O documento descreve um mercado de concorrência perfeita onde sete empresas competem para vender uma versão do produto ALFA, fazendo com que o preço desça gradualmente de 200€ para 128€. Mais três empresas entram no mercado, levando o preço a cair para 120€ e forçando algumas empresas a unirem-se ou saírem do mercado. O documento explica os pressupostos da concorrência perfeita, como a homogeneidade dos produtos e a liberdade de entrada e saída no mercado.
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Concorrência Perfeita: Pressupostos e Funcionamento de um Mercado Ideal
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1. A concorrência perfeita - Introdução
Uma pesquisa levou uma empresa, a empresa A, a desenvolver um novo produto, o produto ALFA, um
produto inovador e diferenciado e, a lançá-lo no mercado.
O lançamento foi um êxito e, assim, a empresa A fruto de ter arriscado, pôde gozar de um sucesso
comercial traduzido em vendas interessantes a um preço mais do que aliciante, 200€/unidade que lhe
assegurou margens, na diferença entre os custos e o preço de venda, acima dos 70%.
A empresa B, sempre atenta à evolução do mercado, reconheceu a boa jogada da empresa A e, por isso,
tratou de acelerar no mercado a introdução da sua versão do tal produto ALFA.
Assim, quando a empresa B finalmente lançou a sua versão do produto ALFA, para combater a força da
marca da empresa A, entretanto estabelecida, fê-lo a 190€/unidade.
A marca A sentiu o toque e, para minimizar estragos na sua quota de mercado, decidiu igualar o preço
da marca B.
Entretanto, as empresas C e D, após a confirmação do êxito do lançamento do produto ALFA pelas
empresas A e B, resolveram também reclamar a sua quota de mercado, lançando cada uma a sua
própria versão do produto A a um preço muito competitivo, 150€/unidade.
Iniciou-se uma guerra de preços, envolvendo as quatro empresas que levou o preço do produto ALFA
para um valor médio próximo dos 137€/unidade.
Entretanto, mais três empresas, a empresa E, a F e a G, resolveram também entrar no mercado com as
suas versões do produto ALFA, algo que fez com que o preço médio do produto ALFA caísse ainda mais
para os 128€/unidade. A esse preço a empresa A desistiu da sua produção, por considerar que o retorno
do capital investido já não era o mais adequado.
Durante algum tempo o mercado manteve-se nessa espécie de equilíbrio em que 6 empresas
competiam entre si, pelas vendas da versão de cada um do produto ALFA, com um retorno do capital
investido relativamente baixo.
Então, a empresa G resolve avançar com uma proposta de aquisição da empresa F para, tirando partido
do aumento do volume de produção, poder reduzir os custos, aproveitando economias de escala e
sendo mais competitiva pelo preço.
Tal acção fez baixar o preço médio para 120€/unidade e levou as empresas B e C a unirem-se para fazer
face à empresa G, acção que por sua vez levou o preço para os 118€/unidade.
O relato acima descreve, de certa forma o funcionamento de um mercado assente no modelo da
concorrência perfeita.
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Qualquer livro de Economia não só descreve a concorrência perfeita como o modelo económico a
seguir, como associa a concorrência imperfeita a situações extremas, associadas a práticas monopolistas
formais, que devem ser evitadas num mercado que se quer livre.
Quais são os pressupostos em que assenta o modelo da concorrência perfeita?
A concorrência perfeita, considerada a estrutura ideal para o funcionamento de uma economia, concebe
o mercado como um espaço em que opera um grande número de vendedores/produtores/fornecedores
(de futuro usaremos a palavra fornecedor) e de compradores/clientes/consumidores (de futuro
usaremos a palavra cliente). Dessa forma, nenhum operador que actua no mercado, seja ele fornecedor
ou cliente, isoladamente, tem capacidade para influenciar quer a quantidade da oferta, quer o preço
que se atinge num estado de equilíbrio. Trata-se de um mercado atomizado em que os preços do
mercado formam-se livremente em função da relação entre a oferta e a procura, sem interferência
predominante de fornecedores ou clientes isolados.
