1) O documento descreve quatro estágios da ascensão do fascismo no Brasil, incluindo o apoio da elite conservadora ao candidato Jair Bolsonaro, cujas propostas são tipicamente fascistas.
2) A incapacidade do governo em lidar com a crise econômica e corrupção está contribuindo para o avanço do fascismo como solução.
3) Há riscos de que, se eleito, Bolsonaro assuma o controle total do país da mesma forma que Hitler e Mussolini fizeram na Alemanha e Itália, respect
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
A escalada do fascismo no brasil
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A ESCALADA DO FASCISMO NO BRASIL
Fernando Alcoforado*
Em sua escalada, o fascismo no Brasil deve passar por quatro estágios. No primeiro
estágio já cumprido, os fascistas se reuniram a partir da grande mobilização social de
junho de 2013 para lutar pela construção de uma nova ordem política, econômica e
social em substituição à falida ordem política, econômica e social atual. Os adeptos do
fascismo consideram que a causa dos males atuais do Brasil está relacionada com a
corrupção e o uso do Estado por partidos de tendência comunista. Os fascistas buscam
a purificação da sociedade brasileira das influências tóxicas de partidos e lideranças
políticas, sobretudo aquelas ligadas ao PT e seus aliados, os quais seriam culpados pela
situação lamentável em que vive a nação brasileira. Da mesma forma que o fascismo
antigo na Alemanha de Hitler e na Itália de Mussolini, a razão é rejeitada em favor da
emoção passional. Em um segundo estágio ainda em andamento, os movimentos
fascistas estão criando raízes. O sucesso do fascismo resulta da fraqueza do estado
liberal que, incapaz de solucionar os problemas do País, condena a nação à desordem,
declínio econômico e moral e à falta de consenso político como ocorre atualmente no
Brasil.
O avanço do fascismo no Brasil resulta do fato de a organização econômica, social e
política se encontrar em completa desintegração. A incapacidade do governo brasileiro e
das instituições políticas em geral de oferecer respostas eficazes para superação da crise
econômica recessiva em que se debate a nação brasileira e debelar a corrupção
desenfreada em todos os poderes da República na atualidade está contribuindo para o
avanço do fascismo como solução para os problemas do Brasil. O sociólogo alemão
Ralf Dahrendorf, que acompanhou os terríveis anos nazistas de Berlim, escreveu em
1985 um livro chamado A Lei e a Ordem (Editora Instituto Liberal, 1997), quando
afirmou que a anarquia, definida como ausência generalizada de respeito às normas
sociais, costuma anteceder os regimes totalitários. Não há como dissociar esta situação
descrita por Dahrendorf do grave momento atual do Brasil onde a impunidade é
crescente e os valores básicos da civilização estão completamente enfraquecidos.
No terceiro estágio de escalada do fascismo no Brasil, é realizada aliança entre a elite
conservadora e os fascistas quando começa a transição para um governo abertamente
fascista. No Brasil, esta aliança já está se consumando com o apoio da elite
conservadora ao candidato Bolsonaro à Presidência da República que tem uma proposta
de governo tipicamente fascista. O seu discurso é baseado no culto explícito da ordem,
na violência de Estado, em práticas autoritárias de governo, no desprezo social por
grupos vulneráveis e fragilizados e no anticomunismo. O perigo Bolsonaro está na
opressão, no machismo, na homofobia, no racismo, no ódio aos pobres. A História nos
diz que uma vez que essa aliança entre a elite conservadora e os fascistas é formada e
tem sucesso em busca do poder, não há mais como pará-la. A aliança entre a elite
conservadora e os fascistas pode destruir os últimos vestígios de um governo
democrático no Brasil.
