1) O documento descreve a análise estratigráfica dos depósitos permianos da bacia de Paraná, dividindo-os em três sequências deposicionais de terceira ordem.
2) Cinco associações de fácies foram definidas para cada sequência com base em fácies sedimentares e padrões de empilhamento.
3) Três superfícies estratigráficas principais delimitam as sequências: duas discordâncias subaéreas e uma superfície de regressão máxima.
ARCABOUÇO ESTRATIGRÁFICO DOS DEPÓSITOS PERMIANOS DA BACIA DE PARANÁ
1. UFRGS, IG, PPG em Geociências, Análise Estratigráfica, Periodo: 2014/1
ARCABOUÇO ESTRATIGRÁFICO DOS DEPÓSITOS PERMIANOS DA BACIA DE
PARANÁ
DIEGO TIMOTEO MARTÍNEZ
Universidade de Brasília (UnB), Programa de Pós-graduação em Geologia, diego.timoteo.martinez@gmail.com
RESUMO: O presente relatório mostra a análise estratigráfica realizada nos depósitos Permianos localizados na porção
SE da Bacia de Paraná; integrando seções colunares de campo, testemunho e perfis elétricos. A sucessão estratigráfica
estudada compreende principalmente o Grupo Itararé e a Fm. Rio Bonito, e uma pequena seção da Fm. Palermo. Três
sequências deposicionais de terceira ordem foram definidas com base no reconhecimento dos padrões de empilhamento
e superfícies estratigráficas chaves.
INTRODUÇÃO
O Trabalho de campo se realizou nos depósitos Permianos da Bacia de Paraná, entre os dias 22 e 25 de Maio
do presente ano. Definiram-se objetivos específicos e se utilizaram os critérios de estratigrafia de sequências
aprendidos nas aulas; os quais são descritos a continuação:
Objetivos
• Aplicar os conceitos da estratigrafia de sequências em afloramentos.
• Integrar os dados de afloramento, testemunho e perfis elétricos; e definir o arcabouço estratigráfico
da seção estudada dentro da bacia.
Metodologia
• Reconhecimento da área de estudo: tipo de bacia, seção estratigráfica (principais sequências e
superfícies estratigráficas chaves), mapas base (geológico e de localização).
• Descrição de testemunho a escala 1/100: fácies e associações de fácies.
• Levantamento de seções colunares no campo a escala 1/100: fácies e associações de fácies.
• Integração e correlação dos dados de campo, testemunho e perfil elétrico (GR).
• Aplicação dos critérios de estratigrafia de sequencias; reconhecimento de:
Padrões de empilhamento
Superfícies estratigráficas chaves (SERM, DS, CC, SRM, SIM)
Tratos de Sistemas
Sequencias deposicionais
• Interpretação do arcabouço estratigráfico da seção estudada.
Localização
A área de estudo corresponde à porção SE da Bacia de Paraná, localizada no estado de Santa Catarina, e
compreende as zonas de trabalho de Ituporanga Vidal Ramos, Alfredo Wagner, Telhas e Rancho Queimado.
Estabeleceu-se como a “base de operações” a cidade de Rio do Sul (Figura 1).
ARCABOUÇO ESTRATIGRÁFICO
INTRODUÇÃO
Com base nos critérios de estratigrafia de sequencias, os depósitos Permianos estudados foram divididos em
três (3) sequências deposicionais de terceira ordem (Figura 2), que se desenvolvem dentro da sequência de
segunda ordem Gondwana I, definida por Milani et. al. (1994).
SEQUENCIA DEPOSICIONAL 1 (SD 1)
Encontra-se limitada na base por uma discordância subaérea (DS 0), reconhecida só na seção de correlação
de poços, que gera o contato com o embasamento Paleozoico–Pré-cambriano (Anexo); enquanto no topo esta
limitada por uma discordância subaérea (DS 1: Seções Ituporanga, Telhas e no testemunho) mais uma
concordância correlata (CC: Seções Vidal Ramos e Alfredo Wagner), esta superfície é reconhecida em
trabalhos anteriores (Milani et. al., 1994 e Holz et. al., 2000) como a discordância entre o Grupo Itararé e a
Fm. Rio Bonito (Figura 2).
2. UFRGS, IG, PPG em Geociências, Análise Estratigráfica, Periodo: 2014/1
Figura 1. (A) Mapa de localização da Bacia de Paraná onde se mostra as sequências de 2da ordem definidas por
Milani et. al. (1994). (B) Imagem de satélite da área de estudo que mostra as estações de trabalho e a seção de
correlação dos afloramentos e testemunho.
Associação de Fácies
Essa sequencia é composta por 5 associações de fácies que variam lateralmente dentro da bacia (Tabela 1).
ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES – SD 1
NOME DESCRIÇÃO
Shoreface
Superior
Pacotes ondulados de arenitos finos a médios amalgamados formando
estratificação cruzada de baixo ângulo e laminações onduladas truncadas.
Shoreface
Inferior
Heterolitos (intercalação de arenitos muito finos a finos e pelitos com
acamamento variando entre linsen, wavy e flaser). Os arenitos apresentam
laminação ondulada truncada, estratificação horizontal, de baixo ângulo e
hummocky.
Offshore Pelitos e folhelhos pretos, por vezes com laminação plano-paralela observável.
Complexo de
fluxo de massa
Depósitos pelíticos com clastos pingados e arenitos com níveis conglomeráticos
apresentando laminação incipiente a maciça, muito deformada.
Turbiditos de
baixa densidade
Intercalação cm. a dm. de arenitos finos maciços e com estratificação horizontal e
ripples unidirecionais com pelitos. Alguns arenitos apresentam gradação normal.
Tabela 1. Lista das associações de fácies que conformam a Sequência Deposicional 1 e sua descrição.
Tratos de Sistemas e superfícies limítrofes
As associações de fácies da SD 1 estão estruturadas nos seguintes Tratos de Sistemas (Figura 3):
TSNA 1: sobreposto em discordância sobre o embasamento Paleozoico–Pré-cambriano, é caracterizado por
complexos de fluxo de massa relacionados à de-glaciação (com turbiditos de alta densidade; Seção Alfredo
Wagner e no testemunho) que conforme a região varia lateralmente para depósitos de offshore (com
turbiditos de baixa densidade) gradando para shoreface inferior (Seção Vidal Ramos).
20 Km
300 Km
A
B
3. UFRGS, IG, PPG em Geociências, Análise Estratigráfica, Periodo: 2014/1
Figura 2. Correlação estratigráfica entre as seções colunares de campo e o testemunho (Datum: SIM).
4. UFRGS, IG, PPG em Geociências, Análise Estratigráfica, Periodo: 2014/1
Figura 3. Correlação estratigráfica da Sequência Deposicional 1
.
Figura 4. Correlação estratigráfica da Sequência Deposicional 2.
5. UFRGS, IG, PPG em Geociências, Análise Estratigráfica, Periodo: 2014/1
Além disso, os depósitos de shoreface que conformam a parte superior do TSNA 1, variam ciclicamente de
shoreface inferior para superior evidenciando ciclos T-R e R que correspondem a sequencias de quarta
ordem sobrepostas no TSNA de terceira ordem (Seções Ituporanga, Vidal Ramos e Telhas). Seu topo é
marcado por uma mudança abrupta dos sistemas deposicionais marinho profundo e plataformal.
SEQUENCIA DEPOSICIONAL 2 (SD 2)
Encontra-se limitada na base por uma discordância subaérea (DS 1: Seções Ituporanga, Telhas e no
testemunho) mais uma concordância correlata (CC: Seções Vidal Ramos e Alfredo Wagner), reconhecidas
pela mudança abrupta dos sistemas deposicionais para sistemas fluviais e deltaicos. Enquanto seu topo se
encontra limitado por outra discordância subaérea que se sobrepõe com uma superfície de regressão máxima
(DS 2 + SRM 2: Seções Alfredo Wagner e no testemunho); esta superfície estratigráfica não é muito
mencionada por Milani et. al. (1994) ainda quando tem grão relevância na definição da SD 2 (Figura 2).
Associação de fácies
Essa sequencia é composta por 6 associações de fácies; que se desenvolvem segundo a variação na
acomodação e/ou suprimento (Tabela 2).
ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES – SD 2
NOME DESCRIÇÃO
Laguna
Heterolitos (intercalação de arenitos finos com wave ripples e pelitos), com
acamamentos tipo linsen e carvão com marcas de raiz no topo.
Fluvial
Arenitos conglomeráticos com gradação normal e estratificação cruzada planar e
tangencial.
Delta
Pelitos de pró-delta gradando para arenitos finos a médios com ripples
unidirecionais de frente deltaica e camadas pelíticas com marcas de raiz, de
planície deltaica,no topo.
Shoreface
Superior
Camadas amalgamadas de arenitos finos a médios com laminação ondulada
truncada, ripples unidirecionais, estratificação horizontal e cruzada de baixo
ângulo e swaley.
Shoreface
Inferior
Heterolitos: intercalação de arenitos finos com wave ripples e estratificação tipo
hummocky, e pelitos com acamamentos tipo linsen, wavy e flaser.
Offshore
Pelitos a folhelhos cinza escuros a pretos físseis com icnofósseis e laminação
plano-paralela a estrutura maciça. Lentes de areia com laminações onduladas
truncadas de baixo ângulo intercaladas com os folhelhos por base abrupta.
