O documento discute a evolução histórica da universidade desde sua origem na Europa medieval até o modelo contemporâneo. Ele descreve como as universidades medievais surgiram como instituições ligadas à Igreja Católica e como o modelo moderno se desenvolveu a partir do século XVIII, enfatizando a pesquisa científica. Também analisa os desafios atuais do projeto Bolonha de tornar o ensino superior mais flexível e adaptado às necessidades do mercado e dos indivíduos.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Passado e futuro da universidade
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PASSADO E FUTURO DA UNIVERSIDADE
Fernando Alcoforado*
A Universidade é uma instituição de ensino superior formada por diversas faculdades e
que confere vários graus acadêmicos. Estas instituições podem incluir, além das
faculdades, diversos departamentos, ordens, centros de investigação e outras entidades.
Segundo os historiadores, a universidade mais antiga é a Escola Superior criada na
China de 2257 a.C. até 2208 a.C. A origem da Universidade está intimamente ligada à
educação teológica. Pelo ano 1200, alguns ambientes de catequese cristã viraram
universidades na Europa.
A Universidade de Bolonha foi criada no fim do século XI e é considerada por muitos
como a "mãe das universidades". A Universidade de Paris foi a segunda, depois veio
Oxford. Naquele tempo, a Universidade de Paris chegou a ser o centro filosófico e
teológico do mundo. A educação superior era o âmbito do clero. O erudito era visto
como o guardião da sabedoria. A universidade moderna surgiu porque os bispos
necessitavam de um lugar para prover treinamento clerical. A teologia era considerada a
"Rainha das Ciências" na Universidade. No período entre 1250 até 1500 foram fundadas
71 universidades na Europa.
A Universidade é uma instituição que, em seu modelo atual predominante, tem origem
na Europa medieval. As universidades medievais, devido às suas origens mais
frequentes em escolas clericais, eram consagradas por Bula papal e, ainda, porque a
maior parte dos professores eram clérigos. Elas herdaram vários direitos e privilégios
que eram exclusivos do clero. Mesmo quando uma universidade era criada por decreto
real, como foi o caso da de Lisboa pela Scientiae Thesaurus Mirabilis de D. Dinis de
1288, costumava adquirir fórum eclesiástico como ocorreu nesta universidade com a
bula do papa Nicolau IV De staturegni Portugaliae em 1290.
Há autores com Jacques Verger e Walter Rüegg, que afirmam que não se pode
conceituar como universidade, as escolas que existiram antes do século XIII porque elas
não possuem características do que se entende por este tipo de instituição atualmente.
As universidades medievais (1300-1500) estavam ora sob a chancela do papado ora do
poder laico. Mesmo assim, elas foram essenciais para a construção do conhecimento
ocidental porque haviam estudiosos nelas preocupados prioritariamente com o
desenvolvimento da ciência.
O nascimento das universidades modernas ocorreu a partir de 1520, com o movimento
da Reforma Protestante se espalhando pelos países do norte europeu e o início do
envolvimento das instituições não católicas nas universidades. Isso ocorreu também nos
Estados Unidos. Também a ideia de unir o conhecimento científico ao desenvolvimento
tecnológico se faz presente com a Escola Normal Superior e a Escola Politécnica,
fundadas em 1794 na França sob controle governamental e com a Universidade de
Berlim (hoje conhecida como Universidade Humboldt), em 1810, que pregava a
necessidade das universidades desenvolverem pesquisas e a primazia da liberdade
acadêmica.
O modelo da universidade voltada também para a pesquisa, além do ensino, se
estabelece entre 1800 e 1900 e o bem sucedido modelo alemão da Universidade de
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Berlim se espalha pela Europa e chega aos Estados Unidos. Em 1876, surge a americana
Universidade Johns Hopkins. A noção de universidade moderna está associada ao
pensamento empírico e às descobertas científicas que vieram na sequência da
Revolução Industrial iniciada no século XVIII. Tradicionalmente, os cursos
universitários eram organizados por disciplina e hierarquizados em termos pedagógicos,
ou seja, o papel do aluno seria o de receber o conhecimento através do professor, até
receber o diploma. Porém, o novo modelo de universidade, posto em prática
recentemente na União Europeia, com base no projeto Bolonha, desafia esta concepção
tradicional. Estabelece uma maior interação com as novas tecnologias, mais espaço para
iniciativas individuais no âmbito da pesquisa e da investigação de campo, e currículos
flexíveis.
O projeto Bolonha busca reequacionar a relação do conhecimento com os indivíduos,
pois existe o risco das competências serem interpretadas apenas na perspectiva do
mercado de trabalho como ocorre atualmente no Brasil que, devido à sua natureza
volátil e precária, tende a orientar a produção e absorção do conhecimento de acordo
com as necessidades das empresas. Num momento em que os agentes políticos e
econômicos da União Europeia estão efetivamente empenhados em aumentar a
competitividade dos quadros superiores europeus face aos Estados Unidos e ao Japão, a
atualização da estrutura curricular do ensino superior não deve responder apenas às
exigências do mercado, mas também proporcionar conhecimentos formadores do
indivíduo. A academia do futuro na União Europeia deve privilegiar uma formação
humanística e abrangente. Nela, o aluno é sujeito, cria sua formação e sabe resolver
problemas.
Enquanto no passado, um recém-formado na universidade europeia era considerado um
profissional pronto e tinha vaga praticamente garantida nas áreas de trabalho, hoje o
cenário é bem diferente. Se não houver atualização constante, seja por cursos em
universidades ou outras entidades de ensino ou mesmo a partir processos autodidatas,
corre-se o risco do profissional ficar defasado e não ser mais considerado adequado pelo
mercado de trabalho. As exigências do mercado e a adaptação das universidades da
União Europeia começaram lentamente na década de 1980 e explodiram nos anos 1990.
À medida que há mais pessoas se formando no Ensino Médio, há uma demanda maior
pelo Ensino Superior e, consequentemente, pela educação continuada. A sociedade vive
na era da informação, na qual os trabalhos que usavam a força física para serem feitos
são substituídos por tarefas que exigem informação técnica e abstrata, ou seja, que
exigem a capacidade de construir o próprio conhecimento. Em certo sentido, pode-se
dizer que isso aconteceu na medida em que a Internet se tornou uma poderosa
ferramenta.
A Internet acelerou a acumulação e a produção de conhecimento, fazendo com que a
capacidade dos profissionais fosse ampliada e muito mais exigida. O desenvolvimento
da Internet leva-nos a pensar numa revolução das universidades no futuro, uma vez que
a educação presencial nas aulas físicas pode ser complementada, inclusive substituída
pelas aulas à distância. Com a ajuda de videoconferências, dos fóruns de discussão
(chat), do correio eletrônico e de outras aplicações tecnológicas, as universidades têm
condições para se digitalizarem. Desta forma, são reduzidas as limitações físicas (como
a distância geográfica) para o acesso à formação universitária. No Brasil, possuidor de
um sistema de ensino ultrapassado, impõe-se sua reestruturação em todos os níveis, do
ensino fundamental ao universitário. No caso do ensino universitário, o Brasil devia se
inspirar no projeto Bolonha que está sendo realizado na União Europeia.
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*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é
autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova
(Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX
e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of
the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S