Geraldo Alckmin é o candidato preferido da elite conservadora para se tornar presidente
da República nas eleições de outubro porque ele promete manter o modelo econômico
neoliberal, privatizar ativos do Estado, cortar gastos e equilibrar o orçamento do
governo. Sua equipe econômica é altamente respeitada e ele tem apoio político
suficiente para aprovar reformas no Congresso. No entanto, ele está em quarto ou quinto
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lugar nas pesquisas e é improvável que passe do primeiro turno das eleições, em 7 de
outubro. Sobra para os banqueiros Jair Bolsonaro como a opção mais viável contra os
partidos de esquerda. Os presidentes e executivos dos principais bancos do Brasil dizem
estar confortáveis com a escolha do principal conselheiro de Bolsonaro, Paulo Guedes,
um defensor do Estado pequeno, da livre iniciativa e da reforma da Previdência Social.
Desde que trouxe Guedes para sua campanha, Bolsonaro tem mostrado entusiasmo com
a ideia de vender todas as propriedades do Estado, defender a independência do Banco
Central e buscar a aprovação das reformas apoiadas pelo setor bancário. Bolsonaro
ganhou grande apoio no Brasil dizendo que na Presidência da República afrouxaria as
restrições às armas de fogo e daria mais poder à polícia. As autoridades deveriam ter
armas mais letais, de acordo com Bolsonaro, que defende que aqueles que matam
criminosos devem receber medalhas e não irem a julgamento. O grande apelo que o
Bolsonaro tem junto ao público em geral está relacionado à raiva contra os políticos
tradicionais e contra a corrupção. As pesquisas mostram que ele é apoiado
principalmente por homens da classe média e alta.
No estágio quatro de escalada do fascismo no Brasil, a elite conservadora e os fascistas
assumiriam o controle completo do país com a vitória de Bolsonaro nas eleições de
outubro. Da mesma forma que Hitler e Mussolini, Bolsonaro poderá ascender ao poder
no Brasil pelo voto popular com o apoio da elite conservadora e de amplos segmentos
da população. Ao assumir o poder, Hitler e Mussolini se mantiveram nos limites da
legalidade, mas permitiram ilegalidades fora dela. Ambos foram capazes de obter o
apoio estratégico da elite conservadora e de amplos segmentos da população temerosos
das forças de esquerda. A elite conservadora pensava que Hitler e Mussolini seriam
capazes de manter sob seu controle os mais exaltados extremistas de direita ao seu
redor. As velhas oligarquias alemãs e italianas pensaram que seria possível usar Hitler e
Mussolini para controlar os radicais vermelhos, transformá-los em figuras decorativas e
o antigo establishment governaria na sombra, como sempre havia feito. Não contaram
com a possibilidade de o dono da popularidade (Hitler e Mussolini) resolver assumir o
controle do poder por conta própria. Os poucos jornais independentes que restavam
foram amordaçados por uma série de restrições à imprensa. O caminho estava livre para
a ditadura nazista na Alemanha e fascista na Itália.
A história tem comprovado que, do confronto entre as forças de esquerda e de direita
sempre resulta em ditaduras de direita ou de esquerda. Na Rússia czarista em 1917, na
China em 1949 e em Cuba em 1959, este confronto resultou na implantação de
ditaduras de esquerda. Deste confronto entre as forças de esquerda e de direita na Itália
e na Alemanha, após a 1ª Guerra Mundial, resultaram as ditaduras de direita fascista e
nazista. Na Espanha em 1936 resultou a ditadura franquista de direita e no Chile em
1973 resultou a ditadura de direita de Pinochet. No Brasil, após a denominada Intentona
Comunista em 1935, Getúlio Vargas deu um autogolpe em 1937 com a implantação da
ditadura do Estado Novo de direita e o governo João Goulart foi derrubado em 1964 que
resultou na ditadura militar de direita que teve duração de 21 anos. A escalada do
fascismo já é um fato concreto, disseminado, enraizado e poderá se tornar irreversível
no Brasil no momento atual. A única forma de evitar a escalada do fascismo e a
implantação de uma ditadura de direita no Brasil é a formação de uma frente ampla
antifascista com o apoio ao candidato mais capacitado a derrotar nas próximas eleições
presidenciais e parlamentares as forças fascistas que apoiam Bolsonaro.
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*Fernando Alcoforado, 78, detentor da Medalha do Mérito do Sistema CONFEA/CREA, membro da
Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é
autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova
(Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX
e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of
the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas,
Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016) e A Invenção de um novo
Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017).