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A IMAGEM FEMININA RETRATADA NO CONTO “A MOÇA TECELÔ 
Elenara Litz* 
Ângela da Rocha Rolla** 
RESUMO 
O presente estudo visa analisar as características femininas da personagem principal 
do conto “A Moça Tecelã” de Marina Colassanti. Através de pesquisa bibliográfica realizada 
sobre contos, personagem e feminismo, bem como a leitura do conto, foi permitido perceber 
os desejos e anseios da personagem central. Ela busca através de seu trabalho algo que a 
transporte para além de seu minúsculo mundo, levando embora os seus dias de solidão. O 
texto revela de modo envolvente o universo expresso através de um singelo tear e suas lãs 
coloridas que a moça utilizava para tecer e concretizar os seus sonhos. 
Palavras-Chave: Personagem, feminismo, criação, solidão, renovar. 
CONCEITO DE CONTO 
Como narrativa, o conto apresenta uma sucessão de acontecimentos geralmente 
associados a ações humanas que se organizam num espaço determinado de tempo e de uma 
determinada unidade de ação. O conto se caracteriza por ter em sua estrutura apenas uma 
unidade dramática, ou seja, os ingredientes da narrativa dirigem-se a um único foco 
dramático. 
No conto, realidade e ficção não têm limites. Não importa ver se há verdade ou 
falsidade nas palavras que estão dentro dele, o que permanece é a arte de inventar um modo 
de representar algo. Alguns textos têm essa intenção de registrar com mais fidelidade à 
vivência do ser humano ou ainda fantasiá-la como vemos no texto de Marina Colasanti “A 
Moça Tecelã”, em que a autora se utilizou de palavras permitindo que o texto tomasse forma
literária, estruturando-o de maneira que o leitor mergulhasse na leitura e se imaginasse dentro 
da história. 
CONCEITO DE PERSONAGEM 
Observando a personagem do conto “A Moça Tecelã” inserimos no contexto a figura da 
mulher e a sua busca, por meio do trabalho afastar os dias de solidão e dar um novo colorido a 
sua existência. Mas qual é a definição de personagem? Antes de prosseguir com o estudo é 
importante fazer uma breve análise sobre a importância do elemento personagem dentro da 
narrativa do texto. 
Personagem é a pessoa que figura em uma narração, poema ou acontecimento, obriga o 
leitor a encarar um relato de poema ou texto, como sendo fenômeno de uma mesma espécie, 
de uma mesma natureza (Brait: 2002 p.10). Em uma breve reflexão, destacamos dois aspectos 
fundamentais: o personagem não existe fora das palavras, eles representam pessoas, segundo 
modalidades próprias de ficção. Diante desses aspectos, a construção do texto é encarado 
frente a frente, de maneira que o autor deu forma as suas criaturas, e pinçando a 
independência, a autonomia e a vida do ser de ficção denominado personagem. 
Com essas observações é que se pode vasculhar a existência da personagem feminina 
enquanto representação de uma realidade exterior no texto de Marina Colasanti. 
O FEMINISMO 
Diante da vida familiar e social, e, diante de si mesma a mulher sofre um processo de 
perda de identidade. Esse destino insistente nos romances e nos contos tem sempre o mesmo 
resultado, as personagens, casadas, solteiras, mães, avós, escultoras, pintoras ou professoras, 
são figuras expostas ao fracasso e à frustração. Em busca de respostas à obsessiva pergunta 
“quem sou eu”? que atormenta quase todas elas que se projetam num espelho – homem –
visto como principal representante da ordem cultural na qual procuram inserir-se. A mulher 
reconhece no homem um ser superior que a pode conduzir e ensinar. Nesse contexto 
incluímos a figura da mulher, e observamos nela a procura de uma identidade feminina 
através dos tempos. É óbvio que tal procura foi espelhada e registrada pela produção literária 
de cada época, principalmente no decurso do pensamento mágico dos contos de fadas. 
