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SENAC LAPA SCIPIÃO - 2015
LOURENÇO MUTARELLI
HISTÓRIA DO TEATRO
Prof. Daniel Gonzalez
Elitom de Souza Silva – TAD 22 – TÉCNICO EM ARTE DRAMÁTICA
LOURENÇO MUTARELLI E A HORA ERRADA
Lourenço Mutarelli nasceu em São Paulo, capital, no dia 16 de abril de 1964, o
ano do golpe. Em uma época de intenso movimento na política nacional, e o
início de uma era de trevas para artistas brasileiros, Lourenço viria futuramente
a se tornar um grande nome na arte de escrever e desenhar. Sua mãe, uma
simples empregada doméstica, seu pai, um delegado civil que trabalhou
diretamente com a repressão. Na visão do filho, seu pai não fez mais do que a
sua função pedia, afinal, um homem tem de se sujeitar à coisas que as vezes
não quer, mas por um objetivo maior. Nesta fala digna de Maquiavel, Mutarelli
explica ao jornalista Diego Assis, da revista Rolling Stones, em 2007, aquilo
que viria ser a “explicação de vida” para muitos de seus personagens.
Iniciou sua carreira nos Estúdios Maurício de Souza, trabalhando diretamente
com a adaptação dos quadrinhos da marca para o cinema; mas foi na gibiteca
de seu trabalho, lendo HQs contemporâneos, que ele encontrou sua verdadeira
marca na área das historinhas com balões.
Como quadrinista, nasceu numa época onde era muito novo para os grandes e
muito velho para os novos. Mas foi com seu humor destrutivo, onde o riso,
segundo ele, está sempre fora de registro, que ele galgou o sucesso e adquiriu
um número de seguidores e admiradores.
Foi aconselhado por sua mulher, Lucimar, que a sua área seria a literatura, e
que suas histórias repercutiriam muito mais nesse formato. Foi então que, com
O CHEIRO DO RALO (2002 - Devir), uma espécie de HQ sem imagens,
apenas com falas e linhas curtas, que Mutarelli iniciou uma fase de crescente
na sua carreira. Seu livro virou filme, com direção de Heitor Dhalia e Selton
Mello no elenco, junto com o próprio Mutarelli; assim como os que se seguiram:
Natimorto (livro de 2004, editora Companhia das Letras – filme de 2009, dir.:
Paulo Machline) e A Arte de Produzir Efeito Sem Causa (2008, editora
Companhia das Letras – filme QUANDO EU ERA VIVO, dir.: Marco Dutra).
Logo em seguida o autor decidiu entrar no mundo do teatro, sempre um grande
admirador do dramaturgo romeno Engène Ionesco (1909 - 1994), grande nome
do teatro do absurdo, Mutarelli se identificou na arte de escrever peças.
Muitos dos seus trabalhos são difíceis de encontrar hoje, embora seja um autor
recente. Uma de suas primeiras peças O Que Você Foi Quando Era Criança,
fala da vida de um palhaço que se sente deslocado ao deixar o circo onde
trabalha. Nesta obra, o seu personagem passa por uma crise existencial, e os
personagens centrais estão sempre em discutição sobre o tempo, espaço, a
vida e a morte.
Escreveu também uma web-série teatral para o projeto Teatro Para Alguém,
intitulada CORPO ESTRANHO, dirigida por Danilo Solferini e Donizeti
Mazonas.
Mas a peça que aqui teremos mais enfoque será NA HORA ERRADA (2014).
Em cartaz no ano de 2014, na cidade de São Paulo, teve a dramaturgia
assinada pelo próprio Lourenço Mutarelli, direção de Tomás Rezende e com os
atores Magali Biff e Zemanuel Piñero (1ª fase) e Luiz Damasceno (2ª fase) no
elenco.
A peça fez parte do projeto Teatro Mínimo da rede SESC de São Paulo, onde
os trabalhos seriam baseados essencialmente no trabalho de interpretação do
ator, trazendo textos de autores novos e consagrados, que tenham como foco
o trabalho de expressividade do Intérprete.
