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1
COVID-19 e “pós-verdade”: o escárnio da racionalidade técnico-instrumental1
Emerson Campos Gonçalves2
barbárie dos números3
materializa o pior dos cenários: uma pandemia4
– de proporções
talvez só previstas nos sci-fi hollywoodianos mais apocalípticos e, por isso mesmo,
aparentemente distópicos e longínquos – flagela a humanidade em todos os continentes.
Não se trata de uma “gripezinha” ou de “histeria”, como o “excrementíssimo” presidente brasileiro
anunciou5
, tampouco de uma nomenclatura que induz uma “medida de emergência frenética, irracional e
totalmente infundada”, utilizada como justificativa para limitar nossa liberdade e implementar o estado de
exceção, conforme defendeu Giorgio Agamben em análise demasiadamente apressada e/ou ansiosa no
último 26 de fevereiro6
. Trata-se, sim, de um evento capaz de colocar em xeque nosso próprio senso de
humanidade, nossos contratos sociais vigentes, nossos modos de produção, nossa limitada compreensão
sobre a ideia de esfera pública e nossa capacidade de reconhecimento e reação solidária – enquanto espécie
– frente o inesperado e o caos. E é da Itália do próprio Agamben que surgem os dados que justificam tais
dimensões: o país, que registrava sua primeira morte há aproximadamente um mês, hoje segue numa média
de 600 óbitos por dia, totalizando mais de 6 mil mortos pelo novo coronavírus. E a curva segue em
crescente.
1
Este ensaio foi elaborado considerando, sobremaneira, os desdobramentos do avanço do COVID-19 no cenário brasileiro.
Agradeço à professora Juliana Barbosa pelo carinho de sempre com a leitura e revisão atenta do texto.
2
Doutor em Educação (PPGE/Ufes) e Mestre em Estudos de Linguagens (Posling/Cefet-MG). Pesquisador no Núcleo de Estudos
e Pesquisa em Educação, Filosofia e Linguagens (Nepefil/CE/Ufes). Professor substituto no Departamento de Linguagens,
Cultura e Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (DLCE/CE/Ufes). E-mail: professoremersoncampos@gmail.com.
3
Em Educação após Auschwitz, ao mencionar o assassinato planejado em massa que fora promovido pelo regime nazifascista,
Theodor W. Adorno lembra que “só o simples fato de citar números já é humanamente indigno” (p. 120). Essa mesma
apropriação pode ser feita ao analisarmos a tendência imperativa da sociedade contemporânea em transformar toda a
singularidade da vida em estatísticas. A quantificação das vidas perdidas pela ineficiência das estratégias de combate e contenção
do coronavírus são prova desse esvaziamento que os números conseguem promover como barbárie. ADORNO, Theodor W.
Educação e emancipação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
4
O coronavírus foi declarado uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apenas no último 11 de março, quando
mais de 4,2 mil pessoas já haviam morrido da doença ao redor do globo.
5
Bolsonaro volta a minimizar pandemia e chama Covid-19 de ‘gripezinha’. Reportagem de O Globo publicada em 20 de março
de 2020.
6
Lo stato d’eccezione provocato da un’emergenza immotivata. Texto de Giorgio Agamben em Il Manifesto publicado em 26 de
fevereiro de 2020.
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2
Não vou me ater aqui em contrapor Agamben em sua análise (até porque tal tarefa foi feita por Jean-
Luc Nancy, que goza de envergadura teórica para tal embate)7
. Contudo, acho relevante lembrar da
contradição que seria ter que lembrar ao filósofo italiano que nesta sociedade, como ele próprio escreveu (e
Walter Benjamin antes dele), a exceção é a regra, é a norma. Enfim, de que não trata de se legitimar um
estado de exceção com as medidas de restrição na circulação das pessoas (ainda que essa crítica sempre seja
importante), mas de admitir a exceção (que é o coronavírus) dentro da exceção enquanto barbárie que institui
a normalidade (que é o sistema de opressão dos estados capitalistas), que já restringe de diferentes formas a
circulação de determinados grupos e classes – ou vamos fingir que o negro da periferia possui os mesmos
acessos que o branco da classe média, que pessoas LGBTQI+ conseguem circular sem qualquer temor?
Confuso pensar em exceção dentro da exceção? Nem tanto quando olhamos para a realidade objetiva
e ideológica que cercava nossa vida ordinária nos tempos que antecederam a pandemia, isso é, de um mundo
notoriamente orientado por aquilo que muitos teóricos acordaram denominar por “pós-verdade”, ou seja, um
mundo onde a crença particular de cada indivíduo se impunha como verdade inconteste a despeito da
necessidade de qualquer comprovação científica; onde a vontade absoluta do espírito individualista se
colocava num patamar não-histórico (ou pós-histórico) desconexo em relação ao próprio correr da vida;
onde, literalmente, qualquer crise seria um pormenor frente a crença de que a natureza foi dominada de tal
maneira que teríamos o direito de projetar nossas pulsões mais mesquinhas e desencontradas sem nenhuma
sustentação objetiva ou empírica dos fatos, como se o mundo estivesse definitivamente adestrado para se
adaptar aos nossos caprichos.
