O documento discute os suportes têxteis para pintura, como telas e linho. Apresenta as principais causas de deterioração desses suportes como oxidação, radiação ultravioleta, umidade, e impactos ambientais. Também aborda técnicas comuns de conservação e restauração como limpeza, remoção de adesivos, reentelamento e substituição do tecido de apoio.
O suporte têxtil Breve introdução a suportes têxteis -
1. Universidade Federal de Pelotas
Instituto de Ciências Humanas
Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis
Disciplina de Conservação e Restauro de Pinturas I
“O SUPORTE TÊXTIL”
Fábio Zündler
Pelotas
2013
2. INTRODUÇÃO
O suporte têxtil
engloba na pintura os
suportes de tecidos como
linho, tela, cânhamo,
seda, lã e materiais
sintéticos. As primeiras
obras sobre suportes
têxteis se remontam a
ameados do século 15,
no inicio do século 16 o
suporte têxtil desbancou
a tábua e desde o século
18 é o suporte mais
importante da pintura.
3. DETERIORAÇÃO E SUAS
CAUSAS
Como todos os materiais orgânicos, os suportes
têxteis também envelhecem, com isso ao longo
do tempo perdem sua consistência, elasticidade e
deixam de ter capacidade de sustentar as
camadas da tela. No passado esse problema era
resolvido com um reentelamento. Desde o
começo dos anos 70 se tem procurado mediante
investigação rigorosa as causas da deterioração e
de novos procedimentos para restauração e
conservação dos suportes têxteis.
4. PROPRIEDADES DA CELULOSE
“A celulose possui uma série de propriedades negativas”
Envelhece (sofre oxidação);
Absorve radiação;
Atacada por ácidos em forma de poluição;
Atacada por micro-organismos;
Sofre com tratamentos de conservação e
restauração;
Sensíveis a cargas mecânicas mais fortes;
É higroscópica.
5. OXIDAÇÃO
O linho entra em contato com o oxigênio do
ar e oxida. É um processo que não temos como
parar, no máximo atrasá-lo, com isso o linho
perde a elasticidade e fica quebradiço. Esse
processo de oxidação acelera quando é utilizado
óleos secantes, que com a secagem absorvem
oxigênio.
7. RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA
Prejudicam todas as fibras naturais e
algumas sintéticas, os raios são energias que
chegam ao suporte têxtil. Uma U.R do ar alta e
um catalisador aceleram a desintegração.
8. METAIS
Metais que entram em contato direto com o
linho agem como catalisadores da oxidação.
9. IMPACTO AMBIENTAL:
A forte industrialização contribui para a
deterioração. Os ácidos inorgânicos, os ácido
sulfúrico e o ácido sulfuroso, que contaminam a
atmosfera, decompõe a celulose. Por exemplo o
ar de um museu em uma sala que se guarda ou
exibe um quadro com dióxido de enxofre e
partículas de pó. O ácido sulfuroso, que se forma
a partir do dióxido de enxofre, origina a destruição
das fibras. As partículas de pó, que se depositam
atrás do quadro, nos espaços existentes entre o
bastidor e o suporte reforçam o processo atuando
como compressão.
.
10. MICRO-ORGANISMOS
O mofo e as bactérias desintegram a
celulose, essa decomposição é parecida com a da
oxidação, o tecido perde a consistência e
elasticidade, ficando quebradiço e se desfaz
11. CARACTERÍSTICAS
HIGROSCÓPICAS
As fibras dos tecidos absorvem a umidade
do ar, incham, engrossam e encurtam. O
aumento da U.R do ar da lugar a um aumento da
espessura da fibra. O tecido que tem fios mais
unidos entre si, se encolhe, ao sair essa umidade,
o tecido se dilata e amolece.
12. A esquerda, distensão
do suporte têxtil pela
umidade, abaixo uma
“tensão artificial” em
consequência de uma
incorreta tensão no bastidor
e um remendo mal aderido
por trás, certamente feito
com adesivos muito fortes.
http://www.xn--fernandezlabaa-2nb.com/restauracion_pintura.htm
13. REAÇÃO A ÁGUA
A troca da U.R do ar modifica as
propriedades de um suporte têxtil, ao aumentar o
conteúdo de água, aumenta sua flexibilidade, sua
condutibilidade térmica e sua dilatabilidade mas
diminui sua consistência, sua dureza, sua
estabilidade química e sua hermeticidade em
relação ao vapor da água.
