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REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria
Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com
                                        autorização do autor.




                                        À Angústia

                                         Ari Rehfeld


       Este trabalho tem como objetivo principal compilar, dentre diversos textos de
Martin Heidegger, aqueles que desvelam dois caminhos em direção à angústia, para
coligá-los e apresentá-los de forma sintética e seqüencial, a fim de facilitar a introdução
a este tema.
       Adentro esta trilha por crer que a perspectiva fenomenológica-existencial-
heideggeriana da angústia possibilita uma visão de homem capaz de propiciar uma
atitude que fundamente um aproximar-se efetivo e prático, sem, contudo, se transformar
num modelo que atomize o humano não incorrendo, portanto, nos crimes praticados por
aqueles que reduzem o homem a uma forma segmentada.
       Antes de iniciarmos a nossa jornada propriamente dita, uma observação: a forma
do pensamento heideggeriano é concêntrica, possuindo uma semelhança com a forma
socrática de exposição, onde o pensamento circular não chega propriamente a nenhum
lugar derradeiro, porém está sempre e constantemente indo a algum lugar, circundando
a questão de maneira a favorecer continuamente novas perspectivas e exigindo do
interrogante estar próximo à questão e ser também interrogado por ela. Assim, vamos
tentar acompanhar este movimento reflexivo, pois de outra forma não conseguiríamos
manter uma fidelidade condizente com o seu rigor, esperando de nossos interlocutores
uma certa perseverança, que espero, será recompensada.
       Eis então, o primeiro caminho.




DA INAUTENTICIDADE À ANGÚSTIA


Do Ser ao “Dasein”




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REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria
    Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com
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           Em seu caminhar em direção ao desvelamento do Ser, Heidegger começa
formulando a pergunta pelo ser do homem, pois o homem é o único ente capaz de
interrogar acerca do ser. “Olhar, entender e compreender; escolher, ter acesso a são
modos constitutivos do perguntar e, assim, modos de ser próprios de um determinado
ente, do ente que nós mesmos os interrogantes, somos.”1
           Parte-se do perguntar pelo homem, pois a interrogação acerca do ser-em-geral é
um modo próprio do ser do homem, único ente que se ocupa com seu próprio ser.
           “Ao se voltar ao problema da exegese do sentido do ser, não só o ‘Dasein’ é o
primeiro ente a ser perguntado, mas é além disso o ente que já se refere, em seu ser,
àquilo de que se trata nesta questão. O problema do ser não é, então, nada mais que a
radicalização de uma ‘tendência de ser’ essencialmente inerente ao ser do ‘Dasein’
mesmo, a saber: a compreensão pré-ontológica do ser.”2
           Mas só chegará ao ser-em-geral se a reflexão sobre o ser do homem adquirir
uma visão do homem em sua totalidade. “A estrutura ontológica do ‘Dasein’ é inerente
à compreensão do ser. Em sendo, o ‘Dasein’ é aberto para si mesmo em seu ser. O
encontrar-se e o compreender constituem a forma de ser deste estado de abertura.”3
           É possível, então, uma experiência fundamental de abertura, de um encontrar-se
que possibilite semelhante visão? “Se a analítica existenciária4 do ‘Dasein’ há de chegar

1
    SEIN UND ZEIT – P. 7 / El Ser y El Tiempo, pg. 16. Esta citação, bem como as demais deste trabalho,
foram traduzidas para o português do espanhol: EL SER Y EL TIEMPO de Heidegger. Tradução José
Gaos – 5ª reimpressão – Fondo da Cultura Económica – México, 1977, tendo como suporte o original
alemão: SEIN UND ZEIT – Max Niemeyer Velag, Tubingen, 1953, que me possibilitou não ter que
traduzir sempre literalmente do espanhol, permanecendo talvez, mais fiel ao texto original.
2
     S.Z. pg. 15 / S.T., pg. 24 – A expressão aqui usada, traduzido literalmente significa: “Ser aí” (ser
humano). Mantenho o original alemão seguindo uma certa tradição de tradutores para o português, devido
a esse termo ser clássico no pensamento heideggeriano. Não obstante, quando se tratar de referências a
textos já traduzidos para o português, permanecerei fiel à tradução.
3
    S.Z. pg. 182 / S.T. pg. 202.
4
    No original: existenziale. Heidegger faz a distinção entre das existenziale e das existentielle. A primeira
expressão se refere à estrutura ontológica da existência, enquanto que a segunda diz respeito às suas
formas ônticas. Ver em Carneiro Leão, E., em nota de rodapé n.19 do opúsculo: Sobre o Humanismo de
Heidegger, M. ed. Tempo Brasileiro; tomando como base a tradução do espanhol, emprego à primeira

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à radical claridade acerca de sua função ontológica-fundamental, então, e para se
conseguir dominar seu primeiro problema, o de tornar manifesto o ser do ‘Dasein’,
necessita-se buscar uma das possibilidades de abri-lo de uma forma mais ampla e mais
original que haja no ‘Dasein’ mesmo. O modo de abrir-se em que o ‘Dasein’ se coloca
ante si mesmo há de ser tal que nele se faça acessível o ‘Dasein’, ainda que simplificado
de certa maneira. Com a abertura, fica logo desvelada a totalidade estrutural do ser
buscado. Um encontrar-se que satisfaz semelhantes requisitos metódicos se dá na
análise do fenômeno da angústia.”5