Sei que escrever sobre “pós-verdade” pode parecer pouco produtivo neste contexto em que a
discussão central se pauta nas medidas de contenção de uma doença tão grave e no real significado do
isolamento social imposto, mas, mesmo me arriscando no jogo das análises a contrapelo (como tentou
Agamben e, também, Slavoj Žižek8
), acho importante elencar algumas contradições que essa crise nos
revela. Isso porque – recordando a provocação da professora Samira Sten num grupo de WhatsApp que
nosso núcleo de pesquisa mantém – essa tentativa pertence, de alguma forma, ao meu papel como cientista
social neste momento: já que, além de ficar em casa, posso fazer muito pouco para ajudar no combate ao
COVID-19, talvez a minha contribuição seja buscar outros modelos de sociedade em que, se não livres,
estaríamos menos expostos e/ou vulneráveis aos riscos de um vírus desconhecido, com sistemas de
acolhimento, saúde e gestão humana mais democráticos e, portanto, eficientes.
7
Soma-se a essa discussão a “tréplica” de Giorgio Agamben, intitulada Chiarimenti (Esclarecimentos, em tradução livre),
publicada em no site da editora Quodlibet em 17 de março de 2020.
8
Monitor and punish? Yes, please! Texto de Slavoj Žižek em The Philosophical Salon publicado em 16 de março de 2020.
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3
Por isso insisto no tema “pós-verdade” neste ensaio. Para muitos, a “pós-verdade” seria uma espécie
de escárnio em relação à racionalidade técnico-instrumental sob a qual se constitui o estado burguês (talvez,
assim como os produtos da indústria cultural são em relação à obra de arte burguesa)9
. Em outras palavras,
essa perspectiva, que não precisa de encontrar qualquer sustentação no mundo objetivo, seria uma verdadeira
zombaria da busca do homem moderno pelo controle da natureza pela razão. A meu ver, contudo, esse
enquadramento está, paradoxalmente, correto e equivocado. Explico! A “pós-verdade” não surge como
paródia à racionalidade instrumental, mas como produto da fé cega depositada pelo homem moderno neste
estado absolutamente racional de domínio sobre o mundo objetivo, que seria totalmente maleável para se
adaptar às suas pseudoteorias (como o neoliberalismo, por exemplo). Ou seja, o equívoco está em tratá-la (a
“pós-verdade”) como um deboche dionisíaco sobre a “vitória da razão”, quando, em sua gênese, ela é a
confirmação desse espírito desleixado. E é aí que surge a contradição: ao não intencionar esse
enquadramento, ela acaba se tornando escárnio daquilo que ousa confirmar, uma vez que não pode fazê-lo
objetivamente. Afinal, a crença cega, tal qual a religião e o vício, nada mais é do que o apoio de uma suposta
verdade em objetos falsos, decorativos10
. Logo, acreditar nesse domínio irrestrito e final do homem sobre a
natureza que marca a “pós-verdade” nada mais é do que a sustentação de um pensamento falso a partir de
uma premissa falsa, isso é, da elaboração de simulacros arranjados a partir de uma ilusão racional. E aí,
como sabemos, o perigo da “farsa da farsa” é que ela, via de regra, carrega a ideologia responsável por
conduzir-nos a estados nazifascistas11
.
Nesse cenário de “pós-verdade”, não era muito difícil prever que qualquer crise que demandasse uma
mobilização pautada em ações sociais coordenadas e coerentes com a realidade teria impactos desastrosos,
capazes de conduzir-nos de vez a esse estado de “farsa da farsa” ou à legitimação de uma “exceção da
exceção”. E, ao fim, é disso que trata a expansão do coronavírus enquanto crise humana: o trem da história
ameaça ser descarrilado pela pandemia. O porvir, porém, segue aberto. É ele que precisamos observar.
Assim, tomando a metáfora benjaminiana, compreendamos que o correr objetivo da locomotiva que
ameaça sair dos trilhos nos impõe a dureza do aço quando tentamos freá-la, afinal nenhum manual poderá
prevenir com total eficácia dos perigos do caminho. Trocando as palavras, da mesma forma como o 11 de
setembro marcou um duro golpe aos delírios da “agenda pós” e suas múltiplas e infinitas “verdades”, o
surgimento de uma pandemia em meio a uma perspectiva marcada pela negação da realidade objetiva na
9
ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido
Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
10
TÜRCKE, Christoph. Sociedade excitada: filosofia da sensação. Tradução de Antônio Zuin (et al.). Campinas/SP: Editora da
Unicamp, 2010.
11
VEDDA, M. XI Congresso Internacional de Teoria Crítica: Estado de exceção e racionalidade na idade mídia. Conferência:
Filosofia, teoria social e Estado de exceção. 01-05 de out. de 2018. Notas do congresso.
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4
“pós-verdade”, quando governos de extrema-direita começavam a avançar por todo o globo, representa um
tensionamento histórico com múltiplos desdobramentos possíveis no campo ideológico e das relações
humanas, capazes de parar o trem ou – no pior dos cenários que se apresenta – acelerá-lo descontrolado de
encontro à próxima estação.
