Blogs são páginas na Internet atualizadas regularmente onde autores publicam textos, fotos e vídeos sobre assuntos do seu interesse. Estes diários digitais permitem que leitores comentem as postagens e interajam com o autor. Surgiram em meados dos anos 1990 e se popularizaram a partir dos anos 2000, tornando-se uma importante ferramenta de comunicação e expressão pessoal na web.
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE
ALINE BARCELOS PETERLI
HAMANDA MARQUES DE ANTÔNIO
RAYANA RONCETTI RIBEIRO
TÚLIO GAVA MONTEIRO
O BLOG COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DA
GEOGRAFIA
VITÓRIA
2010
2. ALINE BARCELOS PETERLI
HAMANDA MARQUES DE ANTÔNIO
RAYANA RONCETTI RIBEIRO
TÚLIO GAVA MONTEIRO
O BLOG COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DA
GEOGRAFIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Departamento de Educação, Política e
Sociedade do Centro de Educação da
Universidade Federal do espírito Santo, como
requisito parcial para obtenção do título de
Licenciatura em Geografia.
Orientador: Professora Doutora Marisa
Terezinha Rosa Valladares
VITÓRIA
2010
3. ALINE BARCELOS PETERLI
HAMANDA MARQUES DE ANTÔNIO
RAYANA RONCETTI RIBEIRO
TÚLIO GAVA MONTEIRO
O BLOG COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DA GEOGRAFIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Educação,
Política e Sociedade do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito
Santo, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Geografia.
Aprovado em 24 de junho de 2010.
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________________
Profª. Drª. Marisa Terezinha Rosa Valladares – Orientadora
Universidade Federal do Espírito Santo
______________________________________________
Manuela de Souza Aguiar
Supervisora Pedagógica da Escola Luterana
______________________________________________
Profº. Me. Carlos Alberto Nascimento
Universidade Federal do Espírito Santo
4. A todos os professores que “trabalham” suas
aulas, e que se dedicam em inovar para
melhorar o ensino de Geografia.
5. AGRADECIMENTOS
A Deus, por nos ter dado força durante o semestre.
À nossa orientadora, pela amizade e paciência durante o trabalho.
Ao Fernando, que nos incentivou desde o começo.
À Escola Luterana, em especial pela Manuela, que nos recebeu de braços abertos.
Aos alunos da 9ª série do Ensino Fundamental de 2010, que foram receptivos na
implantação de um novo recurso didático.
A todos os nossos parentes e amigos que nos motivaram.
A Andressa, Luís, Marcela e Bárbara, por nos socorrerem nos momentos difíceis.
6. “Alguns homens vêem as coisas como são, e
dizem 'Por quê?'. Eu sonho com as coisas que
nunca foram e digo 'Por que não?'.”
George Bernard Shaw
7. LISTA DE ILUSTRAÇÃO
Figura 1 – Página Inicial do Blog LEAGEO UFES – Página Principal.......................14
Figura 2 – Esquema de Blog Educacional – Rodrigues, 2008...................................31
Figura 3 – Vazamento de Petróleo no Golfo do México – Reportagem do Jornal
ATribuna.....................................................................................................................37
Figura 4 – Comentários de um post do Blog Geo AHRT...........................................44
Figura 5 – Lugar de Lixo é na Lixeira – Página do Blog Geo AHRT.........................46
Figura 6 – Reciclagem – Página do Blog Geo AHRT................................................46
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Alunos que têm acesso à Internet...........................................................43
Gráfico 2 – Acesso a Blog..........................................................................................45
LISTA DE TABELA
Tabela 1 – Aumento do número de blogs com caráter pedagógico...........................15
LISTA DE ABREVIAÇÃO
HTML – HyperText Markup Language
TEI – Tecnologias Educacionis Informatizadas
8. RESUMO
A relação estabelecida entre novas tecnologias, seu uso nas sociedades e sua
inserção na escola, nem sempre propicia à escola uma posição confortável: nas
redes públicas, a tecnologia avançada demora a ser instalada. Uma dessas
tecnologias defasada na escola é a Internet, que revoluciona a forma da
aprendizagem, tanto quanto pela metodologia de ensino, quanto pelo tipo de
provocação de raciocínios, de atitudes ou de possibilidades de pesquisa que
propicia, dentre a profusão de ferramentas disponibilizadas (e pouco usadas) para o
trabalho docente em sala de aula. Nesta pesquisa, utilizamo-nos da metodologia de
pesquisa-ação para investigar a utilização do blog como recurso didático mais
contextualizado e significativo em Geografia. O objetivo é analisar como o blog pode
contribuir com o processo de ensino-aprendizagem, desenvolvendo e estimulando
raciocínios e procedimentos geográficos. Para tanto, criou-se um blog direcionado
aos alunos da 8ª série/9º ano do ensino fundamental da Escola Luterana de Vila
Velha. Nele foram postados vídeos, fotos e textos que, a partir da análise de dois
questionários aplicados com os alunos e a entrevista com o professor, incentivaram
os alunos a pensarem, criticarem e discutirem na sala de aula, da mesma forma que
dinamizou o processo de ensino-aprendizagem, também ocorreu a criação de uma
webquest, proposta na pesquisa (2008) de Rosely Sampaio Archela e Maria Del
Carmen M. H. Calvente. Os resultados da pesquisa também mostraram que o blog
aumenta a quantidade de alunos que pesquisam assuntos geográficos na Internet.
Além delas, Cláudia Rodrigues, em sua dissertação de mestrado (2008), conseguiu
provar a eficiência do blog como instrumento didático nas aulas de língua
portuguesa. E, com esta pesquisa, constatamos a praticidade deste recurso didático
no estudo da Geografia escolar. Contudo, uma pesquisa prolongada pode trazer
resultados mais satisfatórios.
Palavras-chave: 1. Ensino-aprendizagem. 2. Geografia e novas tecnologias. 3.
Aprendizagens geográficas. 4. Blog
9. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 9
CAPÍTULO 1 – Blogs, blogosfera: uma questão de espaço... ........................................................ 11
1.1 Blog ....................................................................................................................................... 11
1.2 Blogsfera ................................................................................................................................... 16
CAPÍTULO 2 – Para além do quadro-negro ...................................................................................... 17
2.1 As novas tecnologias de comunicação e informação ........................................................ 17
2.2 As contribuições das tecnologias de informação e comunicação para o processo de
ensino aprendizagem da Geografia ............................................................................................ 19
CAPÍTULO 3 – Blogando com Geografia .......................................................................................... 24
3.1 “Geoespaço” ........................................................................................................................ 24
3.2 “Cantinho Geográfico”........................................................................................................ 29
CAPÍTULO 4 – Blogar é o máximo! .................................................................................................... 34
CAPÍTULO 5 – “Blogar ou não blogar. Eis a questão.” ............................................................... 39
5.1 “Erros na página” ................................................................................................................ 39
5.2 Editando postagem... .............................................................................................................. 42
CAPÍTULO 6 – “Sua postagem foi publicada” .............................................................................. 48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................................... 50
GLOSSÁRIO ......................................................................................................................................... 52
ANEXOS ............................................................................................................................................... 53
10. 9
INTRODUÇÃO1
O presente trabalho é resultado de pesquisas e reflexões sobre o blog com o
objetivo de estudar a viabilidade de seu uso no processo de ensino-aprendizagem
de Geografia.
A escolha deste tema se deu por queremos encontrar uma forma nova de ensinar e
aprender Geografia, e como a Internet está cada vez mais presente na vida das
pessoas, pareceu-nos pertinente utilizar um de seus recursos.
Como o uso do blog na Geografia escolar tem caráter inovador, baseamo-nos em
autores como Rodrigues (2008), Amorim (2008) e Assmann (2005), que contribuíram
para entendermos o uso das novas tecnologias – do blog principalmente – no meio
educacional e as contribuições destas para o ensino. Esses pontos chaves foram
essenciais para podermos entender como o blog pode contribuir para o ensino-
aprendizagem de Geografia. E foi a partir disso que surgiu o nosso objetivo central:
como potencializar o ensino de Geografia Escolar valendo-se dos blogs da
rede Internet, estimulando o estudo autônomo e interdisciplinar?
A partir dessa problemática buscamos retratar no primeiro capítulo a ferramenta
blog; no segundo capítulo, as novas tecnologias de informação e comunicação e
suas utilidades para a Geografia escolar; no terceiro capítulo, a metodologia do
nosso trabalho; no quarto capítulo, o ensino da Geografia e como este pode ser
potencializado pelo blog; e, por último, os resultados, onde também abordamos os
problemas que tivemos com a utilização do blog. A pesquisa durou cerca de dois
meses e meio, em que um mês deste tempo foi utilizado para o campo. Aplicamos o
blog “Geo AHRT” na turma da 9ª série do Ensino Fundamental da Escola Luterana,
com o auxílio do professor Fernando Sartório.
Utilizamo-nos da metodologia de pesquisa-ação, por acreditar que os pesquisadores
e participantes da pesquisa investigam conjuntamente os dados, e levantam
questões que ajudam a resolver um problema vivido pelos participantes. Mais
especificamente, durante a pesquisa buscamos:
1
Correção ortográfica e normatização feita pela Profª Maria Augusta H. Denzin. Formada em Pedagogia e
Letras Português/Inglês pela UFES.
11. 10
a) Avaliar o funcionamento do blog como recurso didático no ensino da
geografia;
b) Estimular o uso do blog como estratégia para estudo interdisciplinar e
autônomo;
c) Problematizar aprendizagens de Geografia com a interatividade do
blog; e
d) Investigar alternativas de potencialização de aprendizagens pelos
blogs.
Com esses objetivos em mente, usamos o blog para retratar assuntos do cotidiano e
sua relação com a Geografia, colocando conceitos e incentivando discussões.
Abordamos os conteúdos trabalhados em sala, também auxiliando o professor na
revisão de provas.
Trabalhamos com o blog, então, partindo do pressuposto que o mesmo poderia
dinamizar o conteúdo de Geografia e se tornar um espaço em que o professor e os
alunos pudessem comentar livremente. Assim, o blog intensificaria o ensino da
Geografia crítica, não o ensino calcado na memorização que as escolas de hoje
ainda persistem em transmitir.
12. 11
CAPÍTULO 1 – Blogs, blogosfera: uma questão de espaço...
1.1 Blog
O termo blog é a abreviação da palavra weblog, que é resultado da união das
palavras inglesas web, que significa rede, e log, que significa diário de bordo onde
os navegadores registravam os casos das viagens (AMORIM, 2008).
