Este documento discute a transição para a televisão digital terrestre na Europa. Primeiro, descreve os diferentes sistemas televisivos existentes na Europa, dividindo os países em três grupos: países cabo/satélite, países híbridos e países terrestres. Em seguida, analisa as experiências pioneiras com a televisão digital terrestre e apresenta casos de sucesso, examinando os modelos de negócio associados. Por fim, aborda o processo de desligamento das emissões analógicas na Europa, destacando os principais obstáculos
Boas práticas de programação com Object Calisthenics
Adopt dtv digital-switchovereurope
1.
“ADOPT_DTV: Barreiras à adopção da televisão digital no contexto da
transição da televisão analógica para o digital em Portugal”
( PTDC/CCI‐COM/102576/2008)
A Transição para a Televisão Digital Terrestre na Europa – Outubro 2010
Relatório preparado por Vera Araújo (Obercom)
1
2.
A Transição para a Televisão Digital Terrestre na Europa
O tema da migração para a televisão digital está na ordem do dia em Portugal: em 2009
foram iniciadas as transmissões de televisão digital terrestre (TDT), em 2011 serão realizados
os primeiros desligamentos do sinal analógico, e em 2012 está previsto o encerramento total
das transmissões da radiodifusão analógica – processo também conhecido por “switchover” –
passando a partir desse momento a existir unicamente o sistema digital na Europa. Assim, será
necessário que até 2012 todos os lares que actualmente recebem o sinal de televisão
tradicional através de antena analógica (ou seja, os que não têm televisão paga nem pré‐
instalação de cabo e que representam cerca de 55% dos lares, de acordo com a Anacom, 2010)
comprem um descodificador e uma antena adaptada para que possam continuar a usufruir das
emissões televisivas. Por outro lado, será ainda necessário preparar a indústria e o mercado
dos media para este processo de migração, já que ele implica não só um processo de transição
para o digital no próprio operador, como também pelo facto de vir reconfigurar as fontes de
criação de valor no contexto do sector televisivo. Por fim, também as actuais políticas de
media e mais especificamente de televisão terão de ser enquadradas no contexto da migração
para o digital, por via por exemplo a repensar o papel do serviço público ou o destino das
frequências que ficarão livres no espectro radioeléctrico em consequência da migração para o
digital do sinal de televisão, e que poderão ser utilizadas para uma vasta gama de aplicações
tais como o desenvolvimento da alta definição, a criação de novos canais ou a televisão móvel.
Apesar destes desafios que se afiguram para os próximos dois anos, Portugal beneficia de
uma importante vantagem: sendo um dos últimos países da Europa Ocidental a ter lançado de
forma efectiva a TDT, e também um dos últimos a iniciar o processo de desligamento das
emissões analógicas, o país poderá beneficiar da experiência dos restantes países europeus, e
identificar uma série de factores chave que levem quer ao sucesso da TDT propriamente dita,
quer ao adequado desenrolar do processo de switchover. Neste âmbito, o presente capítulo
visa dar conta do panorama europeu da TDT, por via a compreender tanto as histórias de
sucesso, como os principais obstáculos encontrados em outros países, fornecendo assim um
enquadramento do que poderá acontecer em Portugal, do que deverá ser incentivado e dos
contextos a evitar. Para tal, será inicialmente descrito o actual sistema de televisão na Europa,
seguindo‐se uma análise das experiências pioneiras de TDT; de seguida, serão apresentados
casos de sucesso desta plataforma televisiva, e examinados os modelos de negócio na base
destes processos. Por fim, será abordado o desenrolar do desligamento das emissões
2
3. analógicas na Europa, destacando‐se os principais obstáculos encontrados e evidenciando‐se
as medidas mais proeminentes de promoção da TDT pelas entidades competentes.
1‐ Sistemas televisivos na Europa
Apesar de existir um “paradigma europeu” do funcionamento do sistema televisivo,
que se baseia essencialmente no serviço público de televisão, à margem deste modelo co‐
existem na Europa uma multiplicidade de modelos de funcionamento do sector da televisão.
Assim, há países onde a televisão é essencialmente nacional (tal como acontece por exemplo
em Portugal), e outros onde a dimensão regional tem um peso determinante (por exemplo,
Espanha ou Itália); por outro lado, há países onde o espectador está habituado a pagar pelo
acesso às emissões televisivas (por exemplo, na Bélgica ou na Holanda), e países com tradição
de longa data de acesso gratuito, sendo o sistema financiado essencialmente pela publicidade
(por exemplo, Espanha); há ainda fortes divergências em termos tecnológicos, existindo países
dependentes das emissões terrestres, enquanto outros são essencialmente países cabo. Neste
âmbito, Martins (2007) disponibiliza uma tipologia que permite delimitar três grupos de países
na Europa, em relação aos seus sistemas televisivos. O primeiro inclui os países cabo/satélite,
ou seja, são os países onde a recepção do sinal de televisão é feita maioritariamente através
destas duas plataformas tecnológicas (ex: Luxemburgo, Alemanha, Holanda, Bélgica); nestes
contextos, o espectador não só está habituado a pagar para aceder aos conteúdos televisivos,
como está também habituado há várias décadas a uma multiplicidade de canais e de ofertas
no sector televisivo. Um segundo grupo de países é denominado pelo autor de “híbrido”,
englobando as regiões onde não se verifica uma tendência clara em termos de forma de
recepção do sinal de televisão, existindo uma forte presença do cabo e do satélite, mas
também das emissões analógicas (ex: Portugal, Reino Unido, Irlanda); nestes países, as práticas
televisivas são mais heterogéneas, existindo fortes diferenças entre quem tem televisão de
subscrição, e quem não tem, assim como entre quem já beneficia das emissões digitais, e
quem ainda recebe o sinal analógico. Por exemplo, no Reino Unido, o mercado encontra‐se
dividido: cerca de metade dos lares têm TV paga, e metade tem TV de acesso livre. A rede
terrestre é a principal plataforma de distribuição, mas tem vindo a perder terreno face ao
satélite. Já o cabo não conseguiu aumentar a sua quota de mercado, estando assim estagnado
nos últimos dez anos, à semelhança da IPTV que ainda não conseguiu conquistar uma posição
de relevo (Idate, 2009). Por fim, Martins identifica os países terrestres, nos quais a recepção do
sinal televisivo é feita maioritariamente através de ondas terrestres analógicas e, mais
recentemente, também digitais, com o lançamento da TDT nestas zonas (ex: Itália, Espanha,
3
4. França). Em França, por exemplo, a rede terrestre é historicamente o principal modo de
recepção de televisão, sendo o satélite a principal plataforma de TV paga. Já a TV paga via cabo
tem vindo a estagnar, face ao dinamismo das ofertas IPTV que representavam já no início de
2009 cerca de 26% do mercado de pay‐tv (Idate, 2009). Em Itália, o FTA (free‐to‐air) lidera,
representando cerca de 78% das emissões em 2009 (Idate, 2009), permanecendo a plataforma
terrestre a principal forma de recepção de TV, com cerca de dois terços dos lares. O satélite
afirma‐se como o principal concorrente das emissões terrestres, sendo o cabo e as emissões
via IPTV quase inexistentes. Similarmente, em Espanha as emissões gratuitas dominam,
representando o sector pay‐tv apenas cerca de 30% do mercado. A plataforma terrestre
domina, sendo que o satélite representa perto de metade do mercado de TV paga e a IPTV
cerca de um quinto (Idate, 2009).
