SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  2
Télécharger pour lire hors ligne
www.sitelovecraft.cjb.net de3103@yahoo.com.br
1
“A Coisa no Luar” ∗
— H.P. Lovecraft
Fonte: “A Tumba... e Outras Histórias”. Ed. Francisco Alves
ORGAN NÃO É um literato; na verdade, ele mal consegue falar inglês com algum grau de
coerência. É isso o que me faz estranhar as palavras que ele escreveu, embora outros tenham
gargalhado.
Ele estava sozinho na noite em que aconteceu. Subitamente uma vontade incontrolável de
escrever lhe assomou, e tomando a pena na mão ele escreveu o seguinte:
Meu nome é Howard Phillips. Vivo na Rua College, 66, em Providence, Rhode Island. A 24
de novembro de 1927 — pois não sei sequer em que ano estamos agora — adormeci e sonhei, e
desde então tem sido incapaz de despertar.
Meu sonho teve início num pântano úmido e atulhado de juncos que jazia sob um céu
cinzento de outono, com um desfiladeiro encapelado de rochas cobertas de liquens elevando-se ao
norte. Impelido por alguma motivação obscura, ascendi à uma fenda ou fissura nesse gigantesco
precipício, notando enquanto o fazia que as bocas negras de muitos buracos terríveis estendendo-se
de ambas as partes até as profundezas do platô de pedra.
Em vários pontos a passagem era coberta pelo chocalhar das partes superiores da fissura
estreita; esses lugares sendo excessivamente escuros, e proibindo a percepção de tais buracos que
possam ter existido ali. Em tal espaço escuro senti consciência de um singular acesso de pânico,
como se alguma sutil e incorpórea emanação do abismo estivesse engolindo meu espírito; mas a
escuridão era grande demais para que eu pudesse perceber a fonte de meu alarme.
Concluindo, emergi sobre um platô de rocha musgosa e solo pobre, iluminado por um pálido
luar que havia substituído o orbe moribundo do dia. Lançando meus olhos ao redor, não vi objeto
vivo; mas estava sensível a uma comoção muito peculiar que vinha muito abaixo de mim, entre os
sussurrantes vestígios do pântano pestilento que eu havia acabado de abandonar.
Depois de caminhar por uma certa distância, encontrei os trilhos enferrujados de uma
ferrovia de rua, e as placas comidas de cupins ainda seguravam o trole em boas condições.
Acompanhando esta linha, logo dei com um carro amarelo de vestíbulos de número 1852 — de um
tipo de dois vagões comum entre 1900 e 1910. Não estava tinindo, mas evidentemente preparado
para partir; o trole estando no fio e o freio aéreo de quando em vez pulsando abaixo do chão. Entrei
a bordo e olhei em vão pelo interruptor de luz — notando, enquanto o fazia, a ausência de
cabineiro, que assim implicavam a ausência do motorneiro. Então sentei-me num dos bancos
cruzados do veículo. Ouvi um farfalhar na grama esparsa à esquerda, e vi as formar escuras de dois
homens caminhando ao luar. Tinham os quepes de uma companhia ferroviária, e não pude duvidar
de que fossem o condutor e o motorneiro. Então um deles fungou com presteza singular, e elevou o
rosto para uivar para a lua. O outro caiu de quatro para correr na direção do carro. Levantei-me de
um salto e corri como louco para fora daquele carro e atravessei intermináveis léguas de platô até
que a exaustão me forçou a parar: fazendo isto não porque o condutor tivesse caído de quatro, mas
porque o rosto do motorneiro era um simples cone branco com um tentáculo vermelho como sangue
na ponta...
Eu estava ciente de que apenas sonhava, mas a própria consciência não me foi agradável.
Desde aquela noite pavorosa, tenho rezado apenas para despertar: isso não acontece!
Ao invés disso eu me encontro com um habitante deste terrível mundo dos sonhos! Aquela
primeira noite deu lugar à aurora, e caminhei sem rumo pelos pântanos solitários. Quando a noite
veio, eu ainda caminhava, esperando acordar. Mas subitamente abri caminho entre os juncos e vi à
∗
QUATRO FRAGMENTOS (Azathot, The Descendent, The Book, The Thing in the Moonlight): estes fragmentos
descobertos entre os papéis de Lovecraft são presumivelmente suas tentativas de se estabelecer em formas
rudimentares, preparando-se para expansão em histórias mais longas, alguns de seus sonhos. Nenhum deles jamais foi
aumentado. Chaves para as fontes de sonhos destes fragmentos podem ser encontradas em cartas escritas por Lovecraft.
M
www.sitelovecraft.cjb.net de3103@yahoo.com.br
2
minha frente o antigo bonde: e, a um lado, uma coisa com rosto em forma de conte levantava sua
cabeça e uivava estranhamente para o luar que se derramava!
Tem sido a mesma coisa todo dia. A noite sempre me leva àquele lugar de horror. Tenho
tentado não me mover com a chegada da noite, mas devo andar em meu sonambulismo, pois sempre
acordo com a coisa de terror uivando à minha frente na pálida luz do luar, e viro-me e fujo como
um louco.
Deus! Quando despertarei?
Foi isso o que Morgan escreveu. Eu iria à Rua College 66, em Providence, mas tenho medo
do que posso encontrar lá.
(1934)

