O documento apresenta uma revista sobre cinema alternativo chamada "Claquete Alternativa". A revista contém artigos sobre filmes que marcaram pessoas, a influência do surrealismo no cinema, e um perfil sobre o diretor Pedro Almodóvar. A publicação tem como objetivo difundir e aprofundar a discussão sobre cinema alternativo no Brasil.
1. CLAQUET
A L T E R N A T I V A
POR TRÁS DO CINE BELAS ARTES
O CINEMA FABRICADOR DE SONHOS QUE REABRIU EM 2014
ISMOS
A INFLUÊNCIA DO
SURREALISMO NO
CINEMA
PERFIL
ALMODÓVAR E O TRIUNFO
DAS CORES NA SÉTIMA ARTE
2.
3. CLAQUETE ALTERNATIVA | 3
ÍNDICE
RECORDANDO
5. MARCOU VOCÊ
6. CINE HISTÓRIA
7. MESTRES
8. ISMOS
CINE MANIA
10. CAPA
13. CINE GOURMET
14. VIAJANDO
FIQUE POR DENTRO
16. ESTREIAS E
ANÁLISES
p. 7
p. 10
p. 14
Fotos Pedro Almodóvar: Suki Dhanda / Belas Artes: AE / Antes do amanhecer: Divulgação
4. 4 | CLAQUETE ALTERNATIVA
EDITORIAL
A CLAQUETE ALTERNATIVA tem como missão difundir o cinema alternativo no Brasil de maneira inovadora, aprofundando os fatos, discutindo, interpretando, analisando e formando opinião. É uma revista feita para quem gosta de ler, que quer saber sempre mais sobre pessoas interessantes que fazem coisas que fogem aos padrões que normalmente vemos na mídia — no caso, filmes.
Queremos que nossas matérias sejam tão inovadoras quanto os filmes que nos inspiram e fazem parte do nosso dia-a-dia. Porque a CLAQUETE ALTERNATIVA é feita especialmente para aqueles que respiram cinema, que acham que um dia sem filme é um dia menos alegre.
A revista não se prende apenas a fazer uma análise fria das produções alternativas, ela quer entrar no universo, se aproximar da realidade e trazê-la para seus leitores, para que possam não apenas compreender, mas interpretar e interagir com o mundo alternativo das produções cinematográficas, aumentando ainda mais seu prazer e amor por esse gênero.
EXPEDIENTE
Diretora de redação
Profª Drª Fábia Dejavite
Editor-chefe
Felipe Henrique Lima
Editores e repórteres
Barbara Godoy
Felipe Henrique Lima
Jéssica Parolin
Renata Aloise
Diretor de arte
Prof Ms. Ricardo Senise
Diagramação
Felipe Henrique Lima
Renata Aloise
Foto de capa
Yuri Alexandre
Foto Juliana Lucas
5. CLAQUETE ALTERNATIVA | 5
MARCOU VOCÊ ...
Por Jéssica Parolin
Filme: Horizonte Perdido, 1973
“Filmes e música certamente dependem do momento, idade e o envolvimento sentimental por qual está passando. Diversos motivos nos levam ao cinema e, quando somos levados ao cinema no inicio de namoro e ainda na idade juvenil, a marca é maior. Horizonte Perdido o filme que ainda povoa minha mente por enquanto deve ter sido um dos primeiros filmes no cinema que vi.
Marcou muito minha vida, a partir desse momento, meus valores da vida mudaram para muito melhor. Minha namorada era Bernadete, que veio a ser minha esposa, que me presenteou com dois filhos maravilhosos, Ana Tulipa e Cesar Sasso. Me lembro ter assistido mais uma vez.”
Pascoal Tadeu Lignelli, 63 anos, diretor do IMESP.
Filme: Ghost, 1990.
“O filme que marcou a minha vida foi Ghost – Do Outro Lado da Vida, porque a história tem um lado cômico, mas também tem um lado do amor verdadeiro, do amor puro que tinha entre o casal. Eu acredito que as famílias podem ser eternas e que nós vamos viver depois dessa vida. É lógico que ali tem um pouco de fantasia, mas o fundamento, a essência do filme marcou minha vida e é muito bonito, o amor pode ser eterno.”
Cleyfer Franco Reishoffer, 54 anos, professor universitário.
Filmes: Maltilda, 1996 e A Viagem de
Chiriro, 2001.
“São vários filmes que marcaram minha vida, na minha infância sempre gostei do filme Matilda, porque era um filme que não tinha limites, era pura magia, eu levava isso pra minha realidade, então minha infância foi bastante vivida pelo fato de ter essa imaginação que o filme traz. Já um filme que marcou minha adolescência foi A Viagem de Chiriro. Essa animação foi muito especial pra mim, me grudou na tela do cinema do inicio ao fim hipnoticamente, é um filme que faz você querer mais.”
