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PEDAGOGIA DA AUTONOMIA
Paulo Freire
SOBRE O AUTOR
 Paulo Freire nasceu em 1921 em Recife, numa família de classe média. Com o
agravamento da crise econômica mundial iniciada em 1929 e a morte de seu pai,
quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar dificuldades econômicas.
 Formou-se em direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional
para o magistério. Suas idéias pedagógicas se formaram da observação da cultura
dos alunos - em particular o uso da linguagem - e do papel elitista da escola.
 Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas em
um mês. No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Brasília, onde
coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire
passou 70 dias na prisão antes de se exilar.
 Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido.
Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de
alfabetização em países africanos.
 Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária.
 Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal
de Educação de São Paulo.
 Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos.
 Foi nomeado doutor honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras
traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte.
SUA OBRA
 A propósito de uma administração. Recife: Imprensa Universitária, 1961.
 Conscientização e alfabetização: uma nova visão do processo. Estudos Universitários –
Revista de Cultura da Universidade do Recife. Número 4, 1963: 5-22.
 Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1967.
 Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1970.
 Educação e mudança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1979.
 A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez
Editora, 1982.
 A educação na cidade. São Paulo: Cortez Editora, 1991.
 Pedagogia da esperança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1992.
 Política e educação. São Paulo: Cortez Editora, 1993.
 Cartas a Cristina. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1974.
 À sombra desta mangueira. São Paulo: Editora Olho d’Água, 1995.
 Pedagogia da autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.
 Mudar é difícil, mas é possível (Palestra proferida no SESI de Pernambuco). Recife:
CNI/SESI, 1997-b.
 Pedagogia da indignação. São Paulo: UNESP, 2000.
 Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez Editora, 2001.
O meu ponto de vista é o dos “condenados
da Terra”, o dos excluídos. Não aceito,
porém, em nome de nada, ações terroristas,
pois que delas resultam a morte de
inocentes e a insegurança de seres
humanos. O terrorismo nega o que venho
chamando de ética universal do ser
humano.
Paulo Freire, em “Primeiras Palavras”, prefácio de A Pedagogia da Autonomia
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA BOA PRÁTICA EDUCATIVA
 a rigorosidade metódica e a pesquisa
 a ética e a estética
 a competência profissional
 o respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento da
identidade cultural
 a rejeição de toda e qualquer forma de discriminação
 a reflexão crítica da prática pedagógica
 a corporeificação
 o saber dialogar e escutar
 o querer bem aos educandos
 o ter alegria e esperança
 o ter liberdade e autoridade
 o ter curiosidade
 o ter a consciência do inacabado...
CAPÍTULO I – NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM DISCÊNCIA
 Ensinar exige rigorosidade metódica
 Ensinar exige pesquisa
 Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos
 Ensinar exige criticidade
 Ensinar exige estética e ética
 Ensinar exige corporeificação das palavras pelo exemplo
 Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a
discriminação
 Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática
 Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade
cultural
A reflexão crítica da prática é uma exigência da relação teoria/ prática, sem a qual a teoria irá
virando apenas palavras, e a prática, ativismo.
Há um processo a ser considerado na experiência permanente do educador. No dia-a-dia ele
recebe os conhecimentos – conteúdos acumulados pelo sujeito, o aluno, que sabe e lhe
transmite.
Neste sentido, ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar; é ação pela
qual um sujeito criador dá forma, alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência
sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças, não se reduzem à
condição de objeto, um do outro. QUEM ENSINA APRENDE AO ENSINAR E QUEM APRENDE
ENSINA AO APRENDER.
Ensinar é mais que verbo-transitivo relativo, pede um objeto direto: quem ensina, ensina
alguma coisa; pede um objeto indireto: à alguém, mas também ensinar inexiste sem aprender
e aprender inexiste sem ensinar.
Só existe ensino quando este resulta num aprendizado em que o aprendiz se tornou capaz de
recriar ou refazer o ensinado, ou seja, em que o que foi ensinado foi realmente aprendido
pelo aprendiz.
Esta é a vivência autêntica exigida pela prática de ensinar-aprender. É uma experiência total,
diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética.
NÓS SOMOS “SERES PROGRAMADOS, MAS, PARA APRENDER” (FRANÇOIS JACOB). O processo
de aprender pode deflagrar no aprendiz uma curiosidade crescente que pode torná-lo mais e
mais criador, ou em outras palavras: QUANTO MAIS CRITICAMENTE SE EXERÇA A CAPACIDADE
DE APRENDER TANTO MAIS SE CONSTRÓI E DESENVOLVE A “CURIOSIDADE EPISTEMOLÓGICA”,
SEM A QUAL NÃO ALCANÇAMOS O CONHECIMENTO CABAL DO OBJETO.
1. ENSINAR EXIGE RIGOROSIDADE METODOLÓGICA
O educador democrático, crítico, em sua prática docente deve forçar a capacidade de crítica do
educando, sua curiosidade, sua insubmissão. Trabalhar com os educandos a rigorosidade
metódica com que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis, é uma de suas tarefas
primordiais. Para isso, ele precisa ser um educador criador, instigador, inquieto, rigorosamente
curioso, humilde e persistente. Deve ser claro para os educandos que o educador já teve e
continua tendo experiência de produção de certos saberes e que estes não podem ser
simplesmente transferidos a eles.
Educador e educandos, lado a lado, vão se transformando em reais sujeitos da construção e da
reconstrução do saber. É impossível tornar-se um professor crítico, aquele que é mecanicamente
um memorizador, um repetidor de frases e idéias inertes, e não um desafiador. Pensa
mecanicamente. Pensa errado. A verdadeira leitura me compromete com o texto que a mim se
dá e a que me dou e de cuja compreensão fundamental me vou tornando também sujeito.
Só pode ensinar certo quem pensa certo, mesmo que às vezes, pense errado. E uma das
condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiados certos de nossas certezas. O
professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos a beleza de estarmos no mundo e
com o mundo, como seres históricos, intervindo no mundo e conhecendo -o .Contudo, nosso
conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser produzido, o conhecimento novo supera
outro que antes foi novo e se fez velho, e se “dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã.
Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos do ciclo gnosiológico: o momento em
que se ensina e se aprende o conhecimento já existente, e o momento em que se trabalha a
produção do conhecimento ainda não existente.