Contenu connexe

Tendances

Noite na taverna
Noite na tavernaNoite na taverna
Noite na tavernabianca27vs
 
Noite na Taverna
Noite na TavernaNoite na Taverna
Noite na TavernaKauan_ts
 
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedo
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de AzevedoSlide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedo
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedoisaac88anjos
 
Tarde de poesia marcia portella
Tarde de poesia marcia portellaTarde de poesia marcia portella
Tarde de poesia marcia portellaLuzia Gabriele
 
Romantismo no Brasil - Segunda geração
Romantismo no Brasil - Segunda geraçãoRomantismo no Brasil - Segunda geração
Romantismo no Brasil - Segunda geraçãoDenise
 
2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do RomantismoGabriel Luck
 
Clarice Lispector - Geração de 1945
Clarice Lispector - Geração de 1945Clarice Lispector - Geração de 1945
Clarice Lispector - Geração de 1945Vinícius Fabreau
 
No mar - Poesia de Álvares de Azevedo
No mar - Poesia de Álvares de AzevedoNo mar - Poesia de Álvares de Azevedo
No mar - Poesia de Álvares de Azevedoescolaabtdai
 
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário Prof.ª Conceição ...
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário   Prof.ª Conceição ...Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário   Prof.ª Conceição ...
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário Prof.ª Conceição ...librarian
 
Alvares de azevedo lira dos vinte anos
Alvares de azevedo   lira dos vinte anosAlvares de azevedo   lira dos vinte anos
Alvares de azevedo lira dos vinte anosTulipa Zoá
 
Romantismo no brasil
Romantismo no brasilRomantismo no brasil
Romantismo no brasilAnjo da Luz
 
Slide segunda gerção do Romantismo- Ultrarromantismo
Slide segunda gerção do Romantismo- UltrarromantismoSlide segunda gerção do Romantismo- Ultrarromantismo
Slide segunda gerção do Romantismo- UltrarromantismoRichard Lincont
 
"Claro Enigma", de Carlos Drummond de Andrade - estudo
"Claro Enigma", de Carlos Drummond de Andrade - estudo"Claro Enigma", de Carlos Drummond de Andrade - estudo
"Claro Enigma", de Carlos Drummond de Andrade - estudorafabebum
 
O mistério de Marie Roget
O mistério de Marie RogetO mistério de Marie Roget
O mistério de Marie Rogetacheiotexto
 
Romantismo poesia - 2ª geração
Romantismo   poesia -  2ª geraçãoRomantismo   poesia -  2ª geração
Romantismo poesia - 2ª geraçãoLuciene Gomes
 

Tendances (20)

Noite na taverna
Noite na tavernaNoite na taverna
Noite na taverna
 
Noite na Taverna
Noite na TavernaNoite na Taverna
Noite na Taverna
 
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedo
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de AzevedoSlide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedo
Slide Lira dos 20 anos de Alvares de Azevedo
 
Ultrarromantismo
UltrarromantismoUltrarromantismo
Ultrarromantismo
 
Tarde de poesia marcia portella
Tarde de poesia marcia portellaTarde de poesia marcia portella
Tarde de poesia marcia portella
 
Romantismo no Brasil - Segunda geração
Romantismo no Brasil - Segunda geraçãoRomantismo no Brasil - Segunda geração
Romantismo no Brasil - Segunda geração
 
Romantismo no brasil
Romantismo no brasilRomantismo no brasil
Romantismo no brasil
 
