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Notícia
   Fonte: http://jornalescolar.org.br/tudo-para-jornal/sequencias-didaticas/


A notícia é um gênero textual jornalístico que trata de um acontecimento ou fato
desconhecido do público.

No contexto de uma sociedade ávida por informação, como a nossa, que está em contato
constante com os meios de comunicação, a notícia é um fato acontecido há bem pouco
tempo, apenas o que se demora na edição da informação e na impressão dos jornais para
chegar ao público. Na internet, onde as informações são atualizadas minuto a minuto, e,
em menor medida, na TV e no rádio, os acontecimentos viram notícia mais rapidamente
ainda.

Mas nem sempre foi assim. Quando não existia rádio ou televisão, para os moradores das
cidades afastadas, as informações dos jornais das grandes cidades eram notícias, mesmo se
demorassem semanas para chegar até eles.

Essa reflexão sobre o que é notícia "nova" ou "velha" é importante no contexto
comunitário, onde acontecem muitas coisas que os meios de comunicação não consideram
relevantes. Assim, uma iniciativa da Associação de Moradores, acontecida há algumas
semanas (encaminhar uma reclamação ao prefeito, por exemplo), continua sendo uma
notícia, desde que não tenha sido ainda divulgada.

Por outro lado, nem toda informação, mesmo desconhecida do público, é notícia. A tabela
com os horários de saída dos ônibus, por exemplo, não é uma notícia. Notícia seria a
alteração dos horários.

O mesmo acontece com uma informação científica sobre os primeiros habitantes do Brasil.
A notícia estaria na descoberta de um sítio arqueológico.

Mercado e Notícia.

As empresas de comunicação travam uma disputa pela preferência do público. Quanto
maior a audiência ou o número de leitores, maior será o valor dos espaços publicitários e o
lucro.

Essa disputa consolidou uma tendência a considerar como notícia o que tem mais potencial
para chamar a atenção do público. Essa afirmação é posta de maneira jocosa, quando se
diz que, se um cachorro morder um homem, temos uma informação, mas se um homem
morder um cachorro, temos uma notícia!
Assim,              abordagens
sensacionalistas             ou
espetaculares, que geram um
impacto imediato, tendem a
prevalecer       sobre        as
abordagens       investigativas,
necessariamente            mais
ponderadas e que exigem
capacidade      reflexiva    do
público.

Notícia e Objetividade.

Para valorizar seu trabalho, é
comum       os    meios     de
comunicação argumentarem
que dão um tratamento
objetivo    e    imparcial   à
informação. Não é necessário
aprofundar muito, porém, para se descobrir os limites e mesmo a impossibilidade dessa
objetividade.

Com efeito, a seleção dos assuntos noticiados constitui, em si mesma, um ato opinativo
muito forte (algumas coisas serão divulgadas e outras não). A valorização de determinadas
informações, em detrimento de outras, acontece também através da forma de
apresentação - textos mais ou menos extensos, com maior ou menor destaque, abordados
durante vários dias ou apenas uma vez, e assim em diante.

No plano individual a neutralidade é quase impossível, pois suporia a ausência de
sentimentos e opiniões do jornalista sobre os fatos que relata. Mesmo quando tenta ser
objetivo, o pensamento e as emoções do redator se manifestam nas entrelinhas. Vejamos
um exemplo: ao escolher, para relatar um crime, entre os adjetivos passional ou hediondo,
o jornalista passa imagens diferentes do mesmo fato. Ao ler “passional”, alguns leitores
poderão ter uma visão compreensiva do crime, como reflexo das fraquezas humanas;
“hediondo” soa como uma condenação moral do autor do crime.

Em suma, a notícia não é o fato, mas um relato sobre o mesmo, onde interpretações mais
ou menos sutis se infiltram. E dentre todos os fatos que podem ser noticiados, os meios de
comunicação escolhem só alguns para nos mostrar.

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  • 1. Notícia Fonte: http://jornalescolar.org.br/tudo-para-jornal/sequencias-didaticas/ A notícia é um gênero textual jornalístico que trata de um acontecimento ou fato desconhecido do público. No contexto de uma sociedade ávida por informação, como a nossa, que está em contato constante com os meios de comunicação, a notícia é um fato acontecido há bem pouco tempo, apenas o que se demora na edição da informação e na impressão dos jornais para chegar ao público. Na internet, onde as informações são atualizadas minuto a minuto, e, em menor medida, na TV e no rádio, os acontecimentos viram notícia mais rapidamente ainda. Mas nem sempre foi assim. Quando não existia rádio ou televisão, para os moradores das cidades afastadas, as informações dos jornais das grandes cidades eram notícias, mesmo se demorassem semanas para chegar até eles. Essa reflexão sobre o que é notícia "nova" ou "velha" é importante no contexto comunitário, onde acontecem muitas coisas que os meios de comunicação não consideram relevantes. Assim, uma iniciativa da Associação de Moradores, acontecida há algumas semanas (encaminhar uma reclamação ao prefeito, por exemplo), continua sendo uma notícia, desde que não tenha sido ainda divulgada. Por outro lado, nem toda informação, mesmo desconhecida do público, é notícia. A tabela com os horários de saída dos ônibus, por exemplo, não é uma notícia. Notícia seria a alteração dos horários. O mesmo acontece com uma informação científica sobre os primeiros habitantes do Brasil. A notícia estaria na descoberta de um sítio arqueológico. Mercado e Notícia. As empresas de comunicação travam uma disputa pela preferência do público. Quanto maior a audiência ou o número de leitores, maior será o valor dos espaços publicitários e o lucro. Essa disputa consolidou uma tendência a considerar como notícia o que tem mais potencial para chamar a atenção do público. Essa afirmação é posta de maneira jocosa, quando se diz que, se um cachorro morder um homem, temos uma informação, mas se um homem morder um cachorro, temos uma notícia!
  • 2. Assim, abordagens sensacionalistas ou espetaculares, que geram um impacto imediato, tendem a prevalecer sobre as abordagens investigativas, necessariamente mais ponderadas e que exigem capacidade reflexiva do público. Notícia e Objetividade. Para valorizar seu trabalho, é comum os meios de comunicação argumentarem que dão um tratamento objetivo e imparcial à informação. Não é necessário aprofundar muito, porém, para se descobrir os limites e mesmo a impossibilidade dessa objetividade. Com efeito, a seleção dos assuntos noticiados constitui, em si mesma, um ato opinativo muito forte (algumas coisas serão divulgadas e outras não). A valorização de determinadas informações, em detrimento de outras, acontece também através da forma de apresentação - textos mais ou menos extensos, com maior ou menor destaque, abordados durante vários dias ou apenas uma vez, e assim em diante. No plano individual a neutralidade é quase impossível, pois suporia a ausência de sentimentos e opiniões do jornalista sobre os fatos que relata. Mesmo quando tenta ser objetivo, o pensamento e as emoções do redator se manifestam nas entrelinhas. Vejamos um exemplo: ao escolher, para relatar um crime, entre os adjetivos passional ou hediondo, o jornalista passa imagens diferentes do mesmo fato. Ao ler “passional”, alguns leitores poderão ter uma visão compreensiva do crime, como reflexo das fraquezas humanas; “hediondo” soa como uma condenação moral do autor do crime. Em suma, a notícia não é o fato, mas um relato sobre o mesmo, onde interpretações mais ou menos sutis se infiltram. E dentre todos os fatos que podem ser noticiados, os meios de comunicação escolhem só alguns para nos mostrar.