Sempre existe esperança - A conversão de Nabucodonosor
1. Daniel 4 - Sempre existe esperança
Daniel 4 - Sempre existe esperança
Pense na pessoa mais teimosa, para quem é quase impossível falar de Deus. Um ateu
decidido. Não. Não apenas ateu, mas o mais famoso filósofo ateu de sua época. Esse era
o inglês Antony Flew, o maior ateu do século 20. Flew é considerado o principal
filósofo dos últimos cem anos (seu ensaio Theology and Falsification se tornou um
clássico e a publicação filosófica mais reimpressa do século 20). Ele passou mais de
cinquenta anos defendendo o ateísmo. Para piorar, achava que sabia tudo de religião, já
que é filho de pastor metodista. Formou-se em Oxford, lecionou em universidades
importantes, mas foi justamente a vontade de buscar a razão de tudo que o fez rever
seus conceitos sobre a fé.
No livro Um Ateu Garante: Deus Existe (Ediouro), Flew conta como chegou a negar a
Deus, tornando-se ateu. Na segunda parte da obra, ele analisa os principais argumentos
que o convenceram da existência do Criador. Na página 144, ele escreveu: “Minha
jornada para a descoberta do Divino tem sido, até aqui, uma peregrinação da razão.
Segui o argumento até onde ele me levou, e ele me levou a aceitar a existência de um
Ser autoexistente, imutável, imaterial, onipotente e onisciente.” É um livro que, acima
de tudo, mostra que, enquanto há vida, sempre existe esperança. Se houver uma
pequena fresta na mente e no coração, Deus pode entrar por ali e Se revelar ao mais
teimoso de Seus filhos.
Nabucodonosor também foi “osso duro”, mas Deus soube lidar com ele. Depois de
tantas evidências da atuação divina por meio do testemunho dos hebreus fiéis, o
monarca orgulhoso precisava de uma lição impressiva. Nos intervalos entre uma batalha
e outra, Nabucodonosor dedicou-se a embelezar e fortificar sua capital. Os famosos
2. Jardins Suspensos da Babilônia são obra dele. Além disso, ele construiu 53 templos,
955 pequenos santuários e 384 altares de rua (mesmo tendo recebido provas de que
existe apenas um Deus verdadeiro).
O capítulo 4 de Daniel, na verdade, é o testemunho pessoal de uma tremenda
conversão. É uma declaração tão impressionante quanto o livro de Anthony Flew, e
você já vai saber por quê.
Deus, em Sua misericórdia, concedeu outro sonho ao rei. Desta vez, Nabucodonosor
sonhou com uma grande árvore no meio da terra, cuja altura chegava ao céu. Os animais
encontravam abrigo debaixo dela e todos se alimentavam de seus frutos. (Interessante é
que 19 anos antes, Ezequiel usou o mesmo símbolo da árvore para advertir ao faraó do
Egito, conforme Ez 31:1, 14, 18; 29:19; 30:10.)
A certa altura, um anjo desceu do céu com a ordem de cortar a árvore, deixando apenas
o tronco com as raízes. O tronco foi atado com cadeias (do aramaico „asar, instrumento
usado para amarrar animais) de ferro e de bronze. E foi dito: “Seja molhado do orvalho
do céu, e a sua porção seja com os animais na erva da terra. Seja mudado o seu coração,
para que não seja mais coração de homem, e seja-lhe dado coração de animal, e passem
sobre ele sete tempos” (v. 15, 16).
Nabucodonosor era mesmo teimoso. Contou primeiramente o sonho aos astrólogos e
feiticeiros, para descobrir de novo que esse pessoal não sabia de nada. Então, uma vez
mais, Daniel trouxe a interpretação, não sem antes ficar perturbado pelo que tinha que
dizer ao rei. A árvore representava o monarca e o cumprimento da profecia dizia
respeito unicamente a ele (v. 24). Significava que ele não apenas perderia o poder real
por sete anos (sete tempos), como seria acometido de uma doença que praticamente o
transformaria num animal (a licantropia é uma doença com sintomas semelhantes).
