1. Modulo 6
Caro Professor!
Este módulo tem a duração de 20 horas e tratará das relações entre escola e família. Esperamos que, ao final,
você seja capaz de:
Pense sobre a família
Você tem família? Todas as famílias são iguais? Algumas famílias são melhores do que as outras?
Pois é! Essas questões que fazemos serão o mote deste primeiro tema de trabalho.
Aparentemente são questões óbvias, afinal, todo mundo sabe, vive ou se relaciona com alguma família.
No entanto, nós educadores, devemos dar um tratamento mais reflexivo a este tema, em sua relação com a
escola, a fim de fundamentar uma prática coerente e adequada aos nossos alunos.
A família como tema aparece na publicidade, na novela, na literatura, na música, na arte...
Ouça essa música, clicando aqui .
Clique aqui e acompanhe a letra da música.
Exercite a observação
Propomos pensar sobre a
família, quer dizer, as famílias,
porque, assim como a
sociedade, a família está
sempre em transformação,
mutação.
Clique em Saiba Mais para que
vejamos a visão do poeta
Carlos Drummond de Andrade:
2. Diante desse tema tão rico, tão polêmico, e sobre o qual todo
mundo tem uma opinião, uma visão, um comentário, uma
experiência, iremos neste módulo desenvolver um percurso
reflexivo sobre a FAMÍLIA, célula nuclear da organização
social e parceira inconteste da instituição escolar na
atualidade.
Façamos um breve deslocamento no tempo: vamos observar
uma imagem do que seria uma família tradicional.
(clique sobre a imagem para ampliar)
O que você vê nesta figura?
Observe atentamente como cada
personagem está retratado no quadro.
Como você percebe a postura, a atitude, de
cada um deles? Como você descreveria a
figura da mãe? E o pai? Que tarefas estão
sendo executadas? O que elas significam?
Pense nessas questões durante alguns
minutos.
Você notou que na cena retratada a figura
do pai aparece em destaque? Ele está um
pouco à direita (próximo do cão e dos
instrumentos musicais), lê um documento e
ninguém se dirige a ele, numa atitude soberana; usa trajes formais e se senta sobre algo como um manto. O
pai não se ocupa das crianças, está absolutamente concentrado em sua leitura.
Vamos nos deter agora na figura da mãe: aparece ao fundo da cena, mas em posição central, orientando e
introduzindo a filha nos afazeres domésticos. Ela está posicionada atrás da figura do homem.
E os filhos? Entre as figuras do pai e da mãe, mas mais próximos da mãe, estão os outros membros da
família: um menino em pé, lendo, e as outras três crianças aos pés da mãe, uma delas com um bebê negro
nos braços. Podemos perceber que a criança que está em pé, é um menino, e também lê. As outras crianças
parecem estar numa posição hierarquicamente inferior. Só o pai e o menino leem, dedicam-se a uma tarefa
considerada mais nobre. A mãe, introduz a filha nos afazeres domésticos. Há uma distinção muito nítida
entre o universo masculino e o universo feminino. A mãe está mais próxima da janela, dos arranjos.
Note que do lado esquerdo do quadro se concentram os objetos do mundo feminino e do lado direito aqueles
que definem o universo masculino.
Trata-se de uma cena urbana, já que podemos visualizar os muros e, portanto, há vizinhos. Observe que é
uma família numerosa, composta por quatro a cinco crianças. A privacidade da família fica marcada ao
concentrar-se intramuros e é importante também observar as roupas e os objetos decorativos retratados.
Podemos dizer que essa imagem família tradicional.
3. Como é a família de hoje?
Se você retratasse uma família hoje, como seria esta cena? Quais personagens estariam presentes? Em que
atividades eles estariam envolvidos? Qual seria o cenário? E os objetos presentes na cena?
Imaginou?
Agora, experimente fazer algumas simulações no quadro a seguir.
A partir dessa simulação, você pode tirar muitas conclusões. Destaquemos duas delas:
a família está mudando;
há muitos modos de ser família hoje.
Vamos pensar um pouco nesta trajetória?
Três grandes períodos na evolução da Família
Clique sobre o título para ler o conteúdo.
Esse quadro apresenta de forma resumida as principais mudanças no campo da família. Contudo, essa
4. evolução não exclui a coexistência de diferentes tipos de família na atualidade, inclusive o modelo
tradicional. Agora, não podemos esquecer que estas concepções partem de um modelo europeu.
E a sociedade brasileira, ela seguiu esse enquadramento, essa definição? Quais seriam as nossas
particularidades neste percurso?
E a família brasileira?
O que esquecemos, muitas vezes, é que o modelo de família, de origem europeia, ao deslocar-se para o
Brasil encontrou um contexto no qual o papel da
mulher sempre se mostrou com outra dimensão, desde
as combinações entre índios e colonos portugueses, e
seus núcleos organizacionais, até a presença africana e
sua forte constituição matriarcal. Dentro dessa variada
e rica simbiose tivemos uma história da família
complexa e mutante, que a segunda metade do século
XX só veio enriquecer.
O surgimento de uma etnia brasileira (...) que possa
envolver e acolher a gente variada que aqui se juntou,
passa tanto pela anulação das identificações étnicas de
índios, africanos e europeus, como pela indiferenciação
entre as várias formas de mestiçagem. (...) Só por esse
caminho, todos eles chegam a ser uma só gente, que se
reconhece como igual em alguma coisa substancial que anula suas diferenças e os opõe a todas as outras
gentes. Dentro do novo agrupamento, cada membro, como pessoa, permanece inconfundível, mas passa a
incluir sua pertença a certa identidade coletiva. (RIBEIRO, Darcy. Viva o Povo Brasileiro. São Paulo:
Companhia das Letras, 2006, p. 119-120.)
Mudanças sociais e suas influências sobre a família
A partir da segunda metade do século XX, uma série de elementos em combinação – economia, cultura,
legislação, direito entre muitos outros – tem levado a mudar a presença e o papel dos personagens
familiares: pais, mães e filhos. Considerando, por exemplo, as alterações do campo do trabalho e a inserção
da mulher trabalhadora em um alto nível de participação, ou a questão da constituição de um largo corpo
legislativo voltado à proteção e ao direito da criança e do adolescente, constatamos profundas alterações
sociais que têm, num curto espaço de tempo histórico, influenciado a organização, a composição e a
identidade do que chamamos família.
Veja no quadro a seguir os principais processos econômicos e políticos que incidiram sobre a família
brasileira:
Clique sobre o título para ler o conteúdo.
5. Nesse cenário de intensas transformações, tanto a família como a escola sofreram inúmeras alterações,
constituindo um novo referencial que ainda está sendo processado e compreendido por todos.
Novas configurações familiares – principais desafios
Estas transformações refletem uma crise ou uma mudança? É uma
tarefa docente refletir sobre estas questões e conhecer as famílias de
seus alunos, antes de idealizá-las.
Há diversas maneiras de constatarmos que a família mudou. Podemos
recorrer aos dados do IBGE , aos programas televisivos voltados ao
grande público, aos comerciais de televisão, às produções
bibliográficas de autores de diversas áreas (como a psicologia, a
sociologia, a psicanálise, a educação), às charges e tirinhas de jornal
ou, ainda, ao cotidiano escolar e ao relato de professores sobre as
famílias de seus alunos.
As transformações no campo da família refletem mudanças
importantes nos modos como as relações têm se estabelecido na
atualidade e têm consequências visíveis no cotidiano escolar, na
relação entre professor e aluno e entre escola e família.
