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Com a célula, a biologia descobriu seu átomo... Dessa forma,
  para caracterizar a vida, é essencial estudar a célula e analisar
  sua estrutura: escolher os denominadores comuns necessários
  para a vida de cada célula, assim como identificar diferenças
                                                                                                                             1
  associadas com o desempenho de funções especiais.
  — François Jacob, La logique du vivant: une histoire de l’hérédité
       (A Lógica da Vida: Uma História da Hereditariedade), 1970




Fundamentos da Bioquímica
1.1    Fundamentos celulares        2                                  (Fig. 1-1a). Elas incluem polímeros muito longos, cada
                                                                       um com sua sequência característica de subunidades,
1.2    Fundamentos químicos         11                                 sua estrutura tridimensional única e sua seleção alta-
                                                                       mente específica de parceiros de interação na célula.
1.3    Fundamentos físicos     19
                                                                       Sistemas para extrair, transformar e utilizar a
1.4    Fundamentos genéticos        27                                 energia do ambiente (Fig. 1-1b), permitindo aos orga-
                                                                       nismos construir e manter suas intrincadas estruturas,
1.5    Fundamentos evolutivos           29                             assim como realizar trabalho mecânico, químico, osmó-
                                                                       tico e elétrico, o que neutraliza a tendência de toda a
                                                                       matéria de decair para um estado mais desorganizado,

C
     erca de quinze bilhões de anos atrás, o universo surgiu
     como uma erupção cataclísmica de partículas subatô-               entrando assim em equilíbrio com seu ambiente.
     micas quentes e ricas em energia. Os elementos mais               Funções definidas para cada um dos componen-
simples (hidrogênio e hélio) se formaram em segundos. À                tes de um organismo e interações reguladas en-
medida que o universo se expandia e esfriava, o material               tre eles. Isto é válido não somente para as estruturas
condensava sob a influência da gravidade para formar es-               macroscópicas, como as folhas e os ramos ou corações
trelas. Algumas estrelas se tornaram enormes e explodiram              e pulmões, mas também para estruturas intracelulares
como supernovas, liberando a energia necessária para a fu-             microscópicas e compostos químicos individuais. A
são de núcleos atômicos mais simples em elementos mais                 interação entre os componentes químicos de um orga-
complexos. Desta maneira foram produzidos, no decurso de               nismo vivo é dinâmica; mudanças em um componen-
bilhões de anos, a própria Terra e os elementos químicos en-           te causam mudanças coordenadas ou compensatórias
contrados nela hoje. Cerca de quatro bilhões de anos atrás,            em outro, com o todo manifestando uma característica
surgiu a vida – micro-organismos simples com a capacida-               além daquelas de suas partes individuais. O conjunto de
de de extrair energia de compostos químicos e, mais tarde,             moléculas realiza um programa, cujo resultado final é a
da luz solar, que era usada por eles para produzir um vasto            reprodução e a autopreservação do conjunto de molé-
conjunto de biomoléculas mais complexas a partir dos ele-              culas – em resumo, vida.
mentos simples e compostos encontrados na superfície da
Terra.                                                                 Mecanismos para sentir e responder às altera-
                                                                       ções no seu ambiente, com ajustes constantes a es-
     A bioquímica questiona como as extraordinárias pro-
                                                                       sas mudanças por adaptações de sua química interna
priedades dos organismos vivos se originaram a partir de
                                                                       ou sua localização no ambiente.
milhares de biomoléculas diferentes. Quando estas molécu-
las são isoladas e examinadas individualmente, elas estão de           Capacidade de autorreplicação e automontagem
acordo com todas as leis físicas e químicas que descrevem o            precisas (Fig. 1-1c). Uma célula bacteriana isolada co-
comportamento da matéria inanimada – assim como todos                  locada em um meio nutritivo estéril pode dar origem,
os processos que ocorrem nos organismos vivos. O estudo                em 24 horas, a um bilhão de “filhas” idênticas. Cada
da bioquímica mostra como o conjunto de moléculas ina-                 célula contém milhares de moléculas diferentes, mui-
nimadas que constitui os organismos vivos interage para                tas extremamente complexas; mas cada bactéria é uma
manter e perpetuar a vida exclusivamente pelas leis físicas e          cópia fiel da original, sendo sua construção totalmente
químicas que regem o universo inanimado.                               direcionada a partir da informação contida no material
     Os organismos, no entanto, possuem atributos extra-               genético da célula original.
ordinários, propriedades que os distinguem de outros con-
                                                                       Capacidade de se alterar ao longo do tempo por
juntos de matéria. Quais são estas características peculiares
                                                                       evolução gradual. Os organismos alteram suas es-
dos organismos vivos?
                                                                       tratégias de vida herdadas, em graus muito pequenos,
      Um alto grau de complexidade química e organi-                   para sobreviver em condições novas. O resultado de
      zação microscópica. Milhares de moléculas diferen-               eras de evolução é uma enorme variedade de formas de
      tes formam as intrincadas estruturas celulares internas          vida, muito diferentes superficialmente (Fig. 1-2), mas
2     David L. Nelson & Michael M. Cox


                                                                        Neste capítulo introdutório é feito um resumo dos co-
                                                                   nhecimentos celulares, químicos, físicos e genéticos para
                                                                   a bioquímica e o importante princípio da evolução – o de-
                                                                   senvolvimento das propriedades das células vivas ao longo
                                                                   das gerações. À medida que você avançar na leitura do livro,
                                                                   perceberá a utilidade de retornar a este capítulo de tempos
                                                                   em tempos, para refrescar sua memória sobre esses conhe-
                                                                   cimentos básicos.


                                                                   1.1     Fundamentos celulares
                (a)                         (b)                    A unidade e a diversidade dos organismos se tornam apa-
                                                                   rentes mesmo no nível celular. Os menores organismos con-
                                                                   sistem em células isoladas e são microscópicos. Os organis-
                                                                   mos multicelulares maiores possuem muitos tipos celulares
                                                                   diferentes, os quais variam em tamanho, forma e função es-
                                                                   pecializada. Apesar dessas diferenças óbvias, todas as célu-
                                                                   las dos organismos, desde o mais simples ao mais complexo,
                                                                   compartilham determinadas propriedades fundamentais,
                                                                   que podem ser vistas no nível bioquímico.

                                                                   As células são as unidades estruturais e funcionais de
                                                                   todos os organismos vivos
                                                                   Todos os tipos de células compartilham determinadas ca-
                                                                   racterísticas estruturais (Fig. 1-3). A membrana plasmá-
                                                                   tica define o contorno da célula, separando seu conteúdo
                                  (c)                              do ambiente. Ela é composta por moléculas de lipídeos e
                                                                   proteínas que formam uma barreira fina, resistente, flexível
FIGURA 1-1 Algumas características da matéria viva. (a) A com-
plexidade microscópica e a organização são aparentes nesse corte
colorido de tecido muscular de vertebrado, visto ao microscópio
eletrônico. (b) Um falcão da campina capta nutrientes consumindo
uma ave menor. (c) A reprodução biológica ocorre com uma fide-
lidade quase perfeita.

    fundamentalmente relacionadas por sua ancestralidade
    compartilhada. Esta unidade fundamental dos organis-
    mos vivos se reflete na similaridade das sequências gê-
    nicas e nas estruturas proteicas.
     Apesar dessas propriedades comuns, e da unidade fun-
damental da vida que elas mostram, é difícil fazer generali-
zações sobre os organismos vivos. A Terra tem uma enorme
diversidade de organismos. A variação de habitats, das fon-
tes termais à tundra do Ártico, dos intestinos animais aos
dormitórios das universidades, se combina com uma ampla
variação de adaptações bioquímicas específicas, alcançadas
dentro de uma estrutura química comum. Neste livro, para
uma maior clareza às vezes são feitas determinadas genera-
lizações, as quais, embora não perfeitas, se mostram úteis;
também com frequência são apresentadas exceções, as
quais podem se mostrar esclarecedoras.
     A bioquímica descreve em termos moleculares as estru-         FIGURA 1-2 Diferentes organismos vivos compartilham caracte-
turas, os mecanismos e os processos químicos compartilha-          rísticas químicas comuns. Aves, animais selvagens, plantas e mi-
dos por todos os organismos e estabelece princípios de or-         cro-organismos do solo compartilham com os humanos as mesmas
                                                                   unidades estruturais básicas (células) e os mesmos tipos de macro-
ganização que são a base da vida em todas as suas diversas
                                                                   moléculas (DNA, RNA, proteínas) compostas dos mesmos tipos de
formas, princípios esses referidos como a lógica molecular
                                                                   subunidades monoméricas (nucleotídeos, aminoácidos). Eles uti-
da vida. Embora a bioquímica proporcione importantes in-
                                                                   lizam as mesmas vias para a síntese dos componentes celulares,
formações e aplicações práticas na medicina, na agricultura,       compartilham o mesmo código genético, e provêm dos mesmos
na nutrição e na indústria, sua preocupação final é com o          ancestrais evolutivos. Na figura é mostrado um detalhe do “Jardim
milagre da vida em si.                                             do Éden”, por Jan van Kessel Junior (1626-1679).
Princípios de Bioquímica de Lehninger   3


e hidrofóbica ao redor da célula. A membrana é uma barrei-               O volume interno envolto pela membrana plasmática, o
ra para a passagem livre de íons inorgânicos e para a maioria       citoplasma (Fig. 1-3), é composto por uma solução aquosa,
de outros compostos carregados ou polares. Proteínas de             o citosol, e uma grande variedade de partículas em sus-
transporte na membrana plasmática permitem a passagem               pensão com funções específicas. O citosol é uma solução
de determinados íons e moléculas; proteínas receptoras              altamente concentrada que contém enzimas e as moléculas
transmitem sinais para o interior da célula; e enzimas de           de RNA que as codificam; os componentes (aminoácidos e
membrana participam em algumas reações. Como os lipí-               nucleotídeos) que formam estas macromoléculas; centenas
deos individuais e as proteínas da membrana não estão co-           de moléculas orgânicas pequenas chamadas de metabóli-
valentemente ligados, toda a estrutura é extraordinariamen-         tos, intermediários em rotas biossintéticas e degradativas;
te flexível, permitindo mudanças na forma e no tamanho da           coenzimas, compostos essenciais em muitas reações catali-
célula. À medida que a célula cresce, novas moléculas de            sadas por enzimas; íons inorgânicos; e estruturas macromo-
proteínas e de lipídeos são inseridas na membrana plasmá-           leculares como os ribossomos, sítios de síntese proteica,
tica; a divisão celular produz duas células, cada uma com           e os proteassomos, que degradam proteínas que a célula
sua própria membrana. O crescimento e a divisão celular             não necessita mais.
(fissão) ocorrem sem perda da integridade da membrana.                   Todas as células possuem, pelo menos em alguma par-
                                                                    te de sua vida, ou um núcleo ou um nucleoide, onde o
                                                                    genoma – o conjunto completo de genes composto por
                  Núcleo (eucariotos) ou nucleoide                  DNA – é armazenado e replicado. O nucleoide, em bac-
                  (bactérias, arquibactérias)
                  Contém material genético – DNA e
                                                                    térias e em arquibactérias, não é separado do citoplasma
                  proteínas associadas. O núcleo é                  por uma membrana; o núcleo, nos eucariotos, consiste
                  circundado por uma membrana.                      no material nuclear envolto por uma membrana dupla, o
                                                                    envelope nuclear. As células com envelope nuclear com-
                          Membrana plasmática
                                                                    põem o grande grupo dos Eukarya (do grego eu,“verdade”,
                                Bicamada lipídica resistente,
                           flexível. Seletivamente permeável        e karyon, “núcleo”). Os micro-organismos sem envelope
                                 a substâncias polares. Inclui      nuclear, antigamente agrupados como procariotos (do
                                 proteínas de membrana que          grego pro, “antes”), são agora reconhecidos como perten-
                                         atuam no transporte,       centes a dois grupos muito diferentes, Bacteria e Archaea,
                                          na recepção de sinal
                                              e como enzimas.       descritos a seguir.