14. TENSÃO DA TELA
A tensão de uma tela é medida em newton/
metro. A tensão normal de uma tela é de 100-200
N/m ou 10-20 kg/m. Dificilmente se manterá ao
longo do tempo, uma tela perde sua tensão e se
afloxa em decorrência da U.R do ar e das
mudanças de temperatura.
15. BOLSAS CLIMÁTICAS
Atrás dos quadros podem se formar bolsas
climáticas. Entre a parede e o suporte têxtil,
condicionado pela espessura do bastidor, há um
pequeno espaço, com uma temperatura e U.R do
ar diferentes do ar da sala onde a pintura está
exposta. Isso pode variar de acordo com o tipo de
parede, atrás do quadro a temperatura é mais
baixa e a umidade mais alta, com isso pode
formar craquelados, desprendimento da camada
pictórica e deformações.
16. DE
A IS
R O
E Ã
G Ç
S A
E R
Õ U
Ç A
A T
R S
E E
O P R
17. REVESTIMENTO DA CAMADA DO
QUADRO – Faceamento
Trata-se de um processo de tratamento que visa
a proteção das superfícies dos bens durante o processo
de transporte, desmontagem ou tratamento. Serve como
forma de evitar/minimizar eventuais danos que se
possam vir a sentir na superfície. Trata-se da aplicação
de uma fina camada de um material inerte (que não
interaja com a superfície do bem a proteger) através da
aplicação de um adesivo em baixas concentrações. Este
adesivo deve ser totalmente reversível e não provocar
nenhuma alteração na superfície. O faceamento deve ser
realizado com a aplicação sobre a superfície de um
material como o papel japonês, a gaze, ou outro, e o
adesivo deve ser pincelado sobre este.
18. LIMPEZA DA PARTE DE TRÁS DO
QUADRO
Geralmente, atrás de quadros antigos, não serão
lisos e nem estarão limpos. A restauração a esses tipos
de quadros é eliminar as possíveis irregularidades e a
sujidade dos anos. Entre as irregularidades, resíduos e
restos estão os defeitos do tecido, os nós da tela, as
costuras, as imprimaduras originais que tenham passado
através do suporte têxtil. As imprimaduras originais que
passaram pelo suporte têxtil, as sujidades em qualquer de
suas formas, os sedimentos que acompanham a fumaça
de cigarro (alcatrão) restos de adesivos e micro-
organismos. Cada tratamento da parte de trás de um
quadro representa uma carga para a superfície do
mesmo.
19. Marcas de uma intervenção anterior, restos de
preparação sintética que atravessou o tecido.
Foto: http://obrasrestauradasgaia.blogspot.com.br/2012/10/increible-restauracion-del-lienzo_30.html
20. NÓS E COSTURAS
Segundo a qualidade, a idade e as
dimensões do tecido, o suporte têxtil e o
reentelamento podem apresentar nós, fios mais
grossos e costuras. Os nós, os engrossamentos
dos fios, e as costuras são irregularidades das
partes detrás de um quadro que com
reentelamento penetram ao outro lado. Na
superfície do quadro pode aparecer
protuberâncias que correspondem aos nós e as
costuras, para evitar isso deve –se preparar o
suporte têxtil.
21. IMPRIMADURA
Algumas pinturas de cavalete apresentam
uma fina camada colorida imediatamente sobre a
camada de preparação. Supostamente, essa
camada proporciona uma cor mais adequada ao
desenvolvimento da pintura do que a cor da
camada de preparação ou apresenta uma
diferente absorção da tinta e para ela, em
português, se encontram as designações de
imprimidura, imprimatura, imprimação e
impressão.
22. SUJIDADE
Segundo o tempo da obra e o local em que
ela foi conservada, as telas acumulam sujidades.
Geralmente se elimina a seco. Com um pincel
retira-se a sujidade da superfície da tela, podendo
recorrer a uma esponja ou borracha de apagar
macia e após limpar as partículas desprendidas
com um aspirador, da mesma forma podemos agir
para limpar a na parte posterior da tela.
23. A limpeza é feita mecanicamente com
escova, bisturi e sucção.
Fotos:http://obrasrestauradasgaia.blogspot.com.br/2012/10/increible-restauracion-del-lienzo_30.html
24. A medida que se realiza a limpeza mecânica o
suporte vai recuperando a flexibilidade. A sujidade, pó e
impregnação de adesivos provocam muita rigidez as
fibras.