O primeiro weblog surgiu no mês de abril de 1994, sendo uma página eletrônica
criada pelo americano Dave Winer. Todavia, o termo só foi concebido em 1997,
após a criação do blog Robotwisdom, por Jorn Barger. Em 1999, o webdesigner
Peter Merholz converteu a palavra weblog para blog. Nesse mesmo ano, Evan
William criou o site Blogger, um dos diversos sites que serve para autoria de blogs.
O site se tornou famoso, o que o levou a ser comprado pelo Google, em 2003, se
transformando, então, em um campeão de postagens na Internet (AMORIM, 2008).
A popularização do blog se iniciou no ano de 2001, após o ataque às Torres
Gêmeas. Este fato acarretou a ascendência de blogs como uma ferramenta para o
jornalismo, porque facilitava a interação leitor/autor e, principalmente, possibilitava
aos jornalistas escreverem suas opiniões, que eram impedidas de estar nos jornais.
Em 2002, o blog se popularizou em outras áreas. A popularização do blog no Brasil
foi e é tão grande, que, mesmo com as dificuldades que a população encontra para
acessar a Internet, o Brasil, de acordo com o site MundoTecno, encontra-se em 5ª
posição entre as nações com o maior número de leitores de blogs, e em 3ª entre as
que possuem mais blogueiros.
De acordo com o site de pesquisa Technorati, em 2007, o número de blogs criados
mundialmente era de setenta milhões, sendo que cento e vinte mil blogs eram
criados a cada dia. O mesmo site mostra, também, que em 2008, no Brasil, existiam
três milhões de blogs, sendo que os primeiros a surgirem foram o “BliG do US” e o
“O Último Segundo”.
Blog é uma página de Internet que é atualizada regularmente e, como explicitamos
anteriormente, funciona como um diário onde se registra assuntos de qualquer tipo,
desde política até ao cotidiano do autor. Rodrigues (2008) afirma que, no glossário
tecnológico do portal Digitro, o blog é entendido como “um serviço diário oferecido
13. 12
pela Internet para o público em geral”, onde o internauta cria uma página com textos,
fotos e vídeos, o que a diferencia de fotologs e videologs. Essas são páginas
pessoais, iguais a um blog, só se diferenciando dele na forma que o autor se
expressa. O fotolog consiste numa página onde as postagens são fotos e o videolog
dá destaque a vídeos.
Além disso, as mensagens, também chamadas de posts, são organizadas na ordem
cronológica inversa, e podem ser comentadas pelos leitores. A construção de um
blog tem como uma grande vantagem não precisar de programa para a sua criação,
assim como não é necessário que o autor do blog tenha conhecimento de códigos,
porque existem sites capacitados para hospedá-lo e publicá-lo.
Esses diários digitais consistem em uma página onde o autor coloca informações
pessoais e escreve a respeito de seus interesses. Ele também oferece recursos
como arquivamento, indicações, comentários, recuperação de texto perdido, entre
outros. Essas funções fazem com que o autor se equipe de fotos e vídeos para
enriquecer as suas postagens. Por meio da comunicação via post-comentário, o
autor entra em contato direto com o leitor num espaço onde o autor que faz uma
crítica a algo pode ser criticado, da mesma forma que ele pode criticar os leitores.
Pode-se entender, portanto, os blogs como “[...] páginas pessoais que têm
mecanismos de interação e permitem manter conversas entre grupos.”
(RODRIGUES, 2008)
Os blogs, então, apresentam características que servem de suporte para o
internauta criar uma página com características únicas, e são delas que falaremos
adiante.
O “blog é um recurso informal” (RODRIGUES, 2008) presente na Internet que serve
como um espaço para se expressar criatividade e opinião de uma ou mais pessoas.
Para se criar essa página, os sites que hospedam blogs disponibilizam ferramentas,
chamadas de gadgets, e cada uma tem uma finalidade.
Dentro da infinidade de temas que podem ser abordados, o autor se beneficia
destes gadgets para organizar e ilustrar seu blog. Há diversos gadgets, dentre os
quais existe um, de vídeo, que é um recurso de postagem de vídeos presentes no
computador do autor, e um de slideshow, onde o autor põe fotos e imagens que
14. 13
desejar. Encontra-se, também, um gadget de armazenagem de links de outros sites
e blogs relacionados aos interesses do autor, e ainda outro, no qual se encontram os
títulos dos posts, para assim facilitar o acesso dos posts antigos. Como os posts
podem ser organizados em categorias, há, portanto, outro gadget com o objetivo de
armazenar essas categorias, para que assim os leitores tenham acesso imediato
aos assuntos que lhe interessam.
Além desses recursos interativos, o autor pode formatar a estrutura do blog, desde o
título até a base do blog, também chamada de template. O template é o esqueleto
do blog e consiste na posição dos posts e dos gadgets e o tamanho e cor das letras.
Os próprios sites de hospedagem de blogs oferecem aos internautas uma grande
quantidade de templates, mas com um pouco de conhecimento de HTML pode-se
criar uma forma ainda mais pessoal. Por causa dessas características o internauta
tem liberdade de criação, além da liberdade de expressão.
A estrutura de texto do blog é hipertextual, porque os leitores podem acessar
páginas, sites, fotos, vídeos e downloads por meio de links encontrados nos posts.
Os posts são geralmente pequenos e devido ao acesso público e gratuito do blog, é
por meio deles que o autor se comunica com todo o mundo. Contudo, o autor tem a
possibilidade de controlar os comentários, para evitar discursos indevidos. Ainda
assim, o blog é uma forma de suprimir a privatização de informação e o controle de
opinião.
Tomaremos como exemplo, o blog Laboratório de ensino e Aprendizagem de
Geografia, da Universidade federal do Espírito Santo (LEAGEO - UFES) ao qual
nosso trabalho estará intensamente relacionado, para demonstrar como é e como
pode ser acessado um blog. Pode ser observado, na imagem deste blog (Figura 1),
no topo, o título, e logo abaixo o subtítulo. No canto esquerdo estão os comentários,
enquanto que no canto direito se tem o gadget com as informações sobre o autor ou
do que o blog representa. No caso, como dissemos, a organização desses
elementos depende do template.
15. 14
Figura 1 – Página Inicial do Blog LEAGEO UFES – Página Principal – http://leageo-
ufes.blogspot.com
A organização do conteúdo do blog é feita de diversas formas. Pode-se criar
categorias que armazenam os posts de acordo com o tipo de conteúdo. Pode-se
criar um gadget que registra os posts em ordem cronológica inversa. Os comentários
também podem ser organizados por meio de um gadget que apresenta o título dos
últimos comentários. Além dessas formas de organização do blog, pode-se criar
páginas, sendo que estas páginas se encontram entre o título e os posts e elas
representam um conteúdo específico, exceto a página principal. A primeira página é
a principal, onde se encontram os posts e comentários. Ela é criada
instantaneamente com a ativação do blog. Portanto, se houver necessidade de
criação de outras páginas, dependerá somente do autor. As outras páginas podem
conter só vídeos, imagens, comentários interessantes ou podem ser de ajuda, de
contato, entre outras possibilidades. Geralmente os blogs têm uma página de
contato, para que os leitores possam se comunicar com o autor sem precisar
comentar algum post.
O blog, com essas ferramentas interativas, é usado de diversas formas, umas mais,
outras menos. Ele é utilizado como um recurso de uso pessoal, onde o autor tem a
“[...] oportunidade de se expressar, divulgar projetos, manter contato com a família e
amigos, etc.” (RODRIGUES, 2008). O mercado corporativo também utiliza esse
16. 15
recurso, mas como uma ferramenta de relacionamento, e a tendência é que seja
ainda mais utilizada. Além dessas formas, o blog é utilizado cada vez mais pela
educação, como afirma Amorim:
Atualmente um grande número de educadores vem inserindo blogs
como apoio às aulas presenciais. Os blogs pedagógicos podem ser
usados como: a) espaço de reflexão e discussão ente educadores; b)
páginas pessoais de professores, alunos, classes ou escolas; c)
páginas temáticas sobre os assuntos específicos estudados ou
pesquisados; d) diários de registro de pesquisa; e) diários de
aprendizagem; f) portfólio digital. (2008, p.25)
Ainda essa autora mostrou o crescimento de links sobre blogs com caráter
pedagógico (AMORIM, 2008). Esse resultado, na metodologia usada pela autora, foi
obtido a partir do uso do portal Google como fonte de pesquisa, no dia 07 de abril de
2007 e no dia 28 de maio de 2008, ao colocar as frases: “blog como ferramenta
pedagógica”, “blog pedagógico”, “blog na escola”, “pedagogical blogging” e
“pedagogical blog”. Apesar de ser um resultado de dois anos atrás (Tabela 1),
continua significativa como referência para nossa análise2.
7 ABRIL 28 MAIO CRESCIMENTO
2007 2008
“blog como ferramenta 94 1.160 1.234%
pedagógica”
“blog pedagógico” 581 2.250 387%
“blog na escola” 613 15.800 2.577%
“pedagogical blogging” 36 96 266%
“pedagogical blog” 8 123 1.537%
Tabela 1 – Aumento do número de blogs com caráter pedagógico – Rodrigues, Cláudia. 2008,
p. 25
Não são somente os blogs com caráter pedagógico que crescem, mas os blogs em
geral. E toda essa comunidade de blogs é chamada de blogosphere ou, em
português, blogsfera.
2
Não demos continuidade à pesquisa por dúvida quanto à metodologia empregada na criação de categorias.
17. 16
1.2 Blogsfera
A blogosfera é o nome dado a rede social formada por blogs interconectados, onde
os blogueiros lêem os blogs uns dos outros, conversam sobre eles na sua própria
escrita e comentam tudo o que querem nos blogs uns dos outros. Esses fatores
resultaram na criação de uma cultura própria dos blogs, envolvendo termos como
Blogtopia, Bloguespaço, Bloguiverso e outros. Enquanto que o blog, essencialmente,
é um amontoado de textos criados por um autor, a blogosfera é um fenômeno social,
com participação de muitas pessoas.
O fenômeno social, contudo, só se tornou possível quando houve a democratização
da publicação e ela só foi possível quando hackers criaram programas de
comentários aplicáveis aos sistemas de publicação dos blogs, fazendo com que
leitores se tornassem escritores.
A blogosfera foi a responsável pelo surgimento de diversos sites e serviços da
Internet com o objetivo de fornecer ferramentas para a criação e manutenção de
blogs. Como já dissemos antes, surgiram sites como Technorati, Blogdex, bloglines,
blogrunner, etc.