Síntese de Indicadores Sociais
Brasil termina o século com mudanças sociais
Levantamento do IBGE sobre a década de 90 revela um Brasil com famílias menores, mais escolaridade, melhores
resultados na taxa de mortalidade infantil e transformações diversas no mercado de trabalho. O país termina o século
marcado pela permanência da desigualdade: na década de 90, o rendimento dos 10% mais ricos e dos 40% mais
pobres cresceu 38% (passando de 13,30 salários mínimos para 18,40) e 40% (da fração de 0,70 salário mínimo para
0,98), respectivamente, mantendo inalterada a elevada concentração da renda na sociedade brasileira.
A educação influencia na melhora do rendimento, mas, na década, enquanto os trabalhadores brancos tiveram um
aumento de um salário mínimo para cada ano de estudo a mais, os negros e pardos foram menos favorecidos com
um aumento de meio salário. A nova publicação, que tem o nome de Síntese de Indicadores Sociais 2000, reúne
informações da década de noventa por Estados e Regiões Metropolitanas.
Família brasileira fica menor e tem nova cara
O tamanho das famílias brasileiras, que na década de 80 foi de 4,5 pessoas em média, chega ao fim dos anos 90
com apenas 3,4 pessoas. A família tradicional, composta pelo casal com filhos, caiu de quase 60%, em 1992, para
55%, em 1999, ao mesmo tempo em que aumentou a proporção de outros tipos de composição familiar: de mulheres
sem cônjuge e com filhos (de 15,1% para 17,1%) e de casal sem filhos( de 12,9% para 13,6%). Cresce também o
número de pessoas vivendo só, representando 8,6% em todo o País. As Regiões Metropolitanas de Porto Alegre
(13,5%) e Rio de Janeiro (11,3%) apresentaram as maiores proporções de pessoas vivendo sozinhas. A redução do
tamanho da família pode ser explicada, sobretudo, pela acentuada queda na taxa de fecundidade nas últimas três
décadas, de 5,8 filhos, em 1970, chega a 1999 com 2,3 filhos. Fatores como a mudança de valores culturais do
brasileiro e o ingresso maciço de mulheres no mercado de trabalho também influenciaram a redução da família ao
núcleo conjugal com filhos.
E ainda, o declínio da fecundidade é maior entre as mulheres com nível elevado de instrução. Em 99, as mulheres
com nível de instrução mais baixo ( menos de 4 anos de estudo) tinham em média 3, 1 filhos, enquanto as mulheres
6. com 8 anos e mais de estudos tinham em média 1,6 filhos.
A renda aparece como determinante do tamanho das famílias, sendo o número de filhos e de pessoas inversamente
proporcional à renda familiar. Em 99, uma família com renda per capita até 1/4 do salário mínimo tinha, em média, 5
pessoas enquanto uma família com renda per capita de mais de 5 salários mínimos tinha, em média, 2,7 pessoas.
A diferença entre a esperança de vida da região Sul (a mais elevada) e a região Nordeste (a mais baixa), que já foi
de 10 anos nas décadas passadas, cai em 1999 para 5 anos. Na década, o brasileiro passou a viver, em média, mais
2 anos, sendo mais vantajosa a expectativa de vida em relação as mulheres que chegam a viver em média 72,3 anos
, bem superior a dos homens de 64,6 anos. ( veja Síntese nas páginas 217, 218, 219, 220, 40, 41 e 43).
O papel do idoso na família
O número de idosos (60 anos e mais de idade) chega a 14,5 milhões passando a representar 9,1% da população
brasileira, enquanto no inicio da década somavam 11,4 milhões, isto é, 7,9% do total. Apesar do processo de
envelhecimento recente, a população brasileira pode ser considerada uma das maiores do mundo, superior a da
França, Itália e Reino Unido. Daqui a 25 anos esta população de idosos no Brasil poderá ser superior a 30 milhões.
Cerca de 65% dos idosos eram, em 1999, os responsáveis pela família e mais de um terço ainda se encontrava no
mercado de trabalho. Quase 12% viviam sozinhos e 27% deles declararam possuir um plano de saúde. (páginas 282,
283, 284, 292 e 293).
A opção pelo estudo
Na década de 90, a escolaridade média dos jovens de 15 a 24 anos aumentou 1,2 anos e a proporção de
trabalhadores nesta faixa etária caiu de 59,2%, em 1992, para 51,7%, em 1999. A redução na taxa de ocupação
pode ser resultado de uma opção dos jovens pelos estudos ou das dificuldades do próprio mercado em absorvê-los.
O número de adolescentes que trabalham e estudam cresceu 9,6% no mesmo período. A velocidade da
escolarização é maior entre os jovens de 20 a 24 anos chegando a 51% de crescimento (de 16,9%, em 1992, para
25,5% , em 1999).
Ainda no período de 92 a 99, a taxa de analfabetismo caiu de 17,2% para 13,3%. Em relação ao analfabetismo
funcional (pessoas com menos de 4 anos de estudo), foi verificada também uma redução de 36,9% para 29,4% no
país, apesar das altas proporções observadas em alguns estados como o Piauí com 53%.
Enquanto a desigualdade reduziu-se velozmente na escolarização das crianças entre sete e 14 anos (passando de
74,5% para 92,5% a taxa de escolarização entre os 25% mais pobres da população brasileira) ela mantém-se muito
elevada no pré-escolar. As famílias com renda per capita superior a três salários tem mais de 90% de suas crianças,
entre quatro e seis anos, escolarizadas, contra menos da metade nas famílias com renda mensal per capita inferior a
½ salário mínimo.
O ingresso na escola pode ser observado ainda entre as crianças de 0 a 3 anos de idade. No período de 1995/1999,
a freqüência no estabelecimento de ensino ou de cuidados maternais passou de 7,6% para 9,2%. Entretanto, essa
escolarização é maior entre as crianças que vivem em famílias com rendimento superior a 3 salários mínimos
alcançando a proporção de 32%. Já para as crianças pobres o crescimento foi pequeno passando de 4,9%, em 1995,
para 5,9%, em 1999. ( páginas 94, 95, 96, 97, 255 e 256)
Cai a taxa de mortalidade infantil
A mortalidade infantil e de menores de 5 anos vem mantendo a tendência histórica de queda. De 1992 para 1999, a
mortalidade infantil no Brasil cai mais de 20%, passando de 44.3‰ para 34,6‰. Na região Nordeste, onde se
concentram os maiores níveis de mortalidade infantil, estima-se que em 1999, para cada 1000 nascidos vivos, 53
crianças menores de 1 ano morreram. Embora Alagoas tenha o maior índice de mortalidade infantil (66,1‰),em
1999, a queda na década foi representativa já que em 1992, era de 88,7‰.
O nível de instrução das mães está relacionado ao bem estar das crianças. Na década de 90, o declínio da
mortalidade infantil foi mais expressivo entre as mães com até 4 anos de estudo, mas em 99 o resultado ainda era
três vezes superior (93 mortes para cada mil 1000 crianças menores de um ano) ao das mães com 8 anos e mais de
estudos ( 29,7 óbitos para cada mil crianças).
(páginas 51 e 53).
Os jovens e a violência urbana
De 1992 a 1998, a proporção de mortes por causas violentas (homicídios, suicídios e acidentes de trânsito) entre os
adolescentes e jovens, na faixa etária de 15 a 19 anos, subiu de 63% para 68%. A região Sudeste tem a maior taxa,
onde 73% dos óbitos dessa faixa etária estão relacionados a causas violentas. Em todas as outras regiões, a
mortalidade por causas externas nessas idades representam pouco mais de 60% do total de óbitos. Em 1998, as
maiores taxas foram registradas em São Paulo (77,4%), Pernambuco (74,7%), Distrito Federal (74,0%), Rio de
Janeiro (73,7%) e Espírito Santo (73,3%) (páginas 58 e 59).