                                                                    As dimensões celulares são determinadas pela difusão
                                                                    A maioria das células é microscópica, invisível a olho nu.
                                                                    As células dos animais e das plantas têm um diâmetro de
                                                                    50 a 100 μm, e muitos micro-organismos têm comprimento
                                                                    de 1 a 2 μm (veja no verso da capa as informações sobre as
                                                                    unidades e suas abreviaturas). O que limita as dimensões de
                                                                    uma célula? O limite inferior provavelmente é determinado
                  Citoplasma                                        pelo número mínimo de cada tipo de biomolécula requerido
                  Conteúdo celular aquoso                           pela célula. As menores células, certas bactérias conhecidas
                  e partículas e organelas                          como micoplasmas, têm diâmetro de 300 nm e um volume
                  em suspensão.
                                                                    de cerca de 10-14 mL. Um único ribossomo bacteriano possui
                                                                    20 nm na sua dimensão mais longa, de forma que poucos
                        centrifugação a 150.000 g                   ribossomos ocupam uma fração substancial do volume de
                                                                    uma célula de micoplasma.
                  Sobrenadante: citosol
                                                                         O limite superior de tamanho celular provavelmente é
                  Solução concentrada                               determinado pela taxa de difusão das moléculas de soluto
                  de enzimas, RNA,                                  nos sistemas aquosos. Por exemplo, uma célula bacteria-
                  subunidades monoméricas,                          na que depende de reações de consumo de oxigênio para
                  metabólitos, íons
                  inorgânicos.
                                                                    produção de energia deve obter oxigênio molecular, por
                                                                    difusão, a partir do meio ambiente através de sua mem-
                  Sedimento: partículas e organelas
                                                                    brana plasmática. A célula é tão pequena, e a relação en-
                  Ribossomos, grânulos de                           tre sua área de superfície e seu volume é tão grande, que
                  armazenamento, mitocôndrias,                      cada parte do seu citoplasma é facilmente alcançada pelo
                  cloroplastos, lisossomos, retículo                O2 que se difunde para dentro dela. Com o aumento do
                  endoplasmático.
                                                                    tamanho celular, no entanto, a relação superfície-volume
FIGURA 1-3 As características universais das células vivas. Todas   diminui, até que o metabolismo consuma O2 mais rapida-
as células têm um núcleo ou nucleoide, uma membrana plasmática      mente do que o que pode ser suprido por difusão. Assim, o
e o citoplasma. O citosol é definido como sendo a parte do cito-    metabolismo que requer O2 torna-se impossível quando o
plasma que permanece no sobrenadante após rompimento suave          tamanho da célula aumenta além de um determinado pon-
da membrana plasmática e centrifugação do extrato resultante a      to, estabelecendo um limite superior teórico para o tama-
150.000 g por 1 hora.                                               nho das células.
4      David L. Nelson & Michael M. Cox



                                                                                                 Eukarya
                                                                                              Animais
                                      Bactérias                             Entamebas
                      Bacteria        verdes não                                        Musgos
                                      sulfurosas         Archaea
                                                                                                  Fungos
                                Bactérias
                                  gram-                      Methanosarcina
                                                                                                   Plantas
                                                         Methanobacterium
                Protobactérias positivas                                      Halófilos           Ciliados
              (bactérias púrpura)            Thermoproteus   Methanococcus
          Cianobactérias                   Pyrodictium Thermococcus
                                                           celer                                           Flagelados
       Flavobactérias
                                                                                                         Tricomonados


         Thermotogales

                                                                                                                  Microsporídeos
                                                                                                         Diplomonados




FIGURA 1-4 Filogenia dos três domínios da vida. As relações filo-       ser construídas a partir de similaridades na sequência de amino-
genéticas são frequentemente ilustradas por uma “árvore genealó-        ácidos de uma única proteína entre as espécies. Por exemplo, as
gica” deste tipo. A base para esta árvore é a similaridade na sequên-   sequências da proteína GroEL (uma proteína bacteriana que atua
cia nucleotídica dos RNAs ribossomais de cada grupo; a distância        no dobramento proteico) são comparadas para gerar a árvore da
entre os ramos representa o grau de diferença entre duas sequên-        Fig. 3-32. A árvore da Figura 3-33 é uma árvore “consenso”, que
cias, sendo que, quanto mais similar for a sequência, mais próxima      usa várias comparações como essas para fazer a melhor estimativa
é a localização dos ramos. As árvores filogenéticas também podem        do relacionamento evolutivo de um grupo de organismos.



Existem três domínios distintos de vida                                 lagos salgados, fontes termais, pântanos altamente ácidos e
                                                                        as profundezas oceânicas. As evidências disponíveis suge-
Todos os organismos vivos se incluem em três grandes gru-
pos (domínios) que definem três ramos evolutivos a partir               rem que Bacteria e Archaea divergiram cedo na evolução.
de um ancestral comum (Fig. 1-4). Dois grandes grupos                   Todos os organismos eucarióticos, que formam o terceiro
de micro-organismos unicelulares podem ser distinguidos                 domínio, Eukarya, evoluíram a partir do mesmo ramo que
em bases genéticas e bioquímicas: Bacteria e Archaea. As                deu origem às Archaea; por isso, os eucariotos são mais re-
bactérias habitam o solo, as águas de superfície e os tecidos           lacionados às arquibactérias do que às bactérias.
de organismos vivos ou em decomposição. Muitas das arqui-                    Dentro dos domínios Archaea e Bacteria existem sub-
bactérias, reconhecidas na década de 1980 por Carl Woese                grupos identificados por seus habitats. No habitat aeróbico
como um domínio distinto, habitam ambientes extremos –                  com suprimento pleno de oxigênio, alguns organismos re-



                                                          Todos os organismos
                                                                                                               Combustível
                                                                                                                reduzido
                                     Fototróficos                                        Quimiotróficos                    Combustível
    Fonte de                        (energia da luz)                      (energia da oxidação de combustíveis químicos)     oxidado
     energia
                                                                           Litotróficos               Organotróficos
                                                                           (combustíveis               (combustíveis
                                                                            inorgânicos)                 orgânicos)

    Fonte de                                    Heterotróficos
                    Autotróficos                  (carbono de
     carbono      (carbono do CO2)            compostos orgânicos)

                   Cianobactérias               Bactérias púrpura        Bactérias sulfurosas     A maioria das bactérias
                 Plantas vasculares              Bactérias verdes       Bactérias hidrogênicas      Todos os eucariotos
                                                                                                      não fototróficos
    Exemplos




FIGURA 1-5 Os organismos podem ser classificados de acordo com a fonte de energia (luz solar ou compostos químicos oxidáveis) e a fonte
de carbono usadas para a síntese do material celular.
Princípios de Bioquímica de Lehninger   5


sidentes obtêm energia pela transferência de elétrons das              cos de massa molecular menor do que 1.000 (metabólitos
moléculas de combustível para o oxigênio. Outros ambien-               e cofatores), e uma grande variedade de íons inorgânicos.
tes são anaeróbios, praticamente desprovidos de oxigênio,
e os micro-organismos adaptados a esses ambientes obtêm                    Ribossomos Os ribossomos bacterianos são menores
energia pela transferência de elétrons para o nitrato (for-                do que os eucarióticos, mas têm a mesma função –
mando N2), o sulfato (formando H2S) ou o CO2 (formando                     síntese proteica a partir de uma mensagem de RNA.
CH4). Muitos organismos que evoluíram em ambientes ana-
                                                                                                     Nucleoide Contém uma
eróbios são anaeróbios obrigatórios: eles morrem quando                                              única molécula de DNA,
expostos ao oxigênio. Outros são anaeróbios facultativos,                                            simples, longa e circular.
capazes de viver com ou sem oxigênio.
     Podemos classificar os organismos de acordo com a                                                             Pili Produz
maneira como obtêm a energia e o carbono que necessi-                                                              pontos de
tam para sintetizar o material celular (conforme resumido                                                          adesão à
na Fig. 1-5). Existem duas amplas categorias com base                                                              superfície de
                                                                                                                   outras células.
nas fontes de energia: fototróficos (do grego trofe, “nu-
trição”), que captam e usam a luz solar, e quimiotrófi-
cos, que obtêm sua energia pela oxidação do combustível                                                               Flagelos
                                                                                                                      Propulsionam
químico. Alguns quimiotróficos, os litotróficos, oxidam                                                               a célula no
                                                 –   0
os combustíveis inorgânicos – por exemplo, HS a S (en-                                                                seu ambiente.
                    0     –     –      –      2ϩ     3ϩ
xofre elementar), S a SO 4, NO 2 a NO 3, ou Fe a Fe . Os
organotróficos oxidam uma ampla gama de compostos
orgânicos disponíveis em seu ambiente. Os fototróficos e
os quimiotróficos também podem ser divididos naqueles
que obtêm todo o carbono necessário do CO2 (autotró-
ficos) e nos que requerem nutrientes orgânicos (hete-
rotróficos).                                                               Envelope celular
                                                                           A estrutura varia
                                                                           com o tipo de
A Escherichia coli é a bactéria melhor estudada                            bactéria.
As células bacterianas compartilham determinadas caracte-
rísticas estruturais comuns, mas também mostram especia-
lizações grupo-específicas (Fig. 1-6). E. coli é usualmente
um habitante inofensivo do trato intestinal humano. A célu-
la de E. coli tem 2 μm de comprimento e um pouco menos
de 1 μm de diâmetro, possuindo uma membrana externa
protetora e uma membrana plasmática interna que envol-
ve o citoplasma e o nucleoide. Entre a membrana interna
e a externa existe uma fina, mas resistente, camada de um
polímero (peptidoglicano) que confere à célula sua forma                      Membrana externa            Camada de
e rigidez. A membrana plasmática e as camadas externas a                       Camada de                  peptidoglicanos
ela constituem o envelope celular. Pode ser notado aqui                        peptidoglicanos              Membrana interna
                                                                                Membrana interna
                                                                                Membrana interna
que, nas arquibactérias, a rigidez é conferida por um tipo
diferente de polímero (pseudopeptidoglicano). A membra-
na plasmática das bactérias consiste em uma bicamada fina
de moléculas lipídicas impregnadas de proteínas. As mem-
branas das arquibactérias têm uma arquitetura semelhante,                  Bactérias gram-negativas Bactérias gram-positivas
mas os lipídeos são surpreendentemente diferentes daque-                   Membrana externa;         Sem membrana externa;
                                                                           camada de peptidoglicanos camada de peptidoglicanos
les das bactérias (veja a Fig. 10-12).                                                               mais espessa
     O citoplasma da E. coli contém cerca de 15.000 ribos-
somos, números variados de cópias (de 10 a milhares) de
1.000 diferentes enzimas, talvez 1.000 compostos orgâni-


FIGURA 1-6 Características estruturais comuns das células bacte-
rianas. Devido a diferenças na estrutura do envelope celular, algu-
mas bactérias (gram-positivas) retêm o corante de Gram (introdu-
zido por Hans Christian Gram em 1882), e outras (gram-negativas)
não. E. coli é gram-negativa. As cianobactérias são distinguidas por       Cianobactérias             Arquibactérias
                                                                           Gram-negativas; camada     Sem membrana externa;
seu extenso sistema de membranas internas, onde se localizam os            de peptidoglicanos mais    camada de peptidoglicanos
pigmentos fotossintéticos. Embora os envelopes das arquibactérias          rígida; extenso sistema    do lado de fora da
e das bactérias gram-positivas pareçam semelhantes ao microscó-            de membranas internas      membrana plasmática
pio eletrônico, a estrutura dos lipídeos de membrana e dos polissa-        com pigmentos
carídeos é muito diferente (veja a Fig. 10-12).                            fotossintéticos
6       David L. Nelson & Michael M. Cox


O nucleoide contém uma única molécula de DNA circular, e                    e antibióticos ambientais. No laboratório, estes segmentos
o citoplasma (como na maioria das bactérias) contém seg-                    de DNA são sensíveis à manipulação experimental e são
mentos circulares de DNA chamados de plasmídios. Na                         ferramentas poderosas para a engenharia genética (veja o
natureza, alguns plasmídios conferem resistência a toxinas                  Capítulo 9).

    (a) Célula animal
                                                                        Os ribossomos são máquinas
                                                                        de sintetizar proteínas
                                                                             O peroxissomo oxida ácidos graxos

                                                                                        O citoesqueleto sustenta as células e
                                                                                        auxilia no movimento das organelas

                                                                                               O lisossomo degrada restos intracelulares
                                                                                                          O transporte de vesículas faz o
                                                                                                          trânsito de proteínas e lipídeos
                                                                                                          entre o RE, o complexo de Golgi
                                                                                                          e a membrana plasmática
                                                                                              O complexo de Golgi processa,
                                                                                              empacota e envia proteínas para
                                                                                              outras organelas ou para exportação


                                                                                                             O retículo endoplasmático liso
                                                                                                             (REL) é o local de síntese de
                                                                                                             lipídeos e de metabolismo
                                                                                                             de drogas

    O envelope nuclear separa a                                        O nucléolo é o local de síntese
    cromatina (DNA ϩ proteína)                                         de RNA ribossomal
    do citoplasma                                                                                 O núcleo contém os
                                                   O retículo endoplasmático
                                                   rugoso (RER) é o local de muita                 genes (cromatina)
         A membrana plasmática separa a            síntese proteica
         célula do meio e regula o movimento                                                 Envelope
         dos materiais para dentro e para                                                     nuclear      Ribossomos        Citoesqueleto
         fora da célula
                                           A mitocôndria oxida os
                                           combustíveis para produzir ATP



                                                                                                                                   Complexo
                                                                                                                                   de Golgi
            O cloroplasto absorve a luz solar
            e produz ATP e carboidratos

              Os grânulos de amido armazenam
              temporariamente os carboidratos
              produzidos na fotossíntese

        As tilacoides são locais de
        síntese de ATP movida pela luz
                 A parede celular dá forma e
                 rigidez, protegendo a célula
                 da intumescência osmótica