A Decadência


           Contudo, a angústia é um fenômeno que raramente ocorre pelo fato do homem
cotidiano constantemente fugir de si mesmo, de sua angústia.
           Decadência (Verfallen) é a forma como Heidegger denomina essa fuga de si
mesmo. Fala desse modo de ser homem já quando se interroga sobre quem é
propriamente o sujeito do cotidiano ser-homem. Este homem de todos os dias é o “a
gente”, não o eu, não o eu mesmo. O eu de seu ser foi roubado pelos outros. Não se trata
de outros determinados, porque qualquer outro pode substituir um outro qualquer.
Existe o domínio ou uma ditadura discreta que não pode ser atribuída a ninguém.
Embora haja uma ditadura, não há um ditador. Os outros em seu dia a dia, ditam o
cotidiano. “Todos são o outro e ninguém é ele mesmo. No uso dos meios de transporte,
na leitura dos jornais, o homem cotidiano comporta-se como qualquer outro. Jogamos e
alegramo-nos como ‘a gente’ faz; lemos, olhamos e julgamos como ‘a gente’ lê, vê e
julga; achamos chocante o que ‘a gente’ acha chocante. ‘A gente’ não permite exceções,
não tem segredos e suas possibilidades seguem caminhos bem fixos. ‘A gente’ pode
responder por tudo, porque ninguém é responsável por qualquer coisa.”6


expressão o termo existencial, e à segunda existenciário, da mesma maneira que Stein, Ernildo, em sua
tradução do mesmo opúsculo para a Abril, Coleção Os Pensadores.
5
    S.Z. pg. 182 / S.T. pg. 202.
6
    S.Z. pg. 126-127 / S.T. pg. 143-144.

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           “ ‘Distanciamento’, ‘termo médio’ e ‘aplainamento’ constituem, enquanto
modos de ser, o que designamos como ‘publicidade’ ” (Offentlichkeit).7 A publicidade
regula imediatamente toda interpretação do mundo e do “Dasein” não porque faça “ver
através” do “Dasein” em forma singularmente apropriada, mas, justamente pelo
contrário, por não ir a fundo em nenhum assunto, por ser insensível a todas as
diferenças de nível e de intensidade. “A ‘publicidade’ obscurece tudo e dá o encoberto
por sabido e acessível a todos.”8
           Constitui o homem inautêntico o ser cotidiano, onde a individualidade é do “a
gente mesma”, que se perde nas coisas nas quais “a gente” se absorve, acabando por não
se poder interpretar senão como uma coisa entre coisas.
           Quais são as formas de ser do homem inautêntico?
           O “falatório” (Gerede) é a forma cotidiana do ‘Dasein’ de compreender e
interpretar. Através da fala corriqueira, que também pode ter a forma escrita,
compreende-se apenas o mediano, pois somente se usam termos comuns que servem
para uma gama de fenômenos diferentes, perdendo-se, assim, a unicidade ou
originalidade do específico fenômeno ao qual a fala se refere.
           Além da medianidade, aquilo que foi dito, por ter sido dito, toma um caráter de
autoridade. Como se o fato de ser dito fosse implicitamente uma garantia de real e
verdadeiro. Contudo, o “falatório” não tem a intenção deliberada de enganar, o
“falatório” não tem a forma de conscientemente passar algo por algo.
           Já a “avidez de novidades” ou “curiosidade” (Neugier) é a peculiar tendência da
cotidianidade de ver. É um ver sobre, distanciado, um dirigir a vista apenas para os
contornos, rapidamente se desvinculando de um comprometimento em obrar o que se
vê. O ‘Dasein’ se deixa arrastar unicamente pelo aspecto exterior do mundo, de forma a
ficar isento de si próprio enquanto ser-no-mundo. Está-se em todas as partes e ao
mesmo tempo em nenhum lugar. O “falatório” rege também as vias da “avidez de
novidades” dizendo o que se deve ler ou ver.



7
    S.Z. pg. 127 / S.T. pg. 144.
8
    S.Z. pg. 127 / S.T. pg. 144.

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           A “ambigüidade” (Zweideutigkeit) é a terceira forma do homem se perder na
cotidianidade. Nela, tudo é acessível a todos, nela, qualquer um pode discorrer sobre
qualquer coisa, nela não há limites ou critérios de validação para decidir o que é um
genuíno compreender ou não. Tudo possui um aspecto de autenticidade compreendido,
e, no fundo, não está. Todos agem como se já tivessem se debruçado exaustivamente
sobre cada uma e todas as questões. “A ambigüidade” não oculta nada à compreensão
do “Dasein”, mas somente age para submergir o ser-no-mundo no desraigado “em todas
as partes e em nenhuma”.9
           Este se perder ou “decadência” não tem uma conotação pejorativa. A
cotidianidade simplesmente expõe uma forma de ser-no-mundo, no qual, entretanto, o
eu não é mais ele mesmo, e suas possibilidade não são mais as suas.


A Angústia


           Justamente por o homem conviver em sua cotidianidade com a pública esfera do
“Dasein” sob a ditadura do “a gente”, só raramente se experimenta em sua
autenticidade. Esta rara constituição de significação própria do eu é como se
compreende o fenômeno de angústia.
           Se temos a intenção de abranger o homem como totalidade e se o caminho para
tal consiste na compreensão do homem como angústia, parece excluída a possibilidade
de apreensão total do homem, uma vez que o “Dasein” cotidiano evita sempre, em sua
decadência, a angústia.
           De fato, a “decadência” representa evidentemente uma fuga do ser-ele-mesmo,
do autêntico ser homem, da angústia. Mas esta dificuldade é mais aparente que real. Na
fuga, o “Dasein” trai aquilo de que o homem foge; visualizando a fuga, desoculta o que
lhe permite a “decadência”: o significado de ser-ele-mesmo.
           Logo após percorrermos a vereda onde Heidegger, a partir da idéia de
inautenticidade, privilegia a dimensão do vivido, temos agora um outro terreno, a saber
a questão do nada numa perspectiva ontológica.

