor Hugo Zanette Vice-reitor: Aldo Nelson Bona Editora UNICENTRO Comissão Científica Beatriz Anselmo Olinto Dra. Lucia Cortes da Costa – Universidade Estadual de Ponta Assessoria Técnica: Bruna Silva, Luiz Gilberto Bertotti, Luciano Grossa (UEPG) Farinha Watzlawick, Waldemar Feller Dr. Eduardo Fernando Appio – Centro Universitário Filadélfia Divisão de Editoração: Renata Daletese (UNIFIL) Dra. Márcia Maria Dos Santos Bortolocci Espejo – Universidade Seção de Revisão de Inglês: Raquel Cristina Mendes de Federal do Paraná (UFPR) Carvalho. Dra. Patrícia Morilha Muritiba – Universidade Nove de Julho Estagiários: André Justus Czovny; Fernanda Gongra; Marcio (UNINOVE) Fraga de Oliveira; Lucas Casarini Dra. Rúbia Nara Rinaldi – Universidade Estadual do Oeste do Revisão: Dalila Oliva Lima de Oliveira Paraná (UNIOESTE) Diagramação: Lucas Casarini Dr. Weimar Freire da Rocha Júnior – Universidade Estadual do Capa: Lucas Gomes Thimoteo Oeste do Paraná (UNIOESTE) Impressão: Gráfica UNICENTRO Setor de Ciências Sociais Aplicadas Santa Cruz: Luiz Fernando de Lima Irati: Edelcio José Stroparo Comissão Editorial Dr. Ivan de Souza Dutra (presidente-editor); Ms. Ana Léa Macohon Klosowski; Dr. Carlos Alberto Marçal Gonzaga; Ms. Carlos Alberto Ferreira Gomes; Ms. Diogo Lüders Fernandes; Ms. Ivonaldo Brandani Gusmão; Ms. Juliane Sachser Angnes; Ms. Rosangela Bujokas de Siqueira Publicação do Setor de Ciências Sociais Aplicadas capitalcientifico@unicentro.br Para submissões: http://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico Edição aprovada pelo Conselho Editorial da UNICENTRO Catalogação na publicação Biblioteca da UNICENTRO Capital Científico / Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Centro-Oeste. – v.1, n.1 (2003) – Guarapuava: UNICENTRO, 2009 - Anual. ISSN 1679-1991 1. Ciências Sociais – Periódicos. Versão online, ISSN 2177-4153 em http://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico Copyright © 2009 Editora UNICENTRO Nota: Os conteúdos dos artigos desta revista são de inteira responsabilidade de seus autores.
  • 5. Editorial A Revista Capital Científico - RCCi encerrou o ano de 2009 com várias novidades de volume, comunicação eletrônica e impressa, design gráfico, bem como na especialização e balanceamento temático dos artigos, marcando uma fase de crescimento, decorrente de mudanças significativas que estão sendo implementadas desde 2008. A Comissão Editorial ensejou a procura incessante em conteúdos com melhor qualidade científica e contribuição para a sociedade, tendo sempre em vista a missão do periódico, um desafio que foi e continua árduo, o que pode ser observado nas considerações que seguem. Diante da conjuntura recente, verificaram-se obstáculos comuns como em vários periódicos acadêmicos de instituição pública que não têm receita por assinaturas ou fomento institucional externo, a exemplo do trabalho com equipe reduzida. Além disso, existiu a dificuldade de recebimento de artigos relevantes, que pudessem ser aprovados dentro das exigências e condições necessárias, atendendo à qualidade e contribuição almejadas, dentro do prazo estabelecido para encerramento da edição. Isso também é explicado pela fase atual do periódico, que ainda é relativamente pouco conhecido para o público de estudiosos externos e não tem alto fator de impacto, ao verificar-se o baixo volume de artigos recebidos para dar giro de publicação das edições. Por causa dessas circunstâncias, a comissão considerou publicar artigos recebidos e aprovados após o ano de 2009 dentro dos critérios exigidos, sem perda da qualidade exigida, como pode ser verificado nesta edição. Por outro lado, as contribuições dos autores desta publicação, e o recebimento mensal de novas submissões especialmente a partir de 2010, por autores de diversas origens institucionais, serviram de estímulo para superar as dificuldades de manutenção, e as crescentes exigências do sistema de avaliação Qualis, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES/MEC. É importante ressaltar que várias manifestações de sugestões ou críticas dos pesquisadores, discentes e leitores recebidas ao longo do ano, contribuíram em boa parte para as modificações de melhoria do formato e consolidação do conteúdo. Sendo assim, apresentamos essa edição com novo design gráfico para abarcar as temáticas contemporâneas do campo de Sociais Aplicadas. Na nova capa, buscou-se uma síntese dessa proposta, pela representação do globo terrestre estilizado, dando a idéia da característica interdisciplinar desse campo, em face de estudos que alcançam dimensão mundial, na perspectiva de que não é possível distinguir as fronteiras entre novas e diferentes realidades sócio-econômicas, bem como nas várias ciências do escopo das Ciências Sociais Aplicadas. A formatação interna de fonte e conteúdo acompanhou essa filosofia, também adaptada às novas tendências. Para as ações de gestão e editoração periódica, foi implantado o Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas – SEER, uma ferramenta desenvolvida pelo Public Knowledge Project (Open Journal Systems) da Universidade British Columbia e customizada no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT. Com isso, iniciou-se um novo ciclo de edições com publicações eletrônicas em portal da revista via Internet, por meio do endereço http://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico. Em consequência, foi requerido e registrado um segundo número de ISSN, o 2177-4153, que é designado para a versão on line da revista. Com esse sistema, que é visto com aprovação pelo Qualis/CAPES/MEC, ganha-se em segurança, aumenta-se o controle, melhora a qualidade e cresce o nível de compartilhamento e socialização do conhecimento publicado. Uma Comissão Científica foi criada para a constante melhoria das diretrizes, normas e conteúdos do periódico, constituída por doutores de instituições externas, representados em cada uma das seis áreas
  • 6. de Sociais Aplicadas aceitas no periódico. Nessa edição, a RCCi tem um privilégio de contar com essa comissão composta por professores e pesquisadores que se destacam nas suas áreas de trabalho e na academia nacional, cujos nomes dão reconhecimento à missão e aos propósitos científicos do periódico. Os artigos publicados nesta edição são de autores vinculados a instituições de ensino e organizações de pesquisa de renome, com a participação em mais de 70% de autores externos, que não possuem qualquer vínculo formal com a UNICENTRO, conferindo legitimidade e seriedade à revista aos seus objetivos editoriais. Esses autores também contribuíram significativamente com seus estudos em qualidade e relevância do conteúdo. Esta edição contempla estudos, discussões e aspectos sobre a mudança social, organizacional e a sustentabilidade. Assim, apresentam-se artigos que trazem pesquisas e reflexões sobre as transformações organizacionais diante da vida no mundo, em termos macroambientais e microambientais, de sistemas em que vivem pessoas e organizações sócio-econômicas. O leitor encontrará estudos do processo produtivo sobre o trabalho e o capitalismo, e outros, das desigualdades sociais, das alternativas de desenvolvimento sustentável e a crise ambiental, dos sistemas de gestão ambiental e de responsabilidade social, bem como do perfil daqueles que dirigem organizações com esses processos. Em perspectiva adjacente, são apresentados artigos tais como: o da hierarquização de atrativos turísticos da cidade de Irati-PR; o da análise dos objetivos do balanço social, da análise das metodologias de intervenção de consultores em ONG no Recife-PE; da qualidade de serviços em uma IES, utilizando-se o modelo metodológico 5 GAP´s; recursos de tecnologia e informação para o apoio ao ensino, pesquisa e extensão, além de trabalhos das narrativas (storytellings) contadas pelos anúncios e vídeos institucionais da organizações, de casos de ações em Customer Relationship Management (CRM) e sobre os processos de seleção de empregados por competência. Um ensaio que discute e traz metáfora para a mudança organizacional encerra o periódico. Diante disso, a Revista Capital Científico traz conteúdos pela busca e auxílio do conhecimento contemporâneo nas Ciências Sociais Aplicadas, em suas diversas áreas, com a contribuição dos autores, sempre seremos agradecidos. Desejamos uma excelente leitura! Dr. Ivan de Souza Dutra Editor da revista Capital Científico
  • 7. Sumário Capitalismo e as Transformações no Processo de Trabalho.................... 11 Caroline Goerck Crise Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: a nanotecnologia como uma das soluções de longo prazo........................................................... 21 Marcia Regina Gabardo da Camara Rafael Borim de Souza A Polarização e as Desigualdades Regionais no Brasil.......................... 35 Francieli do Rocio de Campos Patrícia Estanislau A Evolução dos Sistemas de Gestão Ambiental: o caso do Laboratório de Camarões Marinhos................................................................................. 47 Antonio Costa Gomes Filho Fernando Antonio Forcellini Marilene Bronoski Rafael Feyh Jappur Projetos Brasileiros de Aterro Sanitário no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: uma análise dos indicadores de sustentabilidade...................... 57 Miriam Tiemi Oliveira Takimura Valdir Machado Valadão Júnior Avaliação e Hierarquização dos Atrativos Turísticos de Irati-PR............ 73 Diogo Lüders Fernandes Vanessa de Oliveira Menezes Gestão da Responsabilidade Social e o Perfil dos Gestores: análise das organizações de Blumenau - SC..............................................................85 Danielle Regina Ullrich Marialva Tomio Dreher Balanço Social: uma análise comparativa entre objetivos propostos na literatura e a realidade empírica............................................................ 99 Diocesar Costa de Souza Marcos Roberto Kuhl Vicente Pacheco