Quanto ao crescimento da blogosfera, Rodrigues (2008) afirma:
Com o tempo, a blogosfera cresceu espantosamente. Em 1999, o número
de blogs era menos de cinqüenta; no final de 2000, a estimativa era de
poucos milhares; menos de três anos depois, os números chegaram a 2,5 a
4 milhões30. Segundo o estudo State of Blogosphere 31, atualmente
existem cerca de 70 milhões de blogs e cerca de 120 mil são criados
diariamente. O mesmo estudo revela que a blogosfera aumentou 100 vezes
nos últimos três anos e tende a dobrar a cada seis meses. (p. 52)
Esse crescimento se dá em todas as áreas, desde blogs que falam do cotidiano do
autor a blogs direcionados à educação. E para a educação em Geografia não é
diferente.
18. 17
CAPÍTULO 2 – Para além do quadro-negro
2.1 As novas tecnologias de comunicação e informação
Atualmente vivemos numa sociedade em transformação, em que os principais
agentes são as tecnologias de informação e comunicação, destacando o
computador e a Internet. Elas provocam mudanças na vida do ser humano de uma
forma mais rápida (FORBECK, sem data). As mudanças provocadas pela evolução
das tecnologias criam uma “sociedade de informação”, que, como afirma Assmann:
é “[...] a sociedade que está atualmente a constituir-se, na qual são amplamente
utilizadas tecnologias de armazenamento e transmissão de dados e informação de
baixo custo.” (ASSMANN, 2005, p.43).
Vale ressaltar que o termo tecnologia é definido por Moreira como "o conjunto dos
princípios que orientam a criação das técnicas de uma civilização" (1998 p.34).
Etimologicamente, significa “modo de fazer”, mas que na nossa sociedade está mais
ligada ao desenvolvimento econômico, submetido às diferentes ideologias com as
quais a sociedade está impregnada, com a permanente sensação de que a
praticidade e o conforto que nos oferecem não são feitos por nós, por nossos modos
de produzir, trabalhar e viver, mas sim, como se a tecnologia nos oferecesse uma
entidade sobrenatural, transvertida no “outro”.
Ressalta-se que as novas tecnologias estão atreladas aos processos de
globalização, em suas diferentes fases, influenciando os modos de viver em escala
global e local. Existem divergências em relação ao início dos processos de
globalização, mas vamos situar o período que nos interessa, pela aceleração da
produção e da universalização do uso das novas tecnologias de informação e
comunicação. Na segunda metade do século XX, a partir do ano 1970, passamos a
vivenciar o que foi intitulado por Santos (1996) de “período técnico–cientifico–
informacional”, quando a constituição do espaço passa a ter como base para o seu
crescimento doses significativas e expansionistas de ciência, técnicas e informação.
Estas estão no mesmo patamar, no que concerne aos trâmites do espaço, e assim
passam a dar forma aos processos essenciais do sistema vigente.
19. 18
Com as inovações científicas universalizadas no processo produtivo, passamos a
conviver com rápidas mudanças na área de telecomunicação, com a transmissão
cada vez melhor de rádio e televisão, com o acesso generalizado à Internet e a
telefonia fixa e móvel, destacando-se esta pela intensa evolução, assim como com a
internacionalização das indústrias que fabricam satélites artificiais.
Em 1840 surgiu o rádio, que se popularizou rapidamente, porque os ouvintes não
precisavam ser alfabetizados. Esse meio de comunicação, além de atualmente ser o
mais popular, também se ressignificou a partir de sua integração com a Internet na
forma de WebRádio. Desta forma, o rádio propicia comodidade do ouvinte por não
precisar sintonizar no momento em que o programa vai ao ar (SUANNO, 2003).
Diferente do rádio, a televisão apresenta uma visualização maior dos fatos, por
transmitir imagens e sons. Portanto, as transformações na sociedade e na cultura
proporcionadas por essa tecnologia atingiram um patamar ainda maior que o rádio.
A televisão se caracteriza por ser um meio de controle de massas, e para fugir disso,
as pessoas que apresentam uma maior condição de vida pagam por acesso a
televisão por assinatura, a cabo ou via satélite, o que lhes possibilita sintonizar uma
abrangência maior de canais (SUANNO, 2003).
Continuando a respeito das inovações tecnológicas, vale ressaltar a invenção do
vídeo-cassete e, mais tarde, do aparelho de DVD, que proporcionaram maior
liberdade na visualização dos conteúdos, a partir da gravação e da locação. Assim,
“[...] trouxe para muitos lares uma nova opção de entretenimento [...]” (SUANNO,
2003).
Apesar de essas tecnologias terem proporcionado mudanças significativas na vida
pessoal e no trabalho, o computador e a Internet foram as inovações tecnológicas
que mais acentuaram essas transformações.
O computador, que surgiu em 1980, difundiu-se rapidamente pelo mundo. Nas
décadas seguintes ele evoluiu ganhando agilidade e versatilidade, e com a Internet
integrada, passou a disponibilizar uma gama de informações e um novo espaço de
comunicação (SUANNO, 2003).
Uma peculiaridade da Internet, segundo Suanno (2003, apud PALÁCIOS, 2003) é o
fato de que ela atinge um número grande de pessoas, e associado a isso,
20. 19
proporciona interatividade, porém, de maneira diferente do jornal impresso e da
televisão que, apesar de serem massivos, não são interativos.
A interação proporcionada pela Internet se dá pela estruturação em hipertexto das
páginas da Internet, que se constroem a partir da conexão de um texto por meio de
outro.
O que se percebe, portanto, é que:
Não há dúvidas de que a informática e, sobretudo, a Internet têm provocado
inúmeras mudanças em nossa sociedade. Já não precisamos mais esperar
tempos para uma carta chegar ao destinatário, sair de casa para ir ao
banco, ler enciclopédias na estante, fazer supermercado, ir à escola.
Podemos conversar com desconhecidos sem que eles nos vejam e sem que
saibamos quem são; programar as músicas que a rádio vai tocar; enviar
para o destinatário cartões que cantam e dançam; criar histórias animadas
sem saber desenhar; entre outras coisas que soariam estranhas há pouco
tempo. (RODRIGUES, 2008, apud COSCARELLI, 2002:65, p. 23)
As tecnologias de informação e comunicação, portanto, estão cada vez mais
presentes na vida das pessoas, e no meio educacional não é diferente. Essas
tecnologias são e oferecem recursos que podem dinamizar as aulas de Geografia,
por isso é pertinente entender o que elas oferecem para a Geografia escolar.
2.2 As contribuições das tecnologias de informação e comunicação para o processo
de ensino aprendizagem da Geografia
Todas as questões referentes aos usos das tecnologias, desde a sua criação, o seu
papel no cotidiano das pessoas, os espaços e interações que elas criam, são
questões importantes e urgentes para a humanidade. A disponibilidade deste viver
em rede, pelos desdobramentos múltiplos e profundos que possui, requer que nos
aprimoremos neste conhecimento para podermos participar de forma consciente,
crítica e eficiente da construção das relações que emergem nestes espaços.
As tecnologias, em especial as de informação e comunicação, têm se desenvolvido
e propagado pelo mundo, criando novos e melhores métodos de lidar com a vida. Os
rumos que esse desenvolvimento tecnológico vem tomando de forma geral e,
21. 20
também na educação, não podem ficar de fora das mãos dos educadores, da sua
reflexão crítica, e da sua possibilidade de intervenção. Para isso torna-se vital a
investigação, a ampliação e a troca de conhecimentos nesta área por parte dos
educadores e das instituições educacionais. Sobretudo, investigações que se
relacionem com a inserção das novas tecnologias na educação, as quais Gutierrez
intitula de TEI (Tecnologias Educacionais Informatizadas). Para esse autor,
[...] as tecnologias educacionais informatizadas (TEI) podem ser as tecnologias da
educação, no sentido em que são frutos de um projeto de sociedade e de educação
dirigido pela e para a participação coerente e crítica de todos. (GUTIERREZ, 2008,
P.2)
Essas novas tecnologias permitem uma profunda mudança no processo de ensino
aprendizagem. Mas, em muitas escolas ou sistemas de ensino ainda se mantém o
padrão bancário, explicitado por Freire (1997), que “deposita” o conhecimento para o
aluno, sem provocá-lo na busca e elaboração de conceitos que construam sua
compreensão de mundo. Gutierrez é sensível a essa percepção, ao registrar que
não é possível superá-la com uma simples inserção de novas tecnologias na escola,
uma vez que “[...] a própria inserção das TEI não modifica este quadro e,
dependendo do modo como acontece este processo, pode torná-lo pior [...]” (2008,
p.6). Por isso é preciso não subutilizar as tecnologias, e sim usá-las para criar novas
formas de ensinar e aprender.
As novas tecnologias dão ao professor a oportunidade de entrelaçar o estudo com a
diversão, tornando o processo educativo mais dinâmico e interessante. Sabemos
que para que haja uma verdadeira aprendizagem, os conteúdos apresentados pelo
professor têm que interessar aos alunos, então, é essencial que a educação
aprenda e capture o potencial das TEI, que se torne uma forma de entretenimento,
mas também desperte raciocínios, buscas e interação com outros sujeitos, além de
ampliar a autonomia, a capacidade crítica e uma enorme quantidade de
informações. As TEI, principalmente a Internet, passam a proporcionar essa
interatividade e criatividade necessárias, fazendo com que o educando seja inserido
numa educação que visa desenvolvê-lo completamente.
Para que esse objetivo seja alcançado, o professor deve “indicar caminhos, facilitar
a construção e a aquisição dos conhecimentos de uma forma simples e clara”
22. 21
(ASSMANN, p.41). Ele deve ajudar o aluno a organizar as informações, desenvolver
análise crítica e reflexão criativa (ASSMMANN, 2005). O que dificulta a inserção
dessas tecnologias na escola é o falso receio dos professores de estarem sendo
superados no âmbito do conhecimento.
É importante ressaltar, também, que a inserção dessas tecnologias no processo
educacional não exclui o uso de métodos e recursos didáticos “antigos”, como o do
quadro-negro e do livro didático.
O quadro-negro sempre esteve à disposição do professor, seja para registrar algo,
para apresentar um exercício ou para dar visibilidade a um dado conceito, por meio
de palavras, esquemas ou fórmulas. As novas tecnologias não eliminam essas
possibilidades. O que se percebe é que o uso do quadro-negro exige muito tempo
para escrever, e se a aula for trabalhada somente com o discurso do professor e o
uso do quadro-negro, ela pode se tornar muito exaustiva, ruim.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, MEC/SEF, 2001) é
através desses meios audiovisuais, que se encontram novos recursos para um
maior aproveitamento do ensino-aprendizado da Geografia, servindo como fonte de
informação para o aluno e possibilitando a problematização dos fatos.