Surgem então, expostas na crise, as veias das contradições dessa sociedade que se habituou a tratar
todas as suas relações (e aqui entram educação, saúde e o acesso a bens naturais, como a água)
prioritariamente como mercadorias. Como listado no início deste ensaio, é colocado em xeque o
individualismo do homem moderno, seus contratos sociais, seu conceito de opinião pública e seu modo de
produção econômica. E isso acontece sobretudo porque a transmissão do coronavírus entre os diferentes
países ocorre a partir de um grupo social que sempre teve o privilégio de se deslocar (talvez por isso tamanho
debate sobre a exceção que marca o isolamento). Aí, como não é possível combater uma pandemia com
discursos sem sustentação científica, tampouco administrar uma crise global de saúde com “memes” e “fake
news”12
, semeia-se naturalmente a incerteza num tempo que todas as certezas eram intocáveis,
autossustentadas por outras teias de certezas vazias, produzidas por esse indivíduo “liberto” das redes online.
Nesse cenário, marcado pelos questionamentos impostos pela expansão do coronavírus e o
isolamento social, aparece a bifurcação à qual devemos direcionar nossa atenção e cuidado neste momento:
com a vida literalmente suspensa e/ou paralisada pela “exceção da exceção” no estado moderno, surgem
dois caminhos principais possíveis, cuja escolha pode ser determinante para saber se acordaremos do
pesadelo ou se acordaremos num pesadelo pior. O primeiro deles, solidário e natural, surge como uma mea-
culpa (ainda que não se pretenda assim) dos “liberais” (mais uma vez, ainda que esses também não se
pretendam assim) mais conscientes: incentiva-se a solidariedade entre as classes e o gerenciamento do bem-
estar social pelo Estado13
; aposta-se na socialização dos bens essenciais, defendendo a gratuidade de serviços
de energia elétrica, água e gás14
; menciona-se a necessidade de uma renda básica mínima comum, a fim de
garantir o sustento das camadas mais pauperizadas15
; reforça-se o papel educativo e formativo da imprensa
e do jornalismo; promove-se a defesa da saúde e da educação públicas (ambas alvo costumaz de ataque nos
tempos de “pós-verdade”), com destaque para a relevância do papel das universidades como centros de
pesquisa capazes de desenvolver medidas eficazes para cuidar dos atingidos pela pandemia16
... [e por aí vai].
12
Recomendo a leitura do artigo Fake news: um subproduto do jornalismo ou da escola?, que publiquei no VIII Coninter.
13
<https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2020/03/22/solidariedade-vira-aliada-no-combate-ao-coronavirus.ghtml>.
14
<https://www.agazeta.com.br/es/gv/coronavirus-oab-es-pede-suspensao-de-cobranca-de-agua-e-luz-por-3-meses-0320>.
15
<https://epoca.globo.com/guilherme-amado/senador-quer-renda-minima-para-reduzir-impactos-do-coronavirus-24320001>.
16
<https://jornal.usp.br/atualidades/vacina-contra-coronavirus-em-desenvolvimento-na-usp-e-diferente-da-americana/>.
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5
A face mencionada acima é assumida por uma parcela significativa das pessoas, que optam por
abandonar o discurso da “pós-verdade” (prioritariamente burguês), trocando o apoio no objeto falso pela
retomada de um projeto racional “inacabado”, ou seja, reconhecendo – ainda que de forma inconsciente –
que não fomos e que não somos capazes de dominar plenamente a natureza e que um modelo baseado nessa
falsa noção, como o neoliberal, representaria nossa extinção.
Contudo, existe um segundo movimento que preocupa. Trata-se das manifestações favoráveis ao
endurecimento do modelo em crise como solução para a própria crise – e aqui é importante lembrar que
escrevo sob a perspectiva de um Brasil que segue naufragando em meio às piores maldades na necropolítica
neoliberal17
. Nesse cenário, o que mais espanta é a redução e o desmantelamento de condições básicas à
manutenção do bem-estar humano numa crise que é, prioritariamente, de saúde humana. E aqui a crítica de
Agamben talvez faça mais sentido, não porque existe uma superestimação da doença (o que, definitivamente,
não há), mas porque os objetivos com os decretos (de calamidade, etc) e as medidas provisórias em alguns
países – como ocorre no Brasil – têm sim a intenção de promover mais exceção e restrição de direitos. Mais
do que desafios, aos olhos dos abutres, soam como oportunidades. Olhemos para o caso brasileiro. Até o
momento, a aposta para conter a epidemia no país girou em torno do “bem estar” econômico de bilionários
e banqueiros, com a autorização da redução da jornada de trabalho e do salário18
, suspensão de vínculos
empregatícios19
e liberação de aportes de dinheiro público mais do que generosos para as instituições
financeiras20
. Quando o modelo neoliberal atingiu o ápice de sua crise, a aposta – aproveitando a
impossibilidade de movimentação e mobilização nas ruas – é de mais medidas neoliberais. Se isso avançar,
em breve, milhares de brasileiros minguarão de fome em meio à pandemia.
Dentro dessa perspectiva, duas breves menções me parecem importantes: à ideia de tempo livre em
Adorno21
e à ineficácia desse homem “pós-moderno” e livre das redes sociais online. Sobre a primeira
questão, é no mínimo curioso identificar que o mesmo decreto que suspendia os contratos de trabalho verse
sobre a obrigatoriedade de que as empresas ofereçam cursos online para que os funcionários usem seu tempo
em casa se aperfeiçoando (se isso não ilustra a tentativa de ocupar todo e qualquer tempo livre possível para
17
Para ilustrar essa perspectiva, basta verificar a tentativa do Ministério da Educação de impor o regime de Educação à Distância
em substituição às aulas presenciais, ação que serviria de piloto para, num futuro não muito distante, enfraquecer ainda mais o
labor docente e a autonomia das universidades públicas <http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=86441>.