                                       O vacúolo degrada e recicla
                                       macromoléculas e armazena
                                       metabólitos                                                                 Parede celular de
                                                             O plasmodesma permite
                                                                                                                   células adjacentes
                                                             a comunicação entre duas
                                                             células vegetais                    O glioxissomo contém enzimas
                                                                                                 do ciclo do glioxilato

                                                                                        (b) Célula vegetal
FIGURA 17 Estrutura da célula eucariótica. Ilustrações esquemá-            As estruturas marcadas em vermelho são exclusivas das células
ticas dos dois principais tipos de célula eucariótica: (a) uma célula       animais ou vegetais. Os micro-organismos eucarióticos (como pro-
animal representativa e (b) uma célula vegetal representativa. As           tistas e fungos) têm estruturas semelhantes às das células animais e
células vegetais geralmente têm um diâmetro de 10 a 100 ␮m –                vegetais, mas muitos também possuem organelas especializadas,
maiores do que as células animais, que variam entre 5 e 30 ␮m.              não ilustradas aqui.
Princípios de Bioquímica de Lehninger       7


     A maioria das bactérias (incluindo E. coli) existe como                                                         bém possuem vacúolos e cloroplastos (Fig. 1-7). No citoplas-
células individuais, mas as células de algumas espécies bacte-                                                       ma de muitas células estão presentes também grânulos ou
rianas (p.ex., as mixobactérias) mostram um comportamento                                                            gotículas contendo nutrientes armazenados como amido e
social simples, formando agregados multicelulares.                                                                   gordura.
                                                                                                                          Em um avanço importante na bioquímica, Albert
As células eucarióticas possuem uma grande variedade                                                                 Claude, Christian de Duve e George Palade desenvolveram
                                                                                                                     métodos para separar as organelas do citosol e umas das
de organelas membranares, que podem ser isoladas para                                                                outras – uma etapa essencial na investigação de suas estru-
estudo                                                                                                               turas e funções. Em um processo de fragmentação típico
As células eucarióticas típicas (Fig. 1-7) são muito maiores                                                         (Fig. 1-8), as células ou os tecidos em solução são suave-
do que as bactérias – em geral de 5 a 100 μm de diâmetro,                                                            mente rompidos por cisalhamento físico. Este tratamento
com um volume de mil a um milhão de vezes maior do que                                                               rompe a membrana plasmática, mas deixa intacta a maioria
o das bactérias. As características que distinguem os euca-                                                          das organelas. O homogeneizado é então centrifugado; or-
riotos são o núcleo e uma grande variedade de organelas en-                                                          ganelas como núcleo, mitocôndria e lisossomos diferem em
voltas por membranas com funções específicas: mitocôndria,                                                           tamanho e por isso sedimentam em velocidades diferentes.
retículo endoplasmático, complexo de Golgi, peroxissomos e                                                                A centrifugação diferencial resulta em um fracionamen-
lisossomos. Além dessas organelas, as células vegetais tam-                                                          to preliminar do conteúdo citoplasmático, que pode ser pos-

                                                                                                                      FIGURA 1-8 Fracionamento subcelular de tecidos. Um tecido
                                                                                                                      como o hepático é homogeneizado mecanicamente para romper
                                                                                                                      as células e dispersar seu conteúdo em um tampão aquoso. O
                                                                                                                      meio com sacarose tem uma pressão osmótica semelhante à das
                                                                                                                      organelas, equilibrando assim a difusão da água para dentro e
                                                                                                                      para fora das organelas, as quais intumesceriam e estourariam
                                                                                                                      em uma solução de osmolaridade mais baixa (veja a Fig. 2-12).
                                                                                                                      (a) As partículas grandes e pequenas em suspensão podem ser
                                                                                                                      separadas por centrifugação em diferentes velocidades, ou (b) as
                                                                                                                      partículas de diferentes densidades podem ser separadas por cen-
                                                                                                                      trifugação isopícnica, na qual se enche o tubo de centrífuga com
(a) Centrifugação                                                                                                     uma solução cuja densidade aumenta do topo para o fundo; um
    diferencial                                                                                                       soluto como a sacarose é dissolvido em diferentes concentrações
                                                                                                                      para produzir o gradiente de densidade. Quando uma mistura
Homogeneização                                                                                                        de organelas for colocada no topo do gradiente de densidade e
   do tecido
                                                                                                                      o tubo for centrifugado a alta velocidade, as organelas sedimen-
                                                                                                                      tam até que sua densidade de flutuação se iguale à do gradiente.
                       Centrifugação a baixa velocidade
                       (1.000 g, 10 min)
                                                                                                                      Cada camada pode ser coletada separadamente.
                                                                                                                          (b) Centrifugação
    ▲▲
                ❚




                ▲                                                                                                             isopícnica (em
   ▲




    ▲❚
   ▲




                                                                                                                              densidade de sacarose)
                ▲




                                          Sobrenadante centrifugado
        ❚




                ❚
                ❚
    ❚




        ▲                                 a velocidade média
    ❚ ▲


  ❚▲ ▲




        ▲
    ▲❚




                                          (20.000 g, 20 min)
            ▲




                ❚
    ❚       ❚
    ▲




                 ❚
    ▲                      ❚                                                                                                              Centrifugação
                                   ❚
   ❚




   ▲                       ▲       ❚▲ ❚
        ▲




                                                                     Sobrenadante
        ▲




   ▲
                ▲              ❚
                               ▲
                                    ❚
                                                                     centrifugado a
                           ❚
        ❚




                          ▲
                                ❚ ❚




                                                                     velocidade alta
                               ▲




Homogeneizado   ❚
                 ▲ ❚▲                                                (80.000 g, 1 h)
  de tecido
                          ❚




              ▲
                           ▲    ❚   ❚ ❚
                               ❚
                               ▲             ❚
                              ▲                                                          Sobrenadante
                           ▲❚
                           ▲




                                                         ❚
                                    ▲
                                ▲                                                        centrifugado
                          ▲




                                ▲                            ❚
                                    ▲
                                             ❚




                                                                                         a velocidade
                                                 ❚                                       muito alta
                                                         ❚




                     Sedimento contém
                                            ❚




                      células inteiras,                      ❚
                                                                 ❚                       (150.000 g, 3 h)
                          núcleos,
                                            ❚




                                                     ❚
                       citoesqueleto,
                                                     ▲
                                              ▲
                                              ▲




                         membrana                                                                                           Amostra
                                                         ▲▲
                                             ▲ ▲
                                             ▲




                                              ▲
                         plasmática
                                           Sedimento                                                                        Gradiente
                                              contém                                                                        de sacarose
                                          mitocôndrias,
                                           lisossomos,                                                Sobrenadante
                                          peroxissomos                   ❚       ❚   ❚                contém
                                                                                ❚
                                                                         ❚ ❚❚




                                                                                                                            Componente
                                                                                ❚❚
                                                                         ❚




                                                                                                      proteínas
                                                                             ❚




                                                                                                                            menos denso
                                                                      Sedimento                       solúveis
                                                                        contém                                                                                     Fracionamento
                                                                     microssomos                                            Componente
                                                                 (fragmentos de RE),                                        mais denso
                                                                      pequenas
                                                                       vesículas
                                                                                 Sedimento contém
                                                                              ribossomos, macromolé-
                                                                                   culas grandes                                                          8   7   6    5    4    3       2   1
8     David L. Nelson & Michael M. Cox


teriormente purificado por centrifugação isopícnica (“mesma          e forma à célula. Os filamentos de actina e os microtúbulos
densidade”). Neste procedimento, as organelas com diferen-           também auxiliam na produção de movimento das organelas
tes densidades de flutuação (resultantes de razões diferentes        e da célula inteira.
entre lipídeo e proteína em cada tipo de organela) são sepa-              Cada tipo de componente do citoesqueleto é compos-
radas por centrifugação por meio de uma coluna de solven-            to por subunidades proteicas simples que se associam de
te com gradiente de densidade. Pela remoção cuidadosa do             forma não covalente para formar filamentos de espessura
material de cada região do gradiente e observação ao micros-         uniforme. Estes filamentos não são estruturas permanentes,
cópio, o bioquímico pode estabelecer a posição de sedimen-           sendo submetidos a constante desmontagem em suas subu-
tação de cada organela e obter organelas purificadas para            nidades e remontagem novamente em filamentos. Sua loca-
estudo posterior. Esses métodos foram utilizados para esta-          lização na célula não é fixa, podendo mudar drasticamen-
belecer, por exemplo, que os lisossomos contêm enzimas de-           te com a mitose, a citocinese, o movimento ameboide ou
gradativas, as mitocôndrias contêm enzimas oxidativas, e os          mudanças na forma celular. A montagem, a desmontagem e
cloroplastos contêm pigmentos fotossintéticos. O isolamento          a localização de todos os tipos de filamentos são reguladas
de uma organela enriquecida em determinada enzima com                por outras proteínas, as quais servem para ligar ou reunir
frequência é a primeira etapa na purificação dessa enzima.           os filamentos ou para mover as organelas citoplasmáticas
                                                                     ao longo deles. O quadro que emerge desta breve visão da
O citoplasma é organizado pelo citoesqueleto e é                     estrutura da célula eucariótica é o de uma célula com uma
                                                                     trama de fibras estruturais e um sistema complexo de com-
altamente dinâmico                                                   partimentos envoltos por membranas (Fig. 1-7). Os filamen-
A microscopia de fluorescência revela vários tipos de fi-            tos se desmontam e se remontam em outro lugar. As vesícu-
lamentos proteicos atravessando a célula eucariótica em              las membranares brotam de uma organela e se fundem com
várias direções, formando uma rede tridimensional inter-             outra. As organelas se movem pelo citoplasma ao longo de
ligada, o citoesqueleto. Existem três tipos gerais de fila-          filamentos proteicos, e seu movimento é impulsionado por
mentos citoplasmáticos – filamentos de actina, microtúbu-            proteínas motoras dependentes de energia. O sistema de
los e filamentos intermediários (Fig. 1-9) – que diferem em          endomembranas segrega processos metabólicos específi-
largura (de 6 a 22 nm), composição, e função específica. To-         cos e provê superfícies sobre as quais ocorrem determina-
dos os tipos conferem estrutura e organização ao citoplasma          das reações catalisadas por enzimas. A exocitose e a endo-




                                  (a)                                                               (b)
FIGURA 1-9 Os três tipos de filamentos do citoesqueleto: fila-       vermelho; os microtúbulos, irradiando a partir do centro da célu-
mentos de actina, microtúbulos e filamentos intermediários. As       la, estão marcados em verde; e os cromossomos (no núcleo) estão
estruturas celulares podem ser marcadas com um anticorpo (que        marcados em azul. (b) Uma célula de pulmão de salamandra em
reconheça uma determinada proteína) covalentemente ligado a um       mitose. Os microtúbulos (em verde) ligados a estruturas chamadas
composto fluorescente. As estruturas marcadas são visíveis quan-     de cinetócoros (em amarelo) sobre os cromossomos condensados
do a célula é observada sob um microscópio de fluorescência. (a)     (em azul) puxam os cromossomos para polos opostos, ou centros-
Células endoteliais da artéria pulmonar bovina. Feixes de filamen-   somos (em magenta), da célula. Os filamentos intermediários, for-
tos de actina denominados “fibras de estresse” estão marcados em     mados de queratina (em vermelho), mantêm a estrutura da célula.
Princípios de Bioquímica de Lehninger    9


citose, mecanismos de transporte (para fora e para dentro                                       As interações entre o citoesqueleto e as organelas são não
da célula, respectivamente) que envolvem fusão e fissão de                                      covalentes, reversíveis e sujeitas à regulação em resposta a
membranas, produzem vias entre o citoplasma e o meio cir-                                       vários sinais intra e extracelulares.
cundante, permitindo a secreção de substâncias produzidas
na célula e a captação de materiais extracelulares.                                             As células constroem estruturas supramoleculares
    Esta organização do citoplasma, embora complexa, está
longe de ser aleatória. O movimento e o posicionamento das                                      As macromoléculas e suas subunidades monoméricas di-
organelas e dos elementos do citoesqueleto estão sob uma                                        ferem muito em tamanho (Fig. 1-10). Uma molécula de
regulação firme, e uma célula eucariótica é submetida, em                                       alanina tem menos de 0,5 nm de comprimento. Uma molé-
determinados estágios da vida, a reorganizações dramáti-                                        cula de hemoglobina, a proteína transportadora de oxigênio
cas conduzidas com exatidão, como nos eventos da mitose.                                        dos eritrócitos (células vermelhas do sangue), consiste em
                                                                                                subunidades contendo cerca de 600 resíduos de aminoáci-
                                                                                                dos em quatro longas cadeias, dobradas em forma globular
(a) Alguns dos aminoácidos das proteínas
                                                                                                e associadas em uma estrutura de 5,5 nm de diâmetro. As
                                                                                                proteínas, por sua vez, são muito menores do que os ribos-
                      Ϫ                        Ϫ                                Ϫ
              COO                        COO                              COO                   somos (cerca de 20 nm de diâmetro), os quais, por sua vez,
      ϩ                             ϩ                                ϩ
 H 3N C               H         H 3N C        H                    H 3N C      H
                                                                                                são menores do que organelas como as mitocôndrias, que
                                                                                                têm 1.000 nm de diâmetro. É um grande salto das biomolé-
              CH3                        CH2OH                            CH2                   culas simples às estruturas celulares que podem ser vistas
                                                                                Ϫ               ao microscópio óptico. A Figura 1-11 ilustra a hierarquia
          Alanina                        Serina                           COO
                                                                                                estrutural na organização celular.
                                                                         Aspartato
                                                                                                    As subunidades monoméricas das proteínas, dos áci-
                      Ϫ
                                         COO
                                               Ϫ                                                dos nucleicos e dos polissacarídeos são unidas por ligações
              COO
      ϩ                             ϩ                                           Ϫ
                                                                          COO
 H 3N C               H         H 3N C        H                      ϩ                          FIGURA 1-10 Os compostos orgânicos a partir dos quais é formada
                                                                   H 3N C      H                a maior parte dos materiais celulares: o ABC da bioquímica. Estão
              CH2                        CH2
                                            NH                            CH2                   mostrados aqui (a) seis dos 20 aminoácidos que formam todas as
                                         C
                                             CH                                                 proteínas (as cadeias laterais estão sombreadas em cor-de-rosa); (b)
                                                                          SH                    as cinco bases nitrogenadas, os dois açúcares de cinco carbonos e
                                        HC ϩ
                                            NH
                                                                         Cisteína               os íons fosfato que formam os ácidos nucleicos; (c) os cinco compo-
              OH                        Histidina                                               nentes dos lipídeos de membrana; e (d) D-glicose, o açúcar simples
      Tirosina
                                                                                                que origina a maioria dos carboidratos. Observe que o fosfato é um
                                                                                                componente dos ácidos nucleicos e dos lipídeos de membrana.
(b) Os componentes dos ácidos nucleicos                                                            (c) Alguns componentes dos lipídios


