O documento discute a resistência à mudança que tendemos a desenvolver à medida que amadurecemos. Argumenta que, embora tenhamos potencial para crescimento, tendemos a usar apenas uma pequena parte de nossas capacidades. Defende que devemos ser mais flexíveis e abertos à mudança para podermos experimentar plenamente e promover o desenvolvimento humano.
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
Exemplo 4 escrita criativa - Mu(dar)
1. Contextualização do tema abordado
O trabalho baseia-se numa reflexão pessoal acerca da resistência à mudança
evidenciada por todos nós, que tende a desenvolver-se à medida que amadurecemos
cognitivamente. Tem inspiração em algumas ideias provenientes da Psicologia do
Desenvolvimento e da Psicologia Cognitiva, pretendendo realçar o potencial de
crescimento do qual dispomos e do que temos ao nosso alcance para conseguir
CRES(SER).
É resultado do interesse e estudo dirigidos à área da mudança
comportamental, da maximização das competências individuais e da qualidade de
vida, visando a promoção do desenvolvimento humano e social, visto vivermos num
sistema em constante interacção. Mais ainda, consiste numa ideologia antagónica à
estagnação, salientando que o risco, ponderado e discernido, pode ser a porta para a
mudança.
Ao longo da reflexão é feita uma escalada pelo percurso desenvolvimentista
humano e pela forma como a maturação se mostra muitas vezes uma antítese do seu
propósito: a solidificação da capacidade de investir em hipóteses virtuais, de uma
forma deliberada, antecipada e estratégica.
Neste sentido, ao deparar-nos com este paradoxo cognitivo, que se liga ao não
aproveitamento de todas as competências que temos ao nosso dispor na idade
madura, e assim colocando em causa o que é per si o sentido do desenvolvimento,
podemos colocar a questão: de que forma poderemos transformar esta tendência
humana para permanecer no espaço seguro, fazendo então jus ao que nos torna
únicos no nosso Ecossistema?
Para terminar, pretendo abordar o título do trabalho: MU(DAR). Consiste no
destaque atribuído a duas palavras, estando uma incluída no sentido real da outra.
Desta forma, não é pretendido falar apenas em mudança, mas sim menciona-la como
uma forma de interagir com os outros, de alcançarmos metas tendo em vista um bem
individual mas também social. Nenhum homem é uma ilha e desta forma cabe-nos a
nós objectivar, delinear e executar as pontes que nos interligam.
Ana Rita Caldeira
Agosto de 2011
2. MU(DAR)
Não parece nada fácil. escolher o que vai de encontro ao
Hábitos, trejeitos, seu interesse, genético mas
expressões, tiques, posturas, também aprendido. Irá a concertos,
perífrases, metáforas, eufemismos, ouvirá sonatas e terá amigos
silêncios, opiniões. Trabalho árduo leitores assíduos. Tal como ele,
de construção, trabalho fácil de também nós passamos a usar o que
habituação. melhor nos cabe e que ficará
É assim que funcionamos ao automatizado. Talvez para nos
longo da vida: primeiro, não pouparmos a novos investimentos
sabemos nada, tabula rasa sedenta intelectuais, para nos tornarmos
de vontade de integrar. Nesta altura rápidos a escolher e a depreciar,
desenvolvem-se as mais refinadas para ingenuamente considerarmos
estratégias de acomodação e a certeza de que sabemos bem de
assimilação, entenda-se isto como que somos feitos.
um passo crucial na integração da E assim, nós, que tínhamos
novidade (que por esta altura é uma casa com dezenas de andares,
tudo). Posteriormente, a confiança que começamos bem, criativos,
aumenta e também a selecção do empreendedores, sanguessugas de
que queremos apreender fica mais informação, sabotamos a
evidente. oportunidade que temos para
O contexto induz-nos a evoluir e abrir novos caminhos. Na
gostar mais de umas coisas em verdade, passamos grande parte da
detrimento de outras e isso é vida a utilizar apenas um ou dois
legítimo. O indivíduo X nasce num andares da casa. Porque cansa,
meio abastado e intelectualmente arrisca, perturba, desestabiliza. É
desenvolvido, que fomenta o gosto este o retrato que temos da
pela arte e pela música. Não nos mudança: "periguifica" tudo o que
iludamos: o indivíduo X começará alcançámos, que mesmo que não
por querer saber tudo mas seja bom, é nosso. E não, não
posteriormente, na arrogância do queremos perder. Porque veremos
desenvolvimento, tenderá a
Ana Rita Caldeira
Agosto de 2011
3. como uma derrota e nunca como congruência com a evolução
uma oportunidade. humana, biológica e social. Pede-se
A mudança não tem mau que consigamos isto por nós e pelos
carácter (passo a personificação). outros.
Apenas nos quer mostrar que não Na ausência de novas
nos permitimos experimentar ao estratégias, usam-se as antigas:
máximo, quando é essa a nossa disfuncionais ou não. Peca-se assim
obrigação. E assim, ao longo do quase sempre pela não mudança. É
desenvolvimento, sedimentamos a esta a miséria que mais nos afecta,
tendência cerebral para pensar em primeiro que qualquer outra.
termos de opostos redutores:
através da etiquetagem dicotómica
bom/mau, feio/bonito, moral/imoral,
possível/impossível.
Consequentemente, quanto
mais se pensa em termos de
conceitos divergentes, mais se
desenvolvem essas redes neuronais
rápidas e rígidas que corroboram o
sentido polarizado dos
comportamentos dos outros e dos
acontecimentos e que nos impedem
de CRES(SER).
Para MU(DAR) pede-se
flexibilidade, arte de discernimento e
ainda criatividade interpretativa com
abertura a alternativas. Pede-se
análise escrutinada, capacidade
para experimentar o lugar do outro,
para abandonar o juízo crítico-
destrutivo e abarcar um sentido
cooperativo de acção e reflexão.
Pede-se pouco. Pede-se
Ana Rita Caldeira
Agosto de 2011