Tudo isso para que ele reconhecesse que é Deus quem tem domínio sobre os reinos do
mundo, e o dá a quem quer.
E a cadeia no tronco? Daniel explicou: “Quanto ao que foi dito, que deixassem o tronco
com as raízes da árvore, o teu reino voltará para ti, depois que tiveres conhecido que o
Céu reina” (v. 26). Em seguida, o profeta apelou: “Ó rei, aceita o meu conselho, desfaze
os teus pecados pela justiça, e as tuas iniquidades, usando de misericórdia para com os
pobres, e talvez se prolongue a tua tranquilidade” (v. 27).
Depois de uma previsão como essa e de um apelo poderoso desses, era de se esperar que
o rei se arrependesse. Mas não. A teimosia dele só tinha rival em sua vaidade.
Doze meses depois, tempo durante o qual o Egito foi subjugado pela Babilônia
juntamente com a impressão da advertência de Daniel, o rei caminhava pelo palácio real
e se gabou com as palavras: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa
real, com a força do meu poder, e para a glória da minha majestade?” (v. 30, grifos
meus).
Para Deus, todo pecado é detestável, afinal, ele afasta Seus filhos queridos de Si. Mas se
há um pecado especialmente abominável, esse é o orgulho (ou presunção). O adúltero, o
ladrão e o assassino, em algum momento, podem se arrepender e pedir perdão. O
orgulhoso, no entanto, à semelhança de Lúcifer quando deflagrou a rebelião no Céu,
3. acha-se autossuficiente, capaz de viver sem Deus. Mas o Senhor não desiste fácil de
Seus filhos (na verdade, eles é que desistem de Deus), e usou um recurso extremo para
abrir os olhos do teimoso e soberbo Nabucodonosor.
Enquanto o rei ainda contava vantagem para si mesmo, o decreto celestial foi
pronunciado: “Passou de ti o reino” (v. 31). Em lugar de mármore, o soberano
destronado tinha agora a relva debaixo dos pés; seus companheiros passaram a ser os
animais do campo, ao invés dos perfumados cortesãos e das belas esposas. Os cabelos e
as unhas cresceram. O contraste entre o altivo monarca e a ser bestial era marcante. E
isso por sete anos.
O verso 34 diz que no fim daqueles dias, o rei olhou para o céu e seu raciocínio voltou a
funcionar. O recado aqui é claro: só existe vida de verdade quando estamos ligados ao
Céu. Desligados de Deus, olhando apenas para a terra, para as coisas deste mundo, não
passamos de animais racionais (quando muito). Baladas, bebedeiras, glutonaria, sexo
sem compromisso (a lista de coisas ruins vai longe) são reflexos da loucura humana em
sua correria cega em busca de prazer. A solução está em olhar para o Céu e ver que
Deus nos propõe algo muito melhor. Algo que preenche o vazio da alma.
O livro de Daniel mostra que o Senhor guia a história das nações. As profecias dos
capítulos 2, 7, 8 mostram o interesse de Deus pelo destino da humanidade, mas o sonho
dado ao rei no capítulo 4 revela o interesse do Criador nos indivíduos. Nosso Pai
celestial não nos trata como uma massa. Ama-nos individualmente e cuida de cada
aspecto de nossa vida. Jesus mostrou isso na prática. Atendia as multidões ao mesmo
tempo em que não Se negava a pregar e satisfazer às necessidades de uma pessoa só.
Dessa vez, a lição valeu para o rei. Como sabemos disso? Simples, ele é o autor do
capítulo 4, e termina seu testemunho assim: “Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo,
exalto e glorifico ao Rei do céu, porque todas as Suas obras são verdade, e os Seus
caminhos justos, e pode humilhar aos que andam na soberba” (v. 37).
Histórias como a de Nabucodonosor e de Anthony Flew nos dizem que sempre existe
esperança. É só olhar para o alto.