              O                     O
                                                                    NH2                                    COOϪ          COOϪ                   CH2OH
              C                     C         CH3                                                          CH2           CH2                    CHOH
     HN               CH       HN        C                     N         CH
                                                                                                           CH2           CH2                    CH2OH
      C               CH        C        CH                    C         CH                                                                     Glicerol
 O            N            O        N                      O        N                                      CH2           CH2
              H                     H                               H
                                                                                                           CH2           CH2
      Uracil                        Timina                     Citosina                                                                      CH3
                                                                                                           CH2           CH2                ϩ
                                                                                                                                     CH3     N       CH2CH2OH
                  NH2                                  O                                                   CH2           CH2
                                                                                                                                             CH3
                  C                                    C                                   OϪ              CH2           CH2                Colina
                           N                                    N
          N            C                      HN           C                                               CH            CH2
                               CH                                   CH              HO     P     OH
      HC               C                       C           C                                               CH            CH2
                  N        N            H2N            N        N                          O
                           H                                    H
                                                                                         Fosfato           CH2           CH2
                  Adenina              Guanina                                                                                             (d) O açúcar de origem
                                                                                                           CH2           CH2
                        Bases nitrogenadas
                                                                                                           CH2           CH2
     HOCH2 O                   H              HOCH2 O                                                      CH2           CH2                         CH 2OH
                                                                    H
                  H        H                                                                               CH2           CH2                              O
                                                       H       H                                                                                 H              H
          H                    OH                                                                                                                    H
                                                   H                OH                                     CH2           CH3                         OH     H
                  OH       OH                          OH      H                                                      Palmitato                 HO              OH
                                                                                                           CH2
              ␣-D-Ribose                                                                                                                             H      OH
                                  2-desoxi-␣-D-ribose                                                      CH3
                 Açúcares de cinco carbonos                                                              Oleato                                      ␣-D-Glicose
10      David L. Nelson & Michael M. Cox


                                Nível 4:                       Nível 3:            Nível 2:             Nível 1:
                               A célula e                    Complexos          Macromoléculas         Unidades
                             suas organelas               supramoleculares                            monoméricas
                                                                                                                                                NH2
                                                                                                     Nucleotídeos                           N
                                                                                           DNA
                                                                                                               OϪ
                                                                                                                                        O       N
                                                                                                       Ϫ
                                                                                                        O P O CH2                       O
                                                                                                                O
                                                                                                                                    H       H
                                                                                                                            H                   H
                                                                                                                                    OH H
                                                                   Cromatina
                                                                                                     Aminoácidos

                                                                                                                        H
                                                                                                                    ϩ
                                                                                                               H3N C            COOϪ
                                                                                         Proteína                        CH3




                                                                  Membrana
                                                                  plasmática           Celulose
                                                                                                                   OH
                                                                                                               CH 2 O
                                                                                                                                H
                                                                                                           H                H       OH
                                                                                                                    OH
                                                                                                           HO                   OH
                                                                                                                        H


                                                                                                     Açúcares                           CH
                                                                                                                                            2 OH
                                                                                                                                H
                                                           Parede celular                                                                       O



FIGURA 1-11 Hierarquia estrutural na organização molecular das células. O núcleo desta célula vegetal é uma organela que contém
vários tipos de complexos supramoleculares, incluindo cromatina. A cromatina consiste em dois tipos de macromoléculas, DNA e muitas
proteínas diferentes, sendo cada uma delas formada por subunidades simples.


covalentes. Nos complexos supramoleculares, contudo, as            go da célula. Em resumo, uma dada molécula pode ter um
macromoléculas são unidas por interações não covalentes            comportamento muito diferente na célula e in vitro. Um de-
– individualmente muito mais fracas do que as covalentes.          safio central na bioquímica é entender as influências da orga-
Entre estas interações estão as ligações de hidrogênio (en-        nização celular e das associações macromoleculares sobre a
tre grupos polares), as interações iônicas (entre grupos car-      função das enzimas individuais e outras biomoléculas – para
regados), as interações hidrofóbicas (entre grupos apolares        entender a função in vivo assim como in vitro.
em solução aquosa) e as interações de van der Waals (forças
de London) – todas elas com energia muito menor do que as          RESUMO 1.1        Fundamentos celulares
ligações covalentes. Essas interações são descritas no Capí-         ■   Todas as células são delimitadas por uma membrana
tulo 2. O grande número de interações fracas entre as ma-                plasmática, tendo um citosol contendo metabólitos, co-
cromoléculas em complexos supramoleculares estabilizam                   enzimas, íons inorgânicos e enzimas, possuindo um con-
essas agregações, gerando suas estruturas singulares.                    junto de genes contidos dentro de um nucleoide (bacté-
                                                                         rias e arquibactérias) ou de um núcleo (eucariotos).
Estudos in vitro podem omitir interações importantes                 ■   Os fototróficos usam a luz do sol para realizar trabalho;
entre moléculas                                                          os quimiotróficos oxidam combustíveis, transferindo
                                                                         elétrons para bons aceptores: compostos inorgânicos,
Uma abordagem para o entendimento de um processo bioló-
                                                                         compostos orgânicos ou oxigênio molecular.
gico é o estudo in vitro de moléculas purificadas (“no vidro”
– no tubo de ensaio), sem a interferência de outras molécu-          ■   As células de bactérias e de arquibactérias contêm cito-
las presentes na célula intacta – isto é, in vivo (“no vivo”).           sol, um nucleoide e plasmídeos. As células eucarióticas
Embora esta abordagem seja muito esclarecedora, deve-se                  têm um núcleo e são multicompartimentalizadas, com
considerar que o interior de uma célula é totalmente diferen-            determinados processos segregados em organelas es-
te do interior de um tubo de ensaio. Os componentes “inter-              pecíficas; as organelas podem ser separadas e estuda-
ferentes” eliminados na purificação podem ser críticos para a            das isoladamente.
função biológica ou para a regulação da molécula purificada.         ■   As proteínas do citoesqueleto se organizam em longos
Por exemplo, estudos in vitro de enzimas puras são comu-                 filamentos que dão forma e rigidez às células e servem
mente realizados com concentrações muito baixas da enzima                como trilhos ao longo dos quais as organelas celulares
em soluções aquosas sob agitação. Na célula, uma enzima                  se deslocam por toda a célula.
está dissolvida ou suspensa em um citosol com consistência           ■   Complexos supramoleculares são mantidos unidos por
gelatinosa junto com milhares de outras proteínas, sendo que             interações não covalentes e formam uma hierarquia
algumas delas se ligam à enzima e influenciam sua atividade.             de estruturas, algumas delas visíveis ao microscópio
Algumas enzimas são componentes de complexos multienzi-                  óptico. Quando moléculas individuais são removidas
máticos nos quais os reagentes passam de uma enzima para                 destes complexos para serem estudadas in vitro, al-
a outra, sem interagir com o solvente. A difusão é dificultada           gumas interações, importantes na célula viva, podem
no citosol gelatinoso, e a composição citosólica varia ao lon-           ser perdidas.
Princípios de Bioquímica de Lehninger   11


1                                                                                                                                           2            FIGURA 1-12 Elementos essenciais para a
    H                                                                                                                                        He
                                                                                                                                                         vida e a saúde animal. Os elementos princi-
3        4               Elementos principais                                                  5        6        7        8        9        10           pais (em laranja) são componentes estruturais
    Li    Be             Elementos-traço                                                           B         C       N        O        F     Ne
                                                                                                                                                         das células e dos tecidos e são requeridos na
11       12                                                                                    13       14       15       16       17       18           dieta em uma quantidade de vários gramas
 Na       Mg                                                                                       Al       Si       P         S       Cl       Ar
                                                                                                                                                         por dia. Para os elementos-traço (em amarelo
19       20       21    22       23        24       25    26        27       28    29    30    31       32       33       34       35       36           brilhante) as quantidades requeridas são mui-
    K     Ca       Sc    Ti        V        Cr      Mn     Fe       Co        Ni    Cu    Zn    Ga          Ge       As       Se       Br       Kr
                                                                                                                                                         to menores: para humanos, alguns miligramas
37       38       39    40       41        42       43    44       45        46    47    48    49       50       51       52       53       54
                                                                                                                                                         por dia de ferro, cobre e zinco são suficientes,
 Rb          Sr    Y     Zr       Nb        Mo       Tc    Ru       Rh        Pd    Ag    Cd       In       Sn       Sb    Te           I       Xe
                                                                                                                                                         e quantidades ainda menores dos demais ele-
55       56             72       73        74       75    76        77       78    79    80    81       82       83       84       85       86
                                                                                                                                                         mentos. As necessidades mínimas para plan-
    Cs    Ba             Hf       Ta        W       Re     Os        Ir       Pt    Au    Hg       Tl       Pb       Bi    Po          At    Rn
                                                                                                                                                         tas e micro-organismos são similares às mos-
87       88
    Fr    Ra
                             Lantanídeos                                                                                                                 tradas aqui; o que varia são as maneiras pelas
                             Actinídeos                                                                                                                  quais eles adquirem estes elementos.


1.2           Fundamentos químicos                                                                                   são hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e carbono, que juntos
                                                                                                                     constituem mais de 99% da massa das células. Eles são os
A bioquímica tenta explicar as formas e as funções bioló-                                                            elementos mais leves capazes de formar eficientemente
gicas em termos químicos. No final do século XVIII, os quí-                                                          uma, duas, três e quatro ligações; em geral, os elementos
micos concluíram que a composição da matéria viva é im-                                                              mais fracos formam as ligações mais fortes. Os elemen-
pressionantemente diferente daquela do mundo inanimado.                                                              tos-traço (Fig. 1-12) representam uma fração minúscula
Antoine-Laurent Lavoisier (1743-1794) percebeu a relativa                                                            do peso do corpo humano, mas todos são essenciais à vida,
simplicidade do “mundo mineral” e contrastou-a com a com-                                                            geralmente por serem essenciais para a função de proteí-
plexidade dos “mundos animal e vegetal”. Estes últimos ele                                                           nas específicas, incluindo muitas enzimas. A capacidade de
sabia serem constituídos de compostos ricos nos elementos                                                            transporte de oxigênio da hemoglobina, por exemplo, é to-
carbono, oxigênio, nitrogênio e fósforo.                                                                             talmente dependente de quatro íons de ferro, que somados
     Durante a primeira metade do século XX, investigações                                                           representam somente 0,3% da massa total.
bioquímicas conduzidas em paralelo sobre a oxidação da gli-
cose em leveduras e células de músculo animal revelaram
similaridades químicas marcantes nestes dois tipos celulares
                                                                                                                     Biomoléculas são compostos de carbono com uma grande
aparentemente muito distintos, indicando que a queima da                                                             variedade de grupos funcionais
glicose em leveduras e células musculares envolve os mesmos                                                          A química dos organismos vivos está organizada em torno
10 intermediários químicos e as mesmas 10 enzimas. Estudos                                                           do carbono, que contribui em mais da metade do peso seco
subsequentes de muitos outros processos químicos em dife-                                                            das células. O carbono pode formar ligações simples com
rentes organismos confirmaram a generalidade desta observa-                                                          átomos de hidrogênio, assim como ligações simples e duplas
ção, resumida em 1954 por Jacques Monod: “O que vale para                                                            com átomos de oxigênio e nitrogênio (Fig. 1-13). A capaci-
a E. coli também vale para um elefante”. A atual compreensão                                                         dade dos átomos de carbono de formar ligações simples es-
de que todos os organismos têm uma origem evolutiva comum                                                            táveis com até quatro outros átomos de carbono é de grande
tem como base em parte esta observação, de que todos parti-                                                          importância na biologia. Dois átomos de carbono também
cipam dos mesmos processos e intermediários químicos, o que                                                          podem compartilhar dois (ou três) pares de elétrons, for-
muitas vezes é denominado unidade bioquímica.                                                                        mando assim ligações duplas (ou triplas).
     Menos de 30 entre os mais de 90 elementos químicos                                                                   As quatro ligações simples que podem ser formadas
de ocorrência natural são essenciais para os organismos. A                                                           pelo átomo de carbono se projetam a partir do núcleo for-
maioria dos elementos da matéria viva tem um número atô-                                                             mando os quatro vértices de um tetraedro (Fig. 1-14), com
mico relativamente baixo; somente dois possuem números                                                               um ângulo de aproximadamente 109,5° entre duas ligações
atômicos maiores que o selênio, 34 (Fig. 1-12). Os quatro                                                            quaisquer e tendo um comprimento médio de ligação de
elementos químicos mais abundantes nos organismos vivos,                                                             0,154 nm. A rotação é livre em torno de cada ligação sim-
em termos de porcentagem do total de número de átomos,                                                               ples, a menos que grupos muito grandes ou altamente car-


