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A PROMESSA TERRITORIAL DE ISRAEL NA
        PERSPECTIVA DO NOVO TESTAMENTO

      A insistência dispensacionalista sobre a dicotomia1 entre Israel e a
Igreja manifesta-se muito notavelmente na projeção das esperanças
separadas e nos programas escatológicos distintos para cada um. De
acordo com esta concepção, a Igreja pode esperar apenas pelo céu, e
Israel, unicamente pela Palestina, como as suas respectivas heranças.
      O dispensacionalismo chama as promessas do concerto divino para
Israel em Deuteronômio 30:1-10, "o concerto Palestino"2, porque Deus
claramente havia derrubado as fronteiras da terra prometida em Seu
concerto com Abraão: "Naquele mesmo dia, fez o SENHOR aliança com
Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito
até ao grande rio Eufrates" (Gênesis 15:18; cf. Deuteronômio 11:24).
      O destino do Israel natural nessa terra do Oriente Médio é visto
como sendo desvelado ainda mais em Isaías 32, "Eis aí está que reinará
um rei com justiça, e em retidão governarão príncipes... O meu povo
habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares
quietos e tranqüilos" (Isaías 32:1, 18).
      Em agudo contraste com o concerto "Palestino" de Israel, a Igreja
pode apenas reivindicar o céu como o seu destino e esperança. Deus "que
nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais em Cristo" (Efésios 1:3) "e, juntamente com ele, nos
ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus"
(Efésios 2:6).
      O marcado contraste entre Isaías 32 e Efésios 2 fez John N. Darby
deduzir em 1868 "uma obvia mudança de dispensação"3, tendo como
base a interpretação literal. Isso o levou a concluir que o governo real de
justiça e paz na terra foi planejado por Deus apenas para a nação judaica.
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento       2
         A Terra Foi Prometida Apenas ao Israel de Deus

     O Velho Testamento descreve a terra prometida aos patriarcas e a
Israel em termos teológicos consistentes: como gracioso dom ou bênção
de Deus ao Seu povo do concerto (Gênesis 12:1, 7; 13:14-17; 15:18-21;
Deuteronômio 1:5-8; Salmo 44:1-3). A própria terra como tal, é chamada
para observar um sábado ao Senhor (Levítico 25:2), "à simbolizar a
criação de Jeová e o Seu direito de propriedade sobre a terra". 4 Ela
continuou sendo a "Sua terra santa" (Salmo 78:54) durante o tempo em
que Ele habitou no meio de Israel (Números 35:34). A santidade da terra
israelita é inteiramente derivada. O seu destino, a cidade e o templo
dependem, por isso, do relacionamento religioso de Israel com o Senhor
(ver Levítico 26). O julgamento divino de Israel engloba o juízo sobre
sua terra, pois ela é a terra do Senhor e a Sua herança. "Também a terra
não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois
para mim estrangeiros e peregrinos" (Levítico 25:23). Tanto o povo do
concerto quanto a sua terra dependem inteiramente de Jeová.
Conseqüentemente, "Israel não pode reivindicar uma relação imediata
com sua terra, não pode tê-la à sua disposição de uma maneira
autônoma, nem venerá-la como uma possessão absoluta".5 Israel não
possui a terra. Por isso, Oséias anuncia este julgamento divino sobre as
dez tribos, "Na terra do SENHOR não permanecerão" (Oséias 9:3).
Jeremias explica:
     Eu vos introduzi numa terra fértil, para que comêsseis o seu fruto e o
seu bem; mas, depois de terdes entrado nela, vós a contaminastes e da
minha herança fizestes abominação. (Jeremias 2:7)
    A obrigação de Israel para com Jeová era basicamente esta, "Pai me
chamarás e de mim não te desviarás" (Jeremias 3:19; cf. 2:8; Salmos
105:43-45). Embora a terra fosse um dom da graça para Israel, o povo do
concerto poderia habitar ou permanecer na terra divina apenas se
obedecesse ao Senhor (ver Deuteronômio 4:40; Isaías 1:19). O dom não
pode ser recebido sem o Seu Doador.
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 3
      Sem essa dimensão ou condição teológica, não poderia haver a
existência política do Israel de Deus, a teocracia. Quando Israel tornou-
se persistentemente infiel ao seu concerto com Deus, o Senhor, por isso,
retirou a Sua herança dele (Jeremias 17:1-4; 15:13-14). Isso significava,
no Velho Testamento, a dispersão israelita entre os gentio e a destruição
da terra (Isaías 1:5-9; Jeremias 4:23-26). Com a rejeição de Israel como
uma nação fiel, Deus da mesma forma rejeitou a sua terra que também já
não goza de Suas bênçãos.
      A existência de Israel como uma teocracia está inseparavelmente
atada à sua habitação na terra da Palestina. O exílio israelita foi causado
pela retirada das bênçãos do concerto divino. Essa verdade é confirmada
pelas graciosas promessas de Deus de um "novo concerto" com todas as
doze tribos6, em conjunto com a promessa de um novo êxodo das terras
do cativeiro assírio e babilônico, um novo estabelecimento na terra dos
antepassados Jeremias 30-32), e a vinda do Messias, o Davi maior
(Jeremias 23:5, 6). Essas notáveis promessas de Jeremias revelam que a
fidelidade de Deus ao Seu concerto com Israel continuou dentro e
através de Seu julgamento das tribos desobedientes.
      Não obstante, o retorno de Israel do exílio estava ainda
condicionado ao seu retorno a Jeová. "Os restantes se converterão ao
Deus forte, sim, os restantes de Jacó (Isaías 10:21; ver também Isaías
4:2-6; Jeremias 3:12-13; 31:21-22). Esses oráculos de julgamento
profético evidenciam o fato de que Israel como o povo do concerto não
pode possuir a Palestina sem Jeová. Como observa Peter Diepold em
relação ao Velho Testamento, "Embora a terra seja um dom da graça de
Jeová, ela ainda conta que a Sua dádiva só pode ser auferida na
obediência à revelação de Sua vontade".7.
      A inovação da promessa do novo concerto de Jeremias é uma
maravilhosa garantia de que Deus, pela Sua graça soberana, proverá esse
novo Israel no qual os requerimentos espirituais de obediência amorosa e
conhecimento experimental de Deus serão cumpridos. Tal promessa é
nada menos do que uma promessa escatológica, porque denota um
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 4
começo radicalmente novo da história divina com Israel. Embora,
mesmo nas promessas dos capítulos 30-32 de Jeremias, a restauração
israelita na terra prometida não pode ser realizada sem uma relação de
novo concerto com Deus.