Muitos teóricos, a partir de Freud, tentaram explicar questões complicadas, delicadas e 
contraditórias acerca da feminilidade, abordando matizes sociais, históricos, culturais e 
comportamentais que envolvem o universo feminino. A regra da literatura de autoria feminina 
mudará se a mulher retratar vivências resultantes não de reclusão ou repressão, mas a partir de 
uma vida de sua livre escolha, como temática, por exemplo, que se afaste das atividades 
tradicionalmente consideradas “domésticas e femininas” herdadas pela história, voltando-se 
para outros assuntos habitualmente não associados à mulher até hoje. A escrita de Marina 
Colassanti envolve e sensibiliza o leitor desde as suas reflexões sobre leitura, a mulher na 
literatura ou sobre a própria realidade. Ela transporta o leitor a terras distantes fazendo-o 
questionar as relações entre leitura, leitores, ficção e realidade. Faz um passeio pelas 
descobertas que fazem parte do cotidiano, pelas questões femininas fazendo sempre a escolha 
pela concisão inteligente, a que faz com que em poucas palavras tudo o que se pretende seja 
dito. O feminismo é um tema constante em suas obras como pode ser comprovado no conto 
“A Moça Tecelã”, que será alvo de uma análise mais profunda retratando os sonhos e anseios 
de uma moça através de seu constante trabalho de tecer. 
ANÁLISE DA PERSONAGEM FEMININA NO CONTO “A MOÇA TECELÔ 
A análise da obra, como manifestação psicológica nos dá uma teoria da personalidade 
humana, não uma crítica. No conto moderno de Marina Colassanti, o enfoque é dado à 
personagem feminina, a mulher presa aos afazeres domésticos, que busca a completude na 
companhia do marido. 
O método psicológico, portanto, mostra-se curioso de todas as evidências que possa 
recolher sobre a intimidade da personagem. O que conta é descrever uma estrutura psíquica 
real. A verdadeira crítica tende a descobrir os elementos formais da alma de um autor, não as 
suas opiniões nem seus sentimentos. Esta espécie de critica não se aprende. O dom crítico não
é mais do que a capacidade de ser sensível a eles. A crítica, portanto é uma exploração da 
zona profunda da alma, em busca da poesia metafísica, ou seja, o estudo do ser como um 
todo. Um determinado texto não se apóia em instrumentos lingüísticos. Nele, subtende-se 
uma ideologia, e para encontrar é necessário estudar os elementos e a maneira de como se 
estruturam e notar as suas relações com o contexto. Desse modo, pretende-se compreender a 
formação de idéias que estão escondidas no conto “A Moça Tecelã” de Marina Colassanti. 
O conto dirige-se ao público infantil, não é neutro nem inocente. Em lugar de conduzir a 
uma acomodação, investiga. No conto, a fantasia desmistifica o real, em vez de camuflá-lo. O 
imaginário é uma ferramenta convincente. Em sua riqueza e abertura há várias leituras, o 
conto dá ênfase entre algumas questões abordadas, à importância de se repensar o conceito de 
um relacionamento conjugal, bem como o relacionamento da personagem consigo mesma. 
Inicia com a personagem feminina sozinha, sentada em frente do tear, tecendo sua 
manhã, numa situação de equilíbrio, com todas as necessidades físicas e existenciais 
satisfeitas por ela própria, com a ajuda de um tear mágico. A moça até nesse momento era 
sujeito de sua vida, pensava que o pouco que possuía a fazia feliz. “Tecer era tudo o que 
fazia... tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha”. (Colassanti: 
1982, p.20). Através de seu tear mágico, tece então um homem para afastar a solidão de sua 
vida e alegrar os seus dias com filhos que porventura iriam ter. Mas a partir daí instala-se um 
desequilíbrio decorrente das exigências do marido, contradizendo os desejos da tecelã: ele 
obcecado pelo desejo de ter sempre mais, não contente com pouco, ela realizada no ser e no 
fazer. Em seu desejo de adquirir riqueza e descobrindo o poder mágico do tear, ela isola a 
esposa, obrigando-a a realizar os seus caprichos. Triste e frustrada, pois percebe que o seu 
desejo de companheirismo e amor não se concretiza, oprimida e vendo que nada do que havia 
sonhado torna-se realidade, ela nota que teceu a solidão mais amarga – estava sozinha mesmo 
estando ao seu lado o marido almejado. “E pela primeira vez pensou como seria bom estar 
sozinha de novo” (Colassanti: 1982, p.22). A idéia do casamento como fórmula de felicidade 
se acaba e atinge seu ponto máximo no trecho “tecia e entristecia” (Colassanti: 1982, p.22) 
quando o ato de tecer, agora ligado às vontades exclusas do esposo deixa de apresentar para 
ela um sentido de satisfação existencial. O retorno ao equilíbrio acontece e a moça percebe 
que o marido pode ser eliminado de sua vida. Decidida, retorna ao papel de sujeito: desfaz o 
tecido. No final, outra vez sozinha, a moça tece para si uma nova manhã.