  • 8. Metodologias de Intervenção Utilizadas pelos Consultores no Trabalho Realizado com ONGs: um estudo na região metropolitana de Recife- PE..................................................................................................... 115 Marcos Gilson Gomes Feitosa Naldeir dos Santos Vieira Avaliação da Qualidade dos Serviços de uma Instituição de Ensino Superior Utilizando a Aplicação do Modelo Adaptado de Mensuração dos 5 GAP’s................................................................................................... 129 Rodrigo Navarro Xavier BRT-ADM/I – Banco de Recursos Tecnológicos: apoio ao ensino, pesquisa e extensão..............................................................................................139 Carlos César Garcia Freitas Dados de Clientes no Customer Relationship Management (CRM): estudo de casos múltiplos no desenvolvimento de software............................151 Flávio Régio Brambilla Storytellings Organizacionais: narrativas contadas pelos anúncios e vídeos institucionais............................................................................... 163 Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros Mudando para Seleção por Competência: um caso paranaense..........175 Keyla Cristina Pereira Prado Sérgio Bulgacov Ensaio: O Princípio da Bicicleta: revisitando a mudança organizacional....187 Antonio Teodoro Ribeiro Guimarães
  • 9. Summary Capitalism and the Changes in the Working Process.............................. 11 Caroline Goerck Environmental Crisis and Sustainable Development: the nanotechnology as one of the long run solutions.............................................................. 21 Marcia Regina Gabardo da Camara Rafael Borim de Souza The Polarization of Regional Inequalities in the Brazil........................... 35 Francieli do Rocio de Campos Patrícia Estanislau Environment Management System Evolution: the case of Marine Shrimps Laboratory................................................................................................ 47 Antonio Costa Gomes Filho Fernando Antonio Forcellini Marilene Bronoski Rafael Feyh Jappur Brazilian’s Landfill Projects to Clean Development Mechanism: analyzing the indicators of sustainability................................................................. 57 Miriam Tiemi Oliveira Takimura Valdir Machado Valadão Júnior Evaluation and Hierarchy of Turistic Attractive of Irati-PR...................... 73 Diogo Lüders Fernandes Vanessa de Oliveira Menezes Social Responsibility Management and the Managers Profile: an analysis of Blumenau-SC organizations................................................................85 Danielle Regina Ullrich Marialva Tomio Dreher Social Balance: comparative analysis between goals proposed in the literature and empirical reality............................................................... 99 Diocesar Costa de Souza Marcos Roberto Kuhl Vicente Pacheco
  • 10. Methods of Intervention Used in Labor Performed by the Consultants with NGOs: a study in the metropolitan area of Recife-PE.............. 115 Marcos Gilson Gomes Feitosa Naldeir dos Santos Vieira Evaluation of Higher Education Service Quality through the Adapted Measure Model of 5 GAPs...................................................................... 129 Rodrigo Navarro Xavier Clients’ data from the Customer Relationship Management (CRM): multiple cases study for software development...................................................139 Flávio Régio Brambilla Organizationals Storytellings: the narratives told in the videos and ads institutional............................................................................................ 151 Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros Moving to Competency-Based Selection: a Parana case...............................163 Keyla Cristina Pereira Prado Sérgio Bulgacov The Bicycle Principle: revisiting an organizational change...........................175 Antonio Teodoro Ribeiro Guimarães
  • 11. Capitalismo e as Transformações no Processo de Trabalho Capitalism and the Changes in the Working Process Caroline Goerck1 Resumo No capitalismo, os proprietários dos meios de produção exercem a hegemonia absoluta sobre as forças produtivas, apropriando-se com exclusividade dos excedentes gerados no processo de trabalho. Os capitalistas almejam intensificar a acumulação de capital, por meio da mais-valia absoluta e relativa, reduzindo os custos de produção e aumentando a sua produtividade. O processo de produção realizado pelo maquinário a vapor, durante a I Revolução Industrial, pelo petróleo e pela eletricidade, na II Revolução Industrial, e pelo desenvolvimento da automação, robótica e microeletrônica, elaborado por meio da III Revolução Industrial, foram submetendo os trabalhadores à máquina. Entretanto, faz-se necessário enfatizar que o desemprego é permanente no sistema capitalista, sendo que o investimento em mais-valia relativa, só o acentua. Este estudo está relacionado com uma revisão bibliográfica sobre o assunto apresentado e propõe-se também a desencadear alguns questionamentos junto a estudantes e/ou profissionais que trabalham com a questão social e suas manifestações, para serem objeto de prospecções sobre a realidade social e econômica. Nesse sentido, este artigo propõe-se a desencadear reflexões sobre as transformações que estão ocorrendo no processo de trabalho, visando prospectar alternativas à conjuntura macro social e econômica vigente. Palavras-chave: Capitalismo; Processos de Trabalho; Revoluções Industriais; Desigualdade Social Abstract The owners of means of production in the capitalist system exert an absolute hegemony over the productive forces, suiting themselves exclusively from the surplus generated through the work processes. The capitalists intend to intensify the cumulative capital by relative and absolute surplus value, reducing the production costs and increasing their productivity. Production achieved by steam engines, during the First Industrial Revolution, by petroleum and electricity, during the Second Industrial Revolution, and by the development of automation, robots and micro-electronics, originated during the Third Industrial Revolution, were substituting machine operators. However, it becomes necessary to emphasize that unemployment is permanent in the capitalist system, considering that the investment in relative surplus accentuates this unemployment. In this sense, the present article proposes to elicit some reflections with students and/or professionals who carry about social manifestation issues, aiming to prospect alternatives to the social macro and economical conjuncture being viewed. Key words: Capitalism; Work Processes; Industrial Revolutions; Social inequality 1 Possui doutorado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS.Contato: goerck@yahoo.com.br Revista Capital Científico - Guarapuava - PR - v.7 n.1 - jan./dez. 2009 - ISSN 1679-1991 Recebido em 04/10/2009 - Aprovado em 04/06/2010
  • 12. Introdução de alienação. Na manufatura, entretanto, o trabalhador ainda possuía certa autonomia, em As questões referentes ao trabalho e relação às atividades que estava desempenhando, seus processos produtivos, exercem influência pois a ferramenta era utilizada para auxiliá-lo na fundamental na forma de organização da sociedade, produção, e não substituí-lo. “Na manufatura, o com suas respectivas relações sociais e econômicas, trabalho é desenvolvido pelo esforço humano, as políticas e culturais. Para a existência de alternativas operações são manuais e dependem da habilidade, e proposições em relação ao capitalismo, rapidez, segurança e destreza individual dos primeiramente se faz necessário, um conhecimento trabalhadores” (PIRES, 1998, p. 31). Assim, no mais elaborado desse sistema. trabalho desenvolvido pela manufatura, o capital Esse artigo tem como finalidade, introduzir e ainda dependia da habilidade manual do operário. elucidar conceitos do modo de produção capitalista Durante o século XVIII, na Inglaterra, emergiu e sobre o processo de trabalho, por meio de uma um intenso processo de transformação nos processos retrospectiva histórica de forma que a questão produtivos, intitulado de 1ª Revolução Industrial. social seja evidenciada. Primeiramente, serão “A Revolução Industrial assinala a mais radical apresentadas as primeiras formas de sistematização transformação da vida humana já registrada em do trabalho coletivo e os procedimentos adotados documentos escritos” (HOBSBAWM, 1983, p. 13). pelo capital, para a obtenção da mais-valia. Num Nesse momento histórico, acentuou-se a divisão segundo momento, serão abordadas a II Revolução entre a classe trabalhadora e os proprietários dos Industrial e as transformações que estão ocorrendo meios de produção. no final do século XX e limiar do século XXI, com O período da 1ª Revolução Industrial suas respectivas implicações sociais e econômicas. corresponde ao momento de consolidação do Por fim, serão tecidas as considerações finais. capitalismo industrial, principalmente na Inglaterra. O trabalho manufatureiro fora substituído pela 1. O Processo de Trabalho e o Sistema criação da máquina a vapor, pelo tear mecânico, Capitalista pelas estradas de ferro e pelo surgimento das fábricas. Antes de introduzir a I Revolução Industrial, faz- “Ainda que a indústria seja a forma através da qual a se necessário abordar um dos primeiros processos sociedade apropria-se da natureza e transforma-a, de trabalho existentes no sistema capitalista, como a industrialização é um processo mais amplo, que por exemplo, o trabalho manufaturado artesanal. marca a chamada Idade Contemporânea, e que se Os processos de trabalho manufaturados artesanais caracteriza pelo predomínio da atividade industrial foram caracterizados pela fragmentação das sobre as outras atividades econômicas” (SPOSITO, atividades produtivas, pelo acirramento da divisão 2000, p. 43). A I Revolução Industrial foi mais do do trabalho, pela redução dos custos de produção que uma simples causa dessas invenções, do tear e pela culminação do trabalho assalariado. Essa mecânico, da estrada de ferro etc. Contrapondo- dissociação entre o produtor e os meios de produção se a isso, essas inovações são consequências das é nomeada de acumulação primitiva (MARX, 1988). mutações que estavam ocorrendo nos processos de No trabalho manufatureiro artesanal, produção industrial, desde o trabalho manufaturado, cada trabalhador se tornou especialista de uma visando a realização do capital. determinada função, auxiliado pela ferramenta. “A máquina, por meio de uma força externa, Pelo intermédio do parcelamento das atividades faz com suas próprias ferramentas, o que o homem laborais, realizadas na manufatura, ocorreu um fazia com suas ferramentas manuais” (PIRES, 1998, processo de estranhamento, entre os trabalhadores p. 31). Assim, a industrialização e as inovações de e as mercadorias por eles produzidas (MARX, maquinarias, reduziram os custos de produção, 1988). Esse processo de estranhamento é nomeado aumentaram a produtividade e substituíram a mão- 12