        C ϩ       H                    C H                      C        H               C ϩ N                            C        N                 C    N


        C ϩ O                          C O                      C        O               C ϩ C                            C C                        C     C
                                                                                                                                                                     FIGURA 1-13 A versatilidade do
                                                                                                                                                                     carbono em formar ligações. O
        C ϩ O                          C        O              C        O                C ϩ C                            C        C                 C    C          carbono pode formar ligações co-
                                                                                                                                                                     valentes simples, duplas e triplas
                                                                                                                                                                     (indicadas em vermelho), particu-
        C ϩ       N                    C N                      C        N               C ϩ C                            C             C            C     C         larmente com outros átomos de
                                                                                                                                                                     carbono. Ligações triplas são raras
                                                                                                                                                                     em biomoléculas.
12         David L. Nelson & Michael M. Cox


     (a)                                        (b)                                             (c)
                                                                                                                                       X
                                                                                                           A                                              120
            109,5                                                                                                                  C
                                                                            C                                         C
                    C
                                                           C                                                                                        Y
               109,5                                                                                              B



FIGURA 1-14 Geometria da ligação do carbono. (a) Os átomos de                        (CH3—CH3). (c) Ligações duplas são mais curtas e não permitem
carbono têm um arranjo tetraédrico bem característico para suas                      rotação. Os dois carbonos ligados por ligação dupla e os átomos
quatro ligações simples. (b) A ligação simples carbono-carbono                       designados por A, B, X e Y estão todos no mesmo plano rígido.
tem liberdade de rotação, como mostrado para o composto etano


                           H                                                                                                           H                  H
 Metil              R      C       H              Éter                R1   O    R2                    Guanidina                   R    N        C    N
                           H                                                                                                                ϩ
                                                                                                                                                N         H
                                                                                                                                        H           H
                           H H
 Etil               R      C       C       H      Éster               R1   C O        R2              Imidazol                    R        C        CH

                           H H                                             O                                                           HN           N:
                                                                                                                                                C
                                                                                                                                               H
                               H       H
                               C       C                                        H
 Fenil              R      C               CH     Acetil          R    O   C    C     H               Sulfidril                   R    S       H
                               C       C                                   O    H
                               H       H

  Carbonil          R      C H                    Anidrido            R1   C O        C    R2         Dissulfeto                  R1   S       S    R2
    (aldeído)                                       (dois ácidos
                           O                                               O          O
                                                    carboxílicos)

                                                                           H
  Carbonil          R  1
                           C R     2
                                                  Amino                R   Nϩ H                       Tioéster                    R1   C S           R2
    (cetona)                                       (protonado)
                           O                                               H                                                           O


                                                                                     H                                                 OϪ
 Carboxil           R      C       OϪ             Amida                R   C    N                     Fosforil            R       O    P        OH
                                                                           O         H                                                 O
                           O


                                                                           H
                                                                           N                                                           OϪ            OϪ
                                                                       1         2                                            1
 Hidroxil           R      O       H              Imina               R    C    R                     Fosfoanidrido       R       O    P        O    P      O   R2
   (álcool)
                                                                                                                                       O             O


                           O H H                                                                                                                    OϪ
                                                                           R3
  Enol              R      C       C              Imina N-                                            Anidrido misto          R        C       O     P     OH
                                                    substituída            N                            (de ácido carboxílico
                           H            H                                                                                              O            O
                                                    (base de                                            e ácido fosfórico;
                                                                      R1   C    R2
                                                    Schiff)                                             também chamado
                                                                                                        de acil-fosfato)
FIGURA 1-15 Alguns grupos funcionais comuns de biomolécu-                            de hidrogênio, mas tipicamente será um grupo contendo carbono.
las. Nesta figura e em todo o livro, será usado R para representar                   Quando dois ou mais substituintes são mostrados em uma molécu-
“qualquer substituinte”. Ele pode ser tão simples como um átomo                      la, serão designados como R1, R2 e assim por diante.
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Fundamentos da bioquimica

