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Os Cretenses
        A civilização minóica – nome pelo qual também costumamos chamar o povo
cretense nos primeiros séculos de existência – desenvolveu-se de uma forma
organizada em cidades por volta de 3000 a.C. na ilha assinalada no mapa abaixo, às
portas do Mar Egeu e com posição destacada no Mar Mediterrâneo. Mas arqueólogos
já acharam diversos indícios que a ilha era habitada por povos neolíticos desde 6000
a.C.. As primeiras peças de cerâmica encontradas em escavações na ilha datam de
5700 a 5600 a.C.




        Os primeiros habitantes, provavelmente povos oriundos das cercanias do
Mediterrâneo e do Egeu, tinham na agricultura o principal sustento. Cultivavam
principalmente oliveiras, vinhas e cereais como trigo e lentilhas, além de criar bois e
cabras, tanto nas planícies da ilha como em volta dos primeiros assentamentos
populacionais, que mais tarde tornaram-se as primeiras cidades cretenses.
        Os cretenses também desenvolveram um forte artesanato e, por volta de
3000 a.C. – portanto, já na Idade do Bronze – aprenderam a manusear metais e
passaram a fabricar utensílios que eram vendidos em diversos pontos do
Mediterrâneo. Comercializavam muito com os egípcios e com os povos das ilhas do
Mar Egeu, além das regiões da Palestina e da Síria.
        Aproximadamente no ano de 1750 a.C. Creta passou por um sério problema
que desestruturou toda a organização social da ilha. Não se sabe ao certo se foi um
grande terremoto que destruiu muito do que existia, ou uma invasão de povos vindos
de outros pontos do Mediterrâneo que “desfigurou” a sociedade cretense. O que se
sabe é que realmente houve um grande evento que abalou a sociedade minóica.
         Por volta de 1700 a.C., já no reinado do rei Cnossos, Creta voltou a se
organizar de forma mais consistente. Os cretenses instalaram vários portos ao longo
do Egeu e do Mediterrâneo, o que garantiu o ressurgimento da economia marítima da
ilha. Cnossos também ficou conhecido por construir um palácio belíssimo, e grande
parte de suas ruínas estão de pé até hoje!




 Ruínas do Palácio de Cnossos. Em volta do palácio funcionavam mercados, casas de banho, oficinas e
 armazéns. Cnossos pode ser considerado uma cidade. E muitas obras de arte ainda estão intactas nas
 paredes das ruínas, entre outras que foram encontradas por arqueólogos e levadas para museus.



         No século XV a.C. o povo aqueu, originário do Mar Egeu, invadiu lentamente
a ilha de Creta. Apesar da “invasão”, a fusão das duas culturas criou a sociedade
micênica, que no futuro seria a base de formação da cultura grega. É bom citar que
nesta época cidades cretenses influenciavam cidades gregas, que chegavam a pagar
tributos à Creta. No século XII a.C. invasões mais rápidas e violentas acabaram com a
sociedade micênica. A chegada dos eólios, os jônios e principalmente os dórios –
vindos da região do Peloponeso – promoveram uma invasão realmente violenta.
Grande parte da cultura da ilha foi assimilada ou simplesmente sumiu por volta de
1380 a.C..
         Alguns historiadores sustentam a tese de que a erupção de um vulcão por
volta de 1470 a.C. na ilha de Santorini, bem próximo a Creta e que causou um
maremoto – tsunami? – destruiu muitos dos grandes portos cretenses e que esta
destruição abalou os moradores da ilha que, sem muito o que fazer e sem muitas
motivações para reconstruir tudo que foi destruído, teriam sucumbido aos dórios sem
muita luta.
          Segundo Vinicius, historiador, os dois fatores – a invasão e o maremoto –
foram fundamentais já que os cretenses, na época, deveriam ser bem mais
desenvolvidos que os dórios, até mesmo na parte militar. Mas vamos falar mais sobre
alguns aspectos da sociedade cretense.




          ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DOS CRETENSES

          Creta foi uma talassocracia formada por cidades que eram parecidas com as
cidades-estado gregas, governadas pelas elites locais mas, diferente da Grécia, as
cidades estavam ligadas e eram dependentes de uma capital – neste caso, a capital
era a cidade de Cnossos. Também diferente da Grécia, as cidades cretenses não
lutavam entre si, o que dá uma noção de que havia uma unidade, uma idéia de povo
comum entre os habitantes da ilha.
         O rei Minos – aquele da
lenda do Minotauro – nunca teria
existido na verdade. Pelo menos é
o que concluem os arqueólogos e
historiadores   que     se   debruçam
sobre     o   passado    cretense.   A
conclusão vem do fato de que até
hoje não foi encontrada em Creta
qualquer vestígio de que realmente
tivesse existido qualquer rei com
este nome.
         O palácio de Minos, onde estaria o famoso labirinto na verdade é o palácio de
Cnossos. Os gregos é que acharam o palácio um verdadeiro labirinto e criaram a
lenda.
          Aliás, “lenda” e “Grécia” são duas palavras que geralmente andam juntas na
Antiguidade…
RELIGIÃO E MITOLOGIA CRETENSE




                                                      Deusa-Mãe cretense

           Neste ponto os cretenses eram diferentes de todos os povos antigos: eles
adoravam exclusivamente divindades femininas, ou seja, tinham uma religião
matriarcal.
           Homens participavam dos cultos na posição de sacerdotes, mas as
divindades cultuadas eram todas femininas. Eles não valorizavam só o Sagrado
Feminino, mas as mulheres também ocupavam posições de destaque na organização
pública.
           Enfim, e mulher era venerada pela sociedade cretense como deveria ser.
Também veneravam o touro, animal encontrado em diversas gravuras juntamente com
outros elementos religiosos para os cretenses, como o martelo de dois gumes –
também conhecido como labrys.
           Quanto à mitologia cretense os gregos – conforme comentado mais acima no
texto – é que criaram toda uma mitologia usando a ilha como pano de fundo. Platão,
ao falar sobre Atlântida, descreve a grande cidade como uma ilha desenvolvida e
próspera que teria sido engolida pelo mar e sua população desapareceu. Ao ver fotos
das ruínas do palácio de Cnossos e saber que Creta alcançou um certo
desenvolvimento social e econômico considerável para a época, de quem vocês
imaginam que Platão poderia estar falando?
- A lenda do Minotauro: Além da associação com Atlântida, Cnossos
abrigou a lenda do Minotauro. O rei Minos teria pedido a Poseidon que mandasse um
touro branco como reconhecimento de seu reinado. Só que Poseidon queria que o rei
Minos sacrificasse o animal, o que não foi atendido – Minos acabou sacrificando outro
animal no lugar deste.
        Afrodite então fez com que a mulher de Minos, Parsifae, se apaixonasse pelo
touro. Parsifae então pediu para que o artesão Dédalo construísse uma vaca de
madeira para que ela, uma vez escondida dentro da vaca, pudesse “se entregar” ao
animal. O resultado desta união é o Minotauro.
        Parsifae cuidou da criança, mas à medida que ela crescia ficava cada vez
mais furiosa. A única coisa que aplacava a fome do Minotauro era a carne humana, e
Minos mandou construir um grande labirinto para abrigar a criatura.
        Nesta época a cidade de Atenas era governada pelo rei Egeu. Uma versão da
lenda diz que Androgeu, filho de Minos, teria sido morto por atenienses e que seu pai
declarou guerra a Atenas e venceu, obrigando Egeu a enviar anualmente 14 jovens,
sendo 7 homens e 7 mulheres, para servir de alimento para o Minotauro.
        No terceiro ano que teria que enviar os jovens, o filho de Egeu, Teseu, se
ofereceu para matar o Minotauro e seguiu junto com os outros jovens para Creta.
Mesmo contrário à idéia, Egeu aceitou que o filho fosse até Creta mas pediu que, caso
Teseu voltassecom vida, levantasse velas brancas no barco. Chegando à ilha, a filha
de Minos, Ariadne, apaixonou-se por Teseu e deu a ele um novelo, no qual ele poderia
se guiar no caminho de volta – uma versão diz que a própria Adriadne guiou Teseu até
onde estava o Minotauro.
        Teseu então lutou bravamente contra o monstro até matá-lo. Liderando outros
atenienses na fuga, conseguiu ainda destituir Minos do trono só que, ao voltar para
casa, esqueceu de hastear velas brancas no barco e Egeu, seu pai, ao ver velas
pretas no horizonte, entrou em desespero – acreditando que o filho estava morto – e
se jogou no mar, que acabou ganhando seu nome.
ARTE CRETENSE
        Como a civilização foi uma das “bases” para a cultura grega, existem
semelhanças entre a arte dos dois povos, mesmo em épocas de desenvolvimento
distintas. Segue abaixo algumas obras famosas dos cretenses:




                          Afresco “As Damas de Azul”.
Vaso retratando um polvo, animal
                                    Máscara cretense feita em ouro.
encontrado em diversas cerâmicas.
Afresco das “Mulheres Pugilistas” em Akrotiri.


        Quem já conheceu Creta sabe – e sempre comenta – que a ilha guarda
diversas obras de arte de seu passado. Pesquisando para colocar as imagens aqui no
texto eu pude constatar que além das obras de arte a ilha tem suas belezas naturais,
além da sua importância histórica. O certo é que Creta é passagem obrigatória para
todos que querem conhecer um pouco mais sobre a civilização grega.
SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA CIVILIZAÇÃO CRETENSE


          Creta esteve habitada desde o Neolítico. No começo da Idade do Bronze, os
cretenses criaram no 3° milénio a.C. uma grande civilização insular (cultura minóica).
Aquela civilização construiu palácios em Cnossos, em Festos, em Maliá e em Santa
Trindade – palácios cujas ruínas ainda são vistas.
          A partir da primeira metade do 2º milénio a.C. Creta chegou a ser o centro
cultural e comercial (graças ao domínio que lhe dava a sua frota e às riquezas
acumuladas pelo comércio de produtos como o vinho, o azeite, as cerâmicas, os
tecidos e a joalharia impôs-se no Mar Mediterrâneo quer nos territórios vizinhos quer
em locais mais afastados, como a Sicília) nas regiões da Idade do Bronze no
Mediterrâneo Oriental (cultura do Egeu). O seu predomínio terminou c. 1400 a.C.,
quando a ilha foi ocupada militarmente pelos aqueus.
          No século IV a.C. as cidades da ilha guerrearam entre si. No ano 67 a.C.,
depois de entrarem em conflito com os romanos, estes conquistam a ilha comandados
por Quinto Cecílio Metelo. Quando o Império Romano se dividiu em 395, Creta
assumiu um papel importantíssimo pelo lugar central que ocupava e por estar incluída
no Império Romano do Oriente, tendo sido um importante posto bizantino.
          Entre 823–961 a ilha foi ocupada pelos árabes, tendo sido conquistada por
Veneza no decurso da Quarta Cruzada. Estes teriam que defender a ilha das
investidas dos turcos otomanos durante o século XV. Instalam-se na ilha em 1645 e
acabam por conquistá-la totalmente em 1715, introduzindo o islamismo.
          Tornou-se um estado autónomo em 20 de março de 1898 e independente em
6 de outubro de 1908. A 30 de maio de 1913 ficou a pertencer definitivamente à
Grécia.
Árvore genealógica das tribos dos helenos e seus ancestrais, baseada em
                                Pseudo-Apolodoro:
OS JOGOS OLÍMPICOS
         O que hoje é um espetáculo esportivo com transmissão completa do evento
pelos principais canais de comunicação do mundo, e ocorre de 4 em 4 anos em uma
cidade de um país diferente a cada edição, com atletas do mundo inteiro, um dia foi
apenas um evento esportivo e religioso dos gregos antigos.
         Como começaram os Jogos Olímpicos?

                                Segundo a lenda grega, os jogos foram criados por
                                Hércules, que teria plantado a oliveira de onde saíam
                                as folhas para confecção das coroas dadas aos
                                vencedores. Como os gregos já faziam festas e
                                celebrações em homenagem a Zeus desde antes de
                                2500 a.C., os historiadores acreditam que esta é a
                                época aproximada em que começaram os jogos, que
                                também aconteciam em honra a Zeus. Mas apenas a
                                partir do ano 776 a.C. é que o nome dos vencedores
                                começou a ser registrado. Assim, considera-se que
 este é o ano do primeiro torneio olímpico “oficial” da Grécia Antiga. Inclusive o nome
 do torneio deve-se ao acordo feito entre Ifitos, rei de Ilia, Licurgo, rei de Esparta e
 Clístenes, rei da Pissa. Este acordo foi selado no templo de Hera, no santuário de
 Olímpia, por isso o nome Olimpíada.


                      CITIUS, ALTIUS, FORTIUS.
         Com este acordo firmado entre os monarcas, vários atletas do chamado
“mundo grego” – Grécia continental e suas colônias espalhadas pelo Mediterrâneo –
passaram a participar do torneio, que também exigia uma “Trégua Sagrada” caso
uma ou mais cidades-estado estivesse em guerra. A “Trégua Sagrada” era o período
em que era proibido travar qualquer batalha contra qualquer inimigo, e as guerras já
em curso deveriam parar enquanto os jogos estivessem acontecendo. Este medida
visava a segurança dos atletas e dos espectadores nas estradas que levavam aos
jogos.
         Inicialmente os atletas disputavam as seguintes modalidades – que não
começaram todas exatamente em 776. Algumas passaram a ser disputadas depois,
mas de um modo geral podemos considerar estas como as primeiras: a corrida
equestre, a corrida pedestre, três tipos de lutas diferentes – luta, pugilato e
pancrácio – e o pentatlo, que consistia no lançamento de disco, lançamento de dardo,
salto em comprimento, corrida no estádio e luta.
Obra de arte grega retratando o pancrácio, uma das lutas disputadas nos jogos antigos.


        As mulheres, os escravos e os “estrangeiros” – chamados de bárbaros pelos
gregos – não podiam participar dos jogos, que eram exclusividade dos considerados
cidadãos gregos e eram disputados com os participantes completamente nus,
peladões mesmo. As únicas mulheres que podiam assistir aos jogos eram as
sacerdotisas de Dêmetra – a deusa da fertilidade da terra. As outras mulheres
disputavam a Heraea, em homenagem à Hera, mulher de Zeus, em uma data
diferente dos jogos olímpicos.


        É interessante citar que durante os jogos antigos não aconteciam apenas as
competições atléticas e as celebrações religiosas, mas os espectadores e atletas eram
convidados a participar de palestras de filósofos e historiadores. Por motivações
políticas, principalmente as geradas pela Guerra do Peloponeso, os jogos antigos
tiveram seu declínio por volta do século V a.C. Eles aconteceriam até o ano de 393,
mas sem a mesma força dos dois séculos iniciais, quando então o imperador romano
Teodósio proibiu os jogos, pois os considerou uma manifestação pagã.
OS JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA.

        Idealizados pelo barão Pierre de Coubertin,
os Jogos da Era Moderna aconteceram pela primeira
vez em Atenas, no ano de 1896 e, assim como na
Grécia Antiga, tem ocorrido de 4 em 4 anos, só
parando nos períodos da 1ª e 2ª Guerras. Ou seja:
antigamente, existia a trégua na guerra para a prática
do esporte, hoje o esporte é que dá uma trégua pois
uma guerra está em andamento.
        Tempos modernos…
        Mas voltando ao assunto do texto, como eu
disse no início, os jogos hoje são uma grande
celebração do esporte, e uma grande fonte de renda

para muitas pessoas movimentando centenas de milhões de dólares a cada edição, e
com audiência mundial estipulada em 2,5 bilhão de pessoas.
        Hoje em dia o esporte é um negócio muito rentável. Já vai o tempo em que os
ideais do Colbertin, de união dos povos e paz entre as nações é levado
exclusivamente em conta durante os jogos. O importante é competir… desde que você
ganhe. Ainda existe o tal do “espírito olímpico” em muitos atletas, mas ele está cada
dia mais apagado.




Usain Bolt: nascido para correr, moldado pelo treinador para humilhar os adversários.
MITOLOGIA GREGA
          È o estudo dos conjuntos de narrativas relacionadas aos mitos dos gregos
antigos, de seus significados e da relação entre eles e os povos — consideradas, com
o advento do cristianismo, como meras ficções alegóricas. Para muitos estudiosos
modernos, contudo, entender os mitos gregos é o mesmo que lançar luz sobre a
compreensão da sociedade grega antiga e seu comportamento, bem como suas
práticas ritualísticas. O mito grego explica as origens do mundo e os pormenores das
vidas e aventuras de uma ampla variedade de deuses, deusas, heróis, heroínas e
outras criaturas mitológicas.
          Ao longo dos tempos, esses mitos foram expressos através de uma extensa
coleção de narrativas que constituem a literatura grega e também na representação de
outras artes, como a pintura da Grécia Antiga e a pintura vermelha em cerâmica
grega.[3][4] Inicialmente divulgados em tradição oral-poética,[5] hoje esses mitos são
tratados apenas como parte da literatura grega.[6] Essa literatura abrange as mais
conhecidas fontes literárias da Grécia Antiga: os poemas épicos Ilíada e Odisseia
(ambos atribuídos a Homero e que focam sobre os acontecimentos em torno da
Guerra de Troia, destacando a influência de deuses e de outros seres), e também a
Teogonia e Os Trabalhos e os Dias, ambos produzidos por Hesíodo.[7] Os mitos
também estão preservados nos Hinos homéricos, em fragmentos de poemas do Ciclo
Épico, na poesia lírica, no âmbito dos trabalhos das tragédias do século V a.C., nos
escritos de poetas e eruditos do Período Helenístico e em outros documentos de
poetas do Império Romano, como Plutarco e Pausânias.[7] A principal fonte para a
pesquisa de detalhes sobre a mitologia grega são as evidências arqueológicas que
descobrem e descobriram decorações e outros artefatos, como desenhos geométricos
em cerâmica, datados do século VIII a.C., que retratam cenas do ciclo troiano e das
aventuras de Hércules.[7] Sucedendo os períodos Arcaico, Clássico e Helenístico,
Homero e várias outras personalidades aparecem para completar as provas dessas
existências literárias.[7]
          A mitologia grega tem exercido uma grande influência na cultura, nas artes e
na literatura da civilização ocidental e permanece como parte da herança e da
linguagem do Ocidente.[8] Poetas e artistas desde os tempos antigos até o presente
têm se inspirado na mitologia grega e descoberto que os temas mitológicos lhes legam
significado e relevância em seu contemporâneo.[9] Seu patrimônio também influi na
ciência, como no caso dos nomes dados aos planetas do Sistema Solar e em estudos
teóricos, acadêmicos, psicanalíticos, antropológicos e muitos outros,[10][11][12][13] além de
nos dias de hoje tradições neopagãs como a Wicca serem influenciadas por ela e
outras como o dianismo, a Stregheria e principalmente o dodecateísmo (ou
neopaganismo helênico) tenham tentado resgatar suas crenças.


                       TERMO E COMPREENSÃO
          Num contexto acadêmico, a palavra "mito" significa basicamente qualquer
narrativa sacra e tradicional, seja verdadeira ou falsa. O sufixo "-logia", derivado do
radical grego "logo", representa um campo de estudo sobre um assunto em particular.
Com a junção de ambos os termos, "mitologia grega" seria, basicamente, o estudo dos
mitos gregos, ou seja, os que fazem parte da cultura da Grécia. Sendo assim, o termo
não só alude ao estudo dos mitos como também aos próprios mitos. Como escreve o
professor e escritor português Carlos Ceia, "termo de dupla significação, indica, por
um lado, o conjunto dos mitos ou narrativas míticas relativas a seres sobrenaturais,
fantásticos ou de valor super humano e, por outro lado, o estudo ou interpretação dos
mitos."
          É um termo crítico moderno e, portanto, os próprios gregos e romanos antigos
não se referiam a suas crenças como "mitos" ou "mitologia", mas como religião (ver
capítulo Interpretação), o que ainda hoje em dia ocorre com os neopaganistas
helênicos, embora estes vivam um acontecimento moderno diferente de resgate e
preservação e mesmo certos grupos de adeptos entendam o papel dos mitos como
arquétipos ou símbolos (ver seção Neopaganismo e resgate).
          Para mais informações sobre o histórico de interpretação dos mitos gregos,
dirija-se até as sub-seções: Concepções greco-romanas e Interpretações modernas. É
importante ressaltar que, nesse artigo, as palavras "mitologia" e "mito" são usadas
para as narrativas tradicionais e sagradas das culturas clássicas, sem qualquer
implicação de que esta ou aquela seja verdadeira ou falsa.


                              MITO E RELIGIÃO
          As dafnefórias (1876), oléo sobre tela de Frederic Leighton: a dafnefória era
um festival dedicado a Apolo celebrado pelos gregos a cada nove anos, em Tebas,
Beócia.
          A mitologia grega era assunto principal nas aprendizagens das crianças da
Grécia Antiga, como meio de orientá-las no entendimento de fenômenos naturais e em
outros acontecimentos que ocorriam sem o intermédio dos homens. Os gregos antigos
atribuíam a cada fenômeno natural uma criatura ou um deus diferente. Certos
estudiosos modernos dizem que, quando passaram a inventar meios de calcular o
tempo e quando criaram mecanismos de datação como o calendário, seus mitos
declinaram (ver seção Declínio logo abaixo). Os poetas atribuíam esses estados
térmicos, como também as relações e as características humanas, aos deuses e a
outras histórias lendárias, e elas serviram durante um bom tempo como cultos
ritualísticos na sociedade da Grécia antiga.




                               Mulher ajoelhada diante de um altar. Pintura vermelha
                               em cerâmica, ca. 510-500 a.C. Antigo Museu Ágora de
                               Atenas


          Além das crianças serem educadas através dos mitos, as famílias
aristocráticas da Grécia, assim como os reis, e também profissionais, como os
médicos, possuíam a tradição de se ligarem genealogicamente a antepassados
míticos, geralmente divinos, ou até mesmo heróicos. Os comerciantes também
cultuavam deuses, como Hermes, sempre em tentativa de deixá-lo satisfeito e assim
conseguir bons resultados em suas vendas.[22] Além de serem habituados aos
sacrifícios de animais e às orações, os gregos antigos adotavam um deus particular ou
um grupo deles para sua cidade, e os cidadãos construíam templos e o(s)
venerava(m). Essas cidades não possuíam qualquer organização religiosa oficial, mas
honravam os deuses em lugares determinados, como Apolo exclusivamente em
Delfos.
          Muitos festivais religiosos eram realizados na Grécia antiga. Alguns eram
especificadamente dedicados a uma deidade particular ou cidade-estado. A
Lupercalia, por exemplo, era comemorada na Arcádia e dedicada à pastoral Pã.
Existiam também os jogos que eram realizados anualmente em locais diferentes, e
que culminaram nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, realizados a quatro anos e
dedicados a Zeus. Os gregos, frequentemente, encontravam desígnios dos deuses em
muitas características da natureza. Os adivinhos, por exemplo, acreditavam haver
mensagens divinas contidas no vôo das aves e nos sonhos. Nas cidades, os oráculos
— locais sagrados — eram usados por um sacerdote que, tomado por êxtase ou
loucura divina, servia de intermédio entre o diálogo de um fiel e seu deus de adoração.
          Nas primeiras eras em que a recente filosofia vivia ao lado da tradicional
mitologia, para o povo grego a sabedoria plena e completa pertencia aos deuses, mas
os homens poderiam desejá-la e amá-la, tornando-se filósofos (philo= amizade, amor
fraterno, respeito; sophia= sabedoria).
MITO E RELIGIÃO
         Cena de sacrifício grego em pintura vermelha em cerâmica do século V a.C..
Museu Arqueológico de Espanha.
         É preciso haver um esclarecimento acerca da diferença entre mito e religião.
Hoje, todas as mitologias de todos os povos são entendidas como um conjunto de
crenças enraizadas em relatos modernamente tidos como fictícios e imaginados pelos
poetas, enquanto a religião propõe-se a criar rituais ou práticas com a finalidade de
estabelecer vínculos com a espiritualidade. "Mitologia" é um termo indiscutivelmente
técnico e moderno e nunca utilizado pelos próprios gregos ou romanos. Seus cultos
compreendiam uma religião politeísta da qual os especialistas de hoje agrupam no que
se chama "mitologia grega", analisando as narrativas poéticas como legados da
literatura antiga, ao passo que os próprios gregos, sobretudo antes da fama da
filosofia, acreditavam serem reais. Pode-se dizer que "mito" é todo o conjunto que nós
compreendemos hoje o que em suas épocas os gregos chamavam "religião".




