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INTERVENÇÃO DE TRIBUNA
EDUCAÇÃO ARTÍSTICA
Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma
dos Açores,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhora e Senhores Membros do Governo,

Brincar aos teatros, às danças, aos músicos ou aos pintores é tema
recorrente entre as crianças. Mas menos frequente é ver ou ouvir
reflexões, dos adultos, sobre a importância que essas brincadeiras
têm no desenvolvimento integral das nossas crianças e jovens.

O propósito que me traz, hoje, aqui à tribuna é fazer com que todos
reflictamos sobre a importância, cada vez mais urgente, da
Educação Artística proporcionada às nossas gerações mais novas.
Para tal vou recorrer e socorrer-me dos principais objectivos e
conclusões da Conferência Mundial de Educação Artística que
______________________________________________________________________
Educação Artística
Catarina Moniz Furtado
5 de Abril de 2006

1
decorreu no passado mês de Março, entre os dias 6 e 9 em Lisboa,
promovida pela UNESCO.

O primeiro destaque vai para a importância de tal evento ter
decorrido em Portugal que tinha como concorrentes a Coreia do Sul
e o Canadá, o que aconteceu após um longo processo negocial.
Segundo Manuela Galhardo, vice-presidente da Comissão Nacional
da UNESCO, na decisão para que fosse em Portugal terá pesado o
facto do nosso país ter entrado recentemente para o Conselho
Executivo da UNESCO.

O objectivo principal dessa reunião magna (representantes de 97
países marcaram presença) foi o de afirmar, de forma peremptória,
a necessidade de construir capacidades criativas nas novas gerações
do século XXI e estabelecer a importância da implementação da
Educação Artística em todas as sociedades. De salientar, ainda, o
particular enfoque dado à urgência de uma prática efectiva da
Educação Artística, para crianças e jovens provenientes de classes

______________________________________________________________________
Educação Artística
Catarina Moniz Furtado
5 de Abril de 2006

2
sociais mais desfavorecidas, como forma de integração social e de
desenvolvimento individual equilibrado.

Tal

evento

reveste-se

de

grande

interesse,

dado

que

paulatinamente todos os países vão reconhecendo a importância e a
urgência da implementação efectiva e a concretização de uma
prática pedagógica crescente, em termos de tempo lectivo, das
artes na Escola.

A primeira palavra que surge antes e depois dessa Conferência
Mundial é “direito”. Direito absoluto da criança, consagrado na
convenção dos direitos da criança, o direito delas participarem
plenamente na vida cultural e artística em condições de equidade.
Os maiores investigadores da matéria foram unânimes em afirmar
quer nas reuniões preparatórias que decorreram em cinco regiões
diferentes por todo o mundo, quer no topo das conclusões dos
trabalhos, que a Educação Artística é um

Direito do Homem,

expresso na respectiva declaração universal, a usufruir de todos os
meios que favoreçam o seu desenvolvimento.
______________________________________________________________________
Educação Artística
Catarina Moniz Furtado
5 de Abril de 2006

3
O Director Geral da UNESCO, no seu discurso de abertura, lembrou
aos participantes que “num mundo confrontado com novos
problemas à escala planetária, a criatividade, a imaginação e a
capacidade de adaptação, competências que são desenvolvidas pela
Educação

Artística,

tecnológicas

e

são

tão

cientificas

importantes

necessárias

como

para

as

mestrias

resolver

estes

problemas”. De salientar ainda, no mesmo discurso, que “a
Educação Artística pode e deve ser, muitas vezes, um instrumento
estimulador do enriquecimento educacional e do processo de
ensino-aprendizagem, tornando, assim, a aprendizagem mais
acessível e mais efectiva”.

