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INTRODUÇÃO
Habitualmente, define – se PICA (ou Picacismo) como a ingestão persistente de
substâncias não nutritivas. Alguns autores expandem o conceito, descrevendo a PICA
não apenas como um transtorno manifestado pela ingestão incomum de determinadas
substâncias, mas também que ocorre em grandes quantidades. Outros autores ainda
falam em ingestão compulsiva de alimentos não nutritivos.
O objetivo é fazer uma atualização de conceitos relacionados à PICA, tais como
suas causas, populações de riscos, complicações, dificuldades diagnósticas, tratamento,
tipos, entre outros.
DESENVOLVIMENTO
1. Etimologia
A palavra PICA deriva do nome em latim de um pássaro do Hemisfério Norte, o
pega-rabuda (magpie, em inglês), notório pelo hábito de reunir objetos variados em seu
ninho para saciar a sua fome. Pássaro de hábitos alimentares peculiares caracteriza – se
por não discriminar substâncias nutritivas de não nutritivas.
Os seus hábitos alimentares (come quase tudo) deram origem a que o nome da
espécie – Pica – fosse dado a uma doença de comportamento humano: a Síndrome de
Pica.
2. História
A Pica tem sido relatada desde o século V a.C., quando Aristóteles e Hipócrates
descreveram a Pica e orientavam a respeito do suposto perigo de ingerir gelo. Nessa
mesma época, o médico romano Soranus descreveu a Pica como um alívio aos desejos e
sintomas gestacionais, que se iniciam no 40º dia de gravidez.
O primeiro caso documentado de Pica refere – se a uma gestante que ingeria terra
e foi descrito por Aetius, médico da corte de Justiniano I de Constantinopla. No século
X, Avicena, considerado o “Príncipe dos Médicos”, orientava que deficiências
nutricionais que poderiam levar a comportamentos de Pica poderiam ser supridas se o
ferro fosse embebido no vinho.
No século XVIII, ao divulgar que comia argila, o sultão do Império Otomano
disseminou o costume entre europeus, que o adotaram, acreditando ser essa uma prática
saudável.
3. Causas
Embora suas causas específicas sejam desconhecidas, várias teorias sugerem a
existência de aspectos nutricionais, culturais, sociais, sensórias, psicodinâmicos e
epidemiológicos relevantes e deficiência de ferro e zinco.
3.1 Aspectos Nutricionais
Durante muito tempo se acreditou numa teoria nutricional que sustentava que a
geofagia (ingerir terra ou solo) seria um apetite nutriente-específico, em que o
organismo buscaria fontes não alimentares de ferro e zinco.
Segundo as Recommended Dietary Allowances (RDA), em 100 gramas de argila
pode – se encontrar 322% das recomendações nutricionais de ferro, 70% de cobre e
43% de manganês. Porém, a maioria dos autores modernos acredita ser a anemia uma
conseqüência da pica, já que ingerir alimentos estranhos não supre a deficiência de
ferro, uma vez que o ferro se encontra pouco disponível nesses alimentos estranhos.
Outro fato é que, com a ingestão de substâncias não nutritivas, o indivíduo
diminuiria o consumo de alimentos fontes de certos nutrientes como ferro, zinco e
manganês, causando a deficiência.
Alguns autores sugerem também que a pica poderia ser uma manifestação da
deficiência de zinco, mineral muito relacionado ao crescimento infantil e que na
deficiência leve pode alterar o paladar. Essa alteração do paladar poderia levar à falta de
discriminação alimentar e à pica, mas não existem ainda evidências científicas que
comprovem essa idéia.
3.2 Aspectos Culturais
A pica pode ser muitas vezes considerada uma doença “folclórica”, sendo
frequentemente descrita como um ótimo exemplo de culture bound syndrome (síndrome
de cultura vinculada), limitação cultural intrinsecamente etnocêntrica. Apesar do fato de
que os significados de experiências incomuns sejam diferentes em cada região, algumas
características dessas experiências podem ser encontradas repetidamente em lugares e
épocas distintas como na Grécia antiga em 40 a. C., na África ou mesmo nos Estados
Unidos nos dias de hoje. Algumas mulheres, por exemplo, sentem – se à vontade em
praticar o hábito da síndrome.
