7. “Outra particularidade que impressiona o estrangeiro é o
aspecto de depauperamento e fraqueza da população. Já
o havia anteriormente assinalado; porém, nas províncias
do Norte, o fato é mais frisante que nas do Sul. Já não é
que se trate apenas do fato de se verem crianças de
todas as cores: a variedade de coloração testemunha, em
toda sociedade em que impera a escravidão, o amálgama
das raças. Mas é que no Brasil essa mistura parece ter
tido sobre o desenvolvimento físico uma influência muito
mais desfavorável do que nos Estados Unidos. É como
se toda a pureza do tipo houvesse sido destruída e
resultasse um composto vago, sem caráter e sem
expressão. Essa classe híbrida, ainda mais marcada na
Amazônia por causa do elemento índio, é numerosíssima
nos povoados e nas grandes plantações.” – Louis
Agasciz, biólogo defensor do racismo científico
8. “Feitas de pau-a-pique e divididas em três
compartimentos minúsculos, as casas eram
paródia grosseira da antiga morada romana [...].
Se as edificações em suas modalidades
evolutivas objetivam a personalidade humana, o
casebre de teto de argila dos jagunços
equiparado ao wigwan dos peles-vermelhas
sugeria paralelo deplorável. O mesmo
desconforto e, sobretudo, a mesma pobreza
repugnante, traduzindo de certo modo, mais do
que a miséria do homem, a decrepitude da
raça” Os Sertões, Euclides da Cunha
9. “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não
tem o raquitismo exaustivo dos mestiços
neurastênicos do litoral. A sua aparência,
entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o
contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o
desempeno, a estrutura corretíssima das
organizações atléticas. [...] Reflete a preguiça
invencível, a atonia muscular perene, em tudo:
na palavra remorada, no gesto contrafeito, no
andar desaprumado, na cadência langorosa das
modinhas, na tendência constante à imobilidade
e à quietude” Os Sertões, Euclides da Cunha
10. “É verdade que o paulista mais facilmente venceu a
natureza do seu torrão pátrio transformando-o no
centro de civilização apurada que já é, do que o
brasileiro, e só o brasileiro, está vencendo as
exuberâncias da vida amazônica, e as vencerá
totalmente, corrigindo-as e adaptando-as ao livre
desenvolvimento da ação humana, e essa será a
mais convincente das provas de que, si tudo é
grande no Brasil, "menos o homem" este,
entretanto, não é tão pequeno como se apregoa e
como pareceu a Buckle.” Afonso de Freitas,
historiador paulista
11. UBUNTU
▪ Ubuntu = humanidade para todos
▪ Filosofia de nós
▪ “Eu só existo por que nós existimos”
▪ Cosmovisão do mundo negro-africano
▪ Mundo como teia de relações
▪ Divino ↔ Comunidade ↔ Natureza
12. Filosofias
africanas
de força
vital
Tradições orais ou
tradições ancestrais
As filosofias como Ubuntu e
Ntu dos povos bantu se
preocupam com o tornar-se
Existir
Ser
Tornar
Seu desejo de ser total e
global questiona a
centralidade do ser
humano convida a
filosofia não-africana
para diálogo
13. Analisar o que existe no mundo, a natureza do ser e a
realidade e o que os torna possível
21. “Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que
somos a humanidade. Enquanto isso — enquanto seu lobo não
vem — fomos nos alienando desse organismo de que somos parte,
a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a
Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que
não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo
em que eu consigo pensar é natureza. Li uma história de um
pesquisador europeu do começo do século XX que estava nos
Estados Unidos e chegou a um território dos Hopi. Ele tinha pedido
que alguém daquela aldeia facilitasse o encontro dele com uma
anciã que ele queria entrevistar. Quando foi encontrá-la, ela estava
parada perto de uma rocha. O pesquisador ficou esperando, até
que falou: “Ela não vai conversar comigo, não?”. Ao que seu
facilitador respondeu: “Ela está conversando com a irmã dela”.
“Mas é uma pedra.” E o camarada disse: “Qual é o problema?”.” –
Ideias para Adiar o Fim do Mundo, Ailton Krenak
22. “A ideia de nós, os humanos, nos descolarmos da terra, vivendo
numa abstração civilizatória, é absurda. Ela suprime a
diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de
existência e de hábitos. Oferece o mesmo cardápio, o mesmo
figurino e, se possível, a mesma língua para todo mundo.
Como os povos originários do Brasil lidaram com a colonização,
que queria acabar com o seu mundo? Quais estratégias esses
povos utilizaram para cruzar esse pesadelo e chegar ao século
XXI ainda esperneando, reivindicando e desafinando o coro dos
contentes? Vi as diferentes manobras que os nosso
antepassados fizeram e me alimentei delas, da criatividade e da
poesia que inspirou a resistência desses povos. A civilização
chamava aquela gente de bárbaros e imprimiu uma guerra sem
fim contra eles, com o objetivo de transformá-los em civilizados
que poderiam integrar o clube da humanidade. Muitas dessas
pessoas não são indivíduos, mas “pessoas coletivas”, células
que conseguem transmitir através do tempo suas visões sobre o
mundo.” – Ideias para Adiar o Fim do Mundo, Ailton Krenak
23. “Definitivamente não somos iguais, e é maravilhoso saber que
cada um de nós que está aqui é diferente do outro, como
constelações. O fato de podermos compartilhar esse espaço, de
estarmos juntos viajando não significa que somos iguais;
significa exatamente que somos capazes de atrair uns aos
outros pelas nossas diferenças, que deveriam guiar o nosso
roteiro de vida. Ter diversidade, não isso de uma humanidade
com o mesmo protocolo. Porque isso até agora foi só uma
maneira de homogeneizar e tirar nossa alegria de estar vivos.” –
Ideias para Adiar o Fim do Mundo, Ailton Krenak