9
    S.Z. pg. 177 / S.T. pg. 196.

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O NADA POSSIBILITA A ANGÚSTIA


O Desenvolvimento de uma interrogação Metafísica10


           Em sua busca pela totalidade do autêntico ser homem, Heidegger coloca a
questão do nada como sendo fundamental e inevitável para a compreensão do “Dasein”
como angústia.
           Esta questão é imediatamente apresentada como sendo uma questão metafísica.
Diferentemente do uso comum deste termo pela Filosofia, Heidegger o entende como
“... o perguntar além do ente para recuperá-lo, enquanto tal e em sua totalidade, para a
compreensão.”11 Assim, podemos entender como metafísica a questão do sentido do ser
em suas diferentes manifestações nos diversos entes.
           O desenvolvimento de uma interrogação metafísica requer uma caracterização
prévia. Isto, em função de uma dupla característica da pergunta metafísica: “De um
lado, toda a questão metafísica abarca sempre a totalidade da problemática metafísica.
Ela é a própria totalidade. De outro, toda a questão metafísica somente pode ser
formulada de tal modo que aquele que interroga, enquanto tal, esteja implicado na
questão, isto é, seja problematizado.”12
           Ao iniciar o desenvolvimento da interrogação acerca do nada, Heidegger começa
a partir da ciência e afirma não haver uma única ciência, mas sim várias, onde uma não
possui hegemonia sobre a outra, pelo fato de cada qual encerrar entes distintos além de
critérios particulares de exatidão. Inicia seu pensamento a partir da ciência justamente
por ser ela determinante da existência de toda uma comunidade de professores,
pesquisadores e estudantes, partindo através de uma forma de conhecimento bastante
difundida e valorizada, para apreendê-la como uma, mas não a única, possibilidade de

10
     Procuro aqui percorrer a Preleção Que É Metafísica. Visto ser este o momento onde Heidegger, de
maneira mais clara e direta, aborda esta temática. O sub-título é idêntico ao utilizado por Heidegger. Que
é Metafísica; tradução e notas de Ernildo Stein – SP Duas Cidades, 1969, pg. 21 a 44.
11
     Idem, pg. 39.
12
     Idem, pg. 21 e 22.

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conhecimento, e que elege para se orientar em direção à origem (fundamento) de todas
as possibilidades do conhecer.
           Segue-se que “... o enraizamento das ciências, em seu fundamento essencial,
desapareceu completamente”.13 A existência científica pode ser esclarecida como sendo
aquela onde toda referência ao mundo, todo comportamento e discussão investigadora
se dirigem ao ente, e além dele, nada.
           O que ocorre com este nada? “O nada é justamente rejeitado pela ciência e
abandonado como elemento nadificante. E quando, assim, abandonamos o nada, não o
admitimos precisamente, então?”14 Ora, se a ciência nada quer saber do nada. Não é
certo, também, que, para expressar sua própria essência – o ente e suas leis – recorra ao
nada?
           Encontremo-nos, assim, com a essência ambivalente da ciência, que recorre ao
que rejeita para expressar sua existência. É a partir da visualização desta ambivalência
que Heidegger se pergunta:


Por que há simplesmente o ente e não antes o nada?


           Esta parece ser a primeira de todas as questões. Não o é na ordem histórica da
seqüência cronológica das interrogações. O homem, primeiramente e na maioria das
vezes, se acercou dos entes que constituem seu mundo, pesquisou-os e inquiriu-os, antes
de se indagar pela possibilidade do absolutamente não ente. No entanto, a questão “Por
que há simplesmente o ente e não antes o nada?” “se constitui para nós na primeira em
dignidade, antes de tudo, por ser a mais vasta; depois, por ser a mais profunda, e afinal,
por ser a mais originária das questões”.15
           Vasta, pelo fato de seus limites terem a dimensão máxima, onde todo o ente que
já tenha existido, que exista na atualidade e que porventura venha a existir é abarcado
não enquanto este ou aquele ente particular, mas enquanto o ente como tal, na
13
     Idem, pg.22.
14
     Idem, pg. 24.
15
     Heidegger, M. – Introdução à Metafísica, tradução de Emmanuel Carneiro Leão, 2ª edição, rio de
Janeiro, Tempo Brasileiro, Ed. Universidade de Brasília, 1978, pg. 34.

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totalidade. Abrange também o próprio nada, não como um ente, mas justamente como a
possibilidade do não ente em sua totalidade. A amplitude compreendida para esta
pergunta é tão grande que jamais poderá ser esgotada.
           A interrogação solicita o fundo do qual provém todo ente. “Procurar o fundo,
isso é, apro-fundar. O que se põe em questão entra, assim, numa referência com o
fundo. Sendo, porém, uma questão, fica aberto se o fundo (Grund) é um fundamento
originário (Ur-Grund), verdadeiramente fundador, que produz fundação, ou se ele nega
qualquer fundamento e é assim um ab-ismo (ab-Grund); ou se o fundo não é nem uma
nem outra coisa, mas da simplesmente uma aparência, talvez necessária, de fundação,
tornando-se, destarte, um simulacro de fundamento (Um-Grund). Como quer qye seja,
procura-se decidir a questão no fundo, que dá fundamento para o ente ser, como tal, o
ente que é”.16 Esta questão é mais originária por ser a mais vasta e profunda das
interrogações. “É a questão de todas as questões verdadeiras, isto é, das que se põem a
si mesmas em questão. É a questão que é sempre investigada, quer consciente quer
inconscientemente, em toda questão”.17
           “Ao nos indagarmos pelo que é o nada, imediatamente nos deparamos com algo
insólito.”18 Esta interrogação já pressupõe que o nada é, assim como um ente. Mas
justamente é dele que se distingue absolutamente. A questão, formulada desta maneira,
converte o interrogado em seu contrário. Logo, toda resposta a esta pergunta – assim
formulada – é imediatamente impossível, se a ela recorrermos através do pensamento
comum, que contém a lógica universal em seu seio, onde todo o pensamento é
pensamento de algo.
           Mas podemos insurgir-nos contra a regra, fundamental de todo o dizer científico,
assim como, em grande parte, da Filosofia, onde a lógica tem a sua cidadela? “Em força
de todas as considerações, agiríamos bem cancelando do enunciado de nossa questão a