Tabela 2. Lista das associações de fácies que conformam a Sequência Deposicional 2 e sua descrição.
Tratos de Sistemas e superfícies limítrofes
As associações de fácies da SD 2 estão estruturadas nos seguintes Tratos de Sistemas (Figura 4):
TSNB 2: limitado na base por uma discordância regional (DS 1+CC), se sobrepõe aos sistemas marinho e
plataformal da SD 1. Esse Trato esta caracterizado por sistemas fluviais e deltaicos que variam lateralmente
conforme a região, e progradam dominados pelo suprimento sedimentar até atingir a máxima regressão para
o topo de ambos os depósitos.
TST 2: limitado na base pela superfície de regressão máxima (SRM 1: Seções Vidal Ramos, Alfredo
Wagner, Telhas e no testemunho), esta caracterizado pela mudança abrupta para sistemas plataformal e de
offshore que marca um rápido afogamento e retrocesso da linha de costa que atinge a máxima transgressão
para o continente nos depósitos de offshore (Seções Vidal Ramos, Alfredo Wagner (interpretado) e no
testemunho). Além disso, os depósitos de shoreface que se sobrepõem a “SRM 1” variam de shoreface
inferior para superior e foreshore, evidenciando ciclos T-R e R que correspondem a sequencias de quarta
ordem sobrepostas no “TST 2”de terceira ordem (Seções Alfredo Wagner, Telhas e no testemunho).
6. UFRGS, IG, PPG em Geociências, Análise Estratigráfica, Periodo: 2014/1
TSNA 2: limitado na base pela superfície de inundação máxima (SIM: Seções Vidal Ramos, Alfredo
Wagner (interpretado) e no testemunho), se caracteriza por depósitos de offshore gradando para depósitos de
shoreface inferior e superior; evidenciando uma ganância de areia para seu topo produto da progradação
dominada pelo suprimento sedimentar durante uma lenta subida do nível relativo do mar (NRM), até atingir
a máxima regressão no topo dos depósitos de shoreface. É necessário mencionar que os depósitos de
shoreface que conformam a parte superior do TSNA 2 variam ciclicamente de shoreface inferior para
superior evidenciando ciclos R que correspondem a sequencias de quarta ordem sobrepostas no TSNA 2 de
terceira ordem (Seções Alfredo Wagner, Rancho Queimado e no testemunho). Além disso, dentro do sistema
plataformal se reconheceram canais fluviais de 5 a 6 m. de espessura com base erosiva (Seção Vidal Ramos e
no testemunho), que evidenciam um TSNB de quarta ordem produto do rebaixamento do NRM que se
desenvolve durante a subida do NRM de terceira ordem.
SEQUENCIA DEPOSICIONAL 3 (SD 3)
Encontra-se limitada na base por uma discordância subaérea que se sobrepõe com uma superfície de
regressão máxima em quase todas a seções de campo (DS 2 + SRM 2: Seções Alfredo Wagner e no
testemunho) menos em Rancho Queimado, onde se tem depósitos fluviais preservados pertencentes ao
TSNB 3 (Figura 2). Enquanto seu topo não foi reconhecido nas seções colunares de campo, mas pode ser
reconhecido na seção de correlação dos poços (Anexo).
Associação de fácies
Essa sequencia é composta por 5 associações de fácies que variam regionalmente dentro da bacia (Tabela 3).
ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES – SD 3
NOME DESCRIÇÃO
Fluvial
Arenitos conglomeráticos, mal selecionados com estratificação cruzada de baixo
ângulo incipiente. Observou-se que lateralmente muda de fácies a pelitos.
Fluviais
influenciados por
maré
Arenito médio com estratificação cruzada tangencial com lama nos foresets, mais
comuns para o topo. A base da sucessão é erosiva e de granulometria grossa.
Marcas onduladas de pequeno porte para o topo da sucessão com direção oposta
a estratificação abaixo.
Dunas compostas
de maré
Arenito grosso com estratificação cruzada de grande porte e ripples reversas
subindo o a face frontal.
Shoreface
Inferior
Heterolitos (intercalação de arenitos finos e pelitos formando acamamentos que
variam de linsen a wavy). Intercalações de arenitos finos com estratificação
hummocky e wave ripples em direção ao topo.
Offshore Folhelhos pretos com laminação plano-paralela.
Tabela 3. Lista das associações de fácies que conformam a Sequência Deposicional 3 e sua descrição.
