1) O documento discute a presença de fascistas em uma manifestação recente e outros comportamentos fascizantes. 2) É mencionado que manifestantes rejeitaram adequadamente a presença de fascistas na manifestação. 3) O documento também aponta comportamentos autoritários em alguns grupos e partidos de esquerda que podem ser considerados fascizantes.
1. Os fascistas e os comportamentos fascizantes
Sumário
a) Sobre a presença de fascistas na manifestação de dia 21
b) Outros comportamentos fascizantes
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a) Sobre a presença de fascistas na manifestação de dia 21
1. Perante a tentativa de um grupo de fascistas de integrar uma
manifestação popular, a reação dos manifestantes foi adequada e
ponderada, ao afirmarem claramente o seu repúdio pela presença
dos energúmenos, para mais, munidos com os habituais instrumentos
materiais de agressão física. Aliás, faz parte da sua natureza, a
actuação em grupo, a paranóia pelas armas e os tiques militaristas;
2. Nada custa aceitar a sua interpenetração com os comandos
policiais e as altas estirpes do ministério da administração da
repressão que, poderão mesmo ter oferecido proteção aos animais
para eles gerarem factos políticos convenientes para apresentação
nos telejornais hierarquicamente supervisionados por von Relvas;
3. Diga-se, a propósito, que dias antes do dia 21, um elemento bafiento
que já foi PR - sempre ansioso de ter jornalistas obsequiosamente
sorvendo as suas palavras - havia referido que manifestações seguras
só as organizadas pelos sindicatos. E tem razão. Por isso há muito lhes
chamamos procissões;
4. A democracia é a sabedoria da tolerância, do respeito pelo outro,
sobretudo quando não tem opiniões semelhantes às nossas. Porém,
toda a tolerância tem os limites da dignidade que deve revestir a
nossa personalidade. Caso contrário, estaremos a adoptar
conscientemente, a bonomia inconsciente do boi a caminho do
matadouro;
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2. 5. Essa sabedoria ganha-se durante a vida e, tanto mais facilmente,
quando se é possuidor de princípios éticos, de uma panóplia de
valores inatacável. Para lidar com nazis e fascistas de vários
cambiantes é preciso utilizar sabedoria, sem ferir princípios éticos;
6. Há fascistas de vários cambiantes mas todos convergem no princípio
da exclusão do Outro. Uns, fazem-no definindo explicitamente o
Outro; que poderá ser o preto, o imigrante, o homossexual ou o
anarquista. Outros, preferem excluir pela negação, segregando o
que não aceita a omnisciência do partido, as Verdades reveladas
por gurus elevados à categoria de profetas, ou a autoridade de
esclerosadas hierarquias. Todos - independentemente da fraseologia
mais ou menos gongórica, exigente de leituras atentas de
catecismos ou da recitação de versículos para demonstrar erudição
- são excludentes, exclusivistas, ditatoriais, racistas ou nacionalistas
(que é outra forma de racismo, de exclusão do Outro);
7. Gente desta natureza, não faz parte de qualquer fórmula
democrática, por convicção doutrinária dos próprios ou, porque da
nossa parte, não podemos aceitar à nossa beira quem tem por
axioma a exclusão, o domínio, ou mesmo o extermínio dos
adversários. Aí termina a nossa tolerância e começa o activo
repúdio, com a utilização das formas e instrumentos adequados às
circunstâncias. Essa gente constitui a anti-democracia em acto.
8. O facto de os grupos fascistas não gostarem da “troika”, da dívida e
se preocuparem com questões ambientais tal como nós, que
relevância tem essa coincidência? Será admissível envergarmos um
abafo para nos distinguirmos de um fascista que está na praia sob o
sol de agosto? Teremos de nos abanar com um leque no inverno só
porque um fascista diz que está frio? Mais, será que a nossa
coerência pessoal e política precisa de ser colocada em
contraponto com ideários fascistas para nos olharmos no espelho e
nos aferirmos como anti-fascistas?