O Professor António Damásio na sua nota de abertura na
Conferência, enfatizou o facto de ser perigoso o terreno em que nos
movemos ao situarmos o ensino das disciplinas científicas e da
matemática acima – vários degraus acima – das artes e das
humanidades. Segundo o Professor, “A tradição tem separado
cognição de emoção. Mas essa desconexão entre a parte cognitiva e
______________________________________________________________________
Educação Artística
Catarina Moniz Furtado
5 de Abril de 2006

4
a parte emocional pode gerar indivíduos não permeáveis às regras
da cidadania”, explicou, reforçando que “a matemática e a ciência
não fazem cidadãos”. Para ele a chave está “em fomentar a
criatividade, condição para a inovação tanto nas ciências como nas
artes. Einstein propôs uma incrível mistura de linguagens, ao falar
da beleza de uma equação matemática e, ao referir o sentido de
proporção, de precisão e de exactidão como pontos centrais na
linguagem artística”. Fez ainda questão de realçar que “as
disciplinas relacionadas com as artes não são um luxo mas sim uma
necessidade, porque além de contribuírem para a produção de
cidadãos capazes de inovar, são um elemento essencial no
desenvolvimento de capacidades emocionais, fundamentais para um
comportamento moral saudável”.

Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma
dos Açores,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhora e Senhores Membros do Governo,

______________________________________________________________________
Educação Artística
Catarina Moniz Furtado
5 de Abril de 2006

5
Naquela conferência debateram-se temas como a importância
indiscutível das artes enquanto parte integrante do sistema
educativo, o seu papel na preservação da diversidade cultural, a
convicção de que os processos artísticos permitem cultivar a
criatividade, a iniciativa, a inteligência emocional, os valores morais,
a autonomia e o espírito crítico e, por fim, a definição do que é a
qualidade – e não somente a acessibilidade – do ensino. Estes
temas constituíram os restantes pontos em destaque no documento
indicador do consenso a que se chegou no fim dos trabalhos
realizados em Lisboa.

Como se pode inferir do exposto até aqui, o debate centrou-se na
necessidade de mudar o rumo da educação, orientada sobretudo
para a competitividade e para o conhecimento tecnológico num
mundo cada vez mais crivado de diferenças sociais e de conflitos
geopolíticos, onde o conceito de tolerância e criatividade talvez
devessem estar na primeira linha de qualquer pedagogia.

______________________________________________________________________
Educação Artística
Catarina Moniz Furtado
5 de Abril de 2006

6
Para

terminar

essa

primeira

abordagem

centrada,

pelos

intervenientes aqui citados, na necessidade cada vez mais urgente
de se educar cidadãos que sejam capazes de se desenvolverem de
forma equilibrada, racional e emocionalmente, podendo tal equilíbrio
ser alcançado através da Educação Artística, citarei, ainda, as
palavras proferidas pelo Professor Emílio Rui Vilar, presidente do
Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian que,
baseado nas ideias filosóficas de Platão, relembrou os presentes
“que a concepção de sociedade implica não só uma busca para a
verdade, a abundância e o bom, mas é também baseada na
perseguição da beleza e do prazer. Num tempo em que o consumo
cultural está a tornar-se vulgar e, os limites da arte, decoração e
divertimento se estão a esbater, o pensamento crítico é mais preciso
do que nunca. Nesse contexto, o desenvolvimento sustentado
requer um envolvimento, simultâneo, de todas as dimensões da
sociedade e para tal, a criatividade e a identificação precoce dos
talentos é crucial”

______________________________________________________________________
Educação Artística
Catarina Moniz Furtado
5 de Abril de 2006

7
Na conclusão do relatório da Conferência Mundial sobre a Educação
Artística pode ler-se que se torna urgente criar linhas prioritárias de
acção imediata, e fazer emergir temas com maior relevância para
serem reflectidos e esclarecidos com mais profundidade. Destacamse o Papel das Artes na Sociedade, Criatividade e Imaginação,
Definição da Educação Artística abrangendo a Herança Cultural e, a
Co-Existência das formas de Arte Tradicional e Contemporânea.

Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma
dos Açores,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhora e Senhores Membros do Governo,

Não basta interiorizarmos o que de mais relevante foi abordado
durante

os

trabalhos

que

decorreram

em

Lisboa,

importa

reflectirmos até que ponto podemos adiantarmo-nos nesses temas
que estiveram em debate. Apesar da nossa Região ter vivido longe
durante demasiado tempo dos centros de debate das questões
artísticas, os Açores constituem um espaço privilegiado para
______________________________________________________________________
Educação Artística
Catarina Moniz Furtado
5 de Abril de 2006

8
funcionar como laboratório. E, sendo reconhecidamente uma Região
que propicia a criatividade e aguça o espírito pelo seu isolamento
geográfico, saibamos então, agora, tirar partido da globalização,
que também nos abrange, e debatamos entre nós, experimentemos
até, estes conceitos, que não sendo novos, se impõem às
sociedades modernas.

Urge experimentarmos políticas educativas que misturem novas
pedagogias, resultantes de uma conexão entre a Educação Artística
e a Inclusão Cultural, e que fomentem o desenvolvimento da
Cidadania. Assim, conseguiremos incutir maior espírito crítico aos
nossos jovens, maior e melhor conhecimento da sua herança
cultural e despoletar o interesse e a curiosidade pela fruição e
criação cultural que caracteriza o século XXI, através de uma
aprendizagem que, podendo ser lúdica, será decerto proveitosa e
eficaz.

Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma
dos Açores,
______________________________________________________________________
Educação Artística
Catarina Moniz Furtado
5 de Abril de 2006

9
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhora e Senhores Membros do Governo,

Ensinar artes ou ensinar pelas artes é muito mais do que brincar, é
sobretudo transmitir, através da linguagem corporal e estética,
saberes. Quer queiramos quer não, a linguagem corporal, seja pela
voz, pelos gestos, pelos sons, pelo que sai das mãos, tudo o que
vem de dentro de cada um de nós para fora através do corpo,
mesmo em silêncio, é a linguagem que todos dominamos melhor
desde crianças e que exprime, inequivocamente, aquilo que cada
um vivenciou. Pensar a melhor forma de educar essas vivências,
transmitir esses saberes e ensinar o gosto pelo belo é um dever que
cabe a todos e a cada um de nós.
Disse.
Horta, sala das sessões, 5 de Abril de 2006

A Deputada Regional

Catarina Furtado
______________________________________________________________________
Educação Artística
Catarina Moniz Furtado
5 de Abril de 2006

