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Estudo de Mercado 02/04, set. 2004



             A INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS
                                                                    Vera Spínola
                                                         Luis Fernando Guerreiro
                                                                   Rafaela Bazan



SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO                                                                         2
2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PRODUTOS E PROCESSOS                                      2
3. MERCADO MUNDIAL                                                                      8
4. A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ROCHAS ORNAMENTAIS                                        13
 4.1 Dados Gerais                                                                      13
 4.2 Consumo Interno                                                                   16
 4.3 Exportações                                                                       16
5. A BEM SUCEDIDA INDÚSTRIA CAPIXABA DE ROCHAS ORNAMENTAIS                             19
6. A INDÚSTRIA BAIANA DE ROCHAS ORNAMENTAIS                                            23
 6.1. Dados gerais                                                                     23
 6.2 Principais categorias e distribuição geográfica                                   24
 6.3. Atividades de beneficiamento                                                     27
 6.4 O Mármore Bege Bahia                                                              28
   6.4.1 Dados Gerais                                                                  28
   6.4.2 Oportunidades de Mercado e Desenvolvimentos Tecnológicos                      30
   6.4.3. Alguns entraves ao desenvolvimento do APL de Mármore Bege Bahia              32
 6.5 Beneficiamento de Granito                                                         33
 6.6. A inserção da Bahia no mercado externo                                           35
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS                                                                38
REFERÊNCIAS                                                                            43
ANEXO                                                                                  45
A INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS

1. APRESENTAÇÃO


      Este trabalho se propõe a tratar da indústria de rochas ornamentais,
mármores e granitos, enfatizando sua conformação, gargalos e potencialidade no
estado da Bahia. Inicialmente, apresentam-se as particularidades dos produtos e
processos produtivos desta indústria, incluindo os principais equipamentos
utilizados. Descrevem-se as características do mercado internacional, principais
produtores, exportadores e importadores. Em seguida, mostra-se como o Brasil
está inserido neste mercado e como está organizada a sua referida indústria, com
especial destaque para o parque instalado no estado do Espírito Santo. A última
parte do trabalho discorre sobre as características do setor na Bahia, a sua
inserção nos mercados interno e externo, seus pontos fortes e fracos, as
oportunidades e ameaças ao seu desenvolvimento. Dedica-se maior atenção às
atividades voltadas ao beneficiamento do mármore Bege Bahia, para o qual,
aparentemente,     se   encontram   boas   oportunidades   de    negócios.   Nas
considerações finais, são feitas reflexões sobre os entraves e as perspectivas
futuras do setor no Brasil e na Bahia. O anexo contém uma lista de empresas do
setor na Bahia.


2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PRODUTOS E PROCESSOS


      O setor de rochas ornamentais tem características inerentes a uma
indústria tradicional. Trata-se de uma atividade extrativa cujos traços mais
marcantes são: o processamento de recursos naturais; a baixa intensidade
tecnológica; a reduzida exigência em termos de escala mínima de produção; o
caráter exógeno da inovação tecnológica, pois ela costuma vir incorporada nos
equipamentos; e o fato da capacidade empreendedora do dirigente ser um fator
crítico para a competitividade.
      As rochas ornamentais e de revestimento, também chamadas pedras
naturais, rochas lapídeas e rochas dimensionais, do ponto de vista comercial, são
basicamente classificadas em mármores e granitos. Estas duas categorias
respondem por 90% da produção mundial. Os demais tipos são as ardósias,
quartzitos, pedra sabão, serpentinitos, basaltos e conglomerados naturais
(PEITER et al, 2001).
      O corrente trabalho é focado nos mármores e granitos, categorias
predominantes no estado da Bahia. Os granitos são classificados como rochas
silicáticas e os mármores como rochas carbonáticas. Os mármores travertinos
são destacados no presente estudo porque neles se inclui o mármore Bege
Bahia, amplamente consumido em todo território nacional, cujas jazidas ocorrem
com exclusividade na região norte do estado. Os travertinos são rochas calcárias,
de cores claras, com grandes poros, gerados por fontes de água ricas em
bicarbonato de cálcio, e não raro, com vestígios de plantas (Foto 4). Por sua vez,
os   granitos   têm     menor   porosidade,   elevada   resistência   e   dureza.
Conseqüentemente, a serragem destes é mais trabalhosa e dispendiosa que a
dos mármores.
      Segundo Chiodi (NEGÓCIOS, 2004), na categoria de rocha carbonática,
metamorfizada, o mármore tem quase a mesma aplicabilidade que o granito. A
seu favor está a durabilidade e a nobreza, e seu ponto fraco é ser menos
resistente a riscos (como arranhões) e mais sensível ao ataque químico, como os
produtos de limpeza (ácido). Por força da constituição de seus terrenos
geológicos, os mármores dos países mediterrâneos são mais nobres, possuem
massa fina e padrões cromáticos variados, de acordo com Chiodi (IBID, 2004).
      As rochas ornamentais são utilizadas na indústria da construção civil como
revestimentos internos e externos de paredes, pisos, pilares, colunas e soleiras.
Compõem também peças isoladas, como estruturas, tampos, pés de mesa,
bancadas, balcões, lápides e arte funerária em geral, além de edificações. As
pedras ornamentais podem também ser torneadas para revestimento de colunas.
A aplicação do granito na construção civil em substituição a outros produtos vem
sendo crescente, pelo fato de suas características apresentarem vantagens de
uso: resistência, durabilidade, facilidade de limpeza e estética. Seu dinamismo de
mercado está fundamentado na sua elevada capacidade de substituição em
relação a outros materiais. Como é resistente ao ataque químico, ao desgaste
abrasivo, a utilização do granito em revestimentos externos tem aumentado, tanto
em pisos quanto em fachadas (PEITER et al, 2001). Na Figura 1, apresentam-se
as principais transformações técnicas pelas quais passam as rochas ornamentais,
da matéria prima ao produto final.
FIGURA 1
      Transformações Técnicas e Principais Produtos da Indústria de Rochas
                                            Ornamentais
                                           Etapas Produtivas

           Extração                         Desdobramento           Beneficiamento
           (Pedreira ou Jazida)             (Serraria)              (Marmoraria)



                                                                    Revestimentos com
  P                                              Tiras              ladrilhos padronizados.
  R
  O
  D                                                                 Pisos, revestimentos sob
  U                                                                 medida, soleiras, rodapés,
  T               Blocos                                            escadarias, móveis,
                                                 Chapas             objetos de adorno,
  O                                                                 bancadas, placas, peças
  S                                                                 de ornamentação.



                                                                    Bancos e assentos, meio-
                                                 Semi-              fio e pavimentos.
                                                 Acabados



                                             Áreas de Aplicação




    Urbanismo           Arte Funerária           Arte e Decoração          Arquitetura e
                                                                           Construção Civil



  Fonte: Villaschi Filho e Pinto, 2000 apud Spínola (2003).




      O primeiro estágio de cadeia produtiva das rochas ornamentais é a lavra de
blocos a céu aberto desempenhada pelas empresas extratoras (Foto 1). O
beneficiamento primário é feito nas serrarias. Compreende o corte de blocos
brutos em chapas (Foto 2 e 3), por meio de equipamentos denominados teares,
ou em tiras e ladrilhos por meio de talha-bloco para a produção de ladrilhos. A
grosso modo, cada metro cúbico de pedra bruta gera 30 m2 de chapas, variando
de acordo com a espessura da chapa, tipo e qualidade do material. O último
processo de transformação ocorre nas marmorarias, cujos principais produtos são
materiais de revestimento interno e externo em construções, além de peças
isoladas como bancadas, soleiras, rodapés e objetos de decoração. Para atender
à demanda do consumidor final, as marmorarias situam-se na fase do corte que
dá dimensões e detalhes de acordo com as especificações requeridas.
      Os bloquetes são blocos pequenos e irregulares, geralmente com menos
de 50 cm de aresta, que sobram nas pedreiras e são aproveitados por algumas
serrarias na fabricação de ladrilhos. Através de talhas blocos semelhantes a “mini
teares”, os bloquetes são serrados diretamente em ladrilhos. Este tipo de
processo, muitas vezes artesanal, é comum na região norte do estado da Bahia
na produção de ladrilhos de mármore bege.
      Os materiais, muitas vezes refugados nas pedreiras, que não possuem
dimensões apropriadas para blocos ou bloquetes, são utilizados por empresas de
artesanato mineral, na feitura de mosaicos para tampos de mesa, esferas, objetos
de adorno e utilidades, como abajures, cinzeiros, castiçais (NERY; SILVA, 2001).
      O equipamento mais comum na serragem de granitos é o tear
convencional, constituído por multi-lâminas. O corte do bloco se dá pela
combinação da lama abrasiva (mistura de granalha, cal e água), conduzido por
um conjunto de lâminas movimentadas pelo tear. As lâminas, geralmente são
provenientes de São Paulo ou Santa Catarina, e a granalha, de São Paulo e
Cachoeiro do Itapemirim (SPÍNOLA, 2003).
FOTO 1
                           Extração de granito branco
                           Jazida em Medeiros Neto - BA




                 Fonte: Spínola (2003)


                            FOTOS 2 e 3
      Blocos e Chapas de Granito, na serraria “Granitos Venécia”
                       Teixeira de Freitas - BA




Fonte: Spínola (2003)

                                  FOTO 4
                  Ladrilhos de mármore do tipo bege ou travertino




        Fonte: Spínola (2003)
O tear convencional vem sendo crescentemente substituído pelo tear de
lâminas diamantadas, sobretudo na serragem do mármore bege (Foto 4). Nestes,
o corte se dá pela ação abrasiva de segmentos diamantados com lâminas de aço.
Os insumos (lâminas de aço e segmentos diamantados) são importados.
Segundo o engenheiro de minas e presidente da Associação Comercial de
Jacobina, Kurt Menchen, enquanto um tear convencional leva cem horas para
serrar um bloco de 6 m3 de mármore Bege Bahia, o de lâminas diamantadas leva
dez horas (IBID, 2003). Logo, a produtividade deste pode ser até dez vezes maior
que a do convencional. Na média, um tear convencional produz 1500 m2 de
chapas de mármore do tipo travertino por mês e o de lâminas diamantadas, de
6.000 a 8.000 m2.
      Tanto as chapas de mármores como as de granito, em geral, após a
serragem são polidas. No caso do mármore, cuja superfície é mais irregular,
primeiramente ocorre o processo de estucamento, que tem a função de fechar os
poros existentes na superfície da chapa bruta com resinas especiais. Em seguida,
o polimento dá brilho e lustre ao material. Em se tratando do mármore bege,
devido à elevada porosidade, o estucamento e polimento são fundamentais. O
principal equipamento utilizado é a politriz, cujos principais tipos são: manual de
bancada fixa, e a multicabeça com esteira transportadora. Na primeira as chapas
ficam deitadas num balcão de concreto, para serem polidas por um cabeçote que
contém os abrasivos e é conduzido por um trabalhador. Por este motivo não dá
um brilho homogêneo ao produto, uma vez que é pouco provável que o
trabalhador aplique a mesma força e dê o mesmo tempo de polimento a todos os
lugares do material bruto (VILLASHI FILHO; PINTO, 2000). O segundo tipo, a
politriz automática, pode ser visualizada na Figura 5, e se fabrica no Brasil, em
Cachoeiro do Itapemirim e São Paulo.
FOTO 5
                           Politriz automática – Granitos Venécia
                                Teixeira de Freitas, BA, 2002




            Fonte: Spínola (2003)




      Encontram-se no Brasil, especificamente no Espírito Santo, unidades de
beneficiamento de granito de altíssima produtividade, com maquinário de origem
italiana, a exemplo da marca Gaspari Menoti. Sua produção atinge 1,1 mil m2 de
chapas por dia. A seqüência do maquinário é toda automática, com condução das
chapas a uma politriz, um forno de desidratação com capacidade para 80 chapas,
seguido da etapa de resinagem, outro forno de secagem e uma máquina
recortadora, onde as chapas são refiladas nos quatro lados e catalogadas
(FORNAZIER, 2004).

3. MERCADO MUNDIAL

      O mercado internacional de rochas ornamentais é caracterizado pela
participação de grandes grupos compradores que controlam o fluxo de material
oriundo de países do Terceiro Mundo em relação aos países industrializados da
Europa e Ásia (NERY; SILVA, 2001). Firmas produtoras de rochas ornamentais
estabelecidas no mercado internacional, sobretudo as italianas, detêm avançada
tecnologia no que se refere à extração e beneficiamento, bem como o domínio
dos canais de distribuição. Entretanto este quadro está se transformando devido
aos avanços e agressividade da indústria chinesa.
      A produção mundial de rochas saltou de 2,0 milhões de toneladas nos anos
20 do século passado para 67,5 milhões em 2002. As rochas carbonáticas
representam aproximadamente 58% desse volume; as silicáticas, 37%; as
ardósias, 5% (MONTANI, 2003, apud MELLO, 2004).
       Em 2002, a Ásia, puxada pela China, Índia e Irã, ultrapassou pela primeira
vez a Europa na produção de pedras naturais, ao responder por 43% do total
produzido no mundo. Segundo Mello (2004), a Europa reúne os mais tradicionais
e importantes produtores mundiais: Itália, Espanha, Portugal, Turquia e Grécia,
posicionando-se logo atrás da Ásia, com 42% da produção. Embora a Itália seja o
núcleo difusor de inovação tecnológica dessa indústria, a China assumiu o papel
que foi seu até o final dos anos 1990, de principal produtor e exportador mundial,
principal importador de produtos brutos e maior exportador de manufaturados. A
Itália permanece como maior exportador de máquinas, equipamentos e
tecnologia, cujo maior importador é a China. A Figura 2 mostra a participação dos
principais países na produção mundial.
       No que se refere às importações mundiais, a China aparece como maior
importador do volume total de mármores e granitos brutos, seguida da Itália
(Figura 3). Esta é, contudo, o maior importador de granitos brutos e a China de
mármores brutos (Figuras 4 e 5).

                                             FIGURA 2

                           Principais Produtores - ano 2002
                                                                          Outros
                                                                          China
                               4,10%3,70% 3,40%                           Itália
                       6,30%                                     32,40%
                   7,90%                                                  Índia
                                                                          Espanha
                                                                          Irã
                   9,60%
                                                                          Brasil
                           11,90%                       20,80%
                                                                          Turquia
                                                                          Portugal


Fonte: MONTANI (2003) apud Mello (2004)
FIGURA 3

                Participação dos países nas importações
                mundiais - volume físico em 2002 - Total
                             Comercializado                         China
                                                                    Itália
                                                                    EUA
                                               10%      8,50%       Alemanha
                  43,00%                                  8,20%     Japão

                                                         7,40%      Coréia do Sul
                                 3,80% 5,70%         6,90%          Taiwan
                                                6,10%               Espanha
                                                                    Outros



Fonte: MONTANI (2003) apud Mello (2004)
Obs: Volume físico em 2002: 25,3 milhões de toneladas.




                                           FIGURA 4


              Participação dos países nas importações mundiais -
                   volume físico, em 2002 - Mármores Brutos
                                                                             China
                                                                             Itália
                                                                             Espanha
                                                           32,40%            EUA
                37,70%
                                                                             Grécia
                                                                             Hong-Kong
                     2,40%
                                                         9,70%               Taiwan
                         2,80%            4,00% 4,40%
                                                                             Suíça
                             2,90%
                                  3,70%                                      Outros


Fonte: MONTANI (2003) apud Mello (2004)
Obs: Volume físico em 2002: 3,8 milhões de toneladas.



                                           FIGURA 5
Participação dos países nas importações mundias -
       volume físico, em 2002 - Granitos Brutos                                  Itália
                                                                                 China
                                                                                 Taiwan
                                                          19,10%
            33,20%                                                               Espanha
                                                                                 Alemanha
                                                                                 EUA
                                                                    14,80%
           2,30%                                                                 França
              2,40%                                        12,50%
                                       7,70%                                     Suiça
                   3,60%
                           4,40%                                                 Outros



Fonte: MONTANI (2003) apud Mello (2004)
Obs: Volume físico em 2002: 8,4 milhões de toneladas.


                                               FIGURA 6


   Participação dos países nas im portações mundiais - volume
             físico, em2002 - Processados Especiais                          EUA
                                                                             Coréia do Sul
                                                  15,40%                     Japão
            32,10%
                                                             14,80%          Áustria
                                                                             Alemanha
           2,40%
                                                                             Arábia Saudita
                                                        14,40%
              4,70%                11,20%
                                                                             Bélgica
                      5,00%
                                                                             Outros
Fonte: MONTANI (2003) apud Mello (2004).
Obs: Volume físico em 2002: 9,6 milhões de toneladas.


        Os Estados Unidos são o maior importador mundial de produtos
beneficiados, do tipo chapas e padronizados de mármores e granitos, pouco à
frente da Coréia do Sul e Japão. A Alemanha é o maior comprador de produtos
processados simples (pedras e placas para calcetar). Segundo Nery e Silva
(2001), os Estados Unidos optaram por reduzir ao mínimo seu parque industrial
de teares a partir de 1995, o que explica sua posição como principal importador
de semi-manufaturados.
        Na Tabela 1, apresentam-se dados referentes às importações norte-
americanas de granitos semi-manufaturados por país de origem.
        Vale ressaltar que o Brasil já é o segundo maior fornecedor de granitos
serrados no mercado norte americano, e que sua posição já está muito próxima à
da Itália, primeiro fornecedor.
                                     TABELA 1
         Importações de Granito Serrado pelos EUA (código SH/NCM 6802.23)
                                  VALOR US$ CIF                  QUANTIDADE – m2
             PAÍSES
                               2001       2002       2003       2001      2002          2003
           Itália        14.582.931 18.057.984 19.536.464     13.432    17.419        19.125
           Brasil         7.836.471 14.358.279 19.231.792     10.102    20.184        26.367
           Índia          5.604.411 7.354.163 8.785.840        6.352     7.598         8.357
           China          4.982.596 5.114.570 7.397.993        7.679     8.430         9.313
           Canadá         2.264.689 1.355.582 1.091.426        4.114     3.185         2.164
           Espanha        1.002.735 1.105.935 2.478.282        1.470     1.081         2.533
           México            93.122    414.127    945.657         62       209           452
           África do Sul    611.972    275.800    340.839        380       331           261
           Taiwan           737.110    302.490     79.160        750       394           104
           Outros         1.102.660 1.171.489 1.639.310        1.600       1.239       1.707
           Total        38.818.697 49.510.419 61.526.763      45.941      60.070      70.383
Fonte: Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia (Promo, 2004). Base de dados Tradstat. Dados
coletados em maio de 2004.


        Segundo Mello (2004), os preços médios praticados pelos países
produtores nas vendas internacionais de blocos oscilam entre US$ 300/m3 e US$
700/m3 FOB, para os granitos, e entre US$ 500/m3 e US$ 1300/m3 FOB, para
mármores. Os semi-manufaturados, como chapas polidas e ladrilhos, têm preços
entre três e cinco vezes maiores em relação à matéria prima. Já os produtos finais
– peças padronizadas, peças sob medida ou personalizadas, como bancadas de
pias, o preço por conteúdo pétreo pode atingir seis a dez vezes mais que os
materiais brutos. As transações com produtos processados – chapas e ladrilhos –
têm mostrado um crescimento constante, já superando as transações com
produtos brutos (MELLO, 2004).
        Os substitutos mais próximos das pedras ornamentais são os produtos
cerâmicos. De acordo com Mello (2004), a partir dos anos 1990, o consumo
destes vem aumentando a taxas superiores a dos revestimentos pétreos. Para
cada metro quadro de rochas ornamentais, consomem-se sete metros quadrados
de cerâmica. O maior concorrente nos últimos anos tem sido o grés porcelanato,
que imita a aparência das pedras naturais. Contudo, os mármores e granitos
detêm características nobres que os tornam únicos. Justamente por se tratar de
produtos naturais sobrevivem aos modismos e podem ser considerados clássicos.
      Uma das características do novo protecionismo comercial é a proliferação
de barreiras não tarifárias, a exemplo da crescente exigência pela qualidade. O
atendimento a padrões de nomenclatura, funcionalidade e durabilidade, com base
em normas técnicas específicas, será cada vez mais exigido na comercialização
de rochas ornamentais. Daí a importância da capacidade de internalizar novas
tecnologias como fator determinante da competitividade. Para ingressar no
mercado   internacional   é   preciso   adequar   o   produto   às   especificações
demandadas. Para a União Européia, por exemplo, o Comitê Europeu de
Normatização – CEN, criou o corpo técnico CEN.TC. 246 Natural Stone, que
estabelecerá normas para especificação de materiais, ensaios e produtos. Os
padrões definidos pela CEN.TC.246 serão adaptadas à ISO.TC.196 Natural
Stone, que regulará a utilização das pedras naturais no mercado global – Peiter et
al (2001). O Brasil terá que atingir os padrões ISO. TC. 196 para ocupar posição
de maior destaque no mercado internacional – (PEITER et al 2001).