Estudo sobre os motivos alegados por mulheres africanas para a geofagia (ingeria
terra ou solo) descreveu que a prática era um hábito estritamente feminino e relacionado
com a fertilidade, a reprodução e a falta de sangue, alegando um hábito comum.
Persistem ainda nessa população as crenças de que a ingestão de terra poderia
prevenir vômitos, diminuir o inchaço das pernas e que não apenas contribuiria para que
os bebês nascessem bonitos, mas ainda os ajudaria em seu desenvolvimento. Mulheres
costumam acalmar seus bebês com argila no lugar da chupeta. Crianças absorvem esse
costume, que os acompanha até a adolescência, quando normalmente o hábito é
abandonado.
Motivos religiosos também são muitas vezes citados. Na Califórnia e no México,
onde a figura da Virgem de Guadalupe é muito cultuada, as gestantes costumam ingerir
santinhos de barro com a imagem da santa a fim de que seus bebês sejam abençoados.
3.3 Aspectos Sociais
A indiferença e a má supervisão dos pais fazem com que alguns hábitos se
perpetuem entre crianças. Muitas vezes as substâncias são oferecidas pelos próprios
pais, como ocorre no Oeste Africano, a fim de que mascassem em substituição à
comida. Na África, onde a pobreza é endêmica, os índices de pica podem chegar a até
70% em alguns países como o Quênia.
A pica pode estar correlacionada também com a situação socioeconômica
desvantajosa. A geofagia está aparentemente associada a períodos e regiões de fome.
A institucionalização de crianças em orfanatos também parece ser um fator de
risco para a pica. Algumas crianças institucionalizadas apresentam deficiência mental,
baixo índice de cognição e de capacidade de comunicação se comparadas a outras
crianças.
Indivíduos com retardo mental costumam ter maior número de problemas
alimentares, entre eles a pica. Assim, esses pacientes teriam o hábito da pica não
somente por uma preferência, mas, sim, pela indiscriminação de substâncias a serem
ingeridas.
3.4 Aspectos Sensoriais
Sugere – se que mulheres grávidas teriam o sentido do olfato mais aguçado
durante a gestação, uma perversão do apetite, o que poderia desencadear as compulsões
por alimentos não desejados em outros momentos da vida.
Pesquisa realizada no Quênia apontou que o paladar está diretamente relacionado
com o hábito, uma vez que as mulheres entrevistadas classificavam os tipos de terra por
sabor: “terra da parede tem gosto de fumaça de comida”, “terra das árvores é salgada”
etc.
3.5 Aspectos Psicodinâmicos
Acredita – se, dentro de uma visão psicodinâmica, que o hábito da pica poderia
estar relacionado com conflitos emocionais não resolvidos. Fatores estressores em
crianças e adolescentes, como separação dos pais e abuso sexual, poderiam predispor ou
desencadear o quadro.
Nas grávidas, alguns autores sugerem que o aumento do estresse materno no
primeiro trimestre de gestação poderia estar relacionado com o problema.
É importante ressaltar que os aspectos psicodinâmicos da etiologia da pica foram
pouco estudados e ainda muito deve ser avançados nesse assunto.
3.6 Aspectos Epidemiológicos
A dificuldade de diagnóstico decorre em razão das diferenças culturais, bem como
da vergonha dos pacientes em relatar o transtorno. Foram encontrados estudos com
prevalências muito diferentes que podem varias de 14,4% na zona rural da Geórgia, nos
Estados Unidos da América (EUA), 44% entre americanas descendentes de mexicanas
na Califórnia, 50% de mulheres na Nigéria e até 73% no Quênia.
No sudoeste americano – especialmente no estado de Mississipi –, a geofagia é
comum e está presente entre 57% e 68% das mulheres e 16% das crianças afro –
americanas. Nessa mesma região, 26% de adultos institucionalizados com deficiência
mental também praticam a pica, consumindo diariamente uma média de 50 gramas de
terra.
Mesmo conhecendo os efeitos deletérios a seus filhos, a maioria das gestantes
relata não conseguir interromper o hábito. Estudo recente em 71 gestantes argentinas
apontou as manifestações mais comuns de pica: 70% de gelo, 18% de terra, 4% de
sabão, 3% de giz e 4% de linha, esmalte e sal.