16
     Idem, pg. 34 e 35.
17
     Idem, pg. 37.
18
     Que é Metafísica, pg. 25.

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locução supérflua ‘e não antes o NADA’ e limitando-o à formulação simples e rigorosa
por que há simplesmente o ente?”19
              Não, se estivermos, de fato, comprometidos com a tradição de filosofia, que,
desde sua origem, busca o fundamento do ente e, portanto, com a possibilidade do não-
ente e se quisermos dar uma “... indicação daquilo em função do qual se investiga o que
se põe em questão, isto é, aquilo pelo qual se investiga”.20
              Ainda não foi determinado que a Lógica e suas leis deverão servir sempre como
critério para a investigação do ente como tal. Pelo contrário, este “presente do céu” se
mostra incapaz de desenvolver a questão do fundamento do ente enquanto tal e menos
ainda de vislumbrar alguma possibilidade de resposta.
              O acréscimo “... e não antes o Nada” nos impossibilita, a partir da aceitação do
ente já dado de antemão, continuar em busca de uma busca de uma razão, que é um ente
também, sem voltar-nos à possibilidade de nos acercar do âmbito do não-ente, do não
ser. Indaga Heidegger: “Por que se arrancou o ente à possibilidade do não-ser? Por que
não se retorna sem mais e constantemente ao Nada?”21 Assim, o ente não é mais o
objetivamente dado; começa a oscilar. Esta oscilação permite visualizar porque não
podemos apreender o ente plenamente enquanto tal. Em seu presentar-se, o ente não é
esgotável, e o que lhe confere esta dimensão é a possibilidade de não-ser, dimensão esta
para cuja compreensão, a lógica universal não se constitui num instrumento possível.
              Mas, se “... o nada é a plena negação da totalidade do ente, o absolutamente não
         22
ente” , como podemos nos acercar deste nada por outra via que não a do pensamento
como comumente ele é determinado?
              Antes disto, uma pergunta e uma resposta que orientarão a continuação deste
caminhar: “Existe o nada apenas porque existe o ‘não’, isto é, a negação? Ou não
acontece o contrário? Existe a negação e o não apenas porque existe o nada?” “... Nós
afirmamos que o nada é mais originário que o ‘não’ e a negação. Se esta tese é justa,


19
     Introdução à Metafísica, pg.53.
20
     Idem, pg. 52.
21
     Idem, pg. 56.
22
     Que é Metafísica, p.26.

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então, a possibilidade da negação, como atividade do entendimento, e, com isto, o
próprio entendimento dependem, de algum modo, do nada”.23
           “Se o nada deve ser questionado – o Nada mesmo – então deverá estar
primeiramente dado. Devemos poder encontrá-lo”.24 Isto porque somente somos
capazes de buscar se antecipamos a presença do que buscamos.
           “O nada é a plena negação da totalidade do ente”.25 Esta “definição” dá a direção
do prosseguimento da caminhada. Deve haver uma forma de se aproximar da plena
negação da totalidade do ente, onde o entendimento não seja o meio mas sim uma
experiência fundamental. Este acontecimento, embora raro, é possível e real, revela o
nada de acordo com o seu próprio sentido revelador e se apresenta na existência de uma
disposição de humor fundamental: a angústia.


À OBRA


           Chegamos, então, ao final de nossa caminhada, final este que, conforme a
atitude fenomenológica frente ao conhecimento, é somente um novo começar, uma nova
fresta da porta que se entreabre.
           Espero ter realizado os seguintes intentos:


1 – Propor e fazer ver, a partir de parte da obra de Heidegger, dois caminhos em direção
à angústia: a dimensão existenciária, através da decadência e inautenticidade enquanto
formas ônticas da existência, e a existencial, enquanto estrutura ontológica da mesma
existência a partir da questão do nada.




23
     Idem, pg. 27.
24
     Idem, pg. 27.
25
     Idem, pg. 28.

www.fenoegrupos.com                                                                       Página 10
REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria
 Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com
                                         autorização do autor.




2 – Mostrar parte da amplitude e complexidade que origina e circunscreve a angústia
com a finalidade de evitar reflexões preconceituosas concebidas a partir de um mero
pinçar um trecho onde Heidegger expõe este acontecer tão fundamental.26


3 – ter despertado o interesse para a leitura de Heidegger, e, especificamente, para a
angústia propriamente dita, para propiciar a reflexão acerca de concepção de homem
envolvida e implicações que me parecem ser de importância fundamental para todo
aquele que se preocupa e lida com o homem. Estas implicações são objeto de meu
interesse presente e poderão se converter, quando um pouco mais amadurecidas, num
outro trabalho.
           Agora, resta-nos debruçar frente à angústia existencial heideggeriana. À obra,
então.




26
     O trecho onde Heidegger apresenta a angústia de maneira mais concisa e clara se encontra no opúsculo;
Que é Metafísica, citado anteriormente, às páginas 35 e seguintes. O mesmo opúsculo pode ser
encontrado também em português em Heidegger, tradução e notas de Ernildo Stein, coleção Os
Pensadores, Abril Cultural, 1979.

