O documento discute as marcas do tempo atual: avanço tecnológico, baixo crescimento econômico e desemprego em massa. A automação e novas tecnologias estão reduzindo postos de trabalho em todo o mundo. Isso, somado ao crescimento econômico insuficiente, resulta no aumento do desemprego global. Uma nova ordem econômica mundial é necessária para lidar com essa crise.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Avanço tecnológico, baixo crescimento econômico e desemprego em massa marcas de nosso tempo
1. AVANÇO TECNOLÓGICO, BAIXO CRESCIMENTO ECONÔMICO E
DESEMPREGO EM MASSA: MARCAS DE NOSSO TEMPO
Fernando Alcoforado *
Enquanto em 1972, o Clube de Roma proclamava a necessidade de estabelecer limites
ao crescimento econômico mundial, uma obra do Centre d‟Études Prospectives et
d‟Informations Internacionales consagrada à economia mundial proclamou, em 1992, o
contrário, isto é, o imperativo do crescimento. Quando propôs os limites ao
crescimento, o Clube de Roma partia da premissa de que os processos de expansão
populacional e econômica do mundo, que ocorriam em bases exponenciais ao nível
global, levariam ao esgotamento dos recursos naturais do planeta, ao comprometimento
do meio ambiente e, consequentemente, ao colapso na sua evolução. Por sua vez, ao
propor a necessidade do crescimento econômico mundial, o Centre d‟Études
Prospectives et d‟Informations Internationales identificou na expansão econômica a
saída para a crise de desemprego que assumia características globais.
No artigo Grande Illusion de Daniel Cohen, publicado no Le Monde des Débats de
outubro de 1994, está explicitado que os dirigentes das economias capitalistas estavam
convencidos nos anos 1950 e 1960 de que o crescimento era inesgotável e,
ingenuamente, estavam convictos de que o único verdadeiro limite ao crescimento
econômico moderno era a capacidade de consumo das riquezas. Entretanto, muitos
estudiosos colocam hoje dúvidas quanto à possibilidade do crescimento econômico
atual gerar os empregos necessários à população economicamente ativa em todo o
mundo. Parte da crise do emprego resulta da disseminação dos novos paradigmas da 3ª
Revolução Industrial descritos a seguir:
Superação do taylorismo e do fordismo, substituídos pelo sistema de manufaturas
flexíveis (Flexible Manufacturing Systems - FMS).
Robotização e produção de máquinas de controle numérico computadorizado
(CNS).
Menor dependência da indústria em relação às disponibilidades de recursos naturais
(substituição de matérias-primas tradicionais por produtos mais leves).
Diminuição, no caso da microeletrônica, por exemplo, da importância dos custos
dos materiais e da mão de obra e maior importância do valor agregado.
Grande importância do saber como componente do produto acabado (no caso da
microeletrônica é de cerca de 70%).
A modernização da atividade produtiva com a introdução das novas tecnologias
baseadas na microeletrônica, na informática, nos novos materiais e na biotecnologia e
dos novos modelos de gestão na segunda metade do século XX proporcionou uma nova
era de expansão econômica com o aumento da produtividade. No entanto, dela resultou
a redução dos postos de trabalho em todo o mundo que se ampliou ainda mais a partir
de 2008 com a crise da economia mundial que eclodiu nos Estados Unidos. Segundo a
OIT (Organização Internacional do Trabalho), o desemprego mundial atingirá mais de
202 milhões de pessoas em 2013 e baterá o recorde absoluto de 199 milhões que data de
2009. A dramática perspectiva que se abre para a humanidade é a de ampliar cada vez
mais, o número de excluídos no mundo do trabalho em todo o planeta.
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2. A expectativa que se abre para o futuro é, portanto, a do baixo crescimento econômico
sem emprego. Isto significa dizer que apenas uma parcela cada vez menor da população
mundial terá acesso ao mercado consumidor de bens e serviços. A grande maioria estará
excluída do acesso aos frutos do progresso econômico e social. “O crescimento sem
emprego tende a se materializar nos anos futuros diante da certeza de que a cada ano
novos lotes de invenções farão com que as empresas as utilizem para elevar seus níveis
de competitividade e produtividade em detrimento do trabalho. A automação que já se
registra na agricultura, no comércio e nos serviços em todo o mundo aponta nesta
direção. Considerando que 87% do trabalho humano hoje desenvolvido envolvem
atividades rotineiras de natureza física e intelectual, passíveis de substituições pela
máquina, pode-se concluir que apenas o trabalhador altamente qualificado, que seja
detentor de „know how‟, terá vez na era da globalização econômica que se descortina
para o futuro” (Alcoforado, F., Globalização, Editora Nobel, São Paulo, 1997, pág.