Tabela 1. Sistemas televisivos na Europa em 2008
% lares TV (2008) % lares TDT (2008) % total lares com TV digital (2008)
Bélgica 98,6% 1,4% 32,8%
Alemanha 94,2% 10,4% 54,4%
Dinamarca 95,3% 25,5% 51,3%
Suécia 97,5% 47,6% 93,7%
Finlândia 97,0% 56,7% 100,0%
Portugal 99,3% 0,0% 33,6%
Itália 100,0% 33,4% 55,2%
França 96,0% 48,2% 63,3%
Reino Unido 96,1% 66,7% 87,1%
Hungria 97,0% 0,3% 21,6%
Espanha 100,0% 46,0% 66,2%
Fonte: OEA (Mavise, 2010)
Tendo em mente este breve enquadramento acerca do panorama do sector televisivo na
Europa, a próxima secção visa analisar as primeiras experiências de TDT, destacando
nomeadamente os países pioneiros que enfrentaram sérias dificuldades ao nível da
consolidação da plataforma.
4
5. 2. A introdução da TDT na Europa
A TDT foi sendo introduzida na Europa de forma gradual; apesar de existir um
consenso europeu em relação à data do desligamento das emissões analógicas, a decisão
relativa ao início da TDT foi relegada para cada país, de acordo com o seu contexto específico.
Figura 1. Evolução da TDT na Europa 2007, 2008 e 2009
Fonte: Digitag (2010)
De facto, a realidade de países tais como a Bélgica, onde a penetração das emissões
terrestres é muito escassa, face ao contexto de países tais como Itália ou Espanha, evidencia a
importância de estratégias diferenciadas para a implementação da TDT. Por exemplo, Broeck e
Pierson (2008) estimam que existam em Itália cerca de 10,6 milhões de lares afectados pela
migração para a TDT, enquanto a Suécia terá que garantir a adequada migração de apenas 350
mil lares.
Tabela 2. A TDT na Europa
Início das Switch‐off Processo de Estimativa do nº de lares
emissões TDT Switch‐off afectados pelo switch‐off
Bélgica 2003 2010 (?) Regional
Alemanha 2002 2008 Regional 2,5 milhões
Dinamarca 2006 2009 Nacional 500 mil
Suécia 1999/2002 2007 Regional 350 mil
Finlândia 2002 2007 Nacional 400 mil
Portugal 2009 2012 Regional 3,2 milhões
Itália 2004 2012 Regional 10,6 milhões
França 2005 2011 Regional 5,5 milhões
5
6. Reino Unido 1998/2002 2012 Regional 5,5 milhões
Espanha 2000/2005 2010 Regional 7,4 milhões
Fonte: Elaboração própria com base em Broeck e Pierson (2008)
Reino Unido e Espanha: o insucesso da TDT paga
Os primeiros países europeus a iniciar as emissões da TDT tiveram resultados muito abaixo do
esperado. O Reino Unido foi pioneiro no continente com a iniciativa On Digital, um operador
que surgiu em Novembro de 1998 com a oferta de um pacote de canais de acesso pago, tendo
como base um modelo de negócio por assinatura de canais Premium, numa primeira fase
sobretudo canais de cinema e de desporto. Três anos mais tarde, transformou‐se na ITV
Digital, um projecto que acabou por declarar falência em Abril de 2002. A forte penetração e
concorrência do sistema por satélite, a escassez de aplicações verdadeiramente interactivas, e
a manutenção da transmissão por via analógica da BBC condicionou fortemente o sucesso
desta iniciativa, que viria a colapsar financeiramente em 2002. De facto, o sucesso da TDT no
Reino Unido só foi possível a partir de Julho de 2002, quando um consórcio liderado pela BBC
recebeu uma licença de 12 anos para gerir as licenças que estavam vagas com a falência da ITV
Digital. O consórcio lançou então a Freeview, uma plataforma gratuita que oferece 28 canais.
Este modelo revelou‐se um sucesso, atingindo em 2004, 18,5% dos lares britânicos (OfCom,
2007).
Em Espanha, a primeira grande operadora de TDT foi a Quiero TV, que estreou em Maio de
2000. A licença tinha sido atribuída em Julho de 1999 à Onda Digital SA, que tinha como
accionista principal a Retevisión (49%). A sua oferta incluía 13 canais de acesso pago e um
aberto, 7 estações de rádio e acesso à Internet através da televisão, que era o grande
diferencial da Quiero TV. No entanto, também esta iniciativa não conseguiu conquistar os
consumidores, sendo o grupo extinto em Junho de 2002. Quando encerrou as actividades, a
Quiero TV, que tinha chegado a ter 200 mil subscritores, estava com apenas 90 mil assinantes,
o que constitui um claro sinal de que não foi capaz de suprir as necessidades das audiências
(Sabés Turmo, 2006). Candel (2008) fornece algumas pistas para a identificação dos motivos
subjacentes ao insucesso desta iniciativa. Por um lado, o autor destaca a incapacidade desta
oferta fazer face, nomeadamente no que diz respeito ao número de canais oferecido, às
ofertas de televisão de subscrição via satélite. Por outro lado, é também realçada a
incapacidade de acordo entre o governo, responsável pela delineação da estratégia para a
TDT, e os canais analógicos nacionais, que atrasaram assim até 2002, data limite estabelecida
pelas suas licenças, o lançamento dos seus canais digitais. Outro motivo identificado por
Candel prende‐se com os elevados investimentos necessários por parte da plataforma Quiero
6
7. TV para se conseguir implementar no mercado. De facto, devido à forte competição existente
no mercado de televisão paga, o operador viu‐se forçado a desenvolver um esforço de
marketing superior ao inicialmente previsto, e a ter de oferecer descodificadores gratuitos aos
clientes, assim como a adaptação das antenas. Além disso, foi também realizada uma forte
aposta nos serviços interactivos, que deveriam ser o principal elemento de diferenciação da
plataforma, apostando‐se em jogos, notícias, comércio através da televisão (T‐commerce),
envio de email, ou aplicações infantis. No entanto, estes investimentos não geraram retorno,
não só pela limitada capacidade técnica de entregar os serviços com a qualidade necessária,
como também pela pouca divulgação e interesse por parte das audiências em relação a tais
aplicações nessa altura. Finalmente, Candel realça ainda a incapacidade da Quiero TV para
desenvolver uma oferta competitiva do ponto de vista dos conteúdos, sendo o número de
canais oferecido inferior aos das plataformas cabo e satélite. Em consequência de todos estes
obstáculos, a Quiero TV deixou de emitir em Maio de 2002, perdendo assim a sua licença. Não
obstante, os canais digitais gratuitos continuaram a sua emissão, ficando activos até 2004,
altura em que foi anunciado um plano de relançamento da TDT em Espanha, baseado na
atribuição das licenças deixadas livres pela Quiero TV, aos canais analógicos incumbentes. A
nova plataforma assenta numa estratégia free‐to‐air (FTA), oferecendo cerca de 20 canais
gratuitos, sendo que em 2008 já cerca de 37% dos espanhóis recebia em sua casa a TDT
(Impulsa TDT, 2008). Não obstante o sucesso desta plataforma, Candel (2008) destaca alguns
obstáculos, nomeadamente o elevado número de antenas que ainda necessitam de ser
adaptadas, e a oferta em termos de conteúdos que fica frequentemente aquém da oferecida
nas plataformas de acesso condicionado.
