1. ÍCONES DO
RETRATO
Docente responsável: Lia Cavaco Lamarão
2. Várias foram as razões em que, ao longo da história, se
baseou a execução do retrato - alegorias religiosas ou
mitológicas, imagens de estatuto sócio - económico, crítica social
ou política, busca de identidade ou simples pesquisas formais.
Mesmo e principalmente nos dias de hoje, quando as formas de
que se reveste nem sempre o mostram, a representação do ser
humano continua a ser o conteúdo de muitas obras.
3. A AFIRMAÇÃO SOCIAL
Sendo uma forma de conquistar a eternidade para o
retratado, ganhou importância na produção artística com a
ascensão da burguesia que adquiriu poder económico e se
tornou o grande mecenas da arte. O burguês procura, por um
lado afirmar a sua importância no contexto em que vive e, por
outro, conservá-la na posteridade. A tradição do retrato
começou na antiguidade, significando a busca do
conhecimento e do reconhecimento e esteve muito tempo
restringido a uma parcela da sociedade, com mais poder
económico, social e político.
Ser retratado, era uma forma de manifestar uma
“mutabilidade social”, transformando-se num objecto quase
de auxílio para a auto-afirmação.
Antes de surgir a fotografia, mandar pintar o retrato era
um privilégio da aristocracia, significando dinheiro e poder.
4. Agnolo Bronzino , “Retrato de Eleonora de Toledo e o seu filho, 1550"
Óleo s/tela, 115x 96cm Galeria dos Uffizi , Florença, Itália
5. A fotografia, quando surgiu, constituiu um modo de
representação adequado às condições económicas e
ideológicas da época, ligada à afirmação social e à
necessidade de representação de si. Aparecem, dois
níveis de retrato além do fisionómico, o psicológico e o
social.
6. Também era um novo meio de registo, melhor
equipado para representar a realidade com exactidão e
para capturar disposições e momentos. O que o faz
tomar um lugar de destaque na produção imagética a
partir desta altura, acessível agora a todos.
A fotografia foi adoptada em primeiro lugar pelas
classes dominantes mas pouco a pouco foi-se
estendendo às classes menos abastadas, constituindo
assim um modo de figuração destas camadas sociais
que nela encontram um modo de auto-representação
novo.
Medeiros Margarida, “ Fotografia e Narcisismo”Ed,Assim& Alvim, p.55
7. O Retrato sempre foi um processo de construção de
identidades, e torna-se o principal tema das primeiras
fotografias, incidindo de vários modos no imaginário
social. Segundo John Tagg, 1988:37 «O retrato é, antes de
mais, um signo cujo propósito é simultaneamente a
descrição de um indivíduo e a sua inscrição numa
identidade social»
Para Gisèlle Freund, o retrato «imediato» é um excelente
suporte para a afirmação social.
Etiene Samain, “O Fotográfico” 2ª Edição, Ed.Hucitec ,p.266
Medeiros Margarida, “Fotografia e Narcisismo” Ed. Assim & Alvim, p.52
8. As pessoas tinham a necessidade de serem
retratadas, procurando exibir um estatuto acima do
seu. Estava-se num período de ostentação. O
retrato tipifica-se, programado de antemão,
procurando caracterizar-se tipos sociais. Conta mais
o impacto que provoca, do que a expressão facial.
Disdéri, retratista da época, vê-se obrigado a
acrescentar símbolos que reflectiam prestígio e
poder, e associando o retratado à sua profissão.
Não se procurava a verdade da fotografia mas sim
a promoção social.
É de referir que, as condições fotográficas, no
início, assemelhavam-se um pouco às da pintura, o
sujeito ficava em pose durante muito mais tempo,
realçavam-se-lhe os atributos, os acessórios, os
sinais da sua função e do seu poder.
9. Nenhuma outra arte podia competir com a fotografia
na representação fiel do rosto e do aspecto do homem,
na representação da verosimilhança. A imitação mais
perfeita possível do homem tornou-se um objectivo,
uma qualidade estética necessária e, no início da
fotografia, apenas alguns retratos, de Cameron ou
Nadar, enveredam por uma pesquisa artística, mais de
conteúdo e os temas passam a ser os homens ilustres
da altura.