  • 13. de-obra, ocasionando um crescente desemprego como o conflito suscitado entre o capital (proprietários e uma exacerbada exploração dos trabalhadores, dos meios de produção) e o trabalho (trabalhadores entre eles, o trabalho feminino e o infantil. que vendem suas forças de trabalho em troca de Por intermédio da perspectiva social e um salário), bem como, as desigualdades geradas econômica liberal, os processos de produção através dessa relação social, de compra e venda da continuaram sendo modificados. A produção força de trabalho (BULLA, 1992). realizada pelo maquinário a vapor – na 1ª Revolução Os trabalhadores, ao disponibilizarem a Industrial, e pelo petróleo e pela eletricidade - sua mão-de-obra aos capitalistas, são explorados durante a II Revolução Industrial, foram submetendo gerando a mais-valia, que perpetua a acumulação os trabalhadores à máquina. A II Revolução Industrial capitalista. A força de trabalho pode ser caracterizada teve como características, o desenvolvimento dos como o conjunto das faculdades físicas e intelectuais setores de transportes, comunicação, produção em do trabalhador que as vende à burguesia (SALAMA, série e, principalmente, a utilização do aço e de novas 1975). Os proprietários dos meios de produção formas de energia (petróleo e eletricidade), gerando compram a força de trabalho do proletariado, a concentração de capital e favorecendo a transição em troca de salários. “[...] o que distingue o pior do capitalismo concorrencial ao monopolista. arquiteto da melhor abelha é que ele figura na Esses novos protótipos de produções industriais, mente da sua construção antes de transformá-la ocasionados pela I e II Revoluções Industriais, em realidade” (MARX, 1968, p. 202). A mão-de- desencadearam o acirramento da divisão social do obra é vendida como mercadoria pelos próprios trabalho. Nessa época, a classe trabalhadora era trabalhadores. “Ao firmar o contrato salarial [...] os destituída de direitos trabalhistas e as condições de trabalhadores submetem-se ao empregador, que trabalho eram precárias. disporá da força de trabalho alienada” (CATTANI, No modo de produção capitalista, os 1996, p. 93). O valor desse salário é definido pela detentores dos meios de produção exerciam quantidade de horas trabalhadas pelos operários (exercem) a hegemonia absoluta sobre as forças (jornada de trabalho). produtivas (meios de produção e força de trabalho), Para os capitalistas, o processo produtivo apropriando-se com exclusividade dos excedentes possui um valor, pois lhes são úteis, gerando a gerados (mais-valia) na atividade econômica. Os mais-valia. Esta realiza-se, quando os trabalhadores proprietários dos meios de produção exploram os consomem mercadorias adquiridas, por intermédio trabalhadores pela obtenção da mais-valia, gerando de seus valores de troca, com os seus salários. a concentração de riquezas. Essa concentração de Ou seja, o salário dos operários que foi gasto capital e do trabalho socialmente produzido resultou em mercadorias, retorna aos capitalistas, que por em tensões e lutas sociais, especialmente a luta de sua vez, acumulam mais capitais, perpetuando o classes, processo analisado no livro “O Capital” sistema (MARX, 1988). A mais-valia produzida pela (MARX, 1988). classe operária é apropriada pelos capitalistas que O trabalho produzido pela classe trabalhadora sempre tentam aumentar os seus lucros, através da era (é) apropriado pelos capitalistas e, na medida em intensificação da produção que não é paga - através que a força de trabalho é algo passível de compra, ela dos salários, aos trabalhadores. Para o aumento passa também a ser considerada uma mercadoria. da mais-valia, da produtividade, os capitalistas Nesse processo, o valor da força de trabalho é usufruem de duas possibilidades. A primeira ocorre determinado pelo tempo de duração destinado à com a mais-valia absoluta, que se subdivide em produção e à reprodução das mercadorias. Essa outras duas alternativas: ampliação da duração relação entre a compra e venda da mão-de-obra da jornada de trabalho (horas trabalhadas); e a é considerada uma relação social e desencadeia a segunda pelo aumento da intensidade do trabalho, questão social. A questão social pode ser apreendida, visando à produção máxima dos trabalhadores 13
  • 14. junto às máquinas (quase robóticos) durante a pura e simples do progresso técnico é, na realidade, execução do trabalho (MARX, 1988). Entretanto, um fenômeno inerente ao sistema capitalista e das ambas sofrem limitações, a primeira se contrapõe à suas próprias contradições (MARX, 1988). Nesse resistência física dos trabalhadores, que não teriam trabalho, ressalta-se o significado econômico da condições de trabalhar muitas horas consecutivas; mais-valia, pois essa acirra a desigualdade social. na segunda, os operários não possuem condições Conforme Karl Marx (1818–1883) e Friedrich de acompanhar o ritmo dos maquinários, quando Engels (1820–1895), pensadores do Socialismo muito acelerados. Científico, somente existiriam sociedades mais justas e A outra possibilidade de ampliação do igualitárias, quando o sistema capitalista se esgotasse acúmulo de capital é obtido pela mais-valia relativa, e fosse substituído por outro modo de produção, que que é responsável por uma grande exacerbação superasse a contradição capitalista. Esse outro sistema da produtividade no trabalho. A mais-valia relativa produtivo, segundo esses autores, seria o socialismo. é realizada a partir do uso intensivo de capital Neste, a propriedade privada e as classes sociais constante (maior investimento em compra de deveriam ser eliminadas, gerando a propriedade maquinários, do que em contratação da força de social dos meios de produção. Na sequência dessas trabalho), ocasionando uma redução nos custos de transformações, entre os modos de produção, em seu produção e no tempo socialmente necessário para último estágio, pregavam Marx e Engels, haveria a a fabricação de uma mercadoria, sem alterar o passagem do socialismo ao comunismo, eliminando tempo de duração na jornada de trabalho (MARX, assim, as classes sociais e o Estado Burguês. 1988). É nesse processo de intensificação da mais- Para Marx, a práxis “está presente como valia relativa, que se reduz o tempo socialmente elemento fundamental de transformação da sociedade necessário à produção de mercadorias, que e da natureza pela ação dos homens” (GOHN, 2002, geram acumulação de capital. Assim, as máquinas P 176). A transformação do social por intermédio de . aumentam a produção reduzindo a quantidade de atividades teóricas, conjuntamente com atividades trabalhadores contratados. políticas e/ou produtivas, constituem a práxis, que tem A redução da contratação de mão-de- como base fundante o mundo do trabalho. Entretanto, obra suscita o desemprego. O desemprego pode para que ocorra a transformação por meio da práxis, ser para os proprietários dos meios de produção, é necessário que exista a consciência de classe. Essa uma vantagem, pois se cria um exército de reserva consciência de classe, que Marx se refere, foi uma das (muita oferta de força de trabalho) a disposição dos condições necessárias à emergência dos movimentos capitalistas, que podem escolher a mão-de-obra, sociais existentes no século XIX. As Internacionais de acordo com as suas necessidades de produção. Socialistas, organizadas pelo próprio Marx e Engels, Portanto, o progresso técnico reduziu a contratação se constituíram em movimentos de organização da da mão-de-obra. Mas se faz necessário o classe operária. A Primeira Internacional, realizada esclarecimento de que o desemprego é permanente em Londres (1824) e a Segunda Internacional em no capitalismo, sendo que o investimento na Paris (1889), fixou a data de 1º de maio como o mais-valia relativa só o acentua. O objetivo dos Dia Internacional do Trabalho, em homenagem à proprietários dos meios de produção é intensificar mobilização realizada pelos grevistas em Chicago, a acumulação de capital, permitindo-lhe competir no ano de 1886. Outros movimentos sociais com os demais capitalistas, mantendo-se no sistema emergiram no século XIX frente ao capitalismo, como e evitando a sua eliminação ou incorporação a outro forma de resistência dos trabalhadores diante do capitalista e/ou grupo de maior porte. A lógica do capital. No próximo subitem, serão problematizadas capitalismo se sobrepõe ao processo técnico, esse as transformações que ocorreram e estão ocorrendo último só complementa-o. O desemprego, longe no processo de produção e gestão que envolvem o de ser um fenômeno natural ou uma decorrência sistema. 14