Casos de Sucesso
O caso Finlandês é de particular relevância, sendo este um dos primeiros países a
desligar o sinal analógico (quer no cabo, quer o sinal terrestre) e a completar o processo de
migração. A televisão digital foi introduzida, antes do lançamento das ofertas comerciais,
através de três projectos‐piloto financiados pelo governo: Future TV (1999‐2002), Health Care
Television Project (2000‐2003) e Future Interaction TV (2002‐2003). Em 2002 foi finalmente
lançada a TDT, sob a alçada do grupo TV2007, que incluía os principais players do mercado e
que tinha como objectivo coordenar os esforços de migração. O documento “Switchover to
All‐Digital Television” faz um retrato do processo, com destaque para as campanhas de
disseminação da TDT que ocorreram entre 2004 e 2007. De acordo com um estudo
encomendado pelo grupo TV2007 e descrito nesse documento, em 2006 cerca de 58% dos
Finlandeses estavam a par da data do switchover, sendo a melhor qualidade de imagem, assim
7
8. como o desligamento das emissões analógicas, as principais razões evocadas pela população
para migrar para o digital. Não obstante, o estudo destacou também a existência de uma
camada da população que apenas pretendia passar para o sistema digital na altura do
switchover, por via a evitar eventuais problemas técnicos. Num segundo estudo, também
descrito no mesmo relatório e realizado em 2007 junto da população que já tinha efectuado a
migração para a TDT, verificou‐se que 64% estavam “satisfeitos” ou “muito satisfeitos” com a
forma como se tinha desenrolado o processo de migração, sendo a melhor qualidade de
imagem e a possibilidade de gravação digital as funcionalidades mais cativantes para os
espectadores. Já o mau funcionamento dos adaptadores era a principal queixa dos que
estavam insatisfeitos. O estudo permitiu ainda destacar a importância das fontes
interpessoais, nomeadamente as redes sociais próximas ao indivíduo, para a disseminação da
informação acerca do processo de desligamento.
Apesar de ser um dos países com maior número de lares afectados pelo processo de
desligamento das emissões analógicas, a Itália conseguiu desenvolver um modelo de TDT com
algum sucesso. A Mediaset foi a primeira a lançar uma oferta em Dezembro de 2003, com um
pacote de 5 canais FTA, seguida pela RAI e pela Telecom Itália (Broeck e Pierson, 2008).
Inicialmente, a oferta baseava‐se apenas num modelo gratuito, exclusivamente financiado
pelas receitas publicitárias, mas a Mediaset rapidamente acrescentou a possibilidade de
conteúdos em pay‐per‐view, com base num sistema de cartões pré‐pagos e recarregáveis. Tal
sistema permitiu o desenvolvimento rápido da TDT em Itália, sendo que em meados de 2004
tinham já sido vendidas mais de 500 mil set‐top boxes para a TDT (Broeck e Pierson, 2008).
Outro factor relevante para determinar o sucesso da TDT em Itália foi o impulso dado quer
pelo governo, quer pelos operadores ao desenvolvimento das funcionalidades da televisão
digital. A Mediaset, por exemplo, realizou uma série de estudos nos anos subsequentes ao
lançamento da TDT, por via a identificar as práticas de visionamento dos indivíduos,
destacando as principais utilizações dos serviços digitais, nomeadamente: aplicações
interactivas relacionadas com as transmissões desportivas (possibilidade de seleccionar o
comentador, a câmara etc.), aplicação que permite visionar os conteúdos na sua língua de
origem (já que em Itália a grande parte dos conteúdos estrangeiros são dobrados), ou a
possibilidade de jogar videojogos. Já o governo reuniu esforços em torno da criação de
serviços de utilidade pública através da televisão, acreditando que o ecrã do televisor poderia
ser um substituto do ecrã do computador para determinados grupos sociais com graus de
literacia digital reduzidos. Por exemplo, foi criado o canal “Sardegna Digitale”, que incluía
informação sobre empregos, meteorologia, transporte e turismo.
8
9. Em França, a TDT foi introduzida a 31 de Março de 2005, com base numa oferta mista
de canais gratuitos (18) e pagos (11). No caso francês, o modelo misto afirmou‐se como um
caso de sucesso, sendo que em 2007 já 22% dos lares franceses recebiam o sinal de televisão
através desta tecnologia, tendo sido vendidos mais de seis milhões de descodificadores
(Broeck e Pierson, 2008). Já na Suécia, um dos primeiros países a desligar o sinal analógico, o
início das emissões da TDT não foi pacífico. As primeiras emissões, ainda em fase de testes,
ocorreram logo em 1999. No entanto, o governo enfrentou sérias dificuldades em convencer a
população a realizar o processo de migração: apesar ser gratuita, os indivíduos tinham de
adquirir o descodificador e adaptar a sua antena, não vendo assim grande interesse em alterar
o sistema que tinham. Além disso, a maioria dos canais não disponibilizou emissões digitais
nessa fase inicial, não existindo assim nenhuma mais‐valia, do ponto de vista do espectador,
para a passagem para a TDT. Em consequência, apesar de ter sido um dos primeiros países
com emissões terrestres digitais e também um dos primeiros a desligar o sinal analógico, a
grande parte dos suecos apenas migrou para a TDT a partir do início do processo de
switchover, em 2005, quando começou a ser desligado o sinal analógico (Broeck e Pierson,
2008).