4. A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ROCHAS ORNAMENTAIS
4.1 Dados Gerais

      Segundo Chiodi (2003), a produção brasileira de rochas ornamentais é de
aproximadamente 6,0 milhões de toneladas, principalmente em blocos, existindo
cerca de 600 tipos comerciais, dos quais 57% são de granito e 17% de mármores
e travertinos. O restante inclui ardósias (8%) e quartzitos (5%). Estima-se que
75% da produção nacional são destinados ao mercado interno. Os estados do
Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia detêm mais de 70% do total produzido
nacionalmente. O estado do Espírito Santo produz o equivalente a 47% do total
do país. É seguido de Minas Gerais, com cerca de 18%. A Bahia é o terceiro
maior produtor e responde por quase 10% da produção nacional.
      De acordo com Nery e Silva (2001), os principais municípios produtores de
mármores do Brasil são: Cachoeiro do Itapemirim (ES), Ourolândia,           Campo
Formoso e Mirangaba (BA), Italva (RJ), Fronteiras (PI). Os principais municípios
produtores de granito são: Nova Venécia, Barra de São Francisco e São Gabriel
(ES), Rui Barbosa e Medeiros Neto (BA), Formiga e Itapecerica (MG).
QUADRO 1
          Dados Gerais da Indústria de Rochas Ornamentais por Estado da Federação
                                    (Base 2000 – Estimado)




                                                           % dentro do estado




                                                                                                                                        Capacidade de




                                                                                                                                                                                                 Mão-de-obra
                                                                                                                                                                       Marmorarias
                                                                                                                                        mil m /ano
                                                                                                                Frentes de




                                                                                                                                        Serragem
            Produção
            mil t/ano
Federal




                             %Brasil




                                                                                                    %Brasil




                                                                                                                              %Brasil




                                                                                                                                                        %Brasil




                                                                                                                                                                                       %Brasil




                                                                                                                                                                                                               %Brasil
                                                                                      Teares




                                                                                                                                             2
                                                                                                                Lavra
União




                                        Tipo de




                                                                                                                                                                                                 direta
                                                  Rocha
ES           2.400            47 Granito                                        90    900           61             400       30             25.000         61           360            5          20.000        19
                                 Mármore                                        10
MG           1.103            22 Granito                                        38        66          4            160       12               1.600               4   1.000           15          21.000        20
                                 Ardósia                                        37
                                 Quartzito                                      20
                                 Outras                                          5
BA              490           10 Granito                                        52        48          3              97       7               1.200               3     180            3            3.200           3
                                 Mármores                                       25
                                 Quartzito e
                                 Arenito                                   23
PR              320            6 Granito                                   32             69          4              12       1               1.700               5     300            5            3.500           0
                                 Mármores                                  25
                                 Outras                                    43
RJ              260            5 Granitos                                  25         150             7            230       33               2.600               7     630            9          13.800        13
                                 Mármores                                   5
                                 Miracema                                  70
CE              180            2 Granito                                   85             44          3              57       3               1.100               3            60      1            1.400           1
                                 Pedra Cariri                              15
GO              122            2 Granito                                   50                  7      0              36       3                  170              0     100            1            1.700           2
                                 Quartzito                                 50
RS                 86          2 Granito                                   58             51          3              78       6               1.200               3     270            4            3.800           4
                                 Basalto                                   42
PB              63             1 Granito                                  100            9           0             12         1                330        1              20            0             400         0
SP              60             1 Granito                                  100          160          10             30         2              3.800       10           3.000           49          31.000        29
PE              47             1 Granito                                  100           21           1             13         1                500        1              60            1             800         1
Demais          55             0                                                        49           4             38         1              1.430        3             469            7           5.120         5
Total        5.186           100                                                     1.574         100          1.163        10             40.630      100           6.449          100         105.720       100
                                                                                                                              0
Fonte: Peiter (2001) apud Spínola (2003)



            Chiodi (2003) estima que existam 1500 frentes de lavra ativas no país, com
um parque de beneficiamento de blocos com capacidade para serragem de 40
milhões de m2/ano. A produção e comercialização são desenvolvidas por quase
11.000 empresas, 1.000 delas atuando na lavra, 2.000 no beneficiamento primário
(serrarias), 7.000 no beneficiamento final (marmorarias) e 650 na exportação
(MELLO, 2004). Por sua vez, segundo a Abirochas – Associação Brasileira da
Indústria               de             Rochas             Ornamentais,                                        existem          atualmente                             877            empresas
exportadoras de rochas ornamentais no Brasil. Dessas, 80% são pequenas, 13%
são micros e 7% são médias (Pequenos exportam, 2004). A classificação de
porte seguiu o critério de faturamento do Ministério do Desenvolvimento (MDIC). O
Quadro 1 mostra um retrato da indústria brasileira de rochas ornamentais por
estado em 2000. Embora alguns dados estejam possivelmente defasados, pode-
se visualizar como o setor encontra-se distribuído por estado da federação.
No início da década de 1980, a produção brasileira de rochas ornamentais
era constituída principalmente por mármore. Contudo, a abertura de mercado
para exportação deu grande impulso à expansão do granito a partir do final da
década. A produção de mármore, por sua vez, foi orientada para atender ao
mercado interno. As tecnologias de polimento mais difundidas no país, sobretudo
a manual, não conseguiam proporcionar às chapas ou ladrilhos polidos de
mármore o padrão de qualidade exigido pelo mercado internacional. Itália,
Espanha e Portugal, e, recentemente, Grécia, Índia e Turquia têm disponibilizado
para o mercado mundial mármores de qualidade significativamente superiores,
particularmente em termos estéticos e de rara beleza.
         Segundo Spínola (2003), tanto a produção de manufaturados de granito
como de mármore, que vinha aumentando entre 1991 e 1994, sofreu um
desaquecimento entre 1994 e 1995, provavelmente em função do crescimento da
oferta do produto importado, favorecido pela política aduaneira, de redução de
tarifas de importação, e pela política cambial, de valorização da moeda nacional.
A partir de julho de 1993, a alíquota do imposto de importação para os produtos
pertencentes ao capítulo 6802 (rochas processadas) e capítulos 2515 e 2516
(rochas carbonáticas e silicáticas em bruto) da NCM1 passou a ser zero.
             A prolongada apreciação da moeda nacional entre 1994 e 1998
aparentemente contribuiu para a entrada de chapas e ladrilhos de mármore via
importação. De fato, segundo Spínola (2003), tanto a produção de mármore bruto
quanto de manufaturado decresceu entre 1996 e 1998. A partir de 1999, a
produção de mármore foi se recuperando. A depreciação da moeda, a partir da
implantação do câmbio flutuante no início de 1999, certamente concorreu para
essa retomada.
         A produção de granito, por sua vez, que havia caído em 1995, continuou
aumentando até 1998, sem tanta pressão de importações, pois seu preço no
mercado internacional é superior ao do mercado interno. Com base na pesquisa
empírica realizada em janeiro de 2002 entre os produtores de chapas de granito
no extremo sul do estado da Bahia, verificou-se que o preço de exportação da
chapa serrada era 100% maior que o preço interno (SPÍNOLA, 2003).




1
    NCM – Nomenclatura Comum do Mercosul para classificação de mercadorias
4.2 Consumo Interno

        Em 2002, de acordo com o Quadro 2, o consumo interno de blocos não
manufaturados foi de 925 m3, representando um crescimento de 9,0 % em relação
a 2001, que já havia apresentado um crescimento ainda maior, 13,5%, relativo a
2000. O aumento do consumo justificou o ingresso de expressivo número de
novos     teares no         parque        industrial,      com expansão    da    capacidade   de
beneficiamento e diminuição da taxa de ociosidade dos equipamentos. No ano
2002, o consumo interno de produtos acabados foi da ordem de 27,3 milhões de
m2. São constituídos pelos ladrilhos para pisos e revestimentos internos e
externos, peças de arte funerária, tampos de mesa, bancadas de pia, soleiras,
divisórias, escadas, colunas, monumentos e esculturas, dentre outros.
                                                  QUADRO 2
                            Consumo Aparente de Mármores e Granitos
                                      1992-2002 – em mil
                             Consumo
               Ano            Aparente       Variação        Consumo Aparente      Variação
                     material bruto/m3            (%) produtos manufaturado/m2          (%)
              1992                  411                              12.804,00
              1993                  478            16,30             14.900,00        16,37
              1994                  530            10,88             16.402,00        10,08
              1995                  470           -11,32             14.559,00       -11,24
              1996                  505             7,45             15.765,00         8,28
              1997                  487            -3,56             15.076,00        -4,37
              1998                  516             5,95             15.969,00         5,92
              1999                  619            19,96             18.552,00        16,18
              2000                  748            20,84             21.748,00        17,23
              2001                  849            13,50             23.800,00         9,44
              2002                  925             8,95             27.300,00        14,71
        Fonte: Nery e Silva,(2003) / DNPM-DIDEM



        Com base nos dados do Quadro 2, ao se calcularem as médias anuais de
crescimento do consumo interno entre 1993 e 2002, numa série de dez anos,
obteve-se 8,45% ao ano para materiais brutos e 7,87% ao ano, para os bens
manufaturados.

4.3 Exportações

        O Brasil ocupa atualmente o quarto lugar como exportador de material
bruto. Segundo Chiodi (2003), a posição brasileira como exportador de rochas
processadas evoluiu sensivelmente nos últimos anos.                       O país saltou da 12a
posição do ranking dos maiores exportadores de rochas semi-manufaturadas, em
1999, para a oitava em 2001. Estima-se que tenha se tornado o sexto maior
exportador de rochas processadas em 2003 (CHIODI, 2003), já sendo o segundo
maior fornecedor nos Estados Unidos. Com base nos dados da Tabela 2, a taxa
média de crescimento das exportações de granito serrado em dólares foi de 28%
ao ano entre 1992 e 2003. Este é o carro chefe dos semi-manufaturados – NCM
6802.2301.
                                           TABELA 2
                Exportações Brasileiras de Granitos Serrados por País de Destino
                                          US$ FOB mil
                 EUA             México          Itália        Japão            Outros           Total
         Ano
                 US$              US$             US$           US$              US$             US$
         1992     8.208 53,43%     1.432 9,32%     328 2,14%    1.829 11,91%      3.565 23,21%   15.362
         1993    11.547 53,06%     1.423 6,54%     639 2,94%     931    4,28%     7.222 33,19%   21.762
         1994    13.974 48,47%     2.224 7,71%     402 1,39%    1.593   5,53%    10.637 36,90%   28.830
         1995    15.797 49,79%      715 2,25%      910 2,87%    1.486   4,68%    12.819 40,40%   31.727
         1996    21.056 54,02%     1.278 3,28%   1.347 3,46%    2.061   5,29%    13.233 33,95%   38.975
         1997    30.553 59,87%     1.367 2,68%   1.802 3,53%    1.754   3,44%    15.558 30,49%   51.034
         1998    47.715 72,11%     1.576 2,38%     901 1,36%     661    1,00%    15.321 23,15%   66.174
         1999    63.212 77,28%     1.977 2,42%     886 1,08%     366    0,45%    15.354 18,77%   81.795
         2000    88.705 80,00%     2.997 2,70%   1.058 0,95%     661    0,60%    17.464 15,75% 110.885
         2001    94.738 78,58%     3.256 2,70%   1.361 1,13%    1.253   1,04%    19.958 16,55% 120.566
         2002 136.521 81,08%       4.065 2,41%   1.859 1,10%     442    0,26%    25.486 15,14% 168.373
         2003 197.700 84,98%       4.033 1,73%   1.858 0,80%     276    0,12%    28.773 12,37% 232.640
        2004*   108.232 83,42%     2.781 2,14%   1.402 1,08%      80    0,07%    17.243 13,29% 129.738



Fonte: MDIC –Sistema Aliceweb Dados coletados em 2 de setembro de 2004 – NCM 6802.23.01
*jan a jun 2004




       O principal destino das vendas brasileiras de granito serrado no mercado
externo é os Estados Unidos, que absorve mais de 80% do valor exportado. O
Brasil vem progressivamente alterando seu perfil de exportação ao comercializar
cada vez mais produtos beneficiados, com maior valor agregado. Na tabela 3,
aparecem as exportações de granito bruto por país de destino. Verifica-se que até
o ano 2000, em valores, as exportações de blocos superavam as de granito
serrado. Em 2000, as de blocos somaram US$ 112,3 milhões (Tabela 3) e as de
chapas US$ 110,8 milhões (Tabela 2). A partir de 2001, o valor exportado do
granito serrado foi ficando crescentemente superior ao do material bruto. Em
2003, enquanto as exportações de bloco totalizaram US$ 122,2 milhões (Tabela
3), as de chapas atingiram US$ 232,6 milhões (Tabela 2), ou seja, quase o dobro.
De acordo com Mello (2004) o valor total das exportações brasileiras de rochas
ornamentais poderá ficar próximo a US$ 550 milhões.
TABELA 3
              Exportações Brasileiras de Granitos em Bloco por País de Destino
                                        US$ FOB mil
            Italia            Espanha           Japão          China           Outros           Total
             US$         %        US$      %      US$     %     US$       %      US$       %     US$
    1992   30418      50,87      5380    9,00    4831   8,08      0     0,00   19162    32,05   59791
    1993   37854      55,75      6447    9,50    2955   4,35     39     0,06   20599    30,34   67894
    1994   35476      45,00      8751   11,10    3262   4,14     33     0,04   31314    39,72   78836
    1995   40042      46,91      9903   11,60    3432   4,02   6360     7,45   25619    30,01   85356
    1996   44748      46,67     17649   18,41    3722   3,88   8627     9,00   21132    22,04   95878
    1997   56491      47,03     19470   16,21    4313   3,59   13095   10,90   26737    22,26 120106
    1998   54841      47,78     23846   20,78    1437   1,25      0     0,00   34643    30,19 114767
    1999   51395      45,62     21599   19,17    3211   2,85     44     0,04   36403    32,31 112652
    2000   48116      42,82     21754   19,36     786   0,70   9187     8,18   32531    28,95 112374
    2001 39.973       37,37 20192,9     18,88     905   0,85 13656,1   12,77 32247,3    30,14 106974
    2002 41004        36,68   17926     16,04     205   0,18 23433     20,96 29209      26,13 111777
      2003 34029 27,83       14597 11,94        134     0,11   38780   31,73   34715    28,39 122255
     2004* 14449 31,59        5678 12,42        116     0,26   12696   27,76   12789    27,97 45728
Fonte: MDIC – dados coletados em 4/09/2004
*jan-jun NCMs: 6802.93.90; 2516.11.00; 2516.12.00



        Mello (2003) aponta alguns obstáculos sistêmicos ao crescimento da
indústria de rochas ornamentais no Brasil. Um deles é a dificuldade de acesso e
elevado custo do seguro de crédito à exportação, uma vez que os compradores
de chapas nos Estados Unidos dificilmente abrem carta de crédito. Nesse
mercado prevalece o pagamento através de saque a prazo. Outro é a dificuldade
de acesso ao crédito para a produção e compra de equipamentos modernos.
Segundo este autor, a superação dos obstáculos requer uma maior aproximação
entre as entidades representativas do setor, para uma melhor utilização do
conhecimento disponível nas instituições de apoio comercial e tecnológico. Exige-
se a profissionalização de um maior número de empresas, a partir de melhoria da
gestão empresarial, aumento de produtividade, prática de preços sustentáveis e
certificação de produtos. É também fundamental o acesso direto ao mercado
internacional        através     de     missões    de   negócios,      participação      em     feiras
internacionais de empresas efetivamente preparadas para a realização de vendas
e cumprimento dos prazos contratados, iniciativas que devem estar associadas ao
marketing da “marca Brasil”.
        Constata-se que as exportações de blocos neste ano de 2004 estão
reduzidas em relação a 2003. No primeiro semestre de 2004 atingiram US$ 45,7
milhões, apenas 37,4% do valor total exportado no ano anterior. Este
desempenho pode ser atribuído a questões logísticas. Os blocos são
normalmente transportados em navios de carga geral, enquanto as chapas e
ladrilhos em carga conteinerizada em navios de contêineres. O porto de Vitória
apresenta limitações físicas para manobra de navios de grande porte no seu
canal de navegação de 290 m de comprimento, considerada por Borgo Filho
(2004) insuficiente para girar uma embarcação grande. O calado máximo
acessível ao porto é de apenas 10,5 m. Além disso, a intensificação do processo
de industrialização da China contribuiu para aumentar a demanda por
contêineres, por navios, e conseqüentemente para aumento dos preços de frete.
         Cabe registrar que apesar das dificuldades apontadas com contêineres, as
exportações de granito serrado permanecem em crescimento. No primeiro
semestre de 2004, já foi contabilizado um valor exportado 55,8% do total de 2003.
Este quadro evidencia que os maiores problemas estão concentrados no mercado
de blocos não manufaturados.

5. A BEM SUCEDIDA INDÚSTRIA CAPIXABA DE ROCHAS ORNAMENTAIS

         As rochas fazem parte da história econômica do Espírito Santo. As
atividades mineiras e industriais com mármores e granitos foram pioneiramente
conduzidas por imigrantes europeus em Cachoeiro do Itapemirim, na região sul
do estado, onde ocorrem as reservas naturais de mármore. A região norte
concentra maior parte das jazidas de granito (Figura 7). Nos anos 1950, com o
aproveitamento dos mármores da região sul, iniciou-se uma rede de atividades de
lavra, beneficiamento, acabamento, serviços etc. Paralelamente, começava-se a
explorar o granito e a exportá-lo sob a forma de blocos. A região norte do estado,
cujo núcleo principal é o município de Nova Venécia, acabou se transformando
numa fronteira de lavra de granitos, consolidada nos anos 1990 (A FORÇA,
2001).
            A vocação portuária do estado favoreceu a atividade exportadora,
transformando o Complexo Portuário de Vitória no maior pólo brasileiro de
exportação de rochas brutas e processadas. Por sua vez, a malha de ligação
rodo-ferroviária centralizada pela Estrada de Ferro Vitória/Minas – EFVM, também
contribuiu para o escoamento e distribuição da produção oriunda do estado de
Minas Gerais. O número de empresas capixabas exportadoras de rochas evoluiu
de 86 em 1997 para 154 em 2000, quando o estado passou a concentrar 30% das
empresas de exportação do Brasil. É o maior exportador de rochas ornamentais
brutas e manufaturadas. Na Tabela 4, pode-se visualizar as exportações de
granito em bloco não manufaturado, de 1992 a 2004 por estado da federação.
          O Espírito Santo lidera também as exportações de granito serrado em
chapas, de acordo com a Tabela 5. Trata-se do carro chefe das exportações de
rochas ornamentais. A participação do Espírito Santo é de aproximadamente
70%, seguido do Rio de Janeiro, com cerca de 14%.

                                    FIGURA 7
 Mapa político do Estado do Espírito Santo com Destaque dos Principais Núcleos
                                   Produtores




                                                                      Nova Venécia
                                                                      reservas de granito
                                                                      88 extratoras
                                                                      12 serrarias
                                                                      50 marmorarias




                                                                      Vitória
                                                                      8 serrarias
                                                                      59 marmorarias




                                                               Cachoeiro do
                                                               Itapemirim
                                                               reservas de mármore
                                                               125 extratoras
                                                               197 serrarias
                                                               248 marmorarias
                                                                 30 fabricantes de máquinas




      Fonte: Spínola (2003)

          Segundo Villaschi Filho e Sabadini (2000), Cachoeiro do Itapemirim
(Figura 7) possui uma história longa e consolidada, cujo ponto de partida foi a
exploração do calcário. Seu desenvolvimento ocorreu de forma autônoma. Não foi
induzido por políticas governamentais. Diversas famílias italianas estabeleceram-
se em Cachoeiro, muitas das quais foram pioneiras na fabricação de cal. Em
1924, foi fundada uma fábrica de cimento na região que também se beneficiava
da presença de jazidas de calcário. Villaschi Filho e Sabadini (2000) chamam a
atenção de que o início da produção do mármore em Cachoeiro não se deu pela
lavra de blocos, e sim pelas marmorarias, instaladas na região a partir de 1930.
As atividades de extração de mármore começaram em 1957. Seus pioneiros
foram os empresários de origem italiana. As serrarias somente apareceram no
município a partir de 1966. Segundo esses autores, a exploração comercial do
mármore e granito tem início, efetivamente, a partir dos anos 1960 e 1970.