9. Respeitamos e compreendemos a posição filosófica de quem
entende poder haver diálogo – em condições muito especiais - com
fascistas mas, a actuação no terreno dificilmente é compativel com
esses nobres propósitos. Nem sempre a realidade concreta admite a
aplicação de princípios justos, em abstracto.
Cremos que não surtiria qualquer efeito, no passado dia 21, tentar
parlamentar com os energúmenos para se afastarem da
manifestação e por dois motivos.
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3. Primeiro, porque o seu próprio aspecto não era revelador de grandes
capacidades para o diálogo; e depois, porque a sua presença tinha
precisamente o objectivo de promover a desestabilização e conotar
os manifestantes com desordem. Chamberlain também procurou
apaziguar Hitler com os resultados que se conhecem. Aqui, em
Portugal, também Mário Soares procurou um acordo com Caetano
para uma transição pacífica do fascismo para um regime de
democracia de mercado e também se sabe como terminou o
regime fascista;
10. E por aqui ficariamos no capítulo da matilha de bestas que
apareceu na manifestação de dia 21 onde, por razões diversas não
pudemos comparecer. Mas há mais matéria para além da
intolerância fascista e da nossa intolerância para com eles.
b) Outros comportamentos fascizantes
11. Vamos em seguida proceder a algumas observações sobre os
comportamentos fascizantes de quem não se reconhece fascista - e
até goza da simpatia junto da multidão e dos movimentos populares
- mas que adopta atitudes que pouco se diferenciam dos que
assumidamente se apresentam como fascistas. E a ingenuidade ou,
a impreparação política de muitos, não lhes permite discernir que
fascista não tem, forçosamente, de coincidir com botas militares e
cabeças rapadas.
12. Os regimes de democracia de mercado vêm sendo transformados
gradualmente em ditaduras, onde tudo é decidido através da
rotação de gente não eleita – banqueiros, empresários e políticos,
bastas vezes também não eleitos como os casos do Álvaro que para
total imbecil lhe falta somente ter penas e os durões, os van repolhos,
os montis, os papademos e outros papas muito lestos na engorda
com as papas que lhes não demos.
13. Vem-se tornando relativamente claro que os regimes de democracia
de mercado vão caminhando lenta mas, decididamente para
fórmulas autoritárias e fascizantes de gestão social e política. Está em
marcha um novo tipo de fascismo (1) genocida e excludente da
grande massa das populações que não precisa de promover
necessariamente a ausência de eleições, estabelecer formalmente a
censura ou impedir as pessoas de criticar os governos. O novo
fascismo que está em implantação também não se vai revestir de
milícias de dementes como os aparecidos no dia 21, embora
momentaneamente, eles possam ser úteis. Todos os regimes de
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4. domínio da multidão se servem, quanto baste, de idiotas úteis, como
grupinhos de carecas, com os seus adereços típicos. As SA de Hitler
dirigidas pelo Ernst Roehm desempenharam um papel de arruaceiros
e provocadores, convenientes para a ascenção dos nazis ao poder
mas que foram eliminados quando Hitler se assegurou da fidelidade
da Wehrmacht.
14. O novo fascismo serve-se, naturalmente, de instituições
“democráticas” como as polícias várias e a tropa, no seu objectivo
de se segurar no poder e punir os recalcitrantes em o aceitar. Porém,
mais grave que isso é que a aceitação da nova situação se insinua
nos cérebros como uma capacidade invasiva assinalável, que anula
protestos e gera conformismos. Nada há de novo nisto, pois todos os
regimes políticos criaram, historicamente, fórmulas de tornar dóceis
os trabalhadores, no trabalho e no não-trabalho.
15. Mais difícil entre os grupos e movimentos alternativos bem como
entre militantes partidários da esquerda institucional é a verificação
ou a aceitação de que existem posturas fascizantes no seu seio, sob
várias formas e, em regra, com vocabulário democrático ou
socializante.