É a prática da “do-discência” : docência- discência e pesquisa.
2. ENSINAR EXIGE PESQUISA - Não há ensino sem pesquisa, nem pesquisa sem ensino. Enquanto
ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque
indago e me indago. Educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e
para comunicar o novo.
3. ENSINAR EXIGE RESPEITO AOS SABERES DO EDUCANDO - A escola deve respeitar os saberes
socialmente construídos pelos alunos na prática comunitária. Discutir com eles a razão de ser de
alguns saberes em relação ao ensino dos conteúdos. Discutir os problemas por eles vividos.
Estabelecer uma intimidade entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a
experiência social que eles têm como indivíduos. Discutir as implicações políticas e ideológicas,
e a ética de classe relacionada a descasos.
4. ENSINAR EXIGE CRITICIDADE - Entre o saber feito de pura experiência e o resultante dos
procedimentos metodicamente rigorosos, não há uma ruptura, mas uma superação que se dá
na medida em que a curiosidade ingênua, associada ao saber do senso comum, vai sendo
substituída pela curiosidade crítica ou epistemológica que se rigoriza metodicamente.
5. ENSINAR EXIGE ESTÉTICA E ÉTICA - Somos seres históricos – sociais, capazes de comparar,
valorizar, intervir, escolher, decidir, romper e por isso, nos fizemos seres éticos. Só somos porque
estamos sendo. Transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é
amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter
formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se
alheio à formação moral do educando. Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma
forma altamente negativa e perigosa de pensar errado.
Pensar certo demanda profundidade na compreensão e interpretação dos fatos. Não é possível
mudar e fazer de conta que não mudou. Coerência entre o pensar certo e o agir certo. Não há
pensar certo à margem de princípios éticos, se mudar é uma possibilidade e um direito, cabe a
quem muda, assumir a mudança operada
6. ENSINAR EXIGE A CORPOREIFICAÇÃO DA PALAVRA PELO EXEMPLO
O professor que ensina certo não aceita o “faça o que eu mando e não o que eu faço”. Ele sabe
que as palavras às quais falta corporeidade do exemplo quase nada valem. É preciso uma prática
testemunhal que confirme o que se diz em lugar de desdizê-lo.
7. ENSINAR EXIGE RISCO, ACEITAÇÃO DO NOVO E REJEIÇÃO A QUALQUER FORMA DE
DISCRIMINAÇÃO - O novo não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, nem o velho
recusado, apenas por ser velho. O velho que preserva sua validade continua novo.
A prática preconceituosa de raça, classe, gênero ofende a substantividade do ser humano e
nega radicalmente a democracia.
Ensinar a pensar certo é algo que se faz e que se vive enquanto dele se fala com a força do
testemunho; exige entendimento co-participado. É tarefa do educador desafiar o educando com
quem se comunica e a quem comunica, produzindo nele compreensão do que vem sendo
comunicado. O pensar certo é intercomunicação dialógica e não polêmica.
8 ENSINAR EXIGE REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA - Envolve o movimento dinâmico,
dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer. É fundamental que o aprendiz da prática
docente saiba que deve superar o pensar ingênuo, assumindo o pensar certo produzido por ele
próprio, juntamente com o professor formador. Por outro lado, ele deve reconhecer o valor das
emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição.
Através da reflexão crítica sobre a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a
próxima prática. E, ainda, quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a razão de ser
como estou sendo, mais me torno capaz de mudar, de promover-me do estado da curiosidade
ingênua para o de curiosidade epistemológica. Decido, rompo, opto e me assumo.
9. ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO E A ASSUNÇÃO DA
IDENTIDADE CULTURAL - Uma das tarefas mais importantes da
prática educativo-crítica é propiciar condições para que os
educandos em suas relações sejam levados à experiências de
assumir-se. Como ser social e histórico, ser pensante, transformador,
criador, capaz de ter raiva porque capaz de amar.
A questão da identidade cultural não pode ser desprezada. Ela está
relacionada com a assunção do indivíduo por ele mesmo e se dá,
através do conflito entre forças que obstaculizam essa busca de si e
as que favorecem essa assunção.
Isto é incompatível com o treinamento pragmático, com os que se
julgam donos da verdade e que se preocupam quase exclusivamente
com os conteúdos.
Um simples gesto do professor pode impulsionar o educando em sua
formação e auto-formação. A experiência informal de formação ou
deformação que se vive na escola, não pode ser negligênciada e
exige reflexão. Experiências vividas nas ruas, praças, trabalho, salas
de aula, pátios e recreios são cheias de significação.
CAPÍTULO II - ENSINAR NÃO É TRANSFERIR CONHECIMENTO
 Ensinar exige consciência do inacabado
 Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado
 Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando
 Ensinar exige bom senso
 Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa
dos direitos dos educadores
 Ensinar exige apreensão da realidade
 Ensinar exige alegria e esperança
 Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível
 Ensinar exige curiosidade
1. ENSINAR EXIGE CONSCIÊNCIA DO INACABADO - Como professor crítico sou
predisposto à mudança, à aceitação do diferente. Nada em minha experiência docente
deve necessariamente repetir-se. A inconclusão é própria da experiência vital. Quanto
mais cultural o ser, maior o suporte ou espaço ao qual o ser se prende “afetivamente”
em seu desenvolvimento. O suporte vai se ampliando, vira mundo e a vida, existência
na medida em que ele se torna consciente, apreendedor, transformador, criador de
beleza e não de “espaço” vazio a ser preenchido por conteúdos.
A existência envolve linguagem, cultura, comunicação em níveis profundos e
complexos; a “espiritualização”, possibilidade de embelezar ou enfear o mundo faz
dos homens seres éticos, portanto capazes de intervir no mundo, de comparar, ajuizar,
decidir, romper, escolher. Seres capazes de grandes ações, mas também de grandes
baixezas. Não é possível existir sem assumir o direito e o dever de optar, decidir, lutar,
fazer política.
Daí a imperiosidade da prática formadora eminentemente ética. Posso ter esperança,
sei que é possível intervir para melhorar o mundo. Meu “destino” não é
predeterminado, ele precisa ser feito e dessa responsabilidade não posso me eximir. A
História em que me faço com os outros e dela tomo parte é um tempo de
possibilidades, de problematização do futuro e não de inexorabilidade.
2. ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO DE SER CONDICIONADO
É o saber da nossa inconclusão assumida. Sei que sou inacabado, porém
consciente disto, sei que posso ir mais além, através da tensão entre o que herdo
geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente. Lutando deixo de
ser apenas objeto, para ser também sujeito da História.
A consciência do mundo e de si como ser inacabado inscrevem o ser num
permanente movimento de busca. E nisto se fundamenta a educação como
processo permanente.
Na experiência educativa aberta à procura, educador e alunos curiosos,
“programados, mas para aprender”, exercitarão tanto melhor sua capacidade de
aprender e ensinar, quanto mais se façam sujeitos e não puros objetos do
processo.
3. ENSINAR EXIGE RESPEITO À AUTONOMIA DO SER DO EDUCANDO
. . . à sua dignidade e identidade. Isto é um imperativo ético e qualquer desvio
nesse sentido é uma transgressão. O professor autoritário e o licencioso são
transgressores da eticidade. Ensinar, portanto, exige respeito à curiosidade e ao
gosto estético do educando, à sua inquietude, linguagem, às suas diferenças. O
professor não pode eximir-se de seu dever de propor limites à liberdade do aluno,
nem de ensiná-lo. Deve estar respeitosamente presente à sua experiência
formadora.
4. ENSINAR EXIGE BOM SENSO - Quanto mais pomos em prática de forma metódica nossa
capacidade de indagar, aferir e duvidar, tanto mais crítico se faz nosso bom senso. Esse exercício
vai superando o que há de instintivo na avaliação que fazemos de fatos e acontecimentos. O
bom senso tem papel importante na nossa tomada de posição em face do que devemos ou não
fazer, e a ele não pode faltar a ética.
5. ENSINAR EXIGE HUMILDADE, TOLERÂNCIA E LUTA EM DEFESA DOS DIREITOS DOS
EDUCADORES - A luta dos professores em defesa de seus direitos e dignidade, deve ser
entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Em
conseqüência do desprezo a que é relegada a prática pedagógica, não posso desgostar do que
faço sob pena de não fazê-lo bem. Necessito cultivar a humildade e a tolerância, afim de manter
meu respeito de professor ao educando. É na competência de profissionais idôneos que se
organiza politicamente a maior força dos educadores. É preciso priorizar o empenho de
formação permanente dos quadros do magistério como tarefa altamente política, e repensar a
eficácia das greves.
Não é parar de lutar, mas reinventar a forma histórica de lutar.
6. ENSINAR EXIGE APREENSÃO DA REALIDADE - Preciso conhecer as diferentes dimensões da
prática educativa, tornando-me mais seguro em meu desempenho. O homem é um ser
consciente que usa sua capacidade de aprender não apenas para se adaptar, mas sobretudo
para transformar a realidade.
A memorização mecânica não é aprendizado verdadeiro do conteúdo. Somos os únicos seres
que social e historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Para nós, aprender é aventura
criadora, é construir, reconstruir, constatar para mudar, e isto não se faz sem abertura ao risco.
O papel fundamental do professor progressista é contribuir positivamente para que o educando
seja artífice de sua formação, e ajudá-lo nesse empenho. Deve estar atento à difícil passagem da
heteronomia para a autonomia para não perturbar a busca e investigações dos educandos
7. ENSINAR EXIGE ALEGRIA E ESPERANÇA - Esperança de que professor e alunos
juntos podem aprender, ensinar, inquietar-se, produzir e também resistir aos
obstáculos à alegria. O homem é um ser naturalmente esperançoso. A esperança
crítica é indispensável à experiência histórica que só acontece onde há
problematização do futuro. Um futuro não determinado, mas que pode ser mudado.
8. ENSINAR EXIGE A COVICÇÃO DE QUE A MUDANÇA É POSSÍVEL É o saber da
História como possibilidade e não como determinação. O mundo não é, está sendo.
Meu papel histórico não é só o de constatar o que ocorre, mas também o de intervir
como sujeito de ocorrências. Constato não para me adaptar, mas para mudar a
realidade.
A partir desse saber é que vamos programar nossa ação político-pedagógica, seja
qual for o projeto a que estamos comprometidos. Desafiando os grupos populares
para que percebam criticamente a violência e a injustiça de sua situação concreta; e
que também percebam que essa situação, ainda que difícil, pode ser mudada. Como
educador preciso considerar o saber de “experiência feito” pelos grupos populares,
sua explicação do mundo e a compreensão de sua própria presença nele. Tudo isso
vem explicitado na “leitura do mundo” que precede a “leitura da palavra”.
Contudo, não posso impor a esses grupos meu saber como o verdadeiro. Mas, posso
dialogar com eles, desafiando-os a pensar sua história social e a perceber a
necessidade de superarem certos saberes que se revelam inconsistentes para
explicar os fatos.
9. ENSINAR EXIGE CURIOSIDADE - Procedimentos autoritários ou
paternalistas impedem o exercício da curiosidade do educando e do
próprio educador. O bom clima pedagógico-democrático levará o
educando a assumir eticamente limites, percebendo que sua
curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade do outro, nem
expô-la aos demais. Como professor devo saber que sem a curiosidade
que me move, não aprendo nem ensino. É fundamental que alunos e
professor se assumam epistemologicamente curiosos. Saibam que sua
postura é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada,
enquanto fala ou ouve.
O exercício da curiosidade a faz mais criticamente curiosa, mais
metodicamente “perseguidora” do seu objetivo. Quanto mais a
curiosidade espontânea se intensifica e se “rigoriza”, tanto mais
epistemologicamente vai se tornando. Um dos saberes fundamentais
à prática educativo-crítica é o que adverte da necessária promoção da
curiosidade espontânea para curiosidade epistemológica.
CAPÍTULO III - ENSINAR É UMA ESPECIFICIDADE
HUMANA
 Ensinar exige segurança, competência profissional e
generosidade
 Ensinar exige comprometimento
 Ensinar exige compreender que a educação é uma
forma de intervenção no mundo
 Ensinar exige liberdade a autoridade
 Ensinar exige tomada consciente de decisões
 Ensinar exige saber escutar
 Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica
 Ensinar exige disponibilidade para o diálogo
 Ensinar exige querer bem aos educandos
1. ENSINAR EXIGE SEGURANÇA, COMPETÊNCIA PROFISSIONAL E GENEROSIDADE -
A Segurança é fundamentada na competência profissional, portanto a
incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. A autoridade
deve fazer-se generosa e não arrogante. Deve reconhecer a eticidade. O
educando que exercita sua liberdade vai se tornando tão mais livre quanto mais
eticamente vá assumindo as responsabilidades de suas ações. Testemunho da
autoridade democrática deixa claro que o fundamental é a construção, pelo
indivíduo, da responsabilidade da liberdade que ele assume. É o aprendizado da
autonomia.