Nas crianças, a prevalência de pica é mais elevada em meninos e sabe – se que
80% das ocorrências de corpos estranhos no trato digestório acontecem em indivíduos
com menos de 10 anos. Um trabalho realizado em Pittsburgh verificou a prevalência de
puçá entre crianças de 1 a 6 anos e contatou – se que 71% delas tinham o hábito.
Tarren-Sweeney avaliou 274 crianças residentes em orfanatos, com idade entre 6
e 11 anos, e verificou que 15% consumiam substâncias não nutritivas.
4. Tipos
O número de substâncias não nutritivas é extremamente variado e aparentemente
acompanha a disponibilidades de acordo com o meio e processos tecnológicos.
Acufagia – ingerir objetos pontiagudos;
Amilofagia – comer amido (de milhos ou mandioca);
Auto-canibalismo – comer partes do corpo (raridade);
Cautopireiofagia – ingerir palitos de fósforo apagados;
Coniofagia – comer pó;
Coprofagia – comer excremento;
Emetofagia – comer vômito;
Geomelofagia – comer (frequentemente) batatas cruas;
Geofagia – ingerir terra ou solo;
Ctonofagia – ingerir terra ou argila (arcaísmo);
Hematofagia – ingerir sangue;
Hialofagia - ingerir vidro;
Lithofagia – comer pedras;
Mucofagia – ingerir muco;
Pagofagia – comer gelo;
Trichofagia - comer cabelo ou lã (fios ou tecido);
Urofagia – ingerir urina;
Xilofagia – comer madeira.
5. Efeitos adversos versus uso medicinal
As conseqüências clínicas da pica são diferentes de acordo com o tipo de
substância consumida. Seus efeitos adversos podem se manifestar como obstrução
intestinal, obesidade pelo valor energética, infecções e desnutrição. Toxicidade é muito
comum, podendo de apresentar por meio de sintomas neurológicos como irritabilidade,
letargia, descoordenação, dores de cabeça, além de sintomas gastrointestinais como
diarréia, dores abdominais, cólicas e vômitos.
Alguns estudos de caso são relatados na literatura, em que a pica teve
consequências mais graves, confirmando que a pica na gestação pode causar
prematuridades, mortalidade perinatal, baixo peso ao nascer, diminuição do perímetro
encefálico, entre outros.
São relatadas também obstrução e perfuração intestinal numa mulher na 24ª
semana gestacional em decorrência do consumo diário de 300 gramas de argila. Recente
estudo realizado no Quênia verificou o hábito de comer terra em 824 gestantes e sua
relação com a contaminação de parasitoses.
Relato de caso ocorrido no México descreve uma mãe que consumia potes de
cerâmica esmaltada durante a gestação, o que levou à contaminação do bebê, por via
placentária, com o chumbo contido nesses objetos.
Por outro lado, não são poucos os relatos de consumo de substâncias não usuais
com objetivos terapêuticos. Na Austrália, alguns povos aborígenes costumam comer
argila branca, encontrada somente nas nascentes de rios. Essa argila é rica em silicato de
alumínio (92,6%). É ingerida para preparar o estômago antes de comer peixes e frutos
do mar que possam ser perigosos, bem como tratar parasitoses. Preparações produzidas
a partir do silicato de alumínio que se utilizam da mesma argila seriam utilizadas como
medicação.
6. Diagnóstico
O diagnóstico de pica pode ser difícil, dependendo do relato individual, que pode
ser escondido pela vergonha e medo de julgamento, principalmente quando a substância
ingerida não é alimentar (cinza, fezes, terra, papel etc.). Para tanto, muitas vezes, é
preciso de mais de uma entrevista, bem como um vínculo profissional – paciente.
O profissional de saúde deve ficar atento a pacientes com queixas crônicas de
problemas gastrointestinais, com anemia ferropriva, gestantes, crianças e indivíduos
com retardo mental.
Em casos suspeitos, a família deve ser entrevistada e exames laboratoriais
sugestivos devem ser solicitados, incluindo hemograma completo, ferro sérico, ferritina,
eletrólitos, chumbo sérico, exames de função hepática e de parasitoses, radiografia e
endoscopia.
7. Tratamento
Do ponto de vista teórico, dada sua etiologia multideterminada, o tratamento para
a síndrome deve contemplar suas diferentes facetas, incluindo tratamento psiquiátrico,
psicológico e nutricional.
