Este documento discute princípios hermenêuticos para interpretar profecias bíblicas. Ele argumenta que os intérpretes modernos frequentemente não reconhecem problemas hermenêuticos devido a pressuposições literalistas. Em vez disso, defende princípios teológicos como normas para interpretação adequada, enfatizando o cumprimento de profecias no Novo Testamento e sua ligação com Cristo.
1. INTRODUÇÃO
Os intérpretes modernos das profecias apocalípticas freqüentemente
não reconhecem os problemas hermenêuticos envolvidos na
interpretação profética por causa de suas pressuposições literalísticas.
Nosso objetivo não é o empenho por um tratamento exaustivo de toda as
profecias bíblicas e todos os assuntos escatológicos, mas ao invés disso
procurar descobrir e aplicar princípios teológicos ou normas
fundamentais à interpretação profética adequada. Princípios bíblicos
corretos de interpretação são muito mais decisivos do que a exegese de
textos e palavras isolados, não apenas porque tais princípios afetam e
guiam toda a exegese, mas também porque determinam como a falsa
exegese e a má interpretação podem ser corrigidas.
Hoje em dia é amplamente reconhecido que as pressuposições
filosóficas e teológicas de alguém afetam substancialmente as suas
conclusões. Por isso, é de vital importância a idéia que a pessoa tenha de
inspiração divina e do modo de transmissão profética da revelação, não
importando se ela parte de proposições literalísticas de termos bíblicos
ou se reconhece que Deus comunica Suas revelações através de símbolos
culturais "emprestados" e processos de pensamentos contemporâneos
com alcance maior e um novo conteúdo para palavras antigas.
Nosso propósito põe em evidência o inter-relacionamento das
profecias do Velho Testamento e o seu cumprimento no Novo ou suas
aplicações ulteriores. Desejamos perscrutar aqueles princípios teológicos
que ressaltam a abordagem interpretativa dos escritores do Novo
Testamento em relação às Escrituras hebraicas e estabelecer os seus
padrões de cumprimento. Nosso objetivo é analisar como as profecias do
Velho Testamento se cumpriram na história passada, a fim de usar os
princípios evolvidos em seu cumprimento como guia e norma para
interpretar as que ainda não se cumpriram.
Nosso profundo interesse é aceitar a Bíblia como uma unidade
orgânica em Cristo e recobrar a perspectiva histórica apropriada sobre a
2. Introdução 2
ascensão e o desenvolvimento das declarações proféticas sobre Israel. A
reconstrução do contexto histórico é essencial para estabelecer o
fundamento exegético de cada interpretação profética. A História e a
interpretação profética não podem ser separadas ou divididas.
Um dos maiores problemas em aplicar mensagens proféticas antigas
aos nossos tempos é que muitos intérpretes modernos manifestam uma
total desconsideração para com as dimensões teológicas essenciais das
profecias do Velho Testamento e especificamente para com as
cristológicas. A visão profética da História nunca foi dirigida a eventos
seculares de natureza política desvinculados do Messias e Seu povo.
Cada profeta bíblico sustentava suas promessas de bênçãos ou
ameaças de condenação sólida e consistentemente no foco da história
redentiva. Interpretar as mensagens proféticas como meras predições de
eventos sociais e políticos em curso no Oriente Médio transformaria o
Deus de Israel em um adivinho. A característica predominante dos
adivinhos tem sido sempre predizer eventos futuros fora da história
redentiva, desassociada do verdadeiro Messias e do povo messiânico.
Quando Deus fala, Seu nome está comprometido em ser fiel ao Seu santo
concerto que é centralizado em Jesus Cristo e por Este confirmado como
o único Mediador entre Deus e o homem, entre Deus e Israel. Ele nunca
está interessado em tentar convencer o homem de Sua existência divina e
de Sua veracidade por uma mera exibição de conhecimento prévio
isolado de Seu plano de salvação. De Gênesis a Apocalipse o foco de
todas as profecias é essencialmente sobre o eterno propósito de Deus
para a reconciliação do Céu e da Terra através de Cristo Jesus (Efésios
1:4-19). Da mesma forma, os profetas e apóstolos insistem na soberania
de Deus em todos os acontecimentos da história da salvação sobre a
continuidade de Seus propósitos através de Cristo em particular. "Porque
não importa quantas promessas Deus tenha feito, elas são 'Sim' em
Cristo" (2 Coríntios 1:20).
Este estudo é baseado na pressuposição de fé que tanto o Velho
quanto o Novo Testamento não são documentos puramente históricos,
3. Introdução 3
mas escritos religiosos que são inspirados pelo Espírito de Deus, e por
esta razão, constituem a autorizada Palavra de Deus. Acreditamos ser
nossa tarefa interpretar os textos antigos das Escrituras Sagradas como
os encontramos, isto é, enfocamos o texto canônico em sua forma
presente como um produto literário acabado. Aplicamos a esses textos o
princípio indutivo da analogia das Escrituras, que cuidadosamente
relaciona essas passagens das Escrituras que revelam a mesma
terminologia, imagens pictóricas ou eventos redentivos comparáveis,
reconhecendo que apenas Cristo é o verdadeiro Intérprete das Escrituras
Sagradas de Israel.
Essas considerações nos levaram a assumir a posição tradicional
cristã de que o Novo Testamento é o intérprete autorizado e abalizado do
Velho Testamento. Nosso estudo pode ser considerado também um
diálogo contínuo com os teólogos dispensacionalistas sobre sua
escatologia focalizada exclusivamente no povo judeu e no território do
Oriente Médio. Escatologia baseada em sua estrita aplicação do princípio
literalista.
Se não forem indicadas de outra maneira, as citações das Escrituras
são da Almeida Revista e Atualizada no Brasil (Sociedade Bíblica do
Brasil).