      Uma reconstituição secular e política de Israel como uma nação não
é vista em nenhum lugar na profecia veterotestamentária. Apenas quando
Jeová for reconhecido em Seu Messias, o novo Davi, como o único
Senhor e Governante, Israel habitará na Palestina como o fiel
remanescente, como o Israel de Deus (Isaías 9:7; 11:10-12; Ezequiel
37:21-27; Jeremias 23:5-8). Então a terra será restaurada à justiça e paz,
não em sua forma antiga e pecaminosa, porque a glória de Deus no
Shekinnah será manifesta entre o Seu povo (Ezequiel 37:27-28).

                   A Unidade da Escatologia Bíblica

     Ao invés de buscar a nossa própria solução independente para os
diferentes aspectos da escatologia bíblica, devemos nos prender ao dever
de perguntar como Cristo, o verdadeiro Intérprete e os escritores do
Novo Testamento compreendiam a esperança veterotestamentária de paz
e justiça. Em Seu Sermão da Montanha, Cristo prometeu o reino do céu
(Mateus 5:3, chamado o reino de Deus em Lucas 6:20) aos "pobres de
espírito"; e "aos mansos" ou "os humildes", Ele prometeu a terra (Mateus
5:5). Duas conclusões devem ser tiradas: (1) Jesus designa aos Seus
seguidores espirituais a terra inteira como Sua herança, junto com o
reino do céu (ou de Deus).8 (2) Ele aplica a herança territorial de Israel à
Igreja ao ampliar a promessa original da Palestina, a fim de incluir a
terra renovada. No antigo Israel, Davi assegurou aos israelitas que
enfrentaria a repressão de homens maus, que Deus vindicaria a sua
confiança Nele:
      "Mar os mansos herdarão a ferra e Se deleitarão na abundância de
paz... Os justos herdarão a ferra e nela habitarão para sempre" (Salmo
37:11, 29).
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 5
      Cristo claramente aplica o Salmo 37 de uma maneira nova e
surpreendente: (1) Essa "terra" será mais ampla do que Davi pensava. A
consumação incluirá a terra inteira em sua beleza recriada (ver Isaías
11:6-9; Apocalipse 21-22). (2) A terra renovada será a herança de todos
os mansos de todas as nações que aceitam a Cristo como Seu Senhor e
Salvador. Cristo não está definitivamente espiritualizando a promessa
territorial de Israel quando inclui a Sua Igreja universal. Pelo contrário,
amplia o escopo do território até que se estenda por todo mundo.
      O apóstolo Paulo compreendia a promessa do concerto territorial da
mesma maneira que Jesus , como sendo universal desde o princípio e
como um dom da graça. Ele escreve:
    Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência
coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé
(Romanos 4:13; ênfase acrescentada).
      Paulo declara que essa promessa territorial de dimensão mundial
era a essência do concerto Abraâmico e seria garantida por meio da
justificação pela fé. O convite de Deus a Abrão incluía "o norte e o sul, o
leste e o oeste". Na terra de Canaã, não estabeleceu limites.
      Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o
oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e
à tua descendência, para sempre. Farei a tua descendência como o pó da
terra; de maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se
contará também a tua descendência (Gênesis 13:13, 14, is-16).
      A fim de compreender a Paulo, deve-se ver a terra da Palestina
como um pagamento ou penhor, garantindo a Israel como uma nação, o
território mais amplo necessário para acomodar as incontáveis multidões
da descendência de Abraão. O concerto Abraâmico continha a promessa
de um descendente e de uma terra para esse descendente. Essas
promessas encontraram um cumprimento gradualmente crescente desde
o estabelecimento de Israel na terra de Canaã sob Josué (Josué 21:45). W
C. Kaiser, Jr., interpreta a conquista israelita de Canaã como segue:
      Isso, por outro lado, tornou-se uma prova ou penhor de garantia da
terra completa ainda a vir no futuro, exatamente como as ocupações iniciais
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento     6
foram simultaneamente reconhecidas como "exposições, confirmações e
expansões da promessa".9
      Paulo reconhece Abrão como sendo o pai de todos os crentes que
são justificados pela fé em Cristo entre todas as nações do mundo (ver
Romanos 4:13, 16-24). Abraão "é o pai de todos nós" (tanto judeus
crentes quanto gentios crentes). "Ele é pai de todos nós. Como está
escrito: "Eu o constituí pai de muitas nações". Ele é nosso pai aos olhos
de Deus" (Romanos 4:16, 17; NVI). Ele interpreta as promessas divinas
a Abraão em relação à terra e à descendência "aos olhos de Deus" como
sendo cumpridas através de Cristo. Não de acordo com a hermenêutica
do literalismo, mas com a exegese teológica de Paulo.
      A terra torna-se o mundo, as nações tornam-se os crentes que
confiam em Deus e são justificados pela fé, como foi Abraão. Por isso, é
exata a conclusão de D. P. Fuller em relação a Romanos 4: "Paulo
compreendia que Abrão seria pai de uma multidão de nações através de
Cristo".10 Isso está de acordo com a afirmação de Paulo de que a terra ou
o mundo que é prometido "provém da fé, para que seja segundo a graça,
a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, [de
Abraão]" (Romanos 4:16).
      As promessas territoriais de Israel são asseguradas em Cristo e
garantidas através Dele a todos os crentes, sejam judeus ou gentios.
Conseqüentemente, o concerto de Israel é condicional com respeito
aqueles que são qualificados como recipientes. A condição é: fé em
Jesus como o Messias de Israel.
      Essa conclusão milita contra a asserção do dispensacionalista J.
Dwight Pentecost: "Este pacto feito por Deus com Israel concernente à
sua relação com a terra deve ser visto como sendo um concerto
incondicional".11 Por outro lado, a New Scofield Reference Bible (p. 251)
reconhece a natureza condicional explícita de Deuteronômio 30:1-10,
afirmando, "O Concerto Palestino fornece as condições sob as quais
Israel entrou na terra da promessa."
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 7
     W C. Kaiser explica essa tensão, talvez com melhores palavras: "A
condição não estava agregada à promessa, mas apenas aos participantes
que se beneficiariam dessas permanentes promessas...A promessa
continuou constante, mas a participação nas bênçãos dependia da
situação espiritual dos indivíduos".12 Esse aspecto condicional por parte
dos recipientes não infringe no mínimo o fundamento incondicional da
promessa divina em relação ao reino de Deus, em termos de uma terra
redimida (Isaías 11:6-9; Amós 9:13-15). Isaías descreve isso em termos
cósmicos: "Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá
lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas" (Isaías
65:17; cf. 66:22). Aqui o profeta une o céu e a terra como uma gloriosa
herança para o Israel escatológico. O Novo Testamento declara
enfaticamente que Abraão e os seus descendentes crentes contemplavam
pela fé a algo bem mais permanente e glorioso do que a conquista da
Palestina ou uma Jerusalém reconstruída:
      Pela fé [Abraão], peregrinou na terra da promessa como em terra
alheia ... porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é
o arquiteto e edificador...Todos estes [o Israel espiritual] morreram na fé,
sem ter obtido as promessas...Porque os que falam desse modo manifestam
estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de
onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma
pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de
ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade (Hebreus
11:9, 10,13, 15, 16; ênfase acrescentada).