A desigualdade racial
Os avanços alcançados nos níveis de educação e rendimento não alteraram significativamente o quadro de
desigualdades raciais. Embora a taxa de analfabetismo tenha caído para todos os grupos, ainda é mais elevado, em
1999, para pretos e pardos (20%) do que para brancos (8,3%). O aumento do número de anos de estudo foi
generalizado – com a população como um todo registrando um ano a mais de estudo de 1992 a 1999. Apesar disso,
na comparação por cor ou raça, há uma diferença de dois anos de estudo, em média, separando pretos (4,5 anos) e
pardos (4,6) de brancos (6,7). Uma vez que esses patamares têm-se mantido historicamente inferiores para pretos e
pardos, o crescimento de um ano de estudo no total, revela-se mais significativo para esses grupos. No Nordeste, por
exemplo, esse ganho correspondeu a um aumento de quase 50% nos anos médios de estudo de pretos e de mais de
7. 25% no de pardos.
Entre 1992 e 1999, o aumento de um ano de estudo correspondeu a uma elevação de 1,2 salários no rendimento de
brancos e de meio salário no rendimento de pretos e pardos.
Na década, houve uma queda generalizada no número de famílias vivendo com até meio salário mínimo per capita,
mas, em 1999, ainda se encontram nessa situação 26,2% das famílias pretas e 30,4% das pardas, para 12,7% das
brancas. Também, a posição na ocupação se mantém inalterada na década, com mais pretos e pardos (14,6% e
8,4%) no emprego doméstico que brancos (6,1%) e, ao contrário, mais brancos (5,7%) entre os empregadores, que
pretos e pardos (1,1% e 2,1%). (Páginas 305, 306, 315, 316, 317,318, 319, 320 e 330)
Mudanças no mercado de trabalho
A tendência de aumento de mulheres no mercado de trabalho foi observada em todas as regiões, com destaque para
os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará e Piauí que registraram, em 1999, taxas de atividade
feminina mais elevadas que a média. A taxa de atividade rural também é bem maior que a urbana, embora, na
década, a rural tenha caído (de 72,5% para 70,7%) e a urbana tenha crescido (de 52,5% para 58,6%).
Outra grande transformação ocorreu na distribuição da ocupação por faixa etária, com os grupos de 10 a 17 anos e
de mais de 65 anos, cada vez mais passando para a população não economicamente ativa. Na faixa de 10 a 14
anos, a taxa caiu de 22,4% para 16,6%, na década e, no grupo de 15 a 17 anos, de 54,3% para 44,6%.
A população ocupada, que era de 65,2 milhões de pessoas em 1992, passou, em 1999, para 71,7 milhões,
registrando uma tendência de queda dos trabalhadores com carteira (64% para 61%). Os estados do Rio de Janeiro,
São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina contam com mais de 70% de sua população de empregados, com
carteira de trabalho. No caso dos trabalhadores domésticos, houve um aumento significativo na formalização do
trabalho, passando de 18% para 25%, no período, ainda que bastante diferenciados no país, variando de 32,1% no
Sudeste para 6,8% no Norte.
Em relação ao rendimento médio dos ocupados, houve aumento de R$402,50 para R$521,10, de 1992 para 1999,
com grandes variações tanto regionais quanto de distribuição de renda. No Sudeste, o valor médio foi de R$631,20
enquanto no Nordeste, de R$314,70. Também, as diferenças são acentuadas entre os 10% mais ricos, que têm um
crescimento substancial nos rendimentos, passando de 13,30 salários mínimos para 18,40 na década, enquanto os
40% mais pobres passaram da fração de 0,70 para 0,98 do salário mínimo. ( páginas 145, 146, 147, 148, 161, 162 ,
165 e 166)
90% dos domicílios urbanos têm água por rede geral, mas apenas 52% tem rede coletora de esgoto
Os serviços de coleta de lixo também apresentam uma variação muito grande , cobrindo 85% dos domicílios com
coleta direta e 8,8% de forma indireta, em 1999. No entanto, a proporção de domicílios urbanos ligados à rede
coletora de esgoto ainda é baixa: de 1992 para 1999, passou de 48% para 52,5%. Nas regiões metropolitanas, a
situação é bastante desigual: os percentuais variam de 7,7% em Belém para 86,9% em Belo Horizonte. ( páginas
192, 193, 194, 195, 196 e 197)
Comunicação Social
Mudanças na família
8. Vejamos na charge ao lado como
as mudanças na família são
retratadas.
Que mudanças são essas?
Trata-se verdadeiramente de uma
crise na família?
É fundamental refletir sobre essa
temática para, num segundo
momento, construir estratégia de
intervenção com nossos alunos e
suas famílias, e elaborar projetos
com as famílias de nossos alunos e
com a comunidade. Portanto,
vamos nos deter nos modos como
a família vem sendo retratada nos
diversos meios citados e nos
principais estudos sobre as
modificações no âmbito da
família.
Dados do IBGE sobre a
família brasileira
Vejamos agora alguns dados do
IBGE sobre a família brasileira:
O padrão de família no Brasil
apresentou algumas mudanças nas
últimas décadas do século XX.
Dentre essas, destacam-se:
queda substancial do
tamanho da família;
aumento do número de
famílias do tipo mulheres sem cônjuge com filhos;
aumento do número de famílias cujas pessoas de referência são mulheres.
Gráfico 1
Fonte: IBGE.
Mas ainda predomina o padrão histórico de família, “casal com filhos” (Gráfico 1)
9. Desde a década de 1980 vem crescendo continuamente a proporção de mulheres como pessoa de referência
da família. Essa é uma tendência que pode ser observada no Gráfico 2, a seguir.
Gráfico 2
Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1981 a 1989, 1990 e 2001.
Estudo sobre a composição familiar - leitura de texto
Agora sugerimos a leitura do texto de M. R. Kehl, intitulado “Em defesa da família tentacular”. Clique
aqui para ler.
Esta leitura permitirá que avancemos na discussão, reunindo elementos
para:
colocar em suspenso a perspectiva de que existiria uma crise na
família (o que legitimaria ver as famílias contemporâneas sob o estigma
da falta de estrutura);
colocar em suspenso a ideia de que existiria uma família ideal;
verificar como as mudanças no campo da família refletem
mudanças mais amplas que estão ocorrendo no campo social,
observando suas consequências para as relações que se estabelecem
entre alunos e professores, professores e pais, famílias e escola;
e, por último, refletir sobre as possibilidades e limites no
trabalho com as famílias.
Famílias desestruturadas?
10. A partir do texto lido, podemos afirmar que a família vem se modificando e novas configurações familiares
têm reclamado legitimidade e reconhecimento social na atualidade. Contudo, diversos autores se posicionam
de forma cuidadosa diante daqueles que alardeiam uma crise na família ou que a família estaria em vias de
extinção.
De fato, as famílias com as quais temos nos deparado na escola não se parecem com um certo ideal de
família identificado com os comerciais da “família doriana” divulgados nos anos 1980: pai, mãe e filhos (de
preferência um casal), cachorro e uma refeição partilhada de modo afetivo e agradável.
O que se questiona é que as percepções dessas mudanças levem a um julgamento destas famílias em termos
de “famílias desestruturadas”.
Esse discurso em relação às famílias circula na escola, mas também entre
assistentes sociais, psicólogos, juristas, etc., como se todos acreditassem que
muitos dos problemas que têm nos afligido na atualidade pudessem ser
atribuídos a uma crise na família. M. R. Kehl, autora do texto, observa que a
crise social que afeta todo o país está diretamente relacionada com a
degradação dos espaços públicos que vem ocorrendo sistematicamente no
Brasil, afetando em especial as camadas mais pobres.
"A família não é mais a mesma"
A frase “a família não é mais a mesma” indica que avaliamos nossa vida
familiar em comparação a um modelo de família idealizado, modelo este que correspondeu às necessidades
da sociedade burguesa emergente em meados do século XIX (Imagem 1). Estudos demográficos recentes
(Gráficos 1 e 2) indicam tendências de afastamento em relação a este padrão, que as classes médias
brasileiras adotaram como ideal.