2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo2ª Geração do Romantismo
2ª Geração do Romantismo
 
Clarice Lispector - Geração de 1945
Clarice Lispector - Geração de 1945Clarice Lispector - Geração de 1945
Clarice Lispector - Geração de 1945
 
7 faces
7 faces7 faces
7 faces
 
No mar - Poesia de Álvares de Azevedo
No mar - Poesia de Álvares de AzevedoNo mar - Poesia de Álvares de Azevedo
No mar - Poesia de Álvares de Azevedo
 
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário Prof.ª Conceição ...
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário   Prof.ª Conceição ...Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário   Prof.ª Conceição ...
Toma lá Poesia Folhetos de Promoção do Concurso Literário Prof.ª Conceição ...
 
Alvares de azevedo lira dos vinte anos
Alvares de azevedo   lira dos vinte anosAlvares de azevedo   lira dos vinte anos
Alvares de azevedo lira dos vinte anos
 
Exercícios cda
Exercícios cdaExercícios cda
Exercícios cda
 
Romantismo no brasil
Romantismo no brasilRomantismo no brasil
Romantismo no brasil
 
Slide segunda gerção do Romantismo- Ultrarromantismo
Slide segunda gerção do Romantismo- UltrarromantismoSlide segunda gerção do Romantismo- Ultrarromantismo
Slide segunda gerção do Romantismo- Ultrarromantismo
 
Alvares de azevedo
Alvares de azevedoAlvares de azevedo
Alvares de azevedo
 
"Claro Enigma", de Carlos Drummond de Andrade - estudo
"Claro Enigma", de Carlos Drummond de Andrade - estudo"Claro Enigma", de Carlos Drummond de Andrade - estudo
"Claro Enigma", de Carlos Drummond de Andrade - estudo
 
O mistério de Marie Roget
O mistério de Marie RogetO mistério de Marie Roget
O mistério de Marie Roget
 
Romantismo poesia - 2ª geração
Romantismo   poesia -  2ª geraçãoRomantismo   poesia -  2ª geração
Romantismo poesia - 2ª geração
 

En vedette

Tecnologia Industrial Básica e seus Mecanismos de Governança
Tecnologia Industrial Básica e seus Mecanismos de GovernançaTecnologia Industrial Básica e seus Mecanismos de Governança
Tecnologia Industrial Básica e seus Mecanismos de GovernançaSandra Milena Acosta
 
Retificação edital de teorias para o mestrado - sousa
Retificação   edital de teorias para o mestrado - sousaRetificação   edital de teorias para o mestrado - sousa
Retificação edital de teorias para o mestrado - sousacapacitacaoufcg
 
Charla padresmadres 4ºeso 2014 15..
Charla padresmadres 4ºeso 2014 15..Charla padresmadres 4ºeso 2014 15..
Charla padresmadres 4ºeso 2014 15..encarniesco
 
Estrategia de búsqueda en pubmed
Estrategia de búsqueda en pubmedEstrategia de búsqueda en pubmed
Estrategia de búsqueda en pubmedmalena2294
 
Clase 4 - Taller 10 (general)
Clase 4 - Taller 10 (general)Clase 4 - Taller 10 (general)
Clase 4 - Taller 10 (general)laurabernal1995
 
Presentación - Pokemon Shuffle
Presentación - Pokemon ShufflePresentación - Pokemon Shuffle
Presentación - Pokemon ShuffleMoiplu
 
Clase 11 - Taller 21 (grupo 1)
Clase 11 - Taller 21 (grupo 1)Clase 11 - Taller 21 (grupo 1)
Clase 11 - Taller 21 (grupo 1)laurabernal1995
 
Programas de la Sala Azul Fitness-Musculación
Programas de la Sala Azul Fitness-MusculaciónProgramas de la Sala Azul Fitness-Musculación
Programas de la Sala Azul Fitness-MusculaciónClub Deportivo Gaudem
 
Hin Mua Cauvele Horocauvele Hin Haale
Hin Mua Cauvele Horocauvele Hin HaaleHin Mua Cauvele Horocauvele Hin Haale
Hin Mua Cauvele Horocauvele Hin HaaleTayan Hini
 
Conversando sobre informativos empresariais
Conversando sobre informativos empresariaisConversando sobre informativos empresariais
Conversando sobre informativos empresariaisLaura Gris Mota
 
Conceptos web
Conceptos webConceptos web
Conceptos webjoselo423
 

En vedette (20)