18
<https://www.agazeta.com.br/es/economia/empresarios-do-es-elogiam-autorizacao-para-reduzir-salarios-mas-querem-novas-
medidas-do-governo-0320>.
19
Depois de assinar medida provisória que autorizava a suspensão do contrato de trabalho, o presidente voltou atrás na decisão
após pressão de diferentes setores da sociedade <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/23/bolsonaro-tira-da-
mp-artigo-que-previa-4-meses-sem-salario-para-trabalhador.htm>.
20
<https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/23/bc-compulsorios-coronavirus.htm>.
21
ADORNO, Theodor W. Palavras e sinais: modelos críticos 2. Petrópolis/RJ: Vozes, 1995.
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6
a reflexão e crítica com uma extensão do trabalho, poucas outras coisas conseguirão ilustrar). Sobre o
segundo ponto, fica uma confirmação: bater panelas na janela, como a classe média ensinou no golpe de
2016, é um gesto simbólico de grande alcance, mas de pouquíssima serventia se não tiver aderência nos
campos decisivos de gestão da sociedade (que no caso da classe média foi o confortável apoio do Judiciário
e do Legislativo ao golpe de 2016, mas no caso do proletariado sempre foram as ruas como espaço de
resistência e luta). Enclausurados, teremos uma batalha difícil de nossas janelas se não conseguirmos apoio
em novos campos de decisão que não sejam as redes sociais da internet.
Por fim, ainda dentro desses desdobramentos possíveis, encerro estas reflexões, por ora, chamando
para um diálogo dentro daquele que sempre foi meu corpus de análise principal: o jornalismo. Admito ter
caído em tentação nos últimos dias ao elogiar em demasia o trabalho extremamente eficaz de conscientização
realizado por muitas emissoras de televisão no Brasil (nesse momento em que “informação” pode salvar
milhares de vidas, efetivamente se trata de uma missão louvável). Digo cair em tentação porque o brilho nos
olhos também pode turvar nossa visão. E meu foco só foi reestabelecido quando me deparei com o absurdo
e repugnante editorial de O Globo, publicado em 20 de março, que, em linhas resumidas, defendeu o
sacrifício do salário de servidores públicos como contribuição para o combate do COVID-19.
O incômodo profundo gerado pelo texto me fez recuar um passo e olhar de forma crítica para a
cobertura da mídia. Nesse recuo o que percebi é que por um lado é sim necessário reconhecer a “valoração”
da informação neste momento como estratégia formativa, com jornais mais longos, maior número de boletins
informativos, tons mais sóbrios, escuta de especialistas diversos, ações conjuntas entre diferentes grupos22
(entre outras medidas). Mas, por outro lado, a constatação principal é de que, para além da estética mais
democrática, existe uma ética impregnada no conteúdo jornalístico que não se modificou, mesmo sob o
flagelo da pandemia. E isso assusta. Os interesses dos grupos/famílias que detêm a maior parte desses
veículos hegemônicos seguem inabalados e alinhados com a segunda perspectiva sinalizada neste ensaio (de
endurecimento neoliberal), conforme entrega o editorial supracitado. As coberturas sobre os danos das ações
neoliberais seguem superficiais, muito mais focadas na figura grotesca de um presidente que deveria ser
interditado do que nas consequências dos atos desmedidos, sendo o papel de resistência prioritariamente
assumido pelos veículos contra-hegemônicos, como sempre foi. Mais: romantiza-se o trabalho em casa
(home office), a Educação à Distância e o confinamento, direcionando um destaque mínimo para os
desdobramentos gravíssimos que a pandemia traz para os segmentos mais pauperizadas (afinal, como
qualquer crise social, o coronavírus também potencializa as questões de classe). Não que os contrapontos
não estejam lá. Como sempre eles estão, mas em escala ínfima perto do conjunto, incapazes de abalar ou
22
<https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,jornais-unificam-capas-contra-o-coronavirus,70003243919>.
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7
externar os questionamentos que habitam os pensamentos de toda uma sociedade neste momento. Segue-se
sem ir à raiz do problema. E mais uma vez aqui ratifico minha tese23
: isso acontece porque o próprio
jornalismo moderno se alimenta da mesma raiz. Enfrentá-la seria colocar-se em xeque. E esse risco os donos
de jornal não querem, preferem que não haja reflexão, preferem o jornalismo como antifilosofia.
É certo que esse cenário de dor, onde não conseguimos sequer dizer quem são nossos mortos, nos
obriga a almejar uma reconstrução. É certo que um outro mundo é preciso, um novo projeto de humanidade.
Mais solidário, com relações outras que não o capital especulativo, o mercado e a ganância de banqueiros e
barões da mídia. Reforço: a crise que nos atinge deixa como única certeza a necessidade da reconstrução.
As opções são múltiplas, mas os caminhos principais me parecem esses dois: buscar a utopia e a esperança
de uma outra sociedade (sem classes) ou aumentar a aposta nos erros que nos conduziram ao infortúnio atual.
Sigo com a esperança desde já.
23
O jornalismo como antifilosofia e a formação de indivíduos potencialmente fascistas na sociedade excitada: uma análise dos
comentários sobre o golpe de 2016 em Veja e Carta Capital. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade
Federal do Espírito Santo (PPGE/Ufes) <http://educacao.ufes.br/pt-br/pos-graduacao/PPGE/detalhes-da-tese?id=14257>.