Tratos de Sistemas e superfícies limítrofes
As associações de fácies da SD 3 estão estruturadas nos seguintes Tratos de Sistemas (Figura 5):
TSNB 3: limitado na base por uma discordância regional (DS 2+SRM 2), se sobrepõe ao sistema plataformal
do topo da SD 2. Esse Trato esta caracterizado por sistemas fluviais que possuem desenvolvimento
localizado de pouca espessura (2 a 4 m. no Rancho Queimado) e/ou pouca preservação, possivelmente
retrabalhados por superfícies de ravinamento transgressivas durante o TST 3.
TST 3: limitado na base pela superfície de regressão máxima (SRM 2: Alfredo Wagner, Rancho Queimado e
no testemunho), esta caracterizado pela mudança abrupta dos sistemas deposicionais para sistemas estuarino
e plataformal; gradando de canais fluviais influenciados por maré e dunas compostas de maré para depósitos
de shoreface inferior e marinho profundo (Fm. Palermo reconhecida na seção Alfredo Wagner). A variação
das associações de fácies da base para o topo manifesta um empilhamento retrogradante.
7. UFRGS, IG, PPG em Geociências, Análise Estratigráfica, Periodo: 2014/1
Figura 5. Correlação estratigráfica da Sequência Deposicional 3.
Figura 6. Curva de variação do NRM durante a deposição das Sequências Deposicionais 1, 2 e 3.
8. UFRGS, IG, PPG em Geociências, Análise Estratigráfica, Periodo: 2014/1
EVOLUÇÃO ESTRATIGRÁFICA
A sucessão estratigráfica estudada possui um arcabouço estratigráfico composto por três (3) sequências
deposicionais de terceira ordem definidas por discordâncias subaéreas e suas concordâncias correlatas
(Figura 2 e 6).
A SD 1 se sobrepõe discordante ao embasamento Paleozoico–Pré-cambriano (DS 0); esta conformada por
sistemas marinho profundo e plataformal que variam regionalmente e possuem influencia do clima frio. Suas
associações de fácies manifestam padrões de empilhamento progradacionais que relacionado aos processos
de de-glaciação na bacia refletem condições da subida do NRM.
As condições de Nível de mar Alto (TSNA 1) terminam pela mudança abrupta dos sistemas deposicionais
para sistemas fluvial e deltaico (DS 1+CC); que refletem o rebaixamento do NRM, consequente exposição,
erosão da plataforma e preenchimento dos vales incisos (TSNB 2). Os sistemas fluvial e deltaico puderam-se
desenvolver lateralmente ao longo da paleolinha de costa da bacia ou em todo caso conformar um mesmo
sistema; em ambos os casos a progradação foi dominada pelo suprimento sedimentar.
O preenchimento sedimentar em direção da bacia atinge a máxima regressão (SRM 1) até que uma nova
subida do NRM afoga os sistemas costeiros mudando abruptamente para sistemas plataformal e de offshore
do TST 2, que manifestam padrões de empilhamento retrogradacionais. O retrocesso da linha de costa atinge
a máxima transgressão para o continente nos depósitos de offshore (SIM), até que a mudança nos padrões de
empilhamento marca a passagem do TST 2 para o TSNA 2 na SD 2. Logo no TSNA 2 decresce a taxa de
criação de acomodação produto da lenta subida do NRM e o suprimento sedimentar passa a dominar gerando
a progradação do sistema plataformal sobre os depósitos de offshore.
A máxima regressão é reconhecida pela mudança abrupta dos sistemas deposicionais para sistemas fluvial,
estuarino e plataformal (DS 2+SRM 2); que reflete um novo rebaixamento do NRM expondo a plataforma,
erodindo e acarretando na deposição dos sistemas fluviais da SD 3. Esses depósitos fluvias possuem
desenvolvimento localizado de pouca espessura (2 a 4 m. no Rancho Queimado) e/ou pouca preservação,
possivelmente retrabalhados por superfícies de ravinamento transgressivas. Os depósitos fluvias são
afogados pelos depósitos estuarinos e plataformais que gradam abruptamente para o topo a depósitos de
offshore evidenciando patrões de empilhamento retrogradacionais desenvolvidos durante uma subida rápida
do NRM (TST 3).
ANEXO
*Seção de correlação de poços
REFERENCIAS
Holz et. al., 2000. The early Permian coal-bearing succession of the Paraná Basin in southernmost Brazil: depositional
model and sequence stratigraphy. Revista Brasileira de Geociências. Vol. 30(3), pp. 424-426, Setembro de 2000.
Milani et. al., 1994. Bacia de Paraná. Boletim de Geociências de Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, pp. 265-287,
maio/nov. 2007.
Catuneanu et. al., 2013. High-resolution sequence stratigraphy of clastic shelves II: Controls on sequence development.
Marine and Petroleum Geology. Vol. 39, pp. 26-38.