O retroprojetor, criado em 1930 nos Estados Unidos, é um recurso utilizado pelos
educadores e é um dos mais utilizados para ajudar nas exposições orais.
Juntamente com o projetor multimídia, popularmente conhecido como datashow,
foram desenvolvidos com a função de ampliar e projetar imagens. O retroprojetor
projeta imagens que estão impressas na transparência e o datashow projeta
imagens do computador ou da TV, permitindo a inclusão do movimento e do som
junto à imagem (ARCHELA & CALVENTE, p. 40).
A televisão, que atualmente é o maior meio de comunicação em massa, é
comumente utilizada em sala de aula, sendo associada com freqüência a aparelhos
de reprodução de vídeos. Ela é um meio de comunicação que informa sobre os
acontecimentos, distrai e ensina. É um recurso que possui uma variedade de
informações, só superada pela Internet, utilizando-se de imagens e sons, o que a faz
não depender da leitura. Tornou-se “socializadora de informações, formas
23. 22
lingüísticas, modos de vida, opiniões, valores, crenças” (BRASIL, MEC/SEF, 2001,
p.143) que não pode ser desprezada pela escola.
Outro interessante recurso, porém pouco utilizado na escola, é o rádio. Tido também
como um grande meio de comunicação, ele pode ser implantando no ambiente
escolar acentuando a interação entre os alunos e a interdisciplinaridade. Possibilita o
desenvolvimento de atividades que façam os alunos “identificar, selecionar,
relacionar, imaginar a partir da audição” (BRASIL, MEC/SEF, 2001, p.145). Além
disso, pode desenvolver a oralidade e a escrita dos alunos.
Os recursos audiovisuais possibilitam a obtenção de “informações sobre o campo, a
cidade, questões ambientais, povos, nações, construção de território, etc.” (BRASIL,
MEC/SEF, 2001, p.142) elementos essenciais para entender as relações que
constituem o espaço geográfico e suas transformações. Ademais, proporcionam um
olhar mais crítico dos alunos sobre o mundo, sociedade e fatos vivenciados. Mas
cabe ao professor selecionar o conteúdo a ser discutido em sala, levando os alunos
a se tornarem mais que telespectadores: cidadãos críticos.
Dentre essas tecnologias de informação e comunicação, destaca-se a Internet como
uma que mais aumenta o potencial cognitivo do ser humano. Assmann (2005)
acredita que a Internet nos acompanha na estruturação dos nossos modos de
organizar e configurar linguagens, além de impregnar as formas do conhecimento.
Assim, ela se tornou um elemento constituinte das nossas formas de ver e organizar
o mundo.
A Internet possui um emaranhado de recursos para dinamizar o processo de ensino-
aprendizagem, o blog, por exemplo, é um deles. A grande quantidade de
informações que ela fornece é apresentada de forma interativa, por abranger mapas,
imagens, tabelas, textos, etc. Seus recursos são de fácil acesso e armazenamento,
e, além disso, ela favorece a colaboração entre os alunos no processo de
construção de conhecimentos. Vale salientar que esse processo de construção de
conhecimento já não está mais fundado principalmente na razão, mas os sentidos,
sentimentos e emoções estão muito mais presentes (ASSMANN, 2005).
As estruturas cognitivas interativas que a Internet apresenta são devido à presença
da hipertextualidade e da possível interferência de uma ou mais pessoas na
24. 23
construção de um conhecimento. Essa hipertextualidade favorece a criatividade,
liberdade, curiosidade, colaboração e construção de conhecimento (ASSMANN,
2005).
Conclui-se, então, que “O uso adequado das novas tecnologias possibilita o
desenvolvimento do pensamento reflexivo” (VALENTE, 1999, p. 37). Segundo
Nevado (1999) estimula o desenvolvimento da consciência crítica e a descoberta de
soluções criativas para as situações-problema que surgem no trato com a
informação.
Essas percepções justificam o estudo sobre o uso de uma dessas ferramentas que a
Internet possui – o blog, razão pela qual investimos nessa pesquisa.
25. 24
CAPÍTULO 3 – Blogando com Geografia
3.1 “Geoespaço”
Sabemos que antes das tecnologias chegarem às escolas, outras formas de ensinar
se baseavam no discurso do professor ou no livro didático. No entanto, é
interessante abordar a evolução do ensino de Geografia para que o leitor
compreenda o contexto em que esta foi implantada nas escolas do Brasil, a fim de
entender suas fases, seus sucessos e fracassos, até chegar aos dias atuais, com
suas tecnologias, que disponibilizam no mercado muitas novidades que fornecem ao
professor outras possibilidades para trabalhar sua aula.
O pensamento geográfico teve início com os gregos, contudo foi no século XVIII que
a Geografia se afirmou como disciplina e assim ganhou importância no meio
acadêmico. No final do século XIX e início do século XX obteve contribuições
importantes dos precursores da geografia moderna, os alemães Karl Ritter (1779-
1859), Alexander Von Humboldt (1769-1859) e Friedrich Ratzel e os franceses, La
Blache e Eliseé Reclus. A escola alemã era atrelada a corrente filosófica
determinista, a qual postula que o homem estava submetido às interferências do
meio, enquanto a escola francesa seguia o possibilismo e era contrária aos ideais
alemães. O francês La Blache negava o determinismo natural, dizia que o meio era
transformado pelo homem. Escreveu suas obras no final do século XlX e início do
século XX, criou um conceito fundante da Geografia Humana, o conceito de gênero
de vida (SAUER, 2003). La Blache era simplista em que o básico da sua concepção
era a relação do homem com o meio, caracterizando sua obra com a discussão
sobre o homem modificando a natureza, transformando-a e assim, o homem cria a
paisagem; La Blache discute a ação modeladora do meio. É importante salientar
que ele não fez discurso de relações sociais, do trabalho, como já foi dito, ele citava
as atividades que transformavam o meio, assim sua preocupação era saber como a
paisagem era constituída, como as técnicas a transformavam (LA BLACHE,1946).
A Geografia como ciência nas escolas, iniciou em 1934, quando foi criada, em São
Paulo, a faculdade de Filosofia, que possibilitou a formação do profissional em
Geografia e História. É importante salientar que a disciplina de Geografia surgiu
26. 25
como auxiliar no curso de História. Apenas em 1957 é que o curso foi dividido e
finalmente surgiu a faculdade de Geografia. Isso implicou em uma ausência de
profissionais de Geografia, nas escolas, até as primeiras décadas do século XX.
Sendo assim, engenheiros, advogados, seminaristas entre outros, tiveram a tarefa
de trabalhar as aulas dessa disciplina, o que demonstra similaridade com a atual
forma que redes e instituições de ensino que complementam carga horária de
professores de outras áreas com aulas de Geografia. Devido à falta de professores
de Geografia, no decorrer da primeira metade do século passado, o país teve a
Geografia somente em nível secundário (ARCHELA & CALVENTE, 2008).
Aproximadamente até a década de sessenta, a Geografia que era ensinada em sala
de aula, era uma disciplina influenciada, fortemente, pela Escola Francesa de La
Blache: sempre começava com os chamados aspectos físicos e depois tratava dos
aspectos humanos, era bastante descritiva (BRASIL, MEC/SEF, 1998). Sendo
assim, os livros didáticos não eram satisfatórios para a realidade do Brasil, eles
possuíam estrutura francesa, faziam uso da memorização como garantia de
aprendizagem escolar, era ainda a Geografia Tradicional, segundo os PCN’s,
podemos descrever no ensino essa Geografia pelo “descritivo das paisagens
naturais e humanizadas de forma dissociada dos sentimentos dos homens pelo
espaço” (BRASIL, MEC/SEF, 1998 P.21).
Não havia preocupação com o desenvolvimento da capacidade do aluno refletir
sobre diferentes aspectos da sociedade na qual ele se encontrava inserido, assim
como não havia problematização ou criticidade sobre o que se ensinava. Os livros
eram descritivos, atendiam propósitos nacionalistas, apresentando conteúdos de
acordo com os anseios políticos e a ordem manifesta do poder no/do Estado.
Promover reflexões não interessava à classe dominante.
Esse período foi entre as guerras mundiais, a nação precisava de patriotas
fervorosos para não deixar que ocorresse a fragmentação do Estado. Essa
perspectiva perdurou até a década de setenta. Com a implantação do regime militar,
o quadro intensificou-se nas escolas e os livros ficaram mais distantes da realidade,
não promoviam reflexões.
Em 1971, houve a introdução da disciplina de Estudos Sociais, que juntava os
estudos de Geografia e História, sendo lecionada pelo mesmo professor para o
27. 26
antigo primeiro grau, e dificultava muito o processo de ensino e aprendizagem das
duas disciplinas, pois não havia o necessário aprofundamento. (ARCHELA &
CALVENTE, 2008).
Posicionando-se de outra forma, atacando e desvelando esses problemas, Delgado
de Carvalho contribuiu com suas críticas à prática de ensino aplicada na Geografia
escolar desde o início do século XX.
Podemos, então, inferir que a crítica à maneira como se aplica a Geografia, na
escola, é muito antiga. Considerando que ainda é possível encontrar na Geografia
Escolar práticas descritivas, pretensamente neutras e propositalmente acríticas,
podemos compreender melhor como isso influencia a maneira de viver do povo
brasileiro, no que tange às leituras de nosso país sob o foco da Geografia.
Sabemos que o mundo, naturalmente, passa por mudanças nos âmbitos político,
social, econômico entre outros. Isso inclui a educação e a Geografia. Em relação a
essas dimensões, além dos problemas causados pelas manipulações políticas, e
muito por causa delas, as mudanças que agem velozmente quanto à informação e
comunicação não podem ser comparadas à lentidão das mudanças na Educação e
na Geografia Escolar, mas podem explicar a eficácia do mau ensino e da
cristalização do senso comum na Geografia.
O mundo passou por grandes mudanças, o pós guerra abalou o mundo econômica e
ideologicamente, incluindo as mudanças na Geografia, a este respeito Seabra
(1997) afirma “A Geografia precisava mudar e atualizar-se para atender as
necessidades do novo modismo científico” (SEABRA, 1997, p.64). Assim, a grande
expansão do capitalismo e o embate entre o mundo socialista e o mundo capitalista
fizeram com que a geografia Tradicional ficasse insuficiente para entender a
complexidade do espaço (BRASIL, MEC/SEF, 1998, p.21).