Quando se afirma que “a família não é mais a mesma”, não podemos deixar de nos perguntar: essa suposta
família “normal” seria garantia de desenvolvimento saudável para suas crianças?
Você sabia que em países como a França, por exemplo, as novas formas de família vêm recebendo também
novos nomes, que permitem legitimá-las como família: famílias monoparentais, pluriparentais, recompostas
e homoparentais?
Você sabia que o Censo 2010 será um retrato de corpo inteiro do país com o perfil da população e as
características de seus domicílios, ou seja, ele nos dirá como somos, onde estamos e como vivemos?
(Fonte: site do IBGE).
Reflexão
Até aqui, discutimos o que é uma família, possibilidades de nos posicionarmos frente à ideia de que
estaríamos diante de uma crise na família e mesmo de que haveria uma família ideal. Destacamos as
principais mudanças no campo da família e algumas características da família brasileira na
atualidade. Constatamos a presença de novas formas de família em charges, em pesquisas
quantitativas e na bibliografia recente de autores renomados.
Agora abordaremos as novas formas pelas quais a família tem se apresentado. Para tanto,
gostaríamos que você tomasse alguns minutos para refletir sobre as seguintes questões (esta reflexão
pode ser realizada a partir de experiências anteriores de docência e/ou do estágio que você está
realizando):
11. Vídeo sobre "A nova cara da família brasileira"
Agora gostaríamos que você assistisse o seguinte trecho da área de jornalismo da TV Cultura, sobre “a nova
cara da família brasileira”.
Um primeiro ponto a discutir seria por que um programa como esse se dedica ao tema das mudanças no
campo da família?
Uma hipótese seria que, de fato, este é um tema muito atual e as realidades estão se modificando de forma
tão intensa e rápida que é preciso que a sociedade possa refletir sobre essas mudanças, para poder absorvê-
las
Exemplos de organizações familiares
Um segundo ponto que chama a atenção é que o programa selecionou três formas de família para apresentar.
Detenhamo-nos em cada uma delas:
Clique sobre o título para ler o conteúdo.
Entrevista com psicanalista belga sobre as relações familiares na atualidade
Assim, não é possível a escola manter certos preconceitos na hora de construir suas relações com as famílias
de seus alunos.
Vejamos como o psicanalista belga, Jean-Pierre Lebrun, estudioso das relações familiares, coloca-se quando
entrevistado pela revista Veja:
12. VEJA – Costuma-se atribuir o mau comportamento dos filhos à falta da estrutura familiar tradicional, como
a que ocorre após uma separação. Qual a exata influência que isto pode ter?
JPL – Uma família organizada de forma aparentemente harmônica não necessariamente faz de um jovem
uma pessoa capaz de conviver e suportar o sofrimento inerente à condição humana. Esta capacidade pode
ser pequena em famílias aparentemente realizadas, com estrutura sólida. Assim como pode ser enorme em
uma família conflituosa, dividida, conturbada. Por isso não se deve levar em conta apenas o aspecto exterior
da família. O que vale é a capacidade dos pais em fazer os filhos crescerem. De incutir-lhes a verdadeira
condição humana. Este é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha.
Diante disso, imaginar que a relação da família com o restante da sociedade fosse permanecer a mesma é no
mínimo querer ser ingênuo. Portanto, a escola, uma instituição extremamente vinculada à família, não pode
querer imobilizar uma relação quando os sujeitos que a constituem estão mudando, tanto a escola como a
família, neste início de século XXI.
"Ensinem os filhos a falhar"
Estudioso das relações familiares, o psicanalista belga
Jean-Pierre Lebrun diz que aprender a lidar com o insucesso
é fundamental para livrar-se de apuros na vida adulta
Ronaldo Soares
Selmy Yassuda
"Uma família harmônica não
necessariamente faz de um jovem uma
pessoa capaz de suportar o sofrimento
inerente à condição humana"
Nos últimos trinta anos, o modelo tradicional de família passou por alterações significativas, principalmente
no mundo ocidental. A ideia dos pais como senhores do destino dos filhos vem desabando
progressivamente, no ritmo das transformações sociais. As consequências disso não são necessariamente
ruins, como explica o psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, uma das principais referências na Europa no
estudo sobre mudanças nas relações entre pais e filhos: "O que vale é a capacidade dos pais de fazer os
filhos crescer. Esse é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha". Lebrun
esteve no Rio de Janeiro, para participar do 3º Encontro Franco-Brasileiro de Psicanálise e Direito. A seguir,
os principais trechos da entrevista que concedeu a VEJA.
Por que os pais hoje têm tanta dificuldade de controlar seus filhos?
Isso é reflexo da perda de legitimidade. Até pouco tempo atrás, a sociedade era hierarquizada, de forma que
havia sempre um único lugar de destaque. Ele podia ser ocupado por Deus, ou pelo papa, ou pelo pai, ou
pelo chefe. Isso foi se desfazendo progressivamente, e o processo se acentuou nos últimos trinta anos. Hoje a
organização social não está mais constituída como pirâmide, mas como rede. E na rede não existe mais esse
lugar diferente, que era reconhecido espontaneamente como tal e que conferia autoridade aos pais. As
dificuldades para impor limites se acentuaram, causando grande apreensão nas pessoas quanto ao futuro de
seus filhos.
13. Existe uma fórmula para evitar que os filhos sigam por um caminho errado?
É preciso ensiná-los a falhar. Uma coisa certa na vida é que as crianças vão falhar, não há como ser
diferente. Quando os pais, a família e a sociedade dizem o tempo todo que é preciso conseguir, conseguir,
conseguir, massacram os filhos. É inescapável errar. Todo mundo, em algum momento, vai passar por isso.
Aprender a lidar com o fracasso evita que ele se torne algo destrutivo. Às vezes é preciso lembrar coisas
muito simples que as pessoas parecem ter esquecido completamente. Estamos como que dopados. Os pais
sabem que as crianças não ficarão com eles a vida inteira, que não vão conseguir tudo o que sonharam, que
vão estabelecer ligações sociais e afetivas que, por vezes, lhes farão mal, mas tentam agir como se não
soubessem disso. Hoje os filhos se tornaram um indicador do sucesso dos pais. Isso é perigoso, porque cada
um tem a sua vida. Não é justo que, além de carregarem o peso das próprias dificuldades, os filhos também
tenham de suportar a angústia de falhar em relação à expectativa
depositada neles.
Falando concretamente, como é possível perceber essa diferença "Não contribui em nada achar que,
no comportamento das famílias hoje? pelo fato de o filho usar drogas,
A mudança é visível. Na Europa, por exemplo, quando um professor tudo está perdido. Além de
dá nota baixa a um aluno, é certo que os pais vão aparecer na escola no conviver com seu drama, ele terá
dia seguinte para reclamar com ele. Há vinte, trinta anos, era o aluno de carregar sobre os ombros o peso
que tinha de dar satisfações aos pais diante do professor. É uma da angústia dos pais"
completa inversão. Posso citar outro exemplo. Desde sempre, quando
se levam os filhos pela primeira vez à escola, eles choram. Hoje em
dia, normalmente são os pais que choram. A cena é comum. É como se esses pais tivessem continuado
crianças. Isso acontece porque eles não são capazes de se apresentar como a geração acima da dos filhos. É
uma consequência desse novo arranjo social, em que os papéis estão organizados de forma mais horizontal.
Como o senhor avalia essa mudança? Esse novo arranjo é pior do que o anterior?
Hoje os pais precisam discutir tudo, negociar o que antes eram ordens definitivas. E isso não é
necessariamente algo negativo, desde que fique claro que, depois de negociar, discutir, trocar ideias, quem
decide são os pais.
Essas mudanças na estrutura social podem influenciar em aspectos negativos como, por exemplo, o
uso abusivo de drogas?
