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Pegadas de dinossáurios na serra do
Bouro – pegadas «estranhas»
Rodrigo Araújo, João Cazalta, Inês Chélinho, João Roboredo - 6º e 7º anos
Agrupamento de escolas de Paço de Arcos – Grupo de Paleontologia (GP)
Os saurópodes foram herbívoros muito bem sucedidos e dominantes em termos de
abundância numérica e de biomassa na maioria dos biomas terrestres do
Mesozóico médio e final.
https://books.google.pt/books?id=EzI_DAAAQBAJ&pg=PA134&lpg=PA134&dq=trackway+gauge+importance+for+sauropod+trackways&source=bl&ots=ch3a1ySMg_&sig=KW0tA22ybWZn-
mwt5dceQ8K406s&hl=pt-PT&sa=X&ved=0ahUKEwi-v97T7trSAhVIVhQKHS7PDvAQ6AEIRzAF#v=onepage&q=trackway%20gauge%20importance%20for%20sauropod%20trackways&f=false
http://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/08912963.2017.1315414
Com este trabalho pretendemos
descrever brevemente algumas
pegadas e pistas de dinossáurios
saurópodes e terópodes
encontradas na jazida de Bouro I, e
que podem revelar alguns aspetos
mais «intrigantes».
Os predadores, os dinossáurios
terópodes, naturalmente que os
acompanhavam.
António Xavier, professor nas Caldas da Rainha, descobriu em Dezembro de1995,
num pequeno afloramento calcário na Serra do Bouro, 3 ou 4 pegadas de
dinossáurios, no local conhecido por “Pedras Negras”.
Com trabalhos de limpeza e remoção de terras, os colegas do GP descobriram mais
pegadas nesse e de outros afloramentos, que surgem sempre num mesmo nível
calcário com bivalves marinhos datado do Jurássico superior (Kimmeridgiano, cerca
de 150 milhões de anos).
O nível carbonatado onde as
pegadas estão impressas,
sempre preservadas como
epirrelevos côncavos, indicam
que os dinossáurios
frequentavam zonas costeiras
marinhas, sob clima quente.
As grandes depressões são identificadas como pegadas de sauropodes pela
presença de várias sinapomorfias do grupo – grandes dimensões (pegadas de pés
alcançando os 80 cm de comprimento), postura quadrupede (mãos e pés), mão
elítica (presença de metacarpos com disposição semicircular) e impressões de
pés que se alargam anteriormente.
Dentro de Sauropoda, as pegadas
podem ser atribuídas a Eusauropoda
com base na presença de uma
impressão bem marcada do calcanhar
por detrás dos dígitos, indicadora de
uma almofada carnuda do pé, uma
caraterística diagnóstica do grupo.
As impressões dos dígitos / unguais das pegadas dos pés recurvadas para o exterior
da pista são uma caraterística exclusiva de Neosauropoda (ou de um grupo
relacionado de perto).
Salta à vista a aparente diferença entre a boa preservação das impressões dos pés,
onde são bem visíveis as marcas dos unguais / dígitos e a aparente má preservação
das pegadas das respetivas mãos, apenas como umas pequeníssimas depressões
em forma de meia lua, sem quaisquer detalhes, e que só a posição relativa às
impressões dos pés permitem confirmar que se trata de mãos.
As impressões das mãos estão localizadas muito perto da zona anterior das pegadas
dos pés, permitindo supor que possa ter ocorrido sobreposição parcial do autopode
posterior sobre a impressão deixada pela mão do mesmo lado do corpo – a pressão
exercida pela extremidade do membro posterior pode empurrar o substrato para a
frente, esbatendo, alterando, diminuindo as dimensões das pegadas das mãos, pelo
que a heteropodia real poderá ter sido inferior.
Em dezembro de 2004, os colegas do GP colocaram à vista um novo segmento de
pista de sauropode, confirmando pela primeira vez que os autores deixavam pistas
largas.
Mais uma vez, encontramos pegadas de pés com as impressões dos dígitos / unguais
bem preservadas, com rotação para fora da linha média da pista e pegadas de mãos
muito reduzidas, com forma de uma pequena meia-lua e sem qualquer detalhe de
dígitos / unguais.