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  • 1. INTERVENÇÃO DE TRIBUNA EDUCAÇÃO ARTÍSTICA Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Senhoras e Senhores Deputados, Senhora e Senhores Membros do Governo, Brincar aos teatros, às danças, aos músicos ou aos pintores é tema recorrente entre as crianças. Mas menos frequente é ver ou ouvir reflexões, dos adultos, sobre a importância que essas brincadeiras têm no desenvolvimento integral das nossas crianças e jovens. O propósito que me traz, hoje, aqui à tribuna é fazer com que todos reflictamos sobre a importância, cada vez mais urgente, da Educação Artística proporcionada às nossas gerações mais novas. Para tal vou recorrer e socorrer-me dos principais objectivos e conclusões da Conferência Mundial de Educação Artística que ______________________________________________________________________ Educação Artística Catarina Moniz Furtado 5 de Abril de 2006 1
  • 2. decorreu no passado mês de Março, entre os dias 6 e 9 em Lisboa, promovida pela UNESCO. O primeiro destaque vai para a importância de tal evento ter decorrido em Portugal que tinha como concorrentes a Coreia do Sul e o Canadá, o que aconteceu após um longo processo negocial. Segundo Manuela Galhardo, vice-presidente da Comissão Nacional da UNESCO, na decisão para que fosse em Portugal terá pesado o facto do nosso país ter entrado recentemente para o Conselho Executivo da UNESCO. O objectivo principal dessa reunião magna (representantes de 97 países marcaram presença) foi o de afirmar, de forma peremptória, a necessidade de construir capacidades criativas nas novas gerações do século XXI e estabelecer a importância da implementação da Educação Artística em todas as sociedades. De salientar, ainda, o particular enfoque dado à urgência de uma prática efectiva da Educação Artística, para crianças e jovens provenientes de classes ______________________________________________________________________ Educação Artística Catarina Moniz Furtado 5 de Abril de 2006 2
  • 3. sociais mais desfavorecidas, como forma de integração social e de desenvolvimento individual equilibrado. Tal evento reveste-se de grande interesse, dado que paulatinamente todos os países vão reconhecendo a importância e a urgência da implementação efectiva e a concretização de uma prática pedagógica crescente, em termos de tempo lectivo, das artes na Escola. A primeira palavra que surge antes e depois dessa Conferência Mundial é “direito”. Direito absoluto da criança, consagrado na convenção dos direitos da criança, o direito delas participarem plenamente na vida cultural e artística em condições de equidade. Os maiores investigadores da matéria foram unânimes em afirmar quer nas reuniões preparatórias que decorreram em cinco regiões diferentes por todo o mundo, quer no topo das conclusões dos trabalhos, que a Educação Artística é um Direito do Homem, expresso na respectiva declaração universal, a usufruir de todos os meios que favoreçam o seu desenvolvimento. ______________________________________________________________________ Educação Artística Catarina Moniz Furtado 5 de Abril de 2006 3
  • 4. O Director Geral da UNESCO, no seu discurso de abertura, lembrou aos participantes que “num mundo confrontado com novos problemas à escala planetária, a criatividade, a imaginação e a capacidade de adaptação, competências que são desenvolvidas pela Educação Artística, tecnológicas e são tão cientificas importantes necessárias como para as mestrias resolver estes problemas”. De salientar ainda, no mesmo discurso, que “a Educação Artística pode e deve ser, muitas vezes, um instrumento estimulador do enriquecimento educacional e do processo de ensino-aprendizagem, tornando, assim, a aprendizagem mais acessível e mais efectiva”. O Professor António Damásio na sua nota de abertura na Conferência, enfatizou o facto de ser perigoso o terreno em que nos movemos ao situarmos o ensino das disciplinas científicas e da matemática acima – vários degraus acima – das artes e das humanidades. Segundo o Professor, “A tradição tem separado cognição de emoção. Mas essa desconexão entre a parte cognitiva e ______________________________________________________________________ Educação Artística Catarina Moniz Furtado 5 de Abril de 2006 4
  • 5. a parte emocional pode gerar indivíduos não permeáveis às regras da cidadania”, explicou, reforçando que “a matemática e a ciência não fazem cidadãos”. Para ele a chave está “em fomentar a criatividade, condição para a inovação tanto nas ciências como nas artes. Einstein propôs uma incrível mistura de linguagens, ao falar da beleza de uma equação matemática e, ao referir o sentido de proporção, de precisão e de exactidão como pontos centrais na linguagem artística”. Fez ainda questão de realçar que “as disciplinas relacionadas com as artes não são um luxo mas sim uma necessidade, porque além de contribuírem para a produção de cidadãos capazes de inovar, são um elemento essencial no desenvolvimento de capacidades emocionais, fundamentais para um comportamento moral saudável”. Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Senhoras e Senhores Deputados, Senhora e Senhores Membros do Governo, ______________________________________________________________________ Educação Artística Catarina Moniz Furtado 5 de Abril de 2006 5