                                   Concepção      de   um   templo   grego,   onde   se
                                   reverenciavam os deuses: muitas dessas obras
                                   arquitetônicas da Grécia ainda estão preservadas
                                   no território do país.




         Para ficar mais claro, podemos dizer que os textos sacros dos gregos são o
que chamamos agora de mitologia ou literatura da Grécia antiga. A Teogonia e Os
Trabalhos e os Dias de Hesíodo, a Ilíada e a Odisseia de Homero e as Odes de
Píndaro estão entre as obras que os gregos consideravam sacros. Estes são os
principais textos que foram considerados inspirados pelos deuses e geralmente
incluem no prólogo uma invocação às Musas para que elas auxiliem o trabalho do
poeta.
         Os gregos faziam cultos os deuses do Olimpo, realizados em templos comuns
ou em altares e, também, culto aos heróis históricos, realizados em suas respectivas
tumbas. Dedicados a um deus ou a um herói, os templos, decorados com esculturas
(de deuses ou heróis) em relevo entre o teto e o topo das colunas, eram constituídos
de pedras nobres como o mármore, usadas no alto da acrópole. Os antigos teatros
gregos, também, eram construídos para determinada figura mitológica, deuses ou
heróis, como o teatro de Dioniso no Santuário de Apolo em Delfos.
        Além da religião ter sido praticada através de festivais, nela se acreditava que
os deuses interferiam diretamente nos assuntos humanos e que era necessário
acalmá-los por meio de sacrifícios.[24] Estes rituais de sacrifício desempenharam um
papel importante na formação da relação entre o homem e o divino. Um dos conceitos
mais importantes quanto à moral para os gregos era o medo de cometer húbris
(arrogância), o que constitui muitas coisas, do estupro à profanação de um cadáver.


Classificação
        A gama de personagens, seres e ambientes que formam a mitologia grega
podem ser separados em três partes, sendo a última um apêndice para a literatura
mitológica, de onde conseguimos grande parte das informações sobre os mitos:
       1. Raças, divindades, criaturas; personagens em geral, que abrange os ventos,
       centauros,    ctónicos,    ciclopes,   dragões,   erínias,   gigantes,    górgonas,
       hecatônquiros, harpia, musas, moiras, mortais, ninfas, deuses olímpicos,
       deuses primordiais, sátiros e titãs.
                 1 a. Aqui também são incluídos os heróis Héracles, Aquiles, Odisseu,
       Jasão, Argonautas, Perseu, Édipo, Teseu e Triptolemos.


       2. Lugares, que abrange os ambientes em que essas figuras, na imaginação
       dos gregos, viveram suas aventuras, que são Delfos, Delos, Olímpia, Hades
       (reino), Atlântida, Olimpo, Troia, e Temiscira.


       3. Literatura mitológica clássica, inclui o estudo da literatura antiga grega, que
       contou com nomes como Homero, que incluía em sua narrativa a crença de
       deuses.


                                      FONTES
        A mitologia grega é conhecida nos dias de hoje através da literatura grega e
de expressões artísticas visuais como a cerâmica grega que datam do Período
Geométrico em       diante.   O   objetivo deste capítulo é entender            como   nós,
contemporâneos, tivemos a oportunidade de arrecadar hoje em dia informações tão
antigas quanto são os mitos gregos.
FONTES LITERÁRIAS

        A narração mítica desempenhou um papel importante em quase todos os
gêneros da literatura grega. No entanto, o único manual mitográfico que sobreviveu da
Grécia Antiga foi a famosa Biblioteca Mitológica, do escritor denominado Pseudo-
Apolodoro, que tenta conciliar os contos contraditórios dos poetas e fornece um
resumo da mitologia grega e suas lendas históricas. O verdadeiro Apolodoro viveu
entre c. 180-120 a.C., escreveu sobre muitos destes temas e seus escritos podem ter
formado a base para a coleção dessa obra, porém a Biblioteca aborda eventos que
ocorreram muito tempo após sua morte, daí o nome Pseudo-Apolodoro.
        Entre as fontes literárias da primeira era, destacam-se os dois poemas épicos
de Homero–Ilíada e Odisseia. Completando esse ciclo épico, temos escritas de poetas
cujos documentos foram perdidos ao longo do tempo. Apesar da sua denominação
tradicional, os Hinos homéricos, hinos em coral da primeira fase da então-denominada
poesia lírica, não possuem relação alguma com Homero. Hesíodo, possível
contemporâneo de Homero, produziu Teogonia, o documento mais recente sobre
mitos gregos, que elabora uma genealogia dos deuses e explica a origem dos Titãs e
dos Gigantes. Os Trabalhos e os Dias, também de Hesíodo, é um poema didático
sobre a vida da agricultura que apresenta os mitos de Pandora e da Era dos Homens.
O poeta dá conselhos sobre a melhor maneira de ter sucesso em um mundo perigoso
tornado ainda mais arriscado por esses deuses. Os Trabalhos e os Dias também
apresenta o mito de Prometeu, que, mais tarde, constituiu na base de uma trilogia de
tragédias, possivelmente iniciada por Ésquilo, que são: Prometeu Acorrentado,
Prometeu Desacorrentado e Prometeu, o Condutor do Fogo.
        Os poetas líricos direcionaram por vezes seus temas aos mitos, todavia esse
tratamento ficou cada vez menor, enquanto que sua alusões à narrativa cresceu. Os
poetas líricos gregos, como Píndaro e Simónides de Ceos, e os poetas bucólicos,
incluindo Teócrito, forneceram incidentes mitológicos individuais. Além disso, o mito foi
tema central no drama Ateniense: os dramaturgos trágicos Eurípides, Sófocles e
Ésquilo produziram seus enredos envolvendo a Era dos Heróis e a Guerra de Troia.
Muitas das grandes históricas trágicas (ou seja, Agamemnon e seus filhos, Édipo,
Jasão e Medeia, etc.) trouxeram em sua forma clássica estas peças trágicas.
        Os historiadores Heródoto e Diodoro Sículo, e os geógrafos Pausânias e
Estrabão, que viajaram ao redor do mundo grego e anotaram as histórias que ouviram,
forneceram numerosos mitos locais, apresentando diversas vezes versões alternativas
pouco conhecidas dos mitos. Heródoto, especialmente, procurou as várias tradições
apresentando e encontrando as raízes históricas ou mitológicas no conflito entre a
Grécia e o Oriente. Heródoto procurou conciliar as origens e a mistura de diferentes
conceitos culturais.
         A poesia das eras Helenística e Romana, que embora tenha sido composta
mais como literatura do que um exercício de culto aos mitos, contém muitos detalhes
importantes que de outra forma seriam perdidos. Essa categoria inclui:
                1. Os poetas romanos Ovídio, Sêneca e Virgílio.
                2. Os poetas gregos da Antiguidade tardia: Antonino Liberal e Quinto
       de Esmirna.
                3. Os poetas gregos do Período Helenístico: Apolónio de Rodes,
       Calímaco, Eratóstenes e Partênio.
                4. Antigos romances de gregos e romanos, como Apuleio, Petrônio e
       Heliodoro.
         Em contrapartida com o gênero lírico, a Fabulae e a Astronomica do escritor
romano Higino são duas composições não-poéticas importantes sobre o mito. As
obras Imagens e Descrições, de Filóstrato e Calístrato (respectivamente), são dois
trabalhos literários úteis para o estudo dos mitos gregos.
         Finalmente, o apologético cristão Arnóbio, citando práticas religiosas para
desacreditá-las, e vários outros escritores bizantinos proporcionam detalhes
importantes dos mitos, alguns deles procedentes de obras gregas perdidas durante os
anos. Entre estes, inclui-se os léxicos de Hesíquio, a Suda, e os tratados de João
Tzetzes e de Eustácio de Salônica. O ponto de vista moralizador cristão a respeito dos
mitos gregos se resume no dito ἐν παντὶ μύθῳ καὶ τὸ Δαιδάλου μύσος (en panti muthōi
kai to Daidalou musos, "em todo mito está a profanação de Dédalo"), sobre o que
disse a Suda que alude o papel de Dédalo ao satisfazer a "luxúria antinatural" de
Pasífae pelo trono de Posídon: "Desde que a origem e a culpa desses males se
atribuíram a Dédalo e foi odiado por eles, se converteu no objeto do provérbio."
FONTES ARQUEOLÓGICAS


         Aquiles mata um prisioneiro de Troia diante de Caronte, numa pintura-
vermelha etrusca, realizada no fim do século IV e início do século III a.C..
         A descoberta da civilização micênica pelo arqueólogo amador alemão
Heinrich Schliemann no século XIX, e a descoberta da civilização minóica em Creta
pelo arqueólogo britânico Sir Arthur Evans no século XX, ajudaram a esclarecer muitas
dúvidas a respeito dos épicos de Homero e outras questões da mitologia, como as
crenças em deuses e em heróis. A evidência sobre os mitos e os rituais nos sítios
arqueológicos das civilizações micênica e minóica é inteiramente monumental, uma
vez que a linear B (método de escrita antigo, encontrado em Creta e na Grécia
continental) era usada principalmente para o registro de inventários, embora os nomes
de deuses e de heróis tenham sido dificilmente revelados. Schliemann começou seu
trabalho em 1870, com o intuito de averiguar se as histórias que ouvia de seu pai
quando criança, a respeito dos épicos homéricos, eram verdadeiras; numa
madrugada, juntamente com sua esposa, conseguiu encontrar dois diademas de ouro,
4.066 plaquetas, 16 estatuetas, 24 colares de ouro, anéis, agulhas, pérolas (total de
8.700 artefatos) e pesquisas posteriores deixaram certezas que a mítica cidade de
Troia existiu no local há milênios.
         Existem desenhos geométricos em cerâmica datados do século VIII a.C. que
retratam o Ciclo de Troia, como também as aventuras de Hércules. Por dois motivos,
essas representações visuais dos mitos possuem enorme importância: em primeiro
lugar, muitos mitos gregos foram comprovados em desenhos de vaso antes do que na
literatura escrita–das doze elaborações sobre Hércules, por exemplo, somente a
aventura de Cérbero é apresentada pela primeira vez em um texto literário–e, em
segundo lugar, as fontes visuais muitas vezes fornecem cenas míticas que não são
apresentadas em quaisquer fontes literárias existentes. Em alguns casos, a primeira
representação conhecida de um mito na arte geométrica antecede, em questão de
muitos anos e séculos, a sua primeira aparição conhecida na poesia arcaica. Nos
períodos Arcaico (750–c. 500 a.C), Clássico ( 480–323 a.C), e Helenístico, Homero e
várias outras personalidades surgem para completar as evidências literárias da
existência da mitologia grega.
HISTÓRIA




                                      Descrição topográfica da Península Balcânica.


        A origem dos mitos da Grécia não deriva puramente da civilização grega, mas
de uma mistura entre a cultura dos indo-europeus, pré-gregos, e até mesmo dos
asiáticos, egípcios e outros povos com as quais os gregos estabeleceram contato
        Um dos fatores de evolução da mitologia grega foi a grande transformação
que ela experimentou através dos tempos, e tal transformação serviu para enriquecer
sua própria cultura. Os primeiros habitantes da Península Balcânica, em grande parte
agricultores, atribuíam a cada aspecto da natureza um espírito. Finalmente, estes
espíritos vagos assumiram a forma humana e entraram na mitologia local como
deuses e deusas.[43] Quando as tribos do norte invadiram a Península Balcânica,
trouxeram consigo um novo panteão de deuses e crenças, voltadas à conquista, à
força e à valentia, à batalha e ao heroísmo violento. Outras divindades mais antigas
que povoavam a mente dos habitantes agrícolas se fundiram com aquelas dos
invasores mais poderosos, ou então desvaneceram-se na insignificância.




                                      A mais alta montanha da Grécia, o Monte
                                      Olimpo, em foto de 2005, onde os gregos
                                      antigos acreditavam ser a morada dos Doze
                                      Deuses.
A mais alta montanha da Grécia, o Monte Olimpo, em foto de 2005, onde os
gregos antigos acreditavam ser a morada dos Doze Deuses.
        Após a metade do período arcaico, que possuía mitos sobre as relações entre
homens e deuses masculinos, os heróis tornaram-se cada vez mais aclamados,
indicando o desenvolvimento paralelo da pederastia pedagógica, que pensa-se ter
sido introduzido por volta de 630 a.C. Nos finais do século V a.C, os poetas haviam
atribuído pelo menos um eromenos a todos os deuses importantes, exceto Ares e
outras figuras lendárias. Outros mitos anteriormente existentes, como o de Aquiles e o
de Pátroclo, foram reinterpretadas como mitologia homossexual.
        O sentido da poesia épica foi criar ciclos históricos, e resultar num
desenvolvimento de um senso da cronologia mitológica; assim, a mitologia grega
desdobra-se como uma etapa no desenvolvimento do mundo e do homem. As auto-
contradições nas histórias fazem com que seja impossível montar um cronograma
absoluto a respeito da Mitologia grega, mas podemos elaborar uma cronologia
concordável. A história mitológica do mundo pode ser dividida em 3 ou 4 grandes
períodos:
               1. Mito da origem ou da era dos deuses: é a teogonia, o nascimento
       dos deuses, os mitos sobre a origem do planeta, dos deuses e da raça
       humana.
               2. Era em que os homens e os deuses se mesclam livremente:
       histórias das primeiras interações entre deuses, semi-deuses e mortais juntos.
               3. Era dos heróis (era heróica), onde a atividade divina ficou mais
       limitada. As últimas e maiores lendas heróicas são da Guerra de Troia e suas
       consequências (consideradas por alguns investigadores como um quarto
       período separado).
        Embora a Era dos deuses tem sido frequentemente alvo de interesse pelos
alunos contemporâneos da mitologia grega, os autores arcaicos e clássicos possuíam
uma clara preferência pela Era dos heróis. As heróicas Ilíada e Odisseia, por exemplo,
estavam e ainda se encontram atualmente sobre maior destaque que a Teogonia e
que os hinos homéricos – e prevaleceram em popularidade e continuidade. Sob a
influência de Homero, o culto heróico conduziu uma reestruturação na vida espiritual,
expresso na separação entre o reino dos deuses do reino dos mortos (heróis), e dos
deuses olímpicos dos ctónicos. No O Trabalho e Os Dias, Hesíodo monta um
esquema de quatro Era dos homens (ou Raças): de Ouro, de Prata, de Bronze e de
Ferro. Estas raças ou eras são criações separadas dos mitos dos deuses,
correspondendo à Era Dourada ao reino de Cronos e sendo as seguintes raças
criações de Zeus. Hesíodo intercalou a Era (ou Raça) dos heróis pouco depois da
Idade do Bronze. A ultima idade foi a Idade do Ferro. Em Metamorfoses, Ovídio segue
o conceito de Hesíodo e apresenta essas quatro idades.


                                    Era dos deuses


                            Cosmogonia e cosmologia
       Ver artigo principal: Deuses primordiais e Genealogia dos deuses gregos

               Ἤτοι μὲν
          “
      πρώτιστα Χάος
      γένετ'· αὐτὰρ
      ἔπειτα Γαῖ'
      εὐρύστερος,
      πάντων ἕδος
      ἀσφαλὲς αἰεὶ.
      Pois bem, no
      princípio nasceu
      Caos; depois,
      Gaia de amplo
      seio, a eterna
      base de tudo
                                    ”     O Amor Conquista Tudo, representação do
                                         deus Eros, pelo pintor do barroco Caravaggio
           —Hesíodo, Teogonia,
                       116-7.[51]



        ."Mitos de origem" ou "mitos de criação", na mitologia grega, são termos
alusivos à intenção de fazer com que o universo torne-se compreensível e com que a
origem do mundo seja explicada. Além de ser o mais famoso, o relato mais coerente e
mais bem estruturado sobre o começo das coisas, a Teogonia de Hesíodo também é
visto como didático, onde tudo se inicia com o Caos: o vazio primitivo e escuro que
precede toda a existência. Dele, surge Gaia (a Terra), e outros seres divinos
primordiais: Eros (atração amorosa), Tártaro (escuridão primeva) e Érebo. Sem
intermédio masculino, Gaia deu à luz Urano, que então a fertilizou. Dessa união entre
Gaia e Urano, nasceram primeiramente os Titãs: seis homens e seis mulheres
(Oceano, Céos, Créos, Hiperião, Jápeto, Teia e Reia, Têmis, Mnemosine, Febe, Tétis
e Cronos); e logo os Ciclopes de um só olho e os Hecatônquiros (ou Centimanos).
Contudo, Urano, embora tenha gerado estas divindades poderosas, não as permitiu de
sair do interior de Gaia e elas permaneceram obedientes ao pai. Somente Cronos, "o
mais jovem, de pensamentos tortuosos e o mais terrível dos filhos", castrou o seu pai–
com uma foice produzida das entranhas da mãe Gaia–e lançou seus genitais no mar,
libertando, assim, todos os irmãos presos no interior da mãe. A situação final foi que
Urano não procriou novamente, mas o esperma que caiu de seus genitais cortados
produziu a deusa Afrodite, saída de uma espuma da água, ao mesmo tempo que o
sangue de sua ferida gerou as Ninfas Melíades, as Erínias e os Gigantes, quando
atingiu a terra. Sem a interferência do pai, Cronos tornou-se o rei dos titãs com sua
irmã e esposa Reia como cônjuge e os outros Titãs como sua corte.
        O pensamento antigo grego considerava a teogonia–que engloba a
cosmogonia e a cosmologia, temas desssa subseção–como o protótipo do gênero
poético e lhe atribuía poderes quase mágicos. Por exemplo: Orfeu, o poeta e músico
da mitologia grega, proclamava e cantava as teogonias com o intuito de acalmar
ondas e tormentas–como consta no poema épico Os Argonautas, de Apolónio de
Rodes–e também para acalmar os corações frios dos deuses do mundo inferior,
quando descia à Hades. A importância da teogonia encontra-se também no Hino
Homérico à Hermes, quando Hermes inventa a lira e a primeira coisa que faz com o
instrumento em mãos é cantar o nascimento dos deuses.
        Cronos Mutilando Urano, por Giorgio Vasari e Gherardi Christofano (século
XVI). Palazzo Vecchio, Florença.
        Contudo, a Teogonia não é somente o único e mais completo tratado da
mitologia grega que se conservou até nossos dias, mas também o relato mais
completo no que diz respeito a função arcaica dos poetas, com sua larga invocação
preliminar das Musas. Foi também tema de muitos poemas perdidos, incluindo os
atribuídos à Orfeu, Museu, Epimênides, Ábaris e outros profetas legendários, cujos
versos costumavam ser usados em rituais privados de purificação e em religião de
mistérios. Inclusive, há indícios de que Platão se familirizou com alguma versão da
teogonia órfica. Poucos fragmentos dessas obras sobreviveram em citações de
filósofos neoplatonistas e em fragmentos recentemente desenterrados, escritos em
papiro. Um desses documentos, o papiro de Derveni, demonstra atualmente que pelo
menos no século V a. C. existiu um poema teogônico-cosmogônico de Orfeu. Este
poema tentou superar a Teogonia de Hesíodo e a genealogia dos deuses se ampliou
com o surgimento de Nix (a Noite), marcando um começo definitivo que havia surgido
antes dos seres Urano, Cronos e Zeus.
Deuses gregos
                  Ver artigo principal: Deuses olímpicos e Monte Olimpo

           “     ἐμοὶ δὲ
      θαυμάσαι θεῶν
      τελεσάντων οὐδέν
      ποτε φαίνεται ἔμμεν
      ἄπιστον.
      Para mim, quando os
      deuses realizam
      maravilhas, nada
      parece inacreditável.             ”

           —Píndaro, Pi, P. 10.48-
                              50.[59]




         Os Doze Deuses Gregos (Zeus no trono), por Nicolas-André Monsiau (1754-
1837), finais do século XVIII.
         Quando Cronos tomou o lugar de Urano, tornou-se tão perverso quanto o pai.
Com sua irmã Reia, procriou os primeiros deuses olímpicos (Héstia, Deméter, Hera,
Hades, Posêidon e Zeus), mas logo os devorou enquanto nasciam, pelo medo de que
um deles o destronasse. Mas Zeus, o filho mais novo, com a ajuda da mãe, conseguiu
escapar do destino. A mãe, pegou uma pedra, enrolou-a em um tecido e deu a
Cronos, que comeu-a, pensando que fosse Zeus. O filho travou uma guerra contra seu
progenitor, cujo vencedor ganharia o trono dos deuses. Ao final, com a força dos
Cíclopes–a quem libertou do Tártaro–Zeus venceu e condenou Cronos e os outros
Titãs na prisão do Tártaro, depois de obrigar o pai a vomitar seus irmãos. Para a
mitologia clássica, depois dessa destituição dos Titãs, um novo panteão de deuses e
deusas surgiu. Entre os principais deuses gregos estavam os olímpicos- cuja limitação
de seu número para doze parece ter sido uma ideia moderna, e não antiga - que
residiam no Olimpo abaixo dos olhos de Zeus. Nesta fase, os olímpicos não eram os
únicos deuses que os gregos adoravam: existiam uma variedade de divindades
rupestres, como o deus-bode Pã, o deus da natureza e florestas, as ninfas— Náiades
(que moravam nas nascentes), Dríades (espíritos das árvores) e as Nereidas (que
habitavam o mar) —, deuses de rios, Sátiros, meio homem, meio bode, e outras
divindades que residiam em florestas, bosques e mares. Além dessas criaturas,
existiam no imaginário grego seres como as Erínias (ou Fúrias) (que habitavam o
submundo), cuja função era perseguir os culpados de homicídio, má conduta familiar,
heresia ou perjúrio.
         Para honrar o antigo panteão grego, compôs-se os famosos hinos homéricos
(conjunto de 33 canções). Alguns estudiosos, como Gregory Nagy, consideram que os
hinos homéricos são simples prelúdios, se comparado com a Teogonia, onde cada
hino invoca um deus. No entanto, os deuses gregos, embora poderosos e dignos de
homenagens como as presentes nestes hinos, eram essencialmente humanos
(praticavam violência, possuíam ciúme, coléra, ódio e inveja, tinham grandezas e
fraquezas humanas), embora fossem donos de corpos físicos ideais. De acordo com o
estudioso Walter Burkert, a definição para essa característica do antropomorfismo
grego é que "os deuses da Grécia são pessoas, e não abstrações, ideias ou
conceitos".[64] Independentemente de suas formas humanas, os deuses gregos tinham
muitas habilidades fantásticas, sendo as mais importantes: ter a condição de ser
imúne a doenças, feridas e ao tempo; ter a capacidade de se tornar invisível; viajar
longas distâncias instantaneamente e falar através de seres humanos sem estes
saberem. Os gregos consideravam a imortalidade — que era assegurada pela
alimentação constante de ambrosia e pela ingestão de néctar — como a característica
distintiva dos deuses.
         Cada deus descende de uma genealogia própria, prossegue interesses
próprios, tem uma certa área de especialização, e é regido por uma personalidade
singular; no entanto, essas descrições surgem a partir de uma infinidade de locais
arcaicos variantes, que não coincidem sempre com elas. Quando esses deuses eram
aludidos na poesia, na oração ou em cultos, essas práticas eram realizadas mediante
uma combinação de seus nomes e epítetos, que os identificavam por essas distinções
do resto de suas próprias manifestações (e.x. Apolo Musageta era "Apolo, [como]
chefe das Musas").
A maioria dos deuses foram associados a aspectos específicos de suas
vidas: Afrodite, por exemplo, era deusa do amor e da beleza, Ares era deus da guerra,
Hades o deus da morte e do inferno, e Atena a deusa da sabedoria, guerra e da
coragem.[66] Certos deuses, como Apolo (deus do sol) e Dioníso (deus da festa e do
vinho), apresentam personalidades complexas e mais de uma função, enquanto
outros, como Héstia e Hélios, revelam pequenas personificações. Os templos gregos
mais impressionantes tendiam a estar dedicados a um número limitado de deuses,
que foram o centro de grandes cultos panhelênicos.[66] De maneira interessante,
muitas regiões dedicavam seus cultos a deuses menos conhecidos e muitas cidades
também honravam os deuses mais conhecidos com ritos locais característicos e lhes
associavam mitos desconhecidos em outros lugares.[66] Durante a era heróica — que
veremos na próxima sub-seção — o culto dos heróis (ou semi-deuses) complementou
a dos deuses e ambas as criaturas se fundiram no imaginário da Grécia.
        Era dos deuses e dos mortais
               Ver artigo principal: Eras do homem


                                   Afrodite e Anquises, por Annibale Carracci: o
                                   relacionamento entre a deusa da beleza e um
                                   homem mortal, demonstra como ficou frequente as
                                   relações entre deuses e humanos no imaginário
                                   grego.