16. Em torno da Cimeira da NATO em Lisboa, em novembro de 2010 são
conhecidas as posições do PC de criminalização de um grupo
independente (PAGAN) que decidiu manifestar-se contra a NATO
sem ter de prestar vassalagem aquele partido. Essa criminalização
passou pela utilização da imprensa e pelo recurso ao aparelho de
Estado – queixa junto da polícia apresentada pela USL e orientação
operacional dada à polícia para conter e cercar os activistas anti-
NATO mantendo-os sob custódia durante a manifestação, como de
facto veio a acontecer. Este tema está, aliás, rodeado de episódios
pitorescos e reveladores. na altura divulgados (2);
17. Ainda no âmbito dos protestos contra a NATO, nenhum deputado na
AR deu relevo ao que se passou na manifestação, nem à prisão de
42 activistas durante mais de 24 horas, por terem efectuado uma
ação de desobediência civil contra a presença da NATO; esse
silêncio grita bem alto a conivência da “esquerda” institucional com
o poder, contra os direitos democráticos de manifestação se os
protagonistas não aceitarem a sua suserania;
18. Desde os primeiros passos da constituição da Plataforma 15 O foi
bem visível a presença de um grupo de provocadores - aureolados
com a realização da manifestação de 12 março - mas cujo
objectivo inicial foi anular o carácter internacional da manifestação
de outubro deslocando-o, como então foi dito, para a “agenda dos
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5. sindicatos”. Frustrado esse intento canalizaram as suas atenções no
sentido do aproveitamento da Plataforma e da ingenuidade de
muitos dos seus membros para a promoção de um objectivo
partidarizado e recuado – a auditoria cidadã à dívida;
19. Esse grupo designado por M12M, entretanto transformado num
género de empresa de eventos políticos, por conta da CGTP, tem
confessadamente boas relações com a polícia. Aliás, os seus
membros mostraram-se muito colaborantes em 15 outubro com a
polícia contra as centenas de manifestantes que ocuparam as
escadarias da AR. E, claro, tendo cumprido a sua missão, afastou-se,
logo no dia 16, da Plataforma 15 O, demonstrando claramente que
o seu objectivo não está na mobilização e na união contra o sistema
mas apenas contra o governo, para a contenção da contestação
no quadro dos partidos e das centrais sindicais. (3), (4), (5) e (6);
20. Os activistas da Plataforma 15 assistiram passivamente a uma
tentativa de saneamento político, protagonizada por membros ou
funcionários da dita empresa de eventos, contra adversários políticos
porque foram incapazes de perceber que no seu seio incorporavam
gente cujo comportamento transparecia totalmente o ideário anti-
democrático – agressão, calúnia, autoritarismo, nacionalismo,
provocação - com a procura do desvio das bandeiras do
movimento, para incorporação nos objectivos dos seus mandantes;
21. Mais recentemente, no âmbito do estreitamento da diversidade
dentro dos media, protagonizada pelo ministro Relvas, assistiram-se a
situações distintas no sentido da governamentalização da
informação.
• Foi saneado da Antena 1 um jornalista que “ousou” criticar o
regime angolano cujas relações com o gang PSD/PS são
excelentes. Criticar a ditadura angolana é atentar contra as
mafias portuguesas e daí o lamentável afastamento do jornalista
com quem nos solidarizamos;
• Simultaneamente foi também afastada da Antena 1 uma tal
Raquel Freire cuja linguagem vanguardista não agradava ao
Goebbels luso, Relvas. Sucede que na Convenção para a
Auditoria Cidadã, onde Raquel foi protagonista e representante
num recente encontro internacional, foi excluida o CADPP –
Comité para a Anulação da Dívida Pública Portuguesa porque
defende a suspensão do pagamento da dívida. O pluralismo
reinante na Convenção exclui tudo o que for contrário à posição
de renegociação da dívida, defendida pela “esquerda”
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6. institucional. Um dos membros do CADPP só conseguiu participar
na qualidade de tradutor.
Quem com ferros tenta matar pode queixar-se de ser com ferros
abatido?