Kelvin Yuki Korotsu, 22 anos, estudante.
Foto Pascoal Tadeu
Foto Jéssica Parolin
Foto Jéssica Parolin
6. 6 | CLAQUETE ALTERNATIVA
CINE HISTÓRIA
Por Jéssica Parolin
Alguns filmes, principalmente os alternativos
tem uma grande capacidade de nos envolver
na trama, mas mais do que isso, podem nos ensi-nar
muito. A história de algum momento pode ser
contada de várias formas e se torna ainda melhor
quando é contada da maneira que gostamos, atra-vés
de filmes.
Um exemplo disto é o filme: Todos os Homens do
Presidente (1976), do diretor Alan J. Pakula.
A narrativa se inicia em 1972, quando, sem ter a
menor noção da gravidade dos fatos, um repórter
(Robert Redford) do Washington Post inicia uma
investigação sobre a invasão de cinco homens na
sede do Partido Democrata, que dá origem ao es-cândalo
Watergate e que teve como consequência
a queda do presidente Richard Nixon. Estes fatos
foram manchete nos principais jornais do mundo e
ainda são discutidos em muitas salas de jornalismo,
por historiadores e críticos.
Relação com Jornalismo
O filme mostra grande embasamento ao apre-sentar
as teorias do jornalismo contemporâneo.
Agenda-Setting e Newsmaking, analisados de ma-neira
livre dentro das cenas, além disso, o filme exibe
reuniões de pauta como momentos até certo ponto
descontraídos em que os editores, comentavam as
prováveis matérias a entrar no próximo jornal. O fil-me
foi baseado no livro homônimo de Woodward e
Bernstein (que chegaram a receber um prêmio Pu-litzer,
em 1973).
O jornalismo exemplificado no filme é de uma
ordem um tanto rara em nossos dias. Podemos di-zer
que as notícias correm atrás dos jornalistas hoje,
mas Bob e Carl foram buscar notícias onde ninguém
as via e onde nem sabia que poderiam ser encon-tradas.
Pelos estes motivos, o filme Todos os homens do
presidente mostra-se muito atual e pertinente para
ser estudado por alunos de cursos de Comunica-ção/
Jornalismo e áreas afins.
Todos os Homens do Presidente
Fotos Divulgação
Todos os Homens do Presidente (1976)
7. CLAQUETE ALTERNATIVA | 7
MESTRES
Por Renata Aloise
Há certos cineastas que têm uma identidade
visual tão forte que são facilmente reconheci-dos
pelas cores de seus filmes. Pedro Almodóvar é
um deles. Seus filmes são uma explosão de cores,
que na verdade escondem a melancolia de quem
viveu os difíceis anos da ditadura de Francisco Fran-co
na Espanha.
Nascido em Calzada de Calatrava, na província
de Ciudad Real, comunidade autônoma de Castilla-
-La Mancha na Espanha em 1951, sua família emi-grou
para Extremadura quando ele tinha apenas
oito anos e lá ele estudou com os Salesianos e Fran-ciscanos.
Essa educação religiosa apenas o ensinou
a perder a fé em Deus. Durante esse tempo, em Cá-ceres,
ele começou a ir ao cinema compulsivamen-te.
Quando tinha 16 anos mudou-se para Madri, so-zinho
e sem dinheiro, mas com um objetivo sólido:
estudar e fazer filmes. Era o final dos anos 60 e ape-sar
da ditadura, Madri para um adolescente provin-ciano
era a capital da cultura e da liberdade.
Almodóvar nunca estudou cinema, pois nem
ele nem a sua família tinham dinheiro para pagar
os seus estudos. Já que não teve acesso à teoria,
decidiu aprender na prática. Comprou sua primei-ra
câmera Super-8 quando começou a trabalhar na
Companhia Telefônica Nacional. Lá ficou por doze
anos como assistente administrativo e neste perío-do
teve sua verdadeira educação.
Durante as manhãs ele tinha contato com uma
classe social que não teria conhecido diante de ou-tras
circunstâncias: a classe média espanhola, que
na época, estava em plena era do consumismo. Du-rante
as tardes e noites, ele escreveu, amou, se jun-tou
ao grupo de teatro independente Los Gollardos,
fez filmes em Super-8, escreveu para várias revistas
alternativas e também pequenas estórias, algumas
das quais foram publicadas. Essa crescente cultura
alternativa de Madri se mostrou o cenário perfeito
para os talentos de Almodóvar. Ele foi uma figura
crucial na Movida Madrileña, movimento de renas-cimento
cultural que surgiu após a morte do ditador
Franco. Após um ano e meio de difíceis filmagens
em 16mm estreou, em 1980, seu primeiro longa,
Pepi, Luci, Bom e outras garotas de montão.