Nadar, fotografou todas as personalidades da época,
mas as suas fotografias, pela pose que o corpo
apresenta, apenas no rosto denotam algo que
“acontece”.
Foi o criador da fotografia psicológica, tendo o seu
maior destaque sido, com os retratos da actriz Sarah
Bernhardt, fotografando-a inúmeras vezes em diversos
estados de alma. Fotografou porém outros ilustres.
11. Cameron, "I wait"
Nadar - Sarah Bernhardt – 1862
Nadar, Sarah Bernhardt
Cameron, Beatrice Cenci, May 1868
Cameron, Julia Jackson, 1866
12. A partir de então o retrato vira-se para o conteúdo e
para a evolução da técnica. Com Paul Strand, o homem
do povo, a gente humilde, tornou-se protagonista do
retrato, numa procura de realismo, de verdade, que já
em Stieglitz e em Steichen, tivera os seus primeiros
autores. Com Strand, dá-se uma reviravolta no
conteúdo. Não se limita a substituir as pessoas de
Nadar, mas também muda a sua atitude perante elas.
O seu interesse não é pelo indivíduo em si, mas o
homem como tipo representativo de uma determinada
classe.
14. Outros fotógrafos porém, foram-lhe atribuindo também
um conteúdo para além do retrato fisionómico
verosimilhante e introduzem-lhe um factor de critica
social, aos costumes, à politica, às crenças culturais,
enfim.
August Sander, um pouco à semelhança de Strand,
com retratos dominados por uma rigorosa pesquisa
tipológica, inventaria uma população quase anónima,
representando diferentes categorias de indivíduos,
diferentes meios profissionais, sociais, étnicos,
contribuindo de uma forma importante para o estudo da
sociedade alemã. O seu modo de mostrar homens para
fazer deles arquétipos universais, pode reencontrar-se
noutros fotógrafos, como Irving Penn.
18. Diane Arbus tinha um olho incomparável para o estranho, o
feio, e tudo o que fugisse ao normal. Uma figura de culto da
nova vaga sócio critica da fotografia documental do séc. XX,
desenvolveu uma linguagem visual bastante imediata para
retratar não só pessoas de esferas afastadas da aceitabilidade
social, mas também os cidadãos semelhantes a máscaras,
confortavelmente estabelecidos nas classes médias.
Diane Arbus, Jovem patriótico com
bandeira, 1967
19. Weegee, criou quadros contorcidos, com os
trejeitos das celebridades famosas e divertia-se
com as estrelas da noite de Nova Iorque.
Weegee, Samy`s in the Bowery, 1944
Weegee, Nikita Krushchev, 1959
20. Ao mesmo tempo, o retrato passa a ser um meio de
publicidade para carreiras artísticas, diplomáticas e
políticas, desempenhando um papel decisivo no
nascimento das “vedetas”.
Mas, foi a simplificação técnica do acto fotográfico,
aliada a todos os progressos tecnológicos, que permitiu
ao fotógrafo trabalhar e criar com maior
espontaneidade, a nível plástico e a nível significante, o
que centrou a fotografia no conteúdo da imagem. O
fotógrafo pôde operar com mais liberdade acerca do
sujeito e da sua representação.
Passa a poder trabalhar no ambiente do retratado, sem
o “perturbar”. O significado da fotografia perder-se-ia,
se “aquele momento” não fosse o capturado.
21. Cartier Bresson inventa estilos e princípios individuais.
O seu interesse principal consistia em observar pessoas
no seu dia-a-dia em circunstâncias de excepção,
querendo ser testemunha e não actor, fotografando na
periferia do acontecimento. Atingiu uma mestria imensa
neste género e provou que não se trata de a máquina
ver algo objectivamente, mas sim o olho do fotógrafo
que subjectivamente compreende o “momento decisivo”
e o capta. A sua influência é de importância fundamental
para outros.