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A Angústia segundo Heidegger

  • 1. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. À Angústia Ari Rehfeld Este trabalho tem como objetivo principal compilar, dentre diversos textos de Martin Heidegger, aqueles que desvelam dois caminhos em direção à angústia, para coligá-los e apresentá-los de forma sintética e seqüencial, a fim de facilitar a introdução a este tema. Adentro esta trilha por crer que a perspectiva fenomenológica-existencial- heideggeriana da angústia possibilita uma visão de homem capaz de propiciar uma atitude que fundamente um aproximar-se efetivo e prático, sem, contudo, se transformar num modelo que atomize o humano não incorrendo, portanto, nos crimes praticados por aqueles que reduzem o homem a uma forma segmentada. Antes de iniciarmos a nossa jornada propriamente dita, uma observação: a forma do pensamento heideggeriano é concêntrica, possuindo uma semelhança com a forma socrática de exposição, onde o pensamento circular não chega propriamente a nenhum lugar derradeiro, porém está sempre e constantemente indo a algum lugar, circundando a questão de maneira a favorecer continuamente novas perspectivas e exigindo do interrogante estar próximo à questão e ser também interrogado por ela. Assim, vamos tentar acompanhar este movimento reflexivo, pois de outra forma não conseguiríamos manter uma fidelidade condizente com o seu rigor, esperando de nossos interlocutores uma certa perseverança, que espero, será recompensada. Eis então, o primeiro caminho. DA INAUTENTICIDADE À ANGÚSTIA Do Ser ao “Dasein” www.fenoegrupos.com Página 1
  • 2. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. Em seu caminhar em direção ao desvelamento do Ser, Heidegger começa formulando a pergunta pelo ser do homem, pois o homem é o único ente capaz de interrogar acerca do ser. “Olhar, entender e compreender; escolher, ter acesso a são modos constitutivos do perguntar e, assim, modos de ser próprios de um determinado ente, do ente que nós mesmos os interrogantes, somos.”1 Parte-se do perguntar pelo homem, pois a interrogação acerca do ser-em-geral é um modo próprio do ser do homem, único ente que se ocupa com seu próprio ser. “Ao se voltar ao problema da exegese do sentido do ser, não só o ‘Dasein’ é o primeiro ente a ser perguntado, mas é além disso o ente que já se refere, em seu ser, àquilo de que se trata nesta questão. O problema do ser não é, então, nada mais que a radicalização de uma ‘tendência de ser’ essencialmente inerente ao ser do ‘Dasein’ mesmo, a saber: a compreensão pré-ontológica do ser.”2 Mas só chegará ao ser-em-geral se a reflexão sobre o ser do homem adquirir uma visão do homem em sua totalidade. “A estrutura ontológica do ‘Dasein’ é inerente à compreensão do ser. Em sendo, o ‘Dasein’ é aberto para si mesmo em seu ser. O encontrar-se e o compreender constituem a forma de ser deste estado de abertura.”3 É possível, então, uma experiência fundamental de abertura, de um encontrar-se que possibilite semelhante visão? “Se a analítica existenciária4 do ‘Dasein’ há de chegar 1 SEIN UND ZEIT – P. 7 / El Ser y El Tiempo, pg. 16. Esta citação, bem como as demais deste trabalho, foram traduzidas para o português do espanhol: EL SER Y EL TIEMPO de Heidegger. Tradução José Gaos – 5ª reimpressão – Fondo da Cultura Económica – México, 1977, tendo como suporte o original alemão: SEIN UND ZEIT – Max Niemeyer Velag, Tubingen, 1953, que me possibilitou não ter que traduzir sempre literalmente do espanhol, permanecendo talvez, mais fiel ao texto original. 2 S.Z. pg. 15 / S.T., pg. 24 – A expressão aqui usada, traduzido literalmente significa: “Ser aí” (ser humano). Mantenho o original alemão seguindo uma certa tradição de tradutores para o português, devido a esse termo ser clássico no pensamento heideggeriano. Não obstante, quando se tratar de referências a textos já traduzidos para o português, permanecerei fiel à tradução. 3 S.Z. pg. 182 / S.T. pg. 202. 4 No original: existenziale. Heidegger faz a distinção entre das existenziale e das existentielle. A primeira expressão se refere à estrutura ontológica da existência, enquanto que a segunda diz respeito às suas formas ônticas. Ver em Carneiro Leão, E., em nota de rodapé n.19 do opúsculo: Sobre o Humanismo de Heidegger, M. ed. Tempo Brasileiro; tomando como base a tradução do espanhol, emprego à primeira www.fenoegrupos.com Página 2
  • 3. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. à radical claridade acerca de sua função ontológica-fundamental, então, e para se conseguir dominar seu primeiro problema, o de tornar manifesto o ser do ‘Dasein’, necessita-se buscar uma das possibilidades de abri-lo de uma forma mais ampla e mais original que haja no ‘Dasein’ mesmo. O modo de abrir-se em que o ‘Dasein’ se coloca ante si mesmo há de ser tal que nele se faça acessível o ‘Dasein’, ainda que simplificado de certa maneira. Com a abertura, fica logo desvelada a totalidade estrutural do ser buscado. Um encontrar-se que satisfaz semelhantes requisitos metódicos se dá na análise do fenômeno da angústia.”5 A Decadência Contudo, a angústia é um fenômeno que raramente ocorre pelo fato do homem cotidiano constantemente fugir de si mesmo, de sua angústia. Decadência (Verfallen) é a forma como Heidegger denomina essa fuga de si mesmo. Fala desse modo de ser homem já quando se interroga sobre quem é propriamente o sujeito do cotidiano ser-homem. Este homem de todos os dias é o “a gente”, não o eu, não