1) A pós-modernidade representa uma reação cultural à perda de confiança no projeto iluminista e moderno, questionando conceitos como verdade, razão e progresso.
2) Autores como Jean-François Lyotard e David Harvey caracterizam a pós-modernidade como o fim das "grandes narrativas" da modernidade e uma época de fragmentação e incerteza.
3) O documento argumenta que a pós-modernidade serve como uma poderosa ideologia do neoliberalismo para ocultar conflitos de classe e manter o controle social.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
A pós modernidade como ideologia do neoliberalismo e da globalização
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A PÓS-MODERNIDADE COMO IDEOLOGIA DO NEOLIBERALISMO E DA
GLOBALIZAÇÃO
Fernando Alcoforado*
O fracasso do Iluminismo e da Modernidade na realização do progresso da humanidade
e na conquista da felicidade para os seres humanos abriu caminho para o advento da
Pós-Modernidade que representa uma reação cultural à perda de confiança no potencial
universal do projeto iluminista e da Modernidade. A Pós-modernidade significa,
portanto, uma reação àquilo que é moderno. Algumas escolas de pensamento situam sua
origem no alegado esgotamento do projeto da Modernidade até o final do século XX.
David Harvey, professor da City University of New York que trabalha com diversas
questões ligadas à geografia urbana, aponta em sua obra Condição Pós-Moderna (São
Paulo: Edições Loyola, 1993) que a Pós-Modernidade nasce da Modernidade que, na
verdade, teria gestado a Pós-Modernidade ao colocar os avanços tecnológicos, como a
microeletrônica, a internet, a robótica, que hoje permitem uma nova forma de vivenciar
o contemporâneo. Para Harvey a Modernidade é condição para Pós-Modernidade. Para
Harvey, a Pós-Modernidade seria o desencanto da Modernidade com o que não deu
certo.
Em La condition postmoderne, rapport sur le savoir (Paris: Minuit, 1979), Jean-
François Lyotard, filósofo francês, caracteriza a Pós-modernidade como uma
decorrência da morte das "grandes narrativas" totalizantes da Modernidade, fundadas na
crença no progresso e nos ideais iluministas de igualdade, liberdade e fraternidade.
Lyotard protesta contra o formato da "grande narrativa" que domina o retrato
modernista da história. Essa grande narrativa, segundo Lyotard, indica falsamente que
muito do que é útil na história originou-se no Iluminismo, que desde o Iluminismo a
humanidade progrediu cognitivamente com rapidez, assim como em termos de
liberdade, igualdade e fraternidade.
A Pós-modernidade é definida também por muitos autores como a época das incertezas,
das fragmentações, das desconstruções, da troca de valores. Em relação à Pós-
Modernidade, Lyotard afirma que o que está em curso é um desmantelamento e uma
sucessiva reconstrução das instituições, o que muitas vezes torna os laços humanos
muito fluidos. No plano das relações humanas, a Pós-modernidade se caracteriza pela
quebra do paradigma que prevalecia anteriormente como, por exemplo, de que o
casamento diz respeito à relação homem-mulher. Um dos aspectos mais visíveis da
época em que vivemos é a capacidade que cada indivíduo tem de inventar novos
arranjos conjugais como o casamento homossexual. Na Pós-modernidade, percebe-se a
capacidade de aceitar e até valorizar grupos que eram estigmatizados socialmente, como
os homossexuais, os divorciados, os solteiros e os sem filhos.
Enquanto a Modernidade pode ser caracterizada como a época da valorização e crença
nas noções de verdade, razão, objetividade e determinismo, fé inabalável no progresso
científico e na emancipação universal, a Pós- modernidade seria o questionamento de
tudo isso. A Pós-Modernidade faz também com que o nosso atual período histórico se
configure numa "colcha de retalhos", um "mosaico" de épocas, períodos e situações
históricas que coexistem como, por exemplo, características da Idade Média em
determinadas regiões do país convivendo com as da era contemporânea. Esta é uma das
características marcantes da Pós-Modernidade. No entanto, se essa é uma de suas
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características, pode-se afirmar que estar na Pós-Modernidade é o mesmo que dizer, que
a Modernidade e a Pós-Modernidade coexistem.