Na década de setenta, houve uma ruptura com o pensamento clássico da Geografia.
Solidificou uma corrente crítica marxista, em que dá ênfase aos estudos que revelam
a lógica capitalista, buscam uma Geografia mais justa (BRASIL, MEC/SEF, 1998).
Era necessária a produção de estudos voltados na área da política, social e
econômica, a Geografia puramente descritiva havia perdido o seu lugar. Assim, o
28. 27
PCN afirma que “Geografia ganhou conteúdos políticos que passaram a ser
significativos na formação do cidadão” (BRASIL, MEC/SEF, 1998, p.22).
Nas academias brasileiras falava-se sobre a importância de uma visão crítica e
colaboradora para o processo de ensino aprendizagem. Criticavam o ensino de
Geografia baseado na memorização de nomenclaturas e enalteciam a importância
da reflexão teórica. Mesmo com o grande desejo de mudanças no ensino da
geografia, não verificamos progressos significativos que as academias esperavam
do ensino de Geografia. Já na década de oitenta os livros demonstraram uma
melhora significativa. Nesse período houve uma grande preocupação com a
produção geográfica desenvolvida para o ensino, foram lançados muitos livros
paradidáticos, aconteciam muito debates entre professores e estudantes, e assim e
ensino de Geografia deu bons passos em direção ao sucesso, mas não o alcançou
com plenitude (ARCHELA & CALVENTE, 2008).
Apesar da sua importante contribuição para o ensino de Geografia, a Geografia
Marxista não conseguiu esclarecer a complexidade pela qual o mundo passava, e
não obteve êxito nas propostas curriculares. Esta corrente era atrelada somente a
explicações econômicas e à relação de trabalho, e é notável que esse quadro não
condiga com certas etapas de escolaridade, como o ensino fundamental.
Nas escolas, professores e materiais didáticos ainda seguiam a linha tradicional,
com um material despolitizado e descritivista. Nascia, assim, uma contradição entre
o discurso do professor e os recursos didáticos aplicados em sala (BRASIL,
MEC/SEF, 1998).
As constantes mudanças em torno da Geografia refletiram no ensino fundamental,
afinal novas idéias servem para estimular a produção de novos recursos didáticos,
mas nem sempre as mudanças que são produzidas no meio acadêmico, são sólidas
e sobrevivem a inovações conceituais, e muito menos atingem os professores de
séries iniciais, uma vez que para eles, os livros didáticos e as orientações em
formações pedagógicas, ainda se estruturam sob o foco da Geografia tradicional
(BRASIL, MEC/SEF, 1998).
Atualmente não temos ainda no Brasil uma Geografia com compreensão plena e
crítica da sociedade, como já foi dito anteriormente, é de suma importância que o
29. 28
aluno relacione o seu cotidiano com os conteúdos de Geografia. É fundamental que
o professor considere a vivência do aluno ao planejar as aulas; quando o professor
não coloca o aluno no centro das atividades escolares, temos um ensino
fragmentado, descontextualizado do ambiente vivido e isso passa a não ter sentido
para aluno, mesmo que ele não perceba. O professor de Geografia precisa se
informar sobre as variadas mudanças que ocorrem diariamente na vida moderna.
Mudanças que refletem no conhecimento Geográfico, aos alunos e à própria visão e
concepção de mundo (OLIVEIRA, 2003).
Constatamos que é essencial que o professor crie situações em que o aluno possa
adquirir e manusear o conteúdo, que ele consiga distinguir e analisar as maneiras de
agir no espaço geográfico, assim como identificar e cuidar das variadas paisagens e
territórios. Com isto concorda Straforini,
A geografia necessariamente deve proporcionar a construção de conceitos
que possibilitem ao aluno compreender o seu presente e pensar o futuro
através do inconformismo com o presente. Mas esse presente não pode ser
visto como algo parado, estático, mas sim em constante movimento.
(Straforini, 2005, p. 50).
Apesar das constantes lutas da academia a fim de transformar a Geografia e acabar
com a sua imagem de memorização, a Geografia ainda se encontra dessa maneira
em muitos locais do país (ARCHELA & CALVENTE, 2008). Sabemos que a
geografia além de sistêmica, é dinâmica, está sempre se inovando com os
acontecimentos locais diários e com os processos globais complexos. Com isso,
notamos que não há possibilidades dela voltar a ser como era: notoriamente
decorada e rígida, exaustiva.
O PCN define essa dinâmica na geografia como:
[...] O espaço na Geografia deve ser considerado uma totalidade dinâmica
em que interagem fatores naturais, sociais, econômicos e políticos. Por ser
dinâmica ela se transforma ao longo dos tempos históricos e as pessoas
redefinem suas formas de viver e de percebê-la. (BRASIL, MEC/SEF, 1998,
P.27)
A sua imagem se modifica e nos traz um ar de novidade, de criticidade e de certeza
que conhecimento nenhum é ampliado por memorizações. Sendo assim,
Não basta o professor dominar o conteúdo geográfico; é preciso, outrossim,
dispor de um conhecimento didático; apesar de todos os autores afirmarem
que a base do processo educativo reside no binômio professor-aluno, é de
30. 29
conhecimento geral que o conteúdo e o método, isto é, o quê e o como,
são inseparáveis. (OLIVEIRA, 2003, p.63)
E assim o blog está situado dentro dessas considerações como um recurso que
estimula a criticidade e criatividade dos alunos, a fim de dar contribuições para uma
melhoria na Geografia Escolar.
3.2 “Cantinho Geográfico”
Após abordarmos a lenta e ainda incompleta, embora inexorável transformação, em
processo, de uma Geografia calcada na memorização dos fatos para uma Geografia
que se preocupa com a criticidade do educando, é necessário falar como a
ferramenta blog pode contribuir para a Geografia.
Um das grandes críticas feitas à escola e aos métodos de ensino é a sua ênfase nas
informações e na memória. Uma crítica antiga, mas que, apesar do muito que se
andou, ainda permanece. Memorizar algo está relacionado a guardar por um
determinado tempo um dado que não veio da elaboração do sujeito e que mobilizou
sua cognição na interpretação dos contextos e relações pertinentes a este assunto.
Portanto não é aprendizagem (GUTIERREZ, 2008).
Aprender importa em descobrir uma informação verificando suas relações, contexto
e significados, comparando, testando e produzindo sentido. O ensino como pesquisa
é aquele onde o educador, ao mesmo tempo em que ensina, aprende e questiona a
realidade de sua prática, da escola e da comunidade escolar e, onde o educando, ao
mesmo tempo em que aprende, busca respostas as suas indagações e, portanto,
ensina (FREIRE, 1997). Deste modo, o ensino-pesquisa é da ordem da formação do
educador.
É nesse contexto que se investiga mudanças nos paradigmas educacionais. Para
Peters (2007) é preciso redesenhar a educação, planejar e implementar novas
formas educacionais, reorganizando a estrutura de ensino e aprendizagem.
As novas tecnologias, que estão cada vez mais presente na vida dos alunos, podem
contribuir na reorganização do processo ensino-aprendizagem. Elas são, de forma
geral, uma fonte de informação e comunicação para educadores e aprendizes. As
31. 30
mudanças constantes no ensino e aprendizagem são, em sua grande parte,
conseqüência do impacto do grande número de avanços tecnológicos,
especificamente os das tecnologias de comunicação e informação que emergiram
na última década.
Informação é o que não falta nas dezenas de ferramentas da web, sem falar que
outras vão sendo criadas a todo o momento. E muitas delas vêm sendo usadas com
fins pedagógicos. O blog é uma das diversas ferramentas da web.
Os blogs tornaram-se páginas muito populares entre jovens que transformaram o
ciberespaço em diários pessoais. Atualmente, existem mais de 75 milhões de blogs
no mundo todo, e outros 175 mil são criados a cada dia (RODRIGUES, 2008).
O público adolescente faz do meio um canal para expressão, utilizando como
ferramenta a escrita digital associada a sons, ícones e imagens. O que chama a
atenção deles para esse gênero, o blog, pode ser a liberdade de expressão que
esse espaço oferece, além de ser um espaço interativo, tendo em vista que permite
aos leitores enviar comentários, acrescentar idéias e poder interagir com o autor do
blog em diversos assuntos. São essas características que promovem a autonomia
do aluno. A aprendizagem que resulta dessa autonomia não é exclusivamente
singular, ela também é cooperativa, porque é construída a partir de discussões entre
os alunos, e destes com o professor. Mas o maior desafio da utilização desses
espaços digitais no ambiente educacional é despertar a curiosidade do professor e
motivar os alunos a continuarem a aprender fora da sala de aula.
32. 31
Rodrigues (2008) demonstra em seu trabalho, como o blog pode contribuir para a
educação:
Figura 2 – Esquema de Blog Educacional – RODRIGUES, 2008, p.106
No contexto educacional, como pode ser visto, os blogs podem contribuir com o
trabalho docente de diferentes formas. O professor pode utilizá-los para apresentar
informações e imagens. Para citar alguns exemplos práticos, um blog pode ser
explorado para apresentar aos pais como foi desenvolvida a feira de ciências da
escola, como foi o passeio ao Zoológico, a excursão, ou ainda, relatar uma reunião
ou evento, agregando imagens a notícias. Além disso, o professor pode utilizá-lo
como um diário da turma ou da escola, falando a respeito das atividades do ano
letivo. Em outra situação, pode ser útil para destacar alguma atividade específica e
33. 32
única, detalhando melhor determinada ação pedagógica desenvolvida (como uma
pesquisa numa turma). O professor pode utilizá-lo, também, para compartilhar
idéias, propostas pedagógicas, pesquisas realizadas e, assim, trocar blogs entre
alunos, professores, escolas.
No processo ensino-aprendizagem o blog é uma ferramenta que proporciona
discussões, estimulando a criticidade dos alunos e proporcionando o maior interesse
pelos conteúdos trabalhados na disciplina de Geografia. O blog é um recurso que
oportuniza espaço para fotos e vídeos, que o professor e os alunos podem utilizar
para mostrar a realidade vivida.
Valendo-se deste potencial, por exemplo, os alunos sujeitos desta pesquisa fizeram
um trabalho envolvendo fotos do seu bairro, onde mostravam os problemas do
mesmo.
A construção e o desenvolvimento dos blogs pedagógicos permitem que os
conteúdos neles contidos façam parte de uma grande teia de saberes e de
conhecimento que a Internet representa.