        Unindo a idade em que os deuses viviam sós e a idade em que a interferência
divina nos assuntos humanos era limitada, havia uma era de transição em que os
deuses e os homens (mortais) se misturaram livremente. Estes foram os primeiros
dias do mundo, quando os grupos se misturavam com mais liberdade do que fizeram
depois. A maior parte das crenças dessas histórias foram reveladas posteriormente na
obra Metamorfoses de Ovídio, e frequentemente são divididas em dois grupos
temáticos: histórias de amor e histórias de castigo.[67] Ambas histórias tratam do
envolvimento dos deuses com os humanos, seja de uma forma ou de outra:
      Os contos de amor muitas vezes envolvem incesto, sedução ou violação de
  uma mulher mortal por parte de um deus, resultando em uma descendência
  histórica. Essas histórias sugerem geralmente que as relações entre deuses e
  mortais precisam ser evitadas, sendo que raramente esses envolvimentos possuem
  finais felizes.[68] Em poucos casos, uma divindade feminina procura um homem
mortal e vive com ele, como no Hino Homérico à Afrodite, onde a deusa se
  relaciona com o príncipe Anchises e acaba concebendo o chefe troiano Eneias




                                 O Casamento de Peleu e Tétis, por Hans Rottenhammer.


      Os contos de castigo envolvem a apropriação ou invenção de algum artefato
  cultural importante, como quando Prometeu roubou o fogo dos deuses e quando ele
  ou Licaão inventou o sacríficio, quando Tântalo roubou o néctar e a ambrósia da
  mesa de Zeus e de seus súditos, revelando-lhes o segredo dos deuses, ou quando
  Deméter ensinou agricultura e os Mistérios de Elêusis a Triptolemos, ou quando
  Mársias inventou os aulos e, com ela, ingressou num concurso musical ao lado de
  Apolo. As aventuras de Prometeu marcam um ponto entre a história dos deuses e a
  dos homens Um fragmento de papiro anônimado, datado do século III a.C., retrata
  vividamente o castido que Dionísio aplicou à Lucurgo, rei de Trácia, cujo
  reconhecimento de novos deuses chegou demasiado tarde, ocasionando horrivéis
  penalidades que se estenderam por toda vida A história da chegada de Dionísio
  para estabelecer seu culto em Trácia foi também o tema de uma trilogia de peças
  dramáticas do poeta antigo Ésquilo: como em As Bacantes, onde o rei de Tébas,
  Penteu, é castigo por Dionísio por ter sido desrespeitoso com as Ménades, suas
  adoradoras.
        Ainda no assunto de relação entre deuses e mortais, há um conto antigo
baseado em um tema folclórico, onde Deméter está procurando por sua filha
Perséfone, depois de ter tomado a forma de uma anciã chamada Doso e recebido
hospitalidade de Celéu, o rei de Elêusis em Ática. Por causa de sua hospitalidade,
Deméter planejou fazer imortal seu filho Demofonte, como um ato de agradecimento,
mas não pôde completar o ritual porque a mãe de Demofonte, Metanira, entrou e viu
seu filho rodeado de fogo, visão essa que lhe provocou, instantâneamente, um grito
agudo, que enfureceu Deméter, cuja lamentação veio depois, ao refletir o fato de que
os "estúpidos mortais não entendem práticas divinas"
Era heróica
          “    “O fato de entre os homens e os deuses existir ainda uma terceira
      classe especial de heróis, que são denominados também "semi-deuses", é uma
      particularidade da mitologia e da religião gregas para a qual quase não existem
      paralelos”                                                                          ”

                                                             —Walter Burkert, 1993.[76]


        A idade em que os heróis viveram na mitologia grega é conhecida como Era
(ou Idade) Heróica. A Era Heróica surgiu no Período Arcaico, quando os gregos
imaginavam "heróis" (gr. ἥρωες; sg. ἥρως) como certos personagens de lendas
épicas. Embora sujeitos à mortalidade, os heróis/semi-deuses se diferenciavam dos
humanos pelo fato de serem capazes de façanhas impossíveis, talvez pelo fato de
serem frutos de uma relação entre um mortal e um deus.
        Após a ascensão do culto heróico, os deuses e os heróis constituíram a
esfera sagrada e são invocados juntos nos juramentos e nas orações que são dirigidas
a eles. Em contraste com a era dos deuses, durante a heróica a lista de heróis nunca
é fixa e definitiva; já não nascem grandes deuses, mas sempre podem surgir novos
heróis do exército dos mortos. Outra importante diferença entre o culto dos deuses e o
dos heróis é que o segundo dos dois se torna o centro da identidade do grupo local.
        Os eventos monumentais de Hércules são considerados o começo da era dos
heróis. Também se anexam a eles três grandes sucessos militares: a expedição
argonáutica e a Guerra de Troia, como também a Guerra de Tebas.


Hércules e os Heráclidas
        Certos estudiosos acreditam que, por de trás das complexas histórias que
envolvem o mito de Hércules (ou Herácles), existiu um homem verdadeiro, talvez um
senhor de vassalos em Argos.[81] Outros sugerem que o mito de Hércules é uma
alegoria da passagem anual do sol pelas doze constelações do zodíaco.[81] Existe um
terceiro grupo que acredita que o mito deriva de outras culturas, revelando que a
história de Hércules é uma adaptação regional de mitos heróicos já estabelecidos
anteriormente. Embora a existência de todas essas e muitas outras especulações, a
tradição afirma que Hércules foi filho de Zeus com a mortal Alcmena, neta de Perseu.
Suas fantásticas façanhas, que envolvem diversos temas folclóricos, proporcionaram
muito material às lendas populares. É retratado como um sacrificador, um guerreiro
dotado de imenso vigor físico, com força e proezas maravilhosas, protegido por
armaduras e itens das quais utilizava com destreza, demonstrando superioridade às
habilidades do homem mortal comum. Quanto à iconografia, nas artes visuais — pelo
menos no período arcaico — Hércules sempre fora apresentado com barba, pele de
leão e clava nas mãos, com grandes músculos expostos nas pernas e nos braços. Já
no século IV, a popularidade do herói decresceu e, talvez um pouco por isso, suas
características humanas foram reforçadas mais do que as heróicas, e passou a ser
representado sem barba e frequentemente sem armas de combate.
        Na literatura, Eurípedes escreveu a peça trágica Hércules (ou Hércules
Enlouquecido, Hércules Furioso), onde explora o mito do herói, revelando sua
conturbada existência, e sua vontade de cometer suicídio, mas que logo é encorajado
a viver pelo amigo e rei de Atenas, Teseu. Na peça As Traquinianas, Hércules aparece
aqui através da escrita de Sófocles. Esses dois textos da Grécia antiga, resguardados
até os dias atuais, nos conferiram detalhes preciosos acerca dos mitos sobre o herói
mais popular e interessante da mitologia grega
        Hércules atingiu o mais alto prestígio social através de sua nomeação como
ancestro oficial dos reis dóricos. Isto serviu provavelmente como legitimação para as
invasões dóricas no Peloponeso. Um exemplo disto é o herói mitológico Hilo, epônimo
de uma tribo dórica, que se converteu em Heráclida (nome que recebiam os
numerosos descendentes de Hércules, especialmente os descendentes de Hilo —
outros Heráclidas existentes são Macária, Lamos, Manto, Tlepólemo e Télefo). Estes
Heráclidas conquistaram os reinos peloponesos de Micenas, Esparta e Argos,
alegando, segundo o mito, o direito de governá-los devido sua ascendência. A
ascensão dos Heráclidas é muitas vezes denominada "Invasão Dórica" (ver artigo).
Um fato interessante é que os reis lídios e, posteriormente, os reis macedôniso —
como governantes de um mesmo reino — também passaram a ser Heráclidas.
        Embora Hércules tenha morrido, como é destino de todo mortal, por conta de
seu lado humano (derivado da mãe Alcmena), alguns gregos — especialmente
Píndaro, que o chamava de "herói-deus"] — acreditavam que, por conta de seu lado
divino (advindo da descendência de Zeus), ele subiu ao Olimpo e tornou-se um deus.
Sua figura lendária, portanto, permeou durante algum tempo uma simbologia voltada à
terra, aos heróis, ao homem mortal, mas também atencionada ao céu, aos deuses, ao
divino, ao perfeito, ao ideal. Essa figura mista que Hércules apresenta, em que o lado
mortal e o lado divino se confundem, era muito reforçada em diversos cultos e
sacrifícios realizados em Creta, onde os gregos ofereciam-lhe sacrifícios duplos,
primeiramente como herói e, somente depois, como um ser divino.
        Além das façanhas heróicas de Hércules, outros membros dessa primeira
geração de heróis, como Perseu, Teseu, Deucalião e Belerofonte, realizaram feitos
muito semelhantes a ele, sempre realizando-os solitariamente, sem nenhuma outra
ajuda, o que aconteceu quando enfrentaram monstros como Quimera e Medusa em
mitos que beiram à contos de fadas (esses combates solitários só apresentam ainda
mais a capacidade sobrehumana dessas personagens). Enviar um herói a uma morte
presumida é um tema frequente nesta primeira tradição heróica, como acontece nas
lendas de Perseu e de Belerofonte.




Argonautas

        Único épico helenístico conservado até os dias atuais, Argonautica, de
Apolônio de Rodes, narra o mito da jornada de Jasão e os Argonautas para
recuperarem o Velo de Ouro da mítica terra de Cólquida. Em Argonautica, Jasão é
impelido à sua busca pelo rei Pélias, que havia recebido uma profecia onde um
homem de sandálias se tornaria seu nêmesis. Jasão perde uma sandália em um rio da
região, chegando na corte de Pélias e iniciando, assim, a epopeia. Quase todos os
membros da seguinte geração de heróis, assim como Hércules, partiram com Jasão
ao Argo para buscar o velo de ouro. Essa geração de heróis também inclui: o mito de
Teseu, que partiu à Creta para enfrentar o Minotauro; Atalanta, a heroína feminina,
Meleagro, que por sua vez tinha um ciclo épico que rivalizava com a Ilíada e a
Odisseia, Idas, que lutou contra Apolo por Marpessa, os filhos de Boreas: Zeto e
Calais, que desempenharam um importante papel na ilha de Fineu e na luta contra os
Cinocéfalos, Laerte, pai de Ulisses e também Peleu, pai de Aquiles.
        Píndaro, Apolônio e Apolodoro se esforçaram em dar listas detalhadas sobre
os Argonautas.
        Embora Apolônio tenha escrito seu poema no século III a.C, a composição da
história dos argonautas é anterior à Odisseia, que demonstra familiaridades com os
enredos de Jasão. Em épocas antigas, a expedição mítica era considerada como um
fato histórico, um incidente na abertura do Mar Negro ao comércio e à colonização
grega.[92] Também tornou-se muito popular, cuja função vai desde a criação de novas
lendas locais à inspiração de diversas tragédias gregas.[
Casa de Atreu e Ciclo Tebano


         Entre o Argo (capítulo anterior) e a Guerra de Troia (capítulo seguinte), houve
uma geração conhecida por seus crimes. Isto inclui os feitos de Atreu e Tiestes em
Argos. Atrás do mito da casa de Atreu (uma das principais dinastias heróicas
juntamente com a Casa de Lábdaco), está o problema da devolução do poder e a
forma de ascensão do trono. Os gêmeos Atreu e Tiéstes com seus descendentes
desempenharam o papel de protagonistas na tragédia acerca da devolução de poder
em Micenas.




                           Cadmo Semeando Dentes do Dragão, por Maxfield Parrish, 1908.


         O Ciclo Tebano trata dos sucessos associados especialmente à Cadmo, o
fundador da cidade de Tebas, e, posteriormente, com os feitos de Laio e Édipo na
mesma região; uma série de histórias que levaram ao saqueio final da cidade a mando
dos Epigonis e d'Os Sete Contra Tebas (não se sabe se estes figuraram no épico
original). Acerca de Édipo, os antigos relatos épicos têm seguido um padrão diferente
(no qual ele continuou governando Tebas depois da revelação de que Jocasta era sua
mãe e também posteriormente ao seu casamento com uma mulher que se converteu
em mãe de seus filhos) do que conhecemos graças às tragédias — especialmente a
mais famosa do assunto, Édipo Rei, de Sófocles — e aos relatos mitológicos
posteriores a este texto antigo.]
Guerra de Troia e consequências

        Em A Fúria de Aquiles , de Tiepolo (1757, afresco, Villa Valmarana, Vicenza),
Aquiles está enfurecido pela ameaça de Agamemnon tirar seu despojo da guerra,
Briseis, e desembainha sua espada para acertá-lo. A súbita aparição de Minerva, que
no afresco segura os cabelos de Aquiles, evita o assassinato.
        A mitologia grega culmina na Guerra de Troia, a famosa luta entre os gregos
e os troianos, incluindo suas causas e consequências. Nos trabalhos homéricos, as
principais histórias já haviam tomado forma e substância, e os temas individuais foram
elaborados mais tarde, especialmente dentro dos enredos dos dramas gregos. A
Guerra de Troia adquiriu também um grande interesse para a cultura romana por
conta das histórias de Enéas, herói troiano, cuja jornada à Troia levou a fundação da
cidade que um dia se converteria em Roma, e é recontada por Vírgilio em Eneida (cujo
Livro II contém o relato mais famoso do saqueio de Troia).
        O Ciclo da Guerra de Troia, uma coleção de poemas épicos, começa com os
sucessos que levaram a guerra: Éris e a maçã de ouro, o julgamento de Páris, o rapto
de Helena, e o sacríficio de Ifigénia em Aulis. Para resgatar Helena, os gregos
organizaram uma grande expedição abaixo do mando do irmão de Menelau,
Agamemnon, rei de Argos ou de Micenas, mas os troianos não quiseram libertá-la. A
Ilíada, que se desenrola no décimo ano da guerra, narra em uma de suas páginas o
combate entre Agamemnon com Aquiles, que era até então o melhor guerreiro da
Grécia, e também narra as consequências da morte de Pátroclo (amigo de Aquiles) e
de Heitor, filho mais velho de Príamo. Antes da morte, se uniram aos troianos dois
exóticos aliados: Pentesileia e Memnon.


                            Escultura atribuída a Agesandro, Polidoro e Atenodoro
                            representando o Grupo de Laocoonte (Museu do Vaticano,
                            Roma), personagens mortos por serpentes marinhas num
                            espisódio da Guerra de Troia, retratado na Ilíada e na
                            Eneida.
Aquiles matou ambos, até Páris atingir seu calcanhar mortalmente com uma
flecha (daí a expressão Calcanhar de Aquiles; para mais informações, veja o artigo do
guerreiro). Antes de tomar Troia, os gregos tiveram que roubar da cidadela a imagem
de madeira de Palas Atenas. Finalmente, com a ajuda de Atenas, eles construíram o
Cavalo de Troia. Apesar das advertências de Cassandra (filha de Príamo), os gregos
foram convencidos por Sinon — grego que, fingindo sua argumentação, conseguiu
levar o gigantesco cavalo para dentro das muralhas de Atenas. O sacerdote
Laocoonte tentou destruir o cavalo, mas acabou sendo impedido por serpentes
marinhas que, com suas forças, o mataram. Ao anoitecer, a frota grega regressou e os
guerreiros do cavalo abriram as portas da cidade.
        O Ciclo Troiano proporcionou uma variedade de temas e se converteu em
fonte principal de inspiração para os antigos artistas gregos (por exemplo, as métopas
de Partenon representando o saqueio de Troia). Essa preferência artística pelos temas
procedentes do ciclo troiano nos indica sua importância para a antiga civilização
grega.[97] O mesmo ciclo mitológico, posteriormente, também inspirou uma série de
obras   literárias   da   Europa.   Os   escritores   europeus   medievais   troianos,
desconhecedores da obra de Homero, encontraram na lenda de Troia uma rica fonte
de histórias heróicas e românticas e um marco que encorajou seus próprios ideais
cortesãos e cavalarescos. Alguns autores do século XII, como Benoît de Sainte-Maure
(em seu Poema de Troia) e José Iscano (em seu De bello troiano), descrevem a
guerra simplesmente reescrevendo a versão padrão que encontraram em Dictis e
Dares, seguindo o conselho de Horácio e o exemplo de Virgílio: reescrever um poema
de Troia com veracidade, em lugar de contar algo completamente novo


                                    DECLÍNIO
        A mitologia estava no coração da vida quotidiana na Grécia Antiga.[        Os
gregos consideravam toda a gama de enredos e personagens que hoje denominamos
"mitologia grega" parte de sua história. Usavam o mito para explicar fenômenos
naturais, variações de cultura, inimizades e amizades. Além disso, a mitologia serviu
como fonte de orgulho para se traçar ascendência de grandes líderes e heróis
mitológicos ou até mesmo deuses. Poucos eram os gregos que não criam nos relatos
acerca da Guerra de Troia, da Ilíada e da Odisseia. De acordo com estudiosos como
Victor Davis Hanson e John Heath, o conhecimento profundo da obra homérica era
considerada pelos gregos a base de sua aculturação. Homero era a "educação da
Grécia" (Ἑλλάδος παίδευσις) e sua poesia, "O Livro". Nas seções a seguir, veremos
como gregos e romanos começaram a dar novas interpretações acerca das coisas, e
como começaram a desacreditar dos poetas e dos dramaturgos. A figura do poeta era,
sobretudo nos primeiros anos da era alfabetizada, a autoridade máxima, embora já
nos tempos clássicos a sua posição tivesse mudado:


               "Não acredito que os deuses se induljam em relações profanas; e para
       pôr vínculos nas mãos, eu nunca pensei ser digno de crença, nem serei agora
       tão persuadido, não mais acreditarei que um só deus seja dono e senhor de
       outro. Para a divindade, se realmente ela é uma divindade, não há desejos;
       isso não passa de miseráveis contos escritos por poetas." (Hércules para
       Teseu. Eurípides, Héracles 1340).


        Concepção de um trirreme da Grécia Antiga: as explorações marítimas dos
gregos, uma das primeiras do homem antigo, contribuíram para a decadência do mito.
        Embora o primeiro exemplo acima tenha sido dito por um personagem
sobrehumano, Hércules, ao tentar aprofundar sua compreensão sobre os mitos gregos
o próprio cidadão da Grécia antiga encontrou certas limitações e contradições nessas
histórias, o que desencadeou em uma série de processos filosóficos. A filosofia surge
justamente para compreender a verdade, mas de uma outra forma. Para a intelectual
brasileira Marilena Chaui uma dessas contradições foi o fato de que os gregos
começaram a realizar certas viagens marítimas e explorar algumas regiões das quais
acreditavam serem habitadas por deuses, sendo que, quando a visitaram, puderam
constatar que era povoada por outros seres humanos.
        Outros estudiosos acreditam que os gregos, ao inventarem o calendário,
conseguiram calcular o tempo como forma de prever e entender os estados térmicos e
também o Sol, a chuva e outros fatores climáticos (vistos, anteriormente, como feitos
divinos e incompreensíveis) e, assim, proporcionaram uma grande mudança na crença
dos mitos. De forma semelhante, a invenção da moeda como forma de trocas
abstratas e a escrita alfabética como forma de materialização de textos outrora
propagados somente pela oratória, além da invenção da política para a exposição das
opiniões sociais, seriam marcos da sociedade grega que, com o início dessa vida
urbana e um tanto mais moderna, começou a tecer bases para o artesanato, o
comércio e outras criações que começaram a desprezar os mitos.
        Com essas mudanças, o homem veria em si mesmo uma necessidade de
entendê-las e de desenvolvê-las, no que se criou a filosofia para suprir essa
incompreensão. Pierre Grimal compartilha dessa ideia escrevendo:
"O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que
       narra à palavra que demonstra. Logos e mito são as duas metades da
       linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos
       sendo uma argumentação, pretende convencer. O logos é verdadeiro, no caso
       de ser justo e conforme à 'lógica'; é falso quando dissimula alguma burla
       secreta (sofisma). Mas o mito tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-
       se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso
       pareça 'belo' ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito,
       assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no
       pensamento humano; por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas
       as suas criações."