9
10. 3. Modelos de Negócio para a TDT
Tal como ficou demonstrado pelas experiencias iniciais mal sucedidas da TDT em
países como o Reino Unido ou Espanha, o processo de implementação da TDT está fortemente
dependente do modelo de negócio subjacente. A Impulsa TDT (2007) identificou três modelos
de negócio principais para a implementação da TDT na Europa. O primeiro baseia‐se numa
oferta exclusivamente gratuita, tal como aconteceu inicialmente em Espanha (depois do
relançamento da TDT), ou na Alemanha, países que entretanto já lançaram ofertas de TDT
paga. Note‐se que este é o modelo que se afigura presentemente para Portugal, dada a
revogação das licenças para a TDT paga, que tinham sido atribuídas à PT. No entanto, o
sucesso das plataformas pagas, quer em países com forte concorrência do cabo e do satélite,
quer em países sem tradição de televisão paga (como acontece por exemplo em Espanha),
deixam antever a possibilidade de vir a ser lançada posteriormente uma oferta de TDT paga
em Portugal. Um segundo modelo, de características híbridas, prevê a oferta simultânea de um
pacote de canais pago, e um gratuito, através da atribuição de licenças a um ou vários
operadores. Assim, no caso de países tais como a Suécia, existe uma só empresa responsável
pelos pacotes pago e gratuito, enquanto no Reino Unido os operadores que fornecem o pacote
pago diferem dos que disponibilizam a plataforma gratuita. Um terceiro modelo de negócios
para a TDT consiste na opção pioneira levada a cabo em Itália, e que até ao momento se tem
mostrado bastante vantajosa do ponto de vista comercia (AgCom, 2008). Trata‐se de um
modelo baseado numa oferta gratuita, mas com a possibilidade de recurso ao pay‐per‐view
(PPV), ou seja, o acesso a canais e/ou programas específicos mediante pré‐pagamento, onde o
espectador paga apenas aquilo que consome. No fundo, este modelo assemelha‐se ao dos
telemóveis pré‐pagos, existindo também um cartão, que pode ser carregado com dinheiro, e
que o espectador pode utilizar quando quer, para aceder a determinados conteúdos ou
serviços. Se pensarmos no caso dos países que disponibilizam dois pacotes, um pago e um
gratuito, verifica‐se que a oferta paga acaba por concorrer directamente com o Cabo, o
satélite e a IPTV, sendo poucas as suas vantagens competitivas em relação a essas plataformas.
Já no caso italiano, através da possibilidade de pay‐per‐view, a TDT consegue encontrar um
melhor posicionamento estratégico em relação às restantes ofertas pagas. Pense‐se por
exemplo no caso do desporto, que aliás é um dos principais motores do desenvolvimento da
TDT em Itália. Em vez de se ter de subscrever um determinado canal para se poder ter acesso
aos jogos de uma determinada liga, ou para se poder assistir às transmissões de uma dada
modalidade desportiva, o modelo pay‐per‐view permite que se pague o acesso à transmissão
10
11. de cada jogo individualmente, sem contratos obrigatórios, e sem ter de pagar pelos restantes
conteúdos que podem não ter interesse para o espectador, encontrando assim uma vantagem
competitiva em relação às ofertas pagas de canais de televisão. A TDT colmata assim as suas
limitações face ao cabo e à IPTV (por exemplo, menor número de canais ou a ausência de
alguns serviços como o Videoclube ou o serviço de gravação) através de uma maior
flexibilidade e inovação em termos de modalidades de pagamento. Não obstante, o modelo
italiano apresenta algumas desvantagens para o operador, nomeadamente, o
desconhecimento as características dos seus espectadores (já que não existe base de dados de
clientes) e a imprevisibilidade das receitas, visto não haver obrigatoriedade de carregamento
dos cartões.
Figura 2. Modelos de Negócio para a TDT paga na Europa
Fonte: elaboração própria
Uma vez analisados os vários modelos de negócio para a TDT na Europa, examinemos
as estratégias das ofertas pagas de TDT em alguns países europeus em concreto. No Reino
Unido, o único operador de TDT paga é o Top‐up TV. Lançado em 2004 sob a forma de pacotes
de canais, o operador tem apostado desde 2006 num modelo assente no VOD (Vídeo‐on‐
demand); assim, com uma subscrição que ronda as 11 libras por mês, o espectador pode
aceder a uma biblioteca de conteúdos com cerca de 700 títulos renovados mensalmente. Não
obstante a inovação em termos da modalidade da oferta, o operador tem tido dificuldade em
consolidar a sua posição, tendo apenas cerca de 400 mil assinantes em 2009 (E‐media
Institute, 2009). Já em França, a oferta paga de TDT tem tido um nível de sucesso acrescido. O
principal operador é o Canal+ (que é também o líder do segmento pay‐tv em geral), que
fornece dois serviços distintos de TDT: o “Canal Plus Le Bouquet”, que consiste de um pacote
11
12. de canais Premium essencialmente baseados em conteúdos de cinema e desporto; e o
“CanalSat”, que inclui mais canais, quer generalistas, quer de informação. Outros operadores
incluem a TV Numérique e o TNTop, que é parte do operador britânico Top‐up TV. De acordo
com as estimativas do E‐media Institute (2009), existem no país mais de 800 mil subscritores
de TDT paga. Um caso com um sucesso ainda maior em termos de TDT paga do que a França é
Itália. Existem actualmente dois operadores que lideram: Mediaset Premium (lembre‐se que a
Mediaset lidera também o mercado FTA – free‐to‐air) e Dahlia (ex La7 Cartapiú). Lançada em
2005 como um serviço exclusivamente PPV (pay‐per‐view) baseado em conteúdos de
desporto, a Mediaset Premium tem vindo gradualmente a alargar o seu espectro de acção, por
via a incluir também programas de entretenimento (nomeadamente filmes e series), assim
como conteúdos infantis, estando estes novos serviços disponíveis tanto através de subscrição,
como por via do PPV. O segundo operador italiano, Dahlia TV, fornece essencialmente
programas de desporto, documentários e conteúdos para adultos. Novamente de acordo com
as previsões da E‐media institute (2009), existem cerca de 3,2 milhões de clientes dos serviços
destes dois operadores. Por fim, refira‐se o caso espanhol, onde foi lançado o serviço Gol TV,
detido pelo grupo La Sexta, e que se dedica essencialmente a conteúdos de desporto.
12
13. 4. O processo de switchover na Europa
De acordo com o Digitag (2008), existem três principais factores que condicionam a
migração para a plataforma digital terrestre. Em primeiro lugar, e como foi já referido, é
necessário ter em conta a penetração das emissões analógicas terrestres no país. Um segundo
factor identificado pelo Digitag (2008) que condiciona o processo de migração para a
plataforma digital terrestre consiste na disponibilidade de frequências livres para a realização
de emissões simultâneas de TDT e emissões terrestres analógicas (período de simulcast), ou
seja, a duração do período de transição de um sistema para o outro, que prevê a operação em
simultâneo dos dois modelos televisivos. A experiência europeia demonstra que a duração de
tal período é fundamental para o sucesso da implementação da TDT, pois permite que o
consumidor tenha tempo para integrar e apropriar a inovação tecnológica no seu lar. No Reino
Unido, por exemplo, está previsto que o simulcast dure mais de dez anos, oito no caso italiano,
sete na Alemanha e seis em França. Além disso, a duração do período de simulcast depende
ainda da estratégia escolhida para o switch‐off das emissões analógicas, ou seja, se este será
realizado de uma só vez para o conjunto do território nacional (tal como aconteceu, por
exemplo, na Finlândia ou na Holanda), ou se será faseado, por regiões do país (exemplos:
Alemanha, Áustria, Suécia). Por fim, um terceiro factor identificado pelo Digitag (2008) que
condiciona o processo de migração para a plataforma digital terrestre consiste na cobertura do
território pelas emissões da TDT. Ou seja, antes de se poder desligar o sinal analógico, é
necessário garantir que todas as regiões do país que dependem das emissões terrestres estão
cobertas, de forma a garantir o acesso universal ao serviço de televisão.