Tipos de conexiones
Tipos de conexionesTipos de conexiones
Tipos de conexiones
 
Tecnologia Industrial Básica e seus Mecanismos de Governança
Tecnologia Industrial Básica e seus Mecanismos de GovernançaTecnologia Industrial Básica e seus Mecanismos de Governança
Tecnologia Industrial Básica e seus Mecanismos de Governança
 
Retificação edital de teorias para o mestrado - sousa
Retificação   edital de teorias para o mestrado - sousaRetificação   edital de teorias para o mestrado - sousa
Retificação edital de teorias para o mestrado - sousa
 
Sandra dudamel
Sandra dudamelSandra dudamel
Sandra dudamel
 
Charla padresmadres 4ºeso 2014 15..
Charla padresmadres 4ºeso 2014 15..Charla padresmadres 4ºeso 2014 15..
Charla padresmadres 4ºeso 2014 15..
 
CV EUROPASS_CITEFORMA
CV EUROPASS_CITEFORMACV EUROPASS_CITEFORMA
CV EUROPASS_CITEFORMA
 
Estrategia de búsqueda en pubmed
Estrategia de búsqueda en pubmedEstrategia de búsqueda en pubmed
Estrategia de búsqueda en pubmed
 
Evidências das BE do agrupamento 3º período - 2016
Evidências das BE do agrupamento 3º período - 2016Evidências das BE do agrupamento 3º período - 2016
Evidências das BE do agrupamento 3º período - 2016
 
Clase 4 - Taller 10 (general)
Clase 4 - Taller 10 (general)Clase 4 - Taller 10 (general)
Clase 4 - Taller 10 (general)
 
AppTax Social
AppTax SocialAppTax Social
AppTax Social
 
Presentación - Pokemon Shuffle
Presentación - Pokemon ShufflePresentación - Pokemon Shuffle
Presentación - Pokemon Shuffle
 
Clase 11 - Taller 21 (grupo 1)
Clase 11 - Taller 21 (grupo 1)Clase 11 - Taller 21 (grupo 1)
Clase 11 - Taller 21 (grupo 1)
 
Programas de la Sala Azul Fitness-Musculación
Programas de la Sala Azul Fitness-MusculaciónProgramas de la Sala Azul Fitness-Musculación
Programas de la Sala Azul Fitness-Musculación
 
LOS PLASTICOS
LOS PLASTICOSLOS PLASTICOS
LOS PLASTICOS
 
La Paloma
La PalomaLa Paloma
La Paloma
 
Hin Mua Cauvele Horocauvele Hin Haale
Hin Mua Cauvele Horocauvele Hin HaaleHin Mua Cauvele Horocauvele Hin Haale
Hin Mua Cauvele Horocauvele Hin Haale
 
Conversando sobre informativos empresariais
Conversando sobre informativos empresariaisConversando sobre informativos empresariais
Conversando sobre informativos empresariais
 
Virtualizacion
VirtualizacionVirtualizacion
Virtualizacion
 
Conceptos web
Conceptos webConceptos web
Conceptos web
 
H
HH
H
 

Similaire à H. p. lovecraft a coisa no luar

3029707 contos-franz-kafka
3029707 contos-franz-kafka3029707 contos-franz-kafka
3029707 contos-franz-kafkaEduardo Jorge
 
2ª fase Modernismo (1930-1945)
2ª fase Modernismo (1930-1945) 2ª fase Modernismo (1930-1945)
2ª fase Modernismo (1930-1945) Andriane Cursino
 
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].pptMODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].pptRildeniceSantos
 
Uma Casa na Escuridão
Uma Casa na EscuridãoUma Casa na Escuridão
Uma Casa na EscuridãoAna Tapadas
 
O guinéu da coxa
O guinéu da coxaO guinéu da coxa
O guinéu da coxaMorganauca
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeLeonardo Costa
 
Carlos Drummond de andrade
Carlos Drummond de andradeCarlos Drummond de andrade
Carlos Drummond de andradeAline Almeida
 
Literatura aula 16 - machado de assis
Literatura   aula 16 - machado de assisLiteratura   aula 16 - machado de assis
Literatura aula 16 - machado de assismfmpafatima
 
2°Tarefa-Lìngua Portuguesa
2°Tarefa-Lìngua Portuguesa2°Tarefa-Lìngua Portuguesa
2°Tarefa-Lìngua PortuguesaNatalia Salgado
 