     Assim, basicamente uma única escatologia enlaça Israel e a Igreja.

          A Impropriedade da Hermenêutica do Literalismo

     A hermenêutica do literalismo étnico e geográfico na profecia é
baseada na pressuposição de que a profecia nada mais é do que a história
adiante no tempo. Conseqüentemente, atribui às descrições proféticas a
exatidão de um quadro fotográfico por antecipação. Essa pressuposição
não permite que coisas maiores e melhores tomem lugar no futuro,
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 8
coisas que "jamais [penetraram] em coração humano'' (1 Coríntios 2:9;
Isaías 64:4). O literalismo nega que uma tipologia progressiva seja
inerente à estrutura bíblica. Cristo veio em humanidade, embora fosse
maior do que Jonas, maior do que Salomão e maior do que o templo
(Mateus 12:40, 42, 6). Ele ergueu a esperança judaica muito acima de
um suposto Messias que era literalmente idêntico ao rei, ao profeta ou ao
sacerdote israelita. Como o Messias divino, colocou-Se infinitamente
acima daqueles antigos profetas, já em Sua humilde encarnação, mas
especialmente na glorificação vindoura. Uma reprodução exata do rei
teocrático de Israel, não deveria ser esperada. Se compreendidas como
tipos de coisas maiores e melhores a ocorrer, "as representações
deveriam ter sido, em uma maior extensão, figurativas e simbólicas".13
Por isso, também se pode ver a terra prometida – Palestina – como "um
mundo em miniatura no qual Deus ilustrou o Seu reino e a Sua maneira
de lidar como o pecado. A terra que Deus prometeu a Abraão e a sua
semente...era um tipo do mundo (Romanos 4:13)".14 O escopo completo
dos profetas israelitas não era nacionalista, mas universal com uma
crescente dimensão cósmica que envolvia o céu e a terra (Isaías 65:17;
24:21-23).
      O princípio decisivo para a aplicação escatológica da promessa
territorial de Israel é, por isso, a maneira como Cristo e o Novo
Testamento como um todo aplicam essas promessas do concerto. A
passagem clássica que ensina a ampliação universal do restrito território
sagrado israelita é encontrada na revelação de Jesus à mulher samaritana.
Reconhecendo que Jesus era um profeta, a mulher Lhe perguntou que
monte era santo na visão de Deus, o de Samaria (Monte Gerezim) ou o
Monte Sião em Jerusalém? Cristo respondeu, "Mulher, podes crer-me
que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o
Pai" (João 4:21). Desde a vinda do Messias, Ele agora é o lugar Santo
com o qual todo Israel e os gentios devem se unir (Mateus 11:28; 23:37).
Cristo declarou, "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu
nome, ali estou no meio deles" (Mateus 18:20). Contemplando as
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 9
gerações futuras, Ele adicionou mais tarde, "E eu, quando for levantado
da terra, atrairei todos a mim mesmo" (João 12:32). Cristo não faz
diferença entre a esperança judaico-cristã e a gentílico-cristã em
escatologia. Os descendentes espirituais de Abraão de todas as nações
serão reunidos em "um rebanho" e "um pastor" (João 10:16).
      Um princípio notório parece governar as aplicações de Cristo das
promessas de Israel: a remoção da restrição étnica dentre o povo do novo
concerto resulta na retirada do velho centro geográfico do Oriente Médio
para a Igreja. Onde quer que Cristo esteja, aquele é um espaço santo.
Essa é a essência da aplicação neotestamentária do sagrado território
israelita. O Novo Testamento substitui a santidade da velha Jerusalém
pela santidade de Jesus Cristo. Ele "cristianiza" a velha santidade
territorial e assim, transcende as suas limitações. Isso não deveria ser
considerado como rejeição das promessas territoriais israelitas pelo
Novo Testamento, mas como o seu cumprimento em Cristo.
      A continuidade básica da escatologia do Velho e do Novo
Testamento é dramaticamente visualizada na Epístola aos Hebreus. Esse
escritor apostólico assegura ao Israel do novo concerto que ao vir a Jesus
Cristo, "..,tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a
Jerusalém celestial...e à universal assembléia e igreja [ekklesia] dos
primogênitos arrolados nos céus, e a Deus...e a Jesus, o Mediador da
nova aliança..." (Hebreus 12:22-24). Através do sangue expiatório de
Cristo em Sua morte, a Igreja está constantemente entrando pela fé no
santuário celestial e se aproximando do próprio nono da graça para
receber socorro (Hebreus 4:16; 10:19-22).
      Essa imagem pictórica da adoração cristã não é apresentada como
uma analogia ou uma adoração paralela ao lado da de Israel, mas como
uma proclamação de um cumprimento essencial dos antigos tipos e
sombras israelitas. A retenção do quadro pictórico e da terminologia
hebraica serve ao propósito de enfatizar a unidade básica e a
continuidade da adoração divina na revelação progressiva e na realização
histórica em Cristo (Hebreus 1:1-3).
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 10
     O cumprimento espiritual presente não anula ou cancela a futura
consumação apocalíptica das promessas de Israel. A cruz, não obstante,
transformou-lhes a todos, de uma vez por todas pelo cristocentrismo da
hermenêutica evangélica.
     A continuidade dos termos veterotestamentários e das imagens do
Oriente Médio em Hebreus asseguram à Igreja de Cristo que a promessa
de Deus nem falhou nem foi adiada, mas é experimentada agora em
Cristo (Hebreus 6:5) e será cumprida de uma maneira ainda mais
gloriosa em sua consumação apocalíptica (Hebreus 13:14).

           Uma Só Esperança para Abrão, Israel e a Igreja

     A Abraão e à sua descendência crente foi prometida, não
simplesmente a Palestina, na sua condição pecadora presente, mas a
"pátria superior" com uma cidade celestial (Hebreus 11:10, 16).