Nesta narrativa, a autora questiona a alternativa imperativa do casamento, da família e 
permitindo a opção de sua personagem adentrar o processo de individualização, 
permanecendo sozinha, através de um comportamento de rebeldia, destruindo o parceiro. 
Manifesta o desejo de liberdade e independência, ressaltando, desta forma, uma personagem 
que, embora conscientemente incompleta e descontínua, possui a escolha de um “estar feliz” 
mesmo dispensando a companhia de um marido. 
Marina Colassanti, ela também uma – moça tecelã – tece seu texto habilmente, por meio 
de elementos lexicais, sintáticos e coesivos bem entrelaçados – ideologia e linguagem 
costurada de maneira indissolúvel. . 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFÍCAS
IMBERT, Enrique Anderson. “ Métodos de Crítica Literária”. Tradução de Eugênia 
Maria M. Madeira de Aguiar e Silva. Coimbra: Alemanha, 1971. 
GOTLIB, Nádia Battella. “Teoria do Conto” Ed. Ática - São Paulo – 2000. 
BRAIT, Beth. “A Personagem”. Ed. Ática – São Paulo - 2000 
COLASSANTI, Marina. “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”. Ed. Nórdica 
TTDA – 1982. 
Disponível em: www.germinaliteratura.com.br/literatura. Acessado em 15/05/2006.

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  • 1. A IMAGEM FEMININA RETRATADA NO CONTO “A MOÇA TECELÔ Elenara Litz* Ângela da Rocha Rolla** RESUMO O presente estudo visa analisar as características femininas da personagem principal do conto “A Moça Tecelã” de Marina Colassanti. Através de pesquisa bibliográfica realizada sobre contos, personagem e feminismo, bem como a leitura do conto, foi permitido perceber os desejos e anseios da personagem central. Ela busca através de seu trabalho algo que a transporte para além de seu minúsculo mundo, levando embora os seus dias de solidão. O texto revela de modo envolvente o universo expresso através de um singelo tear e suas lãs coloridas que a moça utilizava para tecer e concretizar os seus sonhos. Palavras-Chave: Personagem, feminismo, criação, solidão, renovar. CONCEITO DE CONTO Como narrativa, o conto apresenta uma sucessão de acontecimentos geralmente associados a ações humanas que se organizam num espaço determinado de tempo e de uma determinada unidade de ação. O conto se caracteriza por ter em sua estrutura apenas uma unidade dramática, ou seja, os ingredientes da narrativa dirigem-se a um único foco dramático. No conto, realidade e ficção não têm limites. Não importa ver se há verdade ou falsidade nas palavras que estão dentro dele, o que permanece é a arte de inventar um modo de representar algo. Alguns textos têm essa intenção de registrar com mais fidelidade à vivência do ser humano ou ainda fantasiá-la como vemos no texto de Marina Colasanti “A Moça Tecelã”, em que a autora se utilizou de palavras permitindo que o texto tomasse forma
  • 2. literária, estruturando-o de maneira que o leitor mergulhasse na leitura e se imaginasse dentro da história. CONCEITO DE PERSONAGEM Observando a personagem do conto “A Moça Tecelã” inserimos no contexto a figura da mulher e a sua busca, por meio do trabalho afastar os dias de solidão e dar um novo colorido a sua existência. Mas qual é a definição de personagem? Antes de prosseguir com o estudo é importante fazer uma breve análise sobre a importância do elemento personagem dentro da narrativa do texto. Personagem é a pessoa que figura em uma narração, poema ou acontecimento, obriga o leitor a encarar um relato de poema ou texto, como sendo fenômeno de uma mesma espécie, de uma mesma natureza (Brait: 2002 p.10). Em uma breve reflexão, destacamos dois aspectos fundamentais: o personagem não existe fora das palavras, eles