  • 1. Com a célula, a biologia descobriu seu átomo... Dessa forma, para caracterizar a vida, é essencial estudar a célula e analisar sua estrutura: escolher os denominadores comuns necessários para a vida de cada célula, assim como identificar diferenças 1 associadas com o desempenho de funções especiais. — François Jacob, La logique du vivant: une histoire de l’hérédité (A Lógica da Vida: Uma História da Hereditariedade), 1970 Fundamentos da Bioquímica 1.1 Fundamentos celulares 2 (Fig. 1-1a). Elas incluem polímeros muito longos, cada um com sua sequência característica de subunidades, 1.2 Fundamentos químicos 11 sua estrutura tridimensional única e sua seleção alta- mente específica de parceiros de interação na célula. 1.3 Fundamentos físicos 19 Sistemas para extrair, transformar e utilizar a 1.4 Fundamentos genéticos 27 energia do ambiente (Fig. 1-1b), permitindo aos orga- nismos construir e manter suas intrincadas estruturas, 1.5 Fundamentos evolutivos 29 assim como realizar trabalho mecânico, químico, osmó- tico e elétrico, o que neutraliza a tendência de toda a matéria de decair para um estado mais desorganizado, C erca de quinze bilhões de anos atrás, o universo surgiu como uma erupção cataclísmica de partículas subatô- entrando assim em equilíbrio com seu ambiente. micas quentes e ricas em energia. Os elementos mais Funções definidas para cada um dos componen- simples (hidrogênio e hélio) se formaram em segundos. À tes de um organismo e interações reguladas en- medida que o universo se expandia e esfriava, o material tre eles. Isto é válido não somente para as estruturas condensava sob a influência da gravidade para formar es- macroscópicas, como as folhas e os ramos ou corações trelas. Algumas estrelas se tornaram enormes e explodiram e pulmões, mas também para estruturas intracelulares como supernovas, liberando a energia necessária para a fu- microscópicas e compostos químicos individuais. A são de núcleos atômicos mais simples em elementos mais interação entre os componentes químicos de um orga- complexos. Desta maneira foram produzidos, no decurso de nismo vivo é dinâmica; mudanças em um componen- bilhões de anos, a própria Terra e os elementos químicos en- te causam mudanças coordenadas ou compensatórias contrados nela hoje. Cerca de quatro bilhões de anos atrás, em outro, com o todo manifestando uma característica surgiu a vida – micro-organismos simples com a capacida- além daquelas de suas partes individuais. O conjunto de de de extrair energia de compostos químicos e, mais tarde, moléculas realiza um programa, cujo resultado final é a da luz solar, que era usada por eles para produzir um vasto reprodução e a autopreservação do conjunto de molé- conjunto de biomoléculas mais complexas a partir dos ele- culas – em resumo, vida. mentos simples e compostos encontrados na superfície da Terra. Mecanismos para sentir e responder às altera- ções no seu ambiente, com ajustes constantes a es- A bioquímica questiona como as extraordinárias pro- sas mudanças por adaptações de sua química interna priedades dos organismos vivos se originaram a partir de ou sua localização no ambiente. milhares de biomoléculas diferentes. Quando estas molécu- las são isoladas e examinadas individualmente, elas estão de Capacidade de autorreplicação e automontagem acordo com todas as leis físicas e químicas que descrevem o precisas (Fig. 1-1c). Uma célula bacteriana isolada co- comportamento da matéria inanimada – assim como todos locada em um meio nutritivo estéril pode dar origem, os processos que ocorrem nos organismos vivos. O estudo em 24 horas, a um bilhão de “filhas” idênticas. Cada da bioquímica mostra como o conjunto de moléculas ina- célula contém milhares de moléculas diferentes, mui- nimadas que constitui os organismos vivos interage para tas extremamente complexas; mas cada bactéria é uma manter e perpetuar a vida exclusivamente pelas leis físicas e cópia fiel da original, sendo sua construção totalmente químicas que regem o universo inanimado. direcionada a partir da informação contida no material Os organismos, no entanto, possuem atributos extra- genético da célula original. ordinários, propriedades que os distinguem de outros con- Capacidade de se alterar ao longo do tempo por juntos de matéria. Quais são estas características peculiares evolução gradual. Os organismos alteram suas es- dos organismos vivos? tratégias de vida herdadas, em graus muito pequenos, Um alto grau de complexidade química e organi- para sobreviver em condições novas. O resultado de zação microscópica. Milhares de moléculas diferen- eras de evolução é uma enorme variedade de formas de tes formam as intrincadas estruturas celulares internas vida, muito diferentes superficialmente (Fig. 1-2), mas
  • 2. 2 David L. Nelson & Michael M. Cox Neste capítulo introdutório é feito um resumo dos co- nhecimentos celulares, químicos, físicos e genéticos para a bioquímica e o importante princípio da evolução – o de- senvolvimento das propriedades das células vivas ao longo das gerações. À medida que você avançar na leitura do livro, perceberá a utilidade de retornar a este capítulo de tempos em tempos, para refrescar sua memória sobre esses conhe- cimentos básicos. 1.1 Fundamentos celulares (a) (b) A unidade e a diversidade dos organismos se tornam apa- rentes mesmo no nível celular. Os menores organismos con- sistem em células isoladas e são microscópicos. Os organis- mos multicelulares maiores possuem muitos tipos celulares diferentes, os quais variam em tamanho, forma e função es- pecializada. Apesar dessas diferenças óbvias, todas as célu- las dos organismos, desde o mais simples ao mais complexo, compartilham determinadas propriedades fundamentais, que podem ser vistas no nível bioquímico. As células são as unidades estruturais e funcionais de todos os organismos vivos Todos os tipos de células compartilham determinadas ca- racterísticas estruturais (Fig. 1-3). A membrana plasmá- tica define o contorno da célula, separando seu conteúdo (c) do ambiente. Ela é composta por moléculas de lipídeos e proteínas que formam uma barreira fina, resistente, flexível FIGURA 1-1 Algumas características da matéria viva. (a) A com- plexidade microscópica e a organização são aparentes nesse corte colorido de tecido muscular de vertebrado, visto ao microscópio eletrônico. (b) Um falcão da campina capta nutrientes consumindo uma ave menor. (c) A reprodução biológica ocorre com uma fide- lidade quase perfeita. fundamentalmente relacionadas por sua ancestralidade compartilhada. Esta unidade fundamental dos organis- mos vivos se reflete na similaridade das sequências gê- nicas e nas estruturas proteicas. Apesar dessas propriedades comuns, e da unidade fun- damental da vida que elas mostram, é difícil fazer generali- zações sobre os organismos vivos. A Terra tem uma enorme diversidade de organismos. A variação de habitats, das fon- tes termais à tundra do Ártico, dos intestinos animais aos dormitórios das universidades, se combina com uma ampla variação de adaptações bioquímicas específicas, alcançadas dentro de uma estrutura química comum. Neste livro, para uma maior clareza às vezes são feitas determinadas genera- lizações, as quais, embora não perfeitas, se mostram úteis; também com frequência são apresentadas exceções, as quais podem se mostrar esclarecedoras. A bioquímica descreve em termos moleculares as estru- FIGURA 1-2 Diferentes organismos vivos compartilham caracte- turas, os mecanismos e os processos químicos compartilha- rísticas químicas comuns. Aves, animais selvagens, plantas e mi- dos por todos os organismos e estabelece princípios de or- cro-organismos do solo compartilham com os humanos as mesmas unidades estruturais básicas (células) e os mesmos tipos de macro- ganização que são a base da vida em todas as suas diversas moléculas (DNA, RNA, proteínas) compostas dos mesmos tipos de formas, princípios esses referidos como a lógica molecular subunidades monoméricas (nucleotídeos, aminoácidos). Eles uti- da vida. Embora a bioquímica proporcione importantes in- lizam as mesmas vias para a síntese dos componentes celulares, formações e aplicações práticas na medicina, na agricultura, compartilham o mesmo código genético, e provêm dos mesmos na nutrição e na indústria, sua preocupação final é com o ancestrais evolutivos. Na figura é mostrado um detalhe do “Jardim milagre da vida em si. do Éden”, por Jan van Kessel Junior (1626-1679).
  • 3. Princípios de Bioquímica de Lehninger 3 e hidrofóbica ao redor da célula. A membrana é uma barrei- O volume interno envolto pela membrana plasmática, o ra para a passagem livre de íons inorgânicos e para a maioria citoplasma (Fig. 1-3), é composto por uma solução aquosa, de outros compostos carregados ou polares. Proteínas de o citosol, e uma grande variedade de partículas em sus- transporte na membrana plasmática permitem a passagem pensão com funções específicas. O citosol é uma solução de determinados íons e moléculas; proteínas receptoras altamente concentrada que contém enzimas e as moléculas transmitem sinais para o interior da célula; e enzimas de de RNA que as codificam; os componentes (aminoácidos e membrana participam em algumas reações. Como os lipí- nucleotídeos) que formam estas macromoléculas; centenas deos individuais e as proteínas da membrana não estão co- de moléculas orgânicas pequenas chamadas de metabóli- valentemente ligados, toda a estrutura é extraordinariamen- tos, intermediários em rotas biossintéticas e degradativas; te flexível, permitindo mudanças na forma e no tamanho da coenzimas, compostos essenciais em muitas reações catali- célula. À medida que a célula cresce, novas moléculas de sadas por enzimas; íons inorgânicos; e estruturas macromo- proteínas e de lipídeos são inseridas na membrana plasmá- leculares como os ribossomos, sítios de síntese proteica, tica; a divisão celular produz duas células, cada uma com e os proteassomos, que degradam proteínas que a célula sua própria membrana. O crescimento e a divisão celular não necessita mais. (fissão) ocorrem sem perda da integridade da membrana. Todas as células possuem, pelo menos em alguma par- te de sua vida, ou um núcleo ou um nucleoide, onde o genoma – o conjunto completo de genes composto por Núcleo (eucariotos) ou nucleoide DNA – é armazenado e replicado. O nucleoide, em bac- (bactérias, arquibactérias) Contém material genético – DNA e térias e em arquibactérias, não é separado do citoplasma proteínas associadas. O núcleo é por uma membrana; o núcleo, nos eucariotos, consiste circundado por uma membrana. no material nuclear envolto por uma membrana dupla, o envelope nuclear. As células com envelope nuclear com- Membrana plasmática põem o grande grupo dos Eukarya (do grego eu,“verdade”, Bicamada lipídica resistente, flexível. Seletivamente permeável e karyon, “núcleo”). Os micro-organismos sem envelope a substâncias polares. Inclui nuclear, antigamente agrupados como procariotos (do proteínas de membrana que grego pro, “antes”), são agora reconhecidos como perten- atuam no transporte, centes a dois grupos muito diferentes, Bacteria e Archaea, na recepção de sinal e como enzimas. descritos a seguir. As dimensões celulares são determinadas pela difusão A maioria das células é microscópica, invisível a olho nu. As células dos animais e das plantas têm um diâmetro de 50 a 100 μm, e muitos micro-organismos têm comprimento de 1 a 2 μm (veja no verso da capa as informações sobre as unidades e suas abreviaturas). O que limita as dimensões de uma célula? O limite inferior provavelmente é determinado Citoplasma pelo número mínimo de cada tipo de biomolécula requerido Conteúdo celular aquoso pela célula. As menores células, certas bactérias conhecidas e partículas e organelas como micoplasmas, têm diâmetro de 300 nm e um volume em suspensão. de cerca de 10-14 mL. Um único ribossomo bacteriano possui 20 nm na sua dimensão mais longa, de forma que poucos centrifugação a 150.000 g ribossomos ocupam uma fração substancial do volume de uma célula de micoplasma. Sobrenadante: citosol O limite superior de tamanho celular provavelmente é Solução concentrada determinado pela taxa de difusão das moléculas de soluto de enzimas, RNA, nos sistemas aquosos. Por exemplo, uma célula bacteria- subunidades monoméricas, na que depende de reações de consumo de oxigênio para metabólitos, íons inorgânicos. produção de energia deve obter oxigênio molecular, por difusão, a partir do meio ambiente através de sua mem- Sedimento: partículas e organelas brana plasmática. A célula é tão pequena, e a relação en- Ribossomos, grânulos de tre sua área de superfície e seu volume é tão grande, que armazenamento, mitocôndrias, cada parte do seu citoplasma é facilmente alcançada pelo cloroplastos, lisossomos, retículo O2 que se difunde para dentro dela. Com o aumento do endoplasmático. tamanho celular, no entanto, a relação superfície-volume FIGURA 1-3 As características universais das células vivas. Todas diminui, até que o metabolismo consuma O2 mais rapida- as células têm um núcleo ou nucleoide, uma membrana plasmática mente do que o que pode ser suprido por difusão. Assim, o e o citoplasma. O citosol é definido como sendo a parte do cito- metabolismo que requer O2 torna-se impossível quando o plasma que permanece no sobrenadante após rompimento suave tamanho da célula aumenta além de um determinado pon- da membrana plasmática e centrifugação do extrato resultante a to, estabelecendo um limite superior teórico para o tama- 150.000 g por 1 hora. nho das células.
  • 4. 4 David L. Nelson & Michael M. Cox Eukarya Animais Bactérias Entamebas Bacteria verdes não Musgos sulfurosas Archaea Fungos Bactérias gram- Methanosarcina Plantas Methanobacterium Protobactérias positivas Halófilos Ciliados (bactérias púrpura) Thermoproteus Methanococcus Cianobactérias Pyrodictium Thermococcus celer Flagelados Flavobactérias Tricomonados Thermotogales Microsporídeos Diplomonados FIGURA 1-4 Filogenia dos três domínios da vida. As relações filo- ser construídas a partir de similaridades na sequência de amino- genéticas são frequentemente ilustradas por uma “árvore genealó- ácidos de uma única proteína entre as espécies. Por exemplo, as gica” deste tipo. A base para esta árvore é a similaridade na sequên- sequências da proteína GroEL (uma proteína bacteriana que atua cia nucleotídica dos RNAs ribossomais de cada grupo; a distância no dobramento proteico) são comparadas para gerar a árvore da entre os ramos representa o grau de diferença entre duas sequên- Fig. 3-32. A árvore da Figura 3-33 é uma árvore “consenso”, que cias, sendo que, quanto mais similar for a sequência, mais próxima usa várias comparações como essas para fazer a melhor estimativa é a localização dos ramos. As árvores filogenéticas também podem do relacionamento evolutivo de um grupo de organismos. Existem três domínios distintos de vida lagos salgados, fontes termais, pântanos altamente ácidos e as profundezas oceânicas. As evidências disponíveis suge- Todos os organismos vivos se incluem em três grandes gru- pos (domínios) que definem três ramos evolutivos a partir rem que Bacteria e Archaea divergiram cedo na evolução. de um ancestral comum (Fig. 1-4). Dois grandes grupos Todos os organismos eucarióticos, que formam o terceiro de micro-organismos unicelulares podem ser distinguidos domínio, Eukarya, evoluíram a partir do mesmo ramo que em bases genéticas e bioquímicas: Bacteria e Archaea. As deu origem às Archaea; por isso, os eucariotos são mais re- bactérias habitam o solo, as águas de superfície e os tecidos lacionados às arquibactérias do que às bactérias. de organismos vivos ou em decomposição. Muitas das arqui- Dentro dos domínios Archaea e Bacteria existem sub- bactérias, reconhecidas na década de 1980 por Carl Woese grupos identificados por seus habitats. No habitat aeróbico como um domínio distinto, habitam ambientes extremos – com suprimento pleno de oxigênio, alguns organismos re- Todos os organismos Combustível reduzido Fototróficos Quimiotróficos Combustível Fonte de (energia da luz) (energia da oxidação de combustíveis químicos) oxidado energia Litotróficos Organotróficos (combustíveis (combustíveis inorgânicos) orgânicos) Fonte de Heterotróficos Autotróficos (carbono de carbono (carbono do CO2) compostos orgânicos) Cianobactérias Bactérias púrpura Bactérias sulfurosas A maioria das bactérias Plantas vasculares Bactérias verdes Bactérias hidrogênicas Todos os eucariotos não fototróficos Exemplos FIGURA 1-5 Os organismos podem ser classificados de acordo com a fonte de energia (luz solar ou compostos químicos oxidáveis) e a fonte de carbono usadas para a síntese do material celular.