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  • 1. www.emersoncampos.com.br 1 COVID-19 e “pós-verdade”: o escárnio da racionalidade técnico-instrumental1 Emerson Campos Gonçalves2 barbárie dos números3 materializa o pior dos cenários: uma pandemia4 – de proporções talvez só previstas nos sci-fi hollywoodianos mais apocalípticos e, por isso mesmo, aparentemente distópicos e longínquos – flagela a humanidade em todos os continentes. Não se trata de uma “gripezinha” ou de “histeria”, como o “excrementíssimo” presidente brasileiro anunciou5 , tampouco de uma nomenclatura que induz uma “medida de emergência frenética, irracional e totalmente infundada”, utilizada como justificativa para limitar nossa liberdade e implementar o estado de exceção, conforme defendeu Giorgio Agamben em análise demasiadamente apressada e/ou ansiosa no último 26 de fevereiro6 . Trata-se, sim, de um evento capaz de colocar em xeque nosso próprio senso de humanidade, nossos contratos sociais vigentes, nossos modos de produção, nossa limitada compreensão sobre a ideia de esfera pública e nossa capacidade de reconhecimento e reação solidária – enquanto espécie – frente o inesperado e o caos. E é da Itália do próprio Agamben que surgem os dados que justificam tais dimensões: o país, que registrava sua primeira morte há aproximadamente um mês, hoje segue numa média de 600 óbitos por dia, totalizando mais de 6 mil mortos pelo novo coronavírus. E a curva segue em crescente. 1 Este ensaio foi elaborado considerando, sobremaneira, os desdobramentos do avanço do COVID-19 no cenário brasileiro. Agradeço à professora Juliana Barbosa pelo carinho de sempre com a leitura e revisão atenta do texto. 2 Doutor em Educação (PPGE/Ufes) e Mestre em Estudos de Linguagens (Posling/Cefet-MG). Pesquisador no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Educação, Filosofia e Linguagens (Nepefil/CE/Ufes). Professor substituto no Departamento de Linguagens, Cultura e Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (DLCE/CE/Ufes). E-mail: professoremersoncampos@gmail.com. 3 Em Educação após Auschwitz, ao mencionar o assassinato planejado em massa que fora promovido pelo regime nazifascista, Theodor W. Adorno lembra que “só o simples fato de citar números já é humanamente indigno” (p. 120). Essa mesma apropriação pode ser feita ao analisarmos a tendência imperativa da sociedade contemporânea em transformar toda a singularidade da vida em estatísticas. A quantificação das vidas perdidas pela ineficiência das estratégias de combate e contenção do coronavírus são prova desse esvaziamento que os números conseguem promover como barbárie. ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. 4 O coronavírus foi declarado uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) apenas no último 11 de março, quando mais de 4,2 mil pessoas já haviam morrido da doença ao redor do globo. 5 Bolsonaro volta a minimizar pandemia e chama Covid-19 de ‘gripezinha’. Reportagem de O Globo publicada em 20 de março de 2020. 6 Lo stato d’eccezione provocato da un’emergenza immotivata. Texto de Giorgio Agamben em Il Manifesto publicado em 26 de fevereiro de 2020.
  • 2. www.emersoncampos.com.br 2 Não vou me ater aqui em contrapor Agamben em sua análise (até porque tal tarefa foi feita por Jean- Luc Nancy, que goza de envergadura teórica para tal embate)7 . Contudo, acho relevante lembrar da contradição que seria ter que lembrar ao filósofo italiano que nesta sociedade, como ele próprio escreveu (e Walter Benjamin antes dele), a exceção é a regra, é a norma. Enfim, de que não trata de se legitimar um estado de exceção com as medidas de restrição na circulação das pessoas (ainda que essa crítica sempre seja importante), mas de admitir a exceção (que é o coronavírus) dentro da exceção enquanto barbárie que institui a normalidade (que é o sistema de opressão dos estados capitalistas), que já restringe de diferentes formas a circulação de determinados grupos e classes – ou vamos fingir que o negro da periferia possui os mesmos acessos que o branco da classe média, que pessoas LGBTQI+ conseguem circular sem qualquer temor? Confuso pensar em exceção dentro da exceção? Nem tanto quando olhamos para a realidade objetiva e ideológica que cercava nossa vida ordinária nos tempos que antecederam a pandemia, isso é, de um mundo notoriamente orientado por aquilo que muitos teóricos acordaram denominar por “pós-verdade”, ou seja, um mundo onde a crença particular de cada indivíduo se impunha como verdade inconteste a despeito da necessidade de qualquer comprovação científica; onde a vontade absoluta do espírito individualista se colocava num patamar não-histórico (ou pós-histórico) desconexo em relação ao próprio correr da vida; onde, literalmente, qualquer crise seria um pormenor frente a crença de que a natureza foi dominada de tal maneira que teríamos o direito de projetar nossas pulsões mais mesquinhas e desencontradas sem nenhuma sustentação objetiva ou empírica dos fatos, como se o mundo estivesse definitivamente adestrado para se adaptar aos nossos caprichos. Sei que escrever sobre “pós-verdade” pode parecer pouco produtivo neste contexto em que a discussão central se pauta nas medidas de contenção de uma doença tão grave e no real significado do isolamento social imposto, mas, mesmo me arriscando no jogo das análises a contrapelo (como tentou Agamben e, também, Slavoj Žižek8 ), acho importante elencar algumas contradições que essa crise nos revela. Isso porque – recordando a provocação da professora Samira Sten num grupo de WhatsApp que nosso núcleo de pesquisa mantém – essa tentativa pertence, de alguma forma, ao meu papel como cientista social neste momento: já que, além de ficar em casa, posso fazer muito pouco para ajudar no combate ao COVID-19, talvez a minha contribuição seja buscar outros modelos de sociedade em que, se não livres, estaríamos menos expostos e/ou vulneráveis aos riscos de um vírus desconhecido, com sistemas de acolhimento, saúde e gestão humana mais democráticos e, portanto, eficientes. 7 Soma-se a essa discussão a “tréplica” de Giorgio Agamben, intitulada Chiarimenti (Esclarecimentos, em tradução livre), publicada em no site da editora Quodlibet em 17 de março de 2020. 8 Monitor and punish? Yes, please! Texto de Slavoj Žižek em The Philosophical Salon publicado em 16 de março de 2020.
