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Por valorizar mais a beleza e o preço do que a qualidade dos serviços,
milharesdepessoas,comooTheo,colocamasaúdeemriscobuscando
tratamentos não adequados para a sua pele. Muitos se esquecem de
checar as credenciais do profissional e do local do atendimento. Evite
problemas, o primeiro passo é buscar sempre um dermatologista
associado da SBD. Ele é o profissional certificado para cuidar da sua
pele como ela merece.
MAIS INFORMAÇÕES SOBRE CUIDADOS COM A PELE E ONDE ENCONTRAR
UM MÉDICO DERMATOLOGISTA MAIS PRÓXIMO, ACESSE WWW.SBD.ORG.BRConheça a história completa do Theo.
Procure antes
um médico
dermatologista
certificado.
CERTIFICADO
Baixe o app mobile
e saiba qual o
dermatologista da SBD
mais próximo de você.
Os clientes são atraídos pelos baixos preços e pela facilidade
de compra e terminam por adquirir, na verdade, um grande
problema. “O anúncio prometia um tratamento quase
milagroso contra acne, com resultados rápidos e um preço bem
em conta. Depois entendi o porquê. Além de não funcionar, o
tratamento piorou minha pele, só então eu procurei um médico
dermatologista e consegui um tratamento realmente eficaz”,
desabafou Theo Van Der Loo, que comprou o tratamento neste
tipo de site.
A saúde e o bem-estar envolvem o conceito de atendimento
multidisciplinar, mas temos observado, em várias áreas
da saúde e da medicina, uma proliferação de profissionais
não capacitados. A cada dia recebemos com pesar notícias
de erros gravíssimos em atendimentos hospitalares, em
clínicas e consultórios, relatando a aplicação de substâncias
e medicações erradas, procedimentos mal executados, além
da realização de procedimentos invasivos realizados por não
médicos. Um dos problemas fundamentais nestes incidentes
é a falta de preparo, competência e qualificação técnica dos
profissionais envolvidos.
Na dermatologia, particularmente no que abrange a estética,
a busca por tratamentos ligados à beleza alavanca uma
invasão de profissionais nem sempre habilitados, que vêm
realizando diversos procedimentos relacionados à pele, muitos
destes considerados invasivos e, portanto, pressumindo-se
que sejam de competência profissional do médico. Como
consequência, é cada vez maior o número de reclamações e o
volume de complicações graves.
Muitos anúncios na internet confundem e enganam a
população, no que diz respeito à qualificação do atendimento
e do profissional. É curioso observar a proliferação de vários
termos combinando as palavras estética e dermatologia
com dermaticistas - “técnicos que atuam nas estéticas
facial e corporal”; dermatofuncional - “área de atuação do
fisioterapeuta no campo da estética” e biomédico estético -
“área da biomedicina que atua nas disfunções estéticas faciais
e corporais”. Como se não bastasse, ainda aparecem em sites
como doutor ou doutora, a confusão é certa, e a situação se
agrava, pois, para a opinião pública, estes profissionais podem
ser vistos ou confundidos com dermatologistas.
E tudo fica ainda pior, quando se sabe que os tratamentos
dermatológicos e estéticos estão cada vez mais vulgarizados
e banalizados em promoções de sites de compras coletivas
que oferecem milagres como no caso de Theo.
A dermatologia e a estética caminham juntas, envolvendo
cuidados com a saúde do corpo e da pele. Os maiores riscos
ocorrem especialmente quando se realizam procedimentos
invasivos, com substâncias e tecnologias que requerem
habilidade e conhecimento técnico para manipular e