Segundo Richardson “[...] o uso de blogs tem a função de expandir as paredes da
sala de aula, pois seu uso contribui para que o pensamento seja amplamente
desenvolvido [...]” (2006, p.28).
O blog é, portanto, um antídoto poderoso contra idéias fixas. Embora não precise
substituir a sala de aula, complementa-a bem, à medida que pode inserir textos e
informações adicionais, permitir que os alunos comentem textos e produções,
favorece a formação de comunidades de prática em tornos de tema de interesse
coletivo.
Por ser conduzido apenas por um autor, sem interferência do público, a não ser
comentar, também fomenta a produção individual. Segundo Richardson “[...] a
ferramenta blog mudou o conceito de web, pois se abriu a possibilidade de autoria
[...]”. (2006, p. 19)
Isso significa que o blog, por ser uma ferramenta
[...] de expressão unicamente individual tornou-se uma forma de publicação
em co-autoria. O contínuo fluxo de informação entre blogueiros deu origem
a verdadeiros webrings. Estas comunidades de weblogs interligados
34. 33
confirmam a polifonia e a intertextualidade já constatadas em ambientes
virtuais. Por todas estas razões, os weblogs vêm se consolidando como
ambientes de construção cooperativa do conhecimento. Neles, o processo
de construção ocorre de forma livre e aberta, promovendo o uso social da
informação e do conhecimento, colocando estes como direito de todos.
(GUTIERREZ, 2008, p. 7)
Os blogs registram de forma dinâmica todo o processo de construção do
conhecimento e abrem espaço para a pesquisa. Na produção de um projeto, por
exemplo, pode detalhar todo o processo da pesquisa, desde sua criação,
desenvolvimento até a finalização. Facilitam também a implementação de projetos
inter e transdisciplinares, dando visibilidade, alternativas interativas e suportes a
projetos que envolvam a escola como um todo e, até, as famílias e a comunidade.
Dessa forma, o blog contribui para a consolidação de novos papéis para alunos e
professores no processo educativo com a participação coletiva, onde todos ensinam
e aprendem.
Durante a nossa pesquisa tentamos mostrar se as características do blog podem
realmente auxiliar a Geografia. Mas para que pudéssemos chegar a resultados
passamos por diversas experiências.
35. 34
CAPÍTULO 4 – Blogar é o máximo!
A elaboração do nosso projeto de pesquisa e o desenvolvimento da mesma
necessitou, para que seus resultados fossem satisfatórios, estar baseados em um
planejamento cuidadoso. Esse planejamento foi elaborado com a orientação de
técnicas metodológicas que nos auxiliaram em todas as etapas da pesquisa.
Segundo Thiollent:
[...] a metodologia lida com a avaliação de técnicas de pesquisa e com a
geração ou a experimentação de novos métodos que remetem aos modos
efetivos de captar e processar informações e resolver diversas categorias
de problemas teóricos e práticas da investigação [...] (THIOLLENT, 2004,
p.25).
O primeiro passo para elaboração do nosso Projeto de Conclusão de Curso (TCC),
foi a escolha do tema. Sentimo-nos provocados a pesquisar sobre o blog porque ele
possui ferramentas que facilitam sua utilização como recurso didático.
Os blogs começaram como um diário online, e hoje, são ferramentas indispensáveis
como fonte de informação e entretenimento. Somando-se tudo isso, decidimos
pesquisar “O Blog como Recurso Didático para o Ensino da Geografia”. Nossa base
teórica se constituiu na primeira leitura da dissertação de mestrado “O uso de blogs
como estratégia motivadora para o ensino de escrita na escola”, da Professora Me.
Cláudia Rodrigues, em que ela buscou incentivar seus alunos através do blog a
escrita correta da Língua Portuguesa. Assim, ao percebermos o resultado positivo
que o blog teve na juventude, nos sentimos mais motivados em obtermos um
resultado, também positivo, no ensino-aprendizagem de Geografia.
As reuniões em grupo sob a orientação da Professora Marisa, foram múltiplas. E
auxiliados por elas estabelecemos o nosso segundo passo que foi a realização do
pré-projeto, onde estabelecemos a problemática, os objetivos e a metodologia, bem
como o passo a passo da nossa pesquisa.
A metodologia escolhida foi a Pesquisa-Ação, considerando que ela,
[...] é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e
realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um
problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo. (THIOLLENT, 2004, p.14)
36. 35
Consideramos que o problema que nos inquietou e nos uniu nessa pesquisa pode
ser sintetizado nos seguintes termos: “Como potencializar o ensino da Geografia
Escolar valendo-se dos blogs da rede Internet, estimulando o estudo autônomo e
interdisciplinar?”.
Os sujeitos envolvidos nesse problema são professores e alunos. No caso,
assumimos a perspectiva dos professores e selecionamos um grupo de alunos para
viverem essa experiência investigativa conosco.
Simultaneamente ao desenvolvimento dessa metodologia, onde o caráter empírico
parece ser a prioridade, nossa abordagem não deixa de lado as referências teóricas,
sem os quais a pesquisa empírica não faria nenhum sentido. Por isso as leituras
bibliográficas foram de extrema importância na realização do trabalho.
No entanto, os primeiros objetivos traçados no pré-projeto foram mudando em
decorrência da situação encontrada em campo, bem como as conversas com a
professora, que nos abriu os olhos para questões que o grupo anteriormente não
havia analisado. A idéia inicial era a construção de um blog voltado para uma
instituição da rede pública e particular, em que iríamos não só analisar como
também comparar os resultados.
Por isso, fomos a duas escolas buscar parcerias. A primeira escola visitada foi a da
rede pública de ensino Escola João Calmon, localizada no município de Vila Velha.
Conversamos com professora Heliany Regina Albert que ficou de analisar a
proposta e passá-la para a direção da escola. Contudo, nessa escola encontramos
dificuldades quanto ao acesso dos alunos à rede Internet, e isso nos fez buscar
outra escola.
Construímos o blog, no site Wordpress e mudamos nosso enfoque de pesquisa e,
conseqüentemente, nossos objetivos. Ao invés de analisar e comparar resultados
nós decidimos que a pesquisa seria realizada apenas na rede pública, ambiente na
qual a maioria das crianças se encontra. Por isso agradecemos a disponibilidade do
Colégio Marista no município de Vila Velha, quando nos deram uma resposta
positiva, mas por indisponibilidade de tempo não foi nosso ambiente de pesquisa.
Por isso voltamos nossa atenção para uma escola que reunia condições muito
interessantes para nossa pesquisa: possui uma estrutura de organização aberta à
37. 36
pesquisa e o alunado pertence em sua maioria à classe média, com acesso à rede
Internet. Novamente, agradecemos à abertura da escola anteriormente visitada e
lançamo-nos ao trabalho – o tempo era inexorável. Criamos então um novo blog, no
site Blogger com o nome de “Geo AHRT”, voltado para a rede particular de ensino.
A Escola Luterana de Vila Velha foi o campo de nossa pesquisa. Foi a escolhida
porque uma das integrantes do grupo a conhecia. Obtivemos a autorização para a
pesquisa e a pedagoga da escola gostou da idéia que era divulgar o blog para os
alunos. Fizemos, então, parceria com o professor de Geografia, professor Fernando
Sartório3, e divulgamos o blog para o 9° ano do Ensino Fundamental.
Conseguimos redimensionar nossa pesquisa, definindo novos objetivos. Estávamos
interessados em verificar se, e como, os blogs da rede Internet podem potencializar
o ensino da Geografia Escolar estimulando o estudo autônomo e interdisciplinar de
jovens, para isso desejamos:
1. Avaliar o potencial de aprendizagem de Geografia escolar
proporcionada pela utilização da ferramenta blog;
2. analisar a relação professor e aluno por meio dos blogs; e
3. verificar a validade da elaboração e manutenção do blog na
formação continuada do professor de Geografia.
Para alcançarmos os objetivos aplicamos dois questionários. O primeiro foi
respondido pelos alunos e aplicado pela pedagoga Manuela Aguiar. Ele buscou
verificar questões como a maneira pelo qual os alunos acessam a internet, bem
como saber se eles têm ou acessam blogs. O segundo questionário foi aplicado ao
final do trabalho com o objetivo de avaliar a potencialidade do blog como ferramenta
de ensino-aprendizagem da Geografia. .
Também aplicamos uma entrevista com o professor de Geografia buscando saber a
visão dele a respeito da potencialidade do blog como recurso didático e como foi a
experiência do uso do blog “Geo AHRT” com a sua turma. Concomitantemente,
registramos nossas experiências de aprendizagens com essa ferramenta e no
contato com os alunos, numa perspectiva de nossa própria formação docente.
3
O nome do professor é real e está sendo usado com a autorização do mesmo e da escola onde trabalha.
38. 37
A partir daí, buscamos “postar” no blog textos, vídeos e demais conteúdos, com o
intuito de satisfazer curiosidades e de relacionar à matéria dada pelo professor,
acompanhando a evolução do blog para analisar e avaliar os resultados finais.
Após a divulgação para os alunos, postamos no blog matérias relacionadas à
Geografia. Assuntos abordando questões como reciclagem, lixo, vulcanismo, entre
outros foram os selecionados e trabalhados.
Além disso, procuramos aliar a explicação com exemplos do dia-a-dia. Quando
falamos de petróleo, por exemplo, buscamos não só explicar a importância dessa
fonte de energia, como destacar o fato ocorrido no Golfo do México, que na
reportagem do Jornal A TRIBUNA (Figura 3) esclarece algumas situações. A
explosão ocorrida na plataforma de petróleo mostrou o potencial que esse
vazamento teve para danificar praias e manguezais na costa da região. Assim,
esclarecemos para os alunos os prejuízos que um vazamento de petróleo pode
causar ao meio-ambiente.
Figura 3 – Vazamento de Petróleo no Golfo do México – Reportagem do Jornal A Tribuna, 06
de Junho de 2010
39. 38
Postamos também conteúdos ligados à Globalização, conteúdo que o professor
Fernando estava aplicando na 9ª série do Ensino Fundamental. O conteúdo serviu
então de revisão para os alunos.
A seguir, lançamos um Projeto no blog, que se intitulava “Por uma Geografia mais
literária”, no qual a professora de Português da escola também participou. Os alunos
escreveram um poema, uma crônica ou uma música usando o tema Globalização,
que era o assunto trabalhado na sala de aula. Aquele que foi escolhido pelos
professores de Português e de Geografia como o mais bem elaborado, ganhou
uma caixa de bombom e teve seu trabalho postado no blog (Anexo 4).