Na peça, acompanhamos a vida de um casal num futuro de grandes mudanças
políticas e sociais. O governo agora é unificado, e a pobreza é um grande
problema. Os personagens levam vidas miseráveis e precisam buscar uma
melhor forma para continuar vivendo. A mulher, Dolores, trabalha como
doméstica – podemos tirar daí uma relação direta com a vida do autor – e o
homem, Horácio, mais velho e cansado, decidiu aderir as ordens do novo
governo e entrou em um ramo desconhecido para sua esposa e para o público.
Conforme o tempo passa, o clima entre o casal começa a ficar mais pesado.
Os segredos do marido passam se tornam maiores e suas desculpas menos
convincentes. Afinal, até onde um homem pode ir para continuar vivendo e
gozando a vida em si. Em um depoimento ao diretor Tomás Rezende, Mutarelli
diz que a peça tem também uma questão muito existencial, do dia a dia, do
cotidiano, da vida de um casal, da vida de um homem na sociedade, dos
pactos que você tem que fazer. Em seguida ele cita seu pai de exemplo,
revelando assim sua “inspiração” para o personagem principal: “meu pai não
era um torturador político, ele era um policial civil, mas a tortura era praxe, era
parte do mecanismo, era normal. A grande diferença é que, na peça, o Horácio
não tem escolha, só se ele fosse um mártir e abrisse mão para fazer aquilo”.
Afinal, o que Horácio vivencia que passa a ser segredo até para sua esposa de
tantos anos? Por que um homem muda tão drasticamente ao se envolver em
um [novo] sistema?
Aos 21 anos, um evento ocorreu com Mutarelli que mudaria para sempre seu
modo de encarar a vida. Após ser surpreendido por amigos, que simulavam um
assalto, o autor desenvolveu algo que conhecemos como síndrome do pânico.
Por um bom tempo, tinha várias crises ao dia, chegando ao ponto de comer
apenas caqui mole e gelatina – alimentos de fácil deglutição –, emagrecendo
drasticamente. A vida passou a ser um constante alvo de reflexão e com ela a
sua profissão. Os personagens de Mutarelli, constantemente entram em
choque consigo mesmos, se perguntam sempre se aquilo que estão fazendo
para si e a sociedade é o certo. Seria o seu papel no mundo e na história algo
além do simples existir?
Segundo o autor, ao passar pela experiência do isolamento total pôde “tocar o
fundo do poço”; mas como em um bungee jumping, voltou rapidamente à
superfície. Lourenço (O Cheiro do Ralo), usava meios não tanto ortodoxos para
conseguir o que queria e vivenciou a maior tragédia da vida (a sua morte!) e
Horácio (A Hora Errada) não pode desfrutar do mesmo em sua estória na peça:
conheceu o fundo do poço, recuperou-se aliando-se ao sistema, e voltou ao
fundo do poço ao perder quem tanto prezava e amava, novamente o contato de
um personagem com o fim.
Lourenço Mutarelli é um velho-novo dramaturgo, e um grande escritor e artista.
Exemplo de que, começando do baixo, você garante respeito e se consagra no
temível mundo das artes. O quadrinho para ele possa não ser sua maior fonte
de renda, mas ainda sim é sua maior paixão, que move sua vida e o distancia a
cada dia do fim iminente que nós, simples mortais, e seus personagens, estão
sujeitos: a morte.
A Hora Errada
BIBLIOGRAFIA:
-Entrevista à Diego Assis, da Revista Rolling Stones, em março de 2007.