Um mercado que segue o modelo da concorrência perfeita apresenta as seguintes características:
Grande número de fornecedores e de clientes, incapazes de, isoladamente, influenciarem o
preço;
Produtos homogéneos – não existe diferenciação entre os produtos oferecidos pelos
fornecedores. Os clientes podem, assim, adquirir o produto de qualquer fornecedor, com poucos
ou nenhuns sacrifícios associados a uma eventual troca de fornecedor;
Empresas com estruturas mais ou menos semelhantes;
Não existem barreiras à entrada no mercado, sejam de ordem económica ou legal. Por exemplo,
não existem direitos de propriedade ou patentes;
Transparência do mercado – as informações sobre lucros, preços e quantidades são instantâneas
e conhecidas por todos os participantes no mercado;
Os fornecedores e os clientes são “tomadores de preço”, sujeitam-se ao preço de mercado;
Os fornecedores procuram maximizar o seu lucro e os clientes a sua satisfação ou benefício e,
para isso, todos agem de forma racional;
O Estado não intervém – o Estado não intervém, deixa o mercado regular-se através da chamada
“mão invisível da concorrência”. Os preços são definidos pelo livre jogo da oferta e da procura.
Assim, o equilíbrio é sempre alcançado, no curto, no médio e no longo prazo.
Num mercado em concorrência perfeita não existem lucros anormais ou lucros extraordinários, mas
apenas os chamados lucros normais, que representam a remuneração implícita do empresário, igual à
rentabilidade média de mercado. As empresas tenderão a ser cada vez mais “iguais”, pois produzem
produtos semelhantes para clientes semelhantes, a preços semelhantes. As que não conseguem
acompanhar o ritmo saem do mercado.
Em concorrência perfeita, como o mercado é transparente, se existirem lucros extraordinários, isso
atrairá novos fornecedores para o mercado, já que não existem barreiras ao acesso. Com o aumento do
número de empresas no mercado e mantido constante o nível da procura, os preços tenderão a cair e,
consequentemente, também os lucros extraordinários, até que se retorne a uma situação onde só haja
lucros normais, cessando também a entrada de novas empresas nesse mercado
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Abraçando o modelo da concorrência perfeita, é fácil perceber por que é que o preço passa a assumir o
papel central no posicionamento dos produtos e serviços de uma empresa. O preço é a única forma de
diferenciação. Assim, a eficiência passa a ser o bezerro dourado adorado acima de tudo. O preço mais
baixo é a alavanca fundamental para seduzir os clientes, que agem sempre de forma racional. É esta
religião da eficiência que um mercado onde impera a concorrência perfeita impera.
Assim, os crentes na concorrência perfeita propõem todas as medidas que contribuam para a redução
de custos pois acreditam na curva da oferta vs procura (aqui simplificada para uma relação linear):
Figura 1 A relação entre o preço e a procura
Por isso, se uma empresa quer aumentar a quantidade procurada, para poder vender mais, tem de
reduzir o preço:
Figura 2 O efeito da redução do preço no aumento da procura
Se baixar o preço para P2 a quantidade procurada no mercado aumentará para Q2. Assim, as empresas
com futuro são as que concentram os seus esforços na redução dos custos internos. Ao serem mais
eficientes, podem praticar preços mais baixos e aumentar a procura. O aumento da procura, devido ao
efeito de escala, reduz ainda mais os custos fixos unitários, o que reforça ainda mais a competitividade,
criando uma espiral virtuosa.
As receitas dos economistas, dos comentadores e dos políticos, são uma consequência natural e directa
desta visão do mercado como um local onde opera a concorrência perfeita.
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Uma nota importante sobre a concorrência perfeita, haverá sempre a possibilidade de um potencial
concorrente aparecer do “nada” com um preço mais baixo. Algo que mexe com a quota de mercado de
todos os intervenientes estabelecidos, algo que pode fazer perigar a sobrevivência de todos os
intervenientes estabelecidos.
Carlos Pereira da Cruz
Promotor da concorrência imperfeita
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