Durante a próxima década, o cineasta causou
bastante polêmica, especialmente o filme Maus há-bitos,
uma sátira direcionada à Igreja Católica, o que
reforçou sua reputação de enfant terrible do cine-ma
Espanhol. O reconhecimento crítico, porém, só
veio em 1988 com a estreia de Mulheres à beira de
um ataque de nervos, que trouxe a Almodóvar sua
primeira indicação ao Oscar de Melhor Filme Estran-geiro.
A partir daí, seus próximos filmes eram ansiosa-mente
esperados pelos fãs de cinema ao redor do
mundo, que já esperavam ver as marcas do espa-nhol:
o exagero, as mulheres fortes, as cores. E prin-cipalmente
a liberdade.
Fotos Getty Images
Pedro Almodóvar
8. 8 | CLAQUETE ALTERNATIVA
ISMOS...
Por Barbara Godoy
O cinema pode ir muito além da definição por
gêneros, e é isso o que a CLAQUETE ALTERNA-TIVA
produzirá nessa seção, por meio de categorias
contidas de estéticas predominantes, ampliaremos
seu conhecimento sobre os períodos importantes
da sétima arte. Ao fim da leitura lançamos um desa-fio
mental, você consegue relacionar algum de seus
filmes preferidos nas categorias apresentadas?
Surrealismo
Inspirado pelo psicólogo Sigmund Freud, o Sur-realismo
apresenta a proposta de fugir das forma-lidades
trazidas pela educação tradicional à mente
humana, usando como saída o estudo dos sonhos,
com imagens incomuns e desprovidas de racionali-dade,
que buscam o inconsciente. O poeta francês
André Breton relata em seu livro Manifesto do Jorna-lismo,
“é uma arte com base na ausência do controle
da razão, isenta de preocupação estética ou moral.”
O Surrealismo possui origens marcadas pelas
artes plásticas, pintores surrealistas como Salvador
Dalí (figura também importante para o cinema), Fer-nand
Léger, Man Ray e Marcel Duchamp deixaram
obras essenciais para o movimento e contribuíram
na composição de diversos filmes, como o clássico
surrealista Um cão andaluz (1929), concebido por
Luis Buñuel e Dalí.
O cinema foi uma plataforma importante para
a difusão do mundo surrealista, diversos cineas-tas
optaram por retratar esse movimento em suas
obras, fugindo do tradicionalismo cinematográfi-co,
entre eles estão Luis Buñuel, Jean Cocteau, Man
Ray, incluindo os cineastas Walerian Borowczyk e
Wojciech Has do leste euroupeu, que trabalhavam
sob pressão do regime repressivo. No cenário atual,
o diretor David Lynch é conhecido por retomar esse
fôlego surrealista, assim como o roteirista Charlie
Kaufman.
CLAQUETE INDICA
Um cão andaluz, 1929, Luis Buñuel
Quero ser John Malkovich, 1999, Spike Jonze
Cidade dos sonhos, 2001, David Lynch
O mundo imaginário do Dr. Parnassus, 2009, Terry
Gilliam
Cidade dos sonhos
Um cão andaluz
Fotos Divulgação
9. CLAQUETE ALTERNATIVA | 9
ISMOS...
Pós-modernismo
Esse movimento é conhecido pela autoconsci-ência
trazida em seus filmes, quebrando a barreira
existente entre mídia e realidade, recicla imagens
do passado e mistura gêneros, radicalizando ele-mentos
do noir, suspense, policial, road movie, e ou-tras
vertentes cinematográficas, apresentando uma
desconstrução da narrativa convencional e com-pondo
irônicas citações que nos remetem às pla-teias
de iniciados na história do cinema americano.
Essas referências podem facilmente ser identifi-cadas
nos filmes do diretor Woody Allen, por exem-plo.
O diretor explora os limites entre realidade e
ficção, utilizando influências de Ingmar Bergman,
Federico Fellini e Stanley Kubrick. Em seu filme O
dorminhoco (1973), Allen atua na pele de Monroe,
um personagem caracterizado como um judeu res-munguento
e neurótico com uma visão de futuro
moldada por filmes como 2001: Uma odisseia no es-paço
(1968) e Laranja mecânica (1971).
O diretor Guy Maddin apresenta influências
ainda mais antigas no mundo cinematográfico,
retratando do cinema mudo alemão e soviético, a
pintura, a música erudita e a literatura. Na França,
Jean-Jacques Beinex e Luc Besson baseavam-se na
estética de comerciais de tv para a produção de seus
filmes, assim como os filmes Cães de aluguel (1992)
e Pulp Fiction (1994) do aclamado diretor Quentin
Tarantino.