Não há uma relação automática. Os mecanismos pelos quais os indivíduos se tornam dependentes químicos
são diversos e complexos. A psicanálise ajuda a identificar alguns deles. Vou dar um exemplo. Manter uma
criança em satisfação permanente, com sua chupeta na boca o tempo todo, fazendo por ela tudo o que ela
pede, a impede de ser confrontada com a perda da satisfação completa. E isso vai ser determinante em sua
formação.
Mas o que essa perda tem a ver com o fato de as pessoas enveredarem por um caminho
autodestrutivo?
É uma anomalia no processo de humanização. Não nascemos humanos, nós nos tornamos. Isso ocorre
quando aprendemos aquilo em que somos singulares entre todos os animais que habitam o planeta. Somos
os únicos capazes de falar. Não se trata apenas de aprender ortografia ou usar as palavras corretamente.
Quando dominamos a faculdade da linguagem, adquirimos uma série de características muito especiais,
como, por exemplo, a consciência de que somos mortais. Aprendemos a construir as pontes que levam a um
entendimento superior do mundo e de nossa condição. Isso é o que nos diferencia e nos torna completamente
humanos. Um desequilíbrio nesse processo pode ter consequências. É aí que entra a explicação psicanalítica
para o ingresso no universo das drogas. Aprender a falar, ou tornar-se humano, é algo que não ocorre
espontaneamente. É uma reação a uma perda do estado permanente de satisfação completa com a qual
somos confrontados na primeira infância. Ou seja, o processo de humanização começa pelo entendimento de
que jamais haverá a satisfação completa. É esse o curso saudável das coisas. Se os pais boicotam esse
processo, podem estar cometendo um erro.
Com que consequências?
Isso faz com que estejamos cada vez menos preparados para lidar com o sofrimento da nossa condição
humana. Há séculos que as drogas têm algo de paraíso artificial, como diz Baudelaire. Ou seja, uma forma
de se refugiar da dor humana, da insatisfação. As drogas sempre serviram para evitar o confronto com esse
sofrimento. Quanto menos você está preparado a suportar as dificuldades, mais está inclinado a se evadir, a
14. recorrer a substâncias, sejam as drogas ilícitas, sejam as medicamentosas, para limitar o sofrimento que vai
se apresentar. Com o desenvolvimento da farmacologia, essas substâncias se tornaram muito acessíveis. Isso
pode criar distorções. É muito mais simples tomar uma Ritalina para não ser hiperativo do que fazer todo o
trabalho de aprender a suportar a condição humana. Quando criança, a pessoa já precisa ser confrontada com
a condição humana da perda de satisfação. Dessa maneira, na idade adulta, sua relação com o fim de uma
paixão amorosa, por exemplo, tem maiores chances de ocorrer de maneira mais aceitável e menos
traumática.
Por que as drogas têm apelo especial para os jovens?
Eles são mais sensíveis a esse fenômeno porque têm uma tendência "Hoje os pais precisam discutir,
espontânea a, quando se tornam adultos, ser novamente confrontados negociar o que antes eram ordens
com as dificuldades da existência. É, de certa forma, a repetição definitivas. Isso não é
daquilo que haviam vivenciado na infância, quando foram, ou necessariamente negativo, desde
deveriam ter sido, apresentados à ideia de perda da satisfação que fique claro que, depois de
completa, de que não ficariam com a chupeta na boca a vida inteira, discutir, trocar ideias, são eles que
por exemplo. Se, no ambiente em que esses jovens vivem, há uma decidem"
abundância de produtos que funcionam como um meio de evitar essas
dificuldades, eles mergulham de cabeça. Como também veem nisso
certo caráter transgressivo, todas as condições estão dadas para que eles recorram às drogas.
Que conselhos o senhor daria a pais que têm filhos viciados?
É preciso não achar que, pelo fato de os filhos usarem drogas, tudo está perdido. Isso não contribui em nada.
Caso contrário, o jovem drogado, além de conviver com o próprio drama, terá de carregar a angústia dos
pais sobre os ombros. Esse é o momento em que os pais devem aceitar que algo não funcionou direito em
vez de tratar o problema como se tudo estivesse perdido. Nem sempre está.
Há alguma terapia que funcione contra a dependência química?
Cada caso requer um trabalho. Não existe terapia milagrosa. Há tentativas interessantes, de pessoas que se
ocupam de refazer com o sujeito o trabalho de suportar as frustrações, as impossibilidades, os limites. Esse
trabalho pode ajudar as pessoas a se livrar da dependência. Não existe até hoje uma droga que chegue a
resolver o problema da droga. Momentaneamente, a pessoa pode até ficar contente se conseguir se tornar um
pouco menos ansiosa, mas é preciso ver que efeito isso tem a longo prazo.
Existem dependentes irrecuperáveis?
A psiquiatria não é uma ciência universal, ela não diz o que vale para todos, ou mesmo para uma série de
pacientes. É preciso trabalhar sempre caso a caso. Mas eu não diria nunca que um viciado em drogas é
irrecuperável. Existem outros elementos em jogo que precisam ser considerados. Não há dependência
química que não seja fruto de uma interação malsucedida entre o contexto social em que o indivíduo está
inserido e o seu trajeto singular desde a infância.
Pouco mais de um mês atrás, no Rio de Janeiro, um rapaz viciado em crack matou uma amiga que
tentava ajudá-lo. O pai do rapaz atribuiu a tragédia à dificuldade de internar o filho. O senhor é
favorável à internação de dependentes químicos?
Essa é uma questão complicada mesmo. Na Europa, de modo geral, optamos cada vez menos pela
internação de dependentes químicos. Quando a internação é necessária, esperamos que ela se dê de forma
voluntária. Nos casos em que isso não é possível, a internação dura em média quarenta dias e é
acompanhada de medidas administrativas para evitar abusos que já aconteceram, de internações
excessivamente longas. Nesse aspecto, minha posição é como a dos europeus de maneira geral. Ficamos um
pouco divididos entre manter nosso princípio democrático de que, mesmo doente, cada um tem o direito de
dar sua opinião e, por outro lado, ter de reconhecer que em determinadas situações isso não é possível.
Costuma-se atribuir o mau comportamento dos filhos à falta da estrutura familiar tradicional, como a
que ocorre após uma separação. Qual a exata influência que isso pode ter?
Uma família organizada de forma aparentemente harmônica não necessariamente faz de um jovem uma
pessoa capaz de conviver e suportar o sofrimento inerente à condição humana. Essa capacidade pode ser
pequena em famílias aparentemente realizadas, com estrutura sólida. Assim como pode ser enorme em uma
família conflituosa, dividida, conturbada. Por isso, não se deve levar em conta apenas o aspecto exterior da
família. O que vale é a capacidade dos pais de fazer os filhos crescer. De incutir-lhes a verdadeira condição
humana. Esse é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha.
15. O melhor mesmo, então, é aceitar que a existência é sofrida?
O processo é mesmo muito mais complexo do que ocorre com outros animais. Um cão nasce cão e será
assim para o resto da vida. Um tigre será sempre tigre. Um humano, no entanto, precisa se tornar plenamente
humano. É uma enorme diferença. Esse processo leva uns vinte, 25 anos e está sujeito a percalços. Na
Renascença já se falava disso: não somos humanos, nós nos tornamos humanos.
Parceria escola-família
Quando as notas são altas e tudo vai bem, ninguém pensa em discutir a relação. Se o boletim e o
comportamento deixam a desejar, começa o jogo de empurra. Professores culpam a família “desestruturada”,
que não impõe limites nem se interessa pela Educação. Os pais, por sua vez, acusam a escola de negligente,
quando não tacham o próprio filho de irresponsável. Nessa briga – nada saudável –, a única vítima é o aluno.
(trecho extraído da revista Nova Escola, jun./jul.