Resumindo, eles olhavam para além da Palestina, para um novo céu e
uma nova terra e para uma nova Jerusalém. Além do mais, essa herança
eterna não está restrita aos israelitas da casa de Judá e Israel. Hebreus
ensina explicitamente que Israel e a Igreja serão unidos em uma herança:
"por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito [a Igreja], para
que eles [Israel], sem nós, não fossem aperfeiçoados" (Hebreus 11:40; cf.
13:14).
     Essa Carta apostólica aplica o novo concerto que Deus havia
prometido às doze tribos de Israel (Jeremias 31:31-34), à Igreja universal
de Cristo (Hebreus 8:1-13). O autor até mesmo declara que o concerto
Mosaico agora se tornou antiquado, a lei Levítica ab-rogada, e que o
templo terrestre, com o seu ritual de sacrifício, foi "removido" por Cristo
como "obsoleto" (Hebreus 8:13; 10:9). Todos os crentes devem voltar os
seus olhos para Jesus como o Rei Sacerdote no trono da graça, porque o
Espírito Santo desvelou que a verdadeira mediação é transferida do
santuário terrestre para o celestial (Hebreus 9:8; 10:19-22). Através de
Cristo, todos nós agora podemos entrar no vivificante descanso divino,
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 11
seguros da esperança de um lugar de repouso pela eternidade (Hebreus
4:3, 9).
     Em Cristo estamos "recebendo nós um reino inabalável" (Hebreus
12:28) e "buscamos a [cidade] que há de vir" (Hebreus 13:14). Mas, a
certeza inalterável da vinda da Nova Jerusalém, e o reino de Deus
inabalável não tornam antiquada a condição espiritual da aceitação de
Jesus como Senhor e Cristo. Jesus enfatizou em termos inequívocos a
natureza condicional de participação no banquete messiânico vindouro:
      Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares
à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus [de Deus, em Lucas
13:28]. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas;
ali haverá choro e ranger de dentes. (Mateus 8:11, 12; cf. Lucas 13:28, 29).
     Em outras palavras, de acordo com Cristo, o Israel natural
(descrente) não tem qualquer parte na promessa do reino. Os crentes
gentios tomarão os seus assentos vazios na festividade escatológica da
descendência de Abraão.
     A Igreja de Cristo não tem outra esperança, nem outro destino, nem
ainda outra herança, a não ser aquela que Deus deu a Abraão e a Israel –
um céu e uma terra redimida (Isaías 55:17). Isso não poderia ter sido
confirmado mais conclusivamente do que pelas palavras do apóstolo
Pedro:
     ...esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual
os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se
derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e
nova terra, nos quais habita justiça (2 Pedro 3:12, 13; ênfase acrescentada).
     Pedro com autoridade apostólica transfere a esperança de Israel para
a Igreja. O novo céu e a nova terra – prometidos a Israel em Isaías 65:17
– agora tornou-se a herança prometida da Igreja.
     É levantada a pergunta, como a Igreja triunfante, glorificada e
levada ao paraíso com Deus no segundo advento de Cristo (ver 1
Tessalonicenses 4:16, 17; João 14:1-30), receberá a terra como o seu lar
eterno? A resposta é encontrada em Apocalipse 21-22, onde a inspiração
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 12
divina revela que a Nova Jerusalém, pelo poder de Deus, descerá do céu
à terra:
      Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra
passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova
Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva
adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono,
dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com
eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes
enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá
luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele
que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E
acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras
(Apocalipse 21:1-5).
      Uma nova terra é o objetivo culminante de toda a história da
redenção. O destino final do homem centraliza-se em uma terra
regenerada (Mateus 5:5; 19:28). De acordo com Paulo, "a própria criação
será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos
filhos de Deus" (Romanos 8:21). Apenas então a esperança de Abraão
será cumprida e todos os seus filhos, em Israel e na Igreja, viverão juntos
através da eternidade como uma família em uma cidade. A realização
apocalíptica da herança divina e Sua gloriosa habitação entre o Seu povo
(Apocalipse 21:3) serão a consumação eterna de Seu concerto com
Abraão (Gênesis 17:7), com Moisés (Êxodo 6:7; Deuteronômio 29:13),
com Davi (2 Samuel 7:24), e do Seu novo concerto com Israel Jeremias
31:1, 31; Ezequiel 36:28; 37:23).
      Em Apocalipse 21-22, as contínuas promessas divinas encontram
finalmente o seu perfeito cumprimento na nova terra da era vindoura.15
Através de Cristo, tanto Israel quanto a Igreja são um e se encontram em
uma nova cidade, a Nova Jerusalém, que tem os portões com o nome das
doze tribos de Israel e os seus fundamentos contém os nomes dos doze
apóstolos da Igreja Cristã (ver Apocalipse 21:12-14). A lição para os
cristãos é profunda, como conclui John Bright:
     Assim, como o antigo Israel, teremos sempre que viver em tensão. A
tensão entre a graça e a obrigação: a graça incondicional de Cristo que nos
A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 13
é oferecida, suas promessas incondicionais nas quais somos convidados a
confiar e a obrigação de obedecer-Lhe como o soberano Senhor da Igreja.16

      Referências Bibliográficas:
      1. Ryrie, Dispensacionalism Today, pp. 154, 155.
      2. NSRB, p. 251 (em Deuteronômio 30).
      3. Documentation em Fuller, Gospel and Law: Contrast or Continuum?, pp.
15, 16.
      4. W. D. Davies, The Gospel and the Land: Early Christianity and Jewish
Territorial Doctrine (Berkeley, Calif: University of California Press, 1974), p. 29.
      5. P. Diepold, Israel's Land, BWANT NR 15 (Stuttgart: W. Kohlhammer,
1972), p. 109 (minha tradução).
      6. Daviues, The Gospel and the Land, p. 43, provas que o coração de Jeremias
era "que o reino do norte de Israel bem como Judá deveria eventualmente retomar do
exílio (Jeremias 3 :12f.; 31:3-4; 31:9, 15-20).
      7. Diepold, Israel's Land, p. 183 (minha tradução).
      8. The New Scofield Reference Bible consideram os termos (a) "reino do céu" e
(b) "reino de Deus" como sendo rotativos mas nunca distintos: (a) significa o
governo de Deus do céu sobre os seres humanos, entretanto na esfera de urna
profissão universal de Deus pelo povo: (b) significa o reino cósmico, universal de
Deus (pp. 994, 1002). Ryrie amortiza este estranho literalismo dizendo, "Esta
distinção não é o assunto essencial. O assunto relevante é se a igreja é ou não o reino.
. . (Dispensationalism Today, p. 173). Entretanto, o assunto essencial, é se o reino
presente de Cristo no trono de Deus é o presente cumprimento do concerto Davídico.