  • 5. Princípios de Bioquímica de Lehninger 5 sidentes obtêm energia pela transferência de elétrons das cos de massa molecular menor do que 1.000 (metabólitos moléculas de combustível para o oxigênio. Outros ambien- e cofatores), e uma grande variedade de íons inorgânicos. tes são anaeróbios, praticamente desprovidos de oxigênio, e os micro-organismos adaptados a esses ambientes obtêm Ribossomos Os ribossomos bacterianos são menores energia pela transferência de elétrons para o nitrato (for- do que os eucarióticos, mas têm a mesma função – mando N2), o sulfato (formando H2S) ou o CO2 (formando síntese proteica a partir de uma mensagem de RNA. CH4). Muitos organismos que evoluíram em ambientes ana- Nucleoide Contém uma eróbios são anaeróbios obrigatórios: eles morrem quando única molécula de DNA, expostos ao oxigênio. Outros são anaeróbios facultativos, simples, longa e circular. capazes de viver com ou sem oxigênio. Podemos classificar os organismos de acordo com a Pili Produz maneira como obtêm a energia e o carbono que necessi- pontos de tam para sintetizar o material celular (conforme resumido adesão à na Fig. 1-5). Existem duas amplas categorias com base superfície de outras células. nas fontes de energia: fototróficos (do grego trofe, “nu- trição”), que captam e usam a luz solar, e quimiotrófi- cos, que obtêm sua energia pela oxidação do combustível Flagelos Propulsionam químico. Alguns quimiotróficos, os litotróficos, oxidam a célula no – 0 os combustíveis inorgânicos – por exemplo, HS a S (en- seu ambiente. 0 – – – 2ϩ 3ϩ xofre elementar), S a SO 4, NO 2 a NO 3, ou Fe a Fe . Os organotróficos oxidam uma ampla gama de compostos orgânicos disponíveis em seu ambiente. Os fototróficos e os quimiotróficos também podem ser divididos naqueles que obtêm todo o carbono necessário do CO2 (autotró- ficos) e nos que requerem nutrientes orgânicos (hete- rotróficos). Envelope celular A estrutura varia com o tipo de A Escherichia coli é a bactéria melhor estudada bactéria. As células bacterianas compartilham determinadas caracte- rísticas estruturais comuns, mas também mostram especia- lizações grupo-específicas (Fig. 1-6). E. coli é usualmente um habitante inofensivo do trato intestinal humano. A célu- la de E. coli tem 2 μm de comprimento e um pouco menos de 1 μm de diâmetro, possuindo uma membrana externa protetora e uma membrana plasmática interna que envol- ve o citoplasma e o nucleoide. Entre a membrana interna e a externa existe uma fina, mas resistente, camada de um polímero (peptidoglicano) que confere à célula sua forma Membrana externa Camada de e rigidez. A membrana plasmática e as camadas externas a Camada de peptidoglicanos ela constituem o envelope celular. Pode ser notado aqui peptidoglicanos Membrana interna Membrana interna Membrana interna que, nas arquibactérias, a rigidez é conferida por um tipo diferente de polímero (pseudopeptidoglicano). A membra- na plasmática das bactérias consiste em uma bicamada fina de moléculas lipídicas impregnadas de proteínas. As mem- branas das arquibactérias têm uma arquitetura semelhante, Bactérias gram-negativas Bactérias gram-positivas mas os lipídeos são surpreendentemente diferentes daque- Membrana externa; Sem membrana externa; camada de peptidoglicanos camada de peptidoglicanos les das bactérias (veja a Fig. 10-12). mais espessa O citoplasma da E. coli contém cerca de 15.000 ribos- somos, números variados de cópias (de 10 a milhares) de 1.000 diferentes enzimas, talvez 1.000 compostos orgâni- FIGURA 1-6 Características estruturais comuns das células bacte- rianas. Devido a diferenças na estrutura do envelope celular, algu- mas bactérias (gram-positivas) retêm o corante de Gram (introdu- zido por Hans Christian Gram em 1882), e outras (gram-negativas) não. E. coli é gram-negativa. As cianobactérias são distinguidas por Cianobactérias Arquibactérias Gram-negativas; camada Sem membrana externa; seu extenso sistema de membranas internas, onde se localizam os de peptidoglicanos mais camada de peptidoglicanos pigmentos fotossintéticos. Embora os envelopes das arquibactérias rígida; extenso sistema do lado de fora da e das bactérias gram-positivas pareçam semelhantes ao microscó- de membranas internas membrana plasmática pio eletrônico, a estrutura dos lipídeos de membrana e dos polissa- com pigmentos carídeos é muito diferente (veja a Fig. 10-12). fotossintéticos
  • 6. 6 David L. Nelson & Michael M. Cox O nucleoide contém uma única molécula de DNA circular, e e antibióticos ambientais. No laboratório, estes segmentos o citoplasma (como na maioria das bactérias) contém seg- de DNA são sensíveis à manipulação experimental e são mentos circulares de DNA chamados de plasmídios. Na ferramentas poderosas para a engenharia genética (veja o natureza, alguns plasmídios conferem resistência a toxinas Capítulo 9). (a) Célula animal Os ribossomos são máquinas de sintetizar proteínas O peroxissomo oxida ácidos graxos O citoesqueleto sustenta as células e auxilia no movimento das organelas O lisossomo degrada restos intracelulares O transporte de vesículas faz o trânsito de proteínas e lipídeos entre o RE, o complexo de Golgi e a membrana plasmática O complexo de Golgi processa, empacota e envia proteínas para outras organelas ou para exportação O retículo endoplasmático liso (REL) é o local de síntese de lipídeos e de metabolismo de drogas O envelope nuclear separa a O nucléolo é o local de síntese cromatina (DNA ϩ proteína) de RNA ribossomal do citoplasma O núcleo contém os O retículo endoplasmático rugoso (RER) é o local de muita genes (cromatina) A membrana plasmática separa a síntese proteica célula do meio e regula o movimento Envelope dos materiais para dentro e para nuclear Ribossomos Citoesqueleto fora da célula A mitocôndria oxida os combustíveis para produzir ATP Complexo de Golgi O cloroplasto absorve a luz solar e produz ATP e carboidratos Os grânulos de amido armazenam temporariamente os carboidratos produzidos na fotossíntese As tilacoides são locais de síntese de ATP movida pela luz A parede celular dá forma e rigidez, protegendo a célula da intumescência osmótica O vacúolo degrada e recicla macromoléculas e armazena metabólitos Parede celular de O plasmodesma permite células adjacentes a comunicação entre duas células vegetais O glioxissomo contém enzimas do ciclo do glioxilato (b) Célula vegetal FIGURA 17 Estrutura da célula eucariótica. Ilustrações esquemá- As estruturas marcadas em vermelho são exclusivas das células ticas dos dois principais tipos de célula eucariótica: (a) uma célula animais ou vegetais. Os micro-organismos eucarióticos (como pro- animal representativa e (b) uma célula vegetal representativa. As tistas e fungos) têm estruturas semelhantes às das células animais e células vegetais geralmente têm um diâmetro de 10 a 100 ␮m – vegetais, mas muitos também possuem organelas especializadas, maiores do que as células animais, que variam entre 5 e 30 ␮m. não ilustradas aqui.
  • 7. Princípios de Bioquímica de Lehninger 7 A maioria das bactérias (incluindo E. coli) existe como bém possuem vacúolos e cloroplastos (Fig. 1-7). No citoplas- células individuais, mas as células de algumas espécies bacte- ma de muitas células estão presentes também grânulos ou rianas (p.ex., as mixobactérias) mostram um comportamento gotículas contendo nutrientes armazenados como amido e social simples, formando agregados multicelulares. gordura. Em um avanço importante na bioquímica, Albert As células eucarióticas possuem uma grande variedade Claude, Christian de Duve e George Palade desenvolveram métodos para separar as organelas do citosol e umas das de organelas membranares, que podem ser isoladas para outras – uma etapa essencial na investigação de suas estru- estudo turas e funções. Em um processo de fragmentação típico As células eucarióticas típicas (Fig. 1-7) são muito maiores (Fig. 1-8), as células ou os tecidos em solução são suave- do que as bactérias – em geral de 5 a 100 μm de diâmetro, mente rompidos por cisalhamento físico. Este tratamento com um volume de mil a um milhão de vezes maior do que rompe a membrana plasmática, mas deixa intacta a maioria o das bactérias. As características que distinguem os euca- das organelas. O homogeneizado é então centrifugado; or- riotos são o núcleo e uma grande variedade de organelas en- ganelas como núcleo, mitocôndria e lisossomos diferem em voltas por membranas com funções específicas: mitocôndria, tamanho e por isso sedimentam em velocidades diferentes. retículo endoplasmático, complexo de Golgi, peroxissomos e A centrifugação diferencial resulta em um fracionamen- lisossomos. Além dessas organelas, as células vegetais tam- to preliminar do conteúdo citoplasmático, que pode ser pos- FIGURA 1-8 Fracionamento subcelular de tecidos. Um tecido como o hepático é homogeneizado mecanicamente para romper as células e dispersar seu conteúdo em um tampão aquoso. O meio com sacarose tem uma pressão osmótica semelhante à das organelas, equilibrando assim a difusão da água para dentro e para fora das organelas, as quais intumesceriam e estourariam em uma solução de osmolaridade mais baixa (veja a Fig. 2-12). (a) As partículas grandes e pequenas em suspensão podem ser separadas por centrifugação em diferentes velocidades, ou (b) as partículas de diferentes densidades podem ser separadas por cen- trifugação isopícnica, na qual se enche o tubo de centrífuga com (a) Centrifugação uma solução cuja densidade aumenta do topo para o fundo; um diferencial soluto como a sacarose é dissolvido em diferentes concentrações para produzir o gradiente de densidade. Quando uma mistura Homogeneização de organelas for colocada no topo do gradiente de densidade e do tecido o tubo for centrifugado a alta velocidade, as organelas sedimen- tam até que sua densidade de flutuação se iguale à do gradiente. Centrifugação a baixa velocidade (1.000 g, 10 min) Cada camada pode ser coletada separadamente. (b) Centrifugação ▲▲ ❚ ▲ isopícnica (em ▲ ▲❚ ▲ densidade de sacarose) ▲ Sobrenadante centrifugado ❚ ❚ ❚ ❚ ▲ a velocidade média ❚ ▲ ❚▲ ▲ ▲ ▲❚ (20.000 g, 20 min) ▲ ❚ ❚ ❚ ▲ ❚ ▲ ❚ Centrifugação ❚ ❚ ▲ ▲ ❚▲ ❚ ▲ Sobrenadante ▲ ▲ ▲ ❚ ▲ ❚ centrifugado a ❚ ❚ ▲ ❚ ❚ velocidade alta ▲ Homogeneizado ❚ ▲ ❚▲ (80.000 g, 1 h) de tecido ❚ ▲ ▲ ❚ ❚ ❚ ❚ ▲ ❚ ▲ Sobrenadante ▲❚ ▲ ❚ ▲ ▲ centrifugado ▲ ▲ ❚ ▲ ❚ a velocidade ❚ muito alta ❚ Sedimento contém ❚ células inteiras, ❚ ❚ (150.000 g, 3 h) núcleos, ❚ ❚ citoesqueleto, ▲ ▲ ▲ membrana Amostra ▲▲ ▲ ▲ ▲ ▲ plasmática Sedimento Gradiente contém de sacarose mitocôndrias, lisossomos, Sobrenadante peroxissomos ❚ ❚ ❚ contém ❚ ❚ ❚❚ Componente ❚❚ ❚ proteínas ❚ menos denso Sedimento solúveis contém Fracionamento microssomos Componente (fragmentos de RE), mais denso pequenas vesículas Sedimento contém ribossomos, macromolé- culas grandes 8 7 6 5 4 3 2 1
  • 8. 8 David L. Nelson & Michael M. Cox teriormente purificado por centrifugação isopícnica (“mesma e forma à célula. Os filamentos de actina e os microtúbulos densidade”). Neste procedimento, as organelas com diferen- também auxiliam na produção de movimento das organelas tes densidades de flutuação (resultantes de razões diferentes e da célula inteira. entre lipídeo e proteína em cada tipo de organela) são sepa- Cada tipo de componente do citoesqueleto é compos- radas por centrifugação por meio de uma coluna de solven- to por subunidades proteicas simples que se associam de te com gradiente de densidade. Pela remoção cuidadosa do forma não covalente para formar filamentos de espessura material de cada região do gradiente e observação ao micros- uniforme. Estes filamentos não são estruturas permanentes, cópio, o bioquímico pode estabelecer a posição de sedimen- sendo submetidos a constante desmontagem em suas subu- tação de cada organela e obter organelas purificadas para nidades e remontagem novamente em filamentos. Sua loca- estudo posterior. Esses métodos foram utilizados para esta- lização na célula não é fixa, podendo mudar drasticamen- belecer, por exemplo, que os lisossomos contêm enzimas de- te com a mitose, a citocinese, o movimento ameboide ou gradativas, as mitocôndrias contêm enzimas oxidativas, e os mudanças na forma celular. A montagem, a desmontagem e cloroplastos contêm pigmentos fotossintéticos. O isolamento a localização de todos os tipos de filamentos são reguladas de uma organela enriquecida em determinada enzima com por outras proteínas, as quais servem para ligar ou reunir frequência é a primeira etapa na purificação dessa enzima. os filamentos ou para mover as organelas citoplasmáticas ao longo deles. O quadro que emerge desta breve visão da O citoplasma é organizado pelo citoesqueleto e é estrutura da célula eucariótica é o de uma célula com uma trama de fibras estruturais e um sistema complexo de com- altamente dinâmico partimentos envoltos por membranas (Fig. 1-7). Os filamen- A microscopia de fluorescência revela vários tipos de fi- tos se desmontam e se remontam em outro lugar. As vesícu- lamentos proteicos atravessando a célula eucariótica em las membranares brotam de uma organela e se fundem com várias direções, formando uma rede tridimensional inter- outra. As organelas se movem pelo citoplasma ao longo de ligada, o citoesqueleto. Existem três tipos gerais de fila- filamentos proteicos, e seu movimento é impulsionado por mentos citoplasmáticos – filamentos de actina, microtúbu- proteínas motoras dependentes de energia. O sistema de los e filamentos intermediários (Fig. 1-9) – que diferem em endomembranas segrega processos metabólicos específi- largura (de 6 a 22 nm), composição, e função específica. To- cos e provê superfícies sobre as quais ocorrem determina- dos os tipos conferem estrutura e organização ao citoplasma das reações catalisadas por enzimas. A exocitose e a endo- (a) (b) FIGURA 1-9 Os três tipos de filamentos do citoesqueleto: fila- vermelho; os microtúbulos, irradiando a partir do centro da célu- mentos de actina, microtúbulos e filamentos intermediários. As la, estão marcados em verde; e os cromossomos (no núcleo) estão estruturas celulares podem ser marcadas com um anticorpo (que marcados em azul. (b) Uma célula de pulmão de salamandra em reconheça uma determinada proteína) covalentemente ligado a um mitose. Os microtúbulos (em verde) ligados a estruturas chamadas composto fluorescente. As estruturas marcadas são visíveis quan- de cinetócoros (em amarelo) sobre os cromossomos condensados do a célula é observada sob um microscópio de fluorescência. (a) (em azul) puxam os cromossomos para polos opostos, ou centros- Células endoteliais da artéria pulmonar bovina. Feixes de filamen- somos (em magenta), da célula. Os filamentos intermediários, for- tos de actina denominados “fibras de estresse” estão marcados em mados de queratina (em vermelho), mantêm a estrutura da célula.