                                      TABELA 4
                Exportações Brasileiras de Granito em Bloco por Estado
                                       US$ FOB mil

                         SP              PR            ES           RJ           BA          Brasil
              Anos
                      US$     %    US$        %    US$      %     US$    %    US$     %      US$
               1992   4.378 7,32    155       0,26 13.430 22,46 1.429 2,39    6.641 11,11    59.792
               1993   2.648 3,90    103       0,15 12.770 18,81 2.474 3,64    9.035 13,31    67.894
               1994   2.469 3,13    123       0,16 14.395 18,26 2.770 3,51 11.655 14,78      78.836
               1995   4.603 5,33     99       0,11 17.937 20,77 3.174 3,68 16.352 18,94      86.350
               1996   4.797 4,95     72       0,07 22.093 22,79 2.514 2,59 14.522 14,98      96.935
               1997   3.942 3,39     76       0,07 31.833 27,40     67 0,06 16.099 13,86 116.181
               1998   2.083 1,82     11       0,01 38.479 33,68    371 0,32 15.111 13,23 114.242
               1999   2.987 2,65    250       0,22 43.474 38,62    993 0,88 14.821 13,16 112.578
               2000   1.313 1,52     90       0,10 53.475 61,93 1.374 1,59 14.939 17,30      86.350
               2001    907 0,94     321       0,33 57.178 58,99 1.240 1,28 14.174 14,62      96.935
               2002   1.943 1,67    150       0,13 57.284 49,31    849 0,73 14.939 12,86 116.181
               2003   1.661 1,36    105       0,08 58.128 47,54 1.244 1,02 17.174 14,05 122.255
              2004*   2.363 5,17     30       0,06 21.831 47,83    463 1,01   3.484   7,62   45.728

Fonte: MDIC – dados coletados em 4/09/2004
*jan-jun NCMs: 6802.93.90; 2516.11.00; 2516.12.00



             Boa parte dos blocos serrados em Cachoeiro é extraída de localidades
distantes. Granitos são trazidos dos municípios de Nova Venécia, Ecoporanga,
Barra de São Francisco e Baixo Guandu, ou do sul da Bahia, oeste de Minas
Gerais, e até de Goiás. Apesar da distância, pode ser vantajoso levar a pedra
para corte em Cachoeiro. A concentração de teares, a abundância de mão-de-
obra especializada, a maior facilidade na manutenção dos equipamentos e as
condições favoráveis para venda, com afluência de compradores de todo mundo,
fazem do local o núcleo mais dinâmico da indústria nacional de rochas
ornamentais (COMÉRCIO EXTERIOR, 2000). Segundo depoimento de Ribeiro
(2004), no Espírito Santo já existem mais de 1000 teares.

             A origem do beneficiamento de mármore e granito na região norte do
estado, cujo núcleo é Nova Venécia (Figura 7) é mais recente. Está relacionada
às jazidas de granito encontradas na região, bem como ao fornecimento de infra-
estrutura física (terrenos, etc) e incentivos fiscais pelo governo local. O
desenvolvimento das atividades de beneficiamento foi, em parte, induzido. Em
1995, a prefeitura de Nova Venécia criou uma área onde estão estabelecidas
empresas de beneficiamento (90% de mármores e granitos). A primeira empresa
localizada nesse pólo industrial iniciou sua atividade de serragem em 1995
(VILLASCHI FILHO; SABADINI, 2000).
                                     TABELA 5
          Exportações Brasileiras de Granito Serrado em Chapas por Estado
                                       US$ FOB mil
         SP      SP/Br    PR      PR/Br    ES       ES/Br    SC       SC/Br    RJ      RJ/Br    BA     BA/Br    Brasil
 Anos
         US$      %       US$      %       US$       %       US$       %       US$      %       US$     %       US$
 1992    3.376    21,98   1.066     6,94    7.158    46,60        0     0,00   2.705    17,61    526     3,42   15.362
 1993    2.692    12,37   2.684    12,33    9.178    42,17        1     0,00   3.626    16,66    956     4,39   21.762
 1994    2.637     9,15   3.330    11,55   13.992    48,53        2     0,01   6.339    21,99    632     2,19   28.830
 1995    4.074    12,84   3.020     9,52   17.041    53,71    32        0,10   4.364    13,76 1.578      4,97   31.727
 1996    3.714     9,53   2.893     7,42   21.683    55,63    85        0,22   4.784    12,28 4.311     11,06   38.975
 1997    5.999    11,76   3.384     6,63   24.769    48,53 3.973        7,78   5.962    11,68 3.910      7,66   51.034
 1998    3.784     5,72   5.100     7,71   30.589    46,22 9.110       13,77 10.685     16,15 3.127      4,73   66.174
 1999    5.911     7,23   6.073     7,42   39.584    48,39 9.803       11,98 15.326     18,74 2.312      2,83   81.795
 2000    8.028     7,24   8.026     7,24   61.062    55,07 6.672        6,02 19.960     18,00 2.279      2,06 110.885
 2001    7.518     6,24   8.938     7,41   68.962    57,20 5.771        4,79 19.523     16,19 1.859      1,54 120.566
 2002    8.290     4,92   8.838     5,24 109.850     65,16 5.839        3,46 26.902     15,96 1.421      0,84 168.573
 2003 12.495       5,37 11.275      4,85 161.647     69,48 5.634        2,42 31.766     13,65    923     0,40 232.640
 2004*   5.681     4,38   5.430     4,19   92.725    71,47 2.735        2,11 16.862     12,99    440     0,34 129.738
Fonte: MDIC – dados coletados em 4/09/2004
*jan-jun NCM 6802.32.01

               As firmas extratoras do norte do estado funcionam há quase 20 anos
em diferentes municípios dessa região. Do total de 146 empresas existentes na
região norte do estado, 88 declaram-se extratoras de pedras, 50 são enquadradas
como marmorarias e apenas doze são serrarias (VILLASCHI FILHO; SABADINI,
2000). Diferentemente do que ocorre na região sul, a maior parte de empresas da
região norte está concentrada nas atividades de extração. Já na Grande Vitória,
das 67 firmas registradas por Villaschi Filho e Sabadini (2000), 59 eram
marmorarias e apenas oito eram enquadradas como serrarias. Estes dados
podem estar defasados, contudo dão idéia da distribuição das empresas por ramo
de atividade em Nova Venécia.

         Os produtores de bens de capital estão localizados na região de Cachoeiro
do Itapemirim. De acordo com a estimativa da Associação dos Fabricantes de
Máquinas, Equipamentos e Acessórios para a Indústria de Mármore e Granito
(Maqrochas), o Espírito Santo respondeu pelo fornecimento de metade do volume
de equipamentos consumido no Brasil em 2002. Dos 50% restantes, 25% foram
importados e 25% fabricados por outros estados (SPÍNOLA, 2003). Segundo
Ribeiro (2004), o Espírito Santo já é exportador também de máquinas.

             Os empresários de rochas ornamentais do Espírito Santo têm elevado
poder de barganha em nível nacional. Os recursos da Agência de Promoção das
Exportações (Apex) destinados ao setor são praticamente monopolizados pelos
produtores capixabas que também detêm o controle das associações nacionais
ABIEMG e ABIROCHAS, além de contarem com apoio do Centro Tecnológico do
Mármore e Granito (Cetemag). Criado em 1988, o Cetemag coordena e executa
políticas de desenvolvimento para o setor de rochas.

             Segundo Spínola (2003), o bom desempenho do segmento de rochas
ornamentais do Espírito Santo decorre da combinação de uma série de fatores: 1)
reservas naturais; 2) componente histórico cultural: presença de imigrantes de
origem italiana, cujos conhecimentos tácitos3 referentes a produtos e processos
contribuíram para uma aglomeração espontânea de firmas do ramo; 3)
localização: proximidade ao maior mercado consumidor nacional, na região mais
desenvolvida do país, a sudeste; 4) boa infra-estrutura rodoviária e ferroviária; 5)
manutenção de um complexo portuário com partidas regulares de navios para os
maiores países consumidores, embora sua infra-estrutura esteja insuficiente em
muitos aspectos para atender às demandas atuais do setor; 6) presença de
empresas organizadas e instituições consolidadas, orientadas por objetivos
claros; 7) presença de uma indústria de bens de capital; 8) oferta de mão-de-obra
capacitada; 9) difusão de tecnologia aplicada ao setor, com colaboração do
Cetemag; 11) política comercial agressiva e conjunta das empresas.
             Pode-se afirmar que o caso mais próximo de um arranjo produtivo
maduro, em se tratando do segmento de rochas ornamentais no Brasil, é o que se
encontra na região sul do Espírito Santo, cujo núcleo é Cachoeiro do Itapemirim.


6. A INDÚSTRIA BAIANA DE ROCHAS ORNAMENTAIS
6.1. Dados gerais



3
  O conteúdo tácito de uma tecnologia é aquela parte do conhecimento tecnológico que está incorporada nas
rotinas das firmas e nas habilidades das pessoas, e que não pode ser transferida ou absorvida através de
manuais, fórmulas, livros ou outras formas codificadas de informação (SCATOLIN et al., 2002).
Como terceiro maior produtor brasileiro de rochas ornamentais, o estado da
Bahia conta hoje com 83 empresas do setor, detentoras de 112 pedreiras, das
quais 31 são de mármores e 81 de granitos. Deste universo de empresas, 39 são
exportadoras. Entretanto, a maioria destas fornece o produto em blocos não
manufaturados. Apenas cinco empresas exportam o produto semi-manufaturado.
      O padrão de cor é considerado o principal atributo para qualificação de
uma rocha. Em função das características cromáticas, os materiais são
enquadrados como clássicos, comuns ou excepcionais. Conforme dados da
CBPM, a Bahia é o estado brasileiro que possui a maior variedade de padrões e
cores de granitos do país. As rochas excepcionais têm como principal atributo
competitivo a diferenciação de produto, são caras, e atendem a nichos de
mercado, enquanto as comuns têm sua competitividade baseada em economias
de escala. Identificam-se quase 90 tipos de rochas na Bahia, agrupadas em
excepcionais, exóticas e comuns.
      O estado é o único produtor do Granito Azul Bahia e do Azul Macaúbas,
que são considerados excepcionais, e do Mármore Bege Bahia, uma das rochas
mais consumidas no Brasil, cujas vendas são orientadas para o mercado interno.
Cerca de 10% de sua produção bruta é vendida para outros estados. Os 90%
restantes são serrados em chapas e ladrilhos dentro do próprio estado, nos
municípios de Jacobina, Ourolândia, Feira de Santana e Rui Barbosa, também
predominantemente destinados ao mercado nacional.


6.2 Principais categorias e distribuição geográfica

      Granitos Excepcionais. Granito Azul Bahia, Quartzitos Azul Imperial e
Azul Macaúbas. São encontrados no município de Potiraguá, direção sudoeste do
estado próximo à divisa com Minas Gerais (Figura 8). A produção das rochas
excepcionais é pequena porque suas jazidas não são de fácil extração. Os azuis,
utilizados em detalhes arquitetônicos e de decoração, são explorados por
empresas extratoras sediadas no Rio de Janeiro, onde são serrados em chapas.
O granito azul é quase uma preciosidade. Enquanto o preço médio do bloco de
granito é vendido por aproximadamente US$ 600/m3 FOB Brasil, o preço do azul
pode chegar a US$ 4.000/m3 por tonelada (NERY; SILVA, 2001). A Bahia é seu
único produtor brasileiro. Há também jazidas dessa categoria de rochas na
Noruega e Zâmbia (NERY; SILVA, 2001).
FIGURA 8
  Mapa Político do Estado da Bahia - Principais municípios produtores de rochas
                                  ornamentais




                                        Ourolândia •




                                                         • Teixeira de Freitas




      Granitos Exóticos. Granitos movimentados e rosados. Estes representam
o maior volume de exportação da Bahia em blocos. Existem reservas nos
municípios de Itaberaba, Macajuba e Rui Barbosa, na Chapada Diamantina,
direção centro oeste do estado (Figura 8). A empresa Corcovado, com sede no
Espírito Santo, é a grande exportadora desses materiais em estado primário.
Sofrem forte concorrência dos granitos espanhóis, cujos preços são mais
competitivos. Também pertence a esse grupo o Kashmir Bahia, comercializado
exclusivamente pela Peval S/A, cuja pedreira fica em Jequié, direção sudoeste do
estado.
      Granitos Comuns. São os brancos, amarelos, verdes e marrons. Suas
jazidas estão nas regiões sul e sudoeste, nos municípios de Guaratinga,
Intanhém, Medeiros Neto, Itapebi, Jequié, Jitaúna, Itarantim e Riacho de Santana
(Figuras 7 e 8). Ressalta-se que a região sul é uma extensão geológica do
Espírito Santo, para onde também se estende a Serra do Mar. Em Guaratinga,
encontra-se o amarelo, categoria de rocha mais comum do Espírito Santo. Além
do Brasil, a Namíbia também é produtor desse tipo de pedra. Em Jequié, as
jazidas do verde, conhecido como Verde Glória, são de difícil extração. Em
Riacho de Santana há também reservas de granito marrom, conhecido como Café
Bahia.
         Mármores Brancos. Em Belmonte, encontra-se o mármore branco
acinzentado, o Arabescato Bahia, de onde se iniciou, no ano 2000, a exportação
de blocos para Portugal, cuja jazida estava paralisada desde a década de 1970.
Este material apresenta semelhança com o famoso Mármore de Carrara, da Itália.
Há ainda o Pérola Bahia, proveniente do município de Uauá, direção norte do
estado (Figura 8).
         Granito negro.   Há ocorrências do negro nos municípios Ibiassucê e
Floresta Azul. Parte dele é consumida no mercado interno e parte é exportada
para os Estados Unidos. Seu preço externo foi reduzido em função do aumento
da oferta no mercado internacional, pela Índia e pelos países africanos. A
Espanha, Itália e México, embora não possuam reservas, são produtores do
granito negro manufaturado.
         Mármore Bege Bahia. O estado da Bahia é o único estado brasileiro a
produzir esse tipo de mármore. Sua ocorrência estende-se pelo Vale do Salitre,
na direção noroeste do estado. O município de Ourolândia, localizado na região
conhecida como Piemonte da Diamantina, detém 90% de suas reservas. Os
demais produtores são: Campo Formoso, Mirangaba, Morro do Chapéu e
Itaguaçu da Bahia (Figura 8). Jacobina é maior núcleo urbano da região com
aproximadamente 100 mil habitantes. Ourolândia tem entorno de 20 mil
habitantes. Diferentemente das rochas excepcionais, o Bege Bahia é uma rocha
produzida e consumida em larga escala. Por ser mais poroso, seu custo de
serragem é inferior ao do granito. É uma das rochas de consumo mais amplo e
difundido no Brasil.
6.3. Atividades de beneficiamento

             As atividades de beneficiamento de pedras ornamentais na Bahia são
desenvolvidas por apenas 20 unidades agrupadas no Quadro 3, de acordo com a
localização, matéria prima e processo produtivo. São todas micro, pequenas ou
médias empresas. Dentre elas, cinco são exportadoras de manufaturados, as
quais são de pequeno e médio porte. Não há microempresas exportadoras. Os
municípios onde estão implantadas essas empresas podem ser localizados na
Figura 8: Salvador, com duas serrarias na sua periferia industrial, uma delas em
implantação; Feira de Santana, com duas unidades; Jacobina e Ourolândia, na
direção noroeste, com doze; Rui Barbosa, direção centro oeste, com uma;
Teixeira de Freitas, no Extremo-Sul, com três.

                                   QUADRO 3
                 Serraria produtoras de chapas e ladrilho - Bahia
       Município                            Mármore Bege          Granito

       Região Metropolitana de Salvador                          1*                   1
       Jacobina                                                  5
       Ourolândia                                                7
       Feira de Santana                                          2
       Rui Barbosa                                               1
       Teixeira de Freitas                                                            3
       Total                                                    16                    4
*Em implantação no Centro Industrial de Aratu
Fonte: coleta direta do Sebrae/Jacobina e da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) em jul/04
Elaboração Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia


        Estima-se que existam aproximadamente 252 marmorarias no estado.
Segundo       Ribeiro     (2004),     muitas     destas     encontram-se         tecnologicamente
defasadas. O governo do estado através da Secretaria de Indústria Comércio e
Mineração e da CBPM está desenvolvendo um programa de recuperação do setor
marmorista. Como a cadeia produtiva de rochas na Bahia não é integrada, muitas
rochas de origem baiana são transportadas em bloco para o Espírito Santo onde
são serradas, para retornar sob a forma de chapas e serem utilizadas pelas
marmorarias.
6.4 O Mármore Bege Bahia

6.4.1 Dados Gerais

      O mármore Bege Bahia representa entre 25 a 30% da produção baiana de
pedras ornamentais. Seu maior concorrente é o travertino italiano. Pelas suas
características físicas, é utilizado como revestimento interno, e em bancadas ou
tampos de mesas. Diferentemente do granito, não deve ser utilizado para
revestimentos externos.
      Quando foi descoberto nos anos 1950, o produto era chamado Mármore
Marta Rocha, uma alusão à famosa Miss Brasil que, como a rocha em questão, é
de origem baiana. Entretanto, atualmente, no mercado interno, é mais conhecido
e consolidado como Mármore Bege Bahia. No mercado internacional é
denominado Bahia Travertine. Trata-se de um produto cujo nome se reporta às
características e à origem, o que o faz exclusivo.
       Dentre os concorrentes internacionais do Bege Bahia estão: o granito
verde, popular nos EUA, o travertino e boticcino (Itália) e o crema marfil
(Espanha). O mármore bege é um material poroso e irregular. Embora seu custo
de serragem seja menor que o do granito, seu polimento é trabalhoso e demanda
utilização de insumos especiais, não encontrados na região norte do estado da
Bahia. A perda de produto pode ser grande. Os produtos similares italianos são
mais regulares.
      Apesar da Bahia possuir uma incipiente atividade de beneficiamento de
rochas e se caracterizar como fornecedora de blocos brutos, sua produção de
semi-manufaturados encontra-se predominantemente voltada à serragem do
mármore Bege Bahia. Dezesseis das 20 serrarias do estado beneficiam esta
categoria de rocha (Quadro 2). Na região de Jacobina e Ourolândia, encontram-
se   12   serrarias,   todas   micro   ou   pequenas   empresas   estabelecidas
espontaneamente, atraídas pela presença de matéria prima e pela crescente
demanda do produto. Há dois anos atrás, de acordo com levantamento empírico
feito em 2001 (SPÍNOLA, 2003), havia nove serrarias. Portanto, no estado já
existe uma aglomeração de empresas em expansão voltadas ao beneficiamento
do mármore Bege Bahia. Atualmente, segundo Biglia (2004), há sete teares de
lâminas diamantadas instalados em Ourolândia. Há quatro anos atrás não havia
nenhum. As empresas estão se reestruturando e expandindo suas capacidades
com recursos próprios.
Vale lembrar que há também uma serraria de mármore Bege Bahia em
Aracaju, a Flama, cuja atividade de mineração encontra-se em Ourolândia. Além
do núcleo de beneficiamento em Jacobina e Ourolândia, existem três serrarias em
Cachoeiro do Itaperimirim – ES; uma, em Feira de Santana; uma, em fase de
implantação no CIA; uma, em Rui Barbosa. Embora a produção de chapas e
ladrilhos se destine principalmente ao mercado interno, as empresas que dispõem
de tecnologia de beneficiamento mais avançada estão começando a exportar, a
exemplo da Bege Bahia Mármores, em Ourolândia, e a Conde Export, em Rui
Barbosa.
      Na região do Vale do Salitre, existem 29 lavras de Bege Bahia, das quais
nove estão paralisadas ou desativadas (RIBEIRO et al., 2003). Das 20 em
atividade, nove utilizam fio helicoidal como método de extração, e apenas uma, a
Flama (Foto 6), usa fio diamantado, técnica mais avançada. As demais jazidas
recorrem ao martelo, explosivos, pólvora, compressor e perfuratriz. Segundo
Ribeiro et al.(2002), os cortes contínuos são os mais recomendados na extração
desse tipo de rocha. Todavia, é evidente que o fio helicoidal é a técnica mais
comum nas lavras da região. Mesmo que este tipo de fio proporcione cortes de
superfícies maiores, trata-se de uma técnica ultrapassada nos centros produtores
usuários de tecnologia avançada, onde se dá preferência ao fio diamantado.
                                         FOTO 6
Mineração Flama (Ourolândia/BA). Única lavra a utilizar a técnica de fio diamantado
                         para extração do Bege Bahia




      Fonte: Spínola (2003)
6.4.2 Oportunidades de Mercado e Desenvolvimentos Tecnológicos

