Este documento discute a natureza dos sonhos de três perspectivas: filogênica, ontogenética e cultural. Defende que sonhos são formas de comportamento e podem ser usados como recursos clínicos para promover autoconhecimento e coleta de dados sobre a história de vida do cliente. Apresenta um estudo de caso ilustrando como os sonhos de uma cliente revelavam questões sobre controle em seu relacionamento.
Sonhos - um recurso clínico analítico-comportamental
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
CAMPUS SOBRAL
CURSO DE PSICOLOGIA
Francisco Denilson Paixão Junior
Orientação: Liana Rosa Elias
IV Encontro Nordestino de Análise do Comportamento
XVI Encontro Cearense de Análise do Comportamento
Fortaleza, 10 de abril de 2012
2. O que são os sonhos?
Sonho é comportamento, é comportar-se.
Podemos dividi-lo, didaticamente, em:
Comportamento Perceptual;
Comportamento Encoberto; e Agir na ausência do
Comportamento Verbal. suporte ambiental*
*Ver na ausência da coisa vistas ouvir na ausência da coisa ouvida, etc.
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3. O que são os sonhos?
Nível filogênico
Filogeticamente, os sonhos têm função de:
Consolidação da memória;
Reposição bioquímica do organismo;
Ajudou na sobrevivência de nossa espécie.
(Carlson, 2002) 3
4. O que são os sonhos?
Nível ontogenético
Os comportamentos de sonhar podem ser
considerados conscientes em seu caráter de “ver na
ausência da coisa vista” (condicionado) e na
perspectiva de autoconhecimento (operante: auto-observação
e relato).
Os comportamentos de sonhar são inconscientes
quando:
O sujeito não reconhece as regras e/ou variáveis
controladoras de tal comportamento. O sujeito teve o
comportamento modelado por contingências (ou seja,
contraposição de autoconhecimento).
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5. O que são os sonhos?
Nível Cultural
Cultura e Sonhos
Agir em função do sonho
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6. O sonho na Clínica
Sonho será tratado como Comportamento Verbal
que estará sob controle das seguintes variáveis:
Condições corporais;
Audiência do terapeuta;
Auto-audiência.
O relato do sonho não deve ser tratado como a coisa
sonhada, mas enquanto sua funcionalidade e
generalidade para os contextos diários do clientes.
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7. Por que recurso clínico?
Contras:
Há uma baixa precisão e verificação de sua duração,
conteúdo ou tempo.
Prós:
Promove autoconhecimento ao cliente;
Facilita coleta de dados sobre “história de vida” do
cliente por parte do terapeuta;
Em diversos nichos sociais, relatar sonhos é reforçado,
o que pode auxiliar no manejo de assuntos aversivos.
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8. Possíveis funções do sonhar e
seu uso como recurso clínico?
Alguns eventos considerados aversivos pelos clientes
podem ser evitados (esquiva experiencial), devido
ao seu teor punitivo em sua história de vida.
O relato dos sonhos nos proporcionam acessar a estes
eventos de modo metafórico, comportamento
simbólico, que pode ser conceituado como
comportamento que amortece as propriedades puníveis
de seus equivalentes não simbólico, mas conserva
aquelas propriedades positivamente reforçadas
(SKINNER, 1957 apud BORTOLI, 2005). 8
9. Estudo de Caso
Delliti (2001) sistematiza alguns estudos de caso em
seu texto intitulado “Relato de Sonhos: como utilizá-los
na prática da terapia comportamental”.
Utilizaremos o caso da “cliente Z” que tenham padrão
de comportamento de ser controlada e
controladora. No decorrer do processo terapia,
vemos como as questões vividas por ela e sonhadas
por ela reverberavam em seus relatos em clínica.