  • 9. Princípios de Bioquímica de Lehninger 9 citose, mecanismos de transporte (para fora e para dentro As interações entre o citoesqueleto e as organelas são não da célula, respectivamente) que envolvem fusão e fissão de covalentes, reversíveis e sujeitas à regulação em resposta a membranas, produzem vias entre o citoplasma e o meio cir- vários sinais intra e extracelulares. cundante, permitindo a secreção de substâncias produzidas na célula e a captação de materiais extracelulares. As células constroem estruturas supramoleculares Esta organização do citoplasma, embora complexa, está longe de ser aleatória. O movimento e o posicionamento das As macromoléculas e suas subunidades monoméricas di- organelas e dos elementos do citoesqueleto estão sob uma ferem muito em tamanho (Fig. 1-10). Uma molécula de regulação firme, e uma célula eucariótica é submetida, em alanina tem menos de 0,5 nm de comprimento. Uma molé- determinados estágios da vida, a reorganizações dramáti- cula de hemoglobina, a proteína transportadora de oxigênio cas conduzidas com exatidão, como nos eventos da mitose. dos eritrócitos (células vermelhas do sangue), consiste em subunidades contendo cerca de 600 resíduos de aminoáci- dos em quatro longas cadeias, dobradas em forma globular (a) Alguns dos aminoácidos das proteínas e associadas em uma estrutura de 5,5 nm de diâmetro. As proteínas, por sua vez, são muito menores do que os ribos- Ϫ Ϫ Ϫ COO COO COO somos (cerca de 20 nm de diâmetro), os quais, por sua vez, ϩ ϩ ϩ H 3N C H H 3N C H H 3N C H são menores do que organelas como as mitocôndrias, que têm 1.000 nm de diâmetro. É um grande salto das biomolé- CH3 CH2OH CH2 culas simples às estruturas celulares que podem ser vistas Ϫ ao microscópio óptico. A Figura 1-11 ilustra a hierarquia Alanina Serina COO estrutural na organização celular. Aspartato As subunidades monoméricas das proteínas, dos áci- Ϫ COO Ϫ dos nucleicos e dos polissacarídeos são unidas por ligações COO ϩ ϩ Ϫ COO H 3N C H H 3N C H ϩ FIGURA 1-10 Os compostos orgânicos a partir dos quais é formada H 3N C H a maior parte dos materiais celulares: o ABC da bioquímica. Estão CH2 CH2 NH CH2 mostrados aqui (a) seis dos 20 aminoácidos que formam todas as C CH proteínas (as cadeias laterais estão sombreadas em cor-de-rosa); (b) SH as cinco bases nitrogenadas, os dois açúcares de cinco carbonos e HC ϩ NH Cisteína os íons fosfato que formam os ácidos nucleicos; (c) os cinco compo- OH Histidina nentes dos lipídeos de membrana; e (d) D-glicose, o açúcar simples Tirosina que origina a maioria dos carboidratos. Observe que o fosfato é um componente dos ácidos nucleicos e dos lipídeos de membrana. (b) Os componentes dos ácidos nucleicos (c) Alguns componentes dos lipídios O O NH2 COOϪ COOϪ CH2OH C C CH3 CH2 CH2 CHOH HN CH HN C N CH CH2 CH2 CH2OH C CH C CH C CH Glicerol O N O N O N CH2 CH2 H H H CH2 CH2 Uracil Timina Citosina CH3 CH2 CH2 ϩ CH3 N CH2CH2OH NH2 O CH2 CH2 CH3 C C OϪ CH2 CH2 Colina N N N C HN C CH CH2 CH CH HO P OH HC C C C CH CH2 N N H2N N N O H H Fosfato CH2 CH2 Adenina Guanina (d) O açúcar de origem CH2 CH2 Bases nitrogenadas CH2 CH2 HOCH2 O H HOCH2 O CH2 CH2 CH 2OH H H H CH2 CH2 O H H H H H OH H H OH CH2 CH3 OH H OH OH OH H Palmitato HO OH CH2 ␣-D-Ribose H OH 2-desoxi-␣-D-ribose CH3 Açúcares de cinco carbonos Oleato ␣-D-Glicose
  • 10. 10 David L. Nelson & Michael M. Cox Nível 4: Nível 3: Nível 2: Nível 1: A célula e Complexos Macromoléculas Unidades suas organelas supramoleculares monoméricas NH2 Nucleotídeos N DNA OϪ O N Ϫ O P O CH2 O O H H H H OH H Cromatina Aminoácidos H ϩ H3N C COOϪ Proteína CH3 Membrana plasmática Celulose OH CH 2 O H H H OH OH HO OH H Açúcares CH 2 OH H Parede celular O FIGURA 1-11 Hierarquia estrutural na organização molecular das células. O núcleo desta célula vegetal é uma organela que contém vários tipos de complexos supramoleculares, incluindo cromatina. A cromatina consiste em dois tipos de macromoléculas, DNA e muitas proteínas diferentes, sendo cada uma delas formada por subunidades simples. covalentes. Nos complexos supramoleculares, contudo, as go da célula. Em resumo, uma dada molécula pode ter um macromoléculas são unidas por interações não covalentes comportamento muito diferente na célula e in vitro. Um de- – individualmente muito mais fracas do que as covalentes. safio central na bioquímica é entender as influências da orga- Entre estas interações estão as ligações de hidrogênio (en- nização celular e das associações macromoleculares sobre a tre grupos polares), as interações iônicas (entre grupos car- função das enzimas individuais e outras biomoléculas – para regados), as interações hidrofóbicas (entre grupos apolares entender a função in vivo assim como in vitro. em solução aquosa) e as interações de van der Waals (forças de London) – todas elas com energia muito menor do que as RESUMO 1.1 Fundamentos celulares ligações covalentes. Essas interações são descritas no Capí- ■ Todas as células são delimitadas por uma membrana tulo 2. O grande número de interações fracas entre as ma- plasmática, tendo um citosol contendo metabólitos, co- cromoléculas em complexos supramoleculares estabilizam enzimas, íons inorgânicos e enzimas, possuindo um con- essas agregações, gerando suas estruturas singulares. junto de genes contidos dentro de um nucleoide (bacté- rias e arquibactérias) ou de um núcleo (eucariotos). Estudos in vitro podem omitir interações importantes ■ Os fototróficos usam a luz do sol para realizar trabalho; entre moléculas os quimiotróficos oxidam combustíveis, transferindo elétrons para bons aceptores: compostos inorgânicos, Uma abordagem para o entendimento de um processo bioló- compostos orgânicos ou oxigênio molecular. gico é o estudo in vitro de moléculas purificadas (“no vidro” – no tubo de ensaio), sem a interferência de outras molécu- ■ As células de bactérias e de arquibactérias contêm cito- las presentes na célula intacta – isto é, in vivo (“no vivo”). sol, um nucleoide e plasmídeos. As células eucarióticas Embora esta abordagem seja muito esclarecedora, deve-se têm um núcleo e são multicompartimentalizadas, com considerar que o interior de uma célula é totalmente diferen- determinados processos segregados em organelas es- te do interior de um tubo de ensaio. Os componentes “inter- pecíficas; as organelas podem ser separadas e estuda- ferentes” eliminados na purificação podem ser críticos para a das isoladamente. função biológica ou para a regulação da molécula purificada. ■ As proteínas do citoesqueleto se organizam em longos Por exemplo, estudos in vitro de enzimas puras são comu- filamentos que dão forma e rigidez às células e servem mente realizados com concentrações muito baixas da enzima como trilhos ao longo dos quais as organelas celulares em soluções aquosas sob agitação. Na célula, uma enzima se deslocam por toda a célula. está dissolvida ou suspensa em um citosol com consistência ■ Complexos supramoleculares são mantidos unidos por gelatinosa junto com milhares de outras proteínas, sendo que interações não covalentes e formam uma hierarquia algumas delas se ligam à enzima e influenciam sua atividade. de estruturas, algumas delas visíveis ao microscópio Algumas enzimas são componentes de complexos multienzi- óptico. Quando moléculas individuais são removidas máticos nos quais os reagentes passam de uma enzima para destes complexos para serem estudadas in vitro, al- a outra, sem interagir com o solvente. A difusão é dificultada gumas interações, importantes na célula viva, podem no citosol gelatinoso, e a composição citosólica varia ao lon- ser perdidas.
  • 11. Princípios de Bioquímica de Lehninger 11 1 2 FIGURA 1-12 Elementos essenciais para a H He vida e a saúde animal. Os elementos princi- 3 4 Elementos principais 5 6 7 8 9 10 pais (em laranja) são componentes estruturais Li Be Elementos-traço B C N O F Ne das células e dos tecidos e são requeridos na 11 12 13 14 15 16 17 18 dieta em uma quantidade de vários gramas Na Mg Al Si P S Cl Ar por dia. Para os elementos-traço (em amarelo 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 brilhante) as quantidades requeridas são mui- K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr to menores: para humanos, alguns miligramas 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 por dia de ferro, cobre e zinco são suficientes, Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe e quantidades ainda menores dos demais ele- 55 56 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 mentos. As necessidades mínimas para plan- Cs Ba Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg Tl Pb Bi Po At Rn tas e micro-organismos são similares às mos- 87 88 Fr Ra Lantanídeos tradas aqui; o que varia são as maneiras pelas Actinídeos quais eles adquirem estes elementos. 1.2 Fundamentos químicos são hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e carbono, que juntos constituem mais de 99% da massa das células. Eles são os A bioquímica tenta explicar as formas e as funções bioló- elementos mais leves capazes de formar eficientemente gicas em termos químicos. No final do século XVIII, os quí- uma, duas, três e quatro ligações; em geral, os elementos micos concluíram que a composição da matéria viva é im- mais fracos formam as ligações mais fortes. Os elemen- pressionantemente diferente daquela do mundo inanimado. tos-traço (Fig. 1-12) representam uma fração minúscula Antoine-Laurent Lavoisier (1743-1794) percebeu a relativa do peso do corpo humano, mas todos são essenciais à vida, simplicidade do “mundo mineral” e contrastou-a com a com- geralmente por serem essenciais para a função de proteí- plexidade dos “mundos animal e vegetal”. Estes últimos ele nas específicas, incluindo muitas enzimas. A capacidade de sabia serem constituídos de compostos ricos nos elementos transporte de oxigênio da hemoglobina, por exemplo, é to- carbono, oxigênio, nitrogênio e fósforo. talmente dependente de quatro íons de ferro, que somados Durante a primeira metade do século XX, investigações representam somente 0,3% da massa total. bioquímicas conduzidas em paralelo sobre a oxidação da gli- cose em leveduras e células de músculo animal revelaram similaridades químicas marcantes nestes dois tipos celulares Biomoléculas são compostos de carbono com uma grande aparentemente muito distintos, indicando que a queima da variedade de grupos funcionais glicose em leveduras e células musculares envolve os mesmos A química dos organismos vivos está organizada em torno 10 intermediários químicos e as mesmas 10 enzimas. Estudos do carbono, que contribui em mais da metade do peso seco subsequentes de muitos outros processos químicos em dife- das células. O carbono pode formar ligações simples com rentes organismos confirmaram a generalidade desta observa- átomos de hidrogênio, assim como ligações simples e duplas ção, resumida em 1954 por Jacques Monod: “O que vale para com átomos de oxigênio e nitrogênio (Fig. 1-13). A capaci- a E. coli também vale para um elefante”. A atual compreensão dade dos átomos de carbono de formar ligações simples es- de que todos os organismos têm uma origem evolutiva comum táveis com até quatro outros átomos de carbono é de grande tem como base em parte esta observação, de que todos parti- importância na biologia. Dois átomos de carbono também cipam dos mesmos processos e intermediários químicos, o que podem compartilhar dois (ou três) pares de elétrons, for- muitas vezes é denominado unidade bioquímica. mando assim ligações duplas (ou triplas). Menos de 30 entre os mais de 90 elementos químicos As quatro ligações simples que podem ser formadas de ocorrência natural são essenciais para os organismos. A pelo átomo de carbono se projetam a partir do núcleo for- maioria dos elementos da matéria viva tem um número atô- mando os quatro vértices de um tetraedro (Fig. 1-14), com mico relativamente baixo; somente dois possuem números um ângulo de aproximadamente 109,5° entre duas ligações atômicos maiores que o selênio, 34 (Fig. 1-12). Os quatro quaisquer e tendo um comprimento médio de ligação de elementos químicos mais abundantes nos organismos vivos, 0,154 nm. A rotação é livre em torno de cada ligação sim- em termos de porcentagem do total de número de átomos, ples, a menos que grupos muito grandes ou altamente car- C ϩ H C H C H C ϩ N C N C N C ϩ O C O C O C ϩ C C C C C FIGURA 1-13 A versatilidade do carbono em formar ligações. O C ϩ O C O C O C ϩ C C C C C carbono pode formar ligações co- valentes simples, duplas e triplas (indicadas em vermelho), particu- C ϩ N C N C N C ϩ C C C C C larmente com outros átomos de carbono. Ligações triplas são raras em biomoléculas.
  • 12. 12 David L. Nelson & Michael M. Cox (a) (b) (c) X A 120 109,5 C C C C C Y 109,5 B FIGURA 1-14 Geometria da ligação do carbono. (a) Os átomos de (CH3—CH3). (c) Ligações duplas são mais curtas e não permitem carbono têm um arranjo tetraédrico bem característico para suas rotação. Os dois carbonos ligados por ligação dupla e os átomos quatro ligações simples. (b) A ligação simples carbono-carbono designados por A, B, X e Y estão todos no mesmo plano rígido. tem liberdade de rotação, como mostrado para o composto etano H H H Metil R C H Éter R1 O R2 Guanidina R N C N H ϩ N H H H H H Etil R C C H Éster R1 C O R2 Imidazol R C CH H H O HN N: C H H H C C H Fenil R C CH Acetil R O C C H Sulfidril R S H C C O H H H Carbonil R C H Anidrido R1 C O C R2 Dissulfeto R1 S S R2 (aldeído) (dois ácidos O O O carboxílicos) H Carbonil R 1 C R 2 Amino R Nϩ H Tioéster R1 C S R2 (cetona) (protonado) O H O H OϪ Carboxil R C OϪ Amida R C N Fosforil R O P OH O H O O H N OϪ OϪ 1 2 1 Hidroxil R O H Imina R C R Fosfoanidrido R O P O P O R2 (álcool) O O O H H OϪ R3 Enol R C C Imina N- Anidrido misto R C O P OH substituída N (de ácido carboxílico H H O O (base de e ácido fosfórico; R1 C R2 Schiff) também chamado de acil-fosfato) FIGURA 1-15 Alguns grupos funcionais comuns de biomolécu- de hidrogênio, mas tipicamente será um grupo contendo carbono. las. Nesta figura e em todo o livro, será usado R para representar Quando dois ou mais substituintes são mostrados em uma molécu- “qualquer substituinte”. Ele pode ser tão simples como um átomo la, serão designados como R1, R2 e assim por diante.