2. ENSINAR EXIGE COMPROMETIMENTO - A maneira como os alunos me
percebem tem grande importância para o meu desempenho. Não há como sendo
professor não revelar minha maneira de ser, de pensar politicamente, diante de
meus alunos. Assim, devo preocupar-me em aproximar cada vez mais o que digo
do que faço e o que pareço ser do que realmente estou sendo.
Minha presença é uma presença em si política, e assim sendo, não posso ser uma
omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos, minha capacidade
de analisar, comparar, avaliar; de fazer justiça, de não falhar à verdade. Meu
testemunho tem que ser ético. O espaço pedagógico neutro prepara os alunos
para práticas apolíticas. A maneira humana de se estar no mundo não é, nem
pode ser neutra.
3. ENSINAR EXIGE COMPREENDER QUE A EDUCAÇÃO É UMA FORMA DE
INTERVENÇÃO NO MUNDO - Implica tanto o esforço de reprodução da
ideologia dominante quanto seu desmascaramento. Como professor
minha prática exige de mim uma definição. Decisão. Ruptura. Como
professor sou a favor da luta contra qualquer forma de discriminação,
contra a dominância econômica dos indivíduos ou das classes sociais, etc.
Sou a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Não posso reduzir
minha prática docente ao puro ensino dos conteúdos, pois meu
testemunho ético ao ensiná-los é igualmente importante. É o respeito ao
saber de “experiência feito” dos alunos, o qual busco superar com eles. É
coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço.
4. ENSINAR EXIGE LIBERDADE E AUTORIDADE - A autonomia vai se
constituindo na experiência de várias e inúmeras decisões que vão sendo
tomadas. Vamos amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto
amadurecimento do ser por si, é processo; é vir a ser. Não posso aprender
a ser eu mesmo se não decido nunca porque há sempre alguém decidindo
por mim.
Quanto mais criticamente assumo a liberdade, tanto mais autoridade ela
tem para continuar lutando em seu nome.
5. ENSINAR EXIGE TOMADA CONSCIENTE DE DECISÕES - A educação, especificidade humana é um ato
de intervenção no mundo. Tanto intervenções que aspiram mudanças radicais na sociedade, no
campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à
educação, etc. quanto as que pelo contrário, pretendem imobilizar a História e manter a ordem
injusta.
A educação não vira política por causa da decisão deste ou daquele educador. Ela é política e sua raiz
se acha na própria educabilidade do ser humano, que se funde na sua natureza inacabada e da qual se
tornou consciente. O ser humano, assim se tornou um ser ético, um ser de opção, de decisão.
Diante da impossibilidade da neutralidade da educação, é importante que o educador saiba que se a
educação não pode tudo, alguma coisa fundamental ela pode. O educador crítico pode demonstrar
que é possível mudar o país. E isto reforça nele a importância de sua tarefa político-pedagógica. Ele
sabe o valor que tem para a modificação da realidade, a maneira consistente com que vive sua
presença no mundo. Sabe que sua experiência na escola é um momento importante que precisa ser
autenticamente vivido.
6. ENSINAR EXIGE SABER ESCUTAR - Aprendemos a escutar escutando. Somente quem escuta paciente
e criticamente o outro, fala com ele, e sem precisar se impor. No processo da fala e escuta, a disciplina
do silêncio a ser assumido a seu tempo pelos sujeitos que falam e escutam é um “sine qua” da
comunicação dialógica. É preciso que quem tem o que dizer saiba, que sem escutar o que quem
escuta tem igualmente a dizer, termina por esgotar sua capacidade de dizer. Quem tem o que dizer
deve assim, desafiar quem escuta, no sentido de que, quem escuta diga, fale, responda.
O espaço do educador democrático, que aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio
intermitente de quem falando, cala para escutar a quem, silencioso, e não silenciado, fala.
Não há inteligência da realidade sem a possibilidade de ser comunicada. O professor autoritário que
recusa escutar os alunos, impede a afirmação do educando como sujeito de conhecimento. Como
arquiteto de sua própria prática cognoscitiva.
7. ENSINAR EXIGE RECONHECER QUE A EDUCAÇÃO É IDEOLÓGICA
Ideologia tem que ver diretamente com a ocultação da verdade dos fatos, com o uso da
linguagem para opacizar a realidade, ao mesmo tempo que nos torna “míopes”. Sabemos
que há algo no meio da penumbra, mas não o divisamos bem. Outra possibilidade que
temos é a de docilmente aceitar que o que vemos e ouvimos é o que na verdade é, e não a
verdade distorcida.
Por exemplo, o discurso da globalização que fala da ética, esconde porém, que a sua ética
é a do mercado e não a ética universal do ser humano, pela qual devemos lutar se
optamos, na verdade, por um mundo de gente.
A teoria da transformação político-social do mundo, deve fazer parte de uma compreensão
do homem enquanto ser fazedor da História, e por ela feito, ser da decisão, da ruptura, da
opção. Seres éticos.
Os avanços científicos e tecnológicos devem ser colocados a serviço dos seres humanos.
Para superar a crise em que nos achamos, impõe-se o caminho ético.
Como professor, devo estar advertido do poder do discurso ideológico. Ele nos ameaça de
anestesiar a mente, de confundir a curiosidade, de distorcer a percepção dos fatos, das
coisas. No exercício crítico de minha resistência ao poder manhoso da ideologia, vou
gerando certas qualidades que vão virando sabedoria indispensável à minha prática
docente. Me predisponho a uma atitude sempre aberta aos demais, aos dados da
realidade, por um lado; e por outro, a uma desconfiança metódica que me defende de
tornar-me absolutamente certo de certezas.
8. ENSINAR EXIGE DISPONIBILIDADE PARA O DIÁLOGO - Como
professor devo testemunhar aos alunos a segurança com que me
comporto ao discutir um tema, analisar um fato. Aberto ao mundo e
aos outros, estabeleço a relação dialógica em que se confirma a
inconclusão no permanente movimento na História. Postura crítica
diante dos meios de comunicação não pode faltar. Impossível a
neutralidade nos processos de comunicação. Não podemos
desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, sobretudo, discuti-la.
9. ENSINAR EXIGE QUERER BEM AOS EDUCANDOS - Querer bem aos
educandos e à própria prática educativa de que participo. Essa
abertura significa que a afetividade não me assusta, que não tenho
medo de expressá-la. Seriedade docente e afetividade não são
incompatíveis. Aberto ao querer bem significa minha disponibilidade
à alegria de viver. Quanto mais metodicamente rigoroso me torno na
minha busca e minha docência, tanto mais alegre e esperançoso me
sinto.

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Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire

  • 2. SOBRE O AUTOR  Paulo Freire nasceu em 1921 em Recife, numa família de classe média. Com o agravamento da crise econômica mundial iniciada em 1929 e a morte de seu pai, quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar dificuldades econômicas.  Formou-se em direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistério. Suas idéias pedagógicas se formaram da observação da cultura dos alunos - em particular o uso da linguagem - e do papel elitista da escola.  Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas em um mês. No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Brasília, onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire passou 70 dias na prisão antes de se exilar.  Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos.  Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária.  Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de São Paulo.  Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos.  Foi nomeado doutor honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte.
  • 3. SUA OBRA  A propósito de uma administração. Recife: Imprensa Universitária, 1961.  Conscientização e alfabetização: uma nova visão do processo. Estudos Universitários – Revista de Cultura da Universidade do Recife. Número 4, 1963: 5-22.  Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1967.  Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1970.  Educação e mudança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1979.  A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez Editora, 1982.  A educação na cidade. São Paulo: Cortez Editora, 1991.  Pedagogia da esperança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1992.  Política e educação. São Paulo: Cortez Editora, 1993.  Cartas a Cristina. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1974.  À sombra desta mangueira. São Paulo: Editora Olho d’Água, 1995.  Pedagogia da autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.  Mudar é difícil, mas é possível (Palestra proferida no SESI de Pernambuco). Recife: CNI/SESI, 1997-b.  Pedagogia da indignação. São Paulo: UNESP, 2000.  Educação e atualidade brasileira. São Paulo: Cortez Editora, 2001.
  • 4. O meu ponto de vista é o dos “condenados da Terra”, o dos excluídos. Não aceito, porém, em nome de nada, ações terroristas, pois que delas resultam a morte de inocentes e a insegurança de seres humanos. O terrorismo nega o que venho chamando de ética universal do ser humano. Paulo Freire, em “Primeiras Palavras”, prefácio de A Pedagogia da Autonomia
  • 5. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA BOA PRÁTICA EDUCATIVA  a rigorosidade metódica e a pesquisa  a ética e a estética  a competência profissional  o respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento da identidade cultural  a rejeição de toda e qualquer forma de discriminação  a reflexão crítica da prática pedagógica  a corporeificação  o saber dialogar e escutar  o querer bem aos educandos  o ter alegria e esperança  o ter liberdade e autoridade  o ter curiosidade  o ter a consciência do inacabado...
  • 6. CAPÍTULO I – NÃO HÁ DOCÊNCIA SEM DISCÊNCIA  Ensinar exige rigorosidade metódica  Ensinar exige pesquisa  Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos  Ensinar exige criticidade  Ensinar exige estética e ética  Ensinar exige corporeificação das palavras pelo exemplo  Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a discriminação  Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática  Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural
  • 7.
  • 8. A reflexão crítica da prática é uma exigência da relação teoria/ prática, sem a qual a teoria irá virando apenas palavras, e a prática, ativismo. Há um processo a ser considerado na experiência permanente do educador. No dia-a-dia ele recebe os conhecimentos – conteúdos acumulados pelo sujeito, o aluno, que sabe e lhe transmite. Neste sentido, ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar; é ação pela qual um sujeito criador dá forma, alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. QUEM ENSINA APRENDE AO ENSINAR E QUEM APRENDE ENSINA AO APRENDER. Ensinar é mais que verbo-transitivo relativo, pede um objeto direto: quem ensina, ensina alguma coisa; pede um objeto indireto: à alguém, mas também ensinar inexiste sem aprender e aprender inexiste sem ensinar. Só existe ensino quando este resulta num aprendizado em que o aprendiz se tornou capaz de recriar ou refazer o ensinado, ou seja, em que o que foi ensinado foi realmente aprendido pelo aprendiz. Esta é a vivência autêntica exigida pela prática de ensinar-aprender. É uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética. NÓS SOMOS “SERES PROGRAMADOS, MAS, PARA APRENDER” (FRANÇOIS JACOB). O processo de aprender pode deflagrar no aprendiz uma curiosidade crescente que pode torná-lo mais e mais criador, ou em outras palavras: QUANTO MAIS CRITICAMENTE SE EXERÇA A CAPACIDADE DE APRENDER TANTO MAIS SE CONSTRÓI E DESENVOLVE A “CURIOSIDADE EPISTEMOLÓGICA”, SEM A QUAL NÃO ALCANÇAMOS O CONHECIMENTO CABAL DO OBJETO.
  • 9. 1. ENSINAR EXIGE RIGOROSIDADE METODOLÓGICA O educador democrático, crítico, em sua prática docente deve forçar a capacidade de crítica do educando, sua curiosidade, sua insubmissão. Trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis, é uma de suas tarefas primordiais. Para isso, ele precisa ser um educador criador, instigador, inquieto, rigorosamente curioso, humilde e persistente. Deve ser claro para os educandos que o educador já teve e continua tendo experiência de produção de certos saberes e que estes não podem ser simplesmente transferidos a eles. Educador e educandos, lado a lado, vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber. É impossível tornar-se um professor crítico, aquele que é mecanicamente um memorizador, um repetidor de frases e idéias inertes, e não um desafiador. Pensa mecanicamente. Pensa errado. A verdadeira leitura me compromete com o texto que a mim se dá e a que me dou e de cuja compreensão fundamental me vou tornando também sujeito. Só pode ensinar certo quem pensa certo, mesmo que às vezes, pense errado. E uma das condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiados certos de nossas certezas. O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos a beleza de estarmos no mundo e com o mundo, como seres históricos, intervindo no mundo e conhecendo -o .Contudo, nosso conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho, e se “dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã. Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos do ciclo gnosiológico: o momento em que se ensina e se aprende o conhecimento já existente, e o momento em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente. É a prática da “do-discência” : docência- discência e pesquisa.
  • 10. 2. ENSINAR EXIGE PESQUISA - Não há ensino sem pesquisa, nem pesquisa sem ensino. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e para comunicar o novo. 3. ENSINAR EXIGE RESPEITO AOS SABERES DO EDUCANDO - A escola deve respeitar os saberes socialmente construídos pelos alunos na prática comunitária. Discutir com eles a razão de ser de alguns saberes em relação ao ensino dos conteúdos. Discutir os problemas por eles vividos. Estabelecer uma intimidade entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos. Discutir as implicações políticas e ideológicas, e a ética de classe relacionada a descasos. 4. ENSINAR EXIGE CRITICIDADE - Entre o saber feito de pura experiência e o resultante dos procedimentos metodicamente rigorosos, não há uma ruptura, mas uma superação que se dá na medida em que a curiosidade ingênua, associada ao saber do senso comum, vai sendo substituída pela curiosidade crítica ou epistemológica que se rigoriza metodicamente. 5. ENSINAR EXIGE ESTÉTICA E ÉTICA - Somos seres históricos – sociais, capazes de comparar, valorizar, intervir, escolher, decidir, romper e por isso, nos fizemos seres éticos. Só somos porque estamos sendo. Transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado. Pensar certo demanda profundidade na compreensão e interpretação dos fatos. Não é possível mudar e fazer de conta que não mudou. Coerência entre o pensar certo e o agir certo. Não há pensar certo à margem de princípios éticos, se mudar é uma possibilidade e um direito, cabe a quem muda, assumir a mudança operada
  • 11. 6. ENSINAR EXIGE A CORPOREIFICAÇÃO DA PALAVRA PELO EXEMPLO O professor que ensina certo não aceita o “faça o que eu mando e não o que eu faço”. Ele sabe que as palavras às quais falta corporeidade do exemplo quase nada valem. É preciso uma prática testemunhal que confirme o que se diz em lugar de desdizê-lo. 7. ENSINAR EXIGE RISCO, ACEITAÇÃO DO NOVO E REJEIÇÃO A QUALQUER FORMA DE DISCRIMINAÇÃO - O novo não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, nem o velho recusado, apenas por ser velho. O velho que preserva sua validade continua novo. A prática preconceituosa de raça, classe, gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia. Ensinar a pensar certo é algo que se faz e que se vive enquanto dele se fala com a força do testemunho; exige entendimento co-participado. É tarefa do educador desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica, produzindo nele compreensão do que vem sendo comunicado. O pensar certo é intercomunicação dialógica e não polêmica. 8 ENSINAR EXIGE REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA - Envolve o movimento dinâmico, dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer. É fundamental que o aprendiz da prática docente saiba que deve superar o pensar ingênuo, assumindo o pensar certo produzido por ele próprio, juntamente com o professor formador. Por outro lado, ele deve reconhecer o valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição. Através da reflexão crítica sobre a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática. E, ainda, quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a razão de ser como estou sendo, mais me torno capaz de mudar, de promover-me do estado da curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica. Decido, rompo, opto e me assumo.
  • 12. 9. ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO E A ASSUNÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL - Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar condições para que os educandos em suas relações sejam levados à experiências de assumir-se. Como ser social e histórico, ser pensante, transformador, criador, capaz de ter raiva porque capaz de amar. A questão da identidade cultural não pode ser desprezada. Ela está relacionada com a assunção do indivíduo por ele mesmo e se dá, através do conflito entre forças que obstaculizam essa busca de si e as que favorecem essa assunção. Isto é incompatível com o treinamento pragmático, com os que se julgam donos da verdade e que se preocupam quase exclusivamente com os conteúdos. Um simples gesto do professor pode impulsionar o educando em sua formação e auto-formação. A experiência informal de formação ou deformação que se vive na escola, não pode ser negligênciada e exige reflexão. Experiências vividas nas ruas, praças, trabalho, salas de aula, pátios e recreios são cheias de significação.
  • 13. CAPÍTULO II - ENSINAR NÃO É TRANSFERIR CONHECIMENTO  Ensinar exige consciência do inacabado  Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado  Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando  Ensinar exige bom senso  Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores  Ensinar exige apreensão da realidade  Ensinar exige alegria e esperança  Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível  Ensinar exige curiosidade
  • 14. 1. ENSINAR EXIGE CONSCIÊNCIA DO INACABADO - Como professor crítico sou predisposto à mudança, à aceitação do diferente. Nada em minha experiência docente deve necessariamente repetir-se. A inconclusão é própria da experiência vital. Quanto mais cultural o ser, maior o suporte ou espaço ao qual o ser se prende “afetivamente” em seu desenvolvimento. O suporte vai se ampliando, vira mundo e a vida, existência na medida em que ele se torna consciente, apreendedor, transformador, criador de beleza e não de “espaço” vazio a ser preenchido por conteúdos. A existência envolve linguagem, cultura, comunicação em níveis profundos e complexos; a “espiritualização”, possibilidade de embelezar ou enfear o mundo faz dos homens seres éticos, portanto capazes de intervir no mundo, de comparar, ajuizar, decidir, romper, escolher. Seres capazes de grandes ações, mas também de grandes baixezas. Não é possível existir sem assumir o direito e o dever de optar, decidir, lutar, fazer política. Daí a imperiosidade da prática formadora eminentemente ética. Posso ter esperança, sei que é possível intervir para melhorar o mundo. Meu “destino” não é predeterminado, ele precisa ser feito e dessa responsabilidade não posso me eximir. A História em que me faço com os outros e dela tomo parte é um tempo de possibilidades, de problematização do futuro e não de inexorabilidade.
  • 15. 2. ENSINAR EXIGE O RECONHECIMENTO DE SER CONDICIONADO É o saber da nossa inconclusão assumida. Sei que sou inacabado, porém consciente disto, sei que posso ir mais além, através da tensão entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente. Lutando deixo de ser apenas objeto, para ser também sujeito da História. A consciência do mundo e de si como ser inacabado inscrevem o ser num permanente movimento de busca. E nisto se fundamenta a educação como processo permanente. Na experiência educativa aberta à procura, educador e alunos curiosos, “programados, mas para aprender”, exercitarão tanto melhor sua capacidade de aprender e ensinar, quanto mais se façam sujeitos e não puros objetos do processo. 3. ENSINAR EXIGE RESPEITO À AUTONOMIA DO SER DO EDUCANDO . . . à sua dignidade e identidade. Isto é um imperativo ético e qualquer desvio nesse sentido é uma transgressão. O professor autoritário e o licencioso são transgressores da eticidade. Ensinar, portanto, exige respeito à curiosidade e ao gosto estético do educando, à sua inquietude, linguagem, às suas diferenças. O professor não pode eximir-se de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, nem de ensiná-lo. Deve estar respeitosamente presente à sua experiência formadora.
  • 16. 4. ENSINAR EXIGE BOM SENSO - Quanto mais pomos em prática de forma metódica nossa capacidade de indagar, aferir e duvidar, tanto mais crítico se faz nosso bom senso. Esse exercício vai superando o que há de instintivo na avaliação que fazemos de fatos e acontecimentos. O bom senso tem papel importante na nossa tomada de posição em face do que devemos ou não fazer, e a ele não pode faltar a ética. 5. ENSINAR EXIGE HUMILDADE, TOLERÂNCIA E LUTA EM DEFESA DOS DIREITOS DOS EDUCADORES - A luta dos professores em defesa de seus direitos e dignidade, deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Em conseqüência do desprezo a que é relegada a prática pedagógica, não posso desgostar do que faço sob pena de não fazê-lo bem. Necessito cultivar a humildade e a tolerância, afim de manter meu respeito de professor ao educando. É na competência de profissionais idôneos que se organiza politicamente a maior força dos educadores. É preciso priorizar o empenho de formação permanente dos quadros do magistério como tarefa altamente política, e repensar a eficácia das greves. Não é parar de lutar, mas reinventar a forma histórica de lutar. 6. ENSINAR EXIGE APREENSÃO DA REALIDADE - Preciso conhecer as diferentes dimensões da prática educativa, tornando-me mais seguro em meu desempenho. O homem é um ser consciente que usa sua capacidade de aprender não apenas para se adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade. A memorização mecânica não é aprendizado verdadeiro do conteúdo. Somos os únicos seres que social e historicamente, nos tornamos capazes de apreender. Para nós, aprender é aventura criadora, é construir, reconstruir, constatar para mudar, e isto não se faz sem abertura ao risco. O papel fundamental do professor progressista é contribuir positivamente para que o educando seja artífice de sua formação, e ajudá-lo nesse empenho. Deve estar atento à difícil passagem da heteronomia para a autonomia para não perturbar a busca e investigações dos educandos
  • 17. 7. ENSINAR EXIGE ALEGRIA E ESPERANÇA - Esperança de que professor e alunos juntos podem aprender, ensinar, inquietar-se, produzir e também resistir aos obstáculos à alegria. O homem é um ser naturalmente esperançoso. A esperança crítica é indispensável à experiência histórica que só acontece onde há problematização do futuro. Um futuro não determinado, mas que pode ser mudado. 8. ENSINAR EXIGE A COVICÇÃO DE QUE A MUDANÇA É POSSÍVEL É o saber da História como possibilidade e não como determinação. O mundo não é, está sendo. Meu papel histórico não é só o de constatar o que ocorre, mas também o de intervir como sujeito de ocorrências. Constato não para me adaptar, mas para mudar a realidade. A partir desse saber é que vamos programar nossa ação político-pedagógica, seja qual for o projeto a que estamos comprometidos. Desafiando os grupos populares para que percebam criticamente a violência e a injustiça de sua situação concreta; e que também percebam que essa situação, ainda que difícil, pode ser mudada. Como educador preciso considerar o saber de “experiência feito” pelos grupos populares, sua explicação do mundo e a compreensão de sua própria presença nele. Tudo isso vem explicitado na “leitura do mundo” que precede a “leitura da palavra”. Contudo, não posso impor a esses grupos meu saber como o verdadeiro. Mas, posso dialogar com eles, desafiando-os a pensar sua história social e a perceber a necessidade de superarem certos saberes que se revelam inconsistentes para explicar os fatos.
  • 18. 9. ENSINAR EXIGE CURIOSIDADE - Procedimentos autoritários ou paternalistas impedem o exercício da curiosidade do educando e do próprio educador. O bom clima pedagógico-democrático levará o educando a assumir eticamente limites, percebendo que sua curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade do outro, nem expô-la aos demais. Como professor devo saber que sem a curiosidade que me move, não aprendo nem ensino. É fundamental que alunos e professor se assumam epistemologicamente curiosos. Saibam que sua postura é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou ouve. O exercício da curiosidade a faz mais criticamente curiosa, mais metodicamente “perseguidora” do seu objetivo. Quanto mais a curiosidade espontânea se intensifica e se “rigoriza”, tanto mais epistemologicamente vai se tornando. Um dos saberes fundamentais à prática educativo-crítica é o que adverte da necessária promoção da curiosidade espontânea para curiosidade epistemológica.
  • 19. CAPÍTULO III - ENSINAR É UMA ESPECIFICIDADE HUMANA  Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade  Ensinar exige comprometimento  Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo  Ensinar exige liberdade a autoridade  Ensinar exige tomada consciente de decisões  Ensinar exige saber escutar  Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica  Ensinar exige disponibilidade para o diálogo  Ensinar exige querer bem aos educandos
  • 20. 1. ENSINAR EXIGE SEGURANÇA, COMPETÊNCIA PROFISSIONAL E GENEROSIDADE - A Segurança é fundamentada na competência profissional, portanto a incompetência profissional desqualifica a autoridade do professor. A autoridade deve fazer-se generosa e não arrogante. Deve reconhecer a eticidade. O educando que exercita sua liberdade vai se tornando tão mais livre quanto mais eticamente vá assumindo as responsabilidades de suas ações. Testemunho da autoridade democrática deixa claro que o fundamental é a construção, pelo indivíduo, da responsabilidade da liberdade que ele assume. É o aprendizado da autonomia. 2. ENSINAR EXIGE COMPROMETIMENTO - A maneira como os alunos me percebem tem grande importância para o meu desempenho. Não há como sendo professor não revelar minha maneira de ser, de pensar politicamente, diante de meus alunos. Assim, devo preocupar-me em aproximar cada vez mais o que digo do que faço e o que pareço ser do que realmente estou sendo. Minha presença é uma presença em si política, e assim sendo, não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos, minha capacidade de analisar, comparar, avaliar; de fazer justiça, de não falhar à verdade. Meu testemunho tem que ser ético. O espaço pedagógico neutro prepara os alunos para práticas apolíticas. A maneira humana de se estar no mundo não é, nem pode ser neutra.