23. Avedon, mergulhou no mais profundo dos seus retratados, como se
quisesse praticar um retrato interior, não para revelar uma sociedade,
mas uma verdade humana, ir de encontro ao ser humano, sem procurar
fazer uma imagem bonita. No seu trabalho de retratos, capta facetas
inesperadas nas pessoas - desde a mundialmente famosa à mais
desconhecida. Pratica um retrato de carácter, em oposição a um retrato
social, renunciando a todo um efeito de encenação ou de estética,
procurando ser fotograficamente o mais neutro possível. O branco de
fundo sobre o qual se recorta o sujeito retratado é total, de tal forma que
se confunde com o branco do papel. A definição da imagem é a máxima,
a ponto de se poderem observar pormenores, no rosto ou até no
vestuário. Apesar de mostrar uma obsessão pela objectividade da
fotografia, negando qualquer aspecto estético ou plástico, os seus
retratos são imediatamente reconhecíveis, precisamente por estes
aspectos, que revelam. Exerce uma enorme influência na fotografia de
moda.
25. Newman, também revela intenções semelhantes, procurando ir de
encontro ao ser humano, sem procurar fazer uma imagem bonita,
porém joga com o aspecto decorativo do ambiente do sujeito.
Fotografa sempre os modelos no seu ambiente, que para ele os
caracteriza, tanto quanto o seu rosto. Prova disso são os retratos de
Mondrian ou de Calder, entre outros que realizou.
Newman Marilyn Monroe
Newman, Calder
Newman, Mondrian, 1942
26. Giselle Freund, faz o retrato de Miterrand em 1981 e
retratos de pequeno formato de Virgínia Woolf e outros
escritores da época.
Graças a todos estes retratistas, temos hoje uma
colecção de rostos das personalidades mais marcantes
do nosso tempo.
A alteração, no início do século XX, de aspectos
formais da representação, veio possibilitar várias leituras
e várias formas de expressão no retrato do ser humano,
que foi evoluindo e sofrendo transformações, fruto das
novas experiências de vida e das novas experiências
artísticas e tecnológicas.
27. Através do retrato, houve fotógrafos que demonstraram
que a arte que praticavam permitia ultrapassar uma
nova etapa na representação e portanto no
conhecimento do ser humano. A relação íntima entre
imagem e realidade, tão própria da fotografia, encorajou
acima de tudo os artistas a utilizarem-na também para
as suas visões imaginárias. Estavam ainda interessados
em explorar o meio e os limites em si.
A fotografia torna-se um meio de ver o mundo de
novo. Os fotógrafos foram estimulados pelo seu
compromisso social e pela esperança de que as suas
imagens pudessem iniciar algum tipo de mudança.
28. O retrato, ora se inscrevia no contexto de uma
encomenda, ora respondia a uma iniciativa individual e
livre. Uns, enveredaram pela fotografia numa
perspectiva comercial, outros numa perspectiva mais
artística e pessoal. Mas mesmo os fotógrafos cujo
trabalho era encomendado, realizavam também retratos
com um cunho pessoal e sensibilidade, evidentes. Muitos
destes grandes fotógrafos passam a fazer fotografia de
moda.
29. As vedetas ou personalidades por eles retratadas, são
vítimas de uma personagem que é criada, pelo próprio
fotógrafo, pela indústria associada ou pela sociedade e
que, lhes oculta a maior parte das vezes, a sua
verdadeira identidade. Os actores de cinema, por
exemplo, são obrigados a fazer constantemente o
mesmo tipo de papéis ou, os papéis a que interessa
associá-los.
Philippe Halsman, Marilyn Monroe
30. G. Hoyningen-Huene, Lee Miller
G. Hoyningen-Huene, Greta Garbo, 1951G
Hoyningen-Huene, Marlene Dietrich
32. Jean Dieuzaide, Dali na água, 1953
Alfred Eisenstead, Marilyn Monroe,
1953
Gertrude Stern, Nabokov
33. Mas muitas vezes, as fotografias das
personalidades que produzem maior impacto, são
feitas de um modo espontâneo, chegando o
fotógrafo a actuar sem o conhecimento dos
sujeitos retratados. Veja-se o exemplo dos
paparazzi.