O primeiro processo de desligamento a estar concluído na Europa teve lugar a 25 de
Abril de 2006, no Luxemburgo. A oferta da TDT nesse país baseava‐se então num só multiplex
com seis canais. O passo seguinte foi dado, também em 2006, pela Holanda, país onde cerca
de 88% dos lares usufruem de televisão paga via cabo (Impulsa TDT, 2010). Em 2007, a
Finlândia e a Suécia somaram‐se à lista de países com o processo de migração concluído. Estes
dois países contam com uma oferta de TDT mista, que incluí um pacote de acesso gratuito e
um de acesso pago, da responsabilidade do operador Boxer. Após o switch‐off, foi mantido
temporariamente na Finlândia um serviço de teletexto analógico com informação acerca do
processo de migração para o digital, por via a fornecer informações a eventuais lares ainda
sem descodificador. Note‐se que a Finlândia, ao contrário da maioria dos países europeus,
13
14. optou por um desligamento a nível nacional, justificando esta opção pelo facto de assim poder
disponibilizar o serviço de forma simultânea a toda a população.
Já em 2008 foi a vez de a Alemanha concluir o seu processo de migração,
contabilizando cerca de 4,2 milhões de lares com TDT no final de 2009, que representam no
entanto apenas cerca de 12% dos lares alemães. No ano passado a RTL lançou ainda, em vários
Lander uma oferta de TDT paga com codificação MPEG‐4. O caso Alemão fica ainda marcado
por várias singularidades. Por um lado, enquanto a maioria dos países que decidiu realizar um
desligamento regional optou por começar por regiões de escala reduzida em termos
populacionais, por via a minimizar eventuais problemas técnicos, a Alemanha optou por
realizar o primeiro desligamento do sinal analógico na região de Berlim, logo em 2003. Não
obstante, deve ser tido em conta a reduzida proporção de lares afectados pelo desligamento
das emissões analógicas terrestres. Por outro lado, é de destacar que, apesar do Estado
disponibilizar subsídios para a aquisição dos descodificadores por parte de famílias com níveis
de rendimento baixos, apenas 6 mil lares solicitaram esse incentivo, para um total de 160 mil
lares afectados na região de Berlim. Outra singularidade do caso alemão é o efeito inesperado
da TDT no interesse pelas emissões terrestres. De acordo com Broeck e Pierson (2008), a
digitalização das emissões terrestres levou a um aumento do interesse na plataforma
terrestre, tendo a percentagem de lares que recebem este tipo de sinal passado de 9% para
cerca de 12% em 2008.
Em 2009 foi a vez de a Dinamarca completar o seu processo de migração. Este país
optou por um desligamento a nível nacional, estando a sua oferta centrada num único
multiplex gerido pela Boxer, com três canais públicos. Depois de um rápido período de
transição de três anos e meio, a TDT oferece 9 canais em sinal aberto e 31 de acesso
condicionado. Embora apenas 40% dos lares dinamarqueses receberem o sinal da televisão
terrestre, a TDT tem nesse país uma cobertura de cerca de 99,8% da população (Impulsa TDT,
2010).
No Reino Unido, o desligamento das emissões analógicas está a ser levado a cabo de
forma gradual, entre 2008 e 2012, começando pelas regiões menos populosas. De acordo com
o relatório trimestral sobre a migração para o digital publicado pela OfCom, no final de 2009
cerca de 91,4% dos lares britânicos dispunha de acesso à televisão digital, sendo que 72,6%
desses usufrui do pacote TDT de acesso livre disponibilizado pela plataforma Freeview (OfCom,
2010). De referir ainda a decisão tomada pela OfCom em 2009 de desenvolver a segunda
geração DVB, através de um acordo entre a BBC e o operador de rede Arqiva, que gestionam
conjuntamente a nova rede de emissão que permitirá à BBC a emissão de cinco canais em alta
definição. No final de 2009, cerca de 18% dos britânicos já tinham realizado o switch‐off
14
15. analógico. O calendário estabelecido pela Digital UK, associação que gere o processo de
migração para o digital, para 2010 prevê completar o switch‐off em mais cinco áreas do país,
entre elas todo o País de Gales. Com estes desligamentos, espera‐se que no final de 2010 mais
de um quarto dos lares britânicos tenham realizado o processo de migração.
O ano de 2009 marcou também o início do switch‐off em Itália, sendo que no final do
ano perto de 27% dos italianos tinham concluído a migração, entre eles os habitantes de Roma
(AgCom, 2008). A Comissão Nacional da Itália Digital aprovou um calendário para o ano de
2010 que inclui primeiro o desligamento dos canais Rai e e Rete 4, para uns meses depois
desligar o restante da oferta analógica. Prevê‐se que até ao final de 2010 cerca de 68% dos
italianos tenham concluído o seu processo de migração (Impulsa TDT, 2010). Por outro lado,
em Julho de 2009 foi lançada a plataforma gratuita via satélite, desenvolvida pelos principais
operadores audiovisuais do país, a TiVù Sat. Esta forma de recepção, que surge como
alternativa aos lares sem recepção TDT, contava já com mais de meio milhão de subscritores
no final de 2009. De referir ainda o esforço feito pela RAI, que pretende lançar novos canais,
ainda antes da conclusão do processo de migração, por via a totalizar uma plataforma pública
com 13 canais de acesso não condicionado, incluindo serviços em alta definição.
França fixou 2010 como um ano chave para o processo de migração, tendo concluído
de forma satisfatória vários projectos‐piloto em 2009. O CSA (Conselho Superior do
Audiovisual) aprovou um calendário que prevê um desligamento das emissões analógicas por
região, estando prevista para o dia 30 de Novembro de 2011 a conclusão do switchover.