  • 3. www.emersoncampos.com.br 3 Por isso insisto no tema “pós-verdade” neste ensaio. Para muitos, a “pós-verdade” seria uma espécie de escárnio em relação à racionalidade técnico-instrumental sob a qual se constitui o estado burguês (talvez, assim como os produtos da indústria cultural são em relação à obra de arte burguesa)9 . Em outras palavras, essa perspectiva, que não precisa de encontrar qualquer sustentação no mundo objetivo, seria uma verdadeira zombaria da busca do homem moderno pelo controle da natureza pela razão. A meu ver, contudo, esse enquadramento está, paradoxalmente, correto e equivocado. Explico! A “pós-verdade” não surge como paródia à racionalidade instrumental, mas como produto da fé cega depositada pelo homem moderno neste estado absolutamente racional de domínio sobre o mundo objetivo, que seria totalmente maleável para se adaptar às suas pseudoteorias (como o neoliberalismo, por exemplo). Ou seja, o equívoco está em tratá-la (a “pós-verdade”) como um deboche dionisíaco sobre a “vitória da razão”, quando, em sua gênese, ela é a confirmação desse espírito desleixado. E é aí que surge a contradição: ao não intencionar esse enquadramento, ela acaba se tornando escárnio daquilo que ousa confirmar, uma vez que não pode fazê-lo objetivamente. Afinal, a crença cega, tal qual a religião e o vício, nada mais é do que o apoio de uma suposta verdade em objetos falsos, decorativos10 . Logo, acreditar nesse domínio irrestrito e final do homem sobre a natureza que marca a “pós-verdade” nada mais é do que a sustentação de um pensamento falso a partir de uma premissa falsa, isso é, da elaboração de simulacros arranjados a partir de uma ilusão racional. E aí, como sabemos, o perigo da “farsa da farsa” é que ela, via de regra, carrega a ideologia responsável por conduzir-nos a estados nazifascistas11 . Nesse cenário de “pós-verdade”, não era muito difícil prever que qualquer crise que demandasse uma mobilização pautada em ações sociais coordenadas e coerentes com a realidade teria impactos desastrosos, capazes de conduzir-nos de vez a esse estado de “farsa da farsa” ou à legitimação de uma “exceção da exceção”. E, ao fim, é disso que trata a expansão do coronavírus enquanto crise humana: o trem da história ameaça ser descarrilado pela pandemia. O porvir, porém, segue aberto. É ele que precisamos observar. Assim, tomando a metáfora benjaminiana, compreendamos que o correr objetivo da locomotiva que ameaça sair dos trilhos nos impõe a dureza do aço quando tentamos freá-la, afinal nenhum manual poderá prevenir com total eficácia dos perigos do caminho. Trocando as palavras, da mesma forma como o 11 de setembro marcou um duro golpe aos delírios da “agenda pós” e suas múltiplas e infinitas “verdades”, o surgimento de uma pandemia em meio a uma perspectiva marcada pela negação da realidade objetiva na 9 ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. 10 TÜRCKE, Christoph. Sociedade excitada: filosofia da sensação. Tradução de Antônio Zuin (et al.). Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2010. 11 VEDDA, M. XI Congresso Internacional de Teoria Crítica: Estado de exceção e racionalidade na idade mídia. Conferência: Filosofia, teoria social e Estado de exceção. 01-05 de out. de 2018. Notas do congresso.
