O documento discute a poesia galaico-portuguesa da Idade Média, dividida em três categorias principais: cantigas de amigo, cantigas de amor e cantigas de escárnio e maldizer. Três coleções contêm composições dos séculos XII a XIV, incluindo o Cancioneiro da Biblioteca Nacional. As cantigas de amigo eram poesias populares de origem rural, enquanto as cantigas de amor vieram da Provença e expressavam o sofrimento do eu lírico masculino
1. A poesia galaico-portuguesa, subdivide-se em três
categorias: cantigas de amigo, cantigas de amor
e cantigas de escárnio e maldizer.
Chegaram até nós três colectâneas de poesias: o
Cancioneiro da Vaticana, o Cancioneiro da
Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Ajuda, todos
eles contendo composições que vão do século XII
ao século XIV.
As cantigas de amigo constituem uma poesia
autóctone, de origem popular e carácter tradicional,
cujas origens parecem estar ligadas às kharja,
cultivadas pelos poetas andaluzes.
As cantigas de amor tiveram origem na Provença.
Apresentam um eu – lírico masculino,
“profundamente” atormentado pela “coita” de amor
pois apesar da sua “senhor” não reciprocar o seu
amor, dedica-lhe incondicionais palavras de louvor,
fidelidade e abnegação.
O primeiro texto que encontramos no Cancioneiro
da Biblioteca Nacional é um pequeno tratado em
prosa sobre a poesia galaico-portuguesa, de autoria
desconhecida. Habitualmente designado como
"Arte de Trovar", resume brevemente a poética
trovadoresca, definindo géneros e regras a que
deveria obedecer a arte dos trovadores.
17 de Maio, Celebração do Dia das Letras Galegas
Projecto Comenius “Connecting Schools, Building Citizenship”
Cartaz realizado pelos alunos do Curso Profissional de Técnico de Turismo da
Escola EB 2,3 /S Aquilino Ribeiro para os seus colegas do IES Luis Seoane
Capítulo IIIIº
E porque algũas cantigas i há em que falam eles
e elas outrossi, por en é bem de entenderdes se
som d'amor, se d'amigo: porque sabede que, se
eles falam na prim[eir]a cobra e elas na outra, [é
d']amor, porque se move a razom dele, como vos
ante dissemos; e se elas falam na primeira
cobra, é outrossi d'amigo; e se ambos falam em
ũa cobra, outrossi é segundo qual deles fala na
cobra primeiro.
Capítulo Vº
Cantigas d'escarneo som aquelas que os
trobadores fazem querendo dizer mal d'alguém
em elas, e dizem-lho per palavras cobertas que
hajam dous entendimentos, pera lhe-lo nom
entenderem [...] ligeiramente; e estas palavras
chamam os clérigos hequivocatio. E estas
cantigas se podem fazer outrossi de meestria ou
de refram.
Capítulo VIº
Cantigas de maldizer som aquela[s] que fazem
os trobadores [...] descobertamente e [em] elas
entram palavras e[m] que querem dizer mal e
nom haver[am] outro entendimento senom aquel
que querem dizer chaam[ente]. E outrossi as
todas fazem dizer […].
In “Arte de Trovar”,
Cancioneiro da Biblioteca Nacional
Dinis I
1261-1325
Filho de Afonso III de Portugal e de D.
Beatriz de Castela, D. Dinis nasceu em
Lisboa, a 9 de Outubro de 1261.
D. Dinis protagoniza um dos mais
longos e também mais brilhantes
reinados portugueses, em parte
beneficiando da paz que o final da
guerra de reconquista cristã na faixa
ocidental da Península tinha tornado
efectiva.
Ao longo dos seus 46 anos de reinado
promoveu o desenvolvimento da
agricultura, do comércio e da cultura.
A ele se deve igualmente a fundação,
em 1290, da primeira Universidade
Portuguesa - a Universidade de
Coimbra.
Foi também no seu reinado que todos
os documentos deixaram de ser
redigidos em latim para passarem a ser
escritos em português.
Impulsionou a tradução de muitas obras
para português, entre as quais se
contam os tratados de seu avô Afonso
X, o Sábio.