      O consumo do mármore bege nos Estados Unidos, importado sob a forma
de chapas ou ladrilhos, tem sido crescente. Seu maior fornecedor é a Itália com o
travertino italiano, consolidado no mercado. Nos Estados Unidos, o produto
italiano importado é taxado em 5%. Por outro lado, não há incidência de imposto
na importação sobre o produto brasileiro, já que é negociado no Sistema Geral de
Preferência (SGP) norte americano. Além disso, a implantação da Área de Livre
Comércio das Américas (Alca), projetada para 2005, apresenta-se como uma
oportunidade para se ampliar a presença do Mármore Bege Bahia naquele
mercado.
      De acordo com dados levantados pelo Promo (2004), através de consulta
ao banco de dados Tradstat (www.tradstat.com ) em 23 de março de 2004, os
Estados Unidos importaram US$ 34,2 milhões em mármore travertino sob a forma
de chapas (NCMs 6802.21.50 e 6802.21.10) no ano de 2003, dos quais 37,45%
foram provenientes da Itália; seguida da Turquia, com 25,29%; e do México, com
14,39%.
      O Brasil ocupa a 15a posição como fornecedor deste produto no mercado
norte americano, participando com apenas 0,42%. O baixo índice decorre da
produção brasileira de mármore ter se voltado essencialmente para o mercado
interno, ao contrário do granito, como foi explicado na introdução do corrente
estudo. Ressalta-se que a Turquia conseguiu alcançar elevada posição porque
desenvolveu uma agressiva estratégia de marketing e aperfeiçoamento do
produto.
      A capacidade instalada das jazidas de mármore bege em atividade na
região de Jacobina e Ourolândia é estimada em 55.000 m3/ano. A capacidade de
serragem da região foi estimada em 700.000 m2/ano em 2003 por Ribeiro (2004).
Entretanto, com a instalação de novos teares ao longo de 2004, esta deve ser
aumentada significativamente. Considerando que cada m3 de pedra bruta gera
aproximadamente 30m2 de rocha serrada, constata-se que a produção atual de
blocos tem potencial para produzir 1.650.000 m2 de chapas (55.000 m3 X 30
m²/m³). Ao ser transformado em chapas ou ladrilhos, cada m3 de mármore bege
gera uma receita pelo menos quatro vezes e meia superior àquela auferida na
venda do bloco bruto.
Em 2002, as cadeias produtivas de rochas ornamentais, do sisal e do
cacau foram enquadradas pelo Ministério de Ciência e Tecnologia como
prioritárias, dentro do estado da Bahia, no seu programa nacional para a
formação de Arranjos Produtivos Locais (APL), que vem sendo coordenado, em
nível estadual, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia
(Fapesb). O primeiro projeto aprovado para o setor pela Financiadora de Estudos
e Projetos (Finep), o Desenvolvimento Integrado do Mármore Bege Bahia –
DETIMBA (ref. FINEP/FAPESB, projeto n° 2007/02, convênio n° 22.02.0457.00), orçado
em R$ 490,45 mil e com duração de 12 meses, está sendo implantado no ano de
2004. Envolve o Instituto de Geofísica e a Escola Politécnica, entidades da
Universidade Federal da Bahia (Ufba); o Senai; a CBPM; e o Instituto de Pesquisa
Tecnológicas (IPT), vinculado à Universidade de São Paulo (USP). Seu objetivo é
viabilizar a formação de um Arranjo Produtivo Local na região norte do estado da
Bahia, tendo como núcleos os municípios de Jacobina e Ourolândia, através do
aperfeiçoamento das técnicas de extração, serragem, polimento e produção de
ladrilhos; além da capacitação de mão-de-obra nas diferentes etapas de
transformação da cadeia produtiva. As ações visam, em última instância, adequar
seus produtos, sobretudo os de maior valor agregado, chapas e ladrilhos, às
exigências dos mercados interno e externo (SPÍNOLA, 2003).
      Apesar de serem ainda pouco significativas, as exportações de semi-
manufaturados de mármores e travertinos vêm apresentando um comportamento
ascendente, conforme Tabela 6. O baixo valor médio das exportações baianas
pode ser atribuído ao tipo de mármore comercializado e à qualidade do seu
polimento ainda insatisfatória para os padrões internacionais. Ressalta-se que o
tipo travertino é menos valorizado que outras categorias de mármore, a exemplo
do Carrara, do Pérola, e mesmo dos seus concorrentes próximos, como o Crema
Marfil espanhol e o Boticcino italiano, que são menos porosos.
TABELA 6
                 Exportações Brasileiras de Mármore, Travertino etc.
                Talhada/serrada superfície plana/lisa (NCM: 6802.21.00)

   Estado                Valor (US$ FOB)                Quantidade (kg)       Valor Médio
                                                                             (US$ FOB/kg)
                  2001    2002    2003      2001    2002      2003        2001 2002 2003
Espírito Santo 439.114 457.907 419.325 399.971 661.189 951.411            1,10     0,69   0,44
Ceará             -     47.597 233.920     -      86.588 463.986           -       0,55    0,5
Minas Gerais    23.351     -    39.984    15.585     -      42.000          1,5     -     0,95
Rio de Janeiro  25.375 52.919 29.046      73.603 94.159     79.653        0,34     0,56   0,36
Bahia               654  3.549 13.278      1.200 22.920     36.034        0,55     0,15   0,37
Paraná            -     13.345 12.776      -      42.344    46.746         -       0,32   0,27
São Paulo      148.097 81.353 11.857 466.606 40.805          4.481        0,32     1,99   2,65
Rio Gde do Sul 18.838       788     269   41.168   2.873        464       0,46     0,27   0,58
Pernambuco        -      3.725     -        -      8.053      -            -       0,46    -
Santa Catarina   2.884   3.375     -       2.980      680     -           0,97     4,96    -
Total          658.313 664.558 760.455 1.001.113 959.611 1.624.775        0,66     0,69   0,47
Fonte: MDIC/SECEX//ALICEWEB, dados coletados em 05/02/04
Elaboração: PROMO - Centro Internacional de Negócios da Bahia



       O governo do estado da Bahia assinou um protocolo de intenções com o
ISIM, Istituto Internazionale del Marmo, para execução de um plano de trabalho a
ser concluído em 2005 voltado aos melhoramentos tecnológicos do mármore
Bege Bahia, com uma agenda de cursos teóricos e práticos a serem realizados
em Jacobina e Salvador.
       Através de exames laboratoriais de amostras de bloco bruto de Bege
Bahia, o ISIM está desenvolvendo técnicas de polimento adequadas para tornar o
produto competitivo no mercado internacional. Os primeiros resultados foram
apresentados aos empresários do setor no Seminário sobre Tecnologias Italianas
para Rochas Ornamentais, em 16 de julho de 2004 em Salvador, Bahia. No médio
prazo, com assessoria do ISIM, projeta-se instalar um centro de resinagem em
Ourolândia para atender às serrarias locais.
       Ao lado desta iniciativa, o setor de rochas ornamentais, particularmente o
arranjo situado em Ourolândia, foi apontado como um dos segmentos prioritários
pela    Rede de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais do Estado da Bahia
(coordenada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação), dentro de um
conjunto de quase 20 aglomerados produtivos.


6.4.3. Alguns entraves ao desenvolvimento do APL de Mármore Bege Bahia
No aglomerado de empresas de beneficiamento do mármore Bege Bahia,
em Jacobina e Ourolândia, considerado o ponto de partida para a formação de
um APL, segundo Ribeiro (2004), há questões que podem limitar a sua expansão.
Dentre eles estão o abastecimento de água e a gestão dos resíduos.
      As atividades de beneficiamento de rochas são intensivas em água e
energia. Cada tear consome 250 mil litros de água por ciclo de 20 dias.
Atualmente cada empresa tem escavado o seu próprio poço artesiano, porém
este processo poderá gerar problemas futuros na gestão da distribuição de água.
O governo do estado deveria considerar a construção de uma central de
abastecimento de água subterrânea para otimizar o aproveitamento e evitar o
desperdício (Ribeiro, 2004).
      No ciclo de produção das serrarias formam-se depósitos de carbonato de
cálcio que são jogados ao meio ambiente sem qualquer tipo de controle,
agredindo a natureza entorno. Entretanto, se forem recuperados, os resíduos
podem se tornar subprodutos para serem utilizados como insumo na produção de
tinta, argamassa e cal.
      Finalmente, as tecnologias de resinamento e polimento poderiam ser
aperfeiçoadas e otimizadas se contassem com uma estação central para atender
as diferentes serrarias. Trata-se de uma questão relevante a ser considerada pelo
recém lançado Arranjo Produtivo de Rochas pela Rede de Apoio aos APLs
baianos, que deverá contar com recursos do Banco Interamericano de
Desenvolvimento. Os técnicos ISIM têm desenvolvido projetos semelhantes em
outros países.


6.5 Beneficiamento de Granito

      No Quadro 4, apresentam-se a capacidade instalada das serrarias de
granito da Bahia, a localização, o número de empregados e seu tipo de
equipamento.
QUADRO 4
  Capacidade Instalada e Equipamentos das Serrarias de Granito da Bahia

Localização             Capacidade          °
                                          N° de Equipamentos
Empresa                 Instalada m2/ mês Empre
                                          -gados

Feira de Santana

 Granita (ladrilhos)*                4.000        29 Sistema importado (italiano) de talha-bloco, com
                                                     politirz automática

Teixeira de Freitas

 Granífera                          14.000        50 5 teares nacionais com politriz automática
 Granitos Venécia                   16.000        29 2 teares italianos com politriz automática (18
                                                     cabeças)
 Granitos Milano                    15.000        23 5 teares nacionais com politriz automática

Salvador

  Peval S/A                         24.000        75 5 teares italianos com politriz automática

Total                               73.000       241 25 teares e 1 sistema de talha-bloco
*A Granita tem se dedicado à produção de ladrilhos de mármore Bege Bahia
Fonte: Spínola (2003)

        Embora a Bahia tenha grandes reservas e tipos variados de granito, a
atividade de beneficiamento não tem se expandido nos últimos anos. O número
de serrarias permanece o mesmo de três anos atrás. Muitas serrarias apresentam
capacidade ociosa e acabam se dedicando à exportação de blocos brutos. Outras
têm se voltado à fabricação de ladrilhos de mármore Bege Bahia. Algumas
empresas alegam que, no mercado internacional, as exportações de blocos são
pagas à vista ou com carta de crédito, enquanto as de chapas, são pagas
preferencialmente com saque bancário, o que é mais arriscado. Algumas
empresas alegam que não conseguem competir com o Espírito Santo, onde
existe uma série de externalidades já mencionadas.
        Atualmente, o município de Teixeira de Freitas concentra mais da metade
da capacidade de serragem de granito da Bahia. Ao se considerarem os teares
efetivamente em operação, verifica-se que pelo menos 60% da produção de
chapas graníticas do estado são provenientes de Teixeira de Freitas (Quadro 4).
Esse dado pode ser atribuído à proximidade do Espírito Santo, uma vez que o
município localiza-se a 180 km de Nova Venécia (ES), núcleo produtor de granito.
Observa-se que as empresas de Teixeira de Freitas possuem estreitas relações
comerciais com fornecedores capixabas e são usuárias da logística daquele
estado.


6.6. A inserção da Bahia no mercado externo

      As exportações de rochas do estado da Bahia têm se caracterizado pela
elevada concentração em blocos não manufaturados. Através da Figura 9 e da
Tabela 4, verifica-se que a Bahia é o segundo maior exportador de blocos, depois
do Espírito Santo. No primeiro semestre de 2004, contudo, apesar de não ter
perdido esta posição, sua participação nas exportações brasileiras de blocos
decresceram para um percentual de apenas 7,62%, enquanto nos anos anteriores
este indicador ficava entorno de 13 e 14%. Alguns fatores vêm contribuindo para
esta retração. Primeiramente, devido à baixa freqüência de navios de carga geral
no porto de Salvador, o custo de logística tem se elevado. Algumas empresas
exportam seus produtos pelo porto de Vitória ou por outros portos, o que além de
encarecer o produto, compromete o cumprimento de prazos com clientes.
Segundo, a conjuntura internacional vem se mostrando mais favorável aos
produtos   semi-manufaturados,        pois   a   intensificação   do   processo   de
industrialização   da   China   tem    acelerado   suas    importações   de   rochas
processadas, em detrimento do material bruto (Chiodi, 2004).
FIGURA 8
     Exportações de Granito em Bloco (NCM) em US$ FOB milhões (2000–2004)




   60,00
                                                                                         SP %
   40,00
                                                                                         PR %
   20,00
                                                                                         ES %
    0,00          2000              2001         2002             2003          2004*

       SP %         1,17            0,85          1,74            1,36           5,17    RJ %
       PR %         0,08            0,30          0,13            0,08           0,06
       ES %      47,59              53,45        51,25            47,54         47,83    BA %
       RJ %         1,22            1,16          0,76            1,02           1,01
       BA %      13,29              13,25        13,37            14,05          7,62

Fonte: Dados do Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia, com base no Sistema Alice Web, Secex.
Elaboração UEP/Desenbahia




                                                 FIGURA 9
     Exportações de Blocos de Granito Serrado (NCM ) em US$ FOB (2000-2004)




   250.000
                                                                                         1999
   200.000

   150.000                                                                               2000
   100.000

    50.000
                                                                                         2001
        0
               SP           PR         ES       SC        RJ             BA    Brasil    2002
     1999     5.911        6.073     39.584    9.803     15.326      2.312     81.795
     2000     8.028        8.026     61.062    6.672     19.960      2.279     110.885   2003
     2001     7.518        8.938     68.962    5.771     19.523      1.859     120.566
     2002     8.290        8.838     109.850   5.839     26.902      1.421     168.573   2004*
     2003     12.495       11.275    221.000   31.000    31.766          923   232.640



Fonte: Dados do Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia, com base no Sistema Alice Web, Secex.
Elaboração UEP/Desenbahia
No que se refere às exportações de granito serrado, a participação da
  Bahia tem sido decrescente. Os produtores não conseguem economias de escala,
  internas ou externas, para competir com as empresas do Espírito Santo. Por outro
  lado, os produtos nobres da Bahia são geralmente beneficiados fora do estado,
  principalmente no Rio de Janeiro e Espírito Santo (Tabela 5 e Figura 9). A Bahia
  participa com menos de 0,5 % nas exportações dos produtos enquadrados na
  NCM 6802.32.01, carro chefe das vendas externas de rochas ornamentais. Vale
  ressaltar que este percentual chegou a atingir 11% em 1996, conforme dados
  expostos na Tabela 5.
                                      TABELA 7
            Exportações de Rochas Ornamentais do Estado da Bahia – US$ FOB
                                                                 2002         2003       Variação Partic.
                                                                                            %       %
Rochas Silicáticas em Bruto (RSB) (1)
25062100 Quartzitos em bruto ou desbastados                    1.009.491 1.118.325          10,78    5,50
25062900 Outras formas de Quartzitos                             159.339    229.823         44,24    1,13
25161100 Granito em bruto ou desbastado                       10.466.587 8.506.934         -18,72   41,87
25161200 Granito cortado em blocos ou placas                   2.450.921 7.766.472         216,88   38,22
Subtotal                                                      14.086.338 17.621.554         25,10   86,72
Rochas Carbonáticas em Bruto (RCB) (2)
25151210 Mármore Cortados em blocos ou placas                          0        16.640
68029100 Mármores, travertinos, etc.                              27.985        52.930      89,14    0,26
Subtotal                                                          27.985        69.570     148,60    0,34
Rochas Processadas (RP) (3)
68010000     Pedra para calcetar meio-fio e placa p/                    0       82.260               0,40
             paviment.
68021000     Ladrilhos de pedra natural/serrada                     1.925        5.889     205,92    0,03
             superficial.
68022100     Mármore, Travertino, etc talha/serr. sup.              3.549       13.278     274,13    0,07
             plana/lisa
68022200     Outras pedras calcárias talhadas                          0        1.623                0,01
68022300     Granito talhado ou serrado, de superf. plana /    1.420.839      923.137      -35,03    4,54
             lisa
68029200     Pedras calcárias trabalhadas de out.modo e                 0       10.327               0,05
             obras
68029390     Granitos trabalhados                              2.020.957      900.592 -55,44         4,43
68029990     Pedras de cantaria, trabalhadas                     249.491      654.619 162,38         3,22
68030000     Ardósia Natural trabalhada                            1.590       36.946 2223,65        0,18
Subtotal                                                       3.698.351    2.628.671 -28,92        12,94

Total exportado de rochas ornamentais                         17.812.674 20.319.795         14,07 100,00

Fonte: MDIC/SECEX, dados coletados em 28/01/04
Elaboração: Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia
(1)Rochas Silicáticas Brutas - RCB incluem granitos e quartzitos em blocos
(2) Rochas Carbonáticas - RB incluem os mármores e travertinos em blocos
(3) Rochas Processadas são rochas beneficiadas, predominantemente chapas e ladrilhos
           A Tabela 7, exposta anteriormente, permite se observarem as exportações
  baianas de rochas ornamentais por diferentes categorias de produtos em 2002 e
2003. A maior parte das exportações se concentra no granito, sobretudo em
estado bruto. Conforme mencionado, a produção brasileira de mármore, incluindo
a baiana, sempre se voltou ao mercado interno. As iniciativas para melhoramento
tecnológico do parque produtor do mármore Bege podem mudar este quadro a
médio prazo. Os valores expostos acima, embora ainda baixos em termos
absolutos, apresentam indícios de que os produtos do mármore começam a
aparecer nas estatísticas de comércio exterior.
      O Brasil já está começando a exportar este material em chapas e ladrilhos.
Segundo informações coletadas diretamente com Chiodi (2004b), no primeiro
semestre de 2004, o Brasil comercializou US$ 870 mil do código 6802.10.00 no
mercado externo, em que se inserem os ladrilhos de mármore Bege. A Bahia
exportou apenas US$ 26,16 mil, enquanto o Espírito Santo, US$ 701 mil.
      Segundo Chiodi (2004 a), dentre as melhores oportunidades para a
indústria baiana destaca-se o mármore Bege Bahia, em ladrilhos e chapas, com
foco nos mercados interno e externo.


7. CONSIDERAÇÕES FINAIS


      O comércio de rochas ornamentais está estreitamente vinculado à indústria
da construção civil. O setor movimenta aproximadamente US$ 50 bilhões,
considerando os mercados internos dos países produtores e consumidores e as
transações com máquinas e equipamentos.             Nos últimos 15 anos, foram
registradas taxas médias anuais entre 7% e 8% para o crescimento da produção,
exportação e consumo (MONTANI, 2000,2003 apud Mello, 2004). Portanto,
apesar de se tratar de uma indústria tradicional, em termos mundiais, suas taxas
de crescimento não são desprezíveis. Seus principais concorrentes são os
revestimentos cerâmicos cuja utilização tem crescido a taxas superiores às
pedras naturais, conforme mencionado. Entretanto, os mármores, granitos e
outros tipos de rochas ornamentais são considerados clássicos e estão menos
sujeitos a modismo. As projeções da Abirochas (Peiter et al, 2001) indicam a
manutenção da tendência de crescimento no mercado internacional de rochas e
das perspectivas de aumento da participação brasileira neste mercado.
      Embora a Itália seja o núcleo difusor de inovação tecnológica como maior
produtor e exportador de máquinas, a partir de 2002, a China se tornou o maior
importador   de   produtos   brutos    e   maior   exportador   mundial   de   semi-
manufaturados. O Brasil ocupa atualmente o quarto lugar como exportador de
material bruto. Segundo Chiodi (2003), a posição brasileira como exportador de
rochas processadas evoluiu sensivelmente nos últimos anos. O país saltou da
12a posição do ranking dos maiores exportadores de rochas semimanufaturadas,
em 1999, para 8a em 2001. Estima-se que tenha se tornado o sexto maior
exportador de rochas processadas em 2003 (CHIODI, 2003).
      Em 2003, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de granito semi-
manufaturado nos Estados Unidos, que absorvem cerca de 90% do valor das
exportações brasileiras dessa categoria de produto. Pode-se levantar a hipótese,
ao analisar a Tabela 1, que esta conquista tem sido via preço, já que o valor CIF
médio pago por unidade de produto proveniente do Brasil é cerca de 30% abaixo
do valor da Itália e da Índia, e 8% abaixo do valor CIF importado da China.
      Foi demonstrado que, entre 1992 e 2002, o consumo interno de rochas
brutas cresceu a uma taxa de 8,45% ao ano, e de bens manufaturados, 7,87%. O
comportamento deste mercado depende do desempenho da construção civil.
      As exportações brasileiras de granito semi-manufaturado na última década
cresceram à elevada taxa média de 30% ao ano, lideradas pelo Espírito Santo,
cuja participação atual é de quase 50%. No ano de 2004, o índice de crescimento
dessas exportações tem se mostrado inferior ao esperado, embora continue
positivo. As vendas externas foram afetadas por problemas de logística. Segundo
Chiodi (2004 a), o aumento dos fretes marítimos internacionais, estimado em 50%
no primeiro semestre, reduziu a competitividade das rochas brasileiras, sobretudo
das chapas de granito transportadas em contêineres. O aumento da demanda de
contêineres pela China contribuiu para a elevação de custo de transporte. Chiodi
(ibid, 2004) ressalta que a Índia e a China, os maiores concorrentes do Brasil no
mercado norte americano, não estão enfrentando as dificuldades brasileiras com
transporte.
      Constatou-se uma sensível redução das exportações de blocos brutos no
primeiro semestre de 2004 em relação a 2003. Este fato pode ser atribuído: 1) à
baixa freqüência de navios de carga geral, transportadores de blocos; 2) às
dificuldades físicas do porto de Vitória para movimentação de navios de grande
porte, pelas dimensões limitadas de seu canal de navegação e de sua
profundidade, que suporta embarcações com no máximo 10,5 m de calado; 3) à
preferência da China por importações de rochas já semi-manufaturadas, motivada
pelo acelerado ritmo da sua construção civil (Chiodi, 2004). A redução da
demanda por blocos brutos pelo seu maior importador, inevitavelmente, teve forte
impacto no mercado.
      Foram apontados os principais fatores determinantes para a liderança do
estado do Espírito Santo nesse setor, e particularmente do município de
Cachoeiro do Itapemirim, núcleo de um arranjo produtivo – APL - de rochas
ornamentais. O melhor desempenho do Espírito Santo e do Rio de Janeiro com
exportação de rochas graníticas processadas, bem como de Minas Gerais com
ardósias e quartzitos foliados, está lastreado na existência de parques industriais
de beneficiamento e em uma base de competitividade firmada para produtos
acabados/semi-acabados no mercado interno.
      O estado da Bahia detém 10% da produção nacional, sendo o terceiro
produtor brasileiro de rochas, depois do Espírito Santo e Minas Gerais. Como a
indústria baiana se caracteriza pela produção e fornecimento de blocos não
manufaturados para os mercados internos e externos, suas exportações, no
primeiro semestre de 2004 tiveram redução superior a 40% em relação a 2003,
atribuída a fatores já mencionados, determinantes para a queda das exportações
do material bruto.
      Em linhas gerais, as vantagens da indústria na Bahia são: 1) ocorrência de
reservas naturais em quase todo semi-árido baiano, em áreas pouco propícias à
agricultura, onde a mineração é uma alternativa; 2) ampla variedade de tipos de
rochas, excepcionais, exóticos e comuns; 3) boas condições portuárias naturais
da Baía de Todos os Santos, com terminais para calado de até 12,4m, superior,
portanto ao do porto de Vitória, cujo calado atinge no máximo 10,5 m; 4)
existência de distritos industriais organizados com acesso direto ao porto, a
exemplo do Centro Industrial de Aratu e Feira de Santana, além do Distrito de
Teixeira de Freitas, próximo ao Espírito Santo; 5) atuação consistente da
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM no que se refere à pesquisa
mineral e promoção comercial, pois, juntamente com o Promo Centro
Internacional de Negócios da Bahia, tem propiciado a participação de empresas
nas principais feiras temáticas nacionais e internacionais, em estande coletivo do
Estado da Bahia; 6) existência de um aglomerado de serrarias voltadas ao
beneficiamento       primário   do   mármore     Bege     Bahia,     estabelecidas
espontaneamente, configuradas como um potencial APL na região norte do
estado.
A industria de rochas ornamentais
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A industria de rochas ornamentais