Após um mês de pesquisa, analisamos os resultados que obtivemos com os dois
questionários, a entrevista e as informações contidas no blog, tais como os
comentários e o acesso dos alunos.
40. 39
CAPÍTULO 5 – “Blogar ou não blogar. Eis a questão.”
5.1 “Erros na página”
Criamos um blog intitulado “Geo AHRT” (geoedu-blog.blogspot.com), com o objetivo
específico de criar um espaço onde os alunos pudessem ter acesso a conteúdos
mais próximos de sua realidade, que o professor pudesse sugerir leituras e filmes,
que possuísse elementos mais interativos, aumentasse as discussões em sala de
aula, prolongasse a relação do professor e do aluno fora da instituição, e, por fim,
criasse um espaço de socialização de conhecimentos.
A proposta foi apresentada a uma turma da 9º série do Ensino Fundamental, isso
porque na Escola Luterana há somente uma turma da referida série. Apresentamos
à turma um espaço digital onde os alunos podiam interagir e discutir a respeito de
assuntos geográficos, trabalhados ou não na sala de aula. Os posts, portanto, eram
criados para que os alunos refletissem e comentassem, e assim o blog se tornaria
um espaço de discussão extraclasse.
O que aconteceu foi que durante o mês de pesquisa o blog teve apenas cinco
comentários, que ocorreram nos dois primeiros posts, apesar do blog estar sendo
acessado – de acordo com o gerenciador eletrônico de acesso. Tomando como
base o fato de que os alunos estavam acessando o blog, poderíamos ter um de dois
possíveis resultados: ou a turma comentaria ou ela não comentaria. De início, então,
tivemos um resultado positivo, porque logo obtivemos comentários, mas com o
tempo os alunos pararam de comentar. O motivo dos comentários terem sido feitos
no início é o caráter inovador dessa proposta pedagógica, que causou uma
excitação inicial, resultando em uma interação imediata.
Como queríamos que os alunos comentassem, utilizassem esse espaço digital para
expressar seus pensamentos, criassem conhecimentos a partir da colaboração dos
alunos e do professor, surgiram perguntas durante e no fim da pesquisa, tais como:
Por que os alunos não comentam os posts? Por que o número de acessos diminuiu
com o tempo, se a quantidade de posts aumentou? Perguntas assim se mantiveram
41. 40
durante a pesquisa, e os questionários (Anexo 1, Anexo 2) e a entrevista (Anexo 3)
com o professor nos fizeram enxergar alguns motivos, mas provavelmente não
todos.
Os problemas não significaram nem significam que o blog não pode ser um recurso
didático, mas que a proposta foi mal iniciada e que faltou incentivo nosso e do
professor durante a pesquisa. E, além disso, por lidarmos com adolescentes, o blog
deve conter elementos que chamem a atenção do aluno, que satisfaçam seus
interesses, apesar de termos colocado muitos, ainda assim desejavam mais.
Ademais, a adolescência é uma fase de grande resistência às imposições, como
deveres de casa de quaisquer tipos, assim como de perda e/ou mudança de
interesse diante de propostas monitoradas. Isso nos provoca reflexões sobre os
objetivos e a metodologia de nosso trabalho. Para que pudéssemos chegar a esse
resultado, buscamos entender os problemas a partir de hipóteses do professor e das
opiniões dadas pelos alunos ao responderem o segundo questionário. Quais, então,
foram essas falhas?
1º. A proposta foi mal iniciada e pouco incentivada. O acesso ao blog era
evidente, mas os comentários se tornaram mais escassos com o tempo, ao invés de
aumentarem. Além disso, os alunos tinham dificuldade em operar algumas
ferramentas, como o site responsável por downloads. Neste caso, os alunos não
conseguiram baixar a apresentação de revisão no PowerPoint, nem o texto
complementar. É importante ressaltar, também, que o professor afirma que buscou
incentivar os alunos a acessarem o blog, contudo, por não os estimular a comentar,
o blog perdeu parte do seu objetivo. O professor deveria ter incentivado os alunos a
comentarem, focando a crítica, e para isso seria imprescindível discutir com os
alunos a importância desta. Para que não tivéssemos problemas como esses, era
necessário ter discutido mais profundamente a proposta. Poderíamos ter feito uma
aula na sala de informática com o intuito de apresentar o blog e de ensinar os alunos
a operar seus recursos. O blog é um recurso de fácil operação, mas para que se
tenha sucesso é necessário tempo, mesmo que este seja curto. Portanto, numa
turma onde somente três alunos tinham um conhecimento técnico básico sobre blog,
por possuírem um, era fundamental uma aula “técnica”. E, então, depois dessa
42. 41
apresentação mais profunda, o professor se encarregaria de incitar os alunos a
criticar, opinar, sugerir, complementar.
2º. Os alunos sentiram necessidade de mais elementos interativos. Apesar de o
blog estar repleto de vídeos e fotos, 35,5% dos alunos desejava mais vídeos, 32,5%
mais fotos, 17% mais sites complementares, 7,5% desejava outros elementos, como
jogos e músicas, e 7,5% não desejava nada. A falha, portanto, foi colocar os links de
vídeos e não os próprios vídeos. Isso não significa que os alunos não aproveitaram
os elementos oferecidos, mas que deviam estar mais presentes no blog. A frase
“não é legal!” de alguns alunos mostra que os assuntos e a forma de como eles
eram apresentados não conseguia satisfazer todo o grupo. Mas a utilização do blog
como recurso didático não significa que o professor deve desistir de utilizar outros
meios, porque da mesma forma que os interesses são diversos, os recursos à
disposição do professor também o são. Conclui-se, então, que os alunos
considerariam o blog mais interessante a partir do momento que ele possuísse mais
elementos interativos.
3º. O professor se tornou um intermediário na criação do conteúdo do blog. O
blog possui, à direita, informações do nosso grupo de pesquisa, mas também estão
inclusas fotos da escola e da turma com o professor. Tentamos criar um blog onde
haveria uma parceria com o professor na construção dos conteúdos, mas ao tentar
presenciar ao máximo as atividades expostas no blog, não demos liberdade ao
professor de utilizá-lo individualmente, nem coletivamente, apesar de haver troca de
ideias sobre o que poderia ser postado. Isso diminuiu a presença do professor na
atividade, o que explica o baixo nível de incentivo aos alunos para que
comentassem. É importante entender que a não presença efetiva do professor na
construção do blog e de seus conteúdos não significa que a pesquisa perdeu seu
sentido, porque, a despeito disso, o blog era utilizado como um instrumento didático,
que estimulava o estudo autônomo e interdisciplinar.
Os problemas encontrados durante a pesquisa foram poucos, e resume-se na falta
de tempo para planejar uma proposta mais completa e efetiva em curto prazo. O
43. 42
professor foi excluído em parte do processo de criação e elaboração do blog, o que
ocasionou na criação de uma distância entre os alunos e o nosso grupo. Por sermos
“desconhecidos”, a forma de lidar com os assuntos diferenciava. Se o professor
tivesse participado efetivamente do processo, os alunos se sentiriam mais a vontade
em escrever e criticar os assuntos. Contudo, esses problemas poderiam ser
facilmente resolvidos, o que traria resultados muito mais satisfatórios.
5.2 Editando postagem...
Apesar das falhas encontradas na tentativa de utilizar o blog como recurso didático,
obtivemos resultados parciais, que nos levam a acreditar que o blog pode ser
utilizado para potencializar o processo de ensino-aprendizagem da Geografia.
Segundo Assmmann “[...] os recursos do blog são de fácil acesso e armazenamento,
além disso, ele favorece a colaboração entre os alunos no processo de construção
de conhecimentos [...]” (2005, p.54). E pudemos constar que, apesar das
dificuldades que os alunos tiveram, o blog proporciona um fácil manuseio de seus
recursos. Além disso, apresenta grande interatividade por possibilitar a postagem de
vídeos, fotos e comentários dos alunos, tornando-o extremamente importante no
processo de construção de conhecimentos de forma colaborativa.
De maneira geral, as Tecnologias Educacionais Informatizadas (TEI) possuem
grandes recursos potencializadores do ensino-aprendizagem dos alunos. No
entanto, o papel do professor é de extrema importância, visto que cabe a ele
apresentar conteúdos no blog que estimule os alunos à busca pela aprendizagem.
Como destaca Assmmann, “[...] o professor deve indicar caminhos, facilitar a
construção e a aquisição dos conhecimentos de uma forma simples e clara [...]”
(2005, p.41), diferente do professor tradicional, que é um mero transmissor de
informação e detentor do conhecimento.
Com a criação do blog “GEO AHRT”, iniciamos a pesquisa buscando traçar o perfil
dos alunos. Analisamos primeiramente o acesso à Internet, visto que na ausência
dessa ferramenta, a nossa pesquisa não atingiria os objetivos propostos. Como o
professor Fernando acredita,
44. 43
[...] o cotidiano do aluno é marcado por um intenso acesso às informações
através da internet, portanto, esta é uma realidade para o aluno. Utilizar este
tipo de mecanismo vem a calhar nas aulas de geografia e só tem a
contribuir com aquilo que o professor trabalha. (FERNANDO SARTÓRIO)
A turma do 9º ano do Ensino Fundamental era composta por vinte e nove alunos,
dos quais doze eram mulheres e dezessete homens. Levando em consideração que
dois alunos não participaram da aplicação do primeiro questionário, verificamos que
vinte e cinco alunos possuíam acesso à Internet (Gráfico 1), e o local de acesso de
96% dos alunos se dava principalmente em casa.
Alunos que têm acesso à Internet
Homens
30%
Total
50%
Mulheres
20%
Gráfico 1 – Alunos que têm acesso à Internet
Outra questão analisada foi saber se os alunos tinham conhecimento a respeito
dessa ferramenta digital. Apesar de somente três alunos possuírem blog, a turma se
interessou em participar da nossa pesquisa. Segundo o professor,
A turma se sentiu muito orgulhosa de ter um espaço só para ela em que
fossem divulgados os conteúdos trabalhados pelo professor, além de
projetos desenvolvidos em sala de aula. Percebi que os alunos sentiram-se
valorizados tendo um espaço para eles. Inclusive, após a criação do blog,
vários alunos criaram blogs pessoais, para divulgar suas experiências, e
tratar de assuntos de seus interesses. (FERNANDO SARTÓRIO)
45. 44
Isso mostra que os alunos sentem necessidade de um espaço para se expressar
fora da sala de aula e que se mostram abertos a novas experiências. O blog, então,
proporciona esse espaço onde alunos e professores se interagem também fora da
sala de aula. Segundo Richardson (2006), o uso de blogs tem a função de expandir
as paredes da sala de aula, pois seu uso contribui para que o pensamento seja
amplamente desenvolvido. Foi o que aconteceu quando eles comentaram os posts,
elogiando e tirando dúvidas, como pode ser visto nestes comentários:
Figura 4 – Comentários de um post do Blog Geo AHRT
Como o blog tem sido mais divulgado nos últimos anos, pudemos verificar que
nessa turma, dos vinte e sete alunos, apenas quinze alunos acessavam blogs. No
questionário analisamos os motivos do acesso, que são: por curiosidade, pesquisa
escolar, indicação de alguém e outros (Gráfico 2). Vários alunos acessaram por mais
de um motivo. Dentre os alunos que acessavam, treze o faziam por curiosidade, dois
por pesquisa escolar, seis por indicação de alguém e dois por outro motivo.