CLAQUETE INDICA
O fundo do coração, 1982, Francis Ford Coppola
Pulp Fiction - Tempo de violência, 1994, Quentin
Tarantino
O grande Lebowski, 1998, Joel e Ethan Coen
Corra, Lola, corra, 1998, Tom Tykwer
O grande Lebowski
O fundo do coração
Pulp Fiction
Fotos Divulgação
10. 10 | CLAQUETE ALTERNATIVA
CAPA
Por Barbara Godoy, Felipe Henrique Lima e Renata Aloise
O Cine Belas Artes é um desses lugares cheios
daquelas narrativas que nos encantam. Afi-nal
são mais de 70 anos de existência, acompanhan-do
os amantes do cinema em aventuras que só po-dem
ser vividas através dos filmes.
Tudo começou em 14 de julho 1956, no cruza-mento
da Rua da Consolação com a Avenida Pau-lista,
em São Paulo, com a inauguração do Cine Tria-non,
que possuía apenas uma sala de 1400 lugares e
era administrado pela Companhia Cinematográfica
Serrador Ltda. O primeiro filme exibido lá foi Eles se
casam com as morenas (1955), de Richard Sale.
Foi apenas em 1967, em seu aniversário de 11
anos, que o nome do local mudou para Cine Belas
Artes. Com menos lugares — 1200 — a primeira exi-bição
foi do filme Os russos estão chegando (1966),
de Norman Jewison.
Cinema Alternativo
A programação do Belas Artes passou a ser do-minada
pelo cinema de arte, organizada pela Socie-dade
Amigos da Cinemateca, a SAC, cujo presidente
era Dante Ancona Lopez, que popularizou esse tipo
alternativo de filmes em São Paulo, em especial nos
pequenos cinemas Scala e Picolino.
O lema da SAC era “Espetáculo, Polêmica e Cul-tura”,
e assim, para o Belas Artes se adequar, haviam
apresentações não cinematográficas que comple-mentavam
filmes de duração menor que os comuns
90 minutos.
Em seu primeiro andar, funcionava a secretaria e
a biblioteca da SAC, além de uma galeria com ex-posições
permanentes. No hall de entrada ficavam
estandes com os últimos lançamentos de livros e
discos de vinil e um palco com iluminação e sistema
de som para peças, música, dança e palestras.
Com a grande capacidade de lotação do cinema,
a escolha dos filmes exibidos não podiam levar em
consideração um público seleto. Era necessário se
ater ao lema da SAC mas, ao mesmo tempo, atrair
um maior número de pessoas, chamar a atenção de
um grande público.
Em 1970, o Belas Artes é dividido em duas salas,
Villa Lobos e Portinari, e cinco anos mais tarde uma
terceira é aberta, a Mário de Andrade, reservada
para ciclos e mostras especiais.
Em 10 de maio de 1982 ocorreu o episódio mais
triste da história do Belas Artes. Um incêndio na
madrugada destruiu todas as instalações das duas
Foto Evelson de Freitas/AE
11. CLAQUETE ALTERNATIVA | 11
maiores salas do complexo, a Villa-Lobos e a Porti-nari.
O fogo se alastrou mais rapidamente devido à
enorme quantidade de materiais de fácil combus-tão,
como poltronas, isolantes acústicos, cortinas e
carpetes. A perícia concluiu que o incêndio foi cri-minoso,
pois foram encontrados portas e cofres ar-rombados.
Três anos após o ocorrido, o Belas Artes foi rea-berto,
completamente reformado e agora com seis
salas: Carmen Miranda, Mário de Andrade, Oscar
Niemeyer, Aleijadinho, Cândido Portinari e Villa-
-Lobos.
A partir daí, a administração do cinema passa
para a distribuidora francesa Gaumont – que inau-gura
na cidade o conceito de multiplex – mas conti-nua
com a programação de filmes de arte.
Em 29 de janeiro de 1987, o Circuito Alvorada
passa a controlar o Belas Artes, expandindo as exi-bições
para filmes mais comerciais, o que faz com
que o público fiel vá desaparecendo pouco a pouco,
fazendo com que o cinema entre em crise e sua es-trutura
comece a se deteriorar cada vez mais.
Sua administração muda mais uma vez em 2001,
passando agora para a Estação Botafogo, que muda
o nome do cinema para Estação Belas Artes. Apesar
de voltar a programação para filmes de arte, clássi-cos,
filmes independentes e nacionais, o grupo não
teve sucesso e o fechamento do cinema é anuncia-do.
Ressurgimento
O movimento “Viva Belas Artes”, de 2002, conse-gue
adiar seu fechamento por alguns dias. Em 5 de
dezembro, o cinema iria exibir suas últimas sessões,
e por isso, faixas foram colocadas em frente ao pré-dio,
afirmando que o Belas Artes seria um patrimô-nio
de São Paulo, e por isso não poderia fechar.