        Há boa parcela de estudiosos modernos que crêem, portanto, que as
habilidades poderosas de mudança saíram das mãos dos deuses imaginários e foram
assumidas pelos homens antigos (e se estendem até nossos dias atuais, onde, por
exemplo, acreditamos que uma administração política adequada — realizada e levada
em frente pelos homens e não pelos deuses — pode resultar numa influência positiva
nas sociedades, assim como uma administração inadequada resulta em influências
negativas). Outros pensadores também atribuem à vinda do cristianismo o declínio do
mito grego. Antonio Salatino escreveu:
                   "O cristianismo também representou o fim da mitologia, um processo
       que conduziu ao desenvolvimento do pensamento racional, favorecendo assim
       o desenvolvimento da ciência. Por seu turno, as conquistas científicas dos
       séculos 17 e 18 reforçaram a confiança na superioridade do ser humano e
       fortaleceram o suposto direito do homem, baseado em fundamentos religiosos,
       de domínio sobre a natureza. A sobrevalorização dos conhecimentos derivados
       da ciência e do mundo civilizado e a negação dos valores dos povos selvagens
       conquistados levaram à extinção das tradições e línguas de muitas nações
       nativas."
        A astrologia, que, após a morte de Alexandre, o Grande, foi introduzida pela
Mesopotâmia e pelo Egito antigo no mundo grego, chegou a um período de ouro na
Roma imperial e contribuiu para a preservação dos mitos durante a Idade Média.
Contudo, na própria Grécia clássica, o surgimento e a popularidade do racionalismo e
da filosofia criaram até mesmo um debate entre a ideia de que os corpos celestes
eram mesmo divindades em oposição à ideia de que eram meras pedras vagando pelo
céu:
"A posição no presente é, como eu já disse, exatamente o oposto
       daquilo que foi quando aqueles que examinavam esses objetos os
       consideravam sem alma. Entretanto, mesmo então constituíam objetos de
       admiração, e a convicção que é agora realmente sustentada já era motivo de
       suspeita de todos que os estudavam acuradamente, a saber, que se fossem
       sem alma, e por conseguinte destituídos de intelecto, jamais obedeceriam a
       cálculos de precisão tão maravilhosos. E até naquela época havia quem
       ousava arriscar-se a afirmar que a razão é a ordenadora de tudo que está no
       céu. Mas os mesmos pensadores, num equívoco quanto à natureza da alma e
       concebendo-a como posterior e não anterior ao corpo, transtornaram, por
       assim dizer, todo o universo e, acima de tudo, eles próprios." (Platão. Leis 967b
       et seq.).
        Concepções greco-romanas


                                  FILOSOFIA E MITO
        A filosofia nasce através do mito, mas a ele acaba se opondo.] Ela surge no
inicío do século - VI em Mileto, e estudiosos escrevem que vários fatores favoreceram
este nascimento: "efervescência comercial, prosperidade material, contato com outras
culturas avançadas, sistema de governo democrático e, finalmente, cidadãos com
tempo livre para o estudo e a reflexão." De fato, ao passo que a filosofia nascia, a
preocupação de seus primeiros homens (Tales, Anaximandro e Anaxímenes, os
filósofos pré-socráticos), além daquelas de ordem astronômica, era descobrir ou
meramente indagar qual seria o elemento primordial do universo e da natureza, aquele
que deu origem ao mundo—célebre exemplo de quanto as concepções cosmológicas
da mitologia grega estavam sendo postas de lado para serem substituídas por novos
estudos acerca do assunto, dessa vez racionais. Nos finais do século V a.C., depois
do auge da filosofia, da oratória, e da prosa, o destino e a veracidade dos mitos se
tornaram incertos e as genealogias mitológicas deram lugar a uma nova concepção da
origem das coisas, sendo que essa concepção tinha como prioridade a exclusão do
supernatural (isto se mostra claro nas histórias tacidianas). Enquanto os poetas e
dramaturgos elaboravam os mitos, os historiadores e os filósofos por vezes
desprezavam-os e criticavam-os.
O    Platão   de   Rafael   em    A   Escola    de   Atenas
                                    (provavelmente à semelhança de Leonardo da Vinci). O
                                    filósofo expulsou o estudo de Homero, das tragédias e
                                    das tradições relacionados aos mitos gregos de sua
                                    utópica A República.




         Certos filósofos radicais, como Xenófanes, começaram no século VI a. C. a
rotular os textos dos poetas como blasfêmias. Queixava-se de que Homero e Hesíodo
atribuiam aos deuses "tudo o que é vergonhoso e escandaloso entre os homens, pois
os deuses roubam, matam, cometem adultério, e enganam uns aos outros".[110] Essa
linha de pensamento encontrou sua expressão mais dramática em A República
(acerca da justiça, do universo e dos diversos tipos de governo) e em Leis (que trata
da lei divina e natural, da educação e da relação entre filosofia, política e religião) de
Platão. Platão criou os seus próprios mitos alegóricos (como o mito da caverna e o
mito de Er em A República), atacando os contos tradicionais dos trucos, e tratando os
furtos e os adultérios como imorais, opondo-se ao papel central que vinham tomando
na literatura grega. A crítica de Platão - que rotulava os mitos de "palavrões antigos" -
foi o primeiro exercício e desafio sério à tradição mitológica homérica. Aristóteles, por
sua vez, criticou o enfoque filosófico pré-socrático quase-mitológico e destacou que
"Hesíodo e os escritores telógicos estavam preocupados unicamente com o que lhes
parecia plausível e não tinham respeito pelos outros [...] Mas não merece a pena
tomar a sério os escritores que alardeiam o estilo mitológico; aqueles que procedem a
demonstrar suas afirmações devem ser re-examinados". Mesmo no início do império
da Roma, o livro Metamorfoses, do romano Ovídio, possui nos finais do poema um
pseudo-discurso do filósofo e matemático grego Pitágoras que, reivindicando a vida
após a morte, o vegetarianismo e a esperança, diz Porque temeis o Estige, as trevas e
os nomes inexistentes, matéria para poetas [...],embora o discurso de Pitágoras escrito
por Ovídio seja permeado por alusões a criaturas e deuses romanos como Juno,
Lúcifer, Palante, Febo, Tíndaro, entre outros.
         As explicações filosóficas gregas que pretendiam revisar as mitológicas
criaram consequências drásticas para os seus autores: Anaxágoras, por exemplo,
partiu para um auto-exílio fora de Atenas, por duvidar que a lua fosse uma deusa
(explicação mitológica) e afirmar que, pelo contrário, vislumbrava em sua superfície
mares e montanhas. Aristóteles, que não aceitava a explicação de que o titã Atlas
carregava a terra e o céu nas costas (afirmação que rotulou de "ignorância e
superstição do povo grego"), exilou-se por temer que terminasse como Sócrates, que
obteve acusação de impiedade e morreu. Sócrates foi condenado com 71 anos,
acusado, entre outras coisas, de ateísmo e de corromper os jovens gregos com seus
ensinamentos Meleto, poeta e um de seus acusadores, havia argumentado que
"[...]Sócrates é culpado do crime de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo
Estado e de introduzir divindades novas; ele é ainda culpado de corromper a
juventude. Castigo pedido: a morte".[117] Sócrates, após ficar preso a ferros durante 30
dias, morreu num método de auto-envenenamento da prisão da época, ingerindo
cicuta mas, antes de falecer, segundo Platão, incutiu uma dúvida a seus acusadores:
"E agora chegou a hora de nós irmos, eu para morrer, vós para viver; quem de nós fica
com a melhor parte ninguém sabe, exceto o Deus."[116]
        Essas perseguições se estenderam épocas depois, atingindo seu auge na
Idade média (onde o cristianismo substituiu a filosofia) e declinando durante o
Renascimento e principalmente no Iluminismo (onde a filosofia grega começava a ser
retomada e revisada). Todavia, Platão não cuidou de separar si mesmo e sua
sociedade da influência dos mitos: os estudiosos notam que sua própria
caracterização de Sócrates baseia-se nos patronos tradicionais trágicos e homéricos,
usados pelo filósofo para louvar o curso de vida e morte do seu mestre. Em Apologia
de Sócrates, Platão prescreve o discurso dado supostamente por Sócrates em seu
julgamento:

        “     Mas talvez pudesse alguém dizer: "Não te envergonhas, Sócrates, de
    te aplicardes a tais ocupações, pelas quais agora está arriscado a morrer?" A
    isso, porei justo raciocínio, e é o seguinte: "não estás falando bem, meu caro,
    se acreditas que um homem, de qualquer utilidade, por menor que seja, deve
    fazer caso dos riscos de viver ou morrer, e, ao contrário, só deve considerar
    uma coisa: quando fizer o que quer que seja, deve considerar se faz coisa
    justa ou injusta, se está agindo como homem virtuoso ou desonesto.
    Porquanto, segundo a tua opinião, seriam desprezíveis todos aqueles semi-
    deuses que morreram em Troia. E, com eles, o filho de Tétis, o qual, para não
    sobreviver à vergonha, desprezou de tal modo o perigo que, desejoso de
    matar Heitor, não deu ouvido à predição de sua mãe, que era uma deusa, e a
    qual lhe deve ter dito mais ou menos isto:
                                                                                           ”
“Filho, se vingares a morte de teu amigo Pátroclo e matares Heitor, tu
           mesmo morrerás, porque, imediatamente depois de Heitor, o teu
           destino estará terminado" (Hom. Il. 18.96) [...]

         Victor Davis Hanson e John Heath estimam que a rejeição de Platão acerca
da tradição homérica não obteve boa recepção pela base da civilização grega. Nesta
etapa, os mitos mais antigos se mantiveram em cultos locais e seguiram influenciando
a poesia e constituindo o tema principal da pintura da Grécia antiga e da escultura da
Grécia   antiga.   No   teatro,   de   forma   mais   esportiva,   Eurípedes   elaborava
intertextualidades com as antigas tradições e, embora suas personagens zombassem
dos mitos tradicionais e duvidassem de boa parte deles, o foco dessas peças são
completamente voltados aos mitos. A obra deste dramaturgo impugna principalmente
os mitos sobre os deuses e inicia sua crítica à mitologia com um argumento similiar ao
previamente expresso por Xenófanes: "os deuses, como são tradicionalmente
representados, são grosseiramente antropomórficos"


         RACIONALISMO HELENÍSTICO E ROMANO
         No Helenismo, a mitologia adquire o prestígio do conhecimento da elite que
encontrava nos feitos de seus possessores algo pertencente a determinada classe. Ao
mesmo tempo, o giro cético da idade clássica tornou-se ainda mais defendida e
pronunciada. O mitógrafo grego Evêmero, por exemplo, estabeleceu uma tradição cuja
prioridade era buscar uma base histórica real para seres e eventos míticos. Embora
sua obra original (Sagradas Escrituras) esteja perdida, muito do que ele escreveu
sobre o assunto foi preservado por Diodoro Sículo e Lactâncio.
Cícero via-se como o defensor da ordem estabelecida, apesar de seu
ceticismo em relação aos mitos e sua inclinação de fazer concepções mais filosóficas
sobre as divindades.
        O racionalismo hermenêutico (relativo à Hermes) acerca do mito tornou-se
ainda mais popular sob o Império Romano, graças às teorias fisicalistas do estoicismo
e graças à filosofia espicurista. Os estoicos apresentavam explicações dos deuses e
dos heróis como fenômenos físicos, enquanto que os evêmeristas compreendiam-os
como figuras históricas. Contudo, os estoicos — assim como os neoplatonistas —
promoviam os significados morais da tradição mitológica, frequentemente basendo-se
nas etimologias gregas. Mediante sua mensagem epicuriana, Lucrécio buscava
expulsar os temores supersticiosos das mentes de seus vizinhos e cidadãos. Lívio,
igualmente, é cético acerca da tradição mitológica e clama que não tinha como
intenção ajuizar tais lendas. O desafio dos romanos com um forte sentido apologético
da tradição religiosa era defender essa tradição enquanto concediam que isto era
frequentemente um terreno fértil para a superstição. O antiquário Varrão — que
considerava a religião uma instituição romana de grande importância para a
preservação do bem social — dedicou rigorosos anos de sua vida a estudar as origens
dos cultos religiosos. Em sua Antiquitates Rerum Divinarum (que não sobreviveu aos
nossos dias, embora De Civitate Dei, de Agostinho, conserva seu foco geral), Varrão
argumenta que, enquanto o homem supersticioso teme os deuses, a autêntica
persona religiosa os venera como parentes de uma mesma família.


Em sua obra, existiam três tipos de deuses:
               1. Os deuses da natureza: personificações de fenômenos como a
               chuva e o fogo;
               2. Os deuses dos poetas: inventados pelos bardos sem escrúpulos
               para incitar as paixões;
               3. Os deuses da cidade: inventados pelos sábios legisladores para
               iluminar e acalmar a população.
        Cotta, um acadêmico romano, ridicularizou tanto a acepção literal dos mitos
como a alegórica, declarando rotundamente que ambas não teriam lugar na filosofia.
Cícero, por sua vez, desprezava os mitos, mas, como Varrão, era enfático em seu
apoio para a religião e suas consecutivas instituições estatais. É difícil saber quão
baixo se estendia esse racionalismo na escala social. Cícero afirma que ninguém (nem
mesmo velhos, mulheres ou crianças, ou qualquer outro tipo de coisa) é tolo a ponto
de crer nos terrores de Hades ou na existência de Cila, de centauros e de outras
criaturas compósitas,] todavia o orador queixa-se constantemente do caráter
supersticioso e crédulo das pessoas. De natura deorum é o resumo mais exaustivo
dessa linha de pensamento fixada por ele.


                 TENDÊNCIAS SINCRONATÓRIAS




        Na religião romana, o culto do deus grego Apolo (na imagem estátua romana
de um original grego, no Musei Capitolini, Roma) foi sincronizado com o culto de Sol
Invicto. A adoração do sol como protetor do império permanceu como principal culto
imperial até ser substiuído pelo Cristianismo.
        Durante a época do auge romano, apareceu uma tendência popular de
sincronizar os múltiplos deuses gregos e estrangeiros em novos cultos estranhos e
quase irreconhecíveis. A sincronização ocorreu principalmente pelo fato dos romanos
terem um conjunto/panteão de mitos muito precário, fazendo com que a tradição de
mitos gregos fossem misturadas com os principais deuses romanos (interligando
equivalentes das duas tradições). Os deuses Zeus e Júpiter são exemplos desse
envolvimento mitológico. Ainda nessa etapa de combinação entre duas tradições
mitológicas, tudo indica que a associação dos romanos com a religião oriental resultou
em mais sincronizações. Um exemplo é o culto do sol, introduzido em Roma depois
das campanhas de Aureliano na Síria. As divindades Mitra e Baal, ambas asiáticas,
foram sincronizadas com o deus grego Apolo e com Hélio numa só figura, o Deus Sol
Invicto — que possuía (segundo a crença dos povos) atributos somados e, nas
práticas de cultos, ritos conglomerados. Apolo podia ser cada vez mais identificado na
religião com Hélios ou incluso com Dionísio, mas os textos que recapitulavam seus
mitos raramente refletiam essas metamorfoses. A literatura mitológica tradicional
estava cada vez mais disassociada das práticas religiosas reais.
        A coleção de Hinos Órficos e da Saturnália de Macróbio, conservadas desde
o século II, também estão influídas pelas teorias racionalistas e pelas tendências
sincronatórias. Os hinos órficos são um conjunto de composições poéticas pré-
clássicas, atribuídas à Orfeu. Na realidade, estes poemas foram provavelmente
compostos por vários poetas, e contém um rico conjunto de pistas sobre a mitologia
pré-históricas da Europa. O objetivo da Saturnália é a de transmitir a cultura helênica
que havia obtido de suas leituras, apesar de seu tratamento dos deuses ser
contaminado pela mitologia e pela teologia egípcia e norte-africana (que também
acabam afetando as interpretações de Virgílio). Na Saturnália, reaparecem os
comentários mitográficos influídos pelos evemeristas, estoicos e pelos neoplatônicos.



                  INTERPRETAÇÕES MODERNAS
        O alemão Johann Joachim Winckelmann, através dos trabalhos de estudiosos
como Gesner e Heyne, estabeleceu as primeiras distinções entre arte grega, greco-
romana e romana.
        A gênesis da moderna compreensão da mitologia grega é considerada por
certos escolares como uma dupla reação dos finais do século XVIII contra "a
tradicional atitude da animosidade do cristianismo", onde a reinterpretação cristiana
dos mitos como uma "mentira" ou "fábula" havia se conservado. Na Alemanha, em
cerca de 1795, houve um crescente interesse por Homero e pela mitologia grega. Em
Gotinha, Johann Matthias Gesner começou a dar alma aos estudos gregos, enquanto
seu sucessor, Christian Gottlob Heyne, trabalhou com Johann Joachim Winckelmann,
e desenvolveu as bases para a pesquisa e investigação mitológica tanto na Alemanha
como em outros lugares. Heyne abordou o mito como filólogo e moldou os alemães
educados na concepção da antiguidade ao longo de quase meio século, durante o
qual a Grécia antiga exerceu uma intensa influência na vida intelectual da Alemanha.
        A mitologia comparativa é a comparação dos mitos de diferentes culturas que
possui a intenção de identificar os temas e as características compartilhadas. A
mitologia comparativa tem servido de uma variedade de fins acadêmicos. Por
exemplo: os estudiosos têm utilizado as relações entre os diversos mitos para rastrear
a evolução das religiões e das culturas, para propor origens comuns de diferentes
culturas, e para apoiar várias teorias psicológicas. Falando em psicologia, as
modernas interpretações do mito grego abriu espaço para uma abrangente
compreensão psicológica acerca deles. Alguns estudiosos propõem que mitos de
diferentes culturas revelam a mesma, ou semelhante, força psicológica no trabalho
dessas culturas. Assim, alguns pensadores freudianos têm identificado histórias
semelhantes à história grega de Édipo em culturas diferentes. Eles argumentam que
estas histórias refletem as diferentes expressões do Complexo de Édipo nessas
culturas. De mesmo modo, pensadores junguianos têm identificado imagens, temas e
padrões que aparecem, do mesmo modo, nos mitos de muitas culturas diferentes.
Eles acreditam que essas semelhanças são resultados de arquétipos presentes no
inconsciente coletivo dos níveis mentais de cada pessoa.



Enfoques comparativos e psicanalíticos




                            Max Müller é considerado um dos fundadores da
                            mitologia comparativa. Em seuMitologia Comparativa
                            (1867), Müller analisa a "perturbadora" similaridade entre
                            as mitologias de "raças selvagens" com as das primeiras
                            europeias.




        O desenrolar da filologia comparativa no século XIX — junto com os
descobrimentos etnológicos do século XX — fundou a "ciência da mitologia". Desde o
Romantismo, todo o estudo dos mitos era comparativo: Wilhelm Mannhardt, James
Frazer e Stith Thompson ampliaram o foco comparativo para recoletar e classificar os
temas do folclore e da mitologia. Em 1871, Edward Burnett Tylor publicou seu Primitive
Culture, onde aplicou o método comparativo com a intenção de explicar a origem e a
evolução da religião. O procedimento de Taylor de agrupar o material mítico,
ritualístico e cultural de culturas ampliamente separadas influenciou tanto Carl Gustav
Jung como Joseph Campbell. Max Müller aplicou a nova ciência da mitologia
comparativa ao estudo dos mitos, no qual se detectou os restos distorcionados do
culto à natureza ariana. Bronisław Malinowski enfatizou as formas nas quais os mitos
cumpriam funções sociais comuns. Claude Lévi-Strauss e outros estruturalistas
compararam as relações formais e paternas em mitos de todo o mundo.
Károly Kerényi foi um dos maiores estudiosos de
mitologia e línguas clássicas do século XX.


        Sigmund Freud, com a psicanálise, introduziu uma concepção transhistórica e
biológica do homem a uma visão do mito como expressão de ideias reprimidas.
Através de mitos como o de Édipo, Freud estabeleceu concepções inovadoras a
respeito da mente humana, criando teorias diferentes de tudo o que se tinha pensado
até então, como o Complexo de Édipo e, fundamentalmente, a ideia de inconsciente.
Essa sugestão encontraria um importante ponto de acercamento entre as visões
estruturalistas e psicoanalísticas dos mitos no pensamento de Freud. Carl Gustav
Jung estendeu o enfoque transhistórico e psicológico com sua teoria do inconsciente
coletivo e os arquétipos (patronos arcaicos herdados), às vezes codificiados nos mitos,
que são derivados da mesma. Segundo Jung, "os elementos estruturais que formam
os mitos devem ser apresentados na psique inconsciente". Comparando a
metodologia de Jung com a teoria de Joseph Campbell, Robert A. Segal conclui que
"para interpretar um mito, Campbell simplesmente identifica os arquétipos nele. Uma
interpretação de A Odisseia, p. ex., mostraria como a vida de Odisseu se ajusta a um
patrono heróico. Jung, pelo contrário, considera a identificação de arquétipos
meramente no primeiro passo da interpretação de um mito". Károly Kerényi, um dos
fundadores dos estudos modernos do mito grego, e um dos maiores estudiosos de tal
folclore, abandonou seus primeiros pontos de vista sobre os mitos para aplicar as
teorias de arquétipos de Jung à mitologia grega. Segundo Kerényi, a mitologia grega é
"um conjunto de contos sobre deuses, deusas, batalhas heróicas e jornadas ao mundo
subterrâneo, sendo contos famosos, mas já não tão propícios a possíveis
reformulações.
TEORIAS DA ORIGEM




    Júpiter e Tétis (1811), quadro do francês neoclássico Dominique Ingres.


        Existem diversas teorias sobre a origem da mitologia grega. De acordo com a
Teoria Escritural, todas as lendas mitológicas procedem de relatos dos textos
sagrados, no qual os feitos reais foram disfarçados e, posteriormente, alterados. A
Teoria Histórica, por sua vez, defende a tese de que todas as personas mencionadas
na mitologia foram uma vez seres humanos reais, e as lendas sobre elas são meras
adições de épocas posteriores (assim, supõem-se que a história de Éolo surgiu do fato
de que este era governante de algumas ilhas do Mar Tirreno). Já a Teoria Alegórica
supõe que todos os mitos antigos eram alegóricos e simbólicos, embora tivessem em
seu contexto determinada verdade moral, religiosa ou filosófica ou um fato histórico
que, com o passar do tempo, passaram a ser aceitas como verdade. Finalmente, a
Teoria Física se adere à ideia de que os elementos como ar, fogo e água foram
originalmente objetos de adoração religiosa, sendo que as principais deidades
passaram a ser personificações desses poderes da natureza. Max Müller tentou
compreender uma forma religiosa indo-europeia determinando sua manifestação
"original": em 1891, ele afirmou que "o descobrimento mais importante que se tem feito
no século XIX a respeito da história antiga da humanidade [...] foi essa simples
equação: Dyeus-pitar sânscrito = Zeus grego = Júpiter latino = Tyr nórdico." Em outros
casos, perto dos paralelos o cárater e a função sugerem uma herança comum, mas a
ausência de evidências linguísticas faz com que seja difícil prová-la, como na
comparação entre Urano e o Varuna sânscrito, ou entre as Moiras e as Nornas.
           A arqueologia e a mitografia, numa outra consideração, tem revelado que os
gregos foram inspirados por algumas civilizações da Ásia Menor e do Oriente Próximo.
Adônis parece ser o equivalente grego — mais claramente nos cultos do que em suas
histórias míticas — de um "deus moribundo" do Oriente Próximo. Tudo indica que
Cíbele, por sua vez, tem suas raízes na cultura anatólica, enquanto grande parte da
iconografia de Afrodite surge das deusas semíticas. Existem possíveis paralelismos
entre as gerações divinas mais antigas (Caos e seus filhos) e Tiamat em Enuma Elish.
Segundo o estudioso Meyer Reinhold, "os conceitos teogônicos do Oriente Próximo,
incluindo a sucessão divina mediante a violência e os conflitos gerados pelo poder,
encontraram seu caminho [...] na mitologia grega." Seguindo as origens indo-
europeias e do Oriente Próximo, alguns investigadores especulam sobre as
obrigações da mitologia grega com as sociedades pré-helênicas: Creta, Micenas,
Pilos, Tebas e Orcómeno. Os historiadores da religião estavam fascinados por várias
configurações de mitos aparentemente antigos relacionados com Creta (o deus como
toro, Zeus e Europa, Pasífae que produz toro e dá a luz ao Minotauro; etc.). O
professor Martin P. Nilsson concluiu que todos os grandes mitos da Grécia antiga
estavam atados aos centros micênicos e âncorados em épocas pré-históricas.[154]
Todavia, de acordo com Walter Burkert, a iconografia do período do palácio cretentese
praticamente não tem dado confirmação alguma sobre a veracidade de todas estas
teorias.