  • 4. www.emersoncampos.com.br 4 “pós-verdade”, quando governos de extrema-direita começavam a avançar por todo o globo, representa um tensionamento histórico com múltiplos desdobramentos possíveis no campo ideológico e das relações humanas, capazes de parar o trem ou – no pior dos cenários que se apresenta – acelerá-lo descontrolado de encontro à próxima estação. Surgem então, expostas na crise, as veias das contradições dessa sociedade que se habituou a tratar todas as suas relações (e aqui entram educação, saúde e o acesso a bens naturais, como a água) prioritariamente como mercadorias. Como listado no início deste ensaio, é colocado em xeque o individualismo do homem moderno, seus contratos sociais, seu conceito de opinião pública e seu modo de produção econômica. E isso acontece sobretudo porque a transmissão do coronavírus entre os diferentes países ocorre a partir de um grupo social que sempre teve o privilégio de se deslocar (talvez por isso tamanho debate sobre a exceção que marca o isolamento). Aí, como não é possível combater uma pandemia com discursos sem sustentação científica, tampouco administrar uma crise global de saúde com “memes” e “fake news”12 , semeia-se naturalmente a incerteza num tempo que todas as certezas eram intocáveis, autossustentadas por outras teias de certezas vazias, produzidas por esse indivíduo “liberto” das redes online. Nesse cenário, marcado pelos questionamentos impostos pela expansão do coronavírus e o isolamento social, aparece a bifurcação à qual devemos direcionar nossa atenção e cuidado neste momento: com a vida literalmente suspensa e/ou paralisada pela “exceção da exceção” no estado moderno, surgem dois caminhos principais possíveis, cuja escolha pode ser determinante para saber se acordaremos do pesadelo ou se acordaremos num pesadelo pior. O primeiro deles, solidário e natural, surge como uma mea- culpa (ainda que não se pretenda assim) dos “liberais” (mais uma vez, ainda que esses também não se pretendam assim) mais conscientes: incentiva-se a solidariedade entre as classes e o gerenciamento do bem- estar social pelo Estado13 ; aposta-se na socialização dos bens essenciais, defendendo a gratuidade de serviços de energia elétrica, água e gás14 ; menciona-se a necessidade de uma renda básica mínima comum, a fim de garantir o sustento das camadas mais pauperizadas15 ; reforça-se o papel educativo e formativo da imprensa e do jornalismo; promove-se a defesa da saúde e da educação públicas (ambas alvo costumaz de ataque nos tempos de “pós-verdade”), com destaque para a relevância do papel das universidades como centros de pesquisa capazes de desenvolver medidas eficazes para cuidar dos atingidos pela pandemia16 ... [e por aí vai]. 12 Recomendo a leitura do artigo Fake news: um subproduto do jornalismo ou da escola?, que publiquei no VIII Coninter. 13 <https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2020/03/22/solidariedade-vira-aliada-no-combate-ao-coronavirus.ghtml>. 14 <https://www.agazeta.com.br/es/gv/coronavirus-oab-es-pede-suspensao-de-cobranca-de-agua-e-luz-por-3-meses-0320>. 15 <https://epoca.globo.com/guilherme-amado/senador-quer-renda-minima-para-reduzir-impactos-do-coronavirus-24320001>. 16 <https://jornal.usp.br/atualidades/vacina-contra-coronavirus-em-desenvolvimento-na-usp-e-diferente-da-americana/>.
  • 5. www.emersoncampos.com.br 5 A face mencionada acima é assumida por uma parcela significativa das pessoas, que optam por abandonar o discurso da “pós-verdade” (prioritariamente burguês), trocando o apoio no objeto falso pela retomada de um projeto racional “inacabado”, ou seja, reconhecendo – ainda que de forma inconsciente – que não fomos e que não somos capazes de dominar plenamente a natureza e que um modelo baseado nessa falsa noção, como o neoliberal, representaria nossa extinção. Contudo, existe um segundo movimento que preocupa. Trata-se das manifestações favoráveis ao endurecimento do modelo em crise como solução para a própria crise – e aqui é importante lembrar que escrevo sob a perspectiva de um Brasil que segue naufragando em meio às piores maldades na necropolítica neoliberal17 . Nesse cenário, o que mais espanta é a redução e o desmantelamento de condições básicas à manutenção do bem-estar humano numa crise que é, prioritariamente, de saúde humana. E aqui a crítica de Agamben talvez faça mais sentido, não porque existe uma superestimação da doença (o que, definitivamente, não há), mas porque os objetivos com os decretos (de calamidade, etc) e as medidas provisórias em alguns países – como ocorre no Brasil – têm sim a intenção de promover mais exceção e restrição de direitos. Mais do que desafios, aos olhos dos abutres, soam como oportunidades. Olhemos para o caso brasileiro. Até o momento, a aposta para conter a epidemia no país girou em torno do “bem estar” econômico de bilionários e banqueiros, com a autorização da redução da jornada de trabalho e do salário18 , suspensão de vínculos empregatícios19 e liberação de aportes de dinheiro público mais do que generosos para as instituições financeiras20 . Quando o modelo neoliberal atingiu o ápice de sua crise, a aposta – aproveitando a impossibilidade de movimentação e mobilização nas ruas – é de mais medidas neoliberais. Se isso avançar, em breve, milhares de brasileiros minguarão de fome em meio à pandemia. Dentro dessa perspectiva, duas breves menções me parecem importantes: à ideia de tempo livre em Adorno21 e à ineficácia desse homem “pós-moderno” e livre das redes sociais online. Sobre a primeira questão, é no mínimo curioso identificar que o mesmo decreto que suspendia os contratos de trabalho verse sobre a obrigatoriedade de que as empresas ofereçam cursos online para que os funcionários usem seu tempo em casa se aperfeiçoando (se isso não ilustra a tentativa de ocupar todo e qualquer tempo livre possível para 17 Para ilustrar essa perspectiva, basta verificar a tentativa do Ministério da Educação de impor o regime de Educação à Distância em substituição às aulas presenciais, ação que serviria de piloto para, num futuro não muito distante, enfraquecer ainda mais o labor docente e a autonomia das universidades públicas <http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=86441>. 18 <https://www.agazeta.com.br/es/economia/empresarios-do-es-elogiam-autorizacao-para-reduzir-salarios-mas-querem-novas- medidas-do-governo-0320>. 19 Depois de assinar medida provisória que autorizava a suspensão do contrato de trabalho, o presidente voltou atrás na decisão após pressão de diferentes setores da sociedade <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/23/bolsonaro-tira-da- mp-artigo-que-previa-4-meses-sem-salario-para-trabalhador.htm>. 20 <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/23/bc-compulsorios-coronavirus.htm>. 21 ADORNO, Theodor W. Palavras e sinais: modelos críticos 2. Petrópolis/RJ: Vozes, 1995.