o eu mesmo. O eu de seu ser foi roubado pelos outros. Não se trata de outros determinados, porque qualquer outro pode substituir um outro qualquer. Existe o domínio ou uma ditadura discreta que não pode ser atribuída a ninguém. Embora haja uma ditadura, não há um ditador. Os outros em seu dia a dia, ditam o cotidiano. “Todos são o outro e ninguém é ele mesmo. No uso dos meios de transporte, na leitura dos jornais, o homem cotidiano comporta-se como qualquer outro. Jogamos e alegramo-nos como ‘a gente’ faz; lemos, olhamos e julgamos como ‘a gente’ lê, vê e julga; achamos chocante o que ‘a gente’ acha chocante. ‘A gente’ não permite exceções, não tem segredos e suas possibilidades seguem caminhos bem fixos. ‘A gente’ pode responder por tudo, porque ninguém é responsável por qualquer coisa.”6 expressão o termo existencial, e à segunda existenciário, da mesma maneira que Stein, Ernildo, em sua tradução do mesmo opúsculo para a Abril, Coleção Os Pensadores. 5 S.Z. pg. 182 / S.T. pg. 202. 6 S.Z. pg. 126-127 / S.T. pg. 143-144. www.fenoegrupos.com Página 3
  • 4. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. “ ‘Distanciamento’, ‘termo médio’ e ‘aplainamento’ constituem, enquanto modos de ser, o que designamos como ‘publicidade’ ” (Offentlichkeit).7 A publicidade regula imediatamente toda interpretação do mundo e do “Dasein” não porque faça “ver através” do “Dasein” em forma singularmente apropriada, mas, justamente pelo contrário, por não ir a fundo em nenhum assunto, por ser insensível a todas as diferenças de nível e de intensidade. “A ‘publicidade’ obscurece tudo e dá o encoberto por sabido e acessível a todos.”8 Constitui o homem inautêntico o ser cotidiano, onde a individualidade é do “a gente mesma”, que se perde nas coisas nas quais “a gente” se absorve, acabando por não se poder interpretar senão como uma coisa entre coisas. Quais são as formas de ser do homem inautêntico? O “falatório” (Gerede) é a forma cotidiana do ‘Dasein’ de compreender e interpretar. Através da fala corriqueira, que também pode ter a forma escrita, compreende-se apenas o mediano, pois somente se usam termos comuns que servem para uma gama de fenômenos diferentes, perdendo-se, assim, a unicidade ou originalidade do específico fenômeno ao qual a fala se refere. Além da medianidade, aquilo que foi dito, por ter sido dito, toma um caráter de autoridade. Como se o fato de ser dito fosse implicitamente uma garantia de real e verdadeiro. Contudo, o “falatório” não tem a intenção deliberada de enganar, o “falatório” não tem a forma de conscientemente passar algo por algo. Já a “avidez de novidades” ou “curiosidade” (Neugier) é a peculiar tendência da cotidianidade de ver. É um ver sobre, distanciado, um dirigir a vista apenas para os contornos, rapidamente se desvinculando de um comprometimento em obrar o que se vê. O ‘Dasein’ se deixa arrastar unicamente pelo aspecto exterior do mundo, de forma a ficar isento de si próprio enquanto ser-no-mundo. Está-se em todas as partes e ao mesmo tempo em nenhum lugar. O “falatório” rege também as vias da “avidez de novidades” dizendo o que se deve ler ou ver. 7 S.Z. pg. 127 / S.T. pg. 144. 8 S.Z. pg. 127 / S.T. pg. 144. www.fenoegrupos.com Página 4
  • 5. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. A “ambigüidade” (Zweideutigkeit) é a terceira forma do homem se perder na cotidianidade. Nela, tudo é acessível a todos, nela, qualquer um pode discorrer sobre qualquer coisa, nela não há limites ou critérios de validação para decidir o que é um genuíno compreender ou não. Tudo possui um aspecto de autenticidade compreendido, e, no fundo, não está. Todos agem como se já tivessem se debruçado exaustivamente sobre cada uma e todas as questões. “A ambigüidade” não oculta nada à compreensão do “Dasein”, mas somente age para submergir o ser-no-mundo no desraigado “em todas as partes e em nenhuma”.9 Este se perder ou “decadência” não tem uma conotação pejorativa. A cotidianidade simplesmente expõe uma forma de ser-no-mundo, no qual, entretanto, o eu não é mais ele mesmo, e suas possibilidade não são mais as suas. A Angústia Justamente por o homem conviver em sua cotidianidade com a pública esfera do “Dasein” sob a ditadura do “a gente”, só raramente se experimenta em sua autenticidade. Esta rara constituição de significação própria do eu é como se compreende o fenômeno de angústia. Se temos a intenção de abranger o homem como totalidade e se o caminho para tal consiste na compreensão do homem como angústia, parece excluída a possibilidade de apreensão total do homem, uma vez que o “Dasein” cotidiano evita sempre, em sua decadência, a angústia. De fato, a “decadência” representa evidentemente uma fuga do ser-ele-mesmo, do autêntico ser homem, da angústia. Mas esta dificuldade é mais aparente que real. Na fuga, o “Dasein” trai aquilo de que o homem foge; visualizando a fuga, desoculta o que lhe permite a “decadência”: o significado de ser-ele-mesmo. Logo após percorrermos a vereda onde Heidegger, a partir da idéia de inautenticidade, privilegia a dimensão do vivido, temos agora um outro terreno, a saber a questão do nada numa perspectiva ontológica. 9 S.Z. pg. 177 / S.T. pg. 196. www.fenoegrupos.com Página 5