46. 45
Acesso a blog
14
12
10
8
6
4
2
0
Curiosidade Pesquisa escolar Indicação de alguém Outro
HOMEM MULHER TOTAL
Gráfico 2 – Acesso a Blog
Perguntamos aos alunos também, se ao acessarem um blog onde é descrita uma
viagem se lembram da Geografia escolar. O que constatamos foi que vinte e quatro
não se lembram da Geografia nessa situação. Isso mostra a dificuldade dos alunos
de enxergar a Geografia nos assuntos do cotidiano.
A experiência que eles tiveram com o blog mudou esse quadro. Anteriormente, treze
alunos pesquisavam sobre conteúdos de Geografia na Internet. No entanto, o blog
não só auxiliou os alunos nas pesquisas escolares, como garantiu um crescimento
de 14% de alunos que passaram a pesquisar assuntos relacionados à ciência
geográfica. Os alunos, então, passaram a refletir e a querer aprender mais sobre
Geografia fora da sala de aula, atingindo uma margem de 69% dos alunos que
passaram a enxergá-la no seu cotidiano. Essa funcionalidade que o blog tem como
ferramenta educativa é destacada por Rodrigues. Segundo a autora, o blog pode ser
utilizado pelo professor como estratégia de fornecer caminhos para o aprendizado e
ampliar a pesquisa em sala de aula (2008, p. 106).
47. 46
Notou-se, também, uma mudança no comportamento dos alunos referente às
discussões. Apesar de já haver muitas delas, o blog proporcionou novos debates.
Um deles foi relacionado a um dos primeiros posts, que discutia a questão do lixo
(Figura 5, Figura 6). Neste post abordamos assuntos referentes ao conceito de lixo,
coleta seletiva, reciclagem, entre outros, relacionando-os com o local de vivência
dos alunos. Como muitos deles vivem em locais com problemas de coleta de lixo
diária, a repercussão em sala de aula foi grande.
Figura 5 – Lugar de Lixo é na Lixeira – Página do Blog Geo AHRT – http://geoedu-
blog.blogspot.com/2010/04/sejam-bem-vindos.html
Figura 6 – Reciclagem – Página do Blog Geo AHRT – http://geoedu-
blog.blogspot.com/2010/05/reciclagem.html
48. 47
Constatamos, portanto, que o blog deixa a aula mais dinâmica e com mais conteúdo.
Conforme o professor, “[...] os alunos ficam exaltados em sempre comentar aquilo
que está escrito no blog. Durante as aulas, os alunos faziam questão de falar sobre
o blog, qual seria a próxima matéria a ser publicada, e quando seria atualizado [...]”.
A partir da problematização dos assuntos, o professor se ocupava em ajudar os
alunos a organizar as informações, desenvolver análise crítica e reflexão criativa,
objetivos que Assmann (2005) propõe ao professor. Por conseguinte, o blog não
serviu apenas para instigar críticas e debates, mas propiciou a interdisciplinaridade e
criatividade dos alunos. A professora de Língua Portuguesa se interessou logo no
início da pesquisa, e com o tempo, surgiu a oportunidade de unir as disciplinas num
projeto que visava a publicação no blog. O projeto foi intitulado “Por uma Geografia
mais literária”, em que os alunos deveriam escrever um poema, música ou crônica
abordando o conteúdo de Geografia da época: globalização. Contudo, no final, a
temática acabou se diversificando, e o grupo ganhador escreveu um rap (Anexo 4).
Durante o projeto o professor ficou impressionado com o entusiasmo que os alunos
demonstraram. O fato dos trabalhos poderem ser publicados no blog contribuiu para
que houvesse grande dedicação na elaboração do texto. O blog é, portanto, “[...] um
recurso informal presente na internet que serve como um espaço para se expressar
criatividade e opinião de uma ou mais pessoas [...]” (RODRIGUES, 2008).
Para o professor e os alunos a experiência de possuírem um blog, apesar das
falhas, foi positiva. A inserção do blog não causou medo ao professor nem aos
alunos, mas favoreceu a construção de conhecimentos de forma colaborativa, a
partir de discussões em classe. Dessa forma, o blog se constituiu como fonte de
informação e comunicação para educadores e educandos. Uma pesquisa foi então
realizada para saber a opinião dos alunos a respeito do blog. Dos vinte e nove
alunos, doze consideraram “bons”, nove “ótimos”, sete “regulares” e um “ruim”.
Finalizamos, então, com a palavra do professor, para sabermos se essa experiência
foi realmente positiva e se ela poderia ter continuidade: “Tenho certeza que sim.
Todas as turmas deveriam ter um blog. Potencializa o trabalho do professor e
contribui imensamente para o processo de ensino-aprendizagem.”
49. 48
CAPÍTULO 6 – “Sua postagem foi publicada”
A Internet está cada vez mais presente no cotidiano dos alunos, e eles a utilizam
como um meio de comunicação, entretenimento e pesquisa, por isso é visível a
necessidade de transformar a Internet num recurso didático. Partindo desse objetivo,
utilizamo-nos do blog por seu uso estar em constante crescimento.
Como leitores, observamos que o blog estimula a liberdade de expressão, desde
comentários “sem fundamento” a críticas fundamentadas e construtivas, criando um
espaço de discussão sobre os temas propostos pelo criador do blog. Além de ser um
espaço de debate, ele apresenta recursos de multimídia que tornam os assuntos
mais interativos e interessantes. Por essas características notamos que o blog se
enquadra no ensino-aprendizagem de uma Geografia crítica.
A nossa pesquisa mostra a dificuldade de implantação do blog como recurso
didático, mas, da mesma forma, traz resultados de potencialização do ensino da
Geografia como foi constatado em nossa pesquisa, pois o blog proporcionou a
muitos alunos a visão de uma Geografia presente em seu cotidiano.
Ao avaliar o funcionamento do blog no período de um mês, notamos grande
interesse dos alunos em “descobrir” o blog como ferramenta didática. Mesmo com
poucos comentários feitos em relação aos posts, os alunos nunca deixaram de
acessá-lo. De fato, eles não utilizaram este espaço para expressar seus
pensamentos, mas debatiam os assuntos postados no blog com o professor em sala
de aula. Assim o blog também estimulou a criticidade dos alunos e a criação
colaborativa de conhecimentos.
A partir da elaboração do projeto “Por uma Geografia mais literária” averiguamos,
também, que o blog não só beneficiou a Geografia escolar, mas possibilitou a
interdisciplinaridade. Os alunos tiveram de usar a criatividade e o conhecimento para
elaborar uma crônica, música ou poema usando o tema Globalização, e isso os
motivou a estudarem o tema.
O blog proporcionou a aprendizagem autônoma a partir da verificação de que uma
maior quantidade de alunos passou a pesquisar assuntos referentes à Geografia
fora do âmbito escolar.
50. 49
Com a pesquisa constatamos que o trabalho com o blog oferece aos alunos uma
intensificação de discussões além dos conteúdos programados pelo professor em
sala de aula. O blog torna o ensino mais dinâmico, participativo e autônomo. Além
disso, o blog oferece a participação coletiva, mas para que isso ocorra é necessário
dar aos alunos maior liberdade de expressão. No entanto, o uso do blog, demanda
mudanças no perfil do professor a partir do momento em que ele passa a ser mais
um orientador.
51. 50
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2010.
53. 52
GLOSSÁRIO
BLOG – Página de internet com características de diário, atualizada regularmente.
Em português: blogue.
BLOGOSFERA – A blogosfera é o nome dado a rede social formada por blogs
interconectados. Termos alternativos de utilização menos corrente: “blogoespaço”,
“bloguiverso”.
BLOGUEIRO – O mesmo que bloguista. Nome dado aos autores de blog.
BLOGTOPIA – O uso dos blogs como fonte de publicação de utopias.
FOTOLOG – Um blog onde os posts são fotos.
GADGET – Um pequeno software que apresenta uma função específica.
HACKERS – Pessoas que elaboram e modificam software e hardware de
computadores.
HIPERTEXTO – É um texto digital que apresenta palavras, fotos, vídeos, sons, os
quais são acessados por meio de links.
LINK – É uma palavra, texto, imagem ou expressão que permite acesso imediato a
um conteúdo.
POST – É um registro de qualquer tipo informação.
TEMPLATE – É a apresentação visual de uma página na Internet ou, simplesmente,
um modelo de documento.
VIDEOLOG – Um blog onde os posts são vídeos.
WEBLOG – Nome anterior de blog.
54. 53
ANEXOS
ANEXO 1 – Primeiro questionário
QUESTIONÁRIO
1. Você é: homem ( ) ou mulher ( ), é da 8ª série, e tem _______ anos de idade.
2. Você tem acesso à internet?
Sim ( ) Não ( )
2.1 Se sim, onde mais acessa (colocar número de 1-4 em ordem do maior para o
menor). Caso não tenha acesso em algum deles, deixe em branco:
a) Casa ( )
b) Lan house ( )
c) Escola ( )
d) Outros ( )
3. Você tem blog?
Sim ( ) Qual: _________________________________ Não ( )
Obs1.: No Blog da Mariana (uma pessoa qualquer), ela descreve
uma viagem a Cuba. Quando você lê algo assim num blog, você
lembra-se da geografia da escola?
( ) sim ( ) não
4. Você acessa blog?
Sim ( ) Não ( )
4.1. Por qual motivo? (Coloque o que te motiva mais)
a) Curiosidade; ( )
b) Pesquisa escolar; ( )
c) Indicação de alguém; ( )
d) Outro motivo ________________________. ( )
Obs2.: Se a professora passasse um trabalho, você
gostaria de postá-lo no blog? ( ) sim ( ) não