Legado e importância
           Localizada na juntura da Europa, Ásia e África, a Grécia é o berço de
nascimento da democracia, da filosofia ocidental, dos Jogos Olímpicos, da Literatura
ocidental e da historiografia, bem como da Ciência política, dos mais importantes
princípios matemáticos, e também o berço de nascimento do teatro ocidental, incluindo
os gêneros do drama, tragédia e o da comédia. Apaixonados pelo debate e pela
controvérsia,[159] os gregos criaram os primeiros ordenamentos políticos com cunho
democrático, onde compartilhavam e defendiam argumentações. Esses princípios
fundamentais definiram o curso do mundo ocidental, e também divulgaram a mitologia
grega, que ainda se torna eficiente, segundo muitos autores, para a educação
acadêmica nas escolas de ensino fundamental e superior, como também para um
entendimento mais profundo e filosófico do ser humano, como veremos a seguir:
Cretenses
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Cretenses

  • 1. Os Cretenses A civilização minóica – nome pelo qual também costumamos chamar o povo cretense nos primeiros séculos de existência – desenvolveu-se de uma forma organizada em cidades por volta de 3000 a.C. na ilha assinalada no mapa abaixo, às portas do Mar Egeu e com posição destacada no Mar Mediterrâneo. Mas arqueólogos já acharam diversos indícios que a ilha era habitada por povos neolíticos desde 6000 a.C.. As primeiras peças de cerâmica encontradas em escavações na ilha datam de 5700 a 5600 a.C. Os primeiros habitantes, provavelmente povos oriundos das cercanias do Mediterrâneo e do Egeu, tinham na agricultura o principal sustento. Cultivavam principalmente oliveiras, vinhas e cereais como trigo e lentilhas, além de criar bois e cabras, tanto nas planícies da ilha como em volta dos primeiros assentamentos populacionais, que mais tarde tornaram-se as primeiras cidades cretenses. Os cretenses também desenvolveram um forte artesanato e, por volta de 3000 a.C. – portanto, já na Idade do Bronze – aprenderam a manusear metais e passaram a fabricar utensílios que eram vendidos em diversos pontos do Mediterrâneo. Comercializavam muito com os egípcios e com os povos das ilhas do Mar Egeu, além das regiões da Palestina e da Síria. Aproximadamente no ano de 1750 a.C. Creta passou por um sério problema que desestruturou toda a organização social da ilha. Não se sabe ao certo se foi um grande terremoto que destruiu muito do que existia, ou uma invasão de povos vindos
  • 2. de outros pontos do Mediterrâneo que “desfigurou” a sociedade cretense. O que se sabe é que realmente houve um grande evento que abalou a sociedade minóica. Por volta de 1700 a.C., já no reinado do rei Cnossos, Creta voltou a se organizar de forma mais consistente. Os cretenses instalaram vários portos ao longo do Egeu e do Mediterrâneo, o que garantiu o ressurgimento da economia marítima da ilha. Cnossos também ficou conhecido por construir um palácio belíssimo, e grande parte de suas ruínas estão de pé até hoje! Ruínas do Palácio de Cnossos. Em volta do palácio funcionavam mercados, casas de banho, oficinas e armazéns. Cnossos pode ser considerado uma cidade. E muitas obras de arte ainda estão intactas nas paredes das ruínas, entre outras que foram encontradas por arqueólogos e levadas para museus. No século XV a.C. o povo aqueu, originário do Mar Egeu, invadiu lentamente a ilha de Creta. Apesar da “invasão”, a fusão das duas culturas criou a sociedade micênica, que no futuro seria a base de formação da cultura grega. É bom citar que nesta época cidades cretenses influenciavam cidades gregas, que chegavam a pagar tributos à Creta. No século XII a.C. invasões mais rápidas e violentas acabaram com a sociedade micênica. A chegada dos eólios, os jônios e principalmente os dórios – vindos da região do Peloponeso – promoveram uma invasão realmente violenta. Grande parte da cultura da ilha foi assimilada ou simplesmente sumiu por volta de 1380 a.C.. Alguns historiadores sustentam a tese de que a erupção de um vulcão por volta de 1470 a.C. na ilha de Santorini, bem próximo a Creta e que causou um
  • 3. maremoto – tsunami? – destruiu muitos dos grandes portos cretenses e que esta destruição abalou os moradores da ilha que, sem muito o que fazer e sem muitas motivações para reconstruir tudo que foi destruído, teriam sucumbido aos dórios sem muita luta. Segundo Vinicius, historiador, os dois fatores – a invasão e o maremoto – foram fundamentais já que os cretenses, na época, deveriam ser bem mais desenvolvidos que os dórios, até mesmo na parte militar. Mas vamos falar mais sobre alguns aspectos da sociedade cretense. ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DOS CRETENSES Creta foi uma talassocracia formada por cidades que eram parecidas com as cidades-estado gregas, governadas pelas elites locais mas, diferente da Grécia, as cidades estavam ligadas e eram dependentes de uma capital – neste caso, a capital era a cidade de Cnossos. Também diferente da Grécia, as cidades cretenses não lutavam entre si, o que dá uma noção de que havia uma unidade, uma idéia de povo comum entre os habitantes da ilha. O rei Minos – aquele da lenda do Minotauro – nunca teria existido na verdade. Pelo menos é o que concluem os arqueólogos e historiadores que se debruçam sobre o passado cretense. A conclusão vem do fato de que até hoje não foi encontrada em Creta qualquer vestígio de que realmente tivesse existido qualquer rei com este nome. O palácio de Minos, onde estaria o famoso labirinto na verdade é o palácio de Cnossos. Os gregos é que acharam o palácio um verdadeiro labirinto e criaram a lenda. Aliás, “lenda” e “Grécia” são duas palavras que geralmente andam juntas na Antiguidade…
  • 4. RELIGIÃO E MITOLOGIA CRETENSE Deusa-Mãe cretense Neste ponto os cretenses eram diferentes de todos os povos antigos: eles adoravam exclusivamente divindades femininas, ou seja, tinham uma religião matriarcal. Homens participavam dos cultos na posição de sacerdotes, mas as divindades cultuadas eram todas femininas. Eles não valorizavam só o Sagrado Feminino, mas as mulheres também ocupavam posições de destaque na organização pública. Enfim, e mulher era venerada pela sociedade cretense como deveria ser. Também veneravam o touro, animal encontrado em diversas gravuras juntamente com outros elementos religiosos para os cretenses, como o martelo de dois gumes – também conhecido como labrys. Quanto à mitologia cretense os gregos – conforme comentado mais acima no texto – é que criaram toda uma mitologia usando a ilha como pano de fundo. Platão, ao falar sobre Atlântida, descreve a grande cidade como uma ilha desenvolvida e próspera que teria sido engolida pelo mar e sua população desapareceu. Ao ver fotos das ruínas do palácio de Cnossos e saber que Creta alcançou um certo desenvolvimento social e econômico considerável para a época, de quem vocês imaginam que Platão poderia estar falando?
  • 5. - A lenda do Minotauro: Além da associação com Atlântida, Cnossos abrigou a lenda do Minotauro. O rei Minos teria pedido a Poseidon que mandasse um touro branco como reconhecimento de seu reinado. Só que Poseidon queria que o rei Minos sacrificasse o animal, o que não foi atendido – Minos acabou sacrificando outro animal no lugar deste. Afrodite então fez com que a mulher de Minos, Parsifae, se apaixonasse pelo touro. Parsifae então pediu para que o artesão Dédalo construísse uma vaca de madeira para que ela, uma vez escondida dentro da vaca, pudesse “se entregar” ao animal. O resultado desta união é o Minotauro. Parsifae cuidou da criança, mas à medida que ela crescia ficava cada vez mais furiosa. A única coisa que aplacava a fome do Minotauro era a carne humana, e Minos mandou construir um grande labirinto para abrigar a criatura. Nesta época a cidade de Atenas era governada pelo rei Egeu. Uma versão da lenda diz que Androgeu, filho de Minos, teria sido morto por atenienses e que seu pai declarou guerra a Atenas e venceu, obrigando Egeu a enviar anualmente 14 jovens, sendo 7 homens e 7 mulheres, para servir de alimento para o Minotauro. No terceiro ano que teria que enviar os jovens, o filho de Egeu, Teseu, se ofereceu para matar o Minotauro e seguiu junto com os outros jovens para Creta. Mesmo contrário à idéia, Egeu aceitou que o filho fosse até Creta mas pediu que, caso Teseu voltassecom vida, levantasse velas brancas no barco. Chegando à ilha, a filha de Minos, Ariadne, apaixonou-se por Teseu e deu a ele um novelo, no qual ele poderia se guiar no caminho de volta – uma versão diz que a própria Adriadne guiou Teseu até onde estava o Minotauro. Teseu então lutou bravamente contra o monstro até matá-lo. Liderando outros atenienses na fuga, conseguiu ainda destituir Minos do trono só que, ao voltar para casa, esqueceu de hastear velas brancas no barco e Egeu, seu pai, ao ver velas pretas no horizonte, entrou em desespero – acreditando que o filho estava morto – e se jogou no mar, que acabou ganhando seu nome.
  • 6. ARTE CRETENSE Como a civilização foi uma das “bases” para a cultura grega, existem semelhanças entre a arte dos dois povos, mesmo em épocas de desenvolvimento distintas. Segue abaixo algumas obras famosas dos cretenses: Afresco “As Damas de Azul”.
  • 7. Vaso retratando um polvo, animal Máscara cretense feita em ouro. encontrado em diversas cerâmicas.
  • 8. Afresco das “Mulheres Pugilistas” em Akrotiri. Quem já conheceu Creta sabe – e sempre comenta – que a ilha guarda diversas obras de arte de seu passado. Pesquisando para colocar as imagens aqui no texto eu pude constatar que além das obras de arte a ilha tem suas belezas naturais, além da sua importância histórica. O certo é que Creta é passagem obrigatória para todos que querem conhecer um pouco mais sobre a civilização grega.
  • 9. SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA CIVILIZAÇÃO CRETENSE Creta esteve habitada desde o Neolítico. No começo da Idade do Bronze, os cretenses criaram no 3° milénio a.C. uma grande civilização insular (cultura minóica). Aquela civilização construiu palácios em Cnossos, em Festos, em Maliá e em Santa Trindade – palácios cujas ruínas ainda são vistas. A partir da primeira metade do 2º milénio a.C. Creta chegou a ser o centro cultural e comercial (graças ao domínio que lhe dava a sua frota e às riquezas acumuladas pelo comércio de produtos como o vinho, o azeite, as cerâmicas, os tecidos e a joalharia impôs-se no Mar Mediterrâneo quer nos territórios vizinhos quer em locais mais afastados, como a Sicília) nas regiões da Idade do Bronze no Mediterrâneo Oriental (cultura do Egeu). O seu predomínio terminou c. 1400 a.C., quando a ilha foi ocupada militarmente pelos aqueus. No século IV a.C. as cidades da ilha guerrearam entre si. No ano 67 a.C., depois de entrarem em conflito com os romanos, estes conquistam a ilha comandados por Quinto Cecílio Metelo. Quando o Império Romano se dividiu em 395, Creta assumiu um papel importantíssimo pelo lugar central que ocupava e por estar incluída no Império Romano do Oriente, tendo sido um importante posto bizantino. Entre 823–961 a ilha foi ocupada pelos árabes, tendo sido conquistada por Veneza no decurso da Quarta Cruzada. Estes teriam que defender a ilha das investidas dos turcos otomanos durante o século XV. Instalam-se na ilha em 1645 e acabam por conquistá-la totalmente em 1715, introduzindo o islamismo. Tornou-se um estado autónomo em 20 de março de 1898 e independente em 6 de outubro de 1908. A 30 de maio de 1913 ficou a pertencer definitivamente à Grécia. Árvore genealógica das tribos dos helenos e seus ancestrais, baseada em Pseudo-Apolodoro:
  • 10. OS JOGOS OLÍMPICOS O que hoje é um espetáculo esportivo com transmissão completa do evento pelos principais canais de comunicação do mundo, e ocorre de 4 em 4 anos em uma cidade de um país diferente a cada edição, com atletas do mundo inteiro, um dia foi apenas um evento esportivo e religioso dos gregos antigos. Como começaram os Jogos Olímpicos? Segundo a lenda grega, os jogos foram criados por Hércules, que teria plantado a oliveira de onde saíam as folhas para confecção das coroas dadas aos vencedores. Como os gregos já faziam festas e celebrações em homenagem a Zeus desde antes de 2500 a.C., os historiadores acreditam que esta é a época aproximada em que começaram os jogos, que também aconteciam em honra a Zeus. Mas apenas a partir do ano 776 a.C. é que o nome dos vencedores começou a ser registrado. Assim, considera-se que este é o ano do primeiro torneio olímpico “oficial” da Grécia Antiga. Inclusive o nome do torneio deve-se ao acordo feito entre Ifitos, rei de Ilia, Licurgo, rei de Esparta e Clístenes, rei da Pissa. Este acordo foi selado no templo de Hera, no santuário de Olímpia, por isso o nome Olimpíada. CITIUS, ALTIUS, FORTIUS. Com este acordo firmado entre os monarcas, vários atletas do chamado “mundo grego” – Grécia continental e suas colônias espalhadas pelo Mediterrâneo – passaram a participar do torneio, que também exigia uma “Trégua Sagrada” caso uma ou mais cidades-estado estivesse em guerra. A “Trégua Sagrada” era o período em que era proibido travar qualquer batalha contra qualquer inimigo, e as guerras já em curso deveriam parar enquanto os jogos estivessem acontecendo. Este medida visava a segurança dos atletas e dos espectadores nas estradas que levavam aos jogos. Inicialmente os atletas disputavam as seguintes modalidades – que não começaram todas exatamente em 776. Algumas passaram a ser disputadas depois, mas de um modo geral podemos considerar estas como as primeiras: a corrida equestre, a corrida pedestre, três tipos de lutas diferentes – luta, pugilato e pancrácio – e o pentatlo, que consistia no lançamento de disco, lançamento de dardo, salto em comprimento, corrida no estádio e luta.
  • 11. Obra de arte grega retratando o pancrácio, uma das lutas disputadas nos jogos antigos. As mulheres, os escravos e os “estrangeiros” – chamados de bárbaros pelos gregos – não podiam participar dos jogos, que eram exclusividade dos considerados cidadãos gregos e eram disputados com os participantes completamente nus, peladões mesmo. As únicas mulheres que podiam assistir aos jogos eram as sacerdotisas de Dêmetra – a deusa da fertilidade da terra. As outras mulheres disputavam a Heraea, em homenagem à Hera, mulher de Zeus, em uma data diferente dos jogos olímpicos. É interessante citar que durante os jogos antigos não aconteciam apenas as competições atléticas e as celebrações religiosas, mas os espectadores e atletas eram convidados a participar de palestras de filósofos e historiadores. Por motivações políticas, principalmente as geradas pela Guerra do Peloponeso, os jogos antigos tiveram seu declínio por volta do século V a.C. Eles aconteceriam até o ano de 393, mas sem a mesma força dos dois séculos iniciais, quando então o imperador romano Teodósio proibiu os jogos, pois os considerou uma manifestação pagã.
  • 12. OS JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA. Idealizados pelo barão Pierre de Coubertin, os Jogos da Era Moderna aconteceram pela primeira vez em Atenas, no ano de 1896 e, assim como na Grécia Antiga, tem ocorrido de 4 em 4 anos, só parando nos períodos da 1ª e 2ª Guerras. Ou seja: antigamente, existia a trégua na guerra para a prática do esporte, hoje o esporte é que dá uma trégua pois uma guerra está em andamento. Tempos modernos… Mas voltando ao assunto do texto, como eu disse no início, os jogos hoje são uma grande celebração do esporte, e uma grande fonte de renda para muitas pessoas movimentando centenas de milhões de dólares a cada edição, e com audiência mundial estipulada em 2,5 bilhão de pessoas. Hoje em dia o esporte é um negócio muito rentável. Já vai o tempo em que os ideais do Colbertin, de união dos povos e paz entre as nações é levado exclusivamente em conta durante os jogos. O importante é competir… desde que você ganhe. Ainda existe o tal do “espírito olímpico” em muitos atletas, mas ele está cada dia mais apagado. Usain Bolt: nascido para correr, moldado pelo treinador para humilhar os adversários.
  • 13. MITOLOGIA GREGA È o estudo dos conjuntos de narrativas relacionadas aos mitos dos gregos antigos, de seus significados e da relação entre eles e os povos — consideradas, com o advento do cristianismo, como meras ficções alegóricas. Para muitos estudiosos modernos, contudo, entender os mitos gregos é o mesmo que lançar luz sobre a compreensão da sociedade grega antiga e seu comportamento, bem como suas práticas ritualísticas. O mito grego explica as origens do mundo e os pormenores das vidas e aventuras de uma ampla variedade de deuses, deusas, heróis, heroínas e outras criaturas mitológicas. Ao longo dos tempos, esses mitos foram expressos através de uma extensa coleção de narrativas que constituem a literatura grega e também na representação de outras artes, como a pintura da Grécia Antiga e a pintura vermelha em cerâmica grega.[3][4] Inicialmente divulgados em tradição oral-poética,[5] hoje esses mitos são tratados apenas como parte da literatura grega.[6] Essa literatura abrange as mais conhecidas fontes literárias da Grécia Antiga: os poemas épicos Ilíada e Odisseia (ambos atribuídos a Homero e que focam sobre os acontecimentos em torno da Guerra de Troia, destacando a influência de deuses e de outros seres), e também a Teogonia e Os Trabalhos e os Dias, ambos produzidos por Hesíodo.[7] Os mitos também estão preservados nos Hinos homéricos, em fragmentos de poemas do Ciclo Épico, na poesia lírica, no âmbito dos trabalhos das tragédias do século V a.C., nos escritos de poetas e eruditos do Período Helenístico e em outros documentos de poetas do Império Romano, como Plutarco e Pausânias.[7] A principal fonte para a pesquisa de detalhes sobre a mitologia grega são as evidências arqueológicas que descobrem e descobriram decorações e outros artefatos, como desenhos geométricos em cerâmica, datados do século VIII a.C., que retratam cenas do ciclo troiano e das aventuras de Hércules.[7] Sucedendo os períodos Arcaico, Clássico e Helenístico, Homero e várias outras personalidades aparecem para completar as provas dessas existências literárias.[7] A mitologia grega tem exercido uma grande influência na cultura, nas artes e na literatura da civilização ocidental e permanece como parte da herança e da linguagem do Ocidente.[8] Poetas e artistas desde os tempos antigos até o presente têm se inspirado na mitologia grega e descoberto que os temas mitológicos lhes legam significado e relevância em seu contemporâneo.[9] Seu patrimônio também influi na ciência, como no caso dos nomes dados aos planetas do Sistema Solar e em estudos teóricos, acadêmicos, psicanalíticos, antropológicos e muitos outros,[10][11][12][13] além de nos dias de hoje tradições neopagãs como a Wicca serem influenciadas por ela e
  • 14. outras como o dianismo, a Stregheria e principalmente o dodecateísmo (ou neopaganismo helênico) tenham tentado resgatar suas crenças. TERMO E COMPREENSÃO Num contexto acadêmico, a palavra "mito" significa basicamente qualquer narrativa sacra e tradicional, seja verdadeira ou falsa. O sufixo "-logia", derivado do radical grego "logo", representa um campo de estudo sobre um assunto em particular. Com a junção de ambos os termos, "mitologia grega" seria, basicamente, o estudo dos mitos gregos, ou seja, os que fazem parte da cultura da Grécia. Sendo assim, o termo não só alude ao estudo dos mitos como também aos próprios mitos. Como escreve o professor e escritor português Carlos Ceia, "termo de dupla significação, indica, por um lado, o conjunto dos mitos ou narrativas míticas relativas a seres sobrenaturais, fantásticos ou de valor super humano e, por outro lado, o estudo ou interpretação dos mitos." É um termo crítico moderno e, portanto, os próprios gregos e romanos antigos não se referiam a suas crenças como "mitos" ou "mitologia", mas como religião (ver capítulo Interpretação), o que ainda hoje em dia ocorre com os neopaganistas helênicos, embora estes vivam um acontecimento moderno diferente de resgate e preservação e mesmo certos grupos de adeptos entendam o papel dos mitos como arquétipos ou símbolos (ver seção Neopaganismo e resgate). Para mais informações sobre o histórico de interpretação dos mitos gregos, dirija-se até as sub-seções: Concepções greco-romanas e Interpretações modernas. É importante ressaltar que, nesse artigo, as palavras "mitologia" e "mito" são usadas para as narrativas tradicionais e sagradas das culturas clássicas, sem qualquer implicação de que esta ou aquela seja verdadeira ou falsa. MITO E RELIGIÃO As dafnefórias (1876), oléo sobre tela de Frederic Leighton: a dafnefória era um festival dedicado a Apolo celebrado pelos gregos a cada nove anos, em Tebas, Beócia. A mitologia grega era assunto principal nas aprendizagens das crianças da Grécia Antiga, como meio de orientá-las no entendimento de fenômenos naturais e em outros acontecimentos que ocorriam sem o intermédio dos homens. Os gregos antigos atribuíam a cada fenômeno natural uma criatura ou um deus diferente. Certos estudiosos modernos dizem que, quando passaram a inventar meios de calcular o tempo e quando criaram mecanismos de datação como o calendário, seus mitos
  • 15. declinaram (ver seção Declínio logo abaixo). Os poetas atribuíam esses estados térmicos, como também as relações e as características humanas, aos deuses e a outras histórias lendárias, e elas serviram durante um bom tempo como cultos ritualísticos na sociedade da Grécia antiga. Mulher ajoelhada diante de um altar. Pintura vermelha em cerâmica, ca. 510-500 a.C. Antigo Museu Ágora de Atenas Além das crianças serem educadas através dos mitos, as famílias aristocráticas da Grécia, assim como os reis, e também profissionais, como os médicos, possuíam a tradição de se ligarem genealogicamente a antepassados míticos, geralmente divinos, ou até mesmo heróicos. Os comerciantes também cultuavam deuses, como Hermes, sempre em tentativa de deixá-lo satisfeito e assim conseguir bons resultados em suas vendas.[22] Além de serem habituados aos sacrifícios de animais e às orações, os gregos antigos adotavam um deus particular ou um grupo deles para sua cidade, e os cidadãos construíam templos e o(s) venerava(m). Essas cidades não possuíam qualquer organização religiosa oficial, mas honravam os deuses em lugares determinados, como Apolo exclusivamente em Delfos. Muitos festivais religiosos eram realizados na Grécia antiga. Alguns eram especificadamente dedicados a uma deidade particular ou cidade-estado. A Lupercalia, por exemplo, era comemorada na Arcádia e dedicada à pastoral Pã. Existiam também os jogos que eram realizados anualmente em locais diferentes, e que culminaram nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, realizados a quatro anos e dedicados a Zeus. Os gregos, frequentemente, encontravam desígnios dos deuses em muitas características da natureza. Os adivinhos, por exemplo, acreditavam haver mensagens divinas contidas no vôo das aves e nos sonhos. Nas cidades, os oráculos — locais sagrados — eram usados por um sacerdote que, tomado por êxtase ou loucura divina, servia de intermédio entre o diálogo de um fiel e seu deus de adoração. Nas primeiras eras em que a recente filosofia vivia ao lado da tradicional mitologia, para o povo grego a sabedoria plena e completa pertencia aos deuses, mas os homens poderiam desejá-la e amá-la, tornando-se filósofos (philo= amizade, amor fraterno, respeito; sophia= sabedoria).