Em março de 2003, André Sturm, da Pandora
Filmes, o cineasta Fernando Meirelles, a produtora
Andréa Barata Ribeiro e o cineasta Paulo Morelli, da
02 Filmes se tornam sócios do Belas Artes, evitan-do
seu fechamento. Assinam uma parceria com o
banco HSBC, que acrescenta seu nome ao cinema
e dá início a uma grande reforma. A reinauguração
do Cine HSBC Belas Artes ocorre em 28 de maio de
2004, com superlotação de todas as salas de exibi-ção.
A programação era feita de cinema de arte e
filmes comerciais de qualidade. Eram exibidos de
6 a 8 filmes, um sendo sempre nacional. Uma vez
por mês havia a sessão “Noitão”, que exibia filmes
na noite de sexta até o início da manhã de sábado,
sempre com um filme surpresa.
Apesar do sucesso, em março de 2010 o banco
HSBC deixa de patrocinar o Belas Artes. Há uma mo-bilização
por parte de André Sturm para conseguir
novos patrocinadores, pois os valores arrecadados
com bilheterias não são suficientes para manter o
complexo.
O fechamento do Belas Artes causa uma gran-de
comoção entre os fãs do local, desencadeando
passeatas, criação de páginas na Internet e abaixo-
-assinados físicos e eletrônicos com o registro de
cerca de 28 mil adesões, além da manifestação de
funcionários do cinema e protestos de cineastas e
críticos. Mas nada disso impede que o cinema feche
as portas em 17 de março de 2011.
O processo de tombamento do prédio do Belas
Artes, aberto em janeiro de 2011, é negado tanto
pelo órgão municipal quanto pelo estadual, permi-tindo
que o dono alugasse o imóvel.
Mas três anos depois, as novidades eram boas
para os cinéfilos que valorizavam tanto esse patri-mônio
da cidade de São Paulo: o Cine Belas Artes
seria reaberto. E assim foi, com o patrocínio da Caixa
Econômica Federal, o cinema passou a chamar Cine
Caixa Belas Artes e arrastou multidões no seu dia de
reabertura, que contou com a presença de famosos,
do prefeito Fernando Haddad, dos amantes, dos fãs,
e também dos curiosos que ansiavam por conhecer
o local.
Além de salas completamente reformadas, uma
bomboniere com produtos requintados, visual re-novado
com paredes decoradas por cartazes de fil-mes
clássicos que trazem um ar de nostalgia e privi-légios
aos usuários que apresentarem cartão Caixa,
a organização do local também apresentou opções
de planos para os cinéfilos assíduos, oferecendo o
direito de um filme por semana durante um ano, es-tipulado
por um preço específico.
A reabertura desse patrimônio teve uma impor-tância
cultural imensa para a cidade de São Paulo,
representou o resgate dos cinemas de rua, que tan-to
contribuíram para a interação do público com a
sétima arte durante os séculos passados, cinemas
que foram esquecidos e substituídos pelos cinemas
de shopping center. Os cinemas de rua atuais de-vem
ser considerados relíquias dignas de visitação,
lugares onde estão localizados os filmes cult, inde-pendentes,
não superficiais, são lugares onde o ci-nema
não é visto apenas como lazer, e sim como
uma arte a ser admirada e analisada.
12. 12 | CLAQUETE ALTERNATIVA
CAPA
A trajetória de um ícone
1967
Inaugurado em 47
como Cine Ritz, passa
a ser chamado de
Cine Belas Artes.
1982
O cinema sofre um
grande incêndio,
duas de suas salas
foram destruídas.
texto
1989
Passa a ser assumido
pelo grupo Gaumont,
entrando em
decadência nos anos
90.
2004
Reaberto pelo cineasta
André Sturm, em
parceria com a
produtora O2, e com o
apoio do banco HSBC.
2010/2011
O banco resolve não
renovar patrocínio e
o cinema é fechado
em fevereiro de 2011.
2014
Com patrocínio da
Caixa Econômica, o
cinema é reaberto
com o nome Cine
Caixa Belas Artes.
Uma linha do tempo para relembrar os momentos mais marcantes da história do
Cine Belas Artes na cidade de São Paulo
13. CLAQUETE ALTERNATIVA | 13
CINE GOURMET
Por Renata Aloise
“... quebrar a cobertura do
creme brûlée com a colher.”