Fotos:http://obrasrestauradasgaia.blogspot.com.br/2012/10/increible-restauracion-del-lienzo_30.html
25. ADESIVOS
Os adesivos são produtos que originam uma
união dos matérias, neste caso dos tecidos, o
restaurador utiliza para fazer remendos ou nos
reentelamentos. A utilização de adesivos pode
causar uma superfície irregular, criar tensões no
suporte, influenciam na elasticidade do suporte,
alteram a difusão de vapor de aguá no quadro e
podem ser higroscópicos.
Adesivos aquosos podem ser atacados por
microrganismos.
26. ELIMINAÇÃO
Os restos de adesivos não só estão na
superfície do suporte têxtil como penetram
profundamente no tecido. Os restos de adesivos
se reduzem ou eliminam a seco com bisturi ou
micro-abrasão ou molhado com bisturi e
compressas, também pode se fazer um
tratamento com enzimas.
27. ENZIMAS
As enzimas são substâncias proteicas, de
formação intercelular e com moléculas de grande
porte, que como biocatalizadores dirigem todas as
reações químicas dos organismos. As reações
químicas se desenvolvem rapidamente em meio
aquoso. Nas restaurações de telas, em algumas
ocasiões se recorre as enzimas para a limpeza de
superfícies e para eliminar vernizes e colas. Segundo
Knut Nicolaus, que propôs uma limpeza de um quadro
com enzimas para eliminar cola, constatou o que as
mesmas não só penetram a cola como também
penetram na estrutura do quadro provocando reações
não desejadas.
28. RETIRADAS DE REMENDOS E
ETIQUETAS
Remendos são pedaços retangulares ou
quadrados de tela que se colam por trás do quadro
para fechar rupturas e buracos. Em certas ocasiões
também utiliza-se papel como material adesivo (Papel
japonês). Até os anos 70 colar rupturas e buracos por
detrás da tela era o procedimento mais correto e a
única alternativa ao reentelamento.
Etiquetas são rótulos colados na parte detrás de
um quadro que geralmente contém informações sobre
o mesmo.
Remendos e etiquetas podem marcar a parte
detrás com protuberâncias, pregas e um craquelê
específico.
30. REENTELAMENTO
O reentelamento consiste em fazer aderir um
tecido protetor no verso da tela. Esta técnica ou
intervenção só deve ser levada a cabo nos casos em
que se considere absolutamente imprescindível. Caso
contrário deverá optar-se sempre por técnicas que
envolvam menor intervenção sobre a obra. Existem
diversos sistemas para reentelar, alguns deles
clássicos, enquanto outros foram recentemente
desenvolvidos. Entre os processos clássicos destaca-
se o reentelamento com branco de chumbo, com
pasta de farinha ou goma, com cera-resina, ou cola
aquosa.
31.
32. ELIMINAÇÃO DO TECIDO DO
REENTELAMENTO
Normalmente os suportes têxteis velhos são
reentelados, ou seja, a elas são aderidos um outro
suporte têxtil para sua estabilidade. Em algumas
ocasiões devemos tirar o tecido do reentelamento,
por exemplo, quando já não cumpre sua função ou
o reentelamento foi feito incorreto e ainda quando
o suporte têxtil está em deterioração.
33. TECIDOS DE REENTELAMENTO
Os tecidos de reentelamentos servem para estabilizar o
suporte original e portanto para consolidar o quadro. Como
suportes auxiliares se tem utilizado tecidos de linho, cânhamo, de
seda e no século XX, algodão, de fibras sintéticas.
PROPRIEDADES:
Devem ser estáveis em relação a poluição atmosférica e a luz,
não afloxar, ter um bom comportamento isotrópico, pouca reação a
troca de U.R do ar, ter uma boa relação de ligação com o adesivo
escolhido e dispor de uma estrutura têxtil adequada.
PREPARAÇÃO:
Todos os tecidos de reentelação devem ter sido lavados,
estarem lisos e sem irregularidades. A estrutura têxtil que foi
escolhida depende do suporte e o tratamento posterior estar
relacionado com o adesivo e com o procedimento de reentelação.
34. ADESIVOS PARA REENTELAMENTO
As substâncias básicas cumprem a função de
aderência e consistência, os aditivos servem para
modificar as propriedades. No século XX somente se
tinha, como substâncias básicas, de materiais
naturais de procedência animal ou vegetal. Com
descobrimento da resina sintética os restauradores
puderam dispor também de dispersões de acetato
de polivinil, soluções de resinas acrílicas e de ceras
microcristalinas entre outros capazes de direcionar o
processo de fixação e de endurecimento e de
melhorar a instabilidade, a adesão, a flexibilidade e a
resistência ao envelhecimento.