  • 21. 3. ENSINAR EXIGE COMPREENDER QUE A EDUCAÇÃO É UMA FORMA DE INTERVENÇÃO NO MUNDO - Implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto seu desmascaramento. Como professor minha prática exige de mim uma definição. Decisão. Ruptura. Como professor sou a favor da luta contra qualquer forma de discriminação, contra a dominância econômica dos indivíduos ou das classes sociais, etc. Sou a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Não posso reduzir minha prática docente ao puro ensino dos conteúdos, pois meu testemunho ético ao ensiná-los é igualmente importante. É o respeito ao saber de “experiência feito” dos alunos, o qual busco superar com eles. É coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço. 4. ENSINAR EXIGE LIBERDADE E AUTORIDADE - A autonomia vai se constituindo na experiência de várias e inúmeras decisões que vão sendo tomadas. Vamos amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser por si, é processo; é vir a ser. Não posso aprender a ser eu mesmo se não decido nunca porque há sempre alguém decidindo por mim. Quanto mais criticamente assumo a liberdade, tanto mais autoridade ela tem para continuar lutando em seu nome.
  • 22. 5. ENSINAR EXIGE TOMADA CONSCIENTE DE DECISÕES - A educação, especificidade humana é um ato de intervenção no mundo. Tanto intervenções que aspiram mudanças radicais na sociedade, no campo da economia, das relações humanas, da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, etc. quanto as que pelo contrário, pretendem imobilizar a História e manter a ordem injusta. A educação não vira política por causa da decisão deste ou daquele educador. Ela é política e sua raiz se acha na própria educabilidade do ser humano, que se funde na sua natureza inacabada e da qual se tornou consciente. O ser humano, assim se tornou um ser ético, um ser de opção, de decisão. Diante da impossibilidade da neutralidade da educação, é importante que o educador saiba que se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental ela pode. O educador crítico pode demonstrar que é possível mudar o país. E isto reforça nele a importância de sua tarefa político-pedagógica. Ele sabe o valor que tem para a modificação da realidade, a maneira consistente com que vive sua presença no mundo. Sabe que sua experiência na escola é um momento importante que precisa ser autenticamente vivido. 6. ENSINAR EXIGE SABER ESCUTAR - Aprendemos a escutar escutando. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, e sem precisar se impor. No processo da fala e escuta, a disciplina do silêncio a ser assumido a seu tempo pelos sujeitos que falam e escutam é um “sine qua” da comunicação dialógica. É preciso que quem tem o que dizer saiba, que sem escutar o que quem escuta tem igualmente a dizer, termina por esgotar sua capacidade de dizer. Quem tem o que dizer deve assim, desafiar quem escuta, no sentido de que, quem escuta diga, fale, responda. O espaço do educador democrático, que aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio intermitente de quem falando, cala para escutar a quem, silencioso, e não silenciado, fala. Não há inteligência da realidade sem a possibilidade de ser comunicada. O professor autoritário que recusa escutar os alunos, impede a afirmação do educando como sujeito de conhecimento. Como arquiteto de sua própria prática cognoscitiva.
  • 23. 7. ENSINAR EXIGE RECONHECER QUE A EDUCAÇÃO É IDEOLÓGICA Ideologia tem que ver diretamente com a ocultação da verdade dos fatos, com o uso da linguagem para opacizar a realidade, ao mesmo tempo que nos torna “míopes”. Sabemos que há algo no meio da penumbra, mas não o divisamos bem. Outra possibilidade que temos é a de docilmente aceitar que o que vemos e ouvimos é o que na verdade é, e não a verdade distorcida. Por exemplo, o discurso da globalização que fala da ética, esconde porém, que a sua ética é a do mercado e não a ética universal do ser humano, pela qual devemos lutar se optamos, na verdade, por um mundo de gente. A teoria da transformação político-social do mundo, deve fazer parte de uma compreensão do homem enquanto ser fazedor da História, e por ela feito, ser da decisão, da ruptura, da opção. Seres éticos. Os avanços científicos e tecnológicos devem ser colocados a serviço dos seres humanos. Para superar a crise em que nos achamos, impõe-se o caminho ético. Como professor, devo estar advertido do poder do discurso ideológico. Ele nos ameaça de anestesiar a mente, de confundir a curiosidade, de distorcer a percepção dos fatos, das coisas. No exercício crítico de minha resistência ao poder manhoso da ideologia, vou gerando certas qualidades que vão virando sabedoria indispensável à minha prática docente. Me predisponho a uma atitude sempre aberta aos demais, aos dados da realidade, por um lado; e por outro, a uma desconfiança metódica que me defende de tornar-me absolutamente certo de certezas.
  • 24. 8. ENSINAR EXIGE DISPONIBILIDADE PARA O DIÁLOGO - Como professor devo testemunhar aos alunos a segurança com que me comporto ao discutir um tema, analisar um fato. Aberto ao mundo e aos outros, estabeleço a relação dialógica em que se confirma a inconclusão no permanente movimento na História. Postura crítica diante dos meios de comunicação não pode faltar. Impossível a neutralidade nos processos de comunicação. Não podemos desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, sobretudo, discuti-la. 9. ENSINAR EXIGE QUERER BEM AOS EDUCANDOS - Querer bem aos educandos e à própria prática educativa de que participo. Essa abertura significa que a afetividade não me assusta, que não tenho medo de expressá-la. Seriedade docente e afetividade não são incompatíveis. Aberto ao querer bem significa minha disponibilidade à alegria de viver. Quanto mais metodicamente rigoroso me torno na minha busca e minha docência, tanto mais alegre e esperançoso me sinto.