  • 6. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. O NADA POSSIBILITA A ANGÚSTIA O Desenvolvimento de uma interrogação Metafísica10 Em sua busca pela totalidade do autêntico ser homem, Heidegger coloca a questão do nada como sendo fundamental e inevitável para a compreensão do “Dasein” como angústia. Esta questão é imediatamente apresentada como sendo uma questão metafísica. Diferentemente do uso comum deste termo pela Filosofia, Heidegger o entende como “... o perguntar além do ente para recuperá-lo, enquanto tal e em sua totalidade, para a compreensão.”11 Assim, podemos entender como metafísica a questão do sentido do ser em suas diferentes manifestações nos diversos entes. O desenvolvimento de uma interrogação metafísica requer uma caracterização prévia. Isto, em função de uma dupla característica da pergunta metafísica: “De um lado, toda a questão metafísica abarca sempre a totalidade da problemática metafísica. Ela é a própria totalidade. De outro, toda a questão metafísica somente pode ser formulada de tal modo que aquele que interroga, enquanto tal, esteja implicado na questão, isto é, seja problematizado.”12 Ao iniciar o desenvolvimento da interrogação acerca do nada, Heidegger começa a partir da ciência e afirma não haver uma única ciência, mas sim várias, onde uma não possui hegemonia sobre a outra, pelo fato de cada qual encerrar entes distintos além de critérios particulares de exatidão. Inicia seu pensamento a partir da ciência justamente por ser ela determinante da existência de toda uma comunidade de professores, pesquisadores e estudantes, partindo através de uma forma de conhecimento bastante difundida e valorizada, para apreendê-la como uma, mas não a única, possibilidade de 10 Procuro aqui percorrer a Preleção Que É Metafísica. Visto ser este o momento onde Heidegger, de maneira mais clara e direta, aborda esta temática. O sub-título é idêntico ao utilizado por Heidegger. Que é Metafísica; tradução e notas de Ernildo Stein – SP Duas Cidades, 1969, pg. 21 a 44. 11 Idem, pg. 39. 12 Idem, pg. 21 e 22. www.fenoegrupos.com Página 6
  • 7. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. conhecimento, e que elege para se orientar em direção à origem (fundamento) de todas as possibilidades do conhecer. Segue-se que “... o enraizamento das ciências, em seu fundamento essencial, desapareceu completamente”.13 A existência científica pode ser esclarecida como sendo aquela onde toda referência ao mundo, todo comportamento e discussão investigadora se dirigem ao ente, e além dele, nada. O que ocorre com este nada? “O nada é justamente rejeitado pela ciência e abandonado como elemento nadificante. E quando, assim, abandonamos o nada, não o admitimos precisamente, então?”14 Ora, se a ciência nada quer saber do nada. Não é certo, também, que, para expressar sua própria essência – o ente e suas leis – recorra ao nada? Encontremo-nos, assim, com a essência ambivalente da ciência, que recorre ao que rejeita para expressar sua existência. É a partir da visualização desta ambivalência que Heidegger se pergunta: Por que há simplesmente o ente e não antes o nada? Esta parece ser a primeira de todas as questões. Não o é na ordem histórica da seqüência cronológica das interrogações. O homem, primeiramente e na maioria das vezes, se acercou dos entes que constituem seu mundo, pesquisou-os e inquiriu-os, antes de se indagar pela possibilidade do absolutamente não ente. No entanto, a questão “Por que há simplesmente o ente e não antes o nada?” “se constitui para nós na primeira em dignidade, antes de tudo, por ser a mais vasta; depois, por ser a mais profunda, e afinal, por ser a mais originária das questões”.15 Vasta, pelo fato de seus limites terem a dimensão máxima, onde todo o ente que já tenha existido, que exista na atualidade e que porventura venha a existir é abarcado não enquanto este ou aquele ente particular, mas enquanto o ente como tal, na 13 Idem, pg.22. 14 Idem, pg. 24. 15 Heidegger, M. – Introdução à Metafísica, tradução de Emmanuel Carneiro Leão, 2ª edição, rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, Ed. Universidade de Brasília, 1978, pg. 34. www.fenoegrupos.com Página 7
  • 8. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. totalidade. Abrange também o próprio nada, não como um ente, mas justamente como a possibilidade do não ente em sua totalidade. A amplitude compreendida para esta pergunta é tão grande que jamais poderá ser esgotada. A interrogação solicita o fundo do qual provém todo ente. “Procurar o fundo, isso é, apro-fundar. O que se põe em questão entra, assim, numa referência com o fundo. Sendo, porém, uma questão, fica aberto se o fundo (Grund) é um fundamento originário (Ur-Grund), verdadeiramente fundador, que produz fundação, ou se ele nega qualquer fundamento e é assim um ab-ismo (ab-Grund); ou se o fundo não é nem uma nem outra coisa, mas da simplesmente uma aparência, talvez necessária, de fundação, tornando-se, destarte, um simulacro de fundamento (Um-Grund). Como quer qye seja, procura-se decidir a questão no fundo, que dá fundamento para o ente ser, como tal, o ente que é”.16 Esta questão é mais originária por ser a mais vasta e profunda das interrogações. “É a questão de todas as questões verdadeiras, isto é, das que se põem a si mesmas em questão. É a questão que é sempre investigada, quer consciente quer inconscientemente, em toda questão”.17 “Ao nos indagarmos pelo que é o nada, imediatamente nos deparamos com algo insólito.”18 Esta interrogação já pressupõe que o nada é, assim como um ente. Mas justamente é dele que se distingue absolutamente. A questão, formulada desta maneira, converte o interrogado em seu contrário. Logo, toda resposta a esta pergunta – assim formulada – é imediatamente impossível, se a ela recorrermos através do pensamento comum, que contém a lógica universal em seu seio, onde todo o pensamento é pensamento de algo. Mas podemos insurgir-nos contra a regra, fundamental de todo o dizer científico, assim como, em grande parte, da Filosofia, onde a lógica tem a sua cidadela? “Em força de todas as considerações, agiríamos bem cancelando do enunciado de nossa questão a 16 Idem, pg. 34 e 35. 17 Idem, pg. 37. 18 Que é Metafísica, pg. 25. www.fenoegrupos.com Página 8