      9. Kaiser, Toward to Old Testament Theology, pp. 90, 91.
     10. Fuller, Gospel and Law: Contrast or Continuum, p. 133.
     11. Pentecost, Things to Come, p. 98.
     12. Kaiser, Toward to Old Testament Theology, pp. 94, 100.
     13. P. Fairbairn, Prophecy and the Proper Interpretation (Grand Rapids, Mich.:
Guardian Press, 1976; reprint of 1865), p. 229.
     14. L. F. Were, The Certainty of the Third Angel Message (Berrien Springs,
Mich.: First Impressions, 1979), p. 86.
     15. See Ladd, A Theology of the New Testament, p. 632.
     16. J. Bright, Covenant and Promise: The Prophetic Understanding of the
Future in Pre-Exilic Israel (Philadelphia: Westminster Press, 1976), p. 198.

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09 a promessa territorial de israel

  • 1. A PROMESSA TERRITORIAL DE ISRAEL NA PERSPECTIVA DO NOVO TESTAMENTO A insistência dispensacionalista sobre a dicotomia1 entre Israel e a Igreja manifesta-se muito notavelmente na projeção das esperanças separadas e nos programas escatológicos distintos para cada um. De acordo com esta concepção, a Igreja pode esperar apenas pelo céu, e Israel, unicamente pela Palestina, como as suas respectivas heranças. O dispensacionalismo chama as promessas do concerto divino para Israel em Deuteronômio 30:1-10, "o concerto Palestino"2, porque Deus claramente havia derrubado as fronteiras da terra prometida em Seu concerto com Abraão: "Naquele mesmo dia, fez o SENHOR aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates" (Gênesis 15:18; cf. Deuteronômio 11:24). O destino do Israel natural nessa terra do Oriente Médio é visto como sendo desvelado ainda mais em Isaías 32, "Eis aí está que reinará um rei com justiça, e em retidão governarão príncipes... O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranqüilos" (Isaías 32:1, 18). Em agudo contraste com o concerto "Palestino" de Israel, a Igreja pode apenas reivindicar o céu como o seu destino e esperança. Deus "que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo" (Efésios 1:3) "e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus" (Efésios 2:6). O marcado contraste entre Isaías 32 e Efésios 2 fez John N. Darby deduzir em 1868 "uma obvia mudança de dispensação"3, tendo como base a interpretação literal. Isso o levou a concluir que o governo real de justiça e paz na terra foi planejado por Deus apenas para a nação judaica.
  • 2. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 2 A Terra Foi Prometida Apenas ao Israel de Deus O Velho Testamento descreve a terra prometida aos patriarcas e a Israel em termos teológicos consistentes: como gracioso dom ou bênção de Deus ao Seu povo do concerto (Gênesis 12:1, 7; 13:14-17; 15:18-21; Deuteronômio 1:5-8; Salmo 44:1-3). A própria terra como tal, é chamada para observar um sábado ao Senhor (Levítico 25:2), "à simbolizar a criação de Jeová e o Seu direito de propriedade sobre a terra". 4 Ela continuou sendo a "Sua terra santa" (Salmo 78:54) durante o tempo em que Ele habitou no meio de Israel (Números 35:34). A santidade da terra israelita é inteiramente derivada. O seu destino, a cidade e o templo dependem, por isso, do relacionamento religioso de Israel com o Senhor (ver Levítico 26). O julgamento divino de Israel engloba o juízo sobre sua terra, pois ela é a terra do Senhor e a Sua herança. "Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois para mim estrangeiros e peregrinos" (Levítico 25:23). Tanto o povo do concerto quanto a sua terra dependem inteiramente de Jeová. Conseqüentemente, "Israel não pode reivindicar uma relação imediata com sua terra, não pode tê-la à sua disposição de uma maneira autônoma, nem venerá-la como uma possessão absoluta".5 Israel não possui a terra. Por isso, Oséias anuncia este julgamento divino sobre as dez tribos, "Na terra do SENHOR não permanecerão" (Oséias 9:3). Jeremias explica: Eu vos introduzi numa terra fértil, para que comêsseis o seu fruto e o seu bem; mas, depois de terdes entrado nela, vós a contaminastes e da minha herança fizestes abominação. (Jeremias 2:7) A obrigação de Israel para com Jeová era basicamente esta, "Pai me chamarás e de mim não te desviarás" (Jeremias 3:19; cf. 2:8; Salmos 105:43-45). Embora a terra fosse um dom da graça para Israel, o povo do concerto poderia habitar ou permanecer na terra divina apenas se obedecesse ao Senhor (ver Deuteronômio 4:40; Isaías 1:19). O dom não pode ser recebido sem o Seu Doador.