A obra O fabuloso destino de Amélie Poulain, do
cineasta Jean-Pierre Jeunet, lançada em 2001
e um sucesso ao redor do mundo, conta a história
da francesa Amélie, interpretada pela atriz Audrey
Tautou, uma jovem de Montmartre que sempre
procura ver o melhor das pessoas e do mundo, nos
ensinando a aproveitar os pequenos prazeres da
vida. Um desses pequenos prazeres na vida de nos-sa
heroína é quebrar a cobertura do tradicional cre-me
brûlée. Esse “creme queimado” surgiu na França,
mas é consumido por toda a Europa, com algumas
pequenas modificações. Aprenda a fazê-lo para po-der
compartilhar dessa pequena felicidade com a
Srtª Poulain.
Ingredientes
- 6 gemas
- 10 colheres de sopa de açúcar refinado
- 1 fava de baunilha ou 1 colher de chá de essência
de baunilha
- 500ml de creme de leite fresco ou nata
- Açúcar cristal para queimar
Como fazer
Levar ao fogo uma chaleira com água e pré aque-cer
o forno a 180 graus. Passar as gemas por uma
peneira para tirar a película do ovo e não dar gosto.
Sem passar a colher, só furando as gemas e espe-rando
escorrer. Adicionar o açúcar e bater com o
batedor de claras até a mistura ficar clarinha. Abrir
a fava ao meio e retirar as sementinhas com a ajuda
da faca. Levar a uma panela a baunilha com o creme
de leite e aquecer em fogo baixo. Deixar que infu-sione
sem ferver, somente aquecer em temperatura
de mamadeira. Retirar do fogo e misturar com as
gemas. Distribuir a mistura em ramequins médios
com a ajuda de uma concha. Dispor em uma forma,
levar ao forno pré-aquecido a 180 graus, e então
adicionar água fervendo na forma. Assar durante 1
hora, sempre verificando se a água não secou.
Caso aconteça, é só adicionar mais. Retirar do
forno quando o creme estiver bem firme no topo,
deixar esfriar e levar a geladeira. Deixar por no mí-nimo
3 horas resfriando. O melhor é de um dia para
o outro. Na hora de servir, polvilhar o açúcar cris-tal
por cima e queimar com um maçarico. Caso não
tiver maçarico, esquentar uma colher na chama do
fogão e ir queimando, aos poucos, o açúcar.
Fotos Divulgação
14. 14 | CLAQUETE ALTERNATIVA
VIAJANDO
Por Barbara Godoy
Conhecendo Viena com
Celine e Jesse
Antes do Amanhecer (1995) é o filme que dá início
a trilogia de Richard Linklater, sobre um casal,
(1) Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), que
se conhece por acaso durante uma viagem de trem
que possui como destino Viena.
Após aceitar o pedido de Jesse, Celine passa um
dia com ele pelas ruas da cidade e no meio de diver-sos
diálogos fascinantes sobre amor, religião, arte e
temas aleatórios, os dois passam a se encantar pelas
diferenças um do outro. O desfecho desse filme traz
uma angústia curiosa que só é revelada no segundo
filme, Antes do Entardecer, lançando em 2004, segui-do
pelo terceiro e último, Antes da Meia Noite (2013).
Nessa matéria conheceremos um pouco mais so-bre
o dia 16 de Junho de 1995, o dia em que se deu
início essa história de amor rodeada pelas arquite-turas
e tradições vienenses.
(2) A cena da loja de discos, que possui o nome
de Alt & Neu (Novo e Velho), é uma das mais mar-cantes
do filme pela famosa troca de olhares ao fun-do
musical de Kath Bloom’s, Come Here.
(3) Após pegarem um trem para fora da cidade,
os dois vão parar perto do Friedhof Der Namenlo-sen
(Cemitério dos Sem-nome), onde foram enter-rados
corpos encontrados no rio Danúbio.
(4) Após o primeiro beijo do casal, eles se sentam
no Kleines Cafã, onde acabam encontrando uma vi-dente
que lê a mão de ambos. Ela vê que Celine é
uma estranha e está em uma jornada, e que ela pre-cisa
resignar-se aos constrangimentos da vida para
encontrar a paz dentro de si mesma e a verdadeira
conexão com os outros.
Ao ler a mão de Jesse, ela revela: “Você ficará
bem, ainda está aprendendo.” Ao ir embora finali-za
gritando para os dois “Vocês são pó de estrelas,
não esqueçam. As estrelas explodiram bilhões de
anos atrás para formar tudo o que está nesse mun-do,
tudo o que conhecemos é pó de estrelas, não se
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15. CLAQUETE ALTERNATIVA | 15
VIAJANDO
(5) Caminhando pelas margens do rio Danúbio,
Celine e Jesse encontram outra figura inusitada, um
morador de rua que os oferece uma poesia com a
palavra-tema que eles escolhessem. Celine escolhe
a palavra “milkshake” e o rapaz lhes entrega um po-ema
que mexe com a protagonista.