Alvares de azevedo poemas malditos
Alvares de azevedo   poemas malditosAlvares de azevedo   poemas malditos
Alvares de azevedo poemas malditosTulipa Zoá
 
Lp e literatura brasileira
Lp e literatura brasileiraLp e literatura brasileira
Lp e literatura brasileiracavip
 
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdf
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdfa-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdf
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdfFrankyleneBarros
 
Drácula bram stoker
Drácula bram stokerDrácula bram stoker
Drácula bram stokerLP Maquinas
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeAdriana Masson
 
Visita de um Amigo
Visita de um AmigoVisita de um Amigo
Visita de um AmigoEditora EME
 
Adolfo caminha no país dos ianques
Adolfo caminha   no país dos ianquesAdolfo caminha   no país dos ianques
Adolfo caminha no país dos ianquesTulipa Zoá
 
A poesia de carlos drummond de andrade
A poesia de carlos drummond de andradeA poesia de carlos drummond de andrade
A poesia de carlos drummond de andradema.no.el.ne.ves
 
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesMonteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesTânia Sampaio
 

Similaire à H. p. lovecraft a coisa no luar (20)

3029707 contos-franz-kafka
3029707 contos-franz-kafka3029707 contos-franz-kafka
3029707 contos-franz-kafka
 
2ª fase Modernismo (1930-1945)
2ª fase Modernismo (1930-1945) 2ª fase Modernismo (1930-1945)
2ª fase Modernismo (1930-1945)
 
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].pptMODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
MODERNISMO 2 (7) [Salvo automaticamente].ppt
 
Agualusa 2
Agualusa 2Agualusa 2
Agualusa 2
 
Uma Casa na Escuridão
Uma Casa na EscuridãoUma Casa na Escuridão
Uma Casa na Escuridão
 
O guinéu da coxa
O guinéu da coxaO guinéu da coxa
O guinéu da coxa
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 
Carlos Drummond de andrade
Carlos Drummond de andradeCarlos Drummond de andrade
Carlos Drummond de andrade
 
Literatura aula 16 - machado de assis
Literatura   aula 16 - machado de assisLiteratura   aula 16 - machado de assis
Literatura aula 16 - machado de assis
 
2°Tarefa-Lìngua Portuguesa
2°Tarefa-Lìngua Portuguesa2°Tarefa-Lìngua Portuguesa
2°Tarefa-Lìngua Portuguesa
 
Alvares de azevedo poemas malditos
Alvares de azevedo   poemas malditosAlvares de azevedo   poemas malditos
Alvares de azevedo poemas malditos
 
Lp e literatura brasileira
Lp e literatura brasileiraLp e literatura brasileira
Lp e literatura brasileira
 
Poemas Malditos
Poemas MalditosPoemas Malditos
Poemas Malditos
 
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdf
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdfa-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdf
a-escrava-maria-firmina-dos-reis.pdf
 
Drácula bram stoker
Drácula bram stokerDrácula bram stoker
Drácula bram stoker
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 
Visita de um Amigo
Visita de um AmigoVisita de um Amigo
Visita de um Amigo
 
Adolfo caminha no país dos ianques
Adolfo caminha   no país dos ianquesAdolfo caminha   no país dos ianques
Adolfo caminha no país dos ianques
 
A poesia de carlos drummond de andrade
A poesia de carlos drummond de andradeA poesia de carlos drummond de andrade
A poesia de carlos drummond de andrade
 
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_PronomesMonteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
Monteiro lobato -_O_Colocador_de_Pronomes
 