  • 3. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 3 Sem essa dimensão ou condição teológica, não poderia haver a existência política do Israel de Deus, a teocracia. Quando Israel tornou- se persistentemente infiel ao seu concerto com Deus, o Senhor, por isso, retirou a Sua herança dele (Jeremias 17:1-4; 15:13-14). Isso significava, no Velho Testamento, a dispersão israelita entre os gentio e a destruição da terra (Isaías 1:5-9; Jeremias 4:23-26). Com a rejeição de Israel como uma nação fiel, Deus da mesma forma rejeitou a sua terra que também já não goza de Suas bênçãos. A existência de Israel como uma teocracia está inseparavelmente atada à sua habitação na terra da Palestina. O exílio israelita foi causado pela retirada das bênçãos do concerto divino. Essa verdade é confirmada pelas graciosas promessas de Deus de um "novo concerto" com todas as doze tribos6, em conjunto com a promessa de um novo êxodo das terras do cativeiro assírio e babilônico, um novo estabelecimento na terra dos antepassados Jeremias 30-32), e a vinda do Messias, o Davi maior (Jeremias 23:5, 6). Essas notáveis promessas de Jeremias revelam que a fidelidade de Deus ao Seu concerto com Israel continuou dentro e através de Seu julgamento das tribos desobedientes. Não obstante, o retorno de Israel do exílio estava ainda condicionado ao seu retorno a Jeová. "Os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de Jacó (Isaías 10:21; ver também Isaías 4:2-6; Jeremias 3:12-13; 31:21-22). Esses oráculos de julgamento profético evidenciam o fato de que Israel como o povo do concerto não pode possuir a Palestina sem Jeová. Como observa Peter Diepold em relação ao Velho Testamento, "Embora a terra seja um dom da graça de Jeová, ela ainda conta que a Sua dádiva só pode ser auferida na obediência à revelação de Sua vontade".7. A inovação da promessa do novo concerto de Jeremias é uma maravilhosa garantia de que Deus, pela Sua graça soberana, proverá esse novo Israel no qual os requerimentos espirituais de obediência amorosa e conhecimento experimental de Deus serão cumpridos. Tal promessa é nada menos do que uma promessa escatológica, porque denota um
  • 4. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 4 começo radicalmente novo da história divina com Israel. Embora, mesmo nas promessas dos capítulos 30-32 de Jeremias, a restauração israelita na terra prometida não pode ser realizada sem uma relação de novo concerto com Deus. Uma reconstituição secular e política de Israel como uma nação não é vista em nenhum lugar na profecia veterotestamentária. Apenas quando Jeová for reconhecido em Seu Messias, o novo Davi, como o único Senhor e Governante, Israel habitará na Palestina como o fiel remanescente, como o Israel de Deus (Isaías 9:7; 11:10-12; Ezequiel 37:21-27; Jeremias 23:5-8). Então a terra será restaurada à justiça e paz, não em sua forma antiga e pecaminosa, porque a glória de Deus no Shekinnah será manifesta entre o Seu povo (Ezequiel 37:27-28). A Unidade da Escatologia Bíblica Ao invés de buscar a nossa própria solução independente para os diferentes aspectos da escatologia bíblica, devemos nos prender ao dever de perguntar como Cristo, o verdadeiro Intérprete e os escritores do Novo Testamento compreendiam a esperança veterotestamentária de paz e justiça. Em Seu Sermão da Montanha, Cristo prometeu o reino do céu (Mateus 5:3, chamado o reino de Deus em Lucas 6:20) aos "pobres de espírito"; e "aos mansos" ou "os humildes", Ele prometeu a terra (Mateus 5:5). Duas conclusões devem ser tiradas: (1) Jesus designa aos Seus seguidores espirituais a terra inteira como Sua herança, junto com o reino do céu (ou de Deus).8 (2) Ele aplica a herança territorial de Israel à Igreja ao ampliar a promessa original da Palestina, a fim de incluir a terra renovada. No antigo Israel, Davi assegurou aos israelitas que enfrentaria a repressão de homens maus, que Deus vindicaria a sua confiança Nele: "Mar os mansos herdarão a ferra e Se deleitarão na abundância de paz... Os justos herdarão a ferra e nela habitarão para sempre" (Salmo 37:11, 29).
  • 5. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 5 Cristo claramente aplica o Salmo 37 de uma maneira nova e surpreendente: (1) Essa "terra" será mais ampla do que Davi pensava. A consumação incluirá a terra inteira em sua beleza recriada (ver Isaías 11:6-9; Apocalipse 21-22). (2) A terra renovada será a herança de todos os mansos de todas as nações que aceitam a Cristo como Seu Senhor e Salvador. Cristo não está definitivamente espiritualizando a promessa territorial de Israel quando inclui a Sua Igreja universal. Pelo contrário, amplia o escopo do território até que se estenda por todo mundo. O apóstolo Paulo compreendia a promessa do concerto territorial da mesma maneira que Jesus , como sendo universal desde o princípio e como um dom da graça. Ele escreve: Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé (Romanos 4:13; ênfase acrescentada). Paulo declara que essa promessa territorial de dimensão mundial era a essência do concerto Abraâmico e seria garantida por meio da justificação pela fé. O convite de Deus a Abrão incluía "o norte e o sul, o leste e o oeste". Na terra de Canaã, não estabeleceu limites. Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência (Gênesis 13:13, 14, is-16). A fim de compreender a Paulo, deve-se ver a terra da Palestina como um pagamento ou penhor, garantindo a Israel como uma nação, o território mais amplo necessário para acomodar as incontáveis multidões da descendência de Abraão. O concerto Abraâmico continha a promessa de um descendente e de uma terra para esse descendente. Essas promessas encontraram um cumprimento gradualmente crescente desde o estabelecimento de Israel na terra de Canaã sob Josué (Josué 21:45). W C. Kaiser, Jr., interpreta a conquista israelita de Canaã como segue: Isso, por outro lado, tornou-se uma prova ou penhor de garantia da terra completa ainda a vir no futuro, exatamente como as ocupações iniciais
  • 6. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 6 foram simultaneamente reconhecidas como "exposições, confirmações e expansões da promessa".9 Paulo reconhece Abrão como sendo o pai de todos os crentes que são justificados pela fé em Cristo entre todas as nações do mundo (ver Romanos 4:13, 16-24). Abraão "é o pai de todos nós" (tanto judeus crentes quanto gentios crentes). "Ele é pai de todos nós. Como está escrito: "Eu o constituí pai de muitas nações". Ele é nosso pai aos olhos de Deus" (Romanos 4:16, 17; NVI). Ele interpreta as promessas divinas a Abraão em relação à terra e à descendência "aos olhos de Deus" como sendo cumpridas através de Cristo. Não de acordo com a hermenêutica do literalismo, mas com a exegese teológica de Paulo. A terra torna-se o mundo, as nações tornam-se os crentes que confiam em Deus e são justificados pela fé, como foi Abraão. Por isso, é exata a conclusão de D. P. Fuller em relação a Romanos 4: "Paulo compreendia que Abrão seria pai de uma multidão de nações através de Cristo".10 Isso está de acordo com a afirmação de Paulo de que a terra ou o mundo que é prometido "provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, [de Abraão]" (Romanos 4:16). As promessas territoriais de Israel são asseguradas em Cristo e garantidas através Dele a todos os crentes, sejam judeus ou gentios. Conseqüentemente, o concerto de Israel é condicional com respeito aqueles que são qualificados como recipientes. A condição é: fé em Jesus como o Messias de Israel. Essa conclusão milita contra a asserção do dispensacionalista J. Dwight Pentecost: "Este pacto feito por Deus com Israel concernente à sua relação com a terra deve ser visto como sendo um concerto incondicional".11 Por outro lado, a New Scofield Reference Bible (p. 251) reconhece a natureza condicional explícita de Deuteronômio 30:1-10, afirmando, "O Concerto Palestino fornece as condições sob as quais Israel entrou na terra da promessa."