22. Ora o debate sobre o fascismo não está a ser feito no seio dos
movimentos ou grupos anti-governamentais ou mesmo nos mais
radicais, anti-sistema. Gritar “fascismo nunca mais” tendo como
referência o regime de Salazar ou Caetano é demasiado curto e
não tem em consideração que o fascismo também tem evoluido
com o tempo, utiliza outra linguagem, outros métodos, procurando
demasiadas vezes incorporar temas simpáticos para a esquerda,
para os trabalhadores;
23. Outro aspecto da imaturidade da esquerda não institucional no
capítulo da prática política democrática prende-se com o consenso
enquanto fórmula delibrativa. O consenso une, concilia posições
divergentes visa a manutenção da unidade da multidão, a definição
de plataformas de harmonização em torno de assuntos concretos,
evitando a formação de minorias e a imposição da vontade de
maiorias que, tendencialmente, provocam cisões. E essas cisões
favorecem dois tipos de intersesses: os do poder cleptocrático e
proto-fascista ancorado nas democracias de mercado e os dos
grupos de iluminados detentores da Verdade com objectivos de
controlo da massa ignara, à qual competirá – nos seus catecismos -
seguir obedientemente a supremacia da vanguarda.
24. Ora em Portugal, as práticas democráticas têm escassas tradições.
Ocupa, históricamente cerca de 280 anos de Inquisição, 48 de
fascismo salazarento, seguidos do conservadorismo autoritário
instituido pelo golpe militar de novembro de 1975. Durante o periodo
de 1974/75 houve várias estruturas auto-gestionárias e de
democracia de base que foram esmagadas pelo rolo compressor do
poder PS/PSD aliado aos protagonistas do controlo social, CGTP/PCP.
E este lastro histórico de medo e obediência patriarcal pesa na
cultura do português médio.
25. Refira-se ainda o recente congresso da CGTP revela a contínua
fidelidade habitual ao modelo do controlo por parte do partido da
“classe operária”. Como é possível pretender que um partido com
442 mil votos nas eleições de 2011 – e muitos não serão decerto
trabalhadores activos – imponha um membro do seu comité central
como representante máximo de uma central sindical que se
pretende hegemónica e representante de 3.8 M de trabalhadores
por conta de outrém, 0.8 M por conta própria, 0.7 M de
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7. desempregados e 2.4 M de pensionistas? Trata-se da continuidade
da lógica vanguardista, da salvaguarda de um cego aparelho
burocrático ou da garantia da continuação de um papel central – o
do controlo social – no âmbito de um capitalismo dependente e
frágil? Todas essas lógicas se fundem num mesmo sentido – o do
esmagamento de qualquer veleidade de auto-organização e
revolta da multidão.
26. Em suma, torna-se absolutamente necessário, para a multidão dos
trabalhadores, dos ex-trabalhadores, dos pobres e dos estudantes, a
construção de uma unidade de acção, baseada em objectivos
concretos, definidos democraticamente em consensos alargados,
desligados de ideologias castrantes, de lógicas organizativas
autoritárias; e contra o capitalismo, o seu governo, em demarcação
clara face à esclerose da “esquerda” institucional.
Dir-nos–ão que tal desiderato não é fácil e não é, de facto. Mas, a
alternativa é o agravamento da situação actual de
empobrecimento, de escravidão e genocídio. Como diz Ruy Barbosa
“Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter
lutado!”
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Notas
(1) http://www.slideshare.net/durgarrai/o-novo-fascismo-que-est-em-
marcha
(2) http://www.slideshare.net/durgarrai/a-misria-da-esquerda-que-
anda-por-a-um-case-study-a-cimeira-da-nato
(3) http://www.publico.pt/Sociedade/geracao-a-rasca-diz-que-
colabora-com-a-policia-como-acontece-em-qualquer-
manifestacao_1484330
(4) http://www.speakerscorner.org.pt/os-autoproclamados
(5) http://spectrum.weblog.com.pt/arquivo/2011/11/todos_infiltrad.ht
ml
(6) http://merdoze.wordpress.com/
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Este e outros textos em:
http://pt.scribd.com/documents#all?sort=date&sort_direction=ascendin
g&page=1
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