  • 6. Naquela conferência debateram-se temas como a importância indiscutível das artes enquanto parte integrante do sistema educativo, o seu papel na preservação da diversidade cultural, a convicção de que os processos artísticos permitem cultivar a criatividade, a iniciativa, a inteligência emocional, os valores morais, a autonomia e o espírito crítico e, por fim, a definição do que é a qualidade – e não somente a acessibilidade – do ensino. Estes temas constituíram os restantes pontos em destaque no documento indicador do consenso a que se chegou no fim dos trabalhos realizados em Lisboa. Como se pode inferir do exposto até aqui, o debate centrou-se na necessidade de mudar o rumo da educação, orientada sobretudo para a competitividade e para o conhecimento tecnológico num mundo cada vez mais crivado de diferenças sociais e de conflitos geopolíticos, onde o conceito de tolerância e criatividade talvez devessem estar na primeira linha de qualquer pedagogia. ______________________________________________________________________ Educação Artística Catarina Moniz Furtado 5 de Abril de 2006 6
  • 7. Para terminar essa primeira abordagem centrada, pelos intervenientes aqui citados, na necessidade cada vez mais urgente de se educar cidadãos que sejam capazes de se desenvolverem de forma equilibrada, racional e emocionalmente, podendo tal equilíbrio ser alcançado através da Educação Artística, citarei, ainda, as palavras proferidas pelo Professor Emílio Rui Vilar, presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian que, baseado nas ideias filosóficas de Platão, relembrou os presentes “que a concepção de sociedade implica não só uma busca para a verdade, a abundância e o bom, mas é também baseada na perseguição da beleza e do prazer. Num tempo em que o consumo cultural está a tornar-se vulgar e, os limites da arte, decoração e divertimento se estão a esbater, o pensamento crítico é mais preciso do que nunca. Nesse contexto, o desenvolvimento sustentado requer um envolvimento, simultâneo, de todas as dimensões da sociedade e para tal, a criatividade e a identificação precoce dos talentos é crucial” ______________________________________________________________________ Educação Artística Catarina Moniz Furtado 5 de Abril de 2006 7
  • 8. Na conclusão do relatório da Conferência Mundial sobre a Educação Artística pode ler-se que se torna urgente criar linhas prioritárias de acção imediata, e fazer emergir temas com maior relevância para serem reflectidos e esclarecidos com mais profundidade. Destacamse o Papel das Artes na Sociedade, Criatividade e Imaginação, Definição da Educação Artística abrangendo a Herança Cultural e, a Co-Existência das formas de Arte Tradicional e Contemporânea. Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Senhoras e Senhores Deputados, Senhora e Senhores Membros do Governo, Não basta interiorizarmos o que de mais relevante foi abordado durante os trabalhos que decorreram em Lisboa, importa reflectirmos até que ponto podemos adiantarmo-nos nesses temas que estiveram em debate. Apesar da nossa Região ter vivido longe durante demasiado tempo dos centros de debate das questões artísticas, os Açores constituem um espaço privilegiado para ______________________________________________________________________ Educação Artística Catarina Moniz Furtado 5 de Abril de 2006 8
  • 9. funcionar como laboratório. E, sendo reconhecidamente uma Região que propicia a criatividade e aguça o espírito pelo seu isolamento geográfico, saibamos então, agora, tirar partido da globalização, que também nos abrange, e debatamos entre nós, experimentemos até, estes conceitos, que não sendo novos, se impõem às sociedades modernas. Urge experimentarmos políticas educativas que misturem novas pedagogias, resultantes de uma conexão entre a Educação Artística e a Inclusão Cultural, e que fomentem o desenvolvimento da Cidadania. Assim, conseguiremos incutir maior espírito crítico aos nossos jovens, maior e melhor conhecimento da sua herança cultural e despoletar o interesse e a curiosidade pela fruição e criação cultural que caracteriza o século XXI, através de uma aprendizagem que, podendo ser lúdica, será decerto proveitosa e eficaz. Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, ______________________________________________________________________ Educação Artística Catarina Moniz Furtado 5 de Abril de 2006 9
  • 10. Senhoras e Senhores Deputados, Senhora e Senhores Membros do Governo, Ensinar artes ou ensinar pelas artes é muito mais do que brincar, é sobretudo transmitir, através da linguagem corporal e estética, saberes. Quer queiramos quer não, a linguagem corporal, seja pela voz, pelos gestos, pelos sons, pelo que sai das mãos, tudo o que vem de dentro de cada um de nós para fora através do corpo, mesmo em silêncio, é a linguagem que todos dominamos melhor desde crianças e que exprime, inequivocamente, aquilo que cada um vivenciou. Pensar a melhor forma de educar essas vivências, transmitir esses saberes e ensinar o gosto pelo belo é um dever que cabe a todos e a cada um de nós. Disse. Horta, sala das sessões, 5 de Abril de 2006 A Deputada Regional Catarina Furtado ______________________________________________________________________ Educação Artística Catarina Moniz Furtado 5 de Abril de 2006 10