Foi um dos mais notáveis trovadores do
seu tempo. Aos nossos dias chegaram
134 cantigas da sua autoria, distribuídas
por todos os géneros - 73 cantigas de
amor, 51 cantigas de Amigo e 10
cantigas de escárnio e maldizer.
Mapa de dialectos hispânicos
Fonte: Nicola, José
Cantigas de amigo
Trovadores Portugueses
Ai, flores, ai, flores do verde pino
Ai, flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai, flores, ai, flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi à jurado?
Ai, Deus, e u é?
Vós me preguntades polo vosso amigo?
E eu ben vos digo que é sano e vivo.
Ai, Deus, e u é?
Vós me preguntades polo vosso amado?
E eu ben vos digo que é vivo e sano.
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é sano e vivo
e seerá vosco ante o prazo saido.
Ai, Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é vivo e sano
e seerá vosco ante o prazo passado.
Ai, Deus, e u é?
Levantou-s'a velida
Levantou-s'a velida,
levantou-s'alva,
e vai lavar camisas
eno alto,
vai-las lavar alva.
Levantou-s'a louçana,
levantou-s'alva,
e vai lavar delgadas
eno alto,
vai-las lavar alva.
[E] vai lavar camisas;
levantou-s'alva,
o vento lhas desvia
eno alto,
vai-las lavar alva.
E vai lavar delgadas;
levantou-s'alva,
o vento lhas levava
eno alto,
vai-las lavar alva.
O vento lhas desvia;
levantou-s'alva,
meteu-s'[a] alva em ira
eno alto,
vai-las lavar alva.
O vento lhas levava;
levantou-s'alva,
meteu-s'[a] alva em sanha
eno alto,
vai-las lavar alva.
Cancioneiro da Biblioteca Nacional
Pedro Afonso, conde de Barcelos
1287 – 1354
O legado cultural do Conde de Barcelos
é um dos mais importantes da Idade
Média peninsular. D. Pedro foi o último
compilador das cantigas dos trovadores
galaico-portugueses. No seu testamento
deixa um Livro de Cantigas ao seu
sobrinho, Afonso XI de Castela.
Escreveu duas outras obras
fundamentais da história e cultura
portuguesas: o Livro de Linhagens do
conde D. Pedro (1340-1344), uma
recompilação da genealogia das
principais famílias nobres de Portugal
inseridas no contexto peninsular e
universal e a Crónica Geral de Espanha
de 1344, uma crónica histórica em que é
descrita a história dos vários reinos
ibéricos e da Reconquista, enfatizando-
se o papel dos reis portugueses na
cruzada contra o Islão.
São conhecidas quatro cantigas de amor
e seis cantigas de escárnio de D. Pedro
Afonso, Conde de Barcelos.
Cantiga de amor
Nom me poss'eu de morte defender,
pois vejo d'Amor que me quer matar
por ũa dona; mais, pois m'eu guardar
nom posso já de por dona morrer,
catarei já das donas a melhor
por que, pois mi há de matar,
mat'Amor.
E pois Amor em tal guisa me tem
em seu poder que defensa nom hei
de parar morte; e pois eu certo sei
que por dona a morrer me convém,
catarei já das donas a melhor
por que, pois mi há de matar,
mat'Amor.
E bem vej'eu, per qual poder em mi
Amor tomou, que nom hei defensom
d'escusar mort'; e pois eu tal razom
hei por dona de prender mort'assi,
catarei já das donas a melhor
por que, pois mi há de matar,
mat'Amor.
João Garcia de Guilhade
Trovador português, natural de Guilhade,
Barcelos, e documentado no segundo e
terceiro quartéis do século XIII.
João Garcia de Guilhade deveria ser um
dos cavaleiros ao serviço da linhagem
dos Sousa.
Pelas suas composições depreende-se
que teria frequentado a corte castelhana
de Afonso X, acompanhando talvez o
percurso inicial de D. Gonçalo de Sousa.
Escola E.B. 2,3/S Aquilino Ribeiro
Cantiga de escárnio
Ai dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv'en[o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei todavia;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus mi perdom,
pois havedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero já loar todavia;
e vedes qual será a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já um bom cantar farei
em que vos loarei todavia;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!