No tratamento farmacológico em gestantes, deve – se considerar o uso de drogas
com menor risco fetal, como sertralina, fluoxetina ou clomipramina. Durante o
aleitamento materno, o custo-benefício sobre o bebê também deve ser levado em
consideração. Coincidentemente, as mesmas medicações indicadas na gestação são
aquelas com menor acúmulo de resíduos no leito humanos. As gestantes e lactantes
costumam ter uma visão negativa sobre medicação psicotrópica, e o médico deve estar
alerta para a possibilidade de fraca adesão e abandono de tratamento.
A terapia comportamental tem sido descrita incluindo técnicas de exposição,
manipulação ambiental, vigilância, prevenção de respostas, correção e técnicas
aversivas.
O nutricionista deve orientar o paciente, ensinando novas formas de reduzir
sintomas indesejáveis da gravidez, de prevenir e curar a anemia ferropriva.
O tratamento deve incluir a remoção das causas desse comportamento anormal,
fazer com que as substâncias de escolha sejam inacessíveis, a introdução de uma
alimentação nutricionalmente adequada e a instalação de um ambiente estimulante que
desvie a atenção do paciente.
O prognóstico do paciente é melhor quando o problema é tratado por uma equipe
multidisciplinar. Todos os profissionais envolvidos devem estar atentos e considerar a
forma de pica e o significado do hábito para o paciente.
O tratamento deve ser multiprofissional, incluindo na equipe médicos, psicólogos
e nutricionistas.
8. Observações
Todos os trabalhos encontrados pelos autores deste artigo são revisões
bibliográficas ou descrevem casos ou séries de casos clínicos, não havendo estudos
controlados que possibilitem a elaboração de um protocolo de diagnóstico e tratamento
para pacientes com a síndrome.
A dificuldade em diagnosticar a pica ocorre por contar da necessidade do relato do
paciente. Quando o tipo de pica é aquele que o paciente ingere alimentos de forma
obsessiva, o diagnóstico é mais fácil do que quando as substâncias ingeridas não são
alimentares.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol36/n4/162.htm
http://www.youtube.com/watch?v=jnFICdPj_8g&feature=related
http://jornalismofederal.blogspot.com/2010/06/sindroma-de-pica.html
http://liverig.wordpress.com/2008/09/20/pesquisa-investiga-quenianas-com-
sindrome-de-pica/
http://ainanas.com/must-see/sindrome-de-pica-sabes-o-que-e/
http://penellopeimprensa.blogspot.com/2007/10/voc-j-ouviu-falar-em-sndrome-
da-pica.html
http://doencas-raras.webnode.com/pica/
http://olhopimpolho.blogspot.com/2010_04_01_archive.html

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Transtorno PICA

  • 1. INTRODUÇÃO Habitualmente, define – se PICA (ou Picacismo) como a ingestão persistente de substâncias não nutritivas. Alguns autores expandem o conceito, descrevendo a PICA não apenas como um transtorno manifestado pela ingestão incomum de determinadas substâncias, mas também que ocorre em grandes quantidades. Outros autores ainda falam em ingestão compulsiva de alimentos não nutritivos. O objetivo é fazer uma atualização de conceitos relacionados à PICA, tais como suas causas, populações de riscos, complicações, dificuldades diagnósticas, tratamento, tipos, entre outros.
  • 2. DESENVOLVIMENTO 1. Etimologia A palavra PICA deriva do nome em latim de um pássaro do Hemisfério Norte, o pega-rabuda (magpie, em inglês), notório pelo hábito de reunir objetos variados em seu ninho para saciar a sua fome. Pássaro de hábitos alimentares peculiares caracteriza – se por não discriminar substâncias nutritivas de não nutritivas. Os seus hábitos alimentares (come quase tudo) deram origem a que o nome da espécie – Pica – fosse dado a uma doença de comportamento humano: a Síndrome de Pica. 2. História A Pica tem sido relatada desde o século V a.C., quando Aristóteles e Hipócrates descreveram a Pica e orientavam a respeito do suposto perigo de ingerir gelo. Nessa mesma época, o médico romano Soranus descreveu a Pica como um alívio aos desejos e sintomas gestacionais, que se iniciam no 40º dia de gravidez. O primeiro caso documentado de Pica refere – se a uma gestante que ingeria terra e foi descrito por Aetius, médico da corte de Justiniano I de Constantinopla. No século X, Avicena, considerado o “Príncipe dos Médicos”, orientava que deficiências nutricionais que poderiam levar a comportamentos de Pica poderiam ser supridas se o ferro fosse embebido no vinho. No século XVIII, ao divulgar que comia argila, o sultão do Império Otomano disseminou o costume entre europeus, que o adotaram, acreditando ser essa uma prática saudável. 3. Causas Embora suas causas específicas sejam desconhecidas, várias teorias sugerem a existência de aspectos nutricionais, culturais, sociais, sensórias, psicodinâmicos e epidemiológicos relevantes e deficiência de ferro e zinco. 3.1 Aspectos Nutricionais
  • 3. Durante muito tempo se acreditou numa teoria nutricional que sustentava que a geofagia (ingerir terra ou solo) seria um apetite nutriente-específico, em que o organismo buscaria fontes não alimentares de ferro e zinco. Segundo as Recommended Dietary Allowances (RDA), em 100 gramas de argila pode – se encontrar 322% das recomendações nutricionais de ferro, 70% de cobre e 43% de manganês. Porém, a maioria dos autores modernos acredita ser a anemia uma conseqüência da pica, já que ingerir alimentos estranhos não supre a deficiência de ferro, uma vez que o ferro se encontra pouco disponível nesses alimentos estranhos. Outro fato é que, com a ingestão de substâncias não nutritivas, o indivíduo diminuiria o consumo de alimentos fontes de certos nutrientes como ferro, zinco e manganês, causando a deficiência. Alguns autores sugerem também que a pica poderia ser uma manifestação da deficiência de zinco, mineral muito relacionado ao crescimento infantil e que na deficiência leve pode alterar o paladar. Essa alteração do paladar poderia levar à falta de discriminação alimentar e à pica, mas não existem ainda evidências científicas que comprovem essa idéia. 3.2 Aspectos Culturais A pica pode ser muitas vezes considerada uma doença “folclórica”, sendo frequentemente descrita como um ótimo exemplo de culture bound syndrome (síndrome de cultura vinculada), limitação cultural intrinsecamente etnocêntrica. Apesar do fato de que os significados de experiências incomuns sejam diferentes em cada região, algumas características dessas experiências podem ser encontradas repetidamente em lugares e épocas distintas como na Grécia antiga em 40 a. C., na África ou mesmo nos Estados Unidos nos dias de hoje. Algumas mulheres, por exemplo, sentem – se à vontade em praticar o hábito da síndrome. Estudo sobre os motivos alegados por mulheres africanas para a geofagia (ingeria terra ou solo) descreveu que a prática era um hábito estritamente feminino e relacionado com a fertilidade, a reprodução e a falta de sangue, alegando um hábito comum. Persistem ainda nessa população as crenças de que a ingestão de terra poderia prevenir vômitos, diminuir o inchaço das pernas e que não apenas contribuiria para que os bebês nascessem bonitos, mas ainda os ajudaria em seu desenvolvimento. Mulheres costumam acalmar seus bebês com argila no lugar da chupeta. Crianças absorvem esse
  • 4. costume, que os acompanha até a adolescência, quando normalmente o hábito é abandonado. Motivos religiosos também são muitas vezes citados. Na Califórnia e no México, onde a figura da Virgem de Guadalupe é muito cultuada, as gestantes costumam ingerir santinhos de barro com a imagem da santa a fim de que seus bebês sejam abençoados. 3.3 Aspectos Sociais A indiferença e a má supervisão dos pais fazem com que alguns hábitos se perpetuem entre crianças. Muitas vezes as substâncias são oferecidas pelos próprios pais, como ocorre no Oeste Africano, a fim de que mascassem em substituição à comida. Na África, onde a pobreza é endêmica, os índices de pica podem chegar a até 70% em alguns países como o Quênia. A pica pode estar correlacionada também com a situação socioeconômica desvantajosa. A geofagia está aparentemente associada a períodos e regiões de fome. A institucionalização de crianças em orfanatos também parece ser um fator de risco para a pica. Algumas crianças institucionalizadas apresentam deficiência mental, baixo índice de cognição e de capacidade de comunicação se comparadas a outras crianças. Indivíduos com retardo mental costumam ter maior número de problemas alimentares, entre eles a pica. Assim, esses pacientes teriam o hábito da pica não somente por uma preferência, mas, sim, pela indiscriminação de substâncias a serem ingeridas. 3.4 Aspectos Sensoriais Sugere – se que mulheres grávidas teriam o sentido do olfato mais aguçado durante a gestação, uma perversão do apetite, o que poderia desencadear as compulsões por alimentos não desejados em outros momentos da vida. Pesquisa realizada no Quênia apontou que o paladar está diretamente relacionado com o hábito, uma vez que as mulheres entrevistadas classificavam os tipos de terra por sabor: “terra da parede tem gosto de fumaça de comida”, “terra das árvores é salgada” etc. 3.5 Aspectos Psicodinâmicos
  • 5. Acredita – se, dentro de uma visão psicodinâmica, que o hábito da pica poderia estar relacionado com conflitos emocionais não resolvidos. Fatores estressores em crianças e adolescentes, como separação dos pais e abuso sexual, poderiam predispor ou desencadear o quadro. Nas grávidas, alguns autores sugerem que o aumento do estresse materno no primeiro trimestre de gestação poderia estar relacionado com o problema. É importante ressaltar que os aspectos psicodinâmicos da etiologia da pica foram pouco estudados e ainda muito deve ser avançados nesse assunto. 3.6 Aspectos Epidemiológicos A dificuldade de diagnóstico decorre em razão das diferenças culturais, bem como da vergonha dos pacientes em relatar o transtorno. Foram encontrados estudos com prevalências muito diferentes que podem varias de 14,4% na zona rural da Geórgia, nos Estados Unidos da América (EUA), 44% entre americanas descendentes de mexicanas na Califórnia, 50% de mulheres na Nigéria e até 73% no Quênia. No sudoeste americano – especialmente no estado de Mississipi –, a geofagia é comum e está presente entre 57% e 68% das mulheres e 16% das crianças afro – americanas. Nessa mesma região, 26% de adultos institucionalizados com deficiência mental também praticam a pica, consumindo diariamente uma média de 50 gramas de terra. Mesmo conhecendo os efeitos deletérios a seus filhos, a maioria das gestantes relata não conseguir interromper o hábito. Estudo recente em 71 gestantes argentinas apontou as manifestações mais comuns de pica: 70% de gelo, 18% de terra, 4% de sabão, 3% de giz e 4% de linha, esmalte e sal. Nas crianças, a prevalência de pica é mais elevada em meninos e sabe – se que 80% das ocorrências de corpos estranhos no trato digestório acontecem em indivíduos com menos de 10 anos. Um trabalho realizado em Pittsburgh verificou a prevalência de puçá entre crianças de 1 a 6 anos e contatou – se que 71% delas tinham o hábito. Tarren-Sweeney avaliou 274 crianças residentes em orfanatos, com idade entre 6 e 11 anos, e verificou que 15% consumiam substâncias não nutritivas. 4. Tipos
  • 6. O número de substâncias não nutritivas é extremamente variado e aparentemente acompanha a disponibilidades de acordo com o meio e processos tecnológicos. Acufagia – ingerir objetos pontiagudos; Amilofagia – comer amido (de milhos ou mandioca); Auto-canibalismo – comer partes do corpo (raridade); Cautopireiofagia – ingerir palitos de fósforo apagados; Coniofagia – comer pó; Coprofagia – comer excremento; Emetofagia – comer vômito; Geomelofagia – comer (frequentemente) batatas cruas; Geofagia – ingerir terra ou solo; Ctonofagia – ingerir terra ou argila (arcaísmo); Hematofagia – ingerir sangue; Hialofagia - ingerir vidro; Lithofagia – comer pedras; Mucofagia – ingerir muco; Pagofagia – comer gelo;
  • 7. Trichofagia - comer cabelo ou lã (fios ou tecido); Urofagia – ingerir urina; Xilofagia – comer madeira. 5. Efeitos adversos versus uso medicinal As conseqüências clínicas da pica são diferentes de acordo com o tipo de substância consumida. Seus efeitos adversos podem se manifestar como obstrução intestinal, obesidade pelo valor energética, infecções e desnutrição. Toxicidade é muito comum, podendo de apresentar por meio de sintomas neurológicos como irritabilidade, letargia, descoordenação, dores de cabeça, além de sintomas gastrointestinais como diarréia, dores abdominais, cólicas e vômitos. Alguns estudos de caso são relatados na literatura, em que a pica teve consequências mais graves, confirmando que a pica na gestação pode causar prematuridades, mortalidade perinatal, baixo peso ao nascer, diminuição do perímetro encefálico, entre outros. São relatadas também obstrução e perfuração intestinal numa mulher na 24ª semana gestacional em decorrência do consumo diário de 300 gramas de argila. Recente estudo realizado no Quênia verificou o hábito de comer terra em 824 gestantes e sua relação com a contaminação de parasitoses. Relato de caso ocorrido no México descreve uma mãe que consumia potes de cerâmica esmaltada durante a gestação, o que levou à contaminação do bebê, por via placentária, com o chumbo contido nesses objetos. Por outro lado, não são poucos os relatos de consumo de substâncias não usuais com objetivos terapêuticos. Na Austrália, alguns povos aborígenes costumam comer argila branca, encontrada somente nas nascentes de rios. Essa argila é rica em silicato de alumínio (92,6%). É ingerida para preparar o estômago antes de comer peixes e frutos do mar que possam ser perigosos, bem como tratar parasitoses. Preparações produzidas a partir do silicato de alumínio que se utilizam da mesma argila seriam utilizadas como medicação.