  • 7. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 7 W C. Kaiser explica essa tensão, talvez com melhores palavras: "A condição não estava agregada à promessa, mas apenas aos participantes que se beneficiariam dessas permanentes promessas...A promessa continuou constante, mas a participação nas bênçãos dependia da situação espiritual dos indivíduos".12 Esse aspecto condicional por parte dos recipientes não infringe no mínimo o fundamento incondicional da promessa divina em relação ao reino de Deus, em termos de uma terra redimida (Isaías 11:6-9; Amós 9:13-15). Isaías descreve isso em termos cósmicos: "Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais haverá memória delas" (Isaías 65:17; cf. 66:22). Aqui o profeta une o céu e a terra como uma gloriosa herança para o Israel escatológico. O Novo Testamento declara enfaticamente que Abraão e os seus descendentes crentes contemplavam pela fé a algo bem mais permanente e glorioso do que a conquista da Palestina ou uma Jerusalém reconstruída: Pela fé [Abraão], peregrinou na terra da promessa como em terra alheia ... porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador...Todos estes [o Israel espiritual] morreram na fé, sem ter obtido as promessas...Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade (Hebreus 11:9, 10,13, 15, 16; ênfase acrescentada). Assim, basicamente uma única escatologia enlaça Israel e a Igreja. A Impropriedade da Hermenêutica do Literalismo A hermenêutica do literalismo étnico e geográfico na profecia é baseada na pressuposição de que a profecia nada mais é do que a história adiante no tempo. Conseqüentemente, atribui às descrições proféticas a exatidão de um quadro fotográfico por antecipação. Essa pressuposição não permite que coisas maiores e melhores tomem lugar no futuro,
  • 8. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 8 coisas que "jamais [penetraram] em coração humano'' (1 Coríntios 2:9; Isaías 64:4). O literalismo nega que uma tipologia progressiva seja inerente à estrutura bíblica. Cristo veio em humanidade, embora fosse maior do que Jonas, maior do que Salomão e maior do que o templo (Mateus 12:40, 42, 6). Ele ergueu a esperança judaica muito acima de um suposto Messias que era literalmente idêntico ao rei, ao profeta ou ao sacerdote israelita. Como o Messias divino, colocou-Se infinitamente acima daqueles antigos profetas, já em Sua humilde encarnação, mas especialmente na glorificação vindoura. Uma reprodução exata do rei teocrático de Israel, não deveria ser esperada. Se compreendidas como tipos de coisas maiores e melhores a ocorrer, "as representações deveriam ter sido, em uma maior extensão, figurativas e simbólicas".13 Por isso, também se pode ver a terra prometida – Palestina – como "um mundo em miniatura no qual Deus ilustrou o Seu reino e a Sua maneira de lidar como o pecado. A terra que Deus prometeu a Abraão e a sua semente...era um tipo do mundo (Romanos 4:13)".14 O escopo completo dos profetas israelitas não era nacionalista, mas universal com uma crescente dimensão cósmica que envolvia o céu e a terra (Isaías 65:17; 24:21-23). O princípio decisivo para a aplicação escatológica da promessa territorial de Israel é, por isso, a maneira como Cristo e o Novo Testamento como um todo aplicam essas promessas do concerto. A passagem clássica que ensina a ampliação universal do restrito território sagrado israelita é encontrada na revelação de Jesus à mulher samaritana. Reconhecendo que Jesus era um profeta, a mulher Lhe perguntou que monte era santo na visão de Deus, o de Samaria (Monte Gerezim) ou o Monte Sião em Jerusalém? Cristo respondeu, "Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai" (João 4:21). Desde a vinda do Messias, Ele agora é o lugar Santo com o qual todo Israel e os gentios devem se unir (Mateus 11:28; 23:37). Cristo declarou, "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles" (Mateus 18:20). Contemplando as
  • 9. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 9 gerações futuras, Ele adicionou mais tarde, "E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo" (João 12:32). Cristo não faz diferença entre a esperança judaico-cristã e a gentílico-cristã em escatologia. Os descendentes espirituais de Abraão de todas as nações serão reunidos em "um rebanho" e "um pastor" (João 10:16). Um princípio notório parece governar as aplicações de Cristo das promessas de Israel: a remoção da restrição étnica dentre o povo do novo concerto resulta na retirada do velho centro geográfico do Oriente Médio para a Igreja. Onde quer que Cristo esteja, aquele é um espaço santo. Essa é a essência da aplicação neotestamentária do sagrado território israelita. O Novo Testamento substitui a santidade da velha Jerusalém pela santidade de Jesus Cristo. Ele "cristianiza" a velha santidade territorial e assim, transcende as suas limitações. Isso não deveria ser considerado como rejeição das promessas territoriais israelitas pelo Novo Testamento, mas como o seu cumprimento em Cristo. A continuidade básica da escatologia do Velho e do Novo Testamento é dramaticamente visualizada na Epístola aos Hebreus. Esse escritor apostólico assegura ao Israel do novo concerto que ao vir a Jesus Cristo, "..,tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial...e à universal assembléia e igreja [ekklesia] dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus...e a Jesus, o Mediador da nova aliança..." (Hebreus 12:22-24). Através do sangue expiatório de Cristo em Sua morte, a Igreja está constantemente entrando pela fé no santuário celestial e se aproximando do próprio nono da graça para receber socorro (Hebreus 4:16; 10:19-22). Essa imagem pictórica da adoração cristã não é apresentada como uma analogia ou uma adoração paralela ao lado da de Israel, mas como uma proclamação de um cumprimento essencial dos antigos tipos e sombras israelitas. A retenção do quadro pictórico e da terminologia hebraica serve ao propósito de enfatizar a unidade básica e a continuidade da adoração divina na revelação progressiva e na realização histórica em Cristo (Hebreus 1:1-3).