  • 16. MITO E RELIGIÃO Cena de sacrifício grego em pintura vermelha em cerâmica do século V a.C.. Museu Arqueológico de Espanha. É preciso haver um esclarecimento acerca da diferença entre mito e religião. Hoje, todas as mitologias de todos os povos são entendidas como um conjunto de crenças enraizadas em relatos modernamente tidos como fictícios e imaginados pelos poetas, enquanto a religião propõe-se a criar rituais ou práticas com a finalidade de estabelecer vínculos com a espiritualidade. "Mitologia" é um termo indiscutivelmente técnico e moderno e nunca utilizado pelos próprios gregos ou romanos. Seus cultos compreendiam uma religião politeísta da qual os especialistas de hoje agrupam no que se chama "mitologia grega", analisando as narrativas poéticas como legados da literatura antiga, ao passo que os próprios gregos, sobretudo antes da fama da filosofia, acreditavam serem reais. Pode-se dizer que "mito" é todo o conjunto que nós compreendemos hoje o que em suas épocas os gregos chamavam "religião". Concepção de um templo grego, onde se reverenciavam os deuses: muitas dessas obras arquitetônicas da Grécia ainda estão preservadas no território do país. Para ficar mais claro, podemos dizer que os textos sacros dos gregos são o que chamamos agora de mitologia ou literatura da Grécia antiga. A Teogonia e Os Trabalhos e os Dias de Hesíodo, a Ilíada e a Odisseia de Homero e as Odes de Píndaro estão entre as obras que os gregos consideravam sacros. Estes são os principais textos que foram considerados inspirados pelos deuses e geralmente incluem no prólogo uma invocação às Musas para que elas auxiliem o trabalho do poeta. Os gregos faziam cultos os deuses do Olimpo, realizados em templos comuns ou em altares e, também, culto aos heróis históricos, realizados em suas respectivas tumbas. Dedicados a um deus ou a um herói, os templos, decorados com esculturas (de deuses ou heróis) em relevo entre o teto e o topo das colunas, eram constituídos de pedras nobres como o mármore, usadas no alto da acrópole. Os antigos teatros
  • 17. gregos, também, eram construídos para determinada figura mitológica, deuses ou heróis, como o teatro de Dioniso no Santuário de Apolo em Delfos. Além da religião ter sido praticada através de festivais, nela se acreditava que os deuses interferiam diretamente nos assuntos humanos e que era necessário acalmá-los por meio de sacrifícios.[24] Estes rituais de sacrifício desempenharam um papel importante na formação da relação entre o homem e o divino. Um dos conceitos mais importantes quanto à moral para os gregos era o medo de cometer húbris (arrogância), o que constitui muitas coisas, do estupro à profanação de um cadáver. Classificação A gama de personagens, seres e ambientes que formam a mitologia grega podem ser separados em três partes, sendo a última um apêndice para a literatura mitológica, de onde conseguimos grande parte das informações sobre os mitos: 1. Raças, divindades, criaturas; personagens em geral, que abrange os ventos, centauros, ctónicos, ciclopes, dragões, erínias, gigantes, górgonas, hecatônquiros, harpia, musas, moiras, mortais, ninfas, deuses olímpicos, deuses primordiais, sátiros e titãs. 1 a. Aqui também são incluídos os heróis Héracles, Aquiles, Odisseu, Jasão, Argonautas, Perseu, Édipo, Teseu e Triptolemos. 2. Lugares, que abrange os ambientes em que essas figuras, na imaginação dos gregos, viveram suas aventuras, que são Delfos, Delos, Olímpia, Hades (reino), Atlântida, Olimpo, Troia, e Temiscira. 3. Literatura mitológica clássica, inclui o estudo da literatura antiga grega, que contou com nomes como Homero, que incluía em sua narrativa a crença de deuses. FONTES A mitologia grega é conhecida nos dias de hoje através da literatura grega e de expressões artísticas visuais como a cerâmica grega que datam do Período Geométrico em diante. O objetivo deste capítulo é entender como nós, contemporâneos, tivemos a oportunidade de arrecadar hoje em dia informações tão antigas quanto são os mitos gregos.
  • 18. FONTES LITERÁRIAS A narração mítica desempenhou um papel importante em quase todos os gêneros da literatura grega. No entanto, o único manual mitográfico que sobreviveu da Grécia Antiga foi a famosa Biblioteca Mitológica, do escritor denominado Pseudo- Apolodoro, que tenta conciliar os contos contraditórios dos poetas e fornece um resumo da mitologia grega e suas lendas históricas. O verdadeiro Apolodoro viveu entre c. 180-120 a.C., escreveu sobre muitos destes temas e seus escritos podem ter formado a base para a coleção dessa obra, porém a Biblioteca aborda eventos que ocorreram muito tempo após sua morte, daí o nome Pseudo-Apolodoro. Entre as fontes literárias da primeira era, destacam-se os dois poemas épicos de Homero–Ilíada e Odisseia. Completando esse ciclo épico, temos escritas de poetas cujos documentos foram perdidos ao longo do tempo. Apesar da sua denominação tradicional, os Hinos homéricos, hinos em coral da primeira fase da então-denominada poesia lírica, não possuem relação alguma com Homero. Hesíodo, possível contemporâneo de Homero, produziu Teogonia, o documento mais recente sobre mitos gregos, que elabora uma genealogia dos deuses e explica a origem dos Titãs e dos Gigantes. Os Trabalhos e os Dias, também de Hesíodo, é um poema didático sobre a vida da agricultura que apresenta os mitos de Pandora e da Era dos Homens. O poeta dá conselhos sobre a melhor maneira de ter sucesso em um mundo perigoso tornado ainda mais arriscado por esses deuses. Os Trabalhos e os Dias também apresenta o mito de Prometeu, que, mais tarde, constituiu na base de uma trilogia de tragédias, possivelmente iniciada por Ésquilo, que são: Prometeu Acorrentado, Prometeu Desacorrentado e Prometeu, o Condutor do Fogo. Os poetas líricos direcionaram por vezes seus temas aos mitos, todavia esse tratamento ficou cada vez menor, enquanto que sua alusões à narrativa cresceu. Os poetas líricos gregos, como Píndaro e Simónides de Ceos, e os poetas bucólicos, incluindo Teócrito, forneceram incidentes mitológicos individuais. Além disso, o mito foi tema central no drama Ateniense: os dramaturgos trágicos Eurípides, Sófocles e Ésquilo produziram seus enredos envolvendo a Era dos Heróis e a Guerra de Troia. Muitas das grandes históricas trágicas (ou seja, Agamemnon e seus filhos, Édipo, Jasão e Medeia, etc.) trouxeram em sua forma clássica estas peças trágicas. Os historiadores Heródoto e Diodoro Sículo, e os geógrafos Pausânias e Estrabão, que viajaram ao redor do mundo grego e anotaram as histórias que ouviram, forneceram numerosos mitos locais, apresentando diversas vezes versões alternativas pouco conhecidas dos mitos. Heródoto, especialmente, procurou as várias tradições
  • 19. apresentando e encontrando as raízes históricas ou mitológicas no conflito entre a Grécia e o Oriente. Heródoto procurou conciliar as origens e a mistura de diferentes conceitos culturais. A poesia das eras Helenística e Romana, que embora tenha sido composta mais como literatura do que um exercício de culto aos mitos, contém muitos detalhes importantes que de outra forma seriam perdidos. Essa categoria inclui: 1. Os poetas romanos Ovídio, Sêneca e Virgílio. 2. Os poetas gregos da Antiguidade tardia: Antonino Liberal e Quinto de Esmirna. 3. Os poetas gregos do Período Helenístico: Apolónio de Rodes, Calímaco, Eratóstenes e Partênio. 4. Antigos romances de gregos e romanos, como Apuleio, Petrônio e Heliodoro. Em contrapartida com o gênero lírico, a Fabulae e a Astronomica do escritor romano Higino são duas composições não-poéticas importantes sobre o mito. As obras Imagens e Descrições, de Filóstrato e Calístrato (respectivamente), são dois trabalhos literários úteis para o estudo dos mitos gregos. Finalmente, o apologético cristão Arnóbio, citando práticas religiosas para desacreditá-las, e vários outros escritores bizantinos proporcionam detalhes importantes dos mitos, alguns deles procedentes de obras gregas perdidas durante os anos. Entre estes, inclui-se os léxicos de Hesíquio, a Suda, e os tratados de João Tzetzes e de Eustácio de Salônica. O ponto de vista moralizador cristão a respeito dos mitos gregos se resume no dito ἐν παντὶ μύθῳ καὶ τὸ Δαιδάλου μύσος (en panti muthōi kai to Daidalou musos, "em todo mito está a profanação de Dédalo"), sobre o que disse a Suda que alude o papel de Dédalo ao satisfazer a "luxúria antinatural" de Pasífae pelo trono de Posídon: "Desde que a origem e a culpa desses males se atribuíram a Dédalo e foi odiado por eles, se converteu no objeto do provérbio."
  • 20. FONTES ARQUEOLÓGICAS Aquiles mata um prisioneiro de Troia diante de Caronte, numa pintura- vermelha etrusca, realizada no fim do século IV e início do século III a.C.. A descoberta da civilização micênica pelo arqueólogo amador alemão Heinrich Schliemann no século XIX, e a descoberta da civilização minóica em Creta pelo arqueólogo britânico Sir Arthur Evans no século XX, ajudaram a esclarecer muitas dúvidas a respeito dos épicos de Homero e outras questões da mitologia, como as crenças em deuses e em heróis. A evidência sobre os mitos e os rituais nos sítios arqueológicos das civilizações micênica e minóica é inteiramente monumental, uma vez que a linear B (método de escrita antigo, encontrado em Creta e na Grécia continental) era usada principalmente para o registro de inventários, embora os nomes de deuses e de heróis tenham sido dificilmente revelados. Schliemann começou seu trabalho em 1870, com o intuito de averiguar se as histórias que ouvia de seu pai quando criança, a respeito dos épicos homéricos, eram verdadeiras; numa madrugada, juntamente com sua esposa, conseguiu encontrar dois diademas de ouro, 4.066 plaquetas, 16 estatuetas, 24 colares de ouro, anéis, agulhas, pérolas (total de 8.700 artefatos) e pesquisas posteriores deixaram certezas que a mítica cidade de Troia existiu no local há milênios. Existem desenhos geométricos em cerâmica datados do século VIII a.C. que retratam o Ciclo de Troia, como também as aventuras de Hércules. Por dois motivos, essas representações visuais dos mitos possuem enorme importância: em primeiro lugar, muitos mitos gregos foram comprovados em desenhos de vaso antes do que na literatura escrita–das doze elaborações sobre Hércules, por exemplo, somente a aventura de Cérbero é apresentada pela primeira vez em um texto literário–e, em segundo lugar, as fontes visuais muitas vezes fornecem cenas míticas que não são apresentadas em quaisquer fontes literárias existentes. Em alguns casos, a primeira representação conhecida de um mito na arte geométrica antecede, em questão de muitos anos e séculos, a sua primeira aparição conhecida na poesia arcaica. Nos períodos Arcaico (750–c. 500 a.C), Clássico ( 480–323 a.C), e Helenístico, Homero e várias outras personalidades surgem para completar as evidências literárias da existência da mitologia grega.
  • 21. HISTÓRIA Descrição topográfica da Península Balcânica. A origem dos mitos da Grécia não deriva puramente da civilização grega, mas de uma mistura entre a cultura dos indo-europeus, pré-gregos, e até mesmo dos asiáticos, egípcios e outros povos com as quais os gregos estabeleceram contato Um dos fatores de evolução da mitologia grega foi a grande transformação que ela experimentou através dos tempos, e tal transformação serviu para enriquecer sua própria cultura. Os primeiros habitantes da Península Balcânica, em grande parte agricultores, atribuíam a cada aspecto da natureza um espírito. Finalmente, estes espíritos vagos assumiram a forma humana e entraram na mitologia local como deuses e deusas.[43] Quando as tribos do norte invadiram a Península Balcânica, trouxeram consigo um novo panteão de deuses e crenças, voltadas à conquista, à força e à valentia, à batalha e ao heroísmo violento. Outras divindades mais antigas que povoavam a mente dos habitantes agrícolas se fundiram com aquelas dos invasores mais poderosos, ou então desvaneceram-se na insignificância. A mais alta montanha da Grécia, o Monte Olimpo, em foto de 2005, onde os gregos antigos acreditavam ser a morada dos Doze Deuses.
  • 22. A mais alta montanha da Grécia, o Monte Olimpo, em foto de 2005, onde os gregos antigos acreditavam ser a morada dos Doze Deuses. Após a metade do período arcaico, que possuía mitos sobre as relações entre homens e deuses masculinos, os heróis tornaram-se cada vez mais aclamados, indicando o desenvolvimento paralelo da pederastia pedagógica, que pensa-se ter sido introduzido por volta de 630 a.C. Nos finais do século V a.C, os poetas haviam atribuído pelo menos um eromenos a todos os deuses importantes, exceto Ares e outras figuras lendárias. Outros mitos anteriormente existentes, como o de Aquiles e o de Pátroclo, foram reinterpretadas como mitologia homossexual. O sentido da poesia épica foi criar ciclos históricos, e resultar num desenvolvimento de um senso da cronologia mitológica; assim, a mitologia grega desdobra-se como uma etapa no desenvolvimento do mundo e do homem. As auto- contradições nas histórias fazem com que seja impossível montar um cronograma absoluto a respeito da Mitologia grega, mas podemos elaborar uma cronologia concordável. A história mitológica do mundo pode ser dividida em 3 ou 4 grandes períodos: 1. Mito da origem ou da era dos deuses: é a teogonia, o nascimento dos deuses, os mitos sobre a origem do planeta, dos deuses e da raça humana. 2. Era em que os homens e os deuses se mesclam livremente: histórias das primeiras interações entre deuses, semi-deuses e mortais juntos. 3. Era dos heróis (era heróica), onde a atividade divina ficou mais limitada. As últimas e maiores lendas heróicas são da Guerra de Troia e suas consequências (consideradas por alguns investigadores como um quarto período separado). Embora a Era dos deuses tem sido frequentemente alvo de interesse pelos alunos contemporâneos da mitologia grega, os autores arcaicos e clássicos possuíam uma clara preferência pela Era dos heróis. As heróicas Ilíada e Odisseia, por exemplo, estavam e ainda se encontram atualmente sobre maior destaque que a Teogonia e que os hinos homéricos – e prevaleceram em popularidade e continuidade. Sob a influência de Homero, o culto heróico conduziu uma reestruturação na vida espiritual, expresso na separação entre o reino dos deuses do reino dos mortos (heróis), e dos deuses olímpicos dos ctónicos. No O Trabalho e Os Dias, Hesíodo monta um esquema de quatro Era dos homens (ou Raças): de Ouro, de Prata, de Bronze e de Ferro. Estas raças ou eras são criações separadas dos mitos dos deuses, correspondendo à Era Dourada ao reino de Cronos e sendo as seguintes raças criações de Zeus. Hesíodo intercalou a Era (ou Raça) dos heróis pouco depois da
  • 23. Idade do Bronze. A ultima idade foi a Idade do Ferro. Em Metamorfoses, Ovídio segue o conceito de Hesíodo e apresenta essas quatro idades. Era dos deuses Cosmogonia e cosmologia Ver artigo principal: Deuses primordiais e Genealogia dos deuses gregos Ἤτοι μὲν “ πρώτιστα Χάος γένετ'· αὐτὰρ ἔπειτα Γαῖ' εὐρύστερος, πάντων ἕδος ἀσφαλὲς αἰεὶ. Pois bem, no princípio nasceu Caos; depois, Gaia de amplo seio, a eterna base de tudo ” O Amor Conquista Tudo, representação do deus Eros, pelo pintor do barroco Caravaggio —Hesíodo, Teogonia, 116-7.[51] ."Mitos de origem" ou "mitos de criação", na mitologia grega, são termos alusivos à intenção de fazer com que o universo torne-se compreensível e com que a origem do mundo seja explicada. Além de ser o mais famoso, o relato mais coerente e mais bem estruturado sobre o começo das coisas, a Teogonia de Hesíodo também é visto como didático, onde tudo se inicia com o Caos: o vazio primitivo e escuro que precede toda a existência. Dele, surge Gaia (a Terra), e outros seres divinos primordiais: Eros (atração amorosa), Tártaro (escuridão primeva) e Érebo. Sem intermédio masculino, Gaia deu à luz Urano, que então a fertilizou. Dessa união entre Gaia e Urano, nasceram primeiramente os Titãs: seis homens e seis mulheres (Oceano, Céos, Créos, Hiperião, Jápeto, Teia e Reia, Têmis, Mnemosine, Febe, Tétis
  • 24. e Cronos); e logo os Ciclopes de um só olho e os Hecatônquiros (ou Centimanos). Contudo, Urano, embora tenha gerado estas divindades poderosas, não as permitiu de sair do interior de Gaia e elas permaneceram obedientes ao pai. Somente Cronos, "o mais jovem, de pensamentos tortuosos e o mais terrível dos filhos", castrou o seu pai– com uma foice produzida das entranhas da mãe Gaia–e lançou seus genitais no mar, libertando, assim, todos os irmãos presos no interior da mãe. A situação final foi que Urano não procriou novamente, mas o esperma que caiu de seus genitais cortados produziu a deusa Afrodite, saída de uma espuma da água, ao mesmo tempo que o sangue de sua ferida gerou as Ninfas Melíades, as Erínias e os Gigantes, quando atingiu a terra. Sem a interferência do pai, Cronos tornou-se o rei dos titãs com sua irmã e esposa Reia como cônjuge e os outros Titãs como sua corte. O pensamento antigo grego considerava a teogonia–que engloba a cosmogonia e a cosmologia, temas desssa subseção–como o protótipo do gênero poético e lhe atribuía poderes quase mágicos. Por exemplo: Orfeu, o poeta e músico da mitologia grega, proclamava e cantava as teogonias com o intuito de acalmar ondas e tormentas–como consta no poema épico Os Argonautas, de Apolónio de Rodes–e também para acalmar os corações frios dos deuses do mundo inferior, quando descia à Hades. A importância da teogonia encontra-se também no Hino Homérico à Hermes, quando Hermes inventa a lira e a primeira coisa que faz com o instrumento em mãos é cantar o nascimento dos deuses. Cronos Mutilando Urano, por Giorgio Vasari e Gherardi Christofano (século XVI). Palazzo Vecchio, Florença. Contudo, a Teogonia não é somente o único e mais completo tratado da mitologia grega que se conservou até nossos dias, mas também o relato mais completo no que diz respeito a função arcaica dos poetas, com sua larga invocação preliminar das Musas. Foi também tema de muitos poemas perdidos, incluindo os atribuídos à Orfeu, Museu, Epimênides, Ábaris e outros profetas legendários, cujos versos costumavam ser usados em rituais privados de purificação e em religião de mistérios. Inclusive, há indícios de que Platão se familirizou com alguma versão da teogonia órfica. Poucos fragmentos dessas obras sobreviveram em citações de filósofos neoplatonistas e em fragmentos recentemente desenterrados, escritos em papiro. Um desses documentos, o papiro de Derveni, demonstra atualmente que pelo menos no século V a. C. existiu um poema teogônico-cosmogônico de Orfeu. Este poema tentou superar a Teogonia de Hesíodo e a genealogia dos deuses se ampliou com o surgimento de Nix (a Noite), marcando um começo definitivo que havia surgido antes dos seres Urano, Cronos e Zeus.
  • 25. Deuses gregos Ver artigo principal: Deuses olímpicos e Monte Olimpo “ ἐμοὶ δὲ θαυμάσαι θεῶν τελεσάντων οὐδέν ποτε φαίνεται ἔμμεν ἄπιστον. Para mim, quando os deuses realizam maravilhas, nada parece inacreditável. ” —Píndaro, Pi, P. 10.48- 50.[59] Os Doze Deuses Gregos (Zeus no trono), por Nicolas-André Monsiau (1754- 1837), finais do século XVIII. Quando Cronos tomou o lugar de Urano, tornou-se tão perverso quanto o pai. Com sua irmã Reia, procriou os primeiros deuses olímpicos (Héstia, Deméter, Hera, Hades, Posêidon e Zeus), mas logo os devorou enquanto nasciam, pelo medo de que um deles o destronasse. Mas Zeus, o filho mais novo, com a ajuda da mãe, conseguiu escapar do destino. A mãe, pegou uma pedra, enrolou-a em um tecido e deu a Cronos, que comeu-a, pensando que fosse Zeus. O filho travou uma guerra contra seu progenitor, cujo vencedor ganharia o trono dos deuses. Ao final, com a força dos Cíclopes–a quem libertou do Tártaro–Zeus venceu e condenou Cronos e os outros Titãs na prisão do Tártaro, depois de obrigar o pai a vomitar seus irmãos. Para a
  • 26. mitologia clássica, depois dessa destituição dos Titãs, um novo panteão de deuses e deusas surgiu. Entre os principais deuses gregos estavam os olímpicos- cuja limitação de seu número para doze parece ter sido uma ideia moderna, e não antiga - que residiam no Olimpo abaixo dos olhos de Zeus. Nesta fase, os olímpicos não eram os únicos deuses que os gregos adoravam: existiam uma variedade de divindades rupestres, como o deus-bode Pã, o deus da natureza e florestas, as ninfas— Náiades (que moravam nas nascentes), Dríades (espíritos das árvores) e as Nereidas (que habitavam o mar) —, deuses de rios, Sátiros, meio homem, meio bode, e outras divindades que residiam em florestas, bosques e mares. Além dessas criaturas, existiam no imaginário grego seres como as Erínias (ou Fúrias) (que habitavam o submundo), cuja função era perseguir os culpados de homicídio, má conduta familiar, heresia ou perjúrio. Para honrar o antigo panteão grego, compôs-se os famosos hinos homéricos (conjunto de 33 canções). Alguns estudiosos, como Gregory Nagy, consideram que os hinos homéricos são simples prelúdios, se comparado com a Teogonia, onde cada hino invoca um deus. No entanto, os deuses gregos, embora poderosos e dignos de homenagens como as presentes nestes hinos, eram essencialmente humanos (praticavam violência, possuíam ciúme, coléra, ódio e inveja, tinham grandezas e fraquezas humanas), embora fossem donos de corpos físicos ideais. De acordo com o estudioso Walter Burkert, a definição para essa característica do antropomorfismo grego é que "os deuses da Grécia são pessoas, e não abstrações, ideias ou conceitos".[64] Independentemente de suas formas humanas, os deuses gregos tinham muitas habilidades fantásticas, sendo as mais importantes: ter a condição de ser imúne a doenças, feridas e ao tempo; ter a capacidade de se tornar invisível; viajar longas distâncias instantaneamente e falar através de seres humanos sem estes saberem. Os gregos consideravam a imortalidade — que era assegurada pela alimentação constante de ambrosia e pela ingestão de néctar — como a característica distintiva dos deuses. Cada deus descende de uma genealogia própria, prossegue interesses próprios, tem uma certa área de especialização, e é regido por uma personalidade singular; no entanto, essas descrições surgem a partir de uma infinidade de locais arcaicos variantes, que não coincidem sempre com elas. Quando esses deuses eram aludidos na poesia, na oração ou em cultos, essas práticas eram realizadas mediante uma combinação de seus nomes e epítetos, que os identificavam por essas distinções do resto de suas próprias manifestações (e.x. Apolo Musageta era "Apolo, [como] chefe das Musas").