Apesar de este país ter apenas levado a cabo alguns pilotos de switch‐off, a penetração da TDT
tem vindo a crescer de forma consistente, representando no final desse ano cerca de 24,7
milhões de franceses (mais de 40% da população) de acordo com dados disponibilizados pela
Mediametrie. Segundo a Impulsa TDT (2010), esse crescimento da plataforma digital terrestre
poder‐se‐á em grande parte dever ao actual contexto de crise económica, sendo que
simultaneamente as ofertas pagas de cabo e satélite perderam cerca de 340 mil subscritores
no último ano. Também o CSA apresenta dados que destacam esta tendência rumo ao digital:
no final de 2009 os lares com televisão terrestre analógica totalizavam 12,9%, o que
representa uma descida de cerca de dez pontos percentuais em relação ao ano anterior. De
referir que o CSA prevê uma cobertura de 95% das áreas metropolitanas no momento do
switch‐off, e de 90% no caso dos canais em alta definição. Para os lares sem cobertura, está
prevista a alternativa via satélite, estando a funcionar desde 2007 a plataforma TNT SAT,
operada pelo Canal +. Além disso, foi ainda criada em Junho de 2009 uma segunda plataforma
gratuita de distribuição via satélite, a Fransat, que oferece os mesmos serviços do que a TDT.
Por fim, é também merecedor de destaque a atribuição por parte do CSA de 13 licenças DVB‐
15
16. H, que permitiram o desenvolvimento da televisão móvel, assim como a autorização por parte
desta entidade da realização de testes de Video‐on‐Demand (VoD) na plataforma digital
terrestre.
Em Espanha, o processo de switch‐off teve início em 2009, e no início de 2010 a
Impulsa TDT estima que mais de 15 milhões de indivíduos (32% da população) tinham
realizado a migração para a TDT (Impulsa TDT, 2010). O desligamento das emissões analógicas
segue um plano que inclui três etapas, com final em 2010, sendo que cada etapa prevê o
desligamento de uma determinada zona geográfica. Este plano de switch‐off surge na
sequência de um desligamento piloto, realizado em 2008 na província de Soria. As grandes
cidades do país foram incluídas apenas na fase final do processo de desligamento, que viria a
estar concluído nos primeiros meses de 2010. Um segundo desligamento piloto foi levado a
cabo na região de Alcázar San Juan, uma cidade com cerca de 300 mil habitantes. Estes dois
pilotos permitiram identificar não apenas determinados problemas técnicos, como também
analisar os obstáculos sociais e de usabilidade associados à migração para a TDT. De realçar
que, devido à atribuição de licenças para a TDT quer a entidades nacionais, quer a entidades
regionais, o actual cenário da TDT em Espanha é complexo, dependendo o número de canais
disponíveis na oferta gratuita do local geográfico em que o indivíduo se encontra. Por
exemplo, um lar de Barcelona poderá ter acesso a mais de 50 canais gratuitos através da TDT,
deixando assim antever problemas em termos da sustentabilidade dos modelos de negócio da
televisão paga (Candel, 2008).
16
17. 5. Políticas para a TDT na Europa
A partir da segunda metade dos anos noventa, assiste‐se na Europa à disseminação da
Televisão Digital, tendo este incremento por base a decisão da maioria dos países europeus de
realizar o encerramento das suas emissões analógicas nacionais (switch‐off) até 2012. Assim, o
desenvolvimento da televisão digital na Europa assenta, quase exclusivamente, num processo
político aliado a imperativos económicos e políticos (Papathanassopoulos, 2002), e não na
exigência dos telespectadores suprirem uma necessidade social através da inovação
tecnológica. Em 24 de Maio de 2005, a Comissão Europeia adoptou uma comunicação
intitulada ''Acelerar a transição da radiodifusão analógica para a digital'', na qual fixa os
objectivos da política comunitária para a referida transição, com base em emissões digitais
terrestres. Nesse contexto, defende‐se que a migração trará ganhos para todas as partes
envolvidas. Por um lado, o cidadão terá um maior acesso à Sociedade de Informação, poderá
usufruir de uma maior diversidade de conteúdos e serviços, acrescidas capacidades de
interacção, possibilidade de personalização da experiência televisiva, assim como melhorias
em termos e imagem e som. Por outro lado, as empresas de media terão novas oportunidades
em termos de oferta de serviços inovadores de valor acrescentado, assim como a possibilidade
de vender aos anunciantes espaços publicitários com maiores recursos de segmentação. Por
fim, o Estado poderá incrementar o pluralismo e a diversidade graças ao aumento do número
de canais, assim como criar novas funcionalidades para incrementar a cidadania, tais como o T‐
gov, ou seja, a utilização da televisão como interface de comunicação entre a Administração
Pública e os cidadãos, permitindo aplicações tais como o pagamento de impostos através do
televisor. Uma vez que, ao contrário dos computadores, a penetração da televisão nos lares
nas sociedades ocidentais ronda os 100%, e que este meio é utilizado por mais de 95% dos
indivíduos na Europa (OEA, 2010), as potencialidades em termos de inclusão e cidadania
merecem destaque, oferecendo novas ferramentas para o empowerment dos cidadãos.
Sendo a migração para o digital antes de mais um processo conduzido por políticas
públicas, uma análise do seu enquadramento legal impõe‐se. Em termos de legislação
específica da área dos media, merece destaca a Directiva Televisão sem Fronteiras, que
constitui o instrumento fundamental da política audiovisual da Comunidade Europeia. Esta
ferramenta legislativa visa preservar determinados objectivos importantes de interesse
público, como a diversidade cultural, a protecção dos menores e o direito de resposta. Foram
igualmente introduzidas normas circunstanciadas sobre o conteúdo e a periodicidade da
publicidade televisiva. Em 2005, a Comissão Europeia apresentou uma proposta de revisão
17
18. desta directiva, de forma a modernizar as regras em vigor. A principal motivação desta revisão
é atender à evolução tecnológica e às mudanças que ocorreram na estrutura do mercado do
sector audiovisual desde a adopção da directiva, em 1989, por via a preparar terreno para a
migração para o digital. Actualmente, verifica‐se também a afirmação da Directiva dos Serviços
de Media Audiovisuais, que pretende fornecer um quadro legal para a interoperabilidade dos
equipamentos em termos de recepção de conteúdos televisivos, ou seja, está focada nos
conteúdos e serviços, libertando o conteúdo audiovisual do televisor tradicional. A migração
para o digital é ainda afectada pela legislação existente relativa à regulação da concorrência,
nomeadamente no que se refere ao equilíbrio entre financiamento público e privado no sector
da televisão, ou seja, a regulação dos auxílios estatais aos operadores, e ao próprio processo
de migração. Neste âmbito, têm sido várias as polémicas que surgem pelo facto de
determinados governos europeus subsidiarem a compra de conversores para a TDT, o que é
apontado pelos operadores de cabo e satélite digital como sendo uma medida anti‐
concorrencial, favorecendo uma plataforma em detrimento das restantes. Por fim, a
digitalização da televisão é também afectada pelo quadro regulamentar das comunicações
electrónicas (nomeadamente, no que se refere ao aproveitamento de sinergias entre
empresas de telecomunicações e televisão), assim como à Comunicação relativa à gestão do
Digital Dividend, ou seja, como reutilizar as frequências libertadas pelo processo de migração
para o digital.
Tendo em conta este enquadramento geral, analisemos as iniciativas adoptadas
especificamente em alguns países europeus. Por um lado, destaca‐se a criação de entidades
“responsáveis” pela adequada implementação da TDT, tais como por exemplo a “Impulsa TDT”
em Espanha ou o “Digital UK” no Reino Unido. Tais entidades, que resultam na sua maioria de
parcerias entre todos os players envolvidos (canais de televisão, gestores dos multiplexes,
entidades de regulação, etc), têm como objectivos não apenas a coordenação dos esforços de
divulgação do processo de migração, mas também a avaliação constante do mesmo. Por outro
lado, em alguns casos podem também ser responsáveis pela gestão da atribuição de apoios
para a aquisição de descodificadores, tal acontece em França ou em Itália.
18
19.
Tabela 3. Exemplos de atribuição de subsídios para a TDT
País Medidas Indivíduos abrangidos
França (Ainda em definição) ‐ Indivíduos isentos do pagamento
Nas áreas dos desligamentos piloto, é da taxa de audiovisual
oferecido um desconto para a aquisição do
descodificador
Itália Desconto de 50€ para a aquisição dos
‐ Indivíduos com mais de 65 anos
descodificadores nas áreas onde se ‐ Indivíduos com um rendimento
registaram desligamentos em 2009 anula inferior a 10 mil € (em
algumas regiões)
Espanha Para as zonas I do processo de switch‐off, foi ‐ Indivíduos com mais de 65 anos e
oferecido o descodificador portador de algum tipo de
incapacidade
‐ Indivíduos com limitações
visuais/auditivas
‐ Indivíduos com 80 anos ou mais,
ou que vivem com alguém dessa
faixa etária
Fonte: E‐media Institute (2009)
Outros apoios atribuídos para o desenvolvimento da TDT incluem por exemplo
subsídios atribuídos aos operadores de televisão para o desenvolvimento das suas plataformas
digitais, nomeadamente através de apoios financeiros directos, através de uma redução do
valor a pagar pelo uso das frequências, ou graças a subsídios atribuídos aos produtores de
conteúdos. Outras medidas, levadas a cabo por exemplo na Bélgica e em Espanha, dizem
respeito ao financiamento dos testes das emissões da TDT, e dos processos de desligamento
do sinal nas zonas piloto. De referir também medidas tais como a criação de legislação para
tornar obrigatória a certificação dos televisores compatíveis com a TDT, tal como aconteceu no
caso italiano.
Figura 3. Itália ‐ Certificação das caixas descodificadoras e dos televisores
Fonte: dgtv
Por outro lado, um dos principais obstáculos ao desenvolvimento da TDT no seu início
era o elevado grau de desconhecimento em relação a esta forma de transmissão de televisão e
no que diz respeito ao processo de switchover (OfCom, 2007; Impulsa TDT, 2007). Assim, uma
19
20. das principais políticas no contexto de migração para a TDT foi o financiamento público de
campanhas de promoção desta tecnologia e do processo de migração. A Espanha, em
particular, foi um caso de sucesso neste contexto. A campanha de promoção da TDT, da
responsabilidade do órgão responsável pelo processo de switchover, a Impulsa TDT, começou
logo em 2006, estando organizada em torno de quatro objectivos concretos, correspondentes
a quatro fases de desenvolvimento da estratégia de comunicação. Um primeiro objectivo, a ser
cumprido em 2006, tinha como propósito dar a conhecer a TDT e o processo de transição,
assim como comunicar os benefícios racionais que a nova tecnologia traz ao indivíduo,
nomeadamente ao nível da melhoria da qualidade de imagem e aumento do número de
canais. Um segundo momento (2007) tinha como principal objectivo envolver os indivíduos no
processo de migração, tentando reclamar um papel activo do cidadão no âmbito do
switchover. Em 2008 a estratégia de comunicação passou a destacar o facto de a migração ser
obrigatória, dando também a conhecer os aspectos práticos da migração, nomeadamente no
que diz respeito à adaptação das antenas.
Figura 4. Sensibilização para a adaptação das antenas em Espanha ‐ Anúncio Câmara Oculta no
Elevador: “Adapta tu antena o te quedas sin televisión”
Fonte: Impulsa TDT (2010)
Por fim, uma quarta fase da estratégia de comunicação teve início juntamente com o
começo do desligamento das emissões analógicas, em 2009, prolongando‐se até ao final do
processo de switchover. Além de visar a divulgação das várias etapas e zonas do processo de
desligamento, tinha ainda como objectivo sensibilizar os grupos resistentes à migração para a
TDT, por via a não deixar ninguém de fora do processo.
Nesta mesma linha de comunicação, refira‐se também o exemplo da Dinamarca que,
além de diversas campanhas gerais de promoção da TDT de valor superior a 6,7 milhões de
euros (Vejlgaard, 2010), desenvolveu também uma linha de comunicação específica para
grupos sociais mais sensíveis, nomeadamente o caso dos idosos.
20
21.
Figura 5. Dinamarca ‐ Campanha dirigida à Terceira Idade
Fonte: Henrik Vejlgaard (2010)
Similarmente, a Finlândia criou um personagem que retratava os eventuais problemas
que os idosos poderiam ter para realizar o processo de migração, ajudando‐os a ultrapassar os
obstáculos encontrados. Neste âmbito, foram distribuídos panfletos ilustrativos do processo
de migração, e foi desenvolvida simultaneamente uma campanha de proximidade, com acções
de esclarecimento directas, nas várias localidades do país.
Figura 6. Finlândia ‐ Campanha dirigida à Terceira Idade
Fonte: http://www.digitelkkari.fi/site/docs/Digi‐tv%20esite%2007_A4_Ruotsi.pdf
21
22. Também o Reino Unido apostou de forma clara em comunicação por via a divulgar a
TDT e o processo de migração para o digital, desenvolvendo nesse âmbito um personagem: o
Digit Al.
Figura 7. Reino Unido – criação de personagem para divulgar a TDT: Digit Al
Fonte: Digital UK (2010)
De notar também a forte aposta numa comunicação integrada do ponto de vista dos
suportes utilizados, sendo veiculada não só através da televisão, mas tendo também uma forte
presença online, através da criação do site Digital UK por parte dos principais players do
mercado. A aposta nesse país passou também pela comunicação de proximidade, através da
distribuição de folhetos nas casas das pessoas e de “roadshows” protagonizados pelo Digit Al,
que percorreu o país a explicar aos indivíduos, face a face, o que era a TDT e como realizar o
processo de migração. Por outro lado, foi também realizada uma importante campanha junto
dos fornecedores e vendedores de televisões e caixas descodificadoras, para que fosse
disponibilizada aos clientes informação técnica ajustada.
22
23. 6. Avaliação do Processo de Migração para o Digital
Tal como referido anteriormente, uma das responsabilidades das entidades criadas
para a implementação da TDT nos vários países europeus é o acompanhamento e a avaliação
do processo de migração. Por exemplo, Broeck e Pierson (2008) referem que na primeira
semana após o desligamento das emissões analógicas na Finlândia o call center criado para dar
apoio às populações recebeu cerca de 4000 chamadas, sendo que algumas das chamadas
duraram mais de trinta minutos (na fase pré switch‐off, a duração média das chamadas era de
4 minutos). Na grande maioria dos casos, as chamadas eram relativas problemas ligados à
incapacidade de instalar o equipamento necessário para receber a TDT. Similarmente, o seu
site recebeu cerca de 65 mil visitas na semana após o switch‐off.
Além da avaliação do processo de desligamento das emissões analógicas em si, foram
também realizados estudos por via a acompanhar os impactos a longo prazo. A associação
Digital UK disponibiliza os resultados de um estudo realizado após o switch‐off, por via a
avaliar a percepção das pessoas acerca do processo de migração. Note‐se que apenas foram
inquiridos late adopters da TDT, ou seja, os indivíduos que só realizaram a conversão devido ao
desligamento iminente das emissões analógicas. Os dados obtidos sugerem que a experiência
do consumidor em relação ao processo de migração foi geralmente positivo. De facto, 60% dos
inquiridos afirma que a televisão digital é melhor que a analógica, sendo que perto de um
terço (31%) afirma mesmo desejar ter realizado a conversão há mais tempo. Verificou‐se ainda
que também 30% dos indivíduos declarou notar uma melhoria em termos da qualidade da
imagem e do som. Por outro lado, apenas uma minoria relatou problemas ao realizar a
conversão: 2% afirmou sentir‐se confuso sobre como utilizar o novo equipamento, e 4% sobre
como instalar o conversor. Simultaneamente, 78% dos late‐adopters afirmou não ter sentido
nenhum tipo de confusão em relação às várias etapas do processo de migração. Por outro
lado, o estudo destacou ainda as contribuições do processo de migração para a alteração das
atitudes em geral em relação às novas tecnologias, nomeadamente no caso dos indivíduos
com idades mais avançadas. A mudança para o digital, e a possibilidade de experienciar os
benefícios associados parece ter trazido maior curiosidade e menor receio em relação a
experimentar novas tecnologias digitais junto dos late‐adopters (Digital UK, 2010). Assim, mais
de um quarto dos indivíduos que só adoptaram a televisão digital devido ao switchover afirma
sentir‐se mais confiante em relação à utilização em geral das novas tecnologias, sendo que
23
24. 64% desses declarou ter intenções de experimentar outros dispositivos digitais,
nomeadamente gravadores e câmaras de vídeo, assim como a Internet (28%).
Similarmente, um estudo realizado pela Impulsa TDT após o inicio das emissões em
Espanha procurou desenvolver uma tipologia dos lares sem TDT, que nos permite dar conta
dos principais motivos para a não adopção desta tecnologia. Uma primeira categoria inclui os
grupos com probabilidade de migração para a TDT inferior a 50%, sendo por isso os grupos
mais sensíveis. Essa categoria subdivide‐se em 3 grupos. Um primeiro engloba aqueles que
desconhecem a existência da TDT (que representam à data do estudo cerca de 9% dos lares
sem TDT). Um segundo grupo, que também representa cerca de 9% dos lares sem TDT, inclui
os indivíduos reticentes à mudança, que não gostam de dispositivos tecnológicos novos e que
estão satisfeitos com a televisão analógica que recebem, não percebendo a necessidade de
migrar para a TDT. Por fim, um terceiro grupo diz respeito aos indivíduos que consideram caro
o processo de migração, existindo uma ausência da percepção de custo‐benefício.
Uma segunda categoria inclui grupos com probabilidade de migração entre os 50% e
os 60%. Neste contexto encontram‐se os “reticentes ao meio”, ou seja, indivíduos que não se
interessam de forma geral pela televisão, e por isso não encaram o processo de migração
como algo prioritário. Um segundo grupo desta categoria refere‐se aos lares com televisão de
acesso pago, que também não fazem do processo de migração uma prioridade visto não estar
em risco a capacidade de recepção do sinal televisivo. Por fim, um terceiro grupo identificado
neste contexto refere‐se os indivíduos mais carenciados e que, apesar da vontade de querer
migrar, não têm condições financeiras para tal.
Finalmente, uma terceira categoria refere‐se a grupos com probabilidade de migração
para a TDT superior a 60%. Um primeiro grupo neste âmbito inclui as pessoas que ainda não
pensaram nisso ou têm falta de tempo e que aguardam a aproximação da data de
desligamento das emissões para realizarem a migração. Há também um conjunto de indivíduos
que não procedem à migração por factores exógenos, nomeadamente a fraca recepção do
sinal na sua zona, ou o facto de não conseguirem realizar a mudança da antena no caso dos
prédios. Por fim, esta categoria inclui ainda o grupo dos inquiridos que já conhecem a TDT,
querem realizar o processo de migração, mas não sabem como proceder para tal.
24
25. Conclusão: Elementos Obrigatório do Processo de Switchover
A realização do presente estado da arte acerca da migração para a TDT na Europa
permitiu‐nos destacar alguns elementos obrigatórios para a adequada passagem para o
sistema digital. Por um lado, há um conjunto de factores relacionados com a própria oferta de
TDT. A experiência europeia demonstra a importância de envolver todos os players do
mercado no processo, não esquecendo no entanto o elemento final, ou seja, o espectador.
Neste contexto, as ofertas FTA assumem particular importância, nomeadamente em países
com longa tradição de emissões terrestres gratuitas. Deve também ser destacado o facto dos
conteúdos se assumirem como elementos fundamentais para o interesse dos espectadores,
sendo a melhoria da qualidade de imagem e a possibilidade de gravação digital também
atributos valorizados pelas audiências.
Além destes factores relacionados com a oferta de TDT, há também um conjunto de
factores‐chave que dizem respeito ao processo de migração em si, nomeadamente a correcta
divulgação da TDT e do switchover. As campanhas de publicidade são essenciais, mas também
as acções de proximidade com a população se afirmam decisivas. Por outro lado, é
fundamental aprender com as experiências realizadas nas zonas de desligamento piloto, que
podem fornecer informação relevante não apenas do ponto de vista tecnológico, mas também
do ponto de vista da aceitação da tecnologia por parte dos espectadores, e dos principais
obstáculos encontrados pelas audiências. Será também essencial garantir que todos,
nomeadamente os grupos sociais mais sensíveis (menores rendimentos, pessoas com
necessidades especiais, camadas etárias mais avançadas etc.) possam ter acesso à TDT. A
adequada migração para a televisão digital dependerá de todos estes factores, sendo
obrigatória a acção conjunta das entidades envolvidas. Mais do que um simples “aparelho”, a
televisão tem uma dimensão simbólica na vida das pessoas, pelo que todos os esforços
deverão ser conciliados para que todos possam usufruir de forma plena das potencialidades da
televisão digital.
25
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