Na Pós- Modernidade, o mundo construído de objetos duráveis foi substituído pelo de
produtos disponíveis e projetados para imediata obsolescência e descarte. A Pós-
Modernidade pode ser caracterizada como uma reação à cultura ao modo como se
desenvolveram historicamente os ideais da Modernidade, associada à perda de otimismo
e confiança no potencial universal do projeto iluminista e moderno. Configura-se como
uma rejeição à tentativa de colonização pela ciência e pela tecnologia das demais
esferas da vida do homem. A Pós-Modernidade leva a crítica às mais profundas
consequências, questionando os conceitos estabelecidos pela Modernidade. Em sua obra
O mal estar da pós-modernidade (Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1998), Zygmunt Bauman
afirma que o homem pós-moderno é aquele facilmente adaptável que convive a todo o
momento com as realidades distintas e consegue de forma satisfatória sobreviver a todas
elas.
Bauman afirma que os homens da Modernidade viveram num tempo-espaço sólido,
durável, duro recipiente em que os atos humanos podiam cunhar-se seguros. Liberdade
era a necessidade conhecida, mais também a decisão de agir com esse conhecimento. A
estrutura estava em seu lugar. Entretanto para os homens e as mulheres da Pós-
Modernidade esse mundo desapareceu. Conforme aponta Bauman o mundo em que o
homem está vivendo é formado de regras que são feitas e refeitas no curso dos próprios
acontecimentos. Para viver nesse mundo é preciso usar ao máximo suas habilidades. O
mundo tem se tornado mais frágil e perigoso. Muitas das relações que perpassam o
mundo contemporâneo não são duradouras.
As questões relativas ao Iluminismo, a Modernidade e a Pós-Modernidade se inserem
no campo da ideologia. Através da ideologia, são construídos imaginários e lógicas de
identificação social cuja função seria escamotear o conflito entre as classes sociais,
dissimular a dominação de classe e ocultar a presença do particular, dando-lhe a
aparência de universal. O discurso ideológico se caracteriza por uma construção
imaginária no sentido de imagens da unidade do social, graças à qual fornece aos
sujeitos sociais e políticos um espaço de ação que deve necessariamente fornecer
representações coerentes para explicar a realidade social e apresentar normas coerentes
para orientar a prática política.
Pode-se compreender a função implícita ou explícita da ideologia na tentativa das
classes sociais dominantes de fazer com que o ponto de vista particular das classes que
exercem a dominação política apareça para todos os sujeitos sociais e políticos como
universal, e não como interesse particular de uma classe determinada. Por influência de
Karl Marx, filósofo alemão, a palavra ideologia tornou-se largamente utilizada nas
ciências humanas de nossa época com o significado de sistema de ideias que elaboram
uma "compreensão da realidade" para ocultar ou dissimular o domínio de um grupo
sobre o outro. Nesse sentido, a ideologia tem funções como a de preservar a dominação
de classes apresentando uma explicação apaziguadora para as diferenças sociais. Seu
objetivo é evitar o conflito aberto entre dominadores e dominados.
A Pós-Modernidade é uma poderosa arma ideológica do capitalismo de mercado
neoliberal e da globalização ao incorporar uma forma de produção do imaginário social
que corresponde aos anseios da classe dominante como meio mais eficaz de controle
social e de amenizar os conflitos de classe, seja invertendo a noção de causa e efeito,
seja silenciando questões que por isso mesmo impedem a tomada de consciência do
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trabalhador de sua condição histórica, formando ideias falsas sobre si mesmo, sobre o
que é ou o que deveria ser. O caráter político retrógrado da Pós-Modernidade está
apresentado no próximo artigo a ser publicado sob o título AS CONSEQUÊNCIAS
POLÍTICAS DA PÓS-MODERNIDADE E DO NEOLIBERALISMO.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.