representam pessoas, segundo modalidades próprias de ficção. Diante desses aspectos, a construção do texto é encarado frente a frente, de maneira que o autor deu forma as suas criaturas, e pinçando a independência, a autonomia e a vida do ser de ficção denominado personagem. Com essas observações é que se pode vasculhar a existência da personagem feminina enquanto representação de uma realidade exterior no texto de Marina Colasanti. O FEMINISMO Diante da vida familiar e social, e, diante de si mesma a mulher sofre um processo de perda de identidade. Esse destino insistente nos romances e nos contos tem sempre o mesmo resultado, as personagens, casadas, solteiras, mães, avós, escultoras, pintoras ou professoras, são figuras expostas ao fracasso e à frustração. Em busca de respostas à obsessiva pergunta “quem sou eu”? que atormenta quase todas elas que se projetam num espelho – homem –
  • 3. visto como principal representante da ordem cultural na qual procuram inserir-se. A mulher reconhece no homem um ser superior que a pode conduzir e ensinar. Nesse contexto incluímos a figura da mulher, e observamos nela a procura de uma identidade feminina através dos tempos. É óbvio que tal procura foi espelhada e registrada pela produção literária de cada época, principalmente no decurso do pensamento mágico dos contos de fadas. Muitos teóricos, a partir de Freud, tentaram explicar questões complicadas, delicadas e contraditórias acerca da feminilidade, abordando matizes sociais, históricos, culturais e comportamentais que envolvem o universo feminino. A regra da literatura de autoria feminina mudará se a mulher retratar vivências resultantes não de reclusão ou repressão, mas a partir de uma vida de sua livre escolha, como temática, por exemplo, que se afaste das atividades tradicionalmente consideradas “domésticas e femininas” herdadas pela história, voltando-se para outros assuntos habitualmente não associados à mulher até hoje. A escrita de Marina Colassanti envolve e sensibiliza o leitor desde as suas reflexões sobre leitura, a mulher na literatura ou sobre a própria realidade. Ela transporta o leitor a terras distantes fazendo-o questionar as relações entre leitura, leitores, ficção e realidade. Faz um passeio pelas descobertas que fazem parte do cotidiano, pelas questões femininas fazendo sempre a escolha pela concisão inteligente, a que faz com que em poucas palavras tudo o que se pretende seja dito. O feminismo é um tema constante em suas obras como pode ser comprovado no conto “A Moça Tecelã”, que será alvo de uma análise mais profunda retratando os sonhos e anseios de uma moça através de seu constante trabalho de tecer. ANÁLISE DA PERSONAGEM FEMININA NO CONTO “A MOÇA TECELÔ A análise da obra, como manifestação psicológica nos dá uma teoria da personalidade humana, não uma crítica. No conto moderno de Marina Colassanti, o enfoque é dado à personagem feminina, a mulher presa aos afazeres domésticos, que busca a completude na companhia do marido. O método psicológico, portanto, mostra-se curioso de todas as evidências que possa recolher sobre a intimidade da personagem. O que conta é descrever uma estrutura psíquica real. A verdadeira crítica tende a descobrir os elementos formais da alma de um autor, não as suas opiniões nem seus sentimentos. Esta espécie de critica não se aprende. O dom crítico não