Neste caso, o grande afastamento das impressões dos autopodes do mesmo lado do
corpo implica que a elevada heteropodia observada (cerca de 1 para 7) seja real e
não um artefacto .
Para distinguirmos pegadas / pistas de saurópodes podemos aplicar vários critérios:
1. Configuração das pistas – largura interna (muito largas, largas, estreitas);
2. Morfologia geral das pegadas
de mãos e de pés
50cm
3. Disposição das
impressões dos dígitos /
unguais, tanto de mãos
como de pés
4. Heteropodia – diferença de área entre as pegadas de mãos e de pés
Está confirmada a possibilidade de todas estas diferentes
caraterísticas se combinarem.
http://doc.rero.ch/record/31719/files/PAL_E1243.pdf
Pista de saurópode do Cretácico da Coreia
do Sul - a heteropodia é mínima (1 para 1,5)
A heteropodia conhecida varia entre 1:2
(como na pedreira do Galinha), 1:3 ( Texas)
e 1:5 (Colorado).
Mas a combinação pista larga com heteropodia muito elevada
(1:6 ou 1:7) não é conhecida a nível mundial.
Como é aceite que a origem das pistas largas deve estar nos
titanossauriformes, sugerimos que o autor poderá ser um
neosauropode titanossauriforme de um grupo ainda
desconhecido, com mão digítigrada de pequenas dimensões,
provavelmente de um grupo de titanossáurios avançado, pela
perda das falanges manuais.
Quem terá produzido
esta amostra de pegadas ?
Várias caraterísticas dos titanossauriformes sugerem que os autores das
pistas largas seriam saurópodes deste grupo.
A enorme saliência na parte
posterior interna do fémur, onde
este osso se encaixava na
abertura acetabular (seta a preto),
juntamente com a excentricidade
na diáfise média (grande elipse)
do fémur dos titanossauriformes
são caraterísticas que indicam
que estes saurópodes só
poderiam produzir pistas largas.
http://www-personal.umich.edu/~wilsonja/Titanosauria/Locomotion.html
Nos titanossauriformes mais avançados os condilos distais
do fémur estavam inclinados para fora, afastando os
membros posteriores para fora da linha média do corpo.
A estrutura global e largura das cinturas pélvica e escapular
indicam também que as pistas destes saurópodes só
poderiam ser largas.
http://skeletaldrawing.blogspot.pt/2011/11/gauging-stance-in-wide-gauge-sauropods.html?q=gauging
Descobrimos uma pista em que a morfologia da mão é totalmente diferente. Apresenta
uma forma distinta, em rim, com uma grande garra no digito I e integra uma pista
também larga.
Surgem dois segmentos de pistas de
saurópodes, com a mesma direção e
sentido. Um deles deixou impressão de
mão com um ungual I bem saliente. A
heteropodia aproxima-se de 1 para 3. O
outro saurópode deixou uma impressão de
mão mais reduzida (1:7), sem qualquer
detalhe de unguais, dígitos ou extremidade
distal dos metacarpos.Mapa das pegadas que ocorrem na zona
superior do «afloramento principal».
Sugerimos que, como ocorre na jazida de
Ardley (Jurássico médio de Inglaterra),
dois saurópodes distintos tenham
passado em conjunto na zona,
formando um grupo não monoespecífico,
como acontece com os grandes ungulados
em África (zebras e gnus).
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.0031-0239.2004.00366.x/pdf
Os terópodes deinonicossáurios são famosos através do “Velociraptor” –
possuem uma grande garra no digito II do pé, retráctil e hiperatrofiada, em forma de
foice, que funcionalmente não tocaria no solo – as suas pegadas serão didátilas.
Esta caraterística exclusiva só foi
reconhecida no registo icnológico em 1994.