  • 15. 2. As Transformações no Processo de trabalho de concepção e de execução; utilização Trabalho desenvolvidas nos Cenários do conhecimento, para controlar cada fase da dos Séculos XX e XXI produção e o seu modo de execução (HARVEY, 1999). Através da cisão entre o trabalho intelectual Os Séculos XX e XXI são cenários de acentuadas e o operacional, a gerência científica racionalizava transformações no mundo do trabalho, com suas a produção, estabelecendo rigidamente os modos respectivas implicações sociais e econômicas. Para e tempos de produção, bem como os rendimentos apresentar as novas transformações que estão da força de trabalho, colocando os trabalhadores ocorrendo nos processos de trabalho - que têm sobre uma estrutura hierárquica de produção, em como finalidade a intensificação da acumulação que eles eram vigiados e controlados. capitalista, é necessário que se introduza, o contexto O Taylorismo caracterizou-se pelo controle social e econômico existente no Século XX - cenário do capital (com o objetivo de elevar a produtividade originário e que permeou essas transformações. do trabalho) sobre processos de produção, nos O sistema capitalista, com a finalidade de quais o capital dependia ainda da habilidade do expandir a acumulação de capital, promoveu trabalhador. Esse controle era efetivado através a Segunda Revolução Industrial, manifestada, dos tempos e movimentos do trabalhador. Após principalmente, pelo binômio Taylorismo/Fordismo. as inovações dos processos produtivos de Taylor, Esses dois modelos predominaram no processo de em 1913 Henry Ford, utilizando essas inovações, industrialização, tendo sua ascensão na segunda criou a linha de montagem (automobilismo) e o década do século XX. Suas caracterizações estão método de produção em massa (esteira), obtendo relacionadas à hierarquização das relações de produtos padronizados (FLEURY; VARGAS, 1983). O trabalho, a homogeneização das mercadorias, a Fordismo, que teve seu desenvolvimento hegemônico produção em massa e em série (ANTUNES, 2003). no período pós-guerra, pôde ser desenvolvido ao Na indústria automobilística Taylorista e fundir-se com o Taylorismo. Fordista, foram considerados elementos centrais à produção, a racionalização das operações, o O Fordismo caracteriza o que poderíamos chamar de combate ao desperdício na produção (redução socialização da proposta de Taylor, pois, enquanto este procurava administrar a forma de execução de cada tra- de tempo), o aumento do ritmo do trabalho e da balho individual, o Fordismo realiza isso de forma cole- intensificação das formas de exploração pelos tiva, ou seja, a administração pelo capital da forma de capitalistas (ANTUNES, 2003). Taylor, fundador execução das tarefas individuais se dá de uma forma da gerência científica, começou sua carreira como coletiva, pela via da esteira (NETO, 1991, p. 36). operário numa fábrica. A partir de suas experiências, enquanto sujeito trabalhador, dedicou-se em Ao contrário do Taylorismo, que se baseava observar e em estudar os tempos e movimentos no rendimento individual de cada trabalhador, no realizados em cada tarefa e atividade da produção. Fordismo, o controle dos tempos e dos movimentos “O ‘Taylorismo’ ou ‘administração científica do era determinado pelo ritmo do funcionamento das trabalho’ surge como uma nova cultura do trabalho maquinarias. Nesse modelo, eram as máquinas na passagem do século XIX para o século XX, nos (esteiras) que levavam o trabalho até os operários, Estados Unidos, nação que começava a despontar eliminando assim, os tempos mortos de produção. como potência mundial” (DRUCK, 1999, p. 41). Com esse protótipo, que desenvolveu a mecanização Para o enfrentamento do capital em relação associada e parcialmente automatizada, o controle à dependência da habilidade manual da força de sobre o trabalho não precisava mais ser realizado trabalho, Taylor estabeleceu os seguintes princípios: diretamente pelo gerente, mas sim, pelos maquinários dissociação dos processos de produção das (PIRES, 1998). O Fordismo constituiu-se no processo especialidades dos trabalhadores; separação do contínuo da produção que agregou a produtividade 15
  • 16. ao consumo, ou seja, sempre dispondo de estoque de vigência do Welfare State e com os modelos mínimo às mercadorias (Just-In-Case). Também de produção Fordistas e Tayloristas, ocorreu a pode ser considerado, o modelo de produtividade massificação da classe operária, conjuntamente que separou rispidamente o trabalho de concepção com a precarização das condições e relações de e o de execução. Esse tipo de produção ocasionou trabalho, fazendo com que eclodissem movimentos a “expansão das unidades fabris concentradas e reivindicatórios e questionadores desses métodos de verticalizadas e pela constituição/consolidação do produção. Essas manifestações foram concebidas operário-massa, do trabalhador coletivo fabril” por meio de greves, boicotes e resistência ao trabalho (ANTUNES, 1995, p. 17). despótico e verticalizado, oriundo do Taylorismo/ O Fordismo criou as linhas de montagem, Fordismo (ANTUNES, 2003). desqualificando, parcelando e desenvolvendo Outros elementos, além das manifestações atividades laborais repetitivas, prejudiciais à saúde operárias, que constituíram a crise desses dos trabalhadores. Tanto o Taylorismo como o modelos produtivos foram: a queda dos ganhos Fordismo, foram modelos produtivos degradantes de produtividade pelo capital; a abertura à das condições e relações de trabalho. A ruptura concorrência internacional, caracterizada pelo entre o trabalho de concepção e o de execução processo de globalização; a flexibilização do capital; foram elementos preponderantes para a alienação a desterritorialização e a crise do Welfare State dos operários diante do trabalho. Porém, não se (COCCO, 2001). A crise do Welfare State, modelo deve confundir o Taylorismo com o Fordismo. O de Estado que regulava o capital e reproduzia Taylorismo se caracterizou pela racionalização a força de trabalho, efetivou-se pela retirada das científica do trabalho, eliminando os tempos mortos coberturas sociais públicas e pelo corte nos direitos de produção e pôde ser viabilizado em pequenas sociais, num processo de ajuste do Estado que visa à e médias empresas; enquanto que o Fordismo diminuição dos ônus do capital e do déficit público, envolveu uma nova organização dos processos na esquematização da reprodução da força de de trabalho, através de máquinas-ferramentas trabalho e das condições para a perpetuação da especializadas, mecanização e intensa divisão de acumulação capitalista (NETTO, 1996). O Estado atividades laborativas, sendo que foi desenvolvido mínimo proposto pelas políticas neoliberais propõe em grandes empresas com produtos padronizados a retirada do Estado, junto aos bens e serviços (CATTANI, 2000). Esses modelos contribuíram para sociais públicos e não em relação ao financiamento a exploração da classe trabalhadora no século XX. do capital. Paralelamente ao modelo de produção Nesses contextos sociais e econômicos, os Taylorista/Fordista, também no período Pós- governos dos Estados de capitalismo avançado, Guerra, emergiu o modelo de Estado designado liderados por Margaret Tatcher na Inglaterra, em como Welfare State nos países liberais. “O Estado 1979, e Ronald Reagan nos Estados Unidos, em é chamado para arbitrar o conflito entre o capital e 1980, implementaram uma política econômica e o trabalho” (SCHONS, 1999, p. 119). Esse modelo social embasados no aporte teórico neoliberal. Essa de Estado contribuiu para o Boom Econômico até política econômica e social tem como medidas: o o final da década de 1960 e “é entendido como a enxugamento e a redução das responsabilidades dos mobilização em larga escala do aparelho do Estado Estados diante das sociedades; o fortalecimento da em uma sociedade capitalista, a fim de executar liberdade de mercado; as privatizações de instituições e medidas orientadas diretamente ao bem-estar organismos estatais; a redução e a extinção do capital de sua população” (MEDEIROS, 2001, p. 6). O produtivo estatal; o desenvolvimento de uma legislação Welfare State interviu no planejamento econômico, “desregulamentadora” das relações de trabalho e montando esquemas de transferências sociais e “flexibilizadora” dos direitos sociais; o enfraquecimento de distribuição de bens e serviços. Nesse período dos movimentos sindicais etc (ANTUNES, 2003). 16
  • 17. Outro elemento preponderante que constituiu Terceira Revolução Industrial, intensificam-se as a crise do Taylorismo e Fordismo foi o processo mais-valias relativas, que são responsáveis por um de globalização do capitalismo. A globalização, grande aumento da produtividade nos processos de intensificada durante a década de 1990, é trabalho. Com a revolução tecnológica, “o homem constituída pela: mundialização dos mercados; deve exercer na automação funções mais abstratas dinamização do mercado mundial; acumulação e intelectuais” (IANNI, 1999, p. 19), fazendo flexível; liderança econômica dos grandes bancos com que o mercado requisite constantemente um e empresas oligopólicas; revolução tecnológica; profissional mais qualificado e polivalente. Com implementação do referencial teórico neoliberal os novos processos tecnológicos - mecanização, nas políticas econômicas e sociais; subordinação automação e robótica -, o capital não gera mais dos países periféricos aos de capitalismo avançado uma significativa quantidade de emprego, a ponto (ANTUNES, 2003). Na mundialização do capital, os de absorver a força de trabalho disponível, pois as países periféricos são subordinados às instituições inovações tecnológicas intensificam a produção e financeiras dos países de economia avançada, não racionalizam os processos produtivos. possuindo condições de competir em condições de O processo de reestruturação do capital, igualdade nos mercados internacionais. juntamente com o neoliberalismo, vem apresentando Juntamente com a globalização, outro no aspecto econômico, porém, limitações, que estão fenômeno emergiu no término do século XX, o sendo materializadas pelas crises que ocorreram processo de desterritorialização. Este é caracterizado nos Tigres Asiáticos (1997-1999), no México pela mobilidade do capital e consequentemente dos (1994-1995), na Argentina (2001-2002), e, mais trabalhadores, em escala mundial (IANNI, 1999). recentemente, nos Estados Unidos da América, O trabalhador migra conforme os movimentos desencadeando a crise mundial em 2008 e 2009. do capital, e este, por meio das transnacionais e/ A recessão norte-americana que está ocasionando ou multinacionais, direciona-se conforme os seus a crise mundial possui sua origem vinculada à interesses de aumento na reprodução e acumulação crise das hipotecas dos EUA, desde agosto de de capital. 