(6) É no restaurante Cafà Sperl que ocorre a fa-mosa
cena da “ligação”, onde eles encenam uma
falsa chamada e acabam criando coragem para di-zer
indiretamente o que tinham sentido até então
naquele dia.
(7) Após persuadir o dono de um bar e conseguir
uma garrafa de vinho, os dois passam a noite no
parque Palais Schwarzenberg, onde acabam dor-mindo
na grama e ao acordarem se deparam com
a hora da partida, momento que veio sendo discuti-do
pelos dois a todo momento durante o filme.
Depois de várias controvérsias, ao chegarem a
estação, os dois decidem combinar um encontro
seis meses depois, sem nenhum tipo de contato. A
despedida é seguida por uma sequência de cenas
que mostra os lugares pelos quais os dois passaram,
deixando o final do filme ambíguo e trazendo ao
espectador um clima de satisfação acrescentado ao
“quero mais”.
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16. 16 | CLAQUETE ALTERNATIVA
ESTREIAS & ANÁLISES
Por Felipe Henrique Lima
tando de acordo com a aproximação do clímax de
cada cena, cantos misteriosos e, nas cenas externas,
a neblina que sai do chão sob a luz do luar.
Apesar de algumas cenas soarem forçadas de-mais
– como a que personagem Sara, amiga do
protagonista, mesmo depois de já ter levado uma
facada nas costas e caído no chão, reaparece na
sala, caindo por detrás de uma cortina e morrendo
bem na frente de Mark – o filme consegue prender
a atenção com alguns ganchos de suspense e se-quências
em que os personagens passam por situ-ações
tensas de fuga e medo, embora a fórmula se
desgaste ao longo da película.
Talvez o maior trunfo seja o mistério em torno
da identidade do autor por trás dos acontecimen-tos
sinistros e das mortes dos personagens. É de se
elogiar também a belíssima fotografia que a obra
apresenta com enquadramentos e um jogo de co-res
bastante interessantes e o uso de uma câmera
subjetiva que sugere o olhar do vento em busca de
algo ou ainda o foco no luar, criando um ambiente
enigmático na narração.
Por fim, a história do longa é interessante, mas
tropeça em uma sequência surrealista e complica-da.
Se os próprios personagens parecem confusos
em diversas cenas, o que dirá dos espectadores? É
preciso um olhar atento para entender o desenro-lar
das ações e compreender a intenção de Argento
com esta história, feita sob medida para os fãs do
cinema místico.
Terror clássico de Argento
exige amor ao místico para
melhor compreensão
A Mansão do inferno (1980)
Nota: 3 / 5
Título Original: Inferno
Diretor: Dario Argento
Produzido na Itália
O filme dirigido por Dario Argento, conhecido
por sua influência no cinema de terror, é a se-gunda
parte da chamada “trilogia das mães bruxas”
(que não chegou a ter uma continuação) que gira
em torno da história das Três Mães Bruxas, Mater
Suspiriorum, antagonista central do primeiro filme
Suspíria (1977), Mater Tenebrarum e Mater Lacrima-rum.
Em Mansão do inferno, Rose Elliot, uma jovem
poetisa que vive em Nova York, compra um livro
antigo intitulado “As Três Mães”, escrito por um ar-quiteto
e alquimista chamado Varelli, relatando seu
encontro com as três mães do inferno. Ele construiu
uma casa para cada uma delas, uma em Friburgo,
outra em Roma e a terceira em Nova York.
Após ler o livro, Rose fica extremamente pertur-bada
e acha que reside na casa da terceira bruxa,
decidindo investigar tudo ao seu redor. Desespe-rada,
ela escreve uma carta para seu irmão, Mark,
que estuda música em Roma, pedindo que venha
a Nova York ajudá-la. Após uma série de aconteci-mentos,
Mark enfim lê a carta e decide viajar para
ver sua irmã.
Argento se utiliza de vários elementos clássicos
do gênero, como luzes que se ascendem e apagam
misteriosamente, janelas que se movimentam com
o vento, gatos assustando os personagens, porões
escuros e medonhos, a típica trilha sonora para criar
uma atmosfera de suspense, com a música aumen-
Foto Divulgação
A Mansão do Inferno
17. CLAQUETE ALTERNATIVA | 17
Obra de Spike Jonze traz
magia da infância para
pessoas de todas as idades
Onde vivem os monstros (2009)
Nota: 4 / 5
Título Original: Where the wild things are
Diretor: Spike Jonze
Produzido nos Estados Unidos
Para comentar sobre esse filme é preciso salien-tar
ainda no início: trata-se de uma produção
criada com sensibilidade do primeiro minuto até o
último, é preciso estar apto a sentir para captar toda
a subjetividade magnífica que Spike Jonze coloca
nas entrelinhas dessa obra moderna da sétima arte.