H. p. lovecraft a coisa no luar

  • 1. www.sitelovecraft.cjb.net de3103@yahoo.com.br 1 “A Coisa no Luar” ∗ — H.P. Lovecraft Fonte: “A Tumba... e Outras Histórias”. Ed. Francisco Alves ORGAN NÃO É um literato; na verdade, ele mal consegue falar inglês com algum grau de coerência. É isso o que me faz estranhar as palavras que ele escreveu, embora outros tenham gargalhado. Ele estava sozinho na noite em que aconteceu. Subitamente uma vontade incontrolável de escrever lhe assomou, e tomando a pena na mão ele escreveu o seguinte: Meu nome é Howard Phillips. Vivo na Rua College, 66, em Providence, Rhode Island. A 24 de novembro de 1927 — pois não sei sequer em que ano estamos agora — adormeci e sonhei, e desde então tem sido incapaz de despertar. Meu sonho teve início num pântano úmido e atulhado de juncos que jazia sob um céu cinzento de outono, com um desfiladeiro encapelado de rochas cobertas de liquens elevando-se ao norte. Impelido por alguma motivação obscura, ascendi à uma fenda ou fissura nesse gigantesco precipício, notando enquanto o fazia que as bocas negras de muitos buracos terríveis estendendo-se de ambas as partes até as profundezas do platô de pedra. Em vários pontos a passagem era coberta pelo chocalhar das partes superiores da fissura estreita; esses lugares sendo excessivamente escuros, e proibindo a percepção de tais buracos que possam ter existido ali. Em tal espaço escuro senti consciência de um singular acesso de pânico, como se alguma sutil e incorpórea emanação do abismo estivesse engolindo meu espírito; mas a escuridão era grande demais para que eu pudesse perceber a fonte de meu alarme. Concluindo, emergi sobre um platô de rocha musgosa e solo pobre, iluminado por um pálido luar que havia substituído o orbe moribundo do dia. Lançando meus olhos ao redor, não vi objeto vivo; mas estava sensível a uma comoção muito peculiar que vinha muito abaixo de mim, entre os sussurrantes vestígios do pântano pestilento que eu havia acabado de abandonar. Depois de caminhar por uma certa distância, encontrei os trilhos enferrujados de uma ferrovia de rua, e as placas comidas de cupins ainda seguravam o trole em boas condições. Acompanhando esta linha, logo dei com um carro amarelo de vestíbulos de número 1852 — de um tipo de dois vagões comum entre 1900 e 1910. Não estava tinindo, mas evidentemente preparado para partir; o trole estando no fio e o freio aéreo de quando em vez pulsando abaixo do chão. Entrei a bordo e olhei em vão pelo interruptor de luz — notando, enquanto o fazia, a ausência de cabineiro, que assim implicavam a ausência do motorneiro. Então sentei-me num dos bancos cruzados do veículo. Ouvi um farfalhar na grama esparsa à esquerda, e vi as formar escuras de dois homens caminhando ao luar. Tinham os quepes de uma companhia ferroviária, e não pude duvidar de que fossem o condutor e o motorneiro. Então um deles fungou com presteza singular, e elevou o rosto para uivar para a lua. O outro caiu de quatro para correr na direção do carro. Levantei-me de um salto e corri como louco para fora daquele carro e atravessei intermináveis léguas de platô até que a exaustão me forçou a parar: fazendo isto não porque o condutor tivesse caído de quatro, mas porque o rosto do motorneiro era um simples cone branco com um tentáculo vermelho como sangue na ponta... Eu estava ciente de que apenas sonhava, mas a própria consciência não me foi agradável. Desde aquela noite pavorosa, tenho rezado apenas para despertar: isso não acontece! Ao invés disso eu me encontro com um habitante deste terrível mundo dos sonhos! Aquela primeira noite deu lugar à aurora, e caminhei sem rumo pelos pântanos solitários. Quando a noite veio, eu ainda caminhava, esperando acordar. Mas subitamente abri caminho entre os juncos e vi à ∗ QUATRO FRAGMENTOS (Azathot, The Descendent, The Book, The Thing in the Moonlight): estes fragmentos descobertos entre os papéis de Lovecraft são presumivelmente suas tentativas de se estabelecer em formas rudimentares, preparando-se para expansão em histórias mais longas, alguns de seus sonhos. Nenhum deles jamais foi aumentado. Chaves para as fontes de sonhos destes fragmentos podem ser encontradas em cartas escritas por Lovecraft. M
  • 2. www.sitelovecraft.cjb.net de3103@yahoo.com.br 2 minha frente o antigo bonde: e, a um lado, uma coisa com rosto em forma de conte levantava sua cabeça e uivava estranhamente para o luar que se derramava! Tem sido a mesma coisa todo dia. A noite sempre me leva àquele lugar de horror. Tenho tentado não me mover com a chegada da noite, mas devo andar em meu sonambulismo, pois sempre acordo com a coisa de terror uivando à minha frente na pálida luz do luar, e viro-me e fujo como um louco. Deus! Quando despertarei? Foi isso o que Morgan escreveu. Eu iria à Rua College 66, em Providence, mas tenho medo do que posso encontrar lá. (1934)