2007, alastrou-se rapidamente por todo o setor A crise dos modelos de produção que financeiro da economia norte-americana e do vigoraram no Século XX e do Welfare State, o advento mundo - mundialização do capital. Esse mecanismo do neoliberalismo, a infiltração do capital nos países permitiu a expansão do consumo nos EUA e no tidos como socialistas, a expansão da globalização, desenvolvimento da economia chinesa, entre outros juntamente com o processo de desterritorialização, aspectos. são elementos que integraram o cenário do Século XX. Ainda não se tem conhecimento de quais Diante dessas circunstâncias, iniciou-se um processo serão as consequências futuras dessa crise, porém, de reorganização do próprio capital, com seu sistema sabe-se que ela não é equivalente a de 1929, que ideológico e político de dominação, resultando num desencadeou a depressão econômica generalizada acentuado processo de reestruturação da produção (FACHIN, 2008). O que está ocorrendo constitui-se e do trabalho (ANTUNES, 2003). O término do numa recessão materializada pela redução na taxa século XX e o limiar do século XXI são marcados por de crescimento econômico, que gera desempregos, uma profunda transformação do mundo do trabalho entre outros elementos. O que se sabe, entretanto, e seus processos produtivos. com a atual recessão mundial - advinda da crise norte- Essa transição do Taylorismo/Fordismo ao americana -, é que o protótipo neoliberal respaldado Toyotismo também é expressa pela passagem da na autorregulação do mercado, na liberalização máquina-ferramenta, ao sistema de máquinas e expansão da economia em escala mundial e na auto-reguladas, em que “a máquina se vigia e se não intervenção estatal nas relações comerciais, regula a si mesma” (IANNI, 1999, p. 18). Com a vem demonstrando sinais sérios de esgotamento, 17
  • 18. principalmente nos EUA, no Japão e na Europa de 20,4% (outubro de 2008) (ATLAS..., 2009). Já Ocidental - que possui como moeda o Euro. em relação à taxa de crescimento econômico no Na América Latina, diante desse cenário Brasil, ocorreu uma redução maior do que 3% mundial, o trabalho informal constitui-se num dos entre os anos de 2007 e 2008. Em 2007, houve elementos que contribui para a sobrevivência dos um crescimento de 7,0%, e, em 2008, com a crise sujeitos que estão exclusos do mercado formal mundial, o crescimento no Brasil reduziu para 3,8%. de trabalho (CATTANI, 2003). Já no Brasil 32,6% Outra característica fundamental que se atribui dos municípios possuem mais da metade de sua ao trabalho feminino é que, para a inserção da mulher população vivendo na pobreza, e a Região Nordeste no mercado formal de trabalho, faz-se necessário possui a realidade mais alarmante, totalizando um nível de qualificação, que comumente é superior 77,1% dos municípios nessas condições. ao masculino, devido à desigualdade de gênero Salienta-se ainda que, além das velhas nas relações de (re) produção social e econômica. formas estocadas de exclusão social nos países Mesmo com o fato das mulheres brasileiras terem periféricos - entre eles os países latino-americanos -, em média um ano a mais de escolaridade que os designada de “velha pobreza”, representada pelos homens, as mesmas recebem salários inferiores a pobres, miseráveis, mendigos, pedintes, indigentes eles mesmos (CAMPUS, 2008). Uma trabalhadora subnutridos e minorias sociais (idosos, deficientes, que possui escolaridade entre 8 e 10 anos, recebe mulheres, negros, índios), com a Reestruturação valor semelhante ao de um trabalhador que estudou do Capital ou III Revolução Industrial, surge tanto no máximo 3. Além do aspecto cultural, outro motivo nos países centrais, como também nos periféricos que possivelmente desencadeie essa diferença salarial - emergentes -, outra forma de exclusão social, pode ser explicado pelo fato de os homens possuírem nomeada de “nova pobreza” (REIS, 2002). Essas uma maior taxa de abandono e defasagem escolar novas exclusões sociais, que atingem tanto os maior do que as mulheres, e por entrarem em média países periféricos como os centrais, são originárias com menos idade do que as mulheres no mercado do desemprego estrutural e de suas manifestações, de trabalho (CAMPUS, 2008). compreendidas como exclusão de bens e serviços, Frente a essa realidade de desemprego tanto do mercado formal de trabalho, da terra, da feminino como também o masculino, constata-se segurança, dos direitos humanos (REIS, 2002). que estão sendo prospectadas novas formas ou Segundo os dados coletados pela PED-IBGE possibilidades de geração de trabalho e renda, (Pesquisa de emprego e desemprego) entre os anos com vistas a incluir os sujeitos – especialmente os de 2002 e 2008, houve uma redução na taxa de menos qualificados - no sistema, possibilitando desemprego total em todas as capitais pesquisadas, uma melhoria nas suas condições de vida e e em Belo Horizonte, chegou a diminuir 11%. Em consequentemente de seus familiares. Para isso, Porto Alegre, teve uma redução de 4,7%, pois a estão sendo pensados novos protótipos de região metropolitana de Porto Alegre, em outubro desenvolvimento (DE PAULA, 2001) que podem ser de 2008, possuía 10,6% de sua população observados sob o aspecto de que o desenvolvimento economicamente ativa desempregada (dados para social significa desenvolvimento não-desigual e que outubro de 2008). Na região metropolitana de São visa à inclusão social de todos os sujeitos. Paulo, os índices de desemprego correspondiam a 12,5% (outubro de 2008); na região metropolitana Considerações Finais de Belo Horizonte, a 9,0% (outubro de 2008); na região metropolitana de Recife, a 18,9% (outubro Neste artigo pretendeu-se esclarecer o modo de 2008); no Distrito Federal, a 16,0% (outubro de produção capitalista e seus processos de trabalho, de 2008) e, na região metropolitana de Salvador durante as três Revoluções Industriais. No sistema ainda há o maior índice de desemprego, em torno capitalista, os proprietários dos meios de produção, 18
  • 19. sempre visam intensificar a acumulação de capital, trabalhadores sobrantes - desnecessários ao capital, seja através da mais-valia absoluta, ou por meio da que não conseguirão mais serem absorvidos pelo mais-valia relativa, reduzindo os custos de produção sistema? Será que emergirá alguma alternativa e aumentando a sua produtividade. O processo de viável ao crescente desemprego? Será que não está acumulação e centralização de capital é inerente a no momento da sociedade como um todo, bem esse sistema, pois deles dependem, a permanência como, profissionais, refletirem seriamente sobre as de qualquer empreendimento no mercado, evitando “novas armadilhas” do capital? Ou será que, ao sua eliminação e/ou incorporação a outro capitalista criar alternativas para atenuar as manifestações da de maior porte. questão social, não se está novamente deixando de Nesse sentido, este estudo propõe-se a prospectar mudanças, que realmente transformem desencadear algumas reflexões, a estudantes a realidade, reduzindo a desigualdade social e ou profissionais que trabalham com a questão econômica, assim como a exploração capitalista? social e suas manifestações, para serem objeto de E por último, será que a criação de alternativas de prospecções sobre a realidade social e econômica. geração de trabalho e renda, além de serem fruto das Diante das transformações que estão ocorrendo próprias contradições do capital, não se constituem no processo de trabalho, o que será proposto aos também, como uma forma de alienação? Referências ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 3. ed., São Paulo: Cortez, 1995. _______. Os Sentidos do Trabalho. Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 6. ed., São Paulo: Boitempo Editorial, 2003. ATLAS na alimentação e moradia respondem pela inflação. Disponível em: <http:/www.dieese. org.br>. Acesso em: 06 fev. 2009. BULLA, L. C. Serviço Social, Educação e Práxis: Tendências Teóricas e Metodológicas (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Educação. Curso de Pós-Gradualção em Educação. Porto Alegre, 1992. CAMPOS; O. S. Pobreza é menor se há equidade de gênero. Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index. php?id01=2955&lay=pde>. Acesso em: 13 ago. 2008. CATTANI, A. D. Trabalho & Autonomia. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes Ltda, 1996. ______ (org.). Trabalho e Tecnologia: dicionário crítico (org.). 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. ______ (org.). A Outra Economia. Porto Alegre: Veraz, 2003. COCCO, G. Trabalho e Cidadania: produção e direitos na era da globalização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SÓCIO-ECONÔMICOS. Pesquisa de Emprego e Desemprego das Regiões Metropolitanas (ano de 2005). http:/www.dieese.org.br. Acesso em 21 de maio de 2005. DE PAULA, J. Desenvolvimento e gestão compartilhada. In: SILVEIRA, C. M. ; REIS, L. C. Desenvolvimento Local: dinâmicas e estratégias. Rio de Janeiro: Comunidade Solidária / Governo Federal / Ritz, 2001. DRUCK, M. G. Terceirização: (des) fordizando a fábrica. Um estudo do complexo petroquímico. São Paulo: Boitempo Editorial, 1999. FACHIN, P Brasil será atingido pela crise mundial. In.: IHU ON-LINE. Revista do Instituto Humanistas . 19
  • 20. Unisinos. São Leopoldo, ano VIII, ed. 274, 22 set. 2008. FLEURY, A. C. C.; VARGAS, N. (org.). Organização do trabalho: Uma abordagem interdisciplinar. Sete casos brasileiros para estudo. São Paulo: Atlas, 1983. GOHN, M. G. M. Teorias dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2002. HARVEY, D. Condição pós-moderna. Trad. SOBRAL, A. U.; GONÇALVES, M. S. 12. ed. São Paulo: Loyola, 2003. HOBSBAWM, E. J. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Rio de Janeiro: Forense- Universitária, 1983. IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 2000. IANNI, O. O mundo do trabalho. In: FREITAS, M. C. (Org.). A reinvenção do futuro: trabalho, educação, política na globalização do capitalismo. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999. MARX, K. O Capital. Crítica da Economia Política- volume I. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. 3. ed. São Paulo: Nova Cultura, 1988. ______. O Capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. Livro 1, v. 1-2. MARX, K; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. Feuerbach. Tradução de José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira. São Pulo: Editorial Grijalbo, 1977. MATTOSO, J. E. L. A Desordem no Trabalho. São Paulo: Scritta, p. 69 – 109, 1995. MORAES NETO, B. R. Marx, Taylor, Ford: as forças produtivas em discussão. 2. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991. NETTO, J. P Transformações Societárias e Serviço Social. Notas para uma análise prospectiva da . profissão no Brasil. Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, nº 50, p. 87 – 132, 1996. PIRES, D. Reestruturação Produtiva e Trabalho em Saúde no Brasil. São Paulo: Conferência Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social – CUT; Annablume, 1998. REIS, C. N. Exclusão Social: a multidimensionalidade de uma definição. In: DESAULNIERS, J.; MENDES, J. M. (orgs). Textos & Contextos: perspectivas da produção do conhecimento em Serviço Social. EDIPUCRS, Porto Alegre, 2002, p. 123-140. SALAMA, P VALIER, J. Uma introdução à economia políptica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, ., 1975. SCHONS, S. M. Assistência Social entre a Ordem e a “Des-Ordem”: mistificação dos direitos sociais e da cidadania. São Paulo: Cortez, 1999. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/estadosat/ temas.php?sigla=rs&tema=mapapobreza2003>. Acesso em: 06 fev. 2009. SITE: www.Ibge.gov.br (acessado em 21 de maio de 2005). SPOSITO, M. E. B. Capitalismo e Urbanização. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2000. 20
  • 21. Crise Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: a nanotecnologia como uma das soluções de longo prazo Environmental Crisis and Sustainable Development: the nanotechnology as one of the long run solutions Marcia Regina Gabardo da Camara1 Rafael Borim de Souza2 Resumo O artigo discute os determinantes da crise ambiental e possíveis soluções, a partir da emergência de uma nova realidade internacional e organizacional, amparada por um paradigma de sustentabilidade ambiental e social. O objetivo do artigo é o de analisar o comportamento organizacional que desencadeou a crise ambiental e a reflexão sobre as soluções não imediatistas que permitiriam uma produção sustentável e suas consequências. A pesquisa é de natureza qualitativa, exploratória, bibliográfica e documental. Foi realizado um levantamento teórico-metodológico a partir do paradigma de sustentabilidade e convergências tecnológicas. Apresentou- se, também, como exemplificação, o movimento nanotecnológico do continente europeu, possibilitado pela análise do documento: European activities in the field of ethical, legal and social aspects (ELSA) and governance of nanotechnology, cuja primeira versão foi disponibilizada em outubro de 2008, pela European Comission, DG Research, Unit “Nano and Converging Sciences and Technologies”. A disseminação das nanotecnologias, coordenadas por uma governança multilateral global responsável por institucionalizar e legitimar valores sociais e ambientais necessários em tais convergências tecnológicas, é apresentada como uma das possíveis soluções para a problemática ambiental. Palavras-chave: Nanotecnologia; Sustentabilidade e Governança Multilateral. Abstract This article discusses the determinants of environmental crisis and its possible solutions which come from the emergence of a new international and organizational reality structured in a sustainable paradigm. The objective of this qualitative, exploratory, bibliographic and documental research was to analyze the organizational behavior that resulted in the environmental crisis and its consequences. A survey on theories and methodologies that deals with sustainable paradigm and technologic convergences was carried out. It was presented, for instance, the European movement on nanotechnology, through the following document: European activities in the field of ethical, legal, and social aspects (ELSA) and governance of nanotechnology, which first version was published in October 2008, by the European Commission, DG Research, Unit ‘Nano and Converging Sciences and Technologies’. One of the solutions for the environmental problem is the dissemination of the nanotechnologies, 1 Professora Associada da Universidade Estadual de Londrina - UEL, Brasil. Desenvolve estudos e tem experiência em Economia, com ênfase em Organização Industrial e Estudos Industriais.Possui doutorado em Economia pela Universidade de São Paulo - USP Brasil, mestrado em , Economia pela mesma instituição, e graduação em em Economia pela Universidade de Brasília - UnB, Brasil. Contato: mgabardo@uel.com.br 2 Discente do curso de Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Estadual de Londrina e Universidade Estadual de Maringá, consorciadas - PPA/UEM-UEL, Brasil.Possui especialização em Controladoria e Finanças pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, Brasil, e especialização em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro - FGV-RJ, Brasil, ambas nível latu sensu. Bacharelado em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, Brasil. Contato: rafaelborim@yahoo.com Revista Capital Científico - Guarapuava - PR - v.7 n.1 - jan./dez. 2009 - ISSN 1679-1991 Recebido em 27/06/2010 - Aprovado em 18/12/2010
  • 22. coordinated by a global governance, which is responsible for institutionalize social and environmental values needed in these technologic convergence. Key words: Nanotechnology; Sustainability and Multilateral Governance Introdução O artigo levanta o problema que alimenta o debate sobre produção sustentável nos meios A solução da crise ambiental passa por um acadêmicos e empresariais: a crise ambiental amplo debate internacional. Pesquisadores das derivada da ação humana e empresarial. A questão de mais diversas áreas têm destacado a importância da pesquisa que o estudo busca responder é: há soluções criação de um órgão internacional multidisciplinar, para a crise ambiental? O objetivo do trabalho é através de um grupo consultivo constituído por analisar os comportamentos organizacionais que membros de diversos países, que possua a desencadearam a crise ambiental e refletir sobre capacidade e a legitimidade para estabelecer em as soluções não imediatistas que permitiriam uma nível global, um sistema de governança multilateral produção sustentável. como resposta institucional à crise ambiental. É nesse O trabalho está estruturado em cinco contexto também que surgem propostas focando capítulos: introdução, metodologia, a crise do às convergências tecnológicas e à necessidade de meio ambiente e o contexto de ascensão de um avaliação dos impactos transformativos oriundos paradigma pautado por valores de sustentabilidade das novas tecnologias. O estabelecimento de um social e ambiental, a convergência tecnológica conceito avançado de desenvolvimento responsável como fenômeno exigente de uma governança deve abranger critérios como: avaliação de multilateral e global sobre os anseios do paradigma saúde, segurança e ética, engajamento de atores de sustentabilidade: a nanotecnologia na Europa, e internacionais quanto a parcerias, e instigação considerações finais. de um comprometimento social, pautado por planejamentos e investimentos interessados em 1. Metodologia fatores de longo prazo. As convergências da nanotecnologia, A abordagem do problema aconteceu de biologia, revolução digital e ciências cognitivas, por maneira qualitativa, por ser uma forma adequada exemplo, promovem o desenvolvimento de inovações de entender a natureza de um fenômeno social. construtivas e transformadoras à concepção de novos O objetivo foi analisado pelo ponto de vista produtos e serviços, oportunidades de melhores exploratório, uma vez que se orienta por conhecer condições de desenvolvimento ao potencial humano as características de um fenômeno, para procurar, e conquistas sociais necessárias, que, com o tempo, em um momento posterior, explicações de suas remodelarão os relacionamentos estruturais e causas e consequências. Em relação às estratégias institucionais até então vivenciados. Para tanto, a de pesquisas abordadas, o estudo classifica-se como participação de todos os sujeitos sociais influenciados bibliográfico, uma vez que busca conhecer, analisar por essas novas tecnologias, a transparência das e explicar contribuições sobre o tema abordado, e estratégias dessa governança, e a responsabilidade documental, por utilizar documentos como fonte de específica de cada stakeholder precisam efetivar-se dados, informações e evidências (RICHARDSON, plenamente. A nova realidade é promotora de uma 2008; MARTINS; THEÓPHILO, 2007). emancipação social, caracterizada, principalmente, Três possíveis soluções de longo prazo à pela legitimação urgente do paradigma de problemática ambiental são apresentadas: os sustentabilidade, o qual retira os ferramentais programas de responsabilidade social adotados por decisórios de uma unilateralidade e os insere em organizações com poder de atuação local, regional, um multilateralismo interdisciplinar. nacional e internacional (CLAPP 2005); a reforma , 22
  • 23. mediante determinadas atitudes mercadológicas, ecológica (BORINELLI, 2007); e o desenvolvimento oriundo do movimento de convergências tomadas no intuito único de incrementarem seus lucros, sem estarem preocupadas com as respectivas tecnológicas exemplificado pelas nanotecnologias consequências sociais e ambientais de tais decisões. (MARTINS, 2005). O artigo aborda as diferentes A legitimação dos lucros empresariais por uma soluções e concentra-se na última proposição. aceitação social e comunitária, portanto, passa a O levantamento teórico-metodológico é ser imprescindível. realizado a partir do paradigma de sustentabilidade e A ação de tais agentes sociais incorre em convergências tecnológicas. Apresenta-se, também, consequências ambientais, estas nem sempre como exemplificação, o movimento nanotecnológico agradáveis. A análise da problemática ambiental se do continente europeu, possibilitado pela análise do dá por uma diversidade de abordagens, as quais se documento: European activities in the field of ethical, mostram distintas em alguns pontos e convergentes legal and social aspects (ELSA) and governance em outros. Nesse sentido, adota-se a via interpretativa of nanotechnology, elaborado pela Dra. Angela das ciências sociais. Huffman, cuja primeira versão foi disponibilizada em outubro de 2008 pela European Comission, DG Zioni (2005, p.39) destaca que “para discutir a relação entre as ciências sociais e o meio ambiente, Research, Unit “Nano and Converging Sciences and Technologies”. é fundamental uma reflexão sobre o cenário em que essas questões emergiram: a modernidade”. A análise do documento permite verificar O ambiente tem sofrido os impactos das ações que o financiamento das atividades de pesquisas capitalistas; no caso específico das revoluções acontece através de programas sistêmicos (framework industriais, caracterizaram-se pela exploração do programme - FP) com períodos de duração pré- solo e da mão-de-obra, gerando inúmeros resíduos determinados. No documento mencionado, são sólidos, líquidos e gasosos que se intensificaram no apresentados 2 projetos referentes ao 5º FP (1998- século XX. 2002); 20 projetos referentes ao 6º FP (2002- A modernidade trouxe gradativamente uma 2006), e 5 projetos referentes ao 7º FP (2007-2008) exigência de sociabilidade do homem para com o (HULLMANN, 2008). meio e vice-e-versa. Os mecanismos de produção A essência dos programas são as pesquisas desenvolvidos, ao serem analisados de maneira tecnológicas e científicas, mas há a presença de isolada, pouco emancipam a sociedade atual projetos interessados em evidenciar os aspectos das comunidades antigas, porém se aliados aos éticos, legais e sociais dessas atividades européias, acontecimentos ambientais, permitirão constatar a tais como os: Science and Society, The New Emerging emergência de uma nova representação simbólica Science and Technology e Citizens and Governance, do mundo por inéditas relações de poder. os quais pertencem ao 6º FP e serão apresentados As ocorrências históricas, os acontecimentos com maiores detalhes no capítulo quatro, deste sociais e o desenvolvimento econômico permitem trabalho. a construção na modernidade de uma nova representatividade da vida social. A sequência de 2. A crise do meio ambiente e o contexto movimentações econômicas é caracterizada como de ascensão de um paradigma pautado o próprio desenvolvimento, que, segundo Coimbra por valores de sustentabilidade social (2002, p.51), é: e ambiental um progresso contínuo e progressivo, gerado na co- Em um momento de questionamento sobre munidade e por ela assumido, que leva as populações as estruturas mundiais, as relações de poder estão a um crescimento global e harmonizado de todos os ameaçadas e as empresas líderes nos mercados setores da sociedade, através do aproveitamento dos globais podem ter seu posicionamento questionado, seus diferentes valores e potencialidades, em modo a 23
  • 24. produzir e distribuir os bens e serviços necessários a na engenharia econômica das organizações que satisfação das necessidades individuais e coletivas do buscam a minimização de seus custos privados. ser humano, por meio de um aprimoramento técnico e A insuficiência dos instrumentos estatais de cultural, e com menor impacto ambiental possível. combate e a busca incessante de lucros pelo setor privado oneram a sociedade e agravam as questões Ao longo da historicidade econômica, não ambientais. É necessário, portanto, discutir novos foram promovidas metodologias de desenvolvimento modelos, normas e valores, que vislumbrem a melhoria aplicáveis a todas as sociedades e ao meio ambiente, na qualidade de vida das populações. pois pequeno foi o interesse em preservar os recursos O modelo capitalista é o “representante legítimo e energias não renováveis para as futuras gerações, e universal da racionalidade, cuja proposta era libertar através de seu uso racional. Surgiram inúmeras o homem do reino das necessidades pelo uso científico explicações para justificar a escassez de atitudes dos recursos naturais e econômicos do planeta, pela favoráveis ao ambiente nos meios governamentais adaptação do conhecimento científico à produção, e organizacionais; mas o debate contribuiu para o processos que criariam riquezas incessantemente” desenvolvimento científico, econômico e social. (ZIONI, 2005, p.41). Segundo Montibeller (2007, p.57), as teorias O desenvolvimento capitalista contribui do desenvolvimento são “o conjunto de formulações para o incremento da inovação e do desempenho que visam compreender e modificar a realidade tecnológico, entretanto, os índices de desenvolvimento pelo exame dos mecanismos, segundo os quais, os humano e de qualidade de vida não acompanham fenômenos sociais inter-relacionam-se, dos elementos o fator econômico. Segundo Montibeller (2007), principais que respondem pela evolução da economia o crescimento capitalista instiga a degradação, a e das tendências seculares”. Mas o desenvolvimento poluição e o esgotamento de bens ambientais e, econômico pode ocorrer em diferentes ambientes quando da retração das atividades econômicas, as institucionais, por meio de atividades produtivas, negociações virtuais, redes de relacionamento, cadeias questões ambientais são desprezadas por implicarem de suprimento, entre outros. custos adicionais. Nesse contexto, a instituição se apresenta De acordo com Brunacci e Philip Jr. (2005), a como protetora da propriedade privada ao incentivar era de conquistar o desenvolvimento econômico sem investimentos que apreciem decisões democráticas qualquer restrição e às custas de prejuízos ambientais capazes de disponibilizar socialmente os benefícios já não permanece, entretanto, persistem em algumas oriundos de tais negociações. Para Montibeller ideologias empresariais. Há de se compreender a (2007), o desenvolvimento adequado e a qualificação insuficiência de fatores naturais, dos quais, depende institucional são condições necessárias, mas insuficientes a sobrevivência social do planeta. É, ainda mais para sanar os problemas sociais e ambientais em toda importante, necessário reconhecer que, após a sua contingência. geração presente, outras virão e também habitarão Muitos são os fatores inerentes a uma neste mesmo território. concepção solucionadora de inúmeras patologias Segundo Diaz (2002) é iminente a precisão de sociais e ambientais provenientes de mecanismos de romper definitivamente com a filosofia do crescimento desenvolvimento econômico. Através da concepção ilimitado, uma vez que, o desenvolvimento insustentável capitalista da economia, a sociedade e o meio apresentará seu limite de esgotamento em tempos ambiente estão imersos em uma rede entrelaçada breves caso as tendências sociais e econômicas de custos privados e sociais; os custos ambientais em não sejam transformadas em prol do bem estar da particular, pelas situações de poluição, e incremento população mundial. da produção diferenciam os custos privados dos custos Logo, mediante os “impasses gerados por essa sociais. Todavia a importância dos últimos, em grande conjuntura social, faz-se extremamente urgente uma maioria dos estudos, é relegada a um segundo plano rediscussão sobre normas, valores, orientações culturais 24
  • 25. e formas de conhecimento em todas as sociedades. A diferentes tempos. A iminência de tais transformações crise ambiental é, com certeza, a maior razão para que faz notória a insustentabilidade do antigo paradigma isso ocorra com amplitude e profundidade” (ZIONI, desenvolvimentista. Por essa evolução da importância 2005, p.56). da questão ambiental através da economia, Uma nova interpretação sobre o funcionamento vislumbram-se as decisões políticas e econômicas econômico no mundo é necessária. Mesmo que sendo alinhadas a preceitos sustentáveis. algumas ações voluntárias ocorram por empresas Os interesses econômicos coincidem com e governantes, ainda sim são insatisfatórias, pois é os ecológicos em um quadro de desenvolvimento reconhecida a capacidade econômica das nações sustentável que foca o longo prazo, pois os recursos de apresentarem, conforme Montibeller (2007), um são limitados e esgotáveis. Entretanto, no paradigma comportamento menos agressivo à natureza somente anterior os cálculos eram fundamentados na quando pressionadas por externalidades com poder minimização dos custos privados e na ótica neoclássica de regulação. da economia que até recentemente não inseriam os Meio ambiente e economia entrelaçam- custos e benefícios sociais nas contas capitalistas. se no campo teórico e econômico. Há uma série Os institucionalistas integram as discussões de denominações tais como economia ambiental, econômicas e ambientais, ao adicionarem custos economia ecológica, economia humana, em que e benefícios sociais à análise econômica das cada uma representa uma abordagem explicativa do organizações (EHLERS, 2007; NORTH, 1990). problema. Todavia, o que mais interessa é a dimensão Porém, a essência da sustentabilidade tem de econômica associada às questões ambientais, por ser ser compreendida, no intuito de evitar falsas situação fundamental na formulação de diretrizes de interpretações a ações não condizentes com atuação do governo, das empresas e dos cidadãos valores éticos, ambientais e representativos de uma para a própria compreensão dos fatos e das relações responsabilidade social corporativa. sociais, culturais e políticas (CALDERONI, 2004). Segundo Brunacci e Philip Jr.