  • 8. 6. Diagnóstico O diagnóstico de pica pode ser difícil, dependendo do relato individual, que pode ser escondido pela vergonha e medo de julgamento, principalmente quando a substância ingerida não é alimentar (cinza, fezes, terra, papel etc.). Para tanto, muitas vezes, é preciso de mais de uma entrevista, bem como um vínculo profissional – paciente. O profissional de saúde deve ficar atento a pacientes com queixas crônicas de problemas gastrointestinais, com anemia ferropriva, gestantes, crianças e indivíduos com retardo mental. Em casos suspeitos, a família deve ser entrevistada e exames laboratoriais sugestivos devem ser solicitados, incluindo hemograma completo, ferro sérico, ferritina, eletrólitos, chumbo sérico, exames de função hepática e de parasitoses, radiografia e endoscopia. 7. Tratamento Do ponto de vista teórico, dada sua etiologia multideterminada, o tratamento para a síndrome deve contemplar suas diferentes facetas, incluindo tratamento psiquiátrico, psicológico e nutricional. No tratamento farmacológico em gestantes, deve – se considerar o uso de drogas com menor risco fetal, como sertralina, fluoxetina ou clomipramina. Durante o aleitamento materno, o custo-benefício sobre o bebê também deve ser levado em consideração. Coincidentemente, as mesmas medicações indicadas na gestação são aquelas com menor acúmulo de resíduos no leito humanos. As gestantes e lactantes costumam ter uma visão negativa sobre medicação psicotrópica, e o médico deve estar alerta para a possibilidade de fraca adesão e abandono de tratamento. A terapia comportamental tem sido descrita incluindo técnicas de exposição, manipulação ambiental, vigilância, prevenção de respostas, correção e técnicas aversivas. O nutricionista deve orientar o paciente, ensinando novas formas de reduzir sintomas indesejáveis da gravidez, de prevenir e curar a anemia ferropriva. O tratamento deve incluir a remoção das causas desse comportamento anormal, fazer com que as substâncias de escolha sejam inacessíveis, a introdução de uma alimentação nutricionalmente adequada e a instalação de um ambiente estimulante que desvie a atenção do paciente.
  • 9. O prognóstico do paciente é melhor quando o problema é tratado por uma equipe multidisciplinar. Todos os profissionais envolvidos devem estar atentos e considerar a forma de pica e o significado do hábito para o paciente. O tratamento deve ser multiprofissional, incluindo na equipe médicos, psicólogos e nutricionistas. 8. Observações Todos os trabalhos encontrados pelos autores deste artigo são revisões bibliográficas ou descrevem casos ou séries de casos clínicos, não havendo estudos controlados que possibilitem a elaboração de um protocolo de diagnóstico e tratamento para pacientes com a síndrome. A dificuldade em diagnosticar a pica ocorre por contar da necessidade do relato do paciente. Quando o tipo de pica é aquele que o paciente ingere alimentos de forma obsessiva, o diagnóstico é mais fácil do que quando as substâncias ingeridas não são alimentares.