2006, p. 32).
A mudança é visível. Na Europa, por exemplo,
quando um professor dá nota baixa a um aluno, é
certo que os pais vão aparecer na escola no dia
seguinte para reclamar com ele. Há vinte, trinta
anos, era o aluno que tinha de dar satisfações aos
pais diante do professor. É uma completa inversão.
(trecho extraído da entrevista realizada com o
psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, “Ensinem os
filhos a falhar” à revista Veja em 9 dez. 2009, edição
2.142).
Essa cena lhe parece familiar? A que você a atribui?
O desejo de parceria por parte da escola e por parte da família
Caro Professor,
Se você der uma olhada no conteúdo do Você sabia, logo a seguir, poderá constatar quão desejosos de uma
boa parceria são os dois lados envolvidos na educação de nossos alunos: família e professores. Pois bem, o
caminho percorrido até aqui neste módulo, visa a permitir que abandonemos a conhecida hipótese da
“família desestruturada”, a tendência a culpabilizar as famílias, para formularmos possibilidades concretas
de parceria entre escola e família.
Conforme reportagem publicada na revista Nova Escola, em junho/julho de 2006 sobre a parceria entre
escola e família, “abrir as portas à participação de familiares e da comunidade ajuda os alunos a ter sucesso
na vida escolar e colabora para diminuir a evasão e a violência” (p. 32).
Você sabia que uma pesquisa realizada pelo instituto La Fabricca do Brasil, em conjunto com o Ministério
da Educação, mostrou que há um desejo explícito por mais intimidade entre escola e família? 77,2% dos
pais acham que um bom relacionamento entre as duas partes é raro, mas 43,7% gostariam que a escola
promovesse mais reuniões, palestras e encontros para eles. Já 77,2% dos professores de instituições públicas
consideram insatisfatória a participação dos familiares, mas 99,5% creem ser de extrema importância um
contato mais estreito. (Fonte: revista Nova Escola, jun./jul. 2006, p. 33)
Relação entre escola e família, uma fonte de desencontros?
Vejamos como alguns pesquisadores, estudiosos e protagonistas desta relação se posicionam a respeito das
dificuldades vivenciadas neste encontro*:
Clique no nome do pesquisador para exibir o conteúdo da citação.
16.
17. Legislação como eixo organizador da relação escola-família
A escola é uma instituição muito antiga. Mas somente a partir do século XIX é que ela passa a fazer parte
daquilo que chamamos de políticas públicas, ou seja, uma ação do Estado voltada ao atendimento de toda a
população. Ao longo do século XX vão sendo instituídas as ferramentas que estruturam a noção da educação
como um direito social – no caso do Brasil, temos a partir da década de 1930 o
surgimento do Ministério da Educação e toda uma série de órgãos correlatos, além
da elaboração de um largo corpo legislativo. Isso tudo, envolto em amplos debates,
disputas políticas e a participação de segmentos sociais os mais diversificados.
De todo esse processo, ressaltamos um aspecto que é uma espécie, hoje em dia, de
espinha dorsal da concepção de escola pública brasileira: a gestão democrática.
A ideia de uma escola democrática tem como um ponto crucial a participação, que
implica numa organização coletiva do espaço e das ações em seu interior. Pensando
na aplicação desse princípio, com quem a escola deverá compartilhar sua execução?
Com todos: professores, alunos, técnicos, comunidade...
Mas dentro dessa ótica, a família aparece como parceira privilegiada, tendo
interesses e necessidades diretamente ligados ao que a escola é e pretende constituir
como meta educativa, o que exige, por sua vez, o estabelecimento de regras e
referências que pautem a relação entre ambos.
18. A questão sobre a presença e a participação das famílias junto às escolas tem sido foco de inúmeras
discussões e proposições em diversos níveis: no âmbito dos sistemas de ensino (MEC, Secretarias de
Educação etc.), no interior das Universidades e instituições de pesquisa, nos diversos meios de comunicação
ou, ainda, no próprio interior das comunidades escolares, ou seja, a sociedade como um todo tem se
preocupado muito com este tema.
Parceria escola-família: exemplos de referência legal
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), no parágrafo único de seu Artigo 53, coloca que
“É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição
das propostas educacionais”. Além disso, também informa, no Artigo 58, que “No processo educacional
respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança”.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) define, como incumbências da escola:
“articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola”
(inciso VI do Artigo 12), bem como “informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o
caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da
proposta pedagógica da escola” (inciso VII, do mesmo Artigo). O professor, por sua vez, também tem a
incumbência de “colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade”
(inciso VI do Artigo 13).
A organização da escola e a participação da comunidade
REFLITA: que outras possibilidades você tem observado no cotidiano escolar
(seja no estágio ou em práticas anteriores)?
Orientações para o estabelecimento de uma parceria consistente
Vejamos agora algumas orientações que podem contribuir para o estabelecimento de uma parceria
consistente:
Recomendações do MEC para que os pais participem do dia a dia
de seus filhos:
19. cultive o hábito da leitura em sua casa;
ajude seu filho a conservar o livro didático, pois o material servirá para outros alunos futuramente;
acompanhe sua frequência às aulas e sua participação nas atividades escolares;
visite a escola de seus filhos sempre que puder;
observe se estão felizes;
verifique a limpeza e a conservação das salas e demais dependências da escola;
converse com outras mães, pais ou responsáveis sobre o que vocês observam na escola;
converse com os professores sobre dificuldades e habilidades do seu filho;
peça orientação aos professores e diretores, caso perceba alguma dificuldade no desempenho de seu
filho - procure saber o que fazer para ajudar;
acompanhe as lições de casa;
participe das atividades escolares e compareça às reuniões da escola (dê sua opinião);
participe do Conselho Escolar.
(Recomendações para os pais, acompanhamento dos alunos dos Ensinos Fundamental e Médio [ver
http://portal.mec.gov.br/index.html ])
Sugestões e procedimentos
Clique sobre o título para ler o conteúdo.
Exemplo de experiências
Vejamos algumas experiências concretas:
1. Envolver os familiares na elaboração da proposta pedagógica
Foi o que fez a EE Giulio David Leone, em São Paulo. A partir de 1994, a diretora passou a convocar
reuniões a cada dois meses com os pais, para contar o que os alunos iriam aprender, para que e com
quem. Os pais que compareceram ajudaram na consolidação de um novo projeto pedagógico. Nos
encontros, os familiares participavam de dinâmicas com o objetivo de perceber a importância do trabalho
conjunto. Aos pais e alunos (nos fins de semanas e no contraturno) foram oferecidas oficinas de culinária,
informática, artes, teatro e jogos recreativos. Após 12 anos de parceria consolidada, a retenção caiu de
45% para 2%, a evasão recuou de 20% para 3% e o número de alunos que presta vestibular saltou para
60%, contra menos que 1% em 1994. (Fonte: revista Nova Escola, jun./jul. 2006, p.35-36.)
20. 2. Visitar as famílias de seus alunos
A Secretaria Municipal de Educação de Taboão da Serra vem realizando um projeto pioneiro, o "Programa
de Interação Família-Escola", no qual os professores da Rede Municipal visitam as casas dos seus alunos. O
Programa pretende estreitar a relação entre as famílias e a escola, diminuindo a repetência e melhorando
o ensino municipal.
O Programa de Interação Família-Escola pretende atingir todos os alunos do Ensino Fundamental da Rede
Municipal. Apesar de optativo, a maioria dos professores já aderiu ao Programa. As visitas são realizadas
fora do horário de aula e os professores recebem um pró-labore.
Ao lado, está disponível um vídeo no qual professores e familiares falam sobre a experiência de visitar/ser
visitado neste projeto.