106).
Anne de Beer, uma das autoras do livro Le travail au XXIe. Siécle, afirma que um
grupo de experts, reunidos no quadro do programa europeu FAST, procedeu a um
exame aprofundado de mais 400 relatórios europeus elaborados entre 1987 e 1990
consagrados ao impacto das novas tecnologias sobre o emprego. As conclusões
mostraram que os efeitos negativos sobre o emprego se apresentavam inferiores aos que
tinham sido previstos nas análises anteriores. Além disso, constatou-se que as empresas
que não têm recorrido às novas tecnologias têm suprimido globalmente mais empregos
do que aquelas que aderiram à modernização (Beer A. et alli, Le travail au XXIe.
Siécle, Dunod, Paris, 1995, pág. 87). Independentemente destas conclusões, Constata-
se, portanto, que havendo ou não avanço tecnológico e a utilização ou não de novos
modelos de gestão empresarial está havendo aumento do desemprego na economia
mundial.
Na prática, o avanço tecnológico e o baixo crescimento econômico são os principais
responsáveis pelo desemprego em massa que ocorre em escala planetária. Para fazer
frente à retração do consumo interno e promover o crescimento econômico nacional, os
governos de muitos países têm adotado a estratégia de incrementar suas exportações
quando deveriam construir uma nova ordem econômica mundial visando sua
reestruturação após a crise de 2008. A estratégia de incrementar as exportações tenderá
ao fracasso porque, se as exportações se tornarem regra geral, o mercado mundial não
terá condições de absorver os excedentes produzidos por todos os países exportadores,
como já vem acontecendo na atualidade. Sem a construção de uma nova ordem
mundial, a crise econômica que atinge a economia global desde 2008 tende para uma
depressão crônica e ao agravamento do desemprego em todo o mundo.
Esta situação deve propiciar, certamente, o advento de conflitos sociais de grande
magnitude resultante da exclusão social e da precarização das relações de trabalho
dando início a uma onda de revoluções sociais em todo o mundo que já está ocorrendo
no mundo árabe e pode se desdobrar em outras partes do planeta no século XXI ou de
avanço do fascismo como já se constata em alguns países da Europa e nos Estados
Unidos. A redução de postos de trabalho é constatada em todos os países do mundo com
poucas exceções (China e Índia) não apenas devido ao crescimento insuficiente da
economia, mas principalmente em decorrência do processo de modernização
tecnológica neles registrado nos últimos tempos. No entanto, nenhum país, mesmo os
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depressão econômica se não houver a construção de uma nova ordem mundial.
Sobre o Brasil, é oportuno observar que afirmar que o País alcançou o pleno emprego
trata-se de um embuste na opinião do economista da Fundação Sistema Estadual de
Análise de Dados (Seade), Alexandre Loloian. Ele defende a tese de que os analistas do
mercado são "irresponsáveis" ao imputar nas análises macroeconômicas a premissa de
que os salários e a renda estão em níveis elevados por causa de uma eventual escassez
de mão de obra no Brasil. "Como podemos falar em dificuldade das empresas em
encontrar gente para trabalhar se na região metropolitana de São Paulo a taxa de
desemprego atinge 11,6% da PEA (População Economicamente Ativa) e temos um
contingente de 1,3 milhão de pessoas sem emprego?", disse Loloian (Ver o artigo
Economista pede cautela com tese de pleno emprego no País disponível no website
<http://fsindical-rs.org.br/noticias/economista-pede-cautela-com-tese-de-pleno-
emprego-no-pais.html>).
Em 2012, a produção industrial e o investimento se retraíram no Brasil e o crescimento
do PIB nos últimos dois anos cresceu apenas 0,9%. A economia brasileira começa a
retomar o crescimento, mas ainda de forma tímida e desigual com a perspectiva de uma
expansão de 3% em 2013. Com uma infraestrutura em péssimo estado, a carga de
tributos extremamente elevada, a burocracia governamental incompetente, a educação
do País incapaz de preparar quadros qualificados e a retomada da inflação, o Brasil
muito dificilmente superará o desafio de promover seu crescimento econômico. Diante
desse quadro, pode-se afirmar que o Brasil da quase estagnação que se registra hoje se
sobrepõe ao Brasil do pleno emprego.
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.STORIA
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