http://rollingstone.uol.com.br/edicao/6/lourenco-mutarelli-o-homem-que-
aprendeu-a-voar#imagem0
-http://www.devir.com.br/mutarelli/teatro.htm
-http://pt.wikipedia.org/wiki/Louren%C3%A7o_Mutarelli
Entrevistas:
- 2013 – A Máquina (TV Gazeta):
https://www.youtube.com/watch?v=phH8dDG6l5Q
- 2014 – Segundas Intenções:
https://www.youtube.com/watch?v=9nTmXY7cG7A
Foto:
-A HORA ERRADA - https://www.facebook.com/horaerrada

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Lourenço Mutarelli e A Hora Errada

  • 1. SENAC LAPA SCIPIÃO - 2015 LOURENÇO MUTARELLI HISTÓRIA DO TEATRO Prof. Daniel Gonzalez Elitom de Souza Silva – TAD 22 – TÉCNICO EM ARTE DRAMÁTICA
  • 2. LOURENÇO MUTARELLI E A HORA ERRADA Lourenço Mutarelli nasceu em São Paulo, capital, no dia 16 de abril de 1964, o ano do golpe. Em uma época de intenso movimento na política nacional, e o início de uma era de trevas para artistas brasileiros, Lourenço viria futuramente a se tornar um grande nome na arte de escrever e desenhar. Sua mãe, uma simples empregada doméstica, seu pai, um delegado civil que trabalhou diretamente com a repressão. Na visão do filho, seu pai não fez mais do que a sua função pedia, afinal, um homem tem de se sujeitar à coisas que as vezes não quer, mas por um objetivo maior. Nesta fala digna de Maquiavel, Mutarelli explica ao jornalista Diego Assis, da revista Rolling Stones, em 2007, aquilo que viria ser a “explicação de vida” para muitos de seus personagens. Iniciou sua carreira nos Estúdios Maurício de Souza, trabalhando diretamente com a adaptação dos quadrinhos da marca para o cinema; mas foi na gibiteca de seu trabalho, lendo HQs contemporâneos, que ele encontrou sua verdadeira marca na área das historinhas com balões. Como quadrinista, nasceu numa época onde era muito novo para os grandes e muito velho para os novos. Mas foi com seu humor destrutivo, onde o riso, segundo ele, está sempre fora de registro, que ele galgou o sucesso e adquiriu um número de seguidores e admiradores. Foi aconselhado por sua mulher, Lucimar, que a sua área seria a literatura, e que suas histórias repercutiriam muito mais nesse formato. Foi então que, com O CHEIRO DO RALO (2002 - Devir), uma espécie de HQ sem imagens, apenas com falas e linhas curtas, que Mutarelli iniciou uma fase de crescente na sua carreira. Seu livro virou filme, com direção de Heitor Dhalia e Selton Mello no elenco, junto com o próprio Mutarelli; assim como os que se seguiram: Natimorto (livro de 2004, editora Companhia das Letras – filme de 2009, dir.: Paulo Machline) e A Arte de Produzir Efeito Sem Causa (2008, editora Companhia das Letras – filme QUANDO EU ERA VIVO, dir.: Marco Dutra). Logo em seguida o autor decidiu entrar no mundo do teatro, sempre um grande admirador do dramaturgo romeno Engène Ionesco (1909 - 1994), grande nome do teatro do absurdo, Mutarelli se identificou na arte de escrever peças. Muitos dos seus trabalhos são difíceis de encontrar hoje, embora seja um autor recente. Uma de suas primeiras peças O Que Você Foi Quando Era Criança,
  • 3. fala da vida de um palhaço que se sente deslocado ao deixar o circo onde trabalha. Nesta obra, o seu personagem passa por uma crise existencial, e os personagens centrais estão sempre em discutição sobre o tempo, espaço, a vida e a morte. Escreveu também uma web-série teatral para o projeto Teatro Para Alguém, intitulada CORPO ESTRANHO, dirigida por Danilo Solferini e Donizeti Mazonas. Mas a peça que aqui teremos mais enfoque será NA HORA ERRADA (2014). Em cartaz no ano de 2014, na cidade de São Paulo, teve a dramaturgia assinada pelo próprio Lourenço Mutarelli, direção de Tomás Rezende e com os atores Magali Biff e Zemanuel Piñero (1ª fase) e Luiz Damasceno (2ª fase) no elenco. A peça fez parte do projeto Teatro Mínimo da rede SESC de São Paulo, onde os trabalhos seriam baseados