3. Participação de pais no Conselho Escolar
Na escola de Educação Infantil Sarah Victalino Gueiros, no município de Vila Velha (ES), os professores
tomaram a iniciativa de convocar a comunidade e criaram um Conselho Escolar. Mais de 200 pais
participaram das primeiras votações. Agora, os integrantes do Conselho deliberam juntos sobre questões
que vão do plano pedagógico à merenda servida no colégio.
NOTA: Veja como a UNESCO se posiciona frente a projetos de integração escola-família.
Princípios norteadores
INTERAÇÃO: O eixo central para o estabelecimento da parceria da família com a escola.
Para efetivarmos a aproximação parceira que temos defendido neste módulo, há que sistematizar atitudes,
posicionamentos e ações concretas. Inúmeros agentes sociais têm buscado apresentar alternativas e
sistematizações sobre esta questão.
Recentemente, no ano de 2010, a UNESCO e o MEC publicaram um documento (“Interação Escola-
Família: subsídios para práticas escolares”) no qual são apresentadas algumas orientações.
Vejamos no quadro a seguir algumas delas:
A possibilidade de várias abordagens e usos da interação escola-família exige que explicitemos algumas
reflexões e escolhas que norteiam o estudo:
A expressão interação escola-família se baseia na ideia de reciprocidade e de influência mútua,
considerando as especificidades e mesmo as assimetrias existentes nessa relação;
Outro detalhe que faz toda a diferença é a ordem escolhida para descrever a relação: escola-família e
não família-escola.
Estamos assumindo que a aproximação com as famílias é parte do trabalho escolar, uma vez que as
condições familiares estão presentes de forma latente ou manifesta na relação professor-aluno e constituem
chaves de compreensão importantes para o planejamento da ação pedagógica.
(Fonte: CASTRO, J. M.; REGATTIERI, M. (orgs.). Interação Escola-Família: subsídios para práticas
escolares. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e Ministério
da Educação (MEC), 2010.)
Modalidades de interação escola-família
Reproduzimos agora os princípios formulados pelo documento da UNESCO/MEC, para uma proposta de
interação escola-família:
Clique em cada uma das abas para ler o conteúdo.
21. Princípio 1
A educação de qualidade, como direito fundamental de todas as pessoas, tem como elementos
essenciais a equidade, a relevância e a pertinência, além de dois elementos de caráter operativo: a
eficácia e a eficiência.
Princípio 2 O Estado (nos níveis federal, estadual e municipal) é o responsável primário pela
educação escolar.
Princípio 3 A escola não é somente um espaço de transmissão da cultura e de socialização. É
também um espaço de construção de identidade.
Princípio 4 O reconhecimento de que a escola atende alunos diferentes uns dos outros possibilita a
construção de estratégias educativas capazes de promover a igualdade de oportunidades.
Princípio 5 É direito das famílias ter acesso a informações que lhes permitam opinar e tomar
decisões sobre a educação de seus filhos e exercer seus direitos e responsabilidades.
Princípio 6 O sistema de educação, por meio das escolas, é parte indispensável da rede de proteção
integral que visa assegurar outros direitos das crianças e adolescentes.
Princípio 7 A proteção integral das crianças e adolescentes extrapola as funções escolares e deve
ser articulada por meio de ações que integrem as políticas públicas intersetoriais.
(Fonte: CASTRO, J. M.; REGATTIERI, M. (orgs.). Interação Escola-Família: subsídios para práticas
escolares. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e Ministério
da Educação (MEC), 2010.)
Existem vários modos de promover espaços para troca e aproximação entre a família e a escola. Estes modos
podem ser mais formais (reuniões, entrevistas, palestras etc.) ou informais (organização de festas com a
participação das famílias e da comunidade, organização de comissões envolvendo famílias e projetos que a
escola está desenvolvendo, como uma campanha do agasalho, por exemplo).
Entre as modalidades mais formais, a reunião de pais é a estratégia mais
conhecida e presente nas escolas. Contudo, muitas vezes o desencontro entre
a família e a escola comparece também nas reuniões de pais; por um lado,
muitas vezes não há uma intencionalidade clara por parte da escola em
relação aos objetivos da reunião, por outro, aqueles que são convocados a
participar, pais e familiares, mostram uma certa apatia. O objetivo da
reunião de pais é informar e discutir a proposta educacional e conhecer a
realidade vivida pelo aluno em seu meio familiar e social. Esse encontro não
deve ser pautado apenas em conselhos e recomendações. E só deve ser
usado para orientar os pais como se relacionar com seus filhos se for houver clareza de que a orientação tem
por objetivo o trabalho escolar.
Contar aos pais o que seus filhos vão aprender ficou mais fácil com os materiais do Currículo da Secretaria
de Educação de São Paulo. Isso pode até mesmo ser feito por bimestre. No início de 2009, a Secretaria
preparou um material de recuperação para todos os alunos das escolas estaduais, que foi dado durante os 45
primeiros dias do ano. O material foi muito apreciado pelos pais a julgar pelas informações coletadas nas
escolas: por ser num formato mais familiar aos pais do que o livro didático, muitos se aventuraram a ler e
sentiram-se valorizados por descobrir o que seus filhos iriam aprender nesse período de início do ano.
22. Outras modalidades de interação escola-família, os contextos nos quais podem ser propostas e algumas
estratégias para tornar estes encontros mais produtivos:
A escola ou a família podem solicitar reuniões individuais. Trata-se de entrevistas agendadas
previamente, nas quais serão tratados assuntos individuais relativos a alunos e/ou professores.
Reuniões temáticas ou palestras podem ser organizadas a partir de temas sugeridos pelos pais ou a
partir de demandas identificadas pela escola e/ou professores. Nestes casos, os pais devem ser
comunicados com antecedência sobre a data e o horário em que o evento será realizado, o tema a ser
tratado e seu caráter optativo. Nestes encontros, a escola pode convidar algum especialista ou mesmo
algum membro da comunidade para aprofundar o tema em pauta.
A escola pode convocar reuniões extraordinárias quando há um assunto ou tema considerado
emergencial, envolvendo problemas que estão afetando a comunidade escolar ou parte dela, e que
exigem que a escola, as famílias e a comunidade parem para refletir e propor ações conjuntas.
Os eventos abertos ao público possibilitam que a escola possa estar mais inserida na comunidade
tornando-se um núcleo de irradiação socioeconômica e cultural. A escola pode oferecer cursos,
organizar festas e campanhas. Estes eventos podem contribuir para desvincular a ideia de que a
presença dos pais e familiares na escola é símbolo de reclamação sobre o aluno.
23. Edição 189 | 02/2006
10 passos para se sair bem na primeira reunião de pais
Depois da apresentação da proposta da escola pelo diretor, é a sua vez de entrar em cena. Se você
descrever o programa de sua disciplina e a metodologia de forma clara e reservar um tempinho para
responder a dúvidas, vai fisgar a família e transformá-la em grande aliada
Rose Delfino (Rose Delfino)
A primeira reunião entre pais e professores é uma ótima oportunidade para iniciar uma parceria de um ano
inteiro em torno do mesmo objetivo: levar crianças e adolescentes a aprender. "Essa é nossa chance para
pescar os pais", aconselha Helvécia Costa, diretora da Escola Estadual Andronico de Mello, em São Paulo.
Para ela, esse é o momento de despertar na família o interesse em participar da vida escolar dos filhos. Uma
reunião bem conduzida, portanto, faz a diferença. O ideal é dividi-la em duas partes: a primeira, mais geral,
fica a cargo da direção ou da coordenação; a segunda, em classe, é com o professor. Veja como ter sucesso
nessa tarefa.
1. Definir o roteiro com a direção
Para não perder o foco, vale organizar antecipadamente com a direção um roteiro do que será dito às
famílias. "Os pais têm direito de saber qual é a linha pedagógica adotada", defende a pedagoga Maria Maura
Barbosa, do Centro de Educação e Documentação para a Ação Comunitária (Cedac), em São Paulo. Como
em muitas escolas públicas, a primeira parte da reunião na Andronico de Mello é para todos os pais. Em
2005, entre os assuntos debatidos estavam a proibição de celulares ligados em classe e o uso do uniforme.
