O documento discute as perspectivas e desafios do serviço social na área de educação. Apresenta que a educação é um espaço ocupacional em expansão, mas sua efetivação como política pública é complexa devido à precarização. Também destaca que as políticas educacionais são contraditórias ao mesmo tempo em que respondem às necessidades do capital e dos trabalhadores.
Serviço social na área da educação perspectivas e desafios
1. SERVIÇO SOCIAL na
área de EDUCAÇÃO
Perspectivas e Desafios
ELIZASIMONE@GMAIL.COM
Simone Lessa, assistente social do Instituto de
Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – Cap/UERJ
2. Tema contemporâneo
pulsante:
• Educação: solução para todos os
problemas ?
• Espaço ocupacional em expansão
(não somente para o assistente
social)
• Efetivação complexa como política
pública: precarização
3. Para pensarmos na política educacional, é
preciso que compreendamos bem o
conceito de política social. Partimos da
ideia básica de que as políticas sociais
são contradição em essência, expressão
.
dos conflitos entre capital e trabalho
4. Políticas educacionais são contraditórias:
respondem às necessidades da acumulação,
no sentido da reprodução ideológica da força
de trabalho e da elevação de patamares
produtivos, mas também podem responder às
necessidades dos trabalhadores no sentido do
domínio da ciência, da compreensão do
mundo e do desenvolvimento tecnológico.
5. Para pensarmos nas Políticas
Educacionais
• Precisamos compreendê-las
historicamente, articulando-as ao
mundo contemporâneo.
Para isso são necessárias mediações...
6. Mediações
• Diversas mediações precisam ser consideradas:
nossa inserção na economia mundializada,
nosso modelo de produção de Ciência, a
dinâmica interna do país, os interesses
conflituosos entre capital e trabalho, as
relações entre o Estado e a Sociedade
brasileira, as pressões dos trabalhadores e da
burguesia...
7. Pensar a educação na
dinâmica internacional
• Este quadro guarda relação com as prescrições
dos organismos internacionais para países
periféricos.
• Elevação dos níveis de escolaridade (à
despeito da qualidade), a valorização das
formações profissionais de nível básico,
aligeiradas e determinadas pelo mercado de
trabalho, as recomendações quanto à
educação de mulheres
• Consideremos, ainda, as orientações no âmbito
do combate ou minimização da pobreza
8. Pensar a educação na dinâmica
nacional
• Qual o projeto de
crescimento/desenvolvimento em voga?
• Qual o “lugar” dedicado EFETIVAMENTE
(para além dos discursos) à Educação
como política pública?
• O que a burguesia nacional espera da
política educacional ? E os trabalhadores,
o que esperam ?
9. Por isso, no trabalho do assistente
social
• Todas estas reflexões precisam ser
consideradas quando pensamos nas
políticas educacionais e no trabalho
do Assistente Social neste âmbito.
• Este não pode estar resumido ao
fazer profissional imediato, sem
considerarmos o contexto complexo
onde este se gesta.
10. Por isso, é preciso...
• Que fujamos das análises românticas,
que idealizam as funções da Educação
• Que não identifiquemos a Educação
como “a” saída para os problemas
nacionais (perspectiva Educacionista/
Kropotkin)
• Que pesquisemos a área
11. Mudanças recentes: Brasil
• Em processo de ampliação e popularização da
Educação
• Regularidade
• Espaço para a chamada “inclusão”
• Interfaces diversas com outras políticas sociais
(saúde, trabalho, por exemplo)
• Abordagem da pobreza absoluta (vide PBF)
• Vinculada ao conceito de cidadania
12. Elementos históricos: sociedade
burguesa contemporânea demanda
(educação não pode ser “descartada”)
• Ampliação dos processos de
letramento e de profissionalização
• Inserção/integração ao modo de
produção ascendente
• Respostas às demandas de
organismos internacionais de
financiamento
13. Mundo do trabalho demanda
• Comportamentos adequados ao
trabalho desprotegido
• Disciplinamento/convívio coletivo
• “Empreendedorismo”
• Educação atitudinal
14. A “formação interessada”
(Gramsci) se fortalece
• A escola e a formação,
portanto, mostram-se
adequadas às necessidades do
mundo burguês, inclusive no
sentido da perpetuação da
desigualdade presente no
espaço extra-escolar.
15. Capitalismo marca a
Educação
• A Educação é atravessada pela
dinâmica de classe;
• A escola é uma instituição de
forte viés classista, ainda que,
contraditoriamente, possa ser
também espaço de resistência
16. Educação na atualidade: projetos
em conflito
• Projeto burguês: formação estritamente
para o trabalho (massa trabalhadora):
interessada, alienada, conciliadora,
produtivista, positivista
• Projeto dos trabalhadores: formação
científica, desinteressada, ampla,
complexa, capaz de dialogar com o
conhecimento acumulado, crítica,
integral, humanista, cidadã, protetora,
não discriminadora
17. Que projeto de educação tem
prevalecido?
• A formação tem sido limitada pelo
projeto de educação das atitudes,
ficando restrita ao domínio de
conhecimentos muito básicos para o
convívio numa sociedade que
naturaliza as diferenças.
• A “escola improdutiva” (FRIGOTTO,
1993), frágil, superficial, atitudinal, é
produtiva para o capital (nas periferias).
18. Vejamos projetos em
curso...
• Amigos da Escola e afins
• Reuni
• Prouni
• Pronatec
• Parcerias público-privado no âmbito municipal
• EAD
• Privatizações tradicionais ou veladas (uso de
recursos públicos na rede privada)
• “ONGUIZAÇÃO” da educação: descontinuidade
de projetos
19. Vejamos alguns números....
• 16,2 milhões vivem em extrema pobreza (70 reais/mês):
como aprender assim ?
• Analfabetos funcionais: 20,3% dos brasileiros (PNAD,
2009)
• 9,7% é nossa taxa oficial de analfabetismo
• PISA (Programa Internacional de avaliação de alunos): de
65 países ficamos em 53 em ciências e 57 em
matemática
• Oitava economia do mundo e 73º no ranking de IDH
(longevidade, educação e renda)
20. Vejamos alguns números....
• IDEducacional /Unesco (nível mundial)
Brasil está em 88º
• Brasil: reconhecido internacionalmente
por pagar mal seus educadores e por sua
péssima infra-estrutura escolar
21. Algumas respostas contemporâneas
por parte do Estado...
• Investimento em avaliação e não na
qualidade do processo formativo
• Produtivismo: premiar por resultados nas
avaliações
• Ações de voluntariado
• Parcerias público-privado (Pronatec)
• Ações Emergenciais (Brasil Alfabetizado)
22. Resistência dos
trabalhadores
• Educação no MST/Escola Florestan
Fernandes
• Lutas e efetivação de escolas
públicas democráticas, acessíveis e
de qualidade
• Projetos de Educação Popular
• Luta sindical (apesar de fragilidades)
23. As políticas educacionais são instrumentos
suficientes de enfrentamento da “questão
social” ?
• A questão social, em suas diferentes
expressões, tem estado presente no espaço
educacional e tem sido objeto de ações neste
campo ao longo da história. Este quadro não é
novo
• Vejamos as obras como “Maquinaria e Grande
Indústria” (Marx), ou compêndios sobre
História da Educação (Manacorda) ou sobre
História da Educação Profissional (Manfredi,
Cunha).
24. QUESTÃO SOCIAL e
EDUCAÇÃO: vínculo histórico
• O espaço educacional, portanto, sempre foi
utilizado na intenção
enfrentamento/minimização das sequelas da
“questão social”, em especial aquelas
relacionadas à pobreza.
• Este dado pode ser verificado em ações que
aliam práticas assistenciais ao espaço
educacional, ou mesmo na proposição legal
(vide a LDB, o ECA, a LOAS e Programas como
o Bolsa Família, o Família Carioca e afins).
25. Serviço Social da Educação
• Experiências no Sistema “S” na década de
1950 (trabalho do “menor”);
• Ações na Educação Popular
• Aproximação intensificada na década de
1990, com o advento de políticas que
associam transferência de recursos à
condicionalidade educacional
26. O trabalho do AS no espaço educacional
hoje
• Precisamos encarar:
• Que a expansão educacional tem sido feita de modo
descuidado e utilitarista;
• Que as ações compensatórias têm minimizado a
importância da formação;
• Que a Educação não é um “fetiche”;
• Que não temos todas as respostas para os reflexos da
questão social na escola;
• Que o campo educacional não deve comportar
emergencialismos;
27. Uma educação de qualidade supõe que
os processos formativos recebam
suporte muito além da sala de aula
• Ninguém aprende somente na sala de aula
• Estudo é igual a Trabalho (Gramsci), demanda
investimento longo e cuidadoso
• A aprendizagem é resultado, também, das
condições de vida
• Estímulo vai muito além do espaço da escola
28. Demandas para a Educação
• Financiamento: 10% do PIB
• Melhoria de salários e equipamentos
• Controle social
• Participação intensa das famílias e dos
estudantes nos ambientes de formação
29. Demandas para a escola
(que se refletem no Serviço
Social)
• Acolhimento (crianças/adolescentes e famílias)
• Qualidade
• Abertura e diálogo com a família e a
comunidade
• Melhor organização da rede de apoio escolar
• Controle social
30. É preciso fundamentar
teoricamente a prática
• É preciso conhecer o debate em torno da
Educação brasileira
• A inserção do assistente social no campo
educacional deve se concretizar indo além das
demandas da instituição (em geral restritas ao
controle dos “alunos problema”)
• Estimular um olhar mais totalizante em torno
das expressões “questão social” no ambiente
escolar: desvelar a complexidade do conceito
“família/aluno” problema
31. Possibilidades...
• Projetos em torno das expressões da
questão social no interior da escola são
importantes;
• Articulação de recursos na organização de
uma retaguarda de apoio aos processos
educacionais;
• Ações no sentido de favorecer o espaço
democrático e a aproximação família-escola
(inclusive na gestão escolar);
• Organização de atividades de caráter
multiprofissional
32. Desafios em um Colégio de
Aplicação
• Público: pseudo-diversidade
• Questões que afligem as camadas médias urbanas na
educação de seus filhos (não necessariamente
relacionadas à destituição econômica)
• Tensão: “escola contra família e família contra a escola”
• Organização de um Programa de Bolsas
(auxílio/inclusão/inserção)
• Desenvolvimento de Projetos (temas transversais,
direitos humanos)
• Ampliação do olhar em torno das expressões da
“questão social”
33. Serviço Social nos CAPs: experiência em
construção
• UFMA
• UFJF
• UF Viçosa
• USP
• UFRJ
• Outras: IFETs
34. Educação
• A democratização do acesso à escola é
fundamental e necessária, mas não retira do
abandono, por si só, longas faixas populacionais
condenadas à não existência;
35. Pertinência da poesia de
Brecht
• Como pode não ser um embusteiro
aquele que
Ensina os famintos outras coisas
Que não a maneira de abolir a fome ?
36. Referências Básicas...
• FREIRE, Paulo e HORTON, Myles. O caminho se faz caminhando:
conversas sobre educação e mudança social. São Pulo: Cortez, 2003
• FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da escola improdutiva. SP,
Cortez, 1993
• ___________. Juventude, trabalho e educação no Brasil.
Perplexidades, desafios e perspectivas. IN, NOVAES, Regina.
Juventude e Sociedade, trabalho cultura e participação. São Paulo,
Ed Perseu Abramo, 2004
• MANFREDI, Silvia. Educação Profissional no Brasil. SP, Cortez, 2003
• MANACORDA, Mario A. História da Educação. SP, Cortez, 2000
• MARX, Karl. O capital, volumes I e III. Coleção os economistas, SP,
Nova Cultural, 1987
• MÉSZÁROS, Istvan. Educação Para além do capital. Boitempo;
Campinas (SP): 2002.