Até hoje estão conhecidas 16 jazidas a nível
mundial com pegadas de terópodes didátilos,
atribuídas a dromaeossáurios ou a
troodontídeos, os dois subgrupos (apenas 2
na europa).
http://www.skeletaldrawing.com/home/at-long-last-utahraptor
Pegada didátila de terópode
deinonicossáurio – esquema e
fotogrametria (Cretácico, Colorado, EUA).
http://www.xinglida.net/pdf/Lockley%20et%20al%202016%20Colorado%20didactyl%20raptor.pdf
Identificámos no afloramento «principal» 2 pegadas sucessivas de um terópode,
correspondendo aos pés esquerdo e direito (a garra do digito III é sigmoidal nos
terópodes, recurvando para dentro da pista) .
Estão quase em linha reta e uma análise mais detalhada, apesar da má
preservação, permite reconhecer que a impressão do dígito II é muito curta. O que
pode representar a passagem do primeiro deinonicossáurio reconhecido em
Portugal.
Pé esquerdo e pé direito do terópode em que as impressões do dígito II são muito reduzidas.
Fotografia e esquema das duas pegadas consecutivas.
Para além da má preservação destas pegadas, colocam-se outros «problemas»:
. A amostra de pegadas didátilas conhecida abrange apenas o Cretácico
. As maiores pegadas didátilas reconhecidas têm 28 cm de comprimento – a nossa
amostra poderá ter um comprimento rondando os 30 – 35 cm
. As duas pegadas do Bouro estão afastadas cerca de 1,8 m. Assumindo um passo
seguinte ou anterior idêntico, o bípede deslocava-se a cerca de 19 km /h. Os
deinonicossáurios que deixaram pistas didátilas progrediam a velocidades
inferiores a 10 km/h.
Mas:
. Os deinonicossáurios devem ter a sua origem
no Jurássico médio.
. Alguns alcançavam dimensões compatíveis
com pegadas de 30 cm de comprimento.
. A maioria devia apresentar progressão rápida.
http://www.xinglida.net/pdf/Lockley%20et%20al%202016%20two%20toed%20tracks%20IUP%20b%20vol.pdf
Pegadas e pistas didátilas do Cretácico
da China.
Agradecemos
. Ao Dr. Anthony Martin
(fotografia da pedreira do
Galinha)
. À Direção do Agrupamento
que financiou em parte
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. A todos os colegas do GP

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Pegadas de dinossáurios na serra do Bouro - «pegadas estranhas»

  • 1. Pegadas de dinossáurios na serra do Bouro – pegadas «estranhas» Rodrigo Araújo, João Cazalta, Inês Chélinho, João Roboredo - 6º e 7º anos Agrupamento de escolas de Paço de Arcos – Grupo de Paleontologia (GP)
  • 2. Os saurópodes foram herbívoros muito bem sucedidos e dominantes em termos de abundância numérica e de biomassa na maioria dos biomas terrestres do Mesozóico médio e final. https://books.google.pt/books?id=EzI_DAAAQBAJ&pg=PA134&lpg=PA134&dq=trackway+gauge+importance+for+sauropod+trackways&source=bl&ots=ch3a1ySMg_&sig=KW0tA22ybWZn- mwt5dceQ8K406s&hl=pt-PT&sa=X&ved=0ahUKEwi-v97T7trSAhVIVhQKHS7PDvAQ6AEIRzAF#v=onepage&q=trackway%20gauge%20importance%20for%20sauropod%20trackways&f=false http://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/08912963.2017.1315414 Com este trabalho pretendemos descrever brevemente algumas pegadas e pistas de dinossáurios saurópodes e terópodes encontradas na jazida de Bouro I, e que podem revelar alguns aspetos mais «intrigantes». Os predadores, os dinossáurios terópodes, naturalmente que os acompanhavam.
  • 3. António Xavier, professor nas Caldas da Rainha, descobriu em Dezembro de1995, num pequeno afloramento calcário na Serra do Bouro, 3 ou 4 pegadas de dinossáurios, no local conhecido por “Pedras Negras”.
  • 4. Com trabalhos de limpeza e remoção de terras, os colegas do GP descobriram mais pegadas nesse e de outros afloramentos, que surgem sempre num mesmo nível calcário com bivalves marinhos datado do Jurássico superior (Kimmeridgiano, cerca de 150 milhões de anos). O nível carbonatado onde as pegadas estão impressas, sempre preservadas como epirrelevos côncavos, indicam que os dinossáurios frequentavam zonas costeiras marinhas, sob clima quente.