  • 27. A maioria dos deuses foram associados a aspectos específicos de suas vidas: Afrodite, por exemplo, era deusa do amor e da beleza, Ares era deus da guerra, Hades o deus da morte e do inferno, e Atena a deusa da sabedoria, guerra e da coragem.[66] Certos deuses, como Apolo (deus do sol) e Dioníso (deus da festa e do vinho), apresentam personalidades complexas e mais de uma função, enquanto outros, como Héstia e Hélios, revelam pequenas personificações. Os templos gregos mais impressionantes tendiam a estar dedicados a um número limitado de deuses, que foram o centro de grandes cultos panhelênicos.[66] De maneira interessante, muitas regiões dedicavam seus cultos a deuses menos conhecidos e muitas cidades também honravam os deuses mais conhecidos com ritos locais característicos e lhes associavam mitos desconhecidos em outros lugares.[66] Durante a era heróica — que veremos na próxima sub-seção — o culto dos heróis (ou semi-deuses) complementou a dos deuses e ambas as criaturas se fundiram no imaginário da Grécia. Era dos deuses e dos mortais Ver artigo principal: Eras do homem Afrodite e Anquises, por Annibale Carracci: o relacionamento entre a deusa da beleza e um homem mortal, demonstra como ficou frequente as relações entre deuses e humanos no imaginário grego. Unindo a idade em que os deuses viviam sós e a idade em que a interferência divina nos assuntos humanos era limitada, havia uma era de transição em que os deuses e os homens (mortais) se misturaram livremente. Estes foram os primeiros dias do mundo, quando os grupos se misturavam com mais liberdade do que fizeram depois. A maior parte das crenças dessas histórias foram reveladas posteriormente na obra Metamorfoses de Ovídio, e frequentemente são divididas em dois grupos temáticos: histórias de amor e histórias de castigo.[67] Ambas histórias tratam do envolvimento dos deuses com os humanos, seja de uma forma ou de outra:  Os contos de amor muitas vezes envolvem incesto, sedução ou violação de uma mulher mortal por parte de um deus, resultando em uma descendência histórica. Essas histórias sugerem geralmente que as relações entre deuses e mortais precisam ser evitadas, sendo que raramente esses envolvimentos possuem finais felizes.[68] Em poucos casos, uma divindade feminina procura um homem
  • 28. mortal e vive com ele, como no Hino Homérico à Afrodite, onde a deusa se relaciona com o príncipe Anchises e acaba concebendo o chefe troiano Eneias O Casamento de Peleu e Tétis, por Hans Rottenhammer.  Os contos de castigo envolvem a apropriação ou invenção de algum artefato cultural importante, como quando Prometeu roubou o fogo dos deuses e quando ele ou Licaão inventou o sacríficio, quando Tântalo roubou o néctar e a ambrósia da mesa de Zeus e de seus súditos, revelando-lhes o segredo dos deuses, ou quando Deméter ensinou agricultura e os Mistérios de Elêusis a Triptolemos, ou quando Mársias inventou os aulos e, com ela, ingressou num concurso musical ao lado de Apolo. As aventuras de Prometeu marcam um ponto entre a história dos deuses e a dos homens Um fragmento de papiro anônimado, datado do século III a.C., retrata vividamente o castido que Dionísio aplicou à Lucurgo, rei de Trácia, cujo reconhecimento de novos deuses chegou demasiado tarde, ocasionando horrivéis penalidades que se estenderam por toda vida A história da chegada de Dionísio para estabelecer seu culto em Trácia foi também o tema de uma trilogia de peças dramáticas do poeta antigo Ésquilo: como em As Bacantes, onde o rei de Tébas, Penteu, é castigo por Dionísio por ter sido desrespeitoso com as Ménades, suas adoradoras. Ainda no assunto de relação entre deuses e mortais, há um conto antigo baseado em um tema folclórico, onde Deméter está procurando por sua filha Perséfone, depois de ter tomado a forma de uma anciã chamada Doso e recebido hospitalidade de Celéu, o rei de Elêusis em Ática. Por causa de sua hospitalidade, Deméter planejou fazer imortal seu filho Demofonte, como um ato de agradecimento, mas não pôde completar o ritual porque a mãe de Demofonte, Metanira, entrou e viu seu filho rodeado de fogo, visão essa que lhe provocou, instantâneamente, um grito agudo, que enfureceu Deméter, cuja lamentação veio depois, ao refletir o fato de que os "estúpidos mortais não entendem práticas divinas"
  • 29. Era heróica “ “O fato de entre os homens e os deuses existir ainda uma terceira classe especial de heróis, que são denominados também "semi-deuses", é uma particularidade da mitologia e da religião gregas para a qual quase não existem paralelos” ” —Walter Burkert, 1993.[76] A idade em que os heróis viveram na mitologia grega é conhecida como Era (ou Idade) Heróica. A Era Heróica surgiu no Período Arcaico, quando os gregos imaginavam "heróis" (gr. ἥρωες; sg. ἥρως) como certos personagens de lendas épicas. Embora sujeitos à mortalidade, os heróis/semi-deuses se diferenciavam dos humanos pelo fato de serem capazes de façanhas impossíveis, talvez pelo fato de serem frutos de uma relação entre um mortal e um deus. Após a ascensão do culto heróico, os deuses e os heróis constituíram a esfera sagrada e são invocados juntos nos juramentos e nas orações que são dirigidas a eles. Em contraste com a era dos deuses, durante a heróica a lista de heróis nunca é fixa e definitiva; já não nascem grandes deuses, mas sempre podem surgir novos heróis do exército dos mortos. Outra importante diferença entre o culto dos deuses e o dos heróis é que o segundo dos dois se torna o centro da identidade do grupo local. Os eventos monumentais de Hércules são considerados o começo da era dos heróis. Também se anexam a eles três grandes sucessos militares: a expedição argonáutica e a Guerra de Troia, como também a Guerra de Tebas. Hércules e os Heráclidas Certos estudiosos acreditam que, por de trás das complexas histórias que envolvem o mito de Hércules (ou Herácles), existiu um homem verdadeiro, talvez um senhor de vassalos em Argos.[81] Outros sugerem que o mito de Hércules é uma alegoria da passagem anual do sol pelas doze constelações do zodíaco.[81] Existe um terceiro grupo que acredita que o mito deriva de outras culturas, revelando que a história de Hércules é uma adaptação regional de mitos heróicos já estabelecidos anteriormente. Embora a existência de todas essas e muitas outras especulações, a tradição afirma que Hércules foi filho de Zeus com a mortal Alcmena, neta de Perseu. Suas fantásticas façanhas, que envolvem diversos temas folclóricos, proporcionaram muito material às lendas populares. É retratado como um sacrificador, um guerreiro dotado de imenso vigor físico, com força e proezas maravilhosas, protegido por
  • 30. armaduras e itens das quais utilizava com destreza, demonstrando superioridade às habilidades do homem mortal comum. Quanto à iconografia, nas artes visuais — pelo menos no período arcaico — Hércules sempre fora apresentado com barba, pele de leão e clava nas mãos, com grandes músculos expostos nas pernas e nos braços. Já no século IV, a popularidade do herói decresceu e, talvez um pouco por isso, suas características humanas foram reforçadas mais do que as heróicas, e passou a ser representado sem barba e frequentemente sem armas de combate. Na literatura, Eurípedes escreveu a peça trágica Hércules (ou Hércules Enlouquecido, Hércules Furioso), onde explora o mito do herói, revelando sua conturbada existência, e sua vontade de cometer suicídio, mas que logo é encorajado a viver pelo amigo e rei de Atenas, Teseu. Na peça As Traquinianas, Hércules aparece aqui através da escrita de Sófocles. Esses dois textos da Grécia antiga, resguardados até os dias atuais, nos conferiram detalhes preciosos acerca dos mitos sobre o herói mais popular e interessante da mitologia grega Hércules atingiu o mais alto prestígio social através de sua nomeação como ancestro oficial dos reis dóricos. Isto serviu provavelmente como legitimação para as invasões dóricas no Peloponeso. Um exemplo disto é o herói mitológico Hilo, epônimo de uma tribo dórica, que se converteu em Heráclida (nome que recebiam os numerosos descendentes de Hércules, especialmente os descendentes de Hilo — outros Heráclidas existentes são Macária, Lamos, Manto, Tlepólemo e Télefo). Estes Heráclidas conquistaram os reinos peloponesos de Micenas, Esparta e Argos, alegando, segundo o mito, o direito de governá-los devido sua ascendência. A ascensão dos Heráclidas é muitas vezes denominada "Invasão Dórica" (ver artigo). Um fato interessante é que os reis lídios e, posteriormente, os reis macedôniso — como governantes de um mesmo reino — também passaram a ser Heráclidas. Embora Hércules tenha morrido, como é destino de todo mortal, por conta de seu lado humano (derivado da mãe Alcmena), alguns gregos — especialmente Píndaro, que o chamava de "herói-deus"] — acreditavam que, por conta de seu lado divino (advindo da descendência de Zeus), ele subiu ao Olimpo e tornou-se um deus. Sua figura lendária, portanto, permeou durante algum tempo uma simbologia voltada à terra, aos heróis, ao homem mortal, mas também atencionada ao céu, aos deuses, ao divino, ao perfeito, ao ideal. Essa figura mista que Hércules apresenta, em que o lado mortal e o lado divino se confundem, era muito reforçada em diversos cultos e sacrifícios realizados em Creta, onde os gregos ofereciam-lhe sacrifícios duplos, primeiramente como herói e, somente depois, como um ser divino. Além das façanhas heróicas de Hércules, outros membros dessa primeira geração de heróis, como Perseu, Teseu, Deucalião e Belerofonte, realizaram feitos
  • 31. muito semelhantes a ele, sempre realizando-os solitariamente, sem nenhuma outra ajuda, o que aconteceu quando enfrentaram monstros como Quimera e Medusa em mitos que beiram à contos de fadas (esses combates solitários só apresentam ainda mais a capacidade sobrehumana dessas personagens). Enviar um herói a uma morte presumida é um tema frequente nesta primeira tradição heróica, como acontece nas lendas de Perseu e de Belerofonte. Argonautas Único épico helenístico conservado até os dias atuais, Argonautica, de Apolônio de Rodes, narra o mito da jornada de Jasão e os Argonautas para recuperarem o Velo de Ouro da mítica terra de Cólquida. Em Argonautica, Jasão é impelido à sua busca pelo rei Pélias, que havia recebido uma profecia onde um homem de sandálias se tornaria seu nêmesis. Jasão perde uma sandália em um rio da região, chegando na corte de Pélias e iniciando, assim, a epopeia. Quase todos os membros da seguinte geração de heróis, assim como Hércules, partiram com Jasão ao Argo para buscar o velo de ouro. Essa geração de heróis também inclui: o mito de Teseu, que partiu à Creta para enfrentar o Minotauro; Atalanta, a heroína feminina, Meleagro, que por sua vez tinha um ciclo épico que rivalizava com a Ilíada e a Odisseia, Idas, que lutou contra Apolo por Marpessa, os filhos de Boreas: Zeto e Calais, que desempenharam um importante papel na ilha de Fineu e na luta contra os Cinocéfalos, Laerte, pai de Ulisses e também Peleu, pai de Aquiles. Píndaro, Apolônio e Apolodoro se esforçaram em dar listas detalhadas sobre os Argonautas. Embora Apolônio tenha escrito seu poema no século III a.C, a composição da história dos argonautas é anterior à Odisseia, que demonstra familiaridades com os enredos de Jasão. Em épocas antigas, a expedição mítica era considerada como um fato histórico, um incidente na abertura do Mar Negro ao comércio e à colonização grega.[92] Também tornou-se muito popular, cuja função vai desde a criação de novas lendas locais à inspiração de diversas tragédias gregas.[
  • 32. Casa de Atreu e Ciclo Tebano Entre o Argo (capítulo anterior) e a Guerra de Troia (capítulo seguinte), houve uma geração conhecida por seus crimes. Isto inclui os feitos de Atreu e Tiestes em Argos. Atrás do mito da casa de Atreu (uma das principais dinastias heróicas juntamente com a Casa de Lábdaco), está o problema da devolução do poder e a forma de ascensão do trono. Os gêmeos Atreu e Tiéstes com seus descendentes desempenharam o papel de protagonistas na tragédia acerca da devolução de poder em Micenas. Cadmo Semeando Dentes do Dragão, por Maxfield Parrish, 1908. O Ciclo Tebano trata dos sucessos associados especialmente à Cadmo, o fundador da cidade de Tebas, e, posteriormente, com os feitos de Laio e Édipo na mesma região; uma série de histórias que levaram ao saqueio final da cidade a mando dos Epigonis e d'Os Sete Contra Tebas (não se sabe se estes figuraram no épico original). Acerca de Édipo, os antigos relatos épicos têm seguido um padrão diferente (no qual ele continuou governando Tebas depois da revelação de que Jocasta era sua mãe e também posteriormente ao seu casamento com uma mulher que se converteu em mãe de seus filhos) do que conhecemos graças às tragédias — especialmente a mais famosa do assunto, Édipo Rei, de Sófocles — e aos relatos mitológicos posteriores a este texto antigo.]
  • 33. Guerra de Troia e consequências Em A Fúria de Aquiles , de Tiepolo (1757, afresco, Villa Valmarana, Vicenza), Aquiles está enfurecido pela ameaça de Agamemnon tirar seu despojo da guerra, Briseis, e desembainha sua espada para acertá-lo. A súbita aparição de Minerva, que no afresco segura os cabelos de Aquiles, evita o assassinato. A mitologia grega culmina na Guerra de Troia, a famosa luta entre os gregos e os troianos, incluindo suas causas e consequências. Nos trabalhos homéricos, as principais histórias já haviam tomado forma e substância, e os temas individuais foram elaborados mais tarde, especialmente dentro dos enredos dos dramas gregos. A Guerra de Troia adquiriu também um grande interesse para a cultura romana por conta das histórias de Enéas, herói troiano, cuja jornada à Troia levou a fundação da cidade que um dia se converteria em Roma, e é recontada por Vírgilio em Eneida (cujo Livro II contém o relato mais famoso do saqueio de Troia). O Ciclo da Guerra de Troia, uma coleção de poemas épicos, começa com os sucessos que levaram a guerra: Éris e a maçã de ouro, o julgamento de Páris, o rapto de Helena, e o sacríficio de Ifigénia em Aulis. Para resgatar Helena, os gregos organizaram uma grande expedição abaixo do mando do irmão de Menelau, Agamemnon, rei de Argos ou de Micenas, mas os troianos não quiseram libertá-la. A Ilíada, que se desenrola no décimo ano da guerra, narra em uma de suas páginas o combate entre Agamemnon com Aquiles, que era até então o melhor guerreiro da Grécia, e também narra as consequências da morte de Pátroclo (amigo de Aquiles) e de Heitor, filho mais velho de Príamo. Antes da morte, se uniram aos troianos dois exóticos aliados: Pentesileia e Memnon. Escultura atribuída a Agesandro, Polidoro e Atenodoro representando o Grupo de Laocoonte (Museu do Vaticano, Roma), personagens mortos por serpentes marinhas num espisódio da Guerra de Troia, retratado na Ilíada e na Eneida.
  • 34. Aquiles matou ambos, até Páris atingir seu calcanhar mortalmente com uma flecha (daí a expressão Calcanhar de Aquiles; para mais informações, veja o artigo do guerreiro). Antes de tomar Troia, os gregos tiveram que roubar da cidadela a imagem de madeira de Palas Atenas. Finalmente, com a ajuda de Atenas, eles construíram o Cavalo de Troia. Apesar das advertências de Cassandra (filha de Príamo), os gregos foram convencidos por Sinon — grego que, fingindo sua argumentação, conseguiu levar o gigantesco cavalo para dentro das muralhas de Atenas. O sacerdote Laocoonte tentou destruir o cavalo, mas acabou sendo impedido por serpentes marinhas que, com suas forças, o mataram. Ao anoitecer, a frota grega regressou e os guerreiros do cavalo abriram as portas da cidade. O Ciclo Troiano proporcionou uma variedade de temas e se converteu em fonte principal de inspiração para os antigos artistas gregos (por exemplo, as métopas de Partenon representando o saqueio de Troia). Essa preferência artística pelos temas procedentes do ciclo troiano nos indica sua importância para a antiga civilização grega.[97] O mesmo ciclo mitológico, posteriormente, também inspirou uma série de obras literárias da Europa. Os escritores europeus medievais troianos, desconhecedores da obra de Homero, encontraram na lenda de Troia uma rica fonte de histórias heróicas e românticas e um marco que encorajou seus próprios ideais cortesãos e cavalarescos. Alguns autores do século XII, como Benoît de Sainte-Maure (em seu Poema de Troia) e José Iscano (em seu De bello troiano), descrevem a guerra simplesmente reescrevendo a versão padrão que encontraram em Dictis e Dares, seguindo o conselho de Horácio e o exemplo de Virgílio: reescrever um poema de Troia com veracidade, em lugar de contar algo completamente novo DECLÍNIO A mitologia estava no coração da vida quotidiana na Grécia Antiga.[ Os gregos consideravam toda a gama de enredos e personagens que hoje denominamos "mitologia grega" parte de sua história. Usavam o mito para explicar fenômenos naturais, variações de cultura, inimizades e amizades. Além disso, a mitologia serviu como fonte de orgulho para se traçar ascendência de grandes líderes e heróis mitológicos ou até mesmo deuses. Poucos eram os gregos que não criam nos relatos acerca da Guerra de Troia, da Ilíada e da Odisseia. De acordo com estudiosos como Victor Davis Hanson e John Heath, o conhecimento profundo da obra homérica era considerada pelos gregos a base de sua aculturação. Homero era a "educação da Grécia" (Ἑλλάδος παίδευσις) e sua poesia, "O Livro". Nas seções a seguir, veremos como gregos e romanos começaram a dar novas interpretações acerca das coisas, e
  • 35. como começaram a desacreditar dos poetas e dos dramaturgos. A figura do poeta era, sobretudo nos primeiros anos da era alfabetizada, a autoridade máxima, embora já nos tempos clássicos a sua posição tivesse mudado: "Não acredito que os deuses se induljam em relações profanas; e para pôr vínculos nas mãos, eu nunca pensei ser digno de crença, nem serei agora tão persuadido, não mais acreditarei que um só deus seja dono e senhor de outro. Para a divindade, se realmente ela é uma divindade, não há desejos; isso não passa de miseráveis contos escritos por poetas." (Hércules para Teseu. Eurípides, Héracles 1340). Concepção de um trirreme da Grécia Antiga: as explorações marítimas dos gregos, uma das primeiras do homem antigo, contribuíram para a decadência do mito. Embora o primeiro exemplo acima tenha sido dito por um personagem sobrehumano, Hércules, ao tentar aprofundar sua compreensão sobre os mitos gregos o próprio cidadão da Grécia antiga encontrou certas limitações e contradições nessas histórias, o que desencadeou em uma série de processos filosóficos. A filosofia surge justamente para compreender a verdade, mas de uma outra forma. Para a intelectual brasileira Marilena Chaui uma dessas contradições foi o fato de que os gregos começaram a realizar certas viagens marítimas e explorar algumas regiões das quais acreditavam serem habitadas por deuses, sendo que, quando a visitaram, puderam constatar que era povoada por outros seres humanos. Outros estudiosos acreditam que os gregos, ao inventarem o calendário, conseguiram calcular o tempo como forma de prever e entender os estados térmicos e também o Sol, a chuva e outros fatores climáticos (vistos, anteriormente, como feitos divinos e incompreensíveis) e, assim, proporcionaram uma grande mudança na crença dos mitos. De forma semelhante, a invenção da moeda como forma de trocas abstratas e a escrita alfabética como forma de materialização de textos outrora propagados somente pela oratória, além da invenção da política para a exposição das opiniões sociais, seriam marcos da sociedade grega que, com o início dessa vida urbana e um tanto mais moderna, começou a tecer bases para o artesanato, o comércio e outras criações que começaram a desprezar os mitos. Com essas mudanças, o homem veria em si mesmo uma necessidade de entendê-las e de desenvolvê-las, no que se criou a filosofia para suprir essa incompreensão. Pierre Grimal compartilha dessa ideia escrevendo:
  • 36. "O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à palavra que demonstra. Logos e mito são as duas metades da linguagem, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos sendo uma argumentação, pretende convencer. O logos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à 'lógica'; é falso quando dissimula alguma burla secreta (sofisma). Mas o mito tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita- se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça 'belo' ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas as suas criações." Há boa parcela de estudiosos modernos que crêem, portanto, que as habilidades poderosas de mudança saíram das mãos dos deuses imaginários e foram assumidas pelos homens antigos (e se estendem até nossos dias atuais, onde, por exemplo, acreditamos que uma administração política adequada — realizada e levada em frente pelos homens e não pelos deuses — pode resultar numa influência positiva nas sociedades, assim como uma administração inadequada resulta em influências negativas). Outros pensadores também atribuem à vinda do cristianismo o declínio do mito grego. Antonio Salatino escreveu: "O cristianismo também representou o fim da mitologia, um processo que conduziu ao desenvolvimento do pensamento racional, favorecendo assim o desenvolvimento da ciência. Por seu turno, as conquistas científicas dos séculos 17 e 18 reforçaram a confiança na superioridade do ser humano e fortaleceram o suposto direito do homem, baseado em fundamentos religiosos, de domínio sobre a natureza. A sobrevalorização dos conhecimentos derivados da ciência e do mundo civilizado e a negação dos valores dos povos selvagens conquistados levaram à extinção das tradições e línguas de muitas nações nativas." A astrologia, que, após a morte de Alexandre, o Grande, foi introduzida pela Mesopotâmia e pelo Egito antigo no mundo grego, chegou a um período de ouro na Roma imperial e contribuiu para a preservação dos mitos durante a Idade Média. Contudo, na própria Grécia clássica, o surgimento e a popularidade do racionalismo e da filosofia criaram até mesmo um debate entre a ideia de que os corpos celestes eram mesmo divindades em oposição à ideia de que eram meras pedras vagando pelo céu:
  • 37. "A posição no presente é, como eu já disse, exatamente o oposto daquilo que foi quando aqueles que examinavam esses objetos os consideravam sem alma. Entretanto, mesmo então constituíam objetos de admiração, e a convicção que é agora realmente sustentada já era motivo de suspeita de todos que os estudavam acuradamente, a saber, que se fossem sem alma, e por conseguinte destituídos de intelecto, jamais obedeceriam a cálculos de precisão tão maravilhosos. E até naquela época havia quem ousava arriscar-se a afirmar que a razão é a ordenadora de tudo que está no céu. Mas os mesmos pensadores, num equívoco quanto à natureza da alma e concebendo-a como posterior e não anterior ao corpo, transtornaram, por assim dizer, todo o universo e, acima de tudo, eles próprios." (Platão. Leis 967b et seq.). Concepções greco-romanas FILOSOFIA E MITO A filosofia nasce através do mito, mas a ele acaba se opondo.] Ela surge no inicío do século - VI em Mileto, e estudiosos escrevem que vários fatores favoreceram este nascimento: "efervescência comercial, prosperidade material, contato com outras culturas avançadas, sistema de governo democrático e, finalmente, cidadãos com tempo livre para o estudo e a reflexão." De fato, ao passo que a filosofia nascia, a preocupação de seus primeiros homens (Tales, Anaximandro e Anaxímenes, os filósofos pré-socráticos), além daquelas de ordem astronômica, era descobrir ou meramente indagar qual seria o elemento primordial do universo e da natureza, aquele que deu origem ao mundo—célebre exemplo de quanto as concepções cosmológicas da mitologia grega estavam sendo postas de lado para serem substituídas por novos estudos acerca do assunto, dessa vez racionais. Nos finais do século V a.C., depois do auge da filosofia, da oratória, e da prosa, o destino e a veracidade dos mitos se tornaram incertos e as genealogias mitológicas deram lugar a uma nova concepção da origem das coisas, sendo que essa concepção tinha como prioridade a exclusão do supernatural (isto se mostra claro nas histórias tacidianas). Enquanto os poetas e dramaturgos elaboravam os mitos, os historiadores e os filósofos por vezes desprezavam-os e criticavam-os.
  • 38. O Platão de Rafael em A Escola de Atenas (provavelmente à semelhança de Leonardo da Vinci). O filósofo expulsou o estudo de Homero, das tragédias e das tradições relacionados aos mitos gregos de sua utópica A República. Certos filósofos radicais, como Xenófanes, começaram no século VI a. C. a rotular os textos dos poetas como blasfêmias. Queixava-se de que Homero e Hesíodo atribuiam aos deuses "tudo o que é vergonhoso e escandaloso entre os homens, pois os deuses roubam, matam, cometem adultério, e enganam uns aos outros".[110] Essa linha de pensamento encontrou sua expressão mais dramática em A República (acerca da justiça, do universo e dos diversos tipos de governo) e em Leis (que trata da lei divina e natural, da educação e da relação entre filosofia, política e religião) de Platão. Platão criou os seus próprios mitos alegóricos (como o mito da caverna e o mito de Er em A República), atacando os contos tradicionais dos trucos, e tratando os furtos e os adultérios como imorais, opondo-se ao papel central que vinham tomando na literatura grega. A crítica de Platão - que rotulava os mitos de "palavrões antigos" - foi o primeiro exercício e desafio sério à tradição mitológica homérica. Aristóteles, por sua vez, criticou o enfoque filosófico pré-socrático quase-mitológico e destacou que "Hesíodo e os escritores telógicos estavam preocupados unicamente com o que lhes parecia plausível e não tinham respeito pelos outros [...] Mas não merece a pena tomar a sério os escritores que alardeiam o estilo mitológico; aqueles que procedem a demonstrar suas afirmações devem ser re-examinados". Mesmo no início do império da Roma, o livro Metamorfoses, do romano Ovídio, possui nos finais do poema um pseudo-discurso do filósofo e matemático grego Pitágoras que, reivindicando a vida após a morte, o vegetarianismo e a esperança, diz Porque temeis o Estige, as trevas e os nomes inexistentes, matéria para poetas [...],embora o discurso de Pitágoras escrito por Ovídio seja permeado por alusões a criaturas e deuses romanos como Juno, Lúcifer, Palante, Febo, Tíndaro, entre outros. As explicações filosóficas gregas que pretendiam revisar as mitológicas criaram consequências drásticas para os seus autores: Anaxágoras, por exemplo, partiu para um auto-exílio fora de Atenas, por duvidar que a lua fosse uma deusa
  • 39. (explicação mitológica) e afirmar que, pelo contrário, vislumbrava em sua superfície mares e montanhas. Aristóteles, que não aceitava a explicação de que o titã Atlas carregava a terra e o céu nas costas (afirmação que rotulou de "ignorância e superstição do povo grego"), exilou-se por temer que terminasse como Sócrates, que obteve acusação de impiedade e morreu. Sócrates foi condenado com 71 anos, acusado, entre outras coisas, de ateísmo e de corromper os jovens gregos com seus ensinamentos Meleto, poeta e um de seus acusadores, havia argumentado que "[...]Sócrates é culpado do crime de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo Estado e de introduzir divindades novas; ele é ainda culpado de corromper a juventude. Castigo pedido: a morte".[117] Sócrates, após ficar preso a ferros durante 30 dias, morreu num método de auto-envenenamento da prisão da época, ingerindo cicuta mas, antes de falecer, segundo Platão, incutiu uma dúvida a seus acusadores: "E agora chegou a hora de nós irmos, eu para morrer, vós para viver; quem de nós fica com a melhor parte ninguém sabe, exceto o Deus."[116] Essas perseguições se estenderam épocas depois, atingindo seu auge na Idade média (onde o cristianismo substituiu a filosofia) e declinando durante o Renascimento e principalmente no Iluminismo (onde a filosofia grega começava a ser retomada e revisada). Todavia, Platão não cuidou de separar si mesmo e sua sociedade da influência dos mitos: os estudiosos notam que sua própria caracterização de Sócrates baseia-se nos patronos tradicionais trágicos e homéricos, usados pelo filósofo para louvar o curso de vida e morte do seu mestre. Em Apologia de Sócrates, Platão prescreve o discurso dado supostamente por Sócrates em seu julgamento: “ Mas talvez pudesse alguém dizer: "Não te envergonhas, Sócrates, de te aplicardes a tais ocupações, pelas quais agora está arriscado a morrer?" A isso, porei justo raciocínio, e é o seguinte: "não estás falando bem, meu caro, se acreditas que um homem, de qualquer utilidade, por menor que seja, deve fazer caso dos riscos de viver ou morrer, e, ao contrário, só deve considerar uma coisa: quando fizer o que quer que seja, deve considerar se faz coisa justa ou injusta, se está agindo como homem virtuoso ou desonesto. Porquanto, segundo a tua opinião, seriam desprezíveis todos aqueles semi- deuses que morreram em Troia. E, com eles, o filho de Tétis, o qual, para não sobreviver à vergonha, desprezou de tal modo o perigo que, desejoso de matar Heitor, não deu ouvido à predição de sua mãe, que era uma deusa, e a qual lhe deve ter dito mais ou menos isto: ”
  • 40. “Filho, se vingares a morte de teu amigo Pátroclo e matares Heitor, tu mesmo morrerás, porque, imediatamente depois de Heitor, o teu destino estará terminado" (Hom. Il. 18.96) [...] Victor Davis Hanson e John Heath estimam que a rejeição de Platão acerca da tradição homérica não obteve boa recepção pela base da civilização grega. Nesta etapa, os mitos mais antigos se mantiveram em cultos locais e seguiram influenciando a poesia e constituindo o tema principal da pintura da Grécia antiga e da escultura da Grécia antiga. No teatro, de forma mais esportiva, Eurípedes elaborava intertextualidades com as antigas tradições e, embora suas personagens zombassem dos mitos tradicionais e duvidassem de boa parte deles, o foco dessas peças são completamente voltados aos mitos. A obra deste dramaturgo impugna principalmente os mitos sobre os deuses e inicia sua crítica à mitologia com um argumento similiar ao previamente expresso por Xenófanes: "os deuses, como são tradicionalmente representados, são grosseiramente antropomórficos" RACIONALISMO HELENÍSTICO E ROMANO No Helenismo, a mitologia adquire o prestígio do conhecimento da elite que encontrava nos feitos de seus possessores algo pertencente a determinada classe. Ao mesmo tempo, o giro cético da idade clássica tornou-se ainda mais defendida e pronunciada. O mitógrafo grego Evêmero, por exemplo, estabeleceu uma tradição cuja prioridade era buscar uma base histórica real para seres e eventos míticos. Embora sua obra original (Sagradas Escrituras) esteja perdida, muito do que ele escreveu sobre o assunto foi preservado por Diodoro Sículo e Lactâncio.
  • 41. Cícero via-se como o defensor da ordem estabelecida, apesar de seu ceticismo em relação aos mitos e sua inclinação de fazer concepções mais filosóficas sobre as divindades. O racionalismo hermenêutico (relativo à Hermes) acerca do mito tornou-se ainda mais popular sob o Império Romano, graças às teorias fisicalistas do estoicismo e graças à filosofia espicurista. Os estoicos apresentavam explicações dos deuses e dos heróis como fenômenos físicos, enquanto que os evêmeristas compreendiam-os como figuras históricas. Contudo, os estoicos — assim como os neoplatonistas — promoviam os significados morais da tradição mitológica, frequentemente basendo-se nas etimologias gregas. Mediante sua mensagem epicuriana, Lucrécio buscava expulsar os temores supersticiosos das mentes de seus vizinhos e cidadãos. Lívio, igualmente, é cético acerca da tradição mitológica e clama que não tinha como intenção ajuizar tais lendas. O desafio dos romanos com um forte sentido apologético da tradição religiosa era defender essa tradição enquanto concediam que isto era frequentemente um terreno fértil para a superstição. O antiquário Varrão — que considerava a religião uma instituição romana de grande importância para a preservação do bem social — dedicou rigorosos anos de sua vida a estudar as origens dos cultos religiosos. Em sua Antiquitates Rerum Divinarum (que não sobreviveu aos nossos dias, embora De Civitate Dei, de Agostinho, conserva seu foco geral), Varrão argumenta que, enquanto o homem supersticioso teme os deuses, a autêntica persona religiosa os venera como parentes de uma mesma família. Em sua obra, existiam três tipos de deuses: 1. Os deuses da natureza: personificações de fenômenos como a chuva e o fogo; 2. Os deuses dos poetas: inventados pelos bardos sem escrúpulos para incitar as paixões; 3. Os deuses da cidade: inventados pelos sábios legisladores para iluminar e acalmar a população. Cotta, um acadêmico romano, ridicularizou tanto a acepção literal dos mitos como a alegórica, declarando rotundamente que ambas não teriam lugar na filosofia. Cícero, por sua vez, desprezava os mitos, mas, como Varrão, era enfático em seu apoio para a religião e suas consecutivas instituições estatais. É difícil saber quão baixo se estendia esse racionalismo na escala social. Cícero afirma que ninguém (nem mesmo velhos, mulheres ou crianças, ou qualquer outro tipo de coisa) é tolo a ponto de crer nos terrores de Hades ou na existência de Cila, de centauros e de outras
  • 42. criaturas compósitas,] todavia o orador queixa-se constantemente do caráter supersticioso e crédulo das pessoas. De natura deorum é o resumo mais exaustivo dessa linha de pensamento fixada por ele. TENDÊNCIAS SINCRONATÓRIAS Na religião romana, o culto do deus grego Apolo (na imagem estátua romana de um original grego, no Musei Capitolini, Roma) foi sincronizado com o culto de Sol Invicto. A adoração do sol como protetor do império permanceu como principal culto imperial até ser substiuído pelo Cristianismo. Durante a época do auge romano, apareceu uma tendência popular de sincronizar os múltiplos deuses gregos e estrangeiros em novos cultos estranhos e quase irreconhecíveis. A sincronização ocorreu principalmente pelo fato dos romanos terem um conjunto/panteão de mitos muito precário, fazendo com que a tradição de mitos gregos fossem misturadas com os principais deuses romanos (interligando equivalentes das duas tradições). Os deuses Zeus e Júpiter são exemplos desse envolvimento mitológico. Ainda nessa etapa de combinação entre duas tradições mitológicas, tudo indica que a associação dos romanos com a religião oriental resultou em mais sincronizações. Um exemplo é o culto do sol, introduzido em Roma depois das campanhas de Aureliano na Síria. As divindades Mitra e Baal, ambas asiáticas, foram sincronizadas com o deus grego Apolo e com Hélio numa só figura, o Deus Sol Invicto — que possuía (segundo a crença dos povos) atributos somados e, nas práticas de cultos, ritos conglomerados. Apolo podia ser cada vez mais identificado na religião com Hélios ou incluso com Dionísio, mas os textos que recapitulavam seus mitos raramente refletiam essas metamorfoses. A literatura mitológica tradicional estava cada vez mais disassociada das práticas religiosas reais. A coleção de Hinos Órficos e da Saturnália de Macróbio, conservadas desde o século II, também estão influídas pelas teorias racionalistas e pelas tendências sincronatórias. Os hinos órficos são um conjunto de composições poéticas pré-
  • 43. clássicas, atribuídas à Orfeu. Na realidade, estes poemas foram provavelmente compostos por vários poetas, e contém um rico conjunto de pistas sobre a mitologia pré-históricas da Europa. O objetivo da Saturnália é a de transmitir a cultura helênica que havia obtido de suas leituras, apesar de seu tratamento dos deuses ser contaminado pela mitologia e pela teologia egípcia e norte-africana (que também acabam afetando as interpretações de Virgílio). Na Saturnália, reaparecem os comentários mitográficos influídos pelos evemeristas, estoicos e pelos neoplatônicos. INTERPRETAÇÕES MODERNAS O alemão Johann Joachim Winckelmann, através dos trabalhos de estudiosos como Gesner e Heyne, estabeleceu as primeiras distinções entre arte grega, greco- romana e romana. A gênesis da moderna compreensão da mitologia grega é considerada por certos escolares como uma dupla reação dos finais do século XVIII contra "a tradicional atitude da animosidade do cristianismo", onde a reinterpretação cristiana dos mitos como uma "mentira" ou "fábula" havia se conservado. Na Alemanha, em cerca de 1795, houve um crescente interesse por Homero e pela mitologia grega. Em Gotinha, Johann Matthias Gesner começou a dar alma aos estudos gregos, enquanto seu sucessor, Christian Gottlob Heyne, trabalhou com Johann Joachim Winckelmann, e desenvolveu as bases para a pesquisa e investigação mitológica tanto na Alemanha como em outros lugares. Heyne abordou o mito como filólogo e moldou os alemães educados na concepção da antiguidade ao longo de quase meio século, durante o qual a Grécia antiga exerceu uma intensa influência na vida intelectual da Alemanha. A mitologia comparativa é a comparação dos mitos de diferentes culturas que possui a intenção de identificar os temas e as características compartilhadas. A mitologia comparativa tem servido de uma variedade de fins acadêmicos. Por exemplo: os estudiosos têm utilizado as relações entre os diversos mitos para rastrear a evolução das religiões e das culturas, para propor origens comuns de diferentes culturas, e para apoiar várias teorias psicológicas. Falando em psicologia, as modernas interpretações do mito grego abriu espaço para uma abrangente compreensão psicológica acerca deles. Alguns estudiosos propõem que mitos de diferentes culturas revelam a mesma, ou semelhante, força psicológica no trabalho dessas culturas. Assim, alguns pensadores freudianos têm identificado histórias semelhantes à história grega de Édipo em culturas diferentes. Eles argumentam que estas histórias refletem as diferentes expressões do Complexo de Édipo nessas culturas. De mesmo modo, pensadores junguianos têm identificado imagens, temas e
  • 44. padrões que aparecem, do mesmo modo, nos mitos de muitas culturas diferentes. Eles acreditam que essas semelhanças são resultados de arquétipos presentes no inconsciente coletivo dos níveis mentais de cada pessoa. Enfoques comparativos e psicanalíticos Max Müller é considerado um dos fundadores da mitologia comparativa. Em seuMitologia Comparativa (1867), Müller analisa a "perturbadora" similaridade entre as mitologias de "raças selvagens" com as das primeiras europeias. O desenrolar da filologia comparativa no século XIX — junto com os descobrimentos etnológicos do século XX — fundou a "ciência da mitologia". Desde o Romantismo, todo o estudo dos mitos era comparativo: Wilhelm Mannhardt, James Frazer e Stith Thompson ampliaram o foco comparativo para recoletar e classificar os temas do folclore e da mitologia. Em 1871, Edward Burnett Tylor publicou seu Primitive Culture, onde aplicou o método comparativo com a intenção de explicar a origem e a evolução da religião. O procedimento de Taylor de agrupar o material mítico, ritualístico e cultural de culturas ampliamente separadas influenciou tanto Carl Gustav Jung como Joseph Campbell. Max Müller aplicou a nova ciência da mitologia comparativa ao estudo dos mitos, no qual se detectou os restos distorcionados do culto à natureza ariana. Bronisław Malinowski enfatizou as formas nas quais os mitos cumpriam funções sociais comuns. Claude Lévi-Strauss e outros estruturalistas compararam as relações formais e paternas em mitos de todo o mundo.
  • 45. Károly Kerényi foi um dos maiores estudiosos de mitologia e línguas clássicas do século XX. Sigmund Freud, com a psicanálise, introduziu uma concepção transhistórica e biológica do homem a uma visão do mito como expressão de ideias reprimidas. Através de mitos como o de Édipo, Freud estabeleceu concepções inovadoras a respeito da mente humana, criando teorias diferentes de tudo o que se tinha pensado até então, como o Complexo de Édipo e, fundamentalmente, a ideia de inconsciente. Essa sugestão encontraria um importante ponto de acercamento entre as visões estruturalistas e psicoanalísticas dos mitos no pensamento de Freud. Carl Gustav Jung estendeu o enfoque transhistórico e psicológico com sua teoria do inconsciente coletivo e os arquétipos (patronos arcaicos herdados), às vezes codificiados nos mitos, que são derivados da mesma. Segundo Jung, "os elementos estruturais que formam os mitos devem ser apresentados na psique inconsciente". Comparando a metodologia de Jung com a teoria de Joseph Campbell, Robert A. Segal conclui que "para interpretar um mito, Campbell simplesmente identifica os arquétipos nele. Uma interpretação de A Odisseia, p. ex., mostraria como a vida de Odisseu se ajusta a um patrono heróico. Jung, pelo contrário, considera a identificação de arquétipos meramente no primeiro passo da interpretação de um mito". Károly Kerényi, um dos fundadores dos estudos modernos do mito grego, e um dos maiores estudiosos de tal folclore, abandonou seus primeiros pontos de vista sobre os mitos para aplicar as teorias de arquétipos de Jung à mitologia grega. Segundo Kerényi, a mitologia grega é "um conjunto de contos sobre deuses, deusas, batalhas heróicas e jornadas ao mundo subterrâneo, sendo contos famosos, mas já não tão propícios a possíveis reformulações.
  • 46. TEORIAS DA ORIGEM Júpiter e Tétis (1811), quadro do francês neoclássico Dominique Ingres. Existem diversas teorias sobre a origem da mitologia grega. De acordo com a Teoria Escritural, todas as lendas mitológicas procedem de relatos dos textos sagrados, no qual os feitos reais foram disfarçados e, posteriormente, alterados. A Teoria Histórica, por sua vez, defende a tese de que todas as personas mencionadas na mitologia foram uma vez seres humanos reais, e as lendas sobre elas são meras adições de épocas posteriores (assim, supõem-se que a história de Éolo surgiu do fato de que este era governante de algumas ilhas do Mar Tirreno). Já a Teoria Alegórica supõe que todos os mitos antigos eram alegóricos e simbólicos, embora tivessem em seu contexto determinada verdade moral, religiosa ou filosófica ou um fato histórico que, com o passar do tempo, passaram a ser aceitas como verdade. Finalmente, a Teoria Física se adere à ideia de que os elementos como ar, fogo e água foram originalmente objetos de adoração religiosa, sendo que as principais deidades passaram a ser personificações desses poderes da natureza. Max Müller tentou compreender uma forma religiosa indo-europeia determinando sua manifestação "original": em 1891, ele afirmou que "o descobrimento mais importante que se tem feito no século XIX a respeito da história antiga da humanidade [...] foi essa simples equação: Dyeus-pitar sânscrito = Zeus grego = Júpiter latino = Tyr nórdico." Em outros casos, perto dos paralelos o cárater e a função sugerem uma herança comum, mas a
  • 47. ausência de evidências linguísticas faz com que seja difícil prová-la, como na comparação entre Urano e o Varuna sânscrito, ou entre as Moiras e as Nornas. A arqueologia e a mitografia, numa outra consideração, tem revelado que os gregos foram inspirados por algumas civilizações da Ásia Menor e do Oriente Próximo. Adônis parece ser o equivalente grego — mais claramente nos cultos do que em suas histórias míticas — de um "deus moribundo" do Oriente Próximo. Tudo indica que Cíbele, por sua vez, tem suas raízes na cultura anatólica, enquanto grande parte da iconografia de Afrodite surge das deusas semíticas. Existem possíveis paralelismos entre as gerações divinas mais antigas (Caos e seus filhos) e Tiamat em Enuma Elish. Segundo o estudioso Meyer Reinhold, "os conceitos teogônicos do Oriente Próximo, incluindo a sucessão divina mediante a violência e os conflitos gerados pelo poder, encontraram seu caminho [...] na mitologia grega." Seguindo as origens indo- europeias e do Oriente Próximo, alguns investigadores especulam sobre as obrigações da mitologia grega com as sociedades pré-helênicas: Creta, Micenas, Pilos, Tebas e Orcómeno. Os historiadores da religião estavam fascinados por várias configurações de mitos aparentemente antigos relacionados com Creta (o deus como toro, Zeus e Europa, Pasífae que produz toro e dá a luz ao Minotauro; etc.). O professor Martin P. Nilsson concluiu que todos os grandes mitos da Grécia antiga estavam atados aos centros micênicos e âncorados em épocas pré-históricas.[154] Todavia, de acordo com Walter Burkert, a iconografia do período do palácio cretentese praticamente não tem dado confirmação alguma sobre a veracidade de todas estas teorias. Legado e importância Localizada na juntura da Europa, Ásia e África, a Grécia é o berço de nascimento da democracia, da filosofia ocidental, dos Jogos Olímpicos, da Literatura ocidental e da historiografia, bem como da Ciência política, dos mais importantes princípios matemáticos, e também o berço de nascimento do teatro ocidental, incluindo os gêneros do drama, tragédia e o da comédia. Apaixonados pelo debate e pela controvérsia,[159] os gregos criaram os primeiros ordenamentos políticos com cunho democrático, onde compartilhavam e defendiam argumentações. Esses princípios fundamentais definiram o curso do mundo ocidental, e também divulgaram a mitologia grega, que ainda se torna eficiente, segundo muitos autores, para a educação acadêmica nas escolas de ensino fundamental e superior, como também para um entendimento mais profundo e filosófico do ser humano, como veremos a seguir: