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Música e tecnologia sempre foram entrelaçadas. A medida em que a produção dos
instrumentos, a gravação dos sons, e os meios de distribuição mudaram, o mundo da música
também mudou.
A tecnologia tornou-se decisiva para a produção de música desde a era industrial em alguns
pontos importantes. Um é a criação de novos tipos de instrumentos, que não podiam ser
feitos antes.
O piano moderno depende de técnicas do aço que não estavam disponíveis até meados do
século XIX, e instrumentos como o saxofone moderno e a flauta moderna são alta tecnologia, à
maneira do século XIX.
Uma outra forma na qual a tecnologia se tornou essencial, foi na invenção da reprodução do
som. Simplesmente antes de 1890, a música desaparecia no ar. Era preciso lembrar como
alguém tocou qualquer coisa que você ouviu uma vez na vida, porque nunca mais ouviria de
novo.
Podendo reproduzir aquele som, você pode armazená-lo devido à tecnologia da reprodução.
Foi uma profunda e ampla mudança ocorrida na música, depois de um milhão de anos de
existência humana.
A invenção do tubo a vácuo foi no início do século. O rádio veio a seguir. E a música foi
entregue a uma plateia diferente, muito mais ampla. E tudo mudou. Não foi a primeira vez.
Quando você passa de cantar a fazer instrumentos, já se envolveu com a tecnologia.
Eu vi um artigo há anos sobre uma flauta de osso. Dizia o arqueólogo: “Ora, eu não sabia que
as pessoas faziam alguma coisa naquele tempo.”. Um dos primeiros avanços tecnológicos foi
essa flauta de osso. Foi feita nos limites da tecnologia disponível para os primitivos
humanoides. Durante milênios e até hoje, os instrumentos estavam e permanecem, de certo
modo, na vanguarda da tecnologia.
A flauta é um dos instrumentos mais antigos do mundo. Com o tempo, sua construção,
flexibilidade e som, foram sendo determinados pela tecnologia disponível aos que construíam
os instrumentos. A produção de flautas foi e continua sendo um casamento da arte com a
tecnologia...
...A evolução das tecnologias de precisão possibilitou uma espécie de padrão. Em qualquer
canto do mundo você viu o mesmo A440 num instrumento que está tocando. E esta
padronização favoreceu os conjuntos musicais, permitindo que os mais variados
instrumentistas toquem juntos.
O instrumento musical pode ser feito de algo muito simples. E ainda ter a força da expressão
profunda.
Parece que só no mundo europeu ou americano as pessoas pensam nos instrumentos como
um item industrializado. Em outras partes do mundo, o aspecto espiritual do instrumento é
muito mais importante. Os instrumentistas tratam seus instrumentos com grande zelo. Em
muitas sociedades, libações e cerimônias são preparadas enquanto o instrumento está sendo
feito, e quando terminado. Há uma espécie de alma no instrumento, que o músico tem a
responsabilidade de buscar. Porque o instrumento é um objeto, mas não o objetivo. A música
sempre é o objetivo do instrumento.
A tecnologia sempre exerceu um impacto fundamental na construção dos instrumentos
musicais, mas nestes 100 anos, também influenciou que música ouvimos, e como a ouvimos.
Em 1877, Tomas Edison projetou a primeira máquina capaz de reproduzir o som. Assim nasceu
o processo da gravação acústica.
O primeiro fonógrafo usou o papel estanhado como meio de gravação. Na época, Edison
trabalhava no aperfeiçoamento do telefone de Alexander Graham Bell, e no desenvolvimento
de um telégrafo gravador. Uniu as duas ideias e fez, essencialmente, um telefone gravador.
Quem falasse no estúdio de gravação da era de Edison, não usaria microfone. Em vez de
microfone, usava-se a corneta acústica, ou corneta de gravação. Era o que captava os sons e
transferia as ondas sonoras para o disco de gravação.
Com cantores cantando ou orquestra tocando, o ar da sala vibrava. A corneta acústica captava
as ondas sonoras e as transferia através da pressão do som, para uma agulha que sulcava as
vibrações sonoras no disco. Os músicos realmente tinham que tocar para o equipamento.
Assim, preparava-se o equipamento de gravação e os músicos colocavam-se depois em volta
da corneta acústica. Por exemplo, quem fosse fazer um solo, chegava perto da corneta. Quem
não tocasse solo, devia afastar-se da corneta. A maior limitação era que só os sons fortes
sulcavam o disco. Por exemplo: instrumentos como o violão ou violino eram difíceis de gravar.
A solução na virada do século e por vários anos foi muitos estúdios de gravação, incluindo
Edson, usarem um tipo de violino desenhado na Inglaterra, que usava um diafragma
fonográfico e uma corneta fonográfica, tornando o violino um instrumento essencialmente de
corneta.
Como tudo, a tecnologia pode ser usada muito bem ou muito mal. Um dos pontos negativos
associados à tecnologia tem sido na homogeinização de estilos tocados na Irlanda e no resto
do mundo, onde se toca música irlandesa.
Antes do rádio e do fonógrafo, o estudo da música era muito, muito regional. Lembre-se de
que apenas há uns cem anos pouca gente saía dos limites da sua pequena aldeia. Sabia de
onde a pessoa era, só de ouvi-la tocar. Nem era preciso ouvi-la falar.
A partir de 1920, muitos músicos foram gravados nesse país. Michel Coleman foi certamente o
músico irlandês mais influente do século XX. Os velhos cilindros de cera e 78’s que ele fez em
Nova Iorque, voltaram para a Irlanda e mudaram o modo de tocar o violino. As pessoas
imitavam Coleman, vindo de Sligo, de Cork, ou de Donegal. Já não se podia dizer de onde vinha
a pessoa só de ouvi-la tocar. Foi o começo, o início da homogeinização. De modo positivo, a
tecnologia ajudou a música, porque há um grande número de gravações da boa música de lá
tocada para um público maior.
Há muitos anos, as gravações fonográficas eram sulcadas direto na cera. Na sala a agulha
sulcava a peça original na cera, que precisava estar muito mole, portanto bem quente. Os
músicos antigos contam histórias desse tempo em que tiravam quase toda a roupa para entrar
na sala e gravar durante 3 minutos. A sala a 50ºC ficava suficientemente quente a cera
amolecer e poder ser cortada pela agulha. Tudo era feito na hora.
Hoje é tudo fácil. Temos estúdios com ar condicionado e esse instrumento nem precisa de
microfone. Só sai de um fio diretamente para o gravador em fita.
Com o advento da gravação em trilhas múltiplas, você pode gravar várias vezes num pedaço de
fita sem apagar o que já foi feito. Cada pessoa grava numa trilha diferente nesta fita. O
gravador está me gravando não nas duas polegadas da largura da fita, mas em 1 oitavo de
polegada.
Veja o que chamamos de pista sonora. Vemos todos os sons de cada um dos músicos, quando
estão tocando e quando não estão. Digamos que o conjunto toca uma peça de 5 minutos e
todo mundo gostou do que tocaram. Foi perfeito. Mas uma pessoa cometeu um deslize,
errando uma nota ou um dedo escorregou e tocou numa nota errada, só uma nota. Temos a
capacidade de corrigir. Digamos por exemplo que ele quis tocar isto:... e saiu isto:... O gravador
pode voltar atrás, depois do erro, para fazer o corte indicado, ou a edição.
Foi gravado ou foi ensaio? Muito bem, então vamos tocar e fazer a edição.
E agora, antes de ser gravado, vamos tocar de novo. Só a parte daquele músico. Assim que
começar a gravar, vai ser só o que estão tocando agora. Nós agora só temos que tocar o que já
foi tocado, menos o erro.
É isso aí. Deu pra pegar? Não é difícil, não.
A tecnologia permitiu que o baixo sobressaísse. Tradicionalmente ele sempre foi um
instrumento de apoio.
Tocando discos antigos, dificilmente ouvimos o toque do baixo. Com a criação do baixo
elétrico, o instrumento ficou muito mais forte. A linha do baixo passou a participar muito mais
do todo que o público ouve. É claro que existe aí um sentido duplo que a tecnologia no estúdio
teoricamente nos dá a possibilidade de fazer tudo perfeito, criando portanto, uma nova forma
de arte. Gravar um disco e tocar ao vivo são coisas diferentes. Creio que essa foi a primeira
coisa que aprendi como músico. No estúdio, tive de aprender a criar um ambiente diferente,
sem a energia da plateia. Sem a energia para aperfeiçoar minha performance ao vivo. Mas
você ainda está criando a música. O desafio do músico de jazz é manter a mesma emoção que
sente ao vivo.
Existe um código ou linguagem universal com que muitos instrumentos operam. É a linguagem
digital chamada midi, M-I-D-I. Com esse código universal tenho a capacidade de tocar este
teclado e controlar sons talvez de outras fontes ou outros teclados.
Muitos dos diferentes sons que tirei deste instrumento vieram do chamado “sintetizador”. Em
certo ponto, havia um microfone dentro do verdadeiro piano. Foi feita uma gravação
convertida em código digital e, por meio da linguagem midi, ela é tocada neste instrumento.
Mesmo podendo parecer exagerado, gostaria de tocar outra peça sobre esta. A tecnologia de
sintetização abre uma Caixa de Pandora para os músicos. Agora, se eu posso tocar o som dos
violinos, talvez não precise mais ter uma ala de violinos. Então, de certo modo, mudou. Foi um
facilitador, por assim dizer. Mudou a maneira de se fazer música.
Comparo a experiência no estúdio ao ato de tocar o próprio instrumento. Todo instrumento
musical é uma espécie de engenhoca e, em muitos aspectos, o gravador está quase virando
outro instrumento musical.
Torna cada músico uma espécie de maestro, compositor, arranjador. Proporciona a cada
músico a capacidade de fazer tudo isso. Assim quase recuamos 500 anos aos dias em que
menestrel errante tinha que escrever sua própria ária e ir de aldeia e aldeia e tocar qualquer
instrumento que fosse possível. Ele era o show completo.
Completei o curso secundário em 1960 e não tinha um gravador. Eu não tinha tecnologia.
Estúdio de música eletrônica eram os osciladores tirados do laboratório de física. Não havia
sintetizadores feitos para músicos. Este aqui é um sintetizador ARB. Quantos já foram feitos?
300? 400? Talvez mil, desse modelo grande. Aqui em frente, um sintetizador Kurzweil.
Centenas de milhares foram feitos para consumidores. E, claro, a síntese liga-se à computação.
Uma forma de executar uma peça, é fazer a peça no sintetizador, gravando o andamento no
computador. Sem anotações, sem tocar e tocar. Gostei, não goste, vamos de novo. Gravar
novamente no computador, e em sequência.
Aos poucos, percebi que a música que eu compunha era moldada pela tecnologia usada para
escrevê-la. O processo tornou-se meio passivo. Era mais ouvir e menos escrever. ... me senti
irritado, perdendo o controle da composição. Então voltei ao papel e lápis e, pouco depois,
decidi retornar. Logo percebi que podia trabalhar alternando as duas maneiras. Todos os
instrumentos desenvolveram-se tecnologicamente e, devagar, foram mudando. O importante
a lembrar é que não ficaram melhor. A tecnologia melhora, mas a música da idade média é tão
forte e tão boa quanto a do século XX. Eu sei que alguns diriam: é melhor. Não há progresso na
música ou em qualquer das artes, mas há mudanças, certamente dirigidas, mais do que tudo,
pelas mudanças na tecnologia.
Extraído de un documental de los años 90´s
Transcripción: Prof. Noris Blank

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Música e tecnologia sempre foram entrelaçadas

  • 1. Música e tecnologia sempre foram entrelaçadas. A medida em que a produção dos instrumentos, a gravação dos sons, e os meios de distribuição mudaram, o mundo da música também mudou. A tecnologia tornou-se decisiva para a produção de música desde a era industrial em alguns pontos importantes. Um é a criação de novos tipos de instrumentos, que não podiam ser feitos antes. O piano moderno depende de técnicas do aço que não estavam disponíveis até meados do século XIX, e instrumentos como o saxofone moderno e a flauta moderna são alta tecnologia, à maneira do século XIX. Uma outra forma na qual a tecnologia se tornou essencial, foi na invenção da reprodução do som. Simplesmente antes de 1890, a música desaparecia no ar. Era preciso lembrar como alguém tocou qualquer coisa que você ouviu uma vez na vida, porque nunca mais ouviria de novo. Podendo reproduzir aquele som, você pode armazená-lo devido à tecnologia da reprodução. Foi uma profunda e ampla mudança ocorrida na música, depois de um milhão de anos de existência humana. A invenção do tubo a vácuo foi no início do século. O rádio veio a seguir. E a música foi entregue a uma plateia diferente, muito mais ampla. E tudo mudou. Não foi a primeira vez. Quando você passa de cantar a fazer instrumentos, já se envolveu com a tecnologia. Eu vi um artigo há anos sobre uma flauta de osso. Dizia o arqueólogo: “Ora, eu não sabia que as pessoas faziam alguma coisa naquele tempo.”. Um dos primeiros avanços tecnológicos foi essa flauta de osso. Foi feita nos limites da tecnologia disponível para os primitivos humanoides. Durante milênios e até hoje, os instrumentos estavam e permanecem, de certo modo, na vanguarda da tecnologia. A flauta é um dos instrumentos mais antigos do mundo. Com o tempo, sua construção, flexibilidade e som, foram sendo determinados pela tecnologia disponível aos que construíam os instrumentos. A produção de flautas foi e continua sendo um casamento da arte com a tecnologia... ...A evolução das tecnologias de precisão possibilitou uma espécie de padrão. Em qualquer canto do mundo você viu o mesmo A440 num instrumento que está tocando. E esta padronização favoreceu os conjuntos musicais, permitindo que os mais variados instrumentistas toquem juntos.
  • 2. O instrumento musical pode ser feito de algo muito simples. E ainda ter a força da expressão profunda. Parece que só no mundo europeu ou americano as pessoas pensam nos instrumentos como um item industrializado. Em outras partes do mundo, o aspecto espiritual do instrumento é muito mais importante. Os instrumentistas tratam seus instrumentos com grande zelo. Em muitas sociedades, libações e cerimônias são preparadas enquanto o instrumento está sendo feito, e quando terminado. Há uma espécie de alma no instrumento, que o músico tem a responsabilidade de buscar. Porque o instrumento é um objeto, mas não o objetivo. A música sempre é o objetivo do instrumento. A tecnologia sempre exerceu um impacto fundamental na construção dos instrumentos musicais, mas nestes 100 anos, também influenciou que música ouvimos, e como a ouvimos. Em 1877, Tomas Edison projetou a primeira máquina capaz de reproduzir o som. Assim nasceu o processo da gravação acústica. O primeiro fonógrafo usou o papel estanhado como meio de gravação. Na época, Edison trabalhava no aperfeiçoamento do telefone de Alexander Graham Bell, e no desenvolvimento de um telégrafo gravador. Uniu as duas ideias e fez, essencialmente, um telefone gravador. Quem falasse no estúdio de gravação da era de Edison, não usaria microfone. Em vez de microfone, usava-se a corneta acústica, ou corneta de gravação. Era o que captava os sons e transferia as ondas sonoras para o disco de gravação. Com cantores cantando ou orquestra tocando, o ar da sala vibrava. A corneta acústica captava as ondas sonoras e as transferia através da pressão do som, para uma agulha que sulcava as vibrações sonoras no disco. Os músicos realmente tinham que tocar para o equipamento. Assim, preparava-se o equipamento de gravação e os músicos colocavam-se depois em volta da corneta acústica. Por exemplo, quem fosse fazer um solo, chegava perto da corneta. Quem não tocasse solo, devia afastar-se da corneta. A maior limitação era que só os sons fortes sulcavam o disco. Por exemplo: instrumentos como o violão ou violino eram difíceis de gravar. A solução na virada do século e por vários anos foi muitos estúdios de gravação, incluindo Edson, usarem um tipo de violino desenhado na Inglaterra, que usava um diafragma fonográfico e uma corneta fonográfica, tornando o violino um instrumento essencialmente de corneta. Como tudo, a tecnologia pode ser usada muito bem ou muito mal. Um dos pontos negativos associados à tecnologia tem sido na homogeinização de estilos tocados na Irlanda e no resto do mundo, onde se toca música irlandesa. Antes do rádio e do fonógrafo, o estudo da música era muito, muito regional. Lembre-se de que apenas há uns cem anos pouca gente saía dos limites da sua pequena aldeia. Sabia de onde a pessoa era, só de ouvi-la tocar. Nem era preciso ouvi-la falar. A partir de 1920, muitos músicos foram gravados nesse país. Michel Coleman foi certamente o músico irlandês mais influente do século XX. Os velhos cilindros de cera e 78’s que ele fez em
  • 3. Nova Iorque, voltaram para a Irlanda e mudaram o modo de tocar o violino. As pessoas imitavam Coleman, vindo de Sligo, de Cork, ou de Donegal. Já não se podia dizer de onde vinha a pessoa só de ouvi-la tocar. Foi o começo, o início da homogeinização. De modo positivo, a tecnologia ajudou a música, porque há um grande número de gravações da boa música de lá tocada para um público maior. Há muitos anos, as gravações fonográficas eram sulcadas direto na cera. Na sala a agulha sulcava a peça original na cera, que precisava estar muito mole, portanto bem quente. Os músicos antigos contam histórias desse tempo em que tiravam quase toda a roupa para entrar na sala e gravar durante 3 minutos. A sala a 50ºC ficava suficientemente quente a cera amolecer e poder ser cortada pela agulha. Tudo era feito na hora. Hoje é tudo fácil. Temos estúdios com ar condicionado e esse instrumento nem precisa de microfone. Só sai de um fio diretamente para o gravador em fita. Com o advento da gravação em trilhas múltiplas, você pode gravar várias vezes num pedaço de fita sem apagar o que já foi feito. Cada pessoa grava numa trilha diferente nesta fita. O gravador está me gravando não nas duas polegadas da largura da fita, mas em 1 oitavo de polegada. Veja o que chamamos de pista sonora. Vemos todos os sons de cada um dos músicos, quando estão tocando e quando não estão. Digamos que o conjunto toca uma peça de 5 minutos e todo mundo gostou do que tocaram. Foi perfeito. Mas uma pessoa cometeu um deslize, errando uma nota ou um dedo escorregou e tocou numa nota errada, só uma nota. Temos a capacidade de corrigir. Digamos por exemplo que ele quis tocar isto:... e saiu isto:... O gravador pode voltar atrás, depois do erro, para fazer o corte indicado, ou a edição. Foi gravado ou foi ensaio? Muito bem, então vamos tocar e fazer a edição. E agora, antes de ser gravado, vamos tocar de novo. Só a parte daquele músico. Assim que começar a gravar, vai ser só o que estão tocando agora. Nós agora só temos que tocar o que já foi tocado, menos o erro. É isso aí. Deu pra pegar? Não é difícil, não. A tecnologia permitiu que o baixo sobressaísse. Tradicionalmente ele sempre foi um instrumento de apoio. Tocando discos antigos, dificilmente ouvimos o toque do baixo. Com a criação do baixo elétrico, o instrumento ficou muito mais forte. A linha do baixo passou a participar muito mais do todo que o público ouve. É claro que existe aí um sentido duplo que a tecnologia no estúdio teoricamente nos dá a possibilidade de fazer tudo perfeito, criando portanto, uma nova forma de arte. Gravar um disco e tocar ao vivo são coisas diferentes. Creio que essa foi a primeira coisa que aprendi como músico. No estúdio, tive de aprender a criar um ambiente diferente, sem a energia da plateia. Sem a energia para aperfeiçoar minha performance ao vivo. Mas você ainda está criando a música. O desafio do músico de jazz é manter a mesma emoção que sente ao vivo.
  • 4. Existe um código ou linguagem universal com que muitos instrumentos operam. É a linguagem digital chamada midi, M-I-D-I. Com esse código universal tenho a capacidade de tocar este teclado e controlar sons talvez de outras fontes ou outros teclados. Muitos dos diferentes sons que tirei deste instrumento vieram do chamado “sintetizador”. Em certo ponto, havia um microfone dentro do verdadeiro piano. Foi feita uma gravação convertida em código digital e, por meio da linguagem midi, ela é tocada neste instrumento. Mesmo podendo parecer exagerado, gostaria de tocar outra peça sobre esta. A tecnologia de sintetização abre uma Caixa de Pandora para os músicos. Agora, se eu posso tocar o som dos violinos, talvez não precise mais ter uma ala de violinos. Então, de certo modo, mudou. Foi um facilitador, por assim dizer. Mudou a maneira de se fazer música. Comparo a experiência no estúdio ao ato de tocar o próprio instrumento. Todo instrumento musical é uma espécie de engenhoca e, em muitos aspectos, o gravador está quase virando outro instrumento musical. Torna cada músico uma espécie de maestro, compositor, arranjador. Proporciona a cada músico a capacidade de fazer tudo isso. Assim quase recuamos 500 anos aos dias em que menestrel errante tinha que escrever sua própria ária e ir de aldeia e aldeia e tocar qualquer instrumento que fosse possível. Ele era o show completo. Completei o curso secundário em 1960 e não tinha um gravador. Eu não tinha tecnologia. Estúdio de música eletrônica eram os osciladores tirados do laboratório de física. Não havia sintetizadores feitos para músicos. Este aqui é um sintetizador ARB. Quantos já foram feitos? 300? 400? Talvez mil, desse modelo grande. Aqui em frente, um sintetizador Kurzweil. Centenas de milhares foram feitos para consumidores. E, claro, a síntese liga-se à computação. Uma forma de executar uma peça, é fazer a peça no sintetizador, gravando o andamento no computador. Sem anotações, sem tocar e tocar. Gostei, não goste, vamos de novo. Gravar novamente no computador, e em sequência. Aos poucos, percebi que a música que eu compunha era moldada pela tecnologia usada para escrevê-la. O processo tornou-se meio passivo. Era mais ouvir e menos escrever. ... me senti irritado, perdendo o controle da composição. Então voltei ao papel e lápis e, pouco depois, decidi retornar. Logo percebi que podia trabalhar alternando as duas maneiras. Todos os instrumentos desenvolveram-se tecnologicamente e, devagar, foram mudando. O importante a lembrar é que não ficaram melhor. A tecnologia melhora, mas a música da idade média é tão forte e tão boa quanto a do século XX. Eu sei que alguns diriam: é melhor. Não há progresso na música ou em qualquer das artes, mas há mudanças, certamente dirigidas, mais do que tudo, pelas mudanças na tecnologia. Extraído de un documental de los años 90´s Transcripción: Prof. Noris Blank