  • 5. As grandes depressões são identificadas como pegadas de sauropodes pela presença de várias sinapomorfias do grupo – grandes dimensões (pegadas de pés alcançando os 80 cm de comprimento), postura quadrupede (mãos e pés), mão elítica (presença de metacarpos com disposição semicircular) e impressões de pés que se alargam anteriormente. Dentro de Sauropoda, as pegadas podem ser atribuídas a Eusauropoda com base na presença de uma impressão bem marcada do calcanhar por detrás dos dígitos, indicadora de uma almofada carnuda do pé, uma caraterística diagnóstica do grupo.
  • 6. As impressões dos dígitos / unguais das pegadas dos pés recurvadas para o exterior da pista são uma caraterística exclusiva de Neosauropoda (ou de um grupo relacionado de perto).
  • 7. Salta à vista a aparente diferença entre a boa preservação das impressões dos pés, onde são bem visíveis as marcas dos unguais / dígitos e a aparente má preservação das pegadas das respetivas mãos, apenas como umas pequeníssimas depressões em forma de meia lua, sem quaisquer detalhes, e que só a posição relativa às impressões dos pés permitem confirmar que se trata de mãos.
  • 8. As impressões das mãos estão localizadas muito perto da zona anterior das pegadas dos pés, permitindo supor que possa ter ocorrido sobreposição parcial do autopode posterior sobre a impressão deixada pela mão do mesmo lado do corpo – a pressão exercida pela extremidade do membro posterior pode empurrar o substrato para a frente, esbatendo, alterando, diminuindo as dimensões das pegadas das mãos, pelo que a heteropodia real poderá ter sido inferior.
  • 9. Em dezembro de 2004, os colegas do GP colocaram à vista um novo segmento de pista de sauropode, confirmando pela primeira vez que os autores deixavam pistas largas. Mais uma vez, encontramos pegadas de pés com as impressões dos dígitos / unguais bem preservadas, com rotação para fora da linha média da pista e pegadas de mãos muito reduzidas, com forma de uma pequena meia-lua e sem qualquer detalhe de dígitos / unguais. Neste caso, o grande afastamento das impressões dos autopodes do mesmo lado do corpo implica que a elevada heteropodia observada (cerca de 1 para 7) seja real e não um artefacto .
  • 10. Para distinguirmos pegadas / pistas de saurópodes podemos aplicar vários critérios: 1. Configuração das pistas – largura interna (muito largas, largas, estreitas);
  • 11. 2. Morfologia geral das pegadas de mãos e de pés 50cm 3. Disposição das impressões dos dígitos / unguais, tanto de mãos como de pés
  • 12. 4. Heteropodia – diferença de área entre as pegadas de mãos e de pés Está confirmada a possibilidade de todas estas diferentes caraterísticas se combinarem. http://doc.rero.ch/record/31719/files/PAL_E1243.pdf Pista de saurópode do Cretácico da Coreia do Sul - a heteropodia é mínima (1 para 1,5) A heteropodia conhecida varia entre 1:2 (como na pedreira do Galinha), 1:3 ( Texas) e 1:5 (Colorado).
  • 13. Mas a combinação pista larga com heteropodia muito elevada (1:6 ou 1:7) não é conhecida a nível mundial. Como é aceite que a origem das pistas largas deve estar nos titanossauriformes, sugerimos que o autor poderá ser um neosauropode titanossauriforme de um grupo ainda desconhecido, com mão digítigrada de pequenas dimensões, provavelmente de um grupo de titanossáurios avançado, pela perda das falanges manuais. Quem terá produzido esta amostra de pegadas ?