Depois dessa discussão, os pais são encaminhados para grupos diversos, de acordo com a série dos filhos,
para a reunião com os professores. "Insistimos na questão da disciplina e explicamos o que a escola espera
da garotada", diz Helvécia.
2. Preparar e enviar os convites
O convite, enviado com pelo menos uma semana de antecedência, deve conter:
O aviso claro da reunião, com dia, local, hora para começar e terminar.
Os temas a serem tratados. Entre eles devem estar o programa do ano ou pelo menos do primeiro bimestre,
as normas da escola, o material escolar a ser providenciado (e, se possível, dicas de lugares que tenham
preços mais baixos), qual o sistema de avaliação, os horários e a importância das tarefas de casa.
Um lembrete de que não haverá tempo para falar das crianças individualmente e que isso será feito durante
todo o ano em reuniões periódicas.
3. Cuidar do ambiente
O local do encontro deve ser preparado com cuidado para que todos se sintam esperados e acolhidos. Alguns
professores costumam pedir às crianças para fazer desenhos e com eles decoram a sala onde será a reunião.
Dar aos pais a oportunidade de identificar o trabalho do filho entre tantos outros é uma forma afetuosa de
24. dar boas-vindas. Nem sempre isso é possível, mas uma faixa simples ou uma saudação na lousa são outras
formas simpáticas de acolher os pais. Se a reunião for feita à noite, é bom providenciar água, café e biscoitos
para quem vier direto do trabalho.
4. Garantir a participação ativa dos pais na reunião
Isso é fundamental para o sucesso do encontro entre escola e família. Reserve um tempo para os pais
fazerem perguntas e propostas. Questões específicas sobre uma criança, que não sejam do interesse geral,
ficam para depois, como informado no convite. Na opinião de Anizu Tavares, mãe de um aluno matriculado
no ano passado na 1a série da Escola Estadual Professora Eleonor Mendes de Barros, em Barueri (SP), o
mais importante na primeira reunião com os professores foi perceber que eles sabiam ouvir. "Muitos pais
estavam inseguros e ansiosos.
Eu tinha muitas dúvidas sobre como seria o contato do meu filho com as crianças maiores no horário de
entrada e de saída e no intervalo. Mas tudo foi explicado e fiquei tranqüila."
5. Fazer um resumo do programa de sua disciplina e da metodologia a ser usada
Todos os professores devem se apresentar aos pais e expor seu programa. Quando a reunião é com os
responsáveis por alunos de 5a a 8a série, fica encarregado pela conversa o orientador pedagógico ou um
professor escolhido pelos colegas. "Apresentamos todos, inclusive os de aulas específicas, como Inglês,
Informática, Educação Física, Artes e Laboratório de Ciências", diz Alessandra Thomaz Vicente Lee,
orientadora e coordenadora pedagógica do Colégio Elvira Brandão, em São Paulo. Eles explicam sua
proposta para a matéria e como pretendem colocá-la em prática. O tempo de cada professor deve ser
determinado antes para que todos possam participar.
6. Falar da periodicidade dos encontros
Se os pais sabem quando terão novas oportunidades de encontrar os professores, é criado um compromisso
entre a família e a escola. "Deve-se mostrar que a relação será duradoura e produtiva e que haverá um
momento para atender os pais que precisam conversar sobre problemas específicos", afirma Helvécia, do
Andronico de Mello. Atualmente os pais trabalham demais, têm uma vida corrida e tendem a delegar a
educação do filho totalmente à escola.
É importante, no entanto, mostrar que a aprendizagem só acontece se a escola, o aluno e a família
trabalharem juntos.
7. Preparar a leitura de um bom texto literário
Para descontrair os pais e fazer com que se sintam mais à vontade, uma dinâmica pode funcionar bem.
Escolha uma que facilite a integração, mas que não demore mais do que 15 minutos. Aplique logo depois da
apresentação dos professores, explicando antes o que eles vão fazer e qual o objetivo. "Preparamos uma
atividade que, num futuro próximo (a aula do dia seguinte, por exemplo), será dada aos alunos. Assim, os
pais vivenciam a metodologia utilizada pelo professor", diz Alessandra, do Colégio Elvira Brandão.
8. Mostrar a escola
Em uma pequena excursão, leve os pais para conhecer as salas de aula, biblioteca, laboratório, banheiros e
quadras. "Eles querem a confirmação de que escolheram a escola certa para os filhos. Conhecer o espaço
onde a criança ou o adolescente passa tantas horas do dia e perceber que é seguro e adequado ao ensino os
deixa satisfeitos", diz Ivani Cesar Rubio, professora da Escola Espírito Santo e do Instituto de Educação
Joana D'Arc, ambos em São Paulo.
9. Apresentar os funcionários
Todas as pessoas que trabalham na escola devem ser apresentadas aos pais: o pessoal da merenda ou da
cantina, quem cuida do pátio na hora do recreio, os funcionários da secretaria, os faxineiros. Além das
devidas apresentações, o professor deve explicar o que cada um faz, os horários das merendas, as normas, os
cuidados com a higiene... O importante é que os pais saibam que seus filhos estão sendo cuidados e bem
25. tratados por todos. É o que eles esperam da escola que escolheram.
10. Enfatizar a importância da presença dos pais nas atividades escolares dos filhos
Uma boa maneira de concluir o encontro é lembrar aos pais o papel deles na aprendizagem dos filhos. Dados
do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) mostram que crianças que fazem parte de
uma família que participa de forma direta do dia-a-dia escolar dos filhos apresentam desempenho superior
em relação às demais. Essa participação se dá de modo simples: conversar sobre o que acontece na escola,
acompanhar o dever de casa e incentivar a leitura, por exemplo. Nada garante que eles sairão completamente
confiantes da reunião, mas se você conduzi-la bem, com firmeza e paciência, a ansiedade dará lugar ao
espírito de cooperação.
Pense rápido
Associe cada modalidade de parceria escola-família na coluna da esquerda com a sua respectiva descrição,
disposta na coluna da direita.
Numere as afirmações de acordo com os itens indicados na barra superior da caixa da atividade. Note que a
atividade é apresentada em duas etapas, sendo assim, ao preencher o último campo desta tela você deverá
avançar para a próxima página clicando nas setas ou nos números da parte inferior da tela. Os itens já
indicados serão sinalizados para que você não os utilize novamente. Ao preencher as duas etapas clique em
Conferir e navegue pelas páginas para visualizar as respostas.
Assinale nas afirmações a seguir aquelas que são Verdadeiras ou Falsas:
Leia as afirmações a seguir e indique se são verdadeiras (V) ou falsas (F). Após, clique em Conferir.
26. Finalizando
A mera constatação dessa estreita correlação entre mundo familiar e mundo escolar não basta para mudar o
quadro tão antigo e atual da conversão das desigualdades sociais em desigualdades escolares. Na perspectiva
de uma educação de qualidade para todos, essa situação precisa ser enfrentada, pois a escola pública eficaz
deve ser capaz de ajudar a garantir a cada um de seus alunos, independentemente das condições de seu
grupo familiar, o direito de aprender. (Fonte: CASTRO, J. M.; REGATTIERI, M. (orgs.). Interação
Escola-Família: subsídios para práticas escolares. Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO) e Ministério da Educação (MEC), 2010.)
Caro Professor(a),
As experiências concretas que foram apresentadas evidenciam resultados consideráveis nos processos de
ensino e de aprendizagem.
Ao chegarmos ao fim deste módulo, esperamos que você se sinta convocado(a) a promover ativamente a
interação entre escola e família em sua prática cotidiana.