Onde vivem os monstros foi adaptado do livro
Where the wild things are, escrito e ilustrado por
Maurice Sendrak, em 1963. Maurice foi um mestre
de histórias infantis, trouxe em seus livros uma mis-tura
de magia e realidade que ajuda imensuravel-mente
na sustentação de qualquer imaginação. Em
entrevista a Spike para um documentário, ele diz:
“Eu acho que o que eu ofereci foi diferente, não
porque eu desenhei ou escrevi melhor que os ou-tros,
mas porque eu fui mais honesto que os outros,
e sobre as crianças e a vida das crianças, e as fanta-sias
das crianças, e a linguagem das crianças, eu dis-se
tudo o que eu queria, porque eu não acredito em
crianças. Eu não acredito em infância, não acredito
que exista essa demarcação ‘Você não pode lhes di-zer
isso! Você não pode lhes dizer aquilo!’, você diz a
eles tudo o que quiser. Apenas diga, se for verdade.”
No filme, Max é um menino de 9 anos, que após
contrariar sua mãe com uma crise de ciúmes e tei-mosia
resolve seguir seus instintos selvagens e fugir
à procura de uma nova realidade, ele acaba atingin-do
seu objetivo quando chega em uma terra habita-da
por monstros enormes e peludos que o tornam
rei.
A adaptação conta com a direção de Spike Jon-ze
e do romancista Dave Eggers, no elenco atores
como James Gandolfini e Paul Dano dão a origina-lidade
encontrada nas vozes dos monstros, e Max
Records atua como Max, o protagonista da história.
A trilha sonora fica por conta de Karen O, que com-pôs
canções exclusivas para o filme e contou com a
ajuda de crianças, dando origem a uma trilha perfei-tamente
adequada que colabora na imensidão de
sentimentos transmitida pelo longa.
Jonze nos coloca dentro dessa história e nos faz
ver que esses monstros não passam de meras re-presentações
do nosso psicológico, é interessante
notar como cada monstro apresenta alguma rela-ção
com nosso protagonista, seja em seu lado soli-tário,
ou em sua vontade de chamar atenção. Cada
cena do filme carrega um forte conteúdo emocio-nal
apoiado pela trilha e pela fotografia, é uma obra
que merece destaque e valor no meio de tantas ou-tras
histórias superficiais.
Me aproveito da inexistente demarcação da in-fância
citada por Maurice para comentar que esse
filme pode agradar as mais variáveis idades pois vai
além de conceitos jogados pela tela, é um grande
representante do principal princípio do cinema,
que é fazer sentir.
Defino esse filme com o título dado à uma músi-ca
da trilha; em Onde vivem os monstros, All Is Love.
ESTREIAS & ANÁLISES
Por Barbara Godoy
Foto Divulgação
Onde vivem os monstros
18. 18 | CLAQUETE ALTERNATIVA
ESTREIAS & ANÁLISES
A trama se desenvolve através de fatos relacionados à vida de Yves
Saint-Laurent, um estilista que fez história na alta costura franc-esa
entre os anos de 1967 e 1976. Além de sua criatividade, fotografias e
entrevistas polêmicas, o filme retrata sua vida pessoal por meio de suas
relações amorosas, com o marido e empresário Pierre Berger (Jérémie
Renier), os casos extra-conjugais, e sua estreita relação com o álcool e as
drogas.
O filme representa mais uma obra prima do diretor Richard Lin-klater,
que possui enorme facilidade em retratar sobre a vida em
suas produções. Em Boyhood as gravações foram realizadas durante 12
anos, acompanhando a vida de um garoto (Ellar Coltrane) de sua infância
até sua juventude. Considerado um dos melhores filmes do ano, Boyhood
trata-se de uma obra sensível e simples sobre as imposições da vida.
Após a terra se tornar um lugar inabitável, um grupo de astronau-tas
recebe a ordem de verificar planetas para a possível migração
da população mundial. O astronauta Cooper (Matthew McConaughey) é
escolhido para liderar o grupo e segue em busca de uma nova casa, até
encontrar um buraco negro que é capaz de proporcionar viagens através
do tempo e do espaço, além de outras dimensões.
Os personagens desse filme são vítimas da realidade imprevisível
e ficarão a um passo da linha divisória entre civilização e caos. Os
motivos dos impulsos que os incitam a perder o controle encontram-se
em uma traição amorosa, um retorno ao passado, uma tragédia e a violên-cia
de um pequeno ocorrido no cotidiano.
Saint Laurent (2014)
Por Barbara Godoy
Boyhood (2014)
Interstellar (2014)
Relatos Selvagens (2014)
Foto Divulgação
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