  • 6. www.emersoncampos.com.br 6 a reflexão e crítica com uma extensão do trabalho, poucas outras coisas conseguirão ilustrar). Sobre o segundo ponto, fica uma confirmação: bater panelas na janela, como a classe média ensinou no golpe de 2016, é um gesto simbólico de grande alcance, mas de pouquíssima serventia se não tiver aderência nos campos decisivos de gestão da sociedade (que no caso da classe média foi o confortável apoio do Judiciário e do Legislativo ao golpe de 2016, mas no caso do proletariado sempre foram as ruas como espaço de resistência e luta). Enclausurados, teremos uma batalha difícil de nossas janelas se não conseguirmos apoio em novos campos de decisão que não sejam as redes sociais da internet. Por fim, ainda dentro desses desdobramentos possíveis, encerro estas reflexões, por ora, chamando para um diálogo dentro daquele que sempre foi meu corpus de análise principal: o jornalismo. Admito ter caído em tentação nos últimos dias ao elogiar em demasia o trabalho extremamente eficaz de conscientização realizado por muitas emissoras de televisão no Brasil (nesse momento em que “informação” pode salvar milhares de vidas, efetivamente se trata de uma missão louvável). Digo cair em tentação porque o brilho nos olhos também pode turvar nossa visão. E meu foco só foi reestabelecido quando me deparei com o absurdo e repugnante editorial de O Globo, publicado em 20 de março, que, em linhas resumidas, defendeu o sacrifício do salário de servidores públicos como contribuição para o combate do COVID-19. O incômodo profundo gerado pelo texto me fez recuar um passo e olhar de forma crítica para a cobertura da mídia. Nesse recuo o que percebi é que por um lado é sim necessário reconhecer a “valoração” da informação neste momento como estratégia formativa, com jornais mais longos, maior número de boletins informativos, tons mais sóbrios, escuta de especialistas diversos, ações conjuntas entre diferentes grupos22 (entre outras medidas). Mas, por outro lado, a constatação principal é de que, para além da estética mais democrática, existe uma ética impregnada no conteúdo jornalístico que não se modificou, mesmo sob o flagelo da pandemia. E isso assusta. Os interesses dos grupos/famílias que detêm a maior parte desses veículos hegemônicos seguem inabalados e alinhados com a segunda perspectiva sinalizada neste ensaio (de endurecimento neoliberal), conforme entrega o editorial supracitado. As coberturas sobre os danos das ações neoliberais seguem superficiais, muito mais focadas na figura grotesca de um presidente que deveria ser interditado do que nas consequências dos atos desmedidos, sendo o papel de resistência prioritariamente assumido pelos veículos contra-hegemônicos, como sempre foi. Mais: romantiza-se o trabalho em casa (home office), a Educação à Distância e o confinamento, direcionando um destaque mínimo para os desdobramentos gravíssimos que a pandemia traz para os segmentos mais pauperizadas (afinal, como qualquer crise social, o coronavírus também potencializa as questões de classe). Não que os contrapontos não estejam lá. Como sempre eles estão, mas em escala ínfima perto do conjunto, incapazes de abalar ou 22 <https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,jornais-unificam-capas-contra-o-coronavirus,70003243919>.
  • 7. www.emersoncampos.com.br 7 externar os questionamentos que habitam os pensamentos de toda uma sociedade neste momento. Segue-se sem ir à raiz do problema. E mais uma vez aqui ratifico minha tese23 : isso acontece porque o próprio jornalismo moderno se alimenta da mesma raiz. Enfrentá-la seria colocar-se em xeque. E esse risco os donos de jornal não querem, preferem que não haja reflexão, preferem o jornalismo como antifilosofia. É certo que esse cenário de dor, onde não conseguimos sequer dizer quem são nossos mortos, nos obriga a almejar uma reconstrução. É certo que um outro mundo é preciso, um novo projeto de humanidade. Mais solidário, com relações outras que não o capital especulativo, o mercado e a ganância de banqueiros e barões da mídia. Reforço: a crise que nos atinge deixa como única certeza a necessidade da reconstrução. As opções são múltiplas, mas os caminhos principais me parecem esses dois: buscar a utopia e a esperança de uma outra sociedade (sem classes) ou aumentar a aposta nos erros que nos conduziram ao infortúnio atual. Sigo com a esperança desde já. 23 O jornalismo como antifilosofia e a formação de indivíduos potencialmente fascistas na sociedade excitada: uma análise dos comentários sobre o golpe de 2016 em Veja e Carta Capital. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGE/Ufes) <http://educacao.ufes.br/pt-br/pos-graduacao/PPGE/detalhes-da-tese?id=14257>.