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10. Relato Sonho 1
Relação com o momento de vida: havia
terminado relacionamento de seis anos. Meu
namorado foi caracterizado por grande rigidez de
sua parte. Vivia um relacionamento regrado e
controlado por mim. Pela primeira vez, estava
indo viajara com as amigas. Passava por uma
situação extremamente nova e desconhecida e me
sentia completamente vulnerável” (DELITTI,
ANO, p. 199)
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11. Relato Sonho 3
Relação com o momento de vida: Nesta época
eu comecei a me aproximar de um grupo da
faculdade. Pra mim, representavam a total
liberdade de viver. Eram pessoas descontraídas,
despreocupadas e um pouco desregradas. O meu
relacionamento com eles foi ficando cada vez mais
intenso. Pela primeira vez na vida, deixei de ir a
uma aula para ficar no bar, conversando. Aprendi
com eles a viver a vida de um modo mais livre e a
dar mais valor ao momento de prazer sem pensar
se era adequado ou não.” (DELITTI, ANO, p. 200) 11
12. Relato de Sonho 4
Relação com o momento de vida: Naquele
grupo de amigos, aproximei-me de modo especial
de um rapaz. Comecei a perceber que eu também
despertava nele algum sentimento. No começo,
achei isso um pouco impossível, mas depois vi que
era verdade. Quanto maior era nosso
envolvimento mais eu aprendia a me desprender
das regras rígidas que tinha antes e passei a viver
situações mais controladas pelo prazer que pelo
dever.” (DELITTI, ANO, p. 200)
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13. Referências
ARAUJO, R. B.; OLIVEIRA, M. S.; PICCOLOTO, L. B.; MAGRINELLI, M. &
SZUPSYNSKI, K. A Abordagem Cognitivo-Comportamental dos sonhos de
Alcoolistas. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do sul, 26 (1), pp. 70-77, 2004.
BORLOTI, E. B. E o Inconsciente?: algumas citações de B. F. Skinner. In.
Kerbauy, R. R. (Org) Sobre Comportamento e Cognição; psicologia
comportamental e cognitiva. Santo André: ESETec, 2000.
BORLOTI, E. B. Abstração, Metáfora, Sonho e Inconsciente: uma
interpretação skinneriana. In. BORLOTI, E. B.; ENUMO, S. R. F. & RIBEIRO,
M. L. P. (Org.) Análise do Comportamento: teoria e práticas. Santo André:
ESETec, 2005.
CARLSON, N.R. (2002) Fisiologia do comportamento. 7ª ed. Barueri: Manole.
DELLITI, M. Relato de Sonhos: como utilizá-los nas práticas da terapia
Comportamental. In. WIELESKA, R. C. (Org.) Sobre Comportamento e
Cognição. Santo André: ESETec, 2001.
GUILHARDI, H. J. Modelo Comportamental de análise dos sonhos. In. I
ENCONTRO INTERNACIONAL DE TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL,
maio, 1993.
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14. Referências
GUILHARDI, H. J. Resistência do Cliente a Mudanças. In. GUILHARDI, H. J.
et. al. Sobre Comportamento e Cognição. Santo André: ESETec, 2002.
KOHLENBERG. M. L. & TSAI, M. Psicoterapia analítico Funcional:
criando relações terapêuticas intensas e curativas. Santo André: ESETec,
2001.
NETO, M. B. C. Skinner e o Fenômeno da Consciência. In. KERBAUY, R. R. &
WIELENSKA, R. C. (Org.) Sobre Comportamento e Cognição ; psicologia
comportamental e cognitiva. Santo André: ESETec, 2004.
PIMENTEL-SOUZA, F.; BALLALAI, A.; MOTTA, C.; SOUZA, H.; SILVA, J.;
LIMA, J.; GUATIMUSIN, P. & BASTOS, R. O Sono, Destacado o sonho, o
ritmo biológico e a insônia. Revista de Psicofisiologia. Disponível em:
http://www.icb.ufmg.br/lpf/revista/revista3/volume3_o_sono.htm. Acessado
em: 19 de fevereiro de 2012.
SABAN, M. T. Introdução à Terapia de Aceitação e Compromisso. Santo
André: ESETec, 2011.
SILVA, F. M. Uma Análise Behaviorista Radical dos sonhos. Psicologia:
reflexão e Crítica. 13 (3), pp. 435-449, 2000.
SILVEIRA, J. M. & ALMEIDA, L. O Inconsciente na Interpretação Clínica
Analítico-Comportamental. Revista da Abordagem Gestáltica. Jan-jul, vol. 16
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