  • 1. Estudo de Mercado 02/04, set. 2004 A INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS Vera Spínola Luis Fernando Guerreiro Rafaela Bazan SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO 2 2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PRODUTOS E PROCESSOS 2 3. MERCADO MUNDIAL 8 4. A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ROCHAS ORNAMENTAIS 13 4.1 Dados Gerais 13 4.2 Consumo Interno 16 4.3 Exportações 16 5. A BEM SUCEDIDA INDÚSTRIA CAPIXABA DE ROCHAS ORNAMENTAIS 19 6. A INDÚSTRIA BAIANA DE ROCHAS ORNAMENTAIS 23 6.1. Dados gerais 23 6.2 Principais categorias e distribuição geográfica 24 6.3. Atividades de beneficiamento 27 6.4 O Mármore Bege Bahia 28 6.4.1 Dados Gerais 28 6.4.2 Oportunidades de Mercado e Desenvolvimentos Tecnológicos 30 6.4.3. Alguns entraves ao desenvolvimento do APL de Mármore Bege Bahia 32 6.5 Beneficiamento de Granito 33 6.6. A inserção da Bahia no mercado externo 35 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 38 REFERÊNCIAS 43 ANEXO 45
  • 2. A INDÚSTRIA DE ROCHAS ORNAMENTAIS 1. APRESENTAÇÃO Este trabalho se propõe a tratar da indústria de rochas ornamentais, mármores e granitos, enfatizando sua conformação, gargalos e potencialidade no estado da Bahia. Inicialmente, apresentam-se as particularidades dos produtos e processos produtivos desta indústria, incluindo os principais equipamentos utilizados. Descrevem-se as características do mercado internacional, principais produtores, exportadores e importadores. Em seguida, mostra-se como o Brasil está inserido neste mercado e como está organizada a sua referida indústria, com especial destaque para o parque instalado no estado do Espírito Santo. A última parte do trabalho discorre sobre as características do setor na Bahia, a sua inserção nos mercados interno e externo, seus pontos fortes e fracos, as oportunidades e ameaças ao seu desenvolvimento. Dedica-se maior atenção às atividades voltadas ao beneficiamento do mármore Bege Bahia, para o qual, aparentemente, se encontram boas oportunidades de negócios. Nas considerações finais, são feitas reflexões sobre os entraves e as perspectivas futuras do setor no Brasil e na Bahia. O anexo contém uma lista de empresas do setor na Bahia. 2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PRODUTOS E PROCESSOS O setor de rochas ornamentais tem características inerentes a uma indústria tradicional. Trata-se de uma atividade extrativa cujos traços mais marcantes são: o processamento de recursos naturais; a baixa intensidade tecnológica; a reduzida exigência em termos de escala mínima de produção; o caráter exógeno da inovação tecnológica, pois ela costuma vir incorporada nos equipamentos; e o fato da capacidade empreendedora do dirigente ser um fator crítico para a competitividade. As rochas ornamentais e de revestimento, também chamadas pedras naturais, rochas lapídeas e rochas dimensionais, do ponto de vista comercial, são basicamente classificadas em mármores e granitos. Estas duas categorias respondem por 90% da produção mundial. Os demais tipos são as ardósias,
  • 3. quartzitos, pedra sabão, serpentinitos, basaltos e conglomerados naturais (PEITER et al, 2001). O corrente trabalho é focado nos mármores e granitos, categorias predominantes no estado da Bahia. Os granitos são classificados como rochas silicáticas e os mármores como rochas carbonáticas. Os mármores travertinos são destacados no presente estudo porque neles se inclui o mármore Bege Bahia, amplamente consumido em todo território nacional, cujas jazidas ocorrem com exclusividade na região norte do estado. Os travertinos são rochas calcárias, de cores claras, com grandes poros, gerados por fontes de água ricas em bicarbonato de cálcio, e não raro, com vestígios de plantas (Foto 4). Por sua vez, os granitos têm menor porosidade, elevada resistência e dureza. Conseqüentemente, a serragem destes é mais trabalhosa e dispendiosa que a dos mármores. Segundo Chiodi (NEGÓCIOS, 2004), na categoria de rocha carbonática, metamorfizada, o mármore tem quase a mesma aplicabilidade que o granito. A seu favor está a durabilidade e a nobreza, e seu ponto fraco é ser menos resistente a riscos (como arranhões) e mais sensível ao ataque químico, como os produtos de limpeza (ácido). Por força da constituição de seus terrenos geológicos, os mármores dos países mediterrâneos são mais nobres, possuem massa fina e padrões cromáticos variados, de acordo com Chiodi (IBID, 2004). As rochas ornamentais são utilizadas na indústria da construção civil como revestimentos internos e externos de paredes, pisos, pilares, colunas e soleiras. Compõem também peças isoladas, como estruturas, tampos, pés de mesa, bancadas, balcões, lápides e arte funerária em geral, além de edificações. As pedras ornamentais podem também ser torneadas para revestimento de colunas. A aplicação do granito na construção civil em substituição a outros produtos vem sendo crescente, pelo fato de suas características apresentarem vantagens de uso: resistência, durabilidade, facilidade de limpeza e estética. Seu dinamismo de mercado está fundamentado na sua elevada capacidade de substituição em relação a outros materiais. Como é resistente ao ataque químico, ao desgaste abrasivo, a utilização do granito em revestimentos externos tem aumentado, tanto em pisos quanto em fachadas (PEITER et al, 2001). Na Figura 1, apresentam-se as principais transformações técnicas pelas quais passam as rochas ornamentais, da matéria prima ao produto final.
  • 4. FIGURA 1 Transformações Técnicas e Principais Produtos da Indústria de Rochas Ornamentais Etapas Produtivas Extração Desdobramento Beneficiamento (Pedreira ou Jazida) (Serraria) (Marmoraria) Revestimentos com P Tiras ladrilhos padronizados. R O D Pisos, revestimentos sob U medida, soleiras, rodapés, T Blocos escadarias, móveis, Chapas objetos de adorno, O bancadas, placas, peças S de ornamentação. Bancos e assentos, meio- Semi- fio e pavimentos. Acabados Áreas de Aplicação Urbanismo Arte Funerária Arte e Decoração Arquitetura e Construção Civil Fonte: Villaschi Filho e Pinto, 2000 apud Spínola (2003). O primeiro estágio de cadeia produtiva das rochas ornamentais é a lavra de blocos a céu aberto desempenhada pelas empresas extratoras (Foto 1). O beneficiamento primário é feito nas serrarias. Compreende o corte de blocos brutos em chapas (Foto 2 e 3), por meio de equipamentos denominados teares, ou em tiras e ladrilhos por meio de talha-bloco para a produção de ladrilhos. A grosso modo, cada metro cúbico de pedra bruta gera 30 m2 de chapas, variando
  • 5. de acordo com a espessura da chapa, tipo e qualidade do material. O último processo de transformação ocorre nas marmorarias, cujos principais produtos são materiais de revestimento interno e externo em construções, além de peças isoladas como bancadas, soleiras, rodapés e objetos de decoração. Para atender à demanda do consumidor final, as marmorarias situam-se na fase do corte que dá dimensões e detalhes de acordo com as especificações requeridas. Os bloquetes são blocos pequenos e irregulares, geralmente com menos de 50 cm de aresta, que sobram nas pedreiras e são aproveitados por algumas serrarias na fabricação de ladrilhos. Através de talhas blocos semelhantes a “mini teares”, os bloquetes são serrados diretamente em ladrilhos. Este tipo de processo, muitas vezes artesanal, é comum na região norte do estado da Bahia na produção de ladrilhos de mármore bege. Os materiais, muitas vezes refugados nas pedreiras, que não possuem dimensões apropriadas para blocos ou bloquetes, são utilizados por empresas de artesanato mineral, na feitura de mosaicos para tampos de mesa, esferas, objetos de adorno e utilidades, como abajures, cinzeiros, castiçais (NERY; SILVA, 2001). O equipamento mais comum na serragem de granitos é o tear convencional, constituído por multi-lâminas. O corte do bloco se dá pela combinação da lama abrasiva (mistura de granalha, cal e água), conduzido por um conjunto de lâminas movimentadas pelo tear. As lâminas, geralmente são provenientes de São Paulo ou Santa Catarina, e a granalha, de São Paulo e Cachoeiro do Itapemirim (SPÍNOLA, 2003).
  • 6. FOTO 1 Extração de granito branco Jazida em Medeiros Neto - BA Fonte: Spínola (2003) FOTOS 2 e 3 Blocos e Chapas de Granito, na serraria “Granitos Venécia” Teixeira de Freitas - BA Fonte: Spínola (2003) FOTO 4 Ladrilhos de mármore do tipo bege ou travertino Fonte: Spínola (2003)
  • 7. O tear convencional vem sendo crescentemente substituído pelo tear de lâminas diamantadas, sobretudo na serragem do mármore bege (Foto 4). Nestes, o corte se dá pela ação abrasiva de segmentos diamantados com lâminas de aço. Os insumos (lâminas de aço e segmentos diamantados) são importados. Segundo o engenheiro de minas e presidente da Associação Comercial de Jacobina, Kurt Menchen, enquanto um tear convencional leva cem horas para serrar um bloco de 6 m3 de mármore Bege Bahia, o de lâminas diamantadas leva dez horas (IBID, 2003). Logo, a produtividade deste pode ser até dez vezes maior que a do convencional. Na média, um tear convencional produz 1500 m2 de chapas de mármore do tipo travertino por mês e o de lâminas diamantadas, de 6.000 a 8.000 m2. Tanto as chapas de mármores como as de granito, em geral, após a serragem são polidas. No caso do mármore, cuja superfície é mais irregular, primeiramente ocorre o processo de estucamento, que tem a função de fechar os poros existentes na superfície da chapa bruta com resinas especiais. Em seguida, o polimento dá brilho e lustre ao material. Em se tratando do mármore bege, devido à elevada porosidade, o estucamento e polimento são fundamentais. O principal equipamento utilizado é a politriz, cujos principais tipos são: manual de bancada fixa, e a multicabeça com esteira transportadora. Na primeira as chapas ficam deitadas num balcão de concreto, para serem polidas por um cabeçote que contém os abrasivos e é conduzido por um trabalhador. Por este motivo não dá um brilho homogêneo ao produto, uma vez que é pouco provável que o trabalhador aplique a mesma força e dê o mesmo tempo de polimento a todos os lugares do material bruto (VILLASHI FILHO; PINTO, 2000). O segundo tipo, a politriz automática, pode ser visualizada na Figura 5, e se fabrica no Brasil, em Cachoeiro do Itapemirim e São Paulo.
  • 8. FOTO 5 Politriz automática – Granitos Venécia Teixeira de Freitas, BA, 2002 Fonte: Spínola (2003) Encontram-se no Brasil, especificamente no Espírito Santo, unidades de beneficiamento de granito de altíssima produtividade, com maquinário de origem italiana, a exemplo da marca Gaspari Menoti. Sua produção atinge 1,1 mil m2 de chapas por dia. A seqüência do maquinário é toda automática, com condução das chapas a uma politriz, um forno de desidratação com capacidade para 80 chapas, seguido da etapa de resinagem, outro forno de secagem e uma máquina recortadora, onde as chapas são refiladas nos quatro lados e catalogadas (FORNAZIER, 2004). 3. MERCADO MUNDIAL O mercado internacional de rochas ornamentais é caracterizado pela participação de grandes grupos compradores que controlam o fluxo de material oriundo de países do Terceiro Mundo em relação aos países industrializados da Europa e Ásia (NERY; SILVA, 2001). Firmas produtoras de rochas ornamentais estabelecidas no mercado internacional, sobretudo as italianas, detêm avançada tecnologia no que se refere à extração e beneficiamento, bem como o domínio dos canais de distribuição. Entretanto este quadro está se transformando devido aos avanços e agressividade da indústria chinesa. A produção mundial de rochas saltou de 2,0 milhões de toneladas nos anos 20 do século passado para 67,5 milhões em 2002. As rochas carbonáticas
  • 9. representam aproximadamente 58% desse volume; as silicáticas, 37%; as ardósias, 5% (MONTANI, 2003, apud MELLO, 2004). Em 2002, a Ásia, puxada pela China, Índia e Irã, ultrapassou pela primeira vez a Europa na produção de pedras naturais, ao responder por 43% do total produzido no mundo. Segundo Mello (2004), a Europa reúne os mais tradicionais e importantes produtores mundiais: Itália, Espanha, Portugal, Turquia e Grécia, posicionando-se logo atrás da Ásia, com 42% da produção. Embora a Itália seja o núcleo difusor de inovação tecnológica dessa indústria, a China assumiu o papel que foi seu até o final dos anos 1990, de principal produtor e exportador mundial, principal importador de produtos brutos e maior exportador de manufaturados. A Itália permanece como maior exportador de máquinas, equipamentos e tecnologia, cujo maior importador é a China. A Figura 2 mostra a participação dos principais países na produção mundial. No que se refere às importações mundiais, a China aparece como maior importador do volume total de mármores e granitos brutos, seguida da Itália (Figura 3). Esta é, contudo, o maior importador de granitos brutos e a China de mármores brutos (Figuras 4 e 5). FIGURA 2 Principais Produtores - ano 2002 Outros China 4,10%3,70% 3,40% Itália 6,30% 32,40% 7,90% Índia Espanha Irã 9,60% Brasil 11,90% 20,80% Turquia Portugal Fonte: MONTANI (2003) apud Mello (2004)
  • 10. FIGURA 3 Participação dos países nas importações mundiais - volume físico em 2002 - Total Comercializado China Itália EUA 10% 8,50% Alemanha 43,00% 8,20% Japão 7,40% Coréia do Sul 3,80% 5,70% 6,90% Taiwan 6,10% Espanha Outros Fonte: MONTANI (2003) apud Mello (2004) Obs: Volume físico em 2002: 25,3 milhões de toneladas. FIGURA 4 Participação dos países nas importações mundiais - volume físico, em 2002 - Mármores Brutos China Itália Espanha 32,40% EUA 37,70% Grécia Hong-Kong 2,40% 9,70% Taiwan 2,80% 4,00% 4,40% Suíça 2,90% 3,70% Outros Fonte: MONTANI (2003) apud Mello (2004) Obs: Volume físico em 2002: 3,8 milhões de toneladas. FIGURA 5
  • 11. Participação dos países nas importações mundias - volume físico, em 2002 - Granitos Brutos Itália China Taiwan 19,10% 33,20% Espanha Alemanha EUA 14,80% 2,30% França 2,40% 12,50% 7,70% Suiça 3,60% 4,40% Outros Fonte: MONTANI (2003) apud Mello (2004) Obs: Volume físico em 2002: 8,4 milhões de toneladas. FIGURA 6 Participação dos países nas im portações mundiais - volume físico, em2002 - Processados Especiais EUA Coréia do Sul 15,40% Japão 32,10% 14,80% Áustria Alemanha 2,40% Arábia Saudita 14,40% 4,70% 11,20% Bélgica 5,00% Outros Fonte: MONTANI (2003) apud Mello (2004). Obs: Volume físico em 2002: 9,6 milhões de toneladas. Os Estados Unidos são o maior importador mundial de produtos beneficiados, do tipo chapas e padronizados de mármores e granitos, pouco à frente da Coréia do Sul e Japão. A Alemanha é o maior comprador de produtos processados simples (pedras e placas para calcetar). Segundo Nery e Silva
  • 12. (2001), os Estados Unidos optaram por reduzir ao mínimo seu parque industrial de teares a partir de 1995, o que explica sua posição como principal importador de semi-manufaturados. Na Tabela 1, apresentam-se dados referentes às importações norte- americanas de granitos semi-manufaturados por país de origem. Vale ressaltar que o Brasil já é o segundo maior fornecedor de granitos serrados no mercado norte americano, e que sua posição já está muito próxima à da Itália, primeiro fornecedor. TABELA 1 Importações de Granito Serrado pelos EUA (código SH/NCM 6802.23) VALOR US$ CIF QUANTIDADE – m2 PAÍSES 2001 2002 2003 2001 2002 2003 Itália 14.582.931 18.057.984 19.536.464 13.432 17.419 19.125 Brasil 7.836.471 14.358.279 19.231.792 10.102 20.184 26.367 Índia 5.604.411 7.354.163 8.785.840 6.352 7.598 8.357 China 4.982.596 5.114.570 7.397.993 7.679 8.430 9.313 Canadá 2.264.689 1.355.582 1.091.426 4.114 3.185 2.164 Espanha 1.002.735 1.105.935 2.478.282 1.470 1.081 2.533 México 93.122 414.127 945.657 62 209 452 África do Sul 611.972 275.800 340.839 380 331 261 Taiwan 737.110 302.490 79.160 750 394 104 Outros 1.102.660 1.171.489 1.639.310 1.600 1.239 1.707 Total 38.818.697 49.510.419 61.526.763 45.941 60.070 70.383 Fonte: Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia (Promo, 2004). Base de dados Tradstat. Dados coletados em maio de 2004. Segundo Mello (2004), os preços médios praticados pelos países produtores nas vendas internacionais de blocos oscilam entre US$ 300/m3 e US$ 700/m3 FOB, para os granitos, e entre US$ 500/m3 e US$ 1300/m3 FOB, para mármores. Os semi-manufaturados, como chapas polidas e ladrilhos, têm preços entre três e cinco vezes maiores em relação à matéria prima. Já os produtos finais – peças padronizadas, peças sob medida ou personalizadas, como bancadas de pias, o preço por conteúdo pétreo pode atingir seis a dez vezes mais que os materiais brutos. As transações com produtos processados – chapas e ladrilhos – têm mostrado um crescimento constante, já superando as transações com produtos brutos (MELLO, 2004). Os substitutos mais próximos das pedras ornamentais são os produtos cerâmicos. De acordo com Mello (2004), a partir dos anos 1990, o consumo destes vem aumentando a taxas superiores a dos revestimentos pétreos. Para cada metro quadro de rochas ornamentais, consomem-se sete metros quadrados de cerâmica. O maior concorrente nos últimos anos tem sido o grés porcelanato,
  • 13. que imita a aparência das pedras naturais. Contudo, os mármores e granitos detêm características nobres que os tornam únicos. Justamente por se tratar de produtos naturais sobrevivem aos modismos e podem ser considerados clássicos. Uma das características do novo protecionismo comercial é a proliferação de barreiras não tarifárias, a exemplo da crescente exigência pela qualidade. O atendimento a padrões de nomenclatura, funcionalidade e durabilidade, com base em normas técnicas específicas, será cada vez mais exigido na comercialização de rochas ornamentais. Daí a importância da capacidade de internalizar novas tecnologias como fator determinante da competitividade. Para ingressar no mercado internacional é preciso adequar o produto às especificações demandadas. Para a União Européia, por exemplo, o Comitê Europeu de Normatização – CEN, criou o corpo técnico CEN.TC. 246 Natural Stone, que estabelecerá normas para especificação de materiais, ensaios e produtos. Os padrões definidos pela CEN.TC.246 serão adaptadas à ISO.TC.196 Natural Stone, que regulará a utilização das pedras naturais no mercado global – Peiter et al (2001). O Brasil terá que atingir os padrões ISO. TC. 196 para ocupar posição de maior destaque no mercado internacional – (PEITER et al 2001). 4. A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ROCHAS ORNAMENTAIS 4.1 Dados Gerais Segundo Chiodi (2003), a produção brasileira de rochas ornamentais é de aproximadamente 6,0 milhões de toneladas, principalmente em blocos, existindo cerca de 600 tipos comerciais, dos quais 57% são de granito e 17% de mármores e travertinos. O restante inclui ardósias (8%) e quartzitos (5%). Estima-se que 75% da produção nacional são destinados ao mercado interno. Os estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia detêm mais de 70% do total produzido nacionalmente. O estado do Espírito Santo produz o equivalente a 47% do total do país. É seguido de Minas Gerais, com cerca de 18%. A Bahia é o terceiro maior produtor e responde por quase 10% da produção nacional. De acordo com Nery e Silva (2001), os principais municípios produtores de mármores do Brasil são: Cachoeiro do Itapemirim (ES), Ourolândia, Campo Formoso e Mirangaba (BA), Italva (RJ), Fronteiras (PI). Os principais municípios produtores de granito são: Nova Venécia, Barra de São Francisco e São Gabriel (ES), Rui Barbosa e Medeiros Neto (BA), Formiga e Itapecerica (MG).