  • 9. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. locução supérflua ‘e não antes o NADA’ e limitando-o à formulação simples e rigorosa por que há simplesmente o ente?”19 Não, se estivermos, de fato, comprometidos com a tradição de filosofia, que, desde sua origem, busca o fundamento do ente e, portanto, com a possibilidade do não- ente e se quisermos dar uma “... indicação daquilo em função do qual se investiga o que se põe em questão, isto é, aquilo pelo qual se investiga”.20 Ainda não foi determinado que a Lógica e suas leis deverão servir sempre como critério para a investigação do ente como tal. Pelo contrário, este “presente do céu” se mostra incapaz de desenvolver a questão do fundamento do ente enquanto tal e menos ainda de vislumbrar alguma possibilidade de resposta. O acréscimo “... e não antes o Nada” nos impossibilita, a partir da aceitação do ente já dado de antemão, continuar em busca de uma busca de uma razão, que é um ente também, sem voltar-nos à possibilidade de nos acercar do âmbito do não-ente, do não ser. Indaga Heidegger: “Por que se arrancou o ente à possibilidade do não-ser? Por que não se retorna sem mais e constantemente ao Nada?”21 Assim, o ente não é mais o objetivamente dado; começa a oscilar. Esta oscilação permite visualizar porque não podemos apreender o ente plenamente enquanto tal. Em seu presentar-se, o ente não é esgotável, e o que lhe confere esta dimensão é a possibilidade de não-ser, dimensão esta para cuja compreensão, a lógica universal não se constitui num instrumento possível. Mas, se “... o nada é a plena negação da totalidade do ente, o absolutamente não 22 ente” , como podemos nos acercar deste nada por outra via que não a do pensamento como comumente ele é determinado? Antes disto, uma pergunta e uma resposta que orientarão a continuação deste caminhar: “Existe o nada apenas porque existe o ‘não’, isto é, a negação? Ou não acontece o contrário? Existe a negação e o não apenas porque existe o nada?” “... Nós afirmamos que o nada é mais originário que o ‘não’ e a negação. Se esta tese é justa, 19 Introdução à Metafísica, pg.53. 20 Idem, pg. 52. 21 Idem, pg. 56. 22 Que é Metafísica, p.26. www.fenoegrupos.com Página 9
  • 10. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. então, a possibilidade da negação, como atividade do entendimento, e, com isto, o próprio entendimento dependem, de algum modo, do nada”.23 “Se o nada deve ser questionado – o Nada mesmo – então deverá estar primeiramente dado. Devemos poder encontrá-lo”.24 Isto porque somente somos capazes de buscar se antecipamos a presença do que buscamos. “O nada é a plena negação da totalidade do ente”.25 Esta “definição” dá a direção do prosseguimento da caminhada. Deve haver uma forma de se aproximar da plena negação da totalidade do ente, onde o entendimento não seja o meio mas sim uma experiência fundamental. Este acontecimento, embora raro, é possível e real, revela o nada de acordo com o seu próprio sentido revelador e se apresenta na existência de uma disposição de humor fundamental: a angústia. À OBRA Chegamos, então, ao final de nossa caminhada, final este que, conforme a atitude fenomenológica frente ao conhecimento, é somente um novo começar, uma nova fresta da porta que se entreabre. Espero ter realizado os seguintes intentos: 1 – Propor e fazer ver, a partir de parte da obra de Heidegger, dois caminhos em direção à angústia: a dimensão existenciária, através da decadência e inautenticidade enquanto formas ônticas da existência, e a existencial, enquanto estrutura ontológica da mesma existência a partir da questão do nada. 23 Idem, pg. 27. 24 Idem, pg. 27. 25 Idem, pg. 28. www.fenoegrupos.com Página 10
  • 11. REHFELD, Ari. “À Angústia” Edição revisada de capítulo publicado em DICHTCHEKENIAN, Maria Fernanda (org.) Vida e Morte: Ensaios Fenomenológicos. São Paulo: Editora C.I., 1988. [Publicado com autorização do autor. 2 – Mostrar parte da amplitude e complexidade que origina e circunscreve a angústia com a finalidade de evitar reflexões preconceituosas concebidas a partir de um mero pinçar um trecho onde Heidegger expõe este acontecer tão fundamental.26 3 – ter despertado o interesse para a leitura de Heidegger, e, especificamente, para a angústia propriamente dita, para propiciar a reflexão acerca de concepção de homem envolvida e implicações que me parecem ser de importância fundamental para todo aquele que se preocupa e lida com o homem. Estas implicações são objeto de meu interesse presente e poderão se converter, quando um pouco mais amadurecidas, num outro trabalho. Agora, resta-nos debruçar frente à angústia existencial heideggeriana. À obra, então. 26 O trecho onde Heidegger apresenta a angústia de maneira mais concisa e clara se encontra no opúsculo; Que é Metafísica, citado anteriormente, às páginas 35 e seguintes. O mesmo opúsculo pode ser encontrado também em português em Heidegger, tradução e notas de Ernildo Stein, coleção Os Pensadores, Abril Cultural, 1979. www.fenoegrupos.com Página 11