  • 10. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 10 O cumprimento espiritual presente não anula ou cancela a futura consumação apocalíptica das promessas de Israel. A cruz, não obstante, transformou-lhes a todos, de uma vez por todas pelo cristocentrismo da hermenêutica evangélica. A continuidade dos termos veterotestamentários e das imagens do Oriente Médio em Hebreus asseguram à Igreja de Cristo que a promessa de Deus nem falhou nem foi adiada, mas é experimentada agora em Cristo (Hebreus 6:5) e será cumprida de uma maneira ainda mais gloriosa em sua consumação apocalíptica (Hebreus 13:14). Uma Só Esperança para Abrão, Israel e a Igreja A Abraão e à sua descendência crente foi prometida, não simplesmente a Palestina, na sua condição pecadora presente, mas a "pátria superior" com uma cidade celestial (Hebreus 11:10, 16). Resumindo, eles olhavam para além da Palestina, para um novo céu e uma nova terra e para uma nova Jerusalém. Além do mais, essa herança eterna não está restrita aos israelitas da casa de Judá e Israel. Hebreus ensina explicitamente que Israel e a Igreja serão unidos em uma herança: "por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito [a Igreja], para que eles [Israel], sem nós, não fossem aperfeiçoados" (Hebreus 11:40; cf. 13:14). Essa Carta apostólica aplica o novo concerto que Deus havia prometido às doze tribos de Israel (Jeremias 31:31-34), à Igreja universal de Cristo (Hebreus 8:1-13). O autor até mesmo declara que o concerto Mosaico agora se tornou antiquado, a lei Levítica ab-rogada, e que o templo terrestre, com o seu ritual de sacrifício, foi "removido" por Cristo como "obsoleto" (Hebreus 8:13; 10:9). Todos os crentes devem voltar os seus olhos para Jesus como o Rei Sacerdote no trono da graça, porque o Espírito Santo desvelou que a verdadeira mediação é transferida do santuário terrestre para o celestial (Hebreus 9:8; 10:19-22). Através de Cristo, todos nós agora podemos entrar no vivificante descanso divino,
  • 11. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 11 seguros da esperança de um lugar de repouso pela eternidade (Hebreus 4:3, 9). Em Cristo estamos "recebendo nós um reino inabalável" (Hebreus 12:28) e "buscamos a [cidade] que há de vir" (Hebreus 13:14). Mas, a certeza inalterável da vinda da Nova Jerusalém, e o reino de Deus inabalável não tornam antiquada a condição espiritual da aceitação de Jesus como Senhor e Cristo. Jesus enfatizou em termos inequívocos a natureza condicional de participação no banquete messiânico vindouro: Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus [de Deus, em Lucas 13:28]. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. (Mateus 8:11, 12; cf. Lucas 13:28, 29). Em outras palavras, de acordo com Cristo, o Israel natural (descrente) não tem qualquer parte na promessa do reino. Os crentes gentios tomarão os seus assentos vazios na festividade escatológica da descendência de Abraão. A Igreja de Cristo não tem outra esperança, nem outro destino, nem ainda outra herança, a não ser aquela que Deus deu a Abraão e a Israel – um céu e uma terra redimida (Isaías 55:17). Isso não poderia ter sido confirmado mais conclusivamente do que pelas palavras do apóstolo Pedro: ...esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça (2 Pedro 3:12, 13; ênfase acrescentada). Pedro com autoridade apostólica transfere a esperança de Israel para a Igreja. O novo céu e a nova terra – prometidos a Israel em Isaías 65:17 – agora tornou-se a herança prometida da Igreja. É levantada a pergunta, como a Igreja triunfante, glorificada e levada ao paraíso com Deus no segundo advento de Cristo (ver 1 Tessalonicenses 4:16, 17; João 14:1-30), receberá a terra como o seu lar eterno? A resposta é encontrada em Apocalipse 21-22, onde a inspiração
  • 12. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 12 divina revela que a Nova Jerusalém, pelo poder de Deus, descerá do céu à terra: Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras (Apocalipse 21:1-5). Uma nova terra é o objetivo culminante de toda a história da redenção. O destino final do homem centraliza-se em uma terra regenerada (Mateus 5:5; 19:28). De acordo com Paulo, "a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus" (Romanos 8:21). Apenas então a esperança de Abraão será cumprida e todos os seus filhos, em Israel e na Igreja, viverão juntos através da eternidade como uma família em uma cidade. A realização apocalíptica da herança divina e Sua gloriosa habitação entre o Seu povo (Apocalipse 21:3) serão a consumação eterna de Seu concerto com Abraão (Gênesis 17:7), com Moisés (Êxodo 6:7; Deuteronômio 29:13), com Davi (2 Samuel 7:24), e do Seu novo concerto com Israel Jeremias 31:1, 31; Ezequiel 36:28; 37:23). Em Apocalipse 21-22, as contínuas promessas divinas encontram finalmente o seu perfeito cumprimento na nova terra da era vindoura.15 Através de Cristo, tanto Israel quanto a Igreja são um e se encontram em uma nova cidade, a Nova Jerusalém, que tem os portões com o nome das doze tribos de Israel e os seus fundamentos contém os nomes dos doze apóstolos da Igreja Cristã (ver Apocalipse 21:12-14). A lição para os cristãos é profunda, como conclui John Bright: Assim, como o antigo Israel, teremos sempre que viver em tensão. A tensão entre a graça e a obrigação: a graça incondicional de Cristo que nos
  • 13. A Promessa Territorial de Israel na Perspectiva do Novo Testamento 13 é oferecida, suas promessas incondicionais nas quais somos convidados a confiar e a obrigação de obedecer-Lhe como o soberano Senhor da Igreja.16 Referências Bibliográficas: 1. Ryrie, Dispensacionalism Today, pp. 154, 155. 2. NSRB, p. 251 (em Deuteronômio 30). 3. Documentation em Fuller, Gospel and Law: Contrast or Continuum?, pp. 15, 16. 4. W. D. Davies, The Gospel and the Land: Early Christianity and Jewish Territorial Doctrine (Berkeley, Calif: University of California Press, 1974), p. 29. 5. P. Diepold, Israel's Land, BWANT NR 15 (Stuttgart: W. Kohlhammer, 1972), p. 109 (minha tradução). 6. Daviues, The Gospel and the Land, p. 43, provas que o coração de Jeremias era "que o reino do norte de Israel bem como Judá deveria eventualmente retomar do exílio (Jeremias 3 :12f.; 31:3-4; 31:9, 15-20). 7. Diepold, Israel's Land, p. 183 (minha tradução). 8. The New Scofield Reference Bible consideram os termos (a) "reino do céu" e (b) "reino de Deus" como sendo rotativos mas nunca distintos: (a) significa o governo de Deus do céu sobre os seres humanos, entretanto na esfera de urna profissão universal de Deus pelo povo: (b) significa o reino cósmico, universal de Deus (pp. 994, 1002). Ryrie amortiza este estranho literalismo dizendo, "Esta distinção não é o assunto essencial. O assunto relevante é se a igreja é ou não o reino. . . (Dispensationalism Today, p. 173). Entretanto, o assunto essencial, é se o reino presente de Cristo no trono de Deus é o presente cumprimento do concerto Davídico. 9. Kaiser, Toward to Old Testament Theology, pp. 90, 91. 10. Fuller, Gospel and Law: Contrast or Continuum, p. 133. 11. Pentecost, Things to Come, p. 98. 12. Kaiser, Toward to Old Testament Theology, pp. 94, 100. 13. P. Fairbairn, Prophecy and the Proper Interpretation (Grand Rapids, Mich.: Guardian Press, 1976; reprint of 1865), p. 229. 14. L. F. Were, The Certainty of the Third Angel Message (Berrien Springs, Mich.: First Impressions, 1979), p. 86. 15. See Ladd, A Theology of the New Testament, p. 632. 16. J. Bright, Covenant and Promise: The Prophetic Understanding of the Future in Pre-Exilic Israel (Philadelphia: Westminster Press, 1976), p. 198.