  • 4. é mais do que a capacidade de ser sensível a eles. A crítica, portanto é uma exploração da zona profunda da alma, em busca da poesia metafísica, ou seja, o estudo do ser como um todo. Um determinado texto não se apóia em instrumentos lingüísticos. Nele, subtende-se uma ideologia, e para encontrar é necessário estudar os elementos e a maneira de como se estruturam e notar as suas relações com o contexto. Desse modo, pretende-se compreender a formação de idéias que estão escondidas no conto “A Moça Tecelã” de Marina Colassanti. O conto dirige-se ao público infantil, não é neutro nem inocente. Em lugar de conduzir a uma acomodação, investiga. No conto, a fantasia desmistifica o real, em vez de camuflá-lo. O imaginário é uma ferramenta convincente. Em sua riqueza e abertura há várias leituras, o conto dá ênfase entre algumas questões abordadas, à importância de se repensar o conceito de um relacionamento conjugal, bem como o relacionamento da personagem consigo mesma. Inicia com a personagem feminina sozinha, sentada em frente do tear, tecendo sua manhã, numa situação de equilíbrio, com todas as necessidades físicas e existenciais satisfeitas por ela própria, com a ajuda de um tear mágico. A moça até nesse momento era sujeito de sua vida, pensava que o pouco que possuía a fazia feliz. “Tecer era tudo o que fazia... tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha”. (Colassanti: 1982, p.20). Através de seu tear mágico, tece então um homem para afastar a solidão de sua vida e alegrar os seus dias com filhos que porventura iriam ter. Mas a partir daí instala-se um desequilíbrio decorrente das exigências do marido, contradizendo os desejos da tecelã: ele obcecado pelo desejo de ter sempre mais, não contente com pouco, ela realizada no ser e no fazer. Em seu desejo de adquirir riqueza e descobrindo o poder mágico do tear, ela isola a esposa, obrigando-a a realizar os seus caprichos. Triste e frustrada, pois percebe que o seu desejo de companheirismo e amor não se concretiza, oprimida e vendo que nada do que havia sonhado torna-se realidade, ela nota que teceu a solidão mais amarga – estava sozinha mesmo estando ao seu lado o marido almejado. “E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo” (Colassanti: 1982, p.22). A idéia do casamento como fórmula de felicidade se acaba e atinge seu ponto máximo no trecho “tecia e entristecia” (Colassanti: 1982, p.22) quando o ato de tecer, agora ligado às vontades exclusas do esposo deixa de apresentar para ela um sentido de satisfação existencial. O retorno ao equilíbrio acontece e a moça percebe que o marido pode ser eliminado de sua vida. Decidida, retorna ao papel de sujeito: desfaz o tecido. No final, outra vez sozinha, a moça tece para si uma nova manhã.
  • 5. Nesta narrativa, a autora questiona a alternativa imperativa do casamento, da família e permitindo a opção de sua personagem adentrar o processo de individualização, permanecendo sozinha, através de um comportamento de rebeldia, destruindo o parceiro. Manifesta o desejo de liberdade e independência, ressaltando, desta forma, uma personagem que, embora conscientemente incompleta e descontínua, possui a escolha de um “estar feliz” mesmo dispensando a companhia de um marido. Marina Colassanti, ela também uma – moça tecelã – tece seu texto habilmente, por meio de elementos lexicais, sintáticos e coesivos bem entrelaçados – ideologia e linguagem costurada de maneira indissolúvel. . REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFÍCAS
  • 6. IMBERT, Enrique Anderson. “ Métodos de Crítica Literária”. Tradução de Eugênia Maria M. Madeira de Aguiar e Silva. Coimbra: Alemanha, 1971. GOTLIB, Nádia Battella. “Teoria do Conto” Ed. Ática - São Paulo – 2000. BRAIT, Beth. “A Personagem”. Ed. Ática – São Paulo - 2000 COLASSANTI, Marina. “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”. Ed. Nórdica TTDA – 1982. Disponível em: www.germinaliteratura.com.br/literatura. Acessado em 15/05/2006.