A Revolução Francesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade são os direitos que...
Do Romantismo ao Realismo
1. ROMANTISMO / REALISMO
SOARES DOS PASSOS JÚLIO DINIS ANTERO DE QUENTAL, EÇA DE
CAMILO CASTELO BRANCO QUEIRÓS, CESÁRIO VERDE
ULTRA-ROMANTISMO ESCRITORES DE TRANSIÇÃO REALISMO
• Predomínio da emoção, da Júlio Dinis e Camilo Castelo Branco são, em • Olha o futuro e tem fé na ciência e no
exaltação, do espírito, da geral, apontados como dois escritores de progresso. Gosto pelos temas
melancolia que vai ao tédio da transição do romantismo para o realismo. contemporâneos.
vida e ao desejo da morte, ao Na verdade, Camilo é de sentimento um • A observação do pormenor, analítica,
fatalismo. romântico, e só por ironia um realista. Como • filha de uma atitude científica.
• A natureza é triste e vai até ao romântico, escreveu esta obra-prima do • Gosto pelo descritivismo, minucioso e
domí-nio do tétrico, do Romantismo, que é o Amor de Perdição; como exacto.
macabro, com fantasmas, realista, tentando satirizar os processos • Análise corajosa dos aspectos baixos da
sepulturas, cenários tertíficos. estilísticos introduzidos por Eça de Queirós, vida.
• Excesso de sentimentalismo, produziu três obras de grande valor, A Brasileira • Crítica de costumes e reforma social.
tornando-se as poesias de Prazins, Eusébio Macário e A Corja (note-se a
• Indiferença do Eu diante da natureza.
maçadoras, enfadonhas. forte carga naturalista deste último título). Não se
• A natureza já não é apenas a projecção do
• Vocabulário rebuscado, com pode assim dizer que ele tenha sido um escritor
Eu.
termos eruditos. de transição, porque como romântico é
• A sintaxe é pobre, com plenamente romântico e como realista (embora
satirizando a escola) também é plenamente NATURALISMO
anacolutos, exclamações e
reticências. realista.
Já o caso de Júlio Dinis parece diferente. Entre os Com o século XIX e o desenvolvimento da ciência,
• Abundam as metáforas. os métodos científicos extravasaram para o campo da
seus mestres estava Charles Dickens. Ora o autor
de David Copperfield que é? Um dos criadores literatura.
Vai alta a Lua! Na mansão da morte Aquilo que verificamos na sociedade, os factos que
do que já se chamou o romantismo romântico –
Já meia-noite com vagar soou; desta decorrem, talvez tenham causas primeiras um
como o Tolstoi de Guerra e Paz. Digamos que o
Que paz tranquila! Dos vaivéns da pouco diferentes daquelas causas imediatas que o
enredo de Uma Família Inglesa é tão próprio da
sorte realismo nos apontava: é preciso interpretar os factos
escola romântica como a intriga de O Bem e o
Só tem descanso quem ali baixou. e fenómenos sociais socorrendo-nos do auxílio da
Mal de Camilo: o idílio de Carlos Whitestone e
Que paz tranquila!... Mas eis longe, ao ciência, já que não basta descrevê-los.
da filha de Manuel Quintino não é tratado
longe, É assim que o naturalismo chega às seguintes
realisticamente, mas romanticamente, sendo as
Funérea campa com fragor rangeu; conclusões: o individuo resultaria de determinados
duas heroínas do livro, Cecília e Jenny, os tipos
Branco fantasma, semelhante a um factores como a hereditariedade, o meio, a educação,
característicos da mulher idealizada que o
monge, etc.
romantismo prescrevia. Júlio Dinis chega a tratar
Dentre os sepulcros a cabeça ergueu. Não estamos ainda, porém, perante uma visão
Jenny – de fada do lar.
Ergueu-se, ergueu-se!... Na amplitude verdadeiramente científica pois para tal é necessário
E, no entanto, em seu gosto das personagens
celeste ter em conta a acção recíproca, ou seja, a acção do
pitorescas minuciosamente e deleitosamente
Campeia a Lua com sinistra luz; homem, a sua capacidade de actuar sobre esses
observadas já é Júlio Dinis um realista: Mr.
O vento geme no feral cipreste, factores.
Whitestone, Bento Pertunhas, João Semana
O mocho pia na marmórea cruz. No naturalismo tal não acontece: o individúo aparece
afiguram-se alguns dos personagens de recorte
Ergueu-se, ergueu-se!... Com sombrio sujeito a influências definidas, é determinado mas
mais realista de todo o romance português: serão
espanto, não é determinante. Daqui a noção de fatalismo que
mesmo as suas mais notáveis figuras típicas. Do
Olhou em roda… não achou ninguém… decorre desta corrente literária. Esse fatalismo é um
fundo romântico do Porto de 1854, cenário do
Por entre os campos, arrastando o fatalismo biológico. Daí a tendência para ilibar as
idílio, também ele integralmente romântico, de
manto, personagens das responsabilidades. A palavra
Carlos e de Cecília, avulta o pitoresco inglês
Com lentos passos caminhou além Naturalismo vem de natureza – o naturalismo está
Richard Whitestone e o pitoresco português
Manuel Quintino.(…) pois sujeito à natureza. (…)
Soares dos Passos Foi assim que Emile Zola pintou a decadência da
Mas se é realista a fazer o retrato, Júlio Dinis é
ainda romântico a descrever a paisagem. Não burguesia, a miséria do povo, a resistência da classe
concede aqui nenhuma atenção ao pormenor trabalhadora, sem esperança numa solução: como um
realista. A paisagem dos romances de Júlio Dinis pesadelo de que nunca se libertaria.
é um cenário romântimo. Daqui o seu
convencionalismo – que se pode opor ao verismo In O naturalismo, Lilian R. Frust Peter
dos seus (grandes) personagens secundários. N. Skaine
(in Revista da Gulbenkian, nº 2, série V, No caso português, o escritor naturalista mais
1979 – O Realismo em Portugal) representative é Abel Botelho (1856-1917). Escreveu,
integrado no ciclo de Patologia Social, romances
como Fatal Dilema; Amanhã; Próspero Fortuna
(1900, 1902, 1919, respectivamente).