(2005, p.268), O paradigma da sustentabilidade, então, há “a possibilidade de um entendimento pragmático emerge entendido como aquele que e imediatista que conduz ao risco de se implantar um programa de sustentabilidade do desenvolvimento expressa hoje o desejo de quase todas as sociedades, como sutil desdobramento de uma política moldada em qualquer parte do mundo, por uma situação em que por um sistema capitalista ainda conservador e o econômico, o social e o ambiental sejam tomados de predatório”. Assim, iniciativas que envolvam políticas, maneira equânime. Então, não basta apenas haver cres- cimento econômico, avanço tecnológico e as instituições; instituições, tratados ou acordos internacionais, e, sim, pensar na revolução tecnológica e no arcabouço interessados na problemática ambiental e abordagem institucional objetivando o bem-estar social com a ampli- sustentável, devem ser capazes de transpor as barreiras tude a este inerente (MONTIBELLER, 2007, p.59). físicas no intuito de se obter uma maior eficácia na resolução de calamidades. Observa-se a ocorrência de um crescimento Flora, fauna, microorganismos, atmosfera, solo, econômico pautado por características de água e formas geológicas formam os ecossistemas. Os sustentabilidade, logo, o vocábulo ‘sustentável’, em componentes se ligam mediante cadeias alimentares, palavras de Brunacci e Philip Jr. (2005, p.274), ao ciclos minerais e hidrológicos e pela circulação de qualificar o tipo de desenvolvimento que se deseja energia. Há um equilíbrio dinâmico que pode ser “deve ser aplicado à realidade ambiental do presente”. alterado com o uso intensivo e desordenado dos Dentro desse aparato interpretativo, as elementos e a deposição de resíduos. A intervenção mudanças institucionais tornam-se necessárias, humana e a produção capitalista, em particular, uma vez que as instituições precisam ser eficientes modificaram os sistemas produtivos, os conhecimentos no atendimento pleno dos anseios originados em científicos e tecnológicos (BORINELLI, 2007). 25
  • 26. A resposta ao uso desordenado dos recursos organizações com poder de atuação local, regional, naturais e a crescente demanda por energia tem de nacional e internacional (CLAPP 2005). E uma terceira , ocorrer por uma ótica capaz de abranger as diferenças vertente solucionadora pode advir das transformações e especificidades entre as nações, de maneira geradas pelas nanociências, nanobiotecnologias e que, uma intervenção em favor da humanidade e nanotecnologias, em geral (MARTINS, 2005). do meio ambiente seja aceita como verdade, e, conseqüentemente, como um apoio ao acontecimento 3. A convergência tecnológica como do desenvolvimento sustentável. Os vieses ambientais fenômeno exigente de uma governança não são de responsabilidade exclusiva das nações, multilateral e global sobre os anseios das empresas e da humanidade, mas de todos os que do paradigma de sustentabilidade: a habitam e agem intensivamente sobre o planeta Terra. nanotecnologia na Europa Como afirmou MacNeill e outros autores (1992, p.16) “o mundo avançou agora da interdependência Convergência tecnológica caracteriza, segundo econômica para a interdependência ecológica – e Sáenz e Souza-Paula (2008), o moderno processo de até, para além desta, para um entrelaçamento entre avanço do conhecimento e inovação já estabelecido ambas”. em um elevado nível de complexidade, o qual, não Tanto é verdade que, “o sistema climático permite a separação entre o teor científico e técnico global possui um alto grau de inércia e cria uma pela prerrogativa intensa de inserir nas discussões grande defasagem entre as alterações nas emissões as relações dialéticas entre ciência, tecnologia e e as consequências sobre os sistemas naturais, o que sociedade. significa que, quando se descobre que uma catástrofe A interação temática é imprescindível, pois a vai acontecer, talvez seja tarde demais para evitá-la” (LA partir das novas tecnologias surgem implicações sociais TORRE; FAJNZYLBER; NASH, 2009, p.20). Questões a serem analisadas por um processo criterioso, através ambientais, tal como a mudança climática, incorporarão de metas estabelecidas, ao vislumbrar os benefícios custos significativos à humanidade e aos ecossistemas. sociais, e as possíveis consequências inesperadas, A amenização desses efeitos pode ocorrer através de por meio de uma combinação dos possíveis riscos possíveis ações globais solucionadoras, pois iniciativas prospectados em diferentes cenários. Para Roco (2008) individuais serão muito limitadas, implementadas com tais adversidades apresentam-se como influentes em grande atraso, e realizadas por países e organizações diversas áreas, tais como economia, ambiente, saúde, inadequadas. Nesse sentido, quais seriam as possíveis educação, ética, moral e filosofia. soluções à crise ambiental? Por esse entrelaçamento de ideologias e Zioni (2005) aponta o novo paradigma de ciências, constata-se a busca por um mecanismo sustentabilidade para a solução dos problemas organizador, tal como uma governança global e e desequilíbrios evidenciados, o qual deve partir multilateral capaz de abranger, compreender e da crítica do conhecimento existente, e evoluir do institucionalizar convergências tecnológicas livres de monoculturalismo ao multiculturalismo de tal forma atuações prejudiciais a qualquer ordem ambiental que o domínio global da ciência moderna não possa e social. Para tanto, um sistema politicamente silenciar os outros saberes, e assim, emancipe-se um democrático, consenso social e conhecimento da conhecimento que consiga discernir a objetividade da engenharia econômica do sistema promovem um neutralidade. quadro agradável à implantação de uma eficaz Por esse contexto, a reforma ecológica torna-se governança. uma solução viável e equacionadora do problema da Caberá a esse sistema de governança, de degradação ambiental (GIDDENS apud BORINELLI, acordo com Roco (2008), a adaptação das instituições 2007, p.7). Uma segunda solução está nos e organizações já existentes; o estabelecimento de programas de responsabilidade social adotados por novos programas, regulamentações e organizações 26
  • 27. interessadas em propagar inovações não promotoras e comercialização dos produtos. Através da de prejuízos ao meio; a promoção de mecanismos figura, é possível verificar que cada ciclo gera de legitimação de tais mudanças por vias políticas e novas classes de produtos, os quais determinam institucionais; e, a realização de parcerias e acordos diferentes implicações sociais e exigem diversos internacionais. patamares de decisões. Pelo fato de transformações Conforme Sáenz e Souza-Paula (2008), os fundamentais ocorrerem sobre os conhecimentos processos que envolvem tal anseio são essencialmente implícitos em cada ciclo, estabelece-se um sistema dinâmicos e cumulativos e, para acompanhar a aberto em termos tecnológicos e socioeconômicos evolução de tais convergências tecnológicas é de (ROCO, 2008). extrema importância que as ações ocorram de forma As questões éticas devem constar como contínua, rápida e flexível. A governança multilateral objetos de monitoramento e discussões, desde e global deve preparar-se para antever os riscos o início de um projeto até as avaliações ex-post. complexos e de elevado impacto negativo dos tipos As avaliações dessas tecnologias, por meio de social e ambiental. A figura 1 mostra a representação um mecanismo regulador de governança, devem de um sistema de governança baseado nos critérios ocorrer no entorno de tais inovações e considerar inseridos na realidade das convergências tecnológicas todos os respectivos ciclos, ao levar em conta (ROCO, 2008). sua disposição futura e confluentes efeitos ao Os processos de decisões sobre as questões meio, oriundos de suas manufaturas e operações de convergências tecnológicas seguem um ciclo de (ROCO, 2008). interferências aberto, constituído por etapas que Em todo esse processo, é imprescindível levam desde a pesquisa até a efetiva fabricação a análise da presença dos fatores envolvidos Figura 1 – Sistemas abertos em uma governança de convergências tecnológicas Fonte: adaptado de ROCO, 2008. 27
  • 28. em uma governança de risco, para amparar Dentre as novas tecnologias, destaca-se a as decisões e as ações tomadas no intuito de importância da nanotecnologia. Nano é um prefixo amenização das patologias sociais e ambientais. usado nas ciências para designar uma parte em um Tal sistemática é de extrema importância nos casos bilhão e, assim, um nanômetro (1nm) corresponde constatados com altos riscos, cuja redução dos a um bilionésimo de um metro. Dado o seu caráter mesmos exige a coordenação e colaboração de integrador, convergente e por caracterizar-se por inúmeros stakeholders. As decisões unilaterais se inovações concentradas no tempo, poderá gerar apresentam como ineficazes e inaplicáveis, pois, a um processo de destruição criadora atenuando os disseminação de novas tecnologias promove uma impactos do uso intensivo dos fatores produtivos, interferência dos possíveis riscos nas esferas social, gerando redução do consumo energético e, ambiental, tecnológica, e, com maior evidência possivelmente, uma revolução produtiva (SÁENZ; na dinâmica evolutiva e interativa de todo o SOUZA-PAULA, 2008). sistema social. As convergências tecnológicas, Para Martins (2005), as nanotecnologias por exemplo, focam suas prioridades sobre os validam a necessidade de uma governança global possíveis benefícios a serem gerados nos âmbitos e multilateral, pois, somente por um mecanismo individuais e sociais. Os parâmetros de sucesso como esse, será possível gerenciar os benefícios para essas redes de empresas e instituições são econômicos, sociais e ambientais oriundos de tais os indicadores de qualidade de vida, saúde, inovações. Suas aplicabilidades implicam diminuir segurança, e, principalmente, a análise de como os problemas ambientais nos processos produtivos, se dá a distribuição desses resultados sociais a ou seja, responsabilizam-se por eliminar os conflitos todos os seres humanos inseridos em um modelo sociais fundamentados em questões de prejuízos à democrático. Roco (2008) apresenta, através natureza. da figura 2, quais são os atores afetados pelas Entretanto Schnaiberg (2005) assume que convergências tecnológicas. tudo o que for apresentado e produzido pelo setor Figura 2 – Visão geral de uma governança de convergência tecnológica Fonte: adaptado de ROCO, 2008. 28