  • 14. Várias caraterísticas dos titanossauriformes sugerem que os autores das pistas largas seriam saurópodes deste grupo. A enorme saliência na parte posterior interna do fémur, onde este osso se encaixava na abertura acetabular (seta a preto), juntamente com a excentricidade na diáfise média (grande elipse) do fémur dos titanossauriformes são caraterísticas que indicam que estes saurópodes só poderiam produzir pistas largas. http://www-personal.umich.edu/~wilsonja/Titanosauria/Locomotion.html Nos titanossauriformes mais avançados os condilos distais do fémur estavam inclinados para fora, afastando os membros posteriores para fora da linha média do corpo. A estrutura global e largura das cinturas pélvica e escapular indicam também que as pistas destes saurópodes só poderiam ser largas. http://skeletaldrawing.blogspot.pt/2011/11/gauging-stance-in-wide-gauge-sauropods.html?q=gauging
  • 15. Descobrimos uma pista em que a morfologia da mão é totalmente diferente. Apresenta uma forma distinta, em rim, com uma grande garra no digito I e integra uma pista também larga. Surgem dois segmentos de pistas de saurópodes, com a mesma direção e sentido. Um deles deixou impressão de mão com um ungual I bem saliente. A heteropodia aproxima-se de 1 para 3. O outro saurópode deixou uma impressão de mão mais reduzida (1:7), sem qualquer detalhe de unguais, dígitos ou extremidade distal dos metacarpos.Mapa das pegadas que ocorrem na zona superior do «afloramento principal».
  • 16. Sugerimos que, como ocorre na jazida de Ardley (Jurássico médio de Inglaterra), dois saurópodes distintos tenham passado em conjunto na zona, formando um grupo não monoespecífico, como acontece com os grandes ungulados em África (zebras e gnus). http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.0031-0239.2004.00366.x/pdf
  • 17. Os terópodes deinonicossáurios são famosos através do “Velociraptor” – possuem uma grande garra no digito II do pé, retráctil e hiperatrofiada, em forma de foice, que funcionalmente não tocaria no solo – as suas pegadas serão didátilas. Esta caraterística exclusiva só foi reconhecida no registo icnológico em 1994. Até hoje estão conhecidas 16 jazidas a nível mundial com pegadas de terópodes didátilos, atribuídas a dromaeossáurios ou a troodontídeos, os dois subgrupos (apenas 2 na europa). http://www.skeletaldrawing.com/home/at-long-last-utahraptor Pegada didátila de terópode deinonicossáurio – esquema e fotogrametria (Cretácico, Colorado, EUA). http://www.xinglida.net/pdf/Lockley%20et%20al%202016%20Colorado%20didactyl%20raptor.pdf
  • 18. Identificámos no afloramento «principal» 2 pegadas sucessivas de um terópode, correspondendo aos pés esquerdo e direito (a garra do digito III é sigmoidal nos terópodes, recurvando para dentro da pista) . Estão quase em linha reta e uma análise mais detalhada, apesar da má preservação, permite reconhecer que a impressão do dígito II é muito curta. O que pode representar a passagem do primeiro deinonicossáurio reconhecido em Portugal. Pé esquerdo e pé direito do terópode em que as impressões do dígito II são muito reduzidas.
  • 19. Fotografia e esquema das duas pegadas consecutivas.
  • 20. Para além da má preservação destas pegadas, colocam-se outros «problemas»: . A amostra de pegadas didátilas conhecida abrange apenas o Cretácico . As maiores pegadas didátilas reconhecidas têm 28 cm de comprimento – a nossa amostra poderá ter um comprimento rondando os 30 – 35 cm . As duas pegadas do Bouro estão afastadas cerca de 1,8 m. Assumindo um passo seguinte ou anterior idêntico, o bípede deslocava-se a cerca de 19 km /h. Os deinonicossáurios que deixaram pistas didátilas progrediam a velocidades inferiores a 10 km/h. Mas: . Os deinonicossáurios devem ter a sua origem no Jurássico médio. . Alguns alcançavam dimensões compatíveis com pegadas de 30 cm de comprimento. . A maioria devia apresentar progressão rápida. http://www.xinglida.net/pdf/Lockley%20et%20al%202016%20two%20toed%20tracks%20IUP%20b%20vol.pdf Pegadas e pistas didátilas do Cretácico da China.
  • 21. Agradecemos . Ao Dr. Anthony Martin (fotografia da pedreira do Galinha) . À Direção do Agrupamento que financiou em parte saídas de campo . Ao Programa Ciência Viva . A todos os colegas do GP