As imagens da publicidade, com maior efeito
sedutor sobre o consumidor, passam a ser as
fotográficas, mais realistas. Alguns fotógrafos
célebres, dedicam-se a ela. Mas, se no início os
fotógrafos tinham liberdade de criação, como Man
Ray, alguns tornaram-se com o tempo meros
executores das ideias de outros.
34. Man Ray, Pablo Picasso, 1932-1933
Man Ray, Lee Miller, 1929
MaNnRay, Coco Chanel, 1935/36
35. Na segunda metade do século XX, o retrato torna-se
ostentoso, devido às necessidades dos jornais e das revistas,
cujas capas são frequentemente o retrato de uma
personalidade.
Yosuf Karsh, foi um dos que fez desfilar diante da sua
objectiva, todas as personalidades proeminentes do seu
tempo. O retrato que fez de Churchill, em 1941, assegurou a
sua fama.
Yosuf Karsh, WinstonChurchill
36. Philippe Halsman, foi um dos fotógrafos de
retrato mais original e inventivo. Concebeu um
método original e cheio de humor para “captar
a essência do ser humano”. Pedia aos seus
modelos para saltarem e disparava nesse
momento. O jumping, permitiu fotografias
espantosas. Publica uma famosa série de
fotografias de personalidades proeminentes
como Nixon ou Dali a dar saltos. Aplica também
a fotomontagem, combinando por exemplo a
cabeça de Mao Zedong com o rosto de Marylin
Monroe, dois arquétipos do século XX.
37. Halsman, Edward Steichen,
1959
Halsman, Colaboración entre Philippe Halsman y
Salvador Dalí
Salvador Dalí, surrealista
Halsman, Dali Atomicus, 1948
38. As principais orientações foram assim traçadas por
Strand, Bresson, Avedon, Man-Ray, ficando outros
por mencionar. Os fotógrafos que se lhes seguiram, o
que fizeram foi enriquecer e desenvolver o património
fotográfico do retrato, podendo verificar-se que este não
mudou muito, apesar da evolução das técnicas, uma vez
que, o essencial se mantém.
Vejam-se os retratos de celebridades de Annie
Leibovitz ou La Chapelle, por exemplo.
39. Annie Leibovitz Willie Nelson, Luck Annie Leibovitz, Louise Bourgeois – Sculptor
Ranch, Spicewood, Texas, 2001 . Annie Leibovitz ,Queen Elizabeth II
41. Annie Leibovitz, the June issue of Vanity Fair hits
newstands on May 1st Photo: Vanity Fair
Annie Leibovitz, James Gandolfini as Tony Soprano and series creator David Chase
with “a friend” on the April Sopranos cover.
46. Mary Ellen Mark, Nicole Kidman
Mert Alas & Marcus Piggot, Natalie Portman
47. BIBLIOGRAFIA:
LIVROS E SITES
AMAR, Pierre-Jean, História da fotografia, edições 70, Lisboa
ARCARI, Antoni, A fotografia - as formas, os objectos, o homem, Edições 70,
Lisboa
BAURET, Gabriel, A fotografia, edições 70, 2006 Lisboa
Etiene Samain, “O Fotográfico” 2ª Edição, Ed.Hucitec ,2005
Fotografia do século XX, museu Ludwig de Colónia, Taschen, 2001
Fotografia do século XX, museu Ludwig de Colónia, Taschen, 1998
KOETZE, Hans-Michael, Photo Icons, The story behind the pictures, Taschen
Medeiros Margarida, “ Fotografia e Narcisismo”Ed,Assim& Alvim, 2000
48. Acedido em 27 de Janeiro de 2009, em:
http--img_dailymail_co_uk-i-pix-2007-04_03-
queenALMS0505_468x453_jpg no Google.mht
http--www_vanityfair_com-images-magazine-2007-12-
masl11_yearinphotos0712_jpg no Google.mht
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