essencialmente no trabalho de interpretação do ator, trazendo textos de autores novos e consagrados, que tenham como foco o trabalho de expressividade do Intérprete. Na peça, acompanhamos a vida de um casal num futuro de grandes mudanças políticas e sociais. O governo agora é unificado, e a pobreza é um grande problema. Os personagens levam vidas miseráveis e precisam buscar uma melhor forma para continuar vivendo. A mulher, Dolores, trabalha como doméstica – podemos tirar daí uma relação direta com a vida do autor – e o homem, Horácio, mais velho e cansado, decidiu aderir as ordens do novo governo e entrou em um ramo desconhecido para sua esposa e para o público. Conforme o tempo passa, o clima entre o casal começa a ficar mais pesado. Os segredos do marido passam se tornam maiores e suas desculpas menos convincentes. Afinal, até onde um homem pode ir para continuar vivendo e gozando a vida em si. Em um depoimento ao diretor Tomás Rezende, Mutarelli diz que a peça tem também uma questão muito existencial, do dia a dia, do cotidiano, da vida de um casal, da vida de um homem na sociedade, dos pactos que você tem que fazer. Em seguida ele cita seu pai de exemplo, revelando assim sua “inspiração” para o personagem principal: “meu pai não era um torturador político, ele era um policial civil, mas a tortura era praxe, era
  • 4. parte do mecanismo, era normal. A grande diferença é que, na peça, o Horácio não tem escolha, só se ele fosse um mártir e abrisse mão para fazer aquilo”. Afinal, o que Horácio vivencia que passa a ser segredo até para sua esposa de tantos anos? Por que um homem muda tão drasticamente ao se envolver em um [novo] sistema? Aos 21 anos, um evento ocorreu com Mutarelli que mudaria para sempre seu modo de encarar a vida. Após ser surpreendido por amigos, que simulavam um assalto, o autor desenvolveu algo que conhecemos como síndrome do pânico. Por um bom tempo, tinha várias crises ao dia, chegando ao ponto de comer apenas caqui mole e gelatina – alimentos de fácil deglutição –, emagrecendo drasticamente. A vida passou a ser um constante alvo de reflexão e com ela a sua profissão. Os personagens de Mutarelli, constantemente entram em choque consigo mesmos, se perguntam sempre se aquilo que estão fazendo para si e a sociedade é o certo. Seria o seu papel no mundo e na história algo além do simples existir? Segundo o autor, ao passar pela experiência do isolamento total pôde “tocar o fundo do poço”; mas como em um bungee jumping, voltou rapidamente à superfície. Lourenço (O Cheiro do Ralo), usava meios não tanto ortodoxos para conseguir o que queria e vivenciou a maior tragédia da vida (a sua morte!) e Horácio (A Hora Errada) não pode desfrutar do mesmo em sua estória na peça: conheceu o fundo do poço, recuperou-se aliando-se ao sistema, e voltou ao fundo do poço ao perder quem tanto prezava e amava, novamente o contato de um personagem com o fim. Lourenço Mutarelli é um velho-novo dramaturgo, e um grande escritor e artista. Exemplo de que, começando do baixo, você garante respeito e se consagra no temível mundo das artes. O quadrinho para ele possa não ser sua maior fonte de renda, mas ainda sim é sua maior paixão, que move sua vida e o distancia a cada dia do fim iminente que nós, simples mortais, e seus personagens, estão sujeitos: a morte.
  • 5. A Hora Errada BIBLIOGRAFIA: -Entrevista à Diego Assis, da Revista Rolling Stones, em março de 2007. http://rollingstone.uol.com.br/edicao/6/lourenco-mutarelli-o-homem-que- aprendeu-a-voar#imagem0 -http://www.devir.com.br/mutarelli/teatro.htm -http://pt.wikipedia.org/wiki/Louren%C3%A7o_Mutarelli Entrevistas: - 2013 – A Máquina (TV Gazeta): https://www.youtube.com/watch?v=phH8dDG6l5Q - 2014 – Segundas Intenções: https://www.youtube.com/watch?v=9nTmXY7cG7A Foto: -A HORA ERRADA - https://www.facebook.com/horaerrada