  • 14. QUADRO 1 Dados Gerais da Indústria de Rochas Ornamentais por Estado da Federação (Base 2000 – Estimado) % dentro do estado Capacidade de Mão-de-obra Marmorarias mil m /ano Frentes de Serragem Produção mil t/ano Federal %Brasil %Brasil %Brasil %Brasil %Brasil %Brasil Teares 2 Lavra União Tipo de direta Rocha ES 2.400 47 Granito 90 900 61 400 30 25.000 61 360 5 20.000 19 Mármore 10 MG 1.103 22 Granito 38 66 4 160 12 1.600 4 1.000 15 21.000 20 Ardósia 37 Quartzito 20 Outras 5 BA 490 10 Granito 52 48 3 97 7 1.200 3 180 3 3.200 3 Mármores 25 Quartzito e Arenito 23 PR 320 6 Granito 32 69 4 12 1 1.700 5 300 5 3.500 0 Mármores 25 Outras 43 RJ 260 5 Granitos 25 150 7 230 33 2.600 7 630 9 13.800 13 Mármores 5 Miracema 70 CE 180 2 Granito 85 44 3 57 3 1.100 3 60 1 1.400 1 Pedra Cariri 15 GO 122 2 Granito 50 7 0 36 3 170 0 100 1 1.700 2 Quartzito 50 RS 86 2 Granito 58 51 3 78 6 1.200 3 270 4 3.800 4 Basalto 42 PB 63 1 Granito 100 9 0 12 1 330 1 20 0 400 0 SP 60 1 Granito 100 160 10 30 2 3.800 10 3.000 49 31.000 29 PE 47 1 Granito 100 21 1 13 1 500 1 60 1 800 1 Demais 55 0 49 4 38 1 1.430 3 469 7 5.120 5 Total 5.186 100 1.574 100 1.163 10 40.630 100 6.449 100 105.720 100 0 Fonte: Peiter (2001) apud Spínola (2003) Chiodi (2003) estima que existam 1500 frentes de lavra ativas no país, com um parque de beneficiamento de blocos com capacidade para serragem de 40 milhões de m2/ano. A produção e comercialização são desenvolvidas por quase 11.000 empresas, 1.000 delas atuando na lavra, 2.000 no beneficiamento primário (serrarias), 7.000 no beneficiamento final (marmorarias) e 650 na exportação (MELLO, 2004). Por sua vez, segundo a Abirochas – Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais, existem atualmente 877 empresas exportadoras de rochas ornamentais no Brasil. Dessas, 80% são pequenas, 13% são micros e 7% são médias (Pequenos exportam, 2004). A classificação de porte seguiu o critério de faturamento do Ministério do Desenvolvimento (MDIC). O Quadro 1 mostra um retrato da indústria brasileira de rochas ornamentais por estado em 2000. Embora alguns dados estejam possivelmente defasados, pode- se visualizar como o setor encontra-se distribuído por estado da federação.
  • 15. No início da década de 1980, a produção brasileira de rochas ornamentais era constituída principalmente por mármore. Contudo, a abertura de mercado para exportação deu grande impulso à expansão do granito a partir do final da década. A produção de mármore, por sua vez, foi orientada para atender ao mercado interno. As tecnologias de polimento mais difundidas no país, sobretudo a manual, não conseguiam proporcionar às chapas ou ladrilhos polidos de mármore o padrão de qualidade exigido pelo mercado internacional. Itália, Espanha e Portugal, e, recentemente, Grécia, Índia e Turquia têm disponibilizado para o mercado mundial mármores de qualidade significativamente superiores, particularmente em termos estéticos e de rara beleza. Segundo Spínola (2003), tanto a produção de manufaturados de granito como de mármore, que vinha aumentando entre 1991 e 1994, sofreu um desaquecimento entre 1994 e 1995, provavelmente em função do crescimento da oferta do produto importado, favorecido pela política aduaneira, de redução de tarifas de importação, e pela política cambial, de valorização da moeda nacional. A partir de julho de 1993, a alíquota do imposto de importação para os produtos pertencentes ao capítulo 6802 (rochas processadas) e capítulos 2515 e 2516 (rochas carbonáticas e silicáticas em bruto) da NCM1 passou a ser zero. A prolongada apreciação da moeda nacional entre 1994 e 1998 aparentemente contribuiu para a entrada de chapas e ladrilhos de mármore via importação. De fato, segundo Spínola (2003), tanto a produção de mármore bruto quanto de manufaturado decresceu entre 1996 e 1998. A partir de 1999, a produção de mármore foi se recuperando. A depreciação da moeda, a partir da implantação do câmbio flutuante no início de 1999, certamente concorreu para essa retomada. A produção de granito, por sua vez, que havia caído em 1995, continuou aumentando até 1998, sem tanta pressão de importações, pois seu preço no mercado internacional é superior ao do mercado interno. Com base na pesquisa empírica realizada em janeiro de 2002 entre os produtores de chapas de granito no extremo sul do estado da Bahia, verificou-se que o preço de exportação da chapa serrada era 100% maior que o preço interno (SPÍNOLA, 2003). 1 NCM – Nomenclatura Comum do Mercosul para classificação de mercadorias
  • 16. 4.2 Consumo Interno Em 2002, de acordo com o Quadro 2, o consumo interno de blocos não manufaturados foi de 925 m3, representando um crescimento de 9,0 % em relação a 2001, que já havia apresentado um crescimento ainda maior, 13,5%, relativo a 2000. O aumento do consumo justificou o ingresso de expressivo número de novos teares no parque industrial, com expansão da capacidade de beneficiamento e diminuição da taxa de ociosidade dos equipamentos. No ano 2002, o consumo interno de produtos acabados foi da ordem de 27,3 milhões de m2. São constituídos pelos ladrilhos para pisos e revestimentos internos e externos, peças de arte funerária, tampos de mesa, bancadas de pia, soleiras, divisórias, escadas, colunas, monumentos e esculturas, dentre outros. QUADRO 2 Consumo Aparente de Mármores e Granitos 1992-2002 – em mil Consumo Ano Aparente Variação Consumo Aparente Variação material bruto/m3 (%) produtos manufaturado/m2 (%) 1992 411 12.804,00 1993 478 16,30 14.900,00 16,37 1994 530 10,88 16.402,00 10,08 1995 470 -11,32 14.559,00 -11,24 1996 505 7,45 15.765,00 8,28 1997 487 -3,56 15.076,00 -4,37 1998 516 5,95 15.969,00 5,92 1999 619 19,96 18.552,00 16,18 2000 748 20,84 21.748,00 17,23 2001 849 13,50 23.800,00 9,44 2002 925 8,95 27.300,00 14,71 Fonte: Nery e Silva,(2003) / DNPM-DIDEM Com base nos dados do Quadro 2, ao se calcularem as médias anuais de crescimento do consumo interno entre 1993 e 2002, numa série de dez anos, obteve-se 8,45% ao ano para materiais brutos e 7,87% ao ano, para os bens manufaturados. 4.3 Exportações O Brasil ocupa atualmente o quarto lugar como exportador de material bruto. Segundo Chiodi (2003), a posição brasileira como exportador de rochas processadas evoluiu sensivelmente nos últimos anos. O país saltou da 12a posição do ranking dos maiores exportadores de rochas semi-manufaturadas, em
  • 17. 1999, para a oitava em 2001. Estima-se que tenha se tornado o sexto maior exportador de rochas processadas em 2003 (CHIODI, 2003), já sendo o segundo maior fornecedor nos Estados Unidos. Com base nos dados da Tabela 2, a taxa média de crescimento das exportações de granito serrado em dólares foi de 28% ao ano entre 1992 e 2003. Este é o carro chefe dos semi-manufaturados – NCM 6802.2301. TABELA 2 Exportações Brasileiras de Granitos Serrados por País de Destino US$ FOB mil EUA México Itália Japão Outros Total Ano US$ US$ US$ US$ US$ US$ 1992 8.208 53,43% 1.432 9,32% 328 2,14% 1.829 11,91% 3.565 23,21% 15.362 1993 11.547 53,06% 1.423 6,54% 639 2,94% 931 4,28% 7.222 33,19% 21.762 1994 13.974 48,47% 2.224 7,71% 402 1,39% 1.593 5,53% 10.637 36,90% 28.830 1995 15.797 49,79% 715 2,25% 910 2,87% 1.486 4,68% 12.819 40,40% 31.727 1996 21.056 54,02% 1.278 3,28% 1.347 3,46% 2.061 5,29% 13.233 33,95% 38.975 1997 30.553 59,87% 1.367 2,68% 1.802 3,53% 1.754 3,44% 15.558 30,49% 51.034 1998 47.715 72,11% 1.576 2,38% 901 1,36% 661 1,00% 15.321 23,15% 66.174 1999 63.212 77,28% 1.977 2,42% 886 1,08% 366 0,45% 15.354 18,77% 81.795 2000 88.705 80,00% 2.997 2,70% 1.058 0,95% 661 0,60% 17.464 15,75% 110.885 2001 94.738 78,58% 3.256 2,70% 1.361 1,13% 1.253 1,04% 19.958 16,55% 120.566 2002 136.521 81,08% 4.065 2,41% 1.859 1,10% 442 0,26% 25.486 15,14% 168.373 2003 197.700 84,98% 4.033 1,73% 1.858 0,80% 276 0,12% 28.773 12,37% 232.640 2004* 108.232 83,42% 2.781 2,14% 1.402 1,08% 80 0,07% 17.243 13,29% 129.738 Fonte: MDIC –Sistema Aliceweb Dados coletados em 2 de setembro de 2004 – NCM 6802.23.01 *jan a jun 2004 O principal destino das vendas brasileiras de granito serrado no mercado externo é os Estados Unidos, que absorve mais de 80% do valor exportado. O Brasil vem progressivamente alterando seu perfil de exportação ao comercializar cada vez mais produtos beneficiados, com maior valor agregado. Na tabela 3, aparecem as exportações de granito bruto por país de destino. Verifica-se que até o ano 2000, em valores, as exportações de blocos superavam as de granito serrado. Em 2000, as de blocos somaram US$ 112,3 milhões (Tabela 3) e as de chapas US$ 110,8 milhões (Tabela 2). A partir de 2001, o valor exportado do granito serrado foi ficando crescentemente superior ao do material bruto. Em 2003, enquanto as exportações de bloco totalizaram US$ 122,2 milhões (Tabela 3), as de chapas atingiram US$ 232,6 milhões (Tabela 2), ou seja, quase o dobro. De acordo com Mello (2004) o valor total das exportações brasileiras de rochas ornamentais poderá ficar próximo a US$ 550 milhões.
  • 18. TABELA 3 Exportações Brasileiras de Granitos em Bloco por País de Destino US$ FOB mil Italia Espanha Japão China Outros Total US$ % US$ % US$ % US$ % US$ % US$ 1992 30418 50,87 5380 9,00 4831 8,08 0 0,00 19162 32,05 59791 1993 37854 55,75 6447 9,50 2955 4,35 39 0,06 20599 30,34 67894 1994 35476 45,00 8751 11,10 3262 4,14 33 0,04 31314 39,72 78836 1995 40042 46,91 9903 11,60 3432 4,02 6360 7,45 25619 30,01 85356 1996 44748 46,67 17649 18,41 3722 3,88 8627 9,00 21132 22,04 95878 1997 56491 47,03 19470 16,21 4313 3,59 13095 10,90 26737 22,26 120106 1998 54841 47,78 23846 20,78 1437 1,25 0 0,00 34643 30,19 114767 1999 51395 45,62 21599 19,17 3211 2,85 44 0,04 36403 32,31 112652 2000 48116 42,82 21754 19,36 786 0,70 9187 8,18 32531 28,95 112374 2001 39.973 37,37 20192,9 18,88 905 0,85 13656,1 12,77 32247,3 30,14 106974 2002 41004 36,68 17926 16,04 205 0,18 23433 20,96 29209 26,13 111777 2003 34029 27,83 14597 11,94 134 0,11 38780 31,73 34715 28,39 122255 2004* 14449 31,59 5678 12,42 116 0,26 12696 27,76 12789 27,97 45728 Fonte: MDIC – dados coletados em 4/09/2004 *jan-jun NCMs: 6802.93.90; 2516.11.00; 2516.12.00 Mello (2003) aponta alguns obstáculos sistêmicos ao crescimento da indústria de rochas ornamentais no Brasil. Um deles é a dificuldade de acesso e elevado custo do seguro de crédito à exportação, uma vez que os compradores de chapas nos Estados Unidos dificilmente abrem carta de crédito. Nesse mercado prevalece o pagamento através de saque a prazo. Outro é a dificuldade de acesso ao crédito para a produção e compra de equipamentos modernos. Segundo este autor, a superação dos obstáculos requer uma maior aproximação entre as entidades representativas do setor, para uma melhor utilização do conhecimento disponível nas instituições de apoio comercial e tecnológico. Exige- se a profissionalização de um maior número de empresas, a partir de melhoria da gestão empresarial, aumento de produtividade, prática de preços sustentáveis e certificação de produtos. É também fundamental o acesso direto ao mercado internacional através de missões de negócios, participação em feiras internacionais de empresas efetivamente preparadas para a realização de vendas e cumprimento dos prazos contratados, iniciativas que devem estar associadas ao marketing da “marca Brasil”. Constata-se que as exportações de blocos neste ano de 2004 estão reduzidas em relação a 2003. No primeiro semestre de 2004 atingiram US$ 45,7 milhões, apenas 37,4% do valor total exportado no ano anterior. Este desempenho pode ser atribuído a questões logísticas. Os blocos são
  • 19. normalmente transportados em navios de carga geral, enquanto as chapas e ladrilhos em carga conteinerizada em navios de contêineres. O porto de Vitória apresenta limitações físicas para manobra de navios de grande porte no seu canal de navegação de 290 m de comprimento, considerada por Borgo Filho (2004) insuficiente para girar uma embarcação grande. O calado máximo acessível ao porto é de apenas 10,5 m. Além disso, a intensificação do processo de industrialização da China contribuiu para aumentar a demanda por contêineres, por navios, e conseqüentemente para aumento dos preços de frete. Cabe registrar que apesar das dificuldades apontadas com contêineres, as exportações de granito serrado permanecem em crescimento. No primeiro semestre de 2004, já foi contabilizado um valor exportado 55,8% do total de 2003. Este quadro evidencia que os maiores problemas estão concentrados no mercado de blocos não manufaturados. 5. A BEM SUCEDIDA INDÚSTRIA CAPIXABA DE ROCHAS ORNAMENTAIS As rochas fazem parte da história econômica do Espírito Santo. As atividades mineiras e industriais com mármores e granitos foram pioneiramente conduzidas por imigrantes europeus em Cachoeiro do Itapemirim, na região sul do estado, onde ocorrem as reservas naturais de mármore. A região norte concentra maior parte das jazidas de granito (Figura 7). Nos anos 1950, com o aproveitamento dos mármores da região sul, iniciou-se uma rede de atividades de lavra, beneficiamento, acabamento, serviços etc. Paralelamente, começava-se a explorar o granito e a exportá-lo sob a forma de blocos. A região norte do estado, cujo núcleo principal é o município de Nova Venécia, acabou se transformando numa fronteira de lavra de granitos, consolidada nos anos 1990 (A FORÇA, 2001). A vocação portuária do estado favoreceu a atividade exportadora, transformando o Complexo Portuário de Vitória no maior pólo brasileiro de exportação de rochas brutas e processadas. Por sua vez, a malha de ligação rodo-ferroviária centralizada pela Estrada de Ferro Vitória/Minas – EFVM, também contribuiu para o escoamento e distribuição da produção oriunda do estado de Minas Gerais. O número de empresas capixabas exportadoras de rochas evoluiu de 86 em 1997 para 154 em 2000, quando o estado passou a concentrar 30% das empresas de exportação do Brasil. É o maior exportador de rochas ornamentais
  • 20. brutas e manufaturadas. Na Tabela 4, pode-se visualizar as exportações de granito em bloco não manufaturado, de 1992 a 2004 por estado da federação. O Espírito Santo lidera também as exportações de granito serrado em chapas, de acordo com a Tabela 5. Trata-se do carro chefe das exportações de rochas ornamentais. A participação do Espírito Santo é de aproximadamente 70%, seguido do Rio de Janeiro, com cerca de 14%. FIGURA 7 Mapa político do Estado do Espírito Santo com Destaque dos Principais Núcleos Produtores Nova Venécia reservas de granito 88 extratoras 12 serrarias 50 marmorarias Vitória 8 serrarias 59 marmorarias Cachoeiro do Itapemirim reservas de mármore 125 extratoras 197 serrarias 248 marmorarias 30 fabricantes de máquinas Fonte: Spínola (2003) Segundo Villaschi Filho e Sabadini (2000), Cachoeiro do Itapemirim (Figura 7) possui uma história longa e consolidada, cujo ponto de partida foi a exploração do calcário. Seu desenvolvimento ocorreu de forma autônoma. Não foi induzido por políticas governamentais. Diversas famílias italianas estabeleceram- se em Cachoeiro, muitas das quais foram pioneiras na fabricação de cal. Em 1924, foi fundada uma fábrica de cimento na região que também se beneficiava
  • 21. da presença de jazidas de calcário. Villaschi Filho e Sabadini (2000) chamam a atenção de que o início da produção do mármore em Cachoeiro não se deu pela lavra de blocos, e sim pelas marmorarias, instaladas na região a partir de 1930. As atividades de extração de mármore começaram em 1957. Seus pioneiros foram os empresários de origem italiana. As serrarias somente apareceram no município a partir de 1966. Segundo esses autores, a exploração comercial do mármore e granito tem início, efetivamente, a partir dos anos 1960 e 1970. TABELA 4 Exportações Brasileiras de Granito em Bloco por Estado US$ FOB mil SP PR ES RJ BA Brasil Anos US$ % US$ % US$ % US$ % US$ % US$ 1992 4.378 7,32 155 0,26 13.430 22,46 1.429 2,39 6.641 11,11 59.792 1993 2.648 3,90 103 0,15 12.770 18,81 2.474 3,64 9.035 13,31 67.894 1994 2.469 3,13 123 0,16 14.395 18,26 2.770 3,51 11.655 14,78 78.836 1995 4.603 5,33 99 0,11 17.937 20,77 3.174 3,68 16.352 18,94 86.350 1996 4.797 4,95 72 0,07 22.093 22,79 2.514 2,59 14.522 14,98 96.935 1997 3.942 3,39 76 0,07 31.833 27,40 67 0,06 16.099 13,86 116.181 1998 2.083 1,82 11 0,01 38.479 33,68 371 0,32 15.111 13,23 114.242 1999 2.987 2,65 250 0,22 43.474 38,62 993 0,88 14.821 13,16 112.578 2000 1.313 1,52 90 0,10 53.475 61,93 1.374 1,59 14.939 17,30 86.350 2001 907 0,94 321 0,33 57.178 58,99 1.240 1,28 14.174 14,62 96.935 2002 1.943 1,67 150 0,13 57.284 49,31 849 0,73 14.939 12,86 116.181 2003 1.661 1,36 105 0,08 58.128 47,54 1.244 1,02 17.174 14,05 122.255 2004* 2.363 5,17 30 0,06 21.831 47,83 463 1,01 3.484 7,62 45.728 Fonte: MDIC – dados coletados em 4/09/2004 *jan-jun NCMs: 6802.93.90; 2516.11.00; 2516.12.00 Boa parte dos blocos serrados em Cachoeiro é extraída de localidades distantes. Granitos são trazidos dos municípios de Nova Venécia, Ecoporanga, Barra de São Francisco e Baixo Guandu, ou do sul da Bahia, oeste de Minas Gerais, e até de Goiás. Apesar da distância, pode ser vantajoso levar a pedra para corte em Cachoeiro. A concentração de teares, a abundância de mão-de- obra especializada, a maior facilidade na manutenção dos equipamentos e as condições favoráveis para venda, com afluência de compradores de todo mundo, fazem do local o núcleo mais dinâmico da indústria nacional de rochas ornamentais (COMÉRCIO EXTERIOR, 2000). Segundo depoimento de Ribeiro (2004), no Espírito Santo já existem mais de 1000 teares. A origem do beneficiamento de mármore e granito na região norte do estado, cujo núcleo é Nova Venécia (Figura 7) é mais recente. Está relacionada
  • 22. às jazidas de granito encontradas na região, bem como ao fornecimento de infra- estrutura física (terrenos, etc) e incentivos fiscais pelo governo local. O desenvolvimento das atividades de beneficiamento foi, em parte, induzido. Em 1995, a prefeitura de Nova Venécia criou uma área onde estão estabelecidas empresas de beneficiamento (90% de mármores e granitos). A primeira empresa localizada nesse pólo industrial iniciou sua atividade de serragem em 1995 (VILLASCHI FILHO; SABADINI, 2000). TABELA 5 Exportações Brasileiras de Granito Serrado em Chapas por Estado US$ FOB mil SP SP/Br PR PR/Br ES ES/Br SC SC/Br RJ RJ/Br BA BA/Br Brasil Anos US$ % US$ % US$ % US$ % US$ % US$ % US$ 1992 3.376 21,98 1.066 6,94 7.158 46,60 0 0,00 2.705 17,61 526 3,42 15.362 1993 2.692 12,37 2.684 12,33 9.178 42,17 1 0,00 3.626 16,66 956 4,39 21.762 1994 2.637 9,15 3.330 11,55 13.992 48,53 2 0,01 6.339 21,99 632 2,19 28.830 1995 4.074 12,84 3.020 9,52 17.041 53,71 32 0,10 4.364 13,76 1.578 4,97 31.727 1996 3.714 9,53 2.893 7,42 21.683 55,63 85 0,22 4.784 12,28 4.311 11,06 38.975 1997 5.999 11,76 3.384 6,63 24.769 48,53 3.973 7,78 5.962 11,68 3.910 7,66 51.034 1998 3.784 5,72 5.100 7,71 30.589 46,22 9.110 13,77 10.685 16,15 3.127 4,73 66.174 1999 5.911 7,23 6.073 7,42 39.584 48,39 9.803 11,98 15.326 18,74 2.312 2,83 81.795 2000 8.028 7,24 8.026 7,24 61.062 55,07 6.672 6,02 19.960 18,00 2.279 2,06 110.885 2001 7.518 6,24 8.938 7,41 68.962 57,20 5.771 4,79 19.523 16,19 1.859 1,54 120.566 2002 8.290 4,92 8.838 5,24 109.850 65,16 5.839 3,46 26.902 15,96 1.421 0,84 168.573 2003 12.495 5,37 11.275 4,85 161.647 69,48 5.634 2,42 31.766 13,65 923 0,40 232.640 2004* 5.681 4,38 5.430 4,19 92.725 71,47 2.735 2,11 16.862 12,99 440 0,34 129.738 Fonte: MDIC – dados coletados em 4/09/2004 *jan-jun NCM 6802.32.01 As firmas extratoras do norte do estado funcionam há quase 20 anos em diferentes municípios dessa região. Do total de 146 empresas existentes na região norte do estado, 88 declaram-se extratoras de pedras, 50 são enquadradas como marmorarias e apenas doze são serrarias (VILLASCHI FILHO; SABADINI, 2000). Diferentemente do que ocorre na região sul, a maior parte de empresas da região norte está concentrada nas atividades de extração. Já na Grande Vitória, das 67 firmas registradas por Villaschi Filho e Sabadini (2000), 59 eram marmorarias e apenas oito eram enquadradas como serrarias. Estes dados podem estar defasados, contudo dão idéia da distribuição das empresas por ramo de atividade em Nova Venécia. Os produtores de bens de capital estão localizados na região de Cachoeiro do Itapemirim. De acordo com a estimativa da Associação dos Fabricantes de Máquinas, Equipamentos e Acessórios para a Indústria de Mármore e Granito
  • 23. (Maqrochas), o Espírito Santo respondeu pelo fornecimento de metade do volume de equipamentos consumido no Brasil em 2002. Dos 50% restantes, 25% foram importados e 25% fabricados por outros estados (SPÍNOLA, 2003). Segundo Ribeiro (2004), o Espírito Santo já é exportador também de máquinas. Os empresários de rochas ornamentais do Espírito Santo têm elevado poder de barganha em nível nacional. Os recursos da Agência de Promoção das Exportações (Apex) destinados ao setor são praticamente monopolizados pelos produtores capixabas que também detêm o controle das associações nacionais ABIEMG e ABIROCHAS, além de contarem com apoio do Centro Tecnológico do Mármore e Granito (Cetemag). Criado em 1988, o Cetemag coordena e executa políticas de desenvolvimento para o setor de rochas. Segundo Spínola (2003), o bom desempenho do segmento de rochas ornamentais do Espírito Santo decorre da combinação de uma série de fatores: 1) reservas naturais; 2) componente histórico cultural: presença de imigrantes de origem italiana, cujos conhecimentos tácitos3 referentes a produtos e processos contribuíram para uma aglomeração espontânea de firmas do ramo; 3) localização: proximidade ao maior mercado consumidor nacional, na região mais desenvolvida do país, a sudeste; 4) boa infra-estrutura rodoviária e ferroviária; 5) manutenção de um complexo portuário com partidas regulares de navios para os maiores países consumidores, embora sua infra-estrutura esteja insuficiente em muitos aspectos para atender às demandas atuais do setor; 6) presença de empresas organizadas e instituições consolidadas, orientadas por objetivos claros; 7) presença de uma indústria de bens de capital; 8) oferta de mão-de-obra capacitada; 9) difusão de tecnologia aplicada ao setor, com colaboração do Cetemag; 11) política comercial agressiva e conjunta das empresas. Pode-se afirmar que o caso mais próximo de um arranjo produtivo maduro, em se tratando do segmento de rochas ornamentais no Brasil, é o que se encontra na região sul do Espírito Santo, cujo núcleo é Cachoeiro do Itapemirim. 6. A INDÚSTRIA BAIANA DE ROCHAS ORNAMENTAIS 6.1. Dados gerais 3 O conteúdo tácito de uma tecnologia é aquela parte do conhecimento tecnológico que está incorporada nas rotinas das firmas e nas habilidades das pessoas, e que não pode ser transferida ou absorvida através de manuais, fórmulas, livros ou outras formas codificadas de informação (SCATOLIN et al., 2002).
  • 24. Como terceiro maior produtor brasileiro de rochas ornamentais, o estado da Bahia conta hoje com 83 empresas do setor, detentoras de 112 pedreiras, das quais 31 são de mármores e 81 de granitos. Deste universo de empresas, 39 são exportadoras. Entretanto, a maioria destas fornece o produto em blocos não manufaturados. Apenas cinco empresas exportam o produto semi-manufaturado. O padrão de cor é considerado o principal atributo para qualificação de uma rocha. Em função das características cromáticas, os materiais são enquadrados como clássicos, comuns ou excepcionais. Conforme dados da CBPM, a Bahia é o estado brasileiro que possui a maior variedade de padrões e cores de granitos do país. As rochas excepcionais têm como principal atributo competitivo a diferenciação de produto, são caras, e atendem a nichos de mercado, enquanto as comuns têm sua competitividade baseada em economias de escala. Identificam-se quase 90 tipos de rochas na Bahia, agrupadas em excepcionais, exóticas e comuns. O estado é o único produtor do Granito Azul Bahia e do Azul Macaúbas, que são considerados excepcionais, e do Mármore Bege Bahia, uma das rochas mais consumidas no Brasil, cujas vendas são orientadas para o mercado interno. Cerca de 10% de sua produção bruta é vendida para outros estados. Os 90% restantes são serrados em chapas e ladrilhos dentro do próprio estado, nos municípios de Jacobina, Ourolândia, Feira de Santana e Rui Barbosa, também predominantemente destinados ao mercado nacional. 6.2 Principais categorias e distribuição geográfica Granitos Excepcionais. Granito Azul Bahia, Quartzitos Azul Imperial e Azul Macaúbas. São encontrados no município de Potiraguá, direção sudoeste do estado próximo à divisa com Minas Gerais (Figura 8). A produção das rochas excepcionais é pequena porque suas jazidas não são de fácil extração. Os azuis, utilizados em detalhes arquitetônicos e de decoração, são explorados por empresas extratoras sediadas no Rio de Janeiro, onde são serrados em chapas. O granito azul é quase uma preciosidade. Enquanto o preço médio do bloco de granito é vendido por aproximadamente US$ 600/m3 FOB Brasil, o preço do azul pode chegar a US$ 4.000/m3 por tonelada (NERY; SILVA, 2001). A Bahia é seu único produtor brasileiro. Há também jazidas dessa categoria de rochas na Noruega e Zâmbia (NERY; SILVA, 2001).
  • 25. FIGURA 8 Mapa Político do Estado da Bahia - Principais municípios produtores de rochas ornamentais Ourolândia • • Teixeira de Freitas Granitos Exóticos. Granitos movimentados e rosados. Estes representam o maior volume de exportação da Bahia em blocos. Existem reservas nos municípios de Itaberaba, Macajuba e Rui Barbosa, na Chapada Diamantina, direção centro oeste do estado (Figura 8). A empresa Corcovado, com sede no Espírito Santo, é a grande exportadora desses materiais em estado primário. Sofrem forte concorrência dos granitos espanhóis, cujos preços são mais competitivos. Também pertence a esse grupo o Kashmir Bahia, comercializado exclusivamente pela Peval S/A, cuja pedreira fica em Jequié, direção sudoeste do estado. Granitos Comuns. São os brancos, amarelos, verdes e marrons. Suas jazidas estão nas regiões sul e sudoeste, nos municípios de Guaratinga,
  • 26. Intanhém, Medeiros Neto, Itapebi, Jequié, Jitaúna, Itarantim e Riacho de Santana (Figuras 7 e 8). Ressalta-se que a região sul é uma extensão geológica do Espírito Santo, para onde também se estende a Serra do Mar. Em Guaratinga, encontra-se o amarelo, categoria de rocha mais comum do Espírito Santo. Além do Brasil, a Namíbia também é produtor desse tipo de pedra. Em Jequié, as jazidas do verde, conhecido como Verde Glória, são de difícil extração. Em Riacho de Santana há também reservas de granito marrom, conhecido como Café Bahia. Mármores Brancos. Em Belmonte, encontra-se o mármore branco acinzentado, o Arabescato Bahia, de onde se iniciou, no ano 2000, a exportação de blocos para Portugal, cuja jazida estava paralisada desde a década de 1970. Este material apresenta semelhança com o famoso Mármore de Carrara, da Itália. Há ainda o Pérola Bahia, proveniente do município de Uauá, direção norte do estado (Figura 8). Granito negro. Há ocorrências do negro nos municípios Ibiassucê e Floresta Azul. Parte dele é consumida no mercado interno e parte é exportada para os Estados Unidos. Seu preço externo foi reduzido em função do aumento da oferta no mercado internacional, pela Índia e pelos países africanos. A Espanha, Itália e México, embora não possuam reservas, são produtores do granito negro manufaturado. Mármore Bege Bahia. O estado da Bahia é o único estado brasileiro a produzir esse tipo de mármore. Sua ocorrência estende-se pelo Vale do Salitre, na direção noroeste do estado. O município de Ourolândia, localizado na região conhecida como Piemonte da Diamantina, detém 90% de suas reservas. Os demais produtores são: Campo Formoso, Mirangaba, Morro do Chapéu e Itaguaçu da Bahia (Figura 8). Jacobina é maior núcleo urbano da região com aproximadamente 100 mil habitantes. Ourolândia tem entorno de 20 mil habitantes. Diferentemente das rochas excepcionais, o Bege Bahia é uma rocha produzida e consumida em larga escala. Por ser mais poroso, seu custo de serragem é inferior ao do granito. É uma das rochas de consumo mais amplo e difundido no Brasil.
  • 27. 6.3. Atividades de beneficiamento As atividades de beneficiamento de pedras ornamentais na Bahia são desenvolvidas por apenas 20 unidades agrupadas no Quadro 3, de acordo com a localização, matéria prima e processo produtivo. São todas micro, pequenas ou médias empresas. Dentre elas, cinco são exportadoras de manufaturados, as quais são de pequeno e médio porte. Não há microempresas exportadoras. Os municípios onde estão implantadas essas empresas podem ser localizados na Figura 8: Salvador, com duas serrarias na sua periferia industrial, uma delas em implantação; Feira de Santana, com duas unidades; Jacobina e Ourolândia, na direção noroeste, com doze; Rui Barbosa, direção centro oeste, com uma; Teixeira de Freitas, no Extremo-Sul, com três. QUADRO 3 Serraria produtoras de chapas e ladrilho - Bahia Município Mármore Bege Granito Região Metropolitana de Salvador 1* 1 Jacobina 5 Ourolândia 7 Feira de Santana 2 Rui Barbosa 1 Teixeira de Freitas 3 Total 16 4 *Em implantação no Centro Industrial de Aratu Fonte: coleta direta do Sebrae/Jacobina e da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) em jul/04 Elaboração Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia Estima-se que existam aproximadamente 252 marmorarias no estado. Segundo Ribeiro (2004), muitas destas encontram-se tecnologicamente defasadas. O governo do estado através da Secretaria de Indústria Comércio e Mineração e da CBPM está desenvolvendo um programa de recuperação do setor marmorista. Como a cadeia produtiva de rochas na Bahia não é integrada, muitas rochas de origem baiana são transportadas em bloco para o Espírito Santo onde são serradas, para retornar sob a forma de chapas e serem utilizadas pelas marmorarias.
  • 28. 6.4 O Mármore Bege Bahia 6.4.1 Dados Gerais O mármore Bege Bahia representa entre 25 a 30% da produção baiana de pedras ornamentais. Seu maior concorrente é o travertino italiano. Pelas suas características físicas, é utilizado como revestimento interno, e em bancadas ou tampos de mesas. Diferentemente do granito, não deve ser utilizado para revestimentos externos. Quando foi descoberto nos anos 1950, o produto era chamado Mármore Marta Rocha, uma alusão à famosa Miss Brasil que, como a rocha em questão, é de origem baiana. Entretanto, atualmente, no mercado interno, é mais conhecido e consolidado como Mármore Bege Bahia. No mercado internacional é denominado Bahia Travertine. Trata-se de um produto cujo nome se reporta às características e à origem, o que o faz exclusivo. Dentre os concorrentes internacionais do Bege Bahia estão: o granito verde, popular nos EUA, o travertino e boticcino (Itália) e o crema marfil (Espanha). O mármore bege é um material poroso e irregular. Embora seu custo de serragem seja menor que o do granito, seu polimento é trabalhoso e demanda utilização de insumos especiais, não encontrados na região norte do estado da Bahia. A perda de produto pode ser grande. Os produtos similares italianos são mais regulares. Apesar da Bahia possuir uma incipiente atividade de beneficiamento de rochas e se caracterizar como fornecedora de blocos brutos, sua produção de semi-manufaturados encontra-se predominantemente voltada à serragem do mármore Bege Bahia. Dezesseis das 20 serrarias do estado beneficiam esta categoria de rocha (Quadro 2). Na região de Jacobina e Ourolândia, encontram- se 12 serrarias, todas micro ou pequenas empresas estabelecidas espontaneamente, atraídas pela presença de matéria prima e pela crescente demanda do produto. Há dois anos atrás, de acordo com levantamento empírico feito em 2001 (SPÍNOLA, 2003), havia nove serrarias. Portanto, no estado já existe uma aglomeração de empresas em expansão voltadas ao beneficiamento do mármore Bege Bahia. Atualmente, segundo Biglia (2004), há sete teares de lâminas diamantadas instalados em Ourolândia. Há quatro anos atrás não havia nenhum. As empresas estão se reestruturando e expandindo suas capacidades com recursos próprios.
  • 29. Vale lembrar que há também uma serraria de mármore Bege Bahia em Aracaju, a Flama, cuja atividade de mineração encontra-se em Ourolândia. Além do núcleo de beneficiamento em Jacobina e Ourolândia, existem três serrarias em Cachoeiro do Itaperimirim – ES; uma, em Feira de Santana; uma, em fase de implantação no CIA; uma, em Rui Barbosa. Embora a produção de chapas e ladrilhos se destine principalmente ao mercado interno, as empresas que dispõem de tecnologia de beneficiamento mais avançada estão começando a exportar, a exemplo da Bege Bahia Mármores, em Ourolândia, e a Conde Export, em Rui Barbosa. Na região do Vale do Salitre, existem 29 lavras de Bege Bahia, das quais nove estão paralisadas ou desativadas (RIBEIRO et al., 2003). Das 20 em atividade, nove utilizam fio helicoidal como método de extração, e apenas uma, a Flama (Foto 6), usa fio diamantado, técnica mais avançada. As demais jazidas recorrem ao martelo, explosivos, pólvora, compressor e perfuratriz. Segundo Ribeiro et al.(2002), os cortes contínuos são os mais recomendados na extração desse tipo de rocha. Todavia, é evidente que o fio helicoidal é a técnica mais comum nas lavras da região. Mesmo que este tipo de fio proporcione cortes de superfícies maiores, trata-se de uma técnica ultrapassada nos centros produtores usuários de tecnologia avançada, onde se dá preferência ao fio diamantado. FOTO 6 Mineração Flama (Ourolândia/BA). Única lavra a utilizar a técnica de fio diamantado para extração do Bege Bahia Fonte: Spínola (2003)
  • 30. 6.4.2 Oportunidades de Mercado e Desenvolvimentos Tecnológicos O consumo do mármore bege nos Estados Unidos, importado sob a forma de chapas ou ladrilhos, tem sido crescente. Seu maior fornecedor é a Itália com o travertino italiano, consolidado no mercado. Nos Estados Unidos, o produto italiano importado é taxado em 5%. Por outro lado, não há incidência de imposto na importação sobre o produto brasileiro, já que é negociado no Sistema Geral de Preferência (SGP) norte americano. Além disso, a implantação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), projetada para 2005, apresenta-se como uma oportunidade para se ampliar a presença do Mármore Bege Bahia naquele mercado. De acordo com dados levantados pelo Promo (2004), através de consulta ao banco de dados Tradstat (www.tradstat.com ) em 23 de março de 2004, os Estados Unidos importaram US$ 34,2 milhões em mármore travertino sob a forma de chapas (NCMs 6802.21.50 e 6802.21.10) no ano de 2003, dos quais 37,45% foram provenientes da Itália; seguida da Turquia, com 25,29%; e do México, com 14,39%. O Brasil ocupa a 15a posição como fornecedor deste produto no mercado norte americano, participando com apenas 0,42%. O baixo índice decorre da produção brasileira de mármore ter se voltado essencialmente para o mercado interno, ao contrário do granito, como foi explicado na introdução do corrente estudo. Ressalta-se que a Turquia conseguiu alcançar elevada posição porque desenvolveu uma agressiva estratégia de marketing e aperfeiçoamento do produto. A capacidade instalada das jazidas de mármore bege em atividade na região de Jacobina e Ourolândia é estimada em 55.000 m3/ano. A capacidade de serragem da região foi estimada em 700.000 m2/ano em 2003 por Ribeiro (2004). Entretanto, com a instalação de novos teares ao longo de 2004, esta deve ser aumentada significativamente. Considerando que cada m3 de pedra bruta gera aproximadamente 30m2 de rocha serrada, constata-se que a produção atual de blocos tem potencial para produzir 1.650.000 m2 de chapas (55.000 m3 X 30 m²/m³). Ao ser transformado em chapas ou ladrilhos, cada m3 de mármore bege gera uma receita pelo menos quatro vezes e meia superior àquela auferida na venda do bloco bruto.
  • 31. Em 2002, as cadeias produtivas de rochas ornamentais, do sisal e do cacau foram enquadradas pelo Ministério de Ciência e Tecnologia como prioritárias, dentro do estado da Bahia, no seu programa nacional para a formação de Arranjos Produtivos Locais (APL), que vem sendo coordenado, em nível estadual, pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb). O primeiro projeto aprovado para o setor pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Desenvolvimento Integrado do Mármore Bege Bahia – DETIMBA (ref. FINEP/FAPESB, projeto n° 2007/02, convênio n° 22.02.0457.00), orçado em R$ 490,45 mil e com duração de 12 meses, está sendo implantado no ano de 2004. Envolve o Instituto de Geofísica e a Escola Politécnica, entidades da Universidade Federal da Bahia (Ufba); o Senai; a CBPM; e o Instituto de Pesquisa Tecnológicas (IPT), vinculado à Universidade de São Paulo (USP). Seu objetivo é viabilizar a formação de um Arranjo Produtivo Local na região norte do estado da Bahia, tendo como núcleos os municípios de Jacobina e Ourolândia, através do aperfeiçoamento das técnicas de extração, serragem, polimento e produção de ladrilhos; além da capacitação de mão-de-obra nas diferentes etapas de transformação da cadeia produtiva. As ações visam, em última instância, adequar seus produtos, sobretudo os de maior valor agregado, chapas e ladrilhos, às exigências dos mercados interno e externo (SPÍNOLA, 2003). Apesar de serem ainda pouco significativas, as exportações de semi- manufaturados de mármores e travertinos vêm apresentando um comportamento ascendente, conforme Tabela 6. O baixo valor médio das exportações baianas pode ser atribuído ao tipo de mármore comercializado e à qualidade do seu polimento ainda insatisfatória para os padrões internacionais. Ressalta-se que o tipo travertino é menos valorizado que outras categorias de mármore, a exemplo do Carrara, do Pérola, e mesmo dos seus concorrentes próximos, como o Crema Marfil espanhol e o Boticcino italiano, que são menos porosos.
  • 32. TABELA 6 Exportações Brasileiras de Mármore, Travertino etc. Talhada/serrada superfície plana/lisa (NCM: 6802.21.00) Estado Valor (US$ FOB) Quantidade (kg) Valor Médio (US$ FOB/kg) 2001 2002 2003 2001 2002 2003 2001 2002 2003 Espírito Santo 439.114 457.907 419.325 399.971 661.189 951.411 1,10 0,69 0,44 Ceará - 47.597 233.920 - 86.588 463.986 - 0,55 0,5 Minas Gerais 23.351 - 39.984 15.585 - 42.000 1,5 - 0,95 Rio de Janeiro 25.375 52.919 29.046 73.603 94.159 79.653 0,34 0,56 0,36 Bahia 654 3.549 13.278 1.200 22.920 36.034 0,55 0,15 0,37 Paraná - 13.345 12.776 - 42.344 46.746 - 0,32 0,27 São Paulo 148.097 81.353 11.857 466.606 40.805 4.481 0,32 1,99 2,65 Rio Gde do Sul 18.838 788 269 41.168 2.873 464 0,46 0,27 0,58 Pernambuco - 3.725 - - 8.053 - - 0,46 - Santa Catarina 2.884 3.375 - 2.980 680 - 0,97 4,96 - Total 658.313 664.558 760.455 1.001.113 959.611 1.624.775 0,66 0,69 0,47 Fonte: MDIC/SECEX//ALICEWEB, dados coletados em 05/02/04 Elaboração: PROMO - Centro Internacional de Negócios da Bahia O governo do estado da Bahia assinou um protocolo de intenções com o ISIM, Istituto Internazionale del Marmo, para execução de um plano de trabalho a ser concluído em 2005 voltado aos melhoramentos tecnológicos do mármore Bege Bahia, com uma agenda de cursos teóricos e práticos a serem realizados em Jacobina e Salvador. Através de exames laboratoriais de amostras de bloco bruto de Bege Bahia, o ISIM está desenvolvendo técnicas de polimento adequadas para tornar o produto competitivo no mercado internacional. Os primeiros resultados foram apresentados aos empresários do setor no Seminário sobre Tecnologias Italianas para Rochas Ornamentais, em 16 de julho de 2004 em Salvador, Bahia. No médio prazo, com assessoria do ISIM, projeta-se instalar um centro de resinagem em Ourolândia para atender às serrarias locais. Ao lado desta iniciativa, o setor de rochas ornamentais, particularmente o arranjo situado em Ourolândia, foi apontado como um dos segmentos prioritários pela Rede de Apoio aos Arranjos Produtivos Locais do Estado da Bahia (coordenada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação), dentro de um conjunto de quase 20 aglomerados produtivos. 6.4.3. Alguns entraves ao desenvolvimento do APL de Mármore Bege Bahia
  • 33. No aglomerado de empresas de beneficiamento do mármore Bege Bahia, em Jacobina e Ourolândia, considerado o ponto de partida para a formação de um APL, segundo Ribeiro (2004), há questões que podem limitar a sua expansão. Dentre eles estão o abastecimento de água e a gestão dos resíduos. As atividades de beneficiamento de rochas são intensivas em água e energia. Cada tear consome 250 mil litros de água por ciclo de 20 dias. Atualmente cada empresa tem escavado o seu próprio poço artesiano, porém este processo poderá gerar problemas futuros na gestão da distribuição de água. O governo do estado deveria considerar a construção de uma central de abastecimento de água subterrânea para otimizar o aproveitamento e evitar o desperdício (Ribeiro, 2004). No ciclo de produção das serrarias formam-se depósitos de carbonato de cálcio que são jogados ao meio ambiente sem qualquer tipo de controle, agredindo a natureza entorno. Entretanto, se forem recuperados, os resíduos podem se tornar subprodutos para serem utilizados como insumo na produção de tinta, argamassa e cal. Finalmente, as tecnologias de resinamento e polimento poderiam ser aperfeiçoadas e otimizadas se contassem com uma estação central para atender as diferentes serrarias. Trata-se de uma questão relevante a ser considerada pelo recém lançado Arranjo Produtivo de Rochas pela Rede de Apoio aos APLs baianos, que deverá contar com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Os técnicos ISIM têm desenvolvido projetos semelhantes em outros países. 6.5 Beneficiamento de Granito No Quadro 4, apresentam-se a capacidade instalada das serrarias de granito da Bahia, a localização, o número de empregados e seu tipo de equipamento.
  • 34. QUADRO 4 Capacidade Instalada e Equipamentos das Serrarias de Granito da Bahia Localização Capacidade ° N° de Equipamentos Empresa Instalada m2/ mês Empre -gados Feira de Santana Granita (ladrilhos)* 4.000 29 Sistema importado (italiano) de talha-bloco, com politirz automática Teixeira de Freitas Granífera 14.000 50 5 teares nacionais com politriz automática Granitos Venécia 16.000 29 2 teares italianos com politriz automática (18 cabeças) Granitos Milano 15.000 23 5 teares nacionais com politriz automática Salvador Peval S/A 24.000 75 5 teares italianos com politriz automática Total 73.000 241 25 teares e 1 sistema de talha-bloco *A Granita tem se dedicado à produção de ladrilhos de mármore Bege Bahia Fonte: Spínola (2003) Embora a Bahia tenha grandes reservas e tipos variados de granito, a atividade de beneficiamento não tem se expandido nos últimos anos. O número de serrarias permanece o mesmo de três anos atrás. Muitas serrarias apresentam capacidade ociosa e acabam se dedicando à exportação de blocos brutos. Outras têm se voltado à fabricação de ladrilhos de mármore Bege Bahia. Algumas empresas alegam que, no mercado internacional, as exportações de blocos são pagas à vista ou com carta de crédito, enquanto as de chapas, são pagas preferencialmente com saque bancário, o que é mais arriscado. Algumas empresas alegam que não conseguem competir com o Espírito Santo, onde existe uma série de externalidades já mencionadas. Atualmente, o município de Teixeira de Freitas concentra mais da metade da capacidade de serragem de granito da Bahia. Ao se considerarem os teares efetivamente em operação, verifica-se que pelo menos 60% da produção de chapas graníticas do estado são provenientes de Teixeira de Freitas (Quadro 4). Esse dado pode ser atribuído à proximidade do Espírito Santo, uma vez que o município localiza-se a 180 km de Nova Venécia (ES), núcleo produtor de granito. Observa-se que as empresas de Teixeira de Freitas possuem estreitas relações
  • 35. comerciais com fornecedores capixabas e são usuárias da logística daquele estado. 6.6. A inserção da Bahia no mercado externo As exportações de rochas do estado da Bahia têm se caracterizado pela elevada concentração em blocos não manufaturados. Através da Figura 9 e da Tabela 4, verifica-se que a Bahia é o segundo maior exportador de blocos, depois do Espírito Santo. No primeiro semestre de 2004, contudo, apesar de não ter perdido esta posição, sua participação nas exportações brasileiras de blocos decresceram para um percentual de apenas 7,62%, enquanto nos anos anteriores este indicador ficava entorno de 13 e 14%. Alguns fatores vêm contribuindo para esta retração. Primeiramente, devido à baixa freqüência de navios de carga geral no porto de Salvador, o custo de logística tem se elevado. Algumas empresas exportam seus produtos pelo porto de Vitória ou por outros portos, o que além de encarecer o produto, compromete o cumprimento de prazos com clientes. Segundo, a conjuntura internacional vem se mostrando mais favorável aos produtos semi-manufaturados, pois a intensificação do processo de industrialização da China tem acelerado suas importações de rochas processadas, em detrimento do material bruto (Chiodi, 2004).
  • 36. FIGURA 8 Exportações de Granito em Bloco (NCM) em US$ FOB milhões (2000–2004) 60,00 SP % 40,00 PR % 20,00 ES % 0,00 2000 2001 2002 2003 2004* SP % 1,17 0,85 1,74 1,36 5,17 RJ % PR % 0,08 0,30 0,13 0,08 0,06 ES % 47,59 53,45 51,25 47,54 47,83 BA % RJ % 1,22 1,16 0,76 1,02 1,01 BA % 13,29 13,25 13,37 14,05 7,62 Fonte: Dados do Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia, com base no Sistema Alice Web, Secex. Elaboração UEP/Desenbahia FIGURA 9 Exportações de Blocos de Granito Serrado (NCM ) em US$ FOB (2000-2004) 250.000 1999 200.000 150.000 2000 100.000 50.000 2001 0 SP PR ES SC RJ BA Brasil 2002 1999 5.911 6.073 39.584 9.803 15.326 2.312 81.795 2000 8.028 8.026 61.062 6.672 19.960 2.279 110.885 2003 2001 7.518 8.938 68.962 5.771 19.523 1.859 120.566 2002 8.290 8.838 109.850 5.839 26.902 1.421 168.573 2004* 2003 12.495 11.275 221.000 31.000 31.766 923 232.640 Fonte: Dados do Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia, com base no Sistema Alice Web, Secex. Elaboração UEP/Desenbahia
  • 37. No que se refere às exportações de granito serrado, a participação da Bahia tem sido decrescente. Os produtores não conseguem economias de escala, internas ou externas, para competir com as empresas do Espírito Santo. Por outro lado, os produtos nobres da Bahia são geralmente beneficiados fora do estado, principalmente no Rio de Janeiro e Espírito Santo (Tabela 5 e Figura 9). A Bahia participa com menos de 0,5 % nas exportações dos produtos enquadrados na NCM 6802.32.01, carro chefe das vendas externas de rochas ornamentais. Vale ressaltar que este percentual chegou a atingir 11% em 1996, conforme dados expostos na Tabela 5. TABELA 7 Exportações de Rochas Ornamentais do Estado da Bahia – US$ FOB 2002 2003 Variação Partic. % % Rochas Silicáticas em Bruto (RSB) (1) 25062100 Quartzitos em bruto ou desbastados 1.009.491 1.118.325 10,78 5,50 25062900 Outras formas de Quartzitos 159.339 229.823 44,24 1,13 25161100 Granito em bruto ou desbastado 10.466.587 8.506.934 -18,72 41,87 25161200 Granito cortado em blocos ou placas 2.450.921 7.766.472 216,88 38,22 Subtotal 14.086.338 17.621.554 25,10 86,72 Rochas Carbonáticas em Bruto (RCB) (2) 25151210 Mármore Cortados em blocos ou placas 0 16.640 68029100 Mármores, travertinos, etc. 27.985 52.930 89,14 0,26 Subtotal 27.985 69.570 148,60 0,34 Rochas Processadas (RP) (3) 68010000 Pedra para calcetar meio-fio e placa p/ 0 82.260 0,40 paviment. 68021000 Ladrilhos de pedra natural/serrada 1.925 5.889 205,92 0,03 superficial. 68022100 Mármore, Travertino, etc talha/serr. sup. 3.549 13.278 274,13 0,07 plana/lisa 68022200 Outras pedras calcárias talhadas 0 1.623 0,01 68022300 Granito talhado ou serrado, de superf. plana / 1.420.839 923.137 -35,03 4,54 lisa 68029200 Pedras calcárias trabalhadas de out.modo e 0 10.327 0,05 obras 68029390 Granitos trabalhados 2.020.957 900.592 -55,44 4,43 68029990 Pedras de cantaria, trabalhadas 249.491 654.619 162,38 3,22 68030000 Ardósia Natural trabalhada 1.590 36.946 2223,65 0,18 Subtotal 3.698.351 2.628.671 -28,92 12,94 Total exportado de rochas ornamentais 17.812.674 20.319.795 14,07 100,00 Fonte: MDIC/SECEX, dados coletados em 28/01/04 Elaboração: Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia (1)Rochas Silicáticas Brutas - RCB incluem granitos e quartzitos em blocos (2) Rochas Carbonáticas - RB incluem os mármores e travertinos em blocos (3) Rochas Processadas são rochas beneficiadas, predominantemente chapas e ladrilhos A Tabela 7, exposta anteriormente, permite se observarem as exportações baianas de rochas ornamentais por diferentes categorias de produtos em 2002 e
  • 38. 2003. A maior parte das exportações se concentra no granito, sobretudo em estado bruto. Conforme mencionado, a produção brasileira de mármore, incluindo a baiana, sempre se voltou ao mercado interno. As iniciativas para melhoramento tecnológico do parque produtor do mármore Bege podem mudar este quadro a médio prazo. Os valores expostos acima, embora ainda baixos em termos absolutos, apresentam indícios de que os produtos do mármore começam a aparecer nas estatísticas de comércio exterior. O Brasil já está começando a exportar este material em chapas e ladrilhos. Segundo informações coletadas diretamente com Chiodi (2004b), no primeiro semestre de 2004, o Brasil comercializou US$ 870 mil do código 6802.10.00 no mercado externo, em que se inserem os ladrilhos de mármore Bege. A Bahia exportou apenas US$ 26,16 mil, enquanto o Espírito Santo, US$ 701 mil. Segundo Chiodi (2004 a), dentre as melhores oportunidades para a indústria baiana destaca-se o mármore Bege Bahia, em ladrilhos e chapas, com foco nos mercados interno e externo. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O comércio de rochas ornamentais está estreitamente vinculado à indústria da construção civil. O setor movimenta aproximadamente US$ 50 bilhões, considerando os mercados internos dos países produtores e consumidores e as transações com máquinas e equipamentos. Nos últimos 15 anos, foram registradas taxas médias anuais entre 7% e 8% para o crescimento da produção, exportação e consumo (MONTANI, 2000,2003 apud Mello, 2004). Portanto, apesar de se tratar de uma indústria tradicional, em termos mundiais, suas taxas de crescimento não são desprezíveis. Seus principais concorrentes são os revestimentos cerâmicos cuja utilização tem crescido a taxas superiores às pedras naturais, conforme mencionado. Entretanto, os mármores, granitos e outros tipos de rochas ornamentais são considerados clássicos e estão menos sujeitos a modismo. As projeções da Abirochas (Peiter et al, 2001) indicam a manutenção da tendência de crescimento no mercado internacional de rochas e das perspectivas de aumento da participação brasileira neste mercado. Embora a Itália seja o núcleo difusor de inovação tecnológica como maior produtor e exportador de máquinas, a partir de 2002, a China se tornou o maior importador de produtos brutos e maior exportador mundial de semi-
  • 39. manufaturados. O Brasil ocupa atualmente o quarto lugar como exportador de material bruto. Segundo Chiodi (2003), a posição brasileira como exportador de rochas processadas evoluiu sensivelmente nos últimos anos. O país saltou da 12a posição do ranking dos maiores exportadores de rochas semimanufaturadas, em 1999, para 8a em 2001. Estima-se que tenha se tornado o sexto maior exportador de rochas processadas em 2003 (CHIODI, 2003). Em 2003, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de granito semi- manufaturado nos Estados Unidos, que absorvem cerca de 90% do valor das exportações brasileiras dessa categoria de produto. Pode-se levantar a hipótese, ao analisar a Tabela 1, que esta conquista tem sido via preço, já que o valor CIF médio pago por unidade de produto proveniente do Brasil é cerca de 30% abaixo do valor da Itália e da Índia, e 8% abaixo do valor CIF importado da China. Foi demonstrado que, entre 1992 e 2002, o consumo interno de rochas brutas cresceu a uma taxa de 8,45% ao ano, e de bens manufaturados, 7,87%. O comportamento deste mercado depende do desempenho da construção civil. As exportações brasileiras de granito semi-manufaturado na última década cresceram à elevada taxa média de 30% ao ano, lideradas pelo Espírito Santo, cuja participação atual é de quase 50%. No ano de 2004, o índice de crescimento dessas exportações tem se mostrado inferior ao esperado, embora continue positivo. As vendas externas foram afetadas por problemas de logística. Segundo Chiodi (2004 a), o aumento dos fretes marítimos internacionais, estimado em 50% no primeiro semestre, reduziu a competitividade das rochas brasileiras, sobretudo das chapas de granito transportadas em contêineres. O aumento da demanda de contêineres pela China contribuiu para a elevação de custo de transporte. Chiodi (ibid, 2004) ressalta que a Índia e a China, os maiores concorrentes do Brasil no mercado norte americano, não estão enfrentando as dificuldades brasileiras com transporte. Constatou-se uma sensível redução das exportações de blocos brutos no primeiro semestre de 2004 em relação a 2003. Este fato pode ser atribuído: 1) à baixa freqüência de navios de carga geral, transportadores de blocos; 2) às dificuldades físicas do porto de Vitória para movimentação de navios de grande porte, pelas dimensões limitadas de seu canal de navegação e de sua profundidade, que suporta embarcações com no máximo 10,5 m de calado; 3) à preferência da China por importações de rochas já semi-manufaturadas, motivada pelo acelerado ritmo da sua construção civil (Chiodi, 2004). A redução da
  • 40. demanda por blocos brutos pelo seu maior importador, inevitavelmente, teve forte impacto no mercado. Foram apontados os principais fatores determinantes para a liderança do estado do Espírito Santo nesse setor, e particularmente do município de Cachoeiro do Itapemirim, núcleo de um arranjo produtivo – APL - de rochas ornamentais. O melhor desempenho do Espírito Santo e do Rio de Janeiro com exportação de rochas graníticas processadas, bem como de Minas Gerais com ardósias e quartzitos foliados, está lastreado na existência de parques industriais de beneficiamento e em uma base de competitividade firmada para produtos acabados/semi-acabados no mercado interno. O estado da Bahia detém 10% da produção nacional, sendo o terceiro produtor brasileiro de rochas, depois do Espírito Santo e Minas Gerais. Como a indústria baiana se caracteriza pela produção e fornecimento de blocos não manufaturados para os mercados internos e externos, suas exportações, no primeiro semestre de 2004 tiveram redução superior a 40% em relação a 2003, atribuída a fatores já mencionados, determinantes para a queda das exportações do material bruto. Em linhas gerais, as vantagens da indústria na Bahia são: 1) ocorrência de reservas naturais em quase todo semi-árido baiano, em áreas pouco propícias à agricultura, onde a mineração é uma alternativa; 2) ampla variedade de tipos de rochas, excepcionais, exóticos e comuns; 3) boas condições portuárias naturais da Baía de Todos os Santos, com terminais para calado de até 12,4m, superior, portanto ao do porto de Vitória, cujo calado atinge no máximo 10,5 m; 4) existência de distritos industriais organizados com acesso direto ao porto, a exemplo do Centro Industrial de Aratu e Feira de Santana, além do Distrito de Teixeira de Freitas, próximo ao Espírito Santo; 5) atuação consistente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - CBPM no que se refere à pesquisa mineral e promoção comercial, pois, juntamente com o Promo Centro Internacional de Negócios da Bahia, tem propiciado a participação de empresas nas principais feiras temáticas nacionais e internacionais, em estande coletivo do Estado da Bahia; 6) existência de um aglomerado de serrarias voltadas ao beneficiamento primário do mármore Bege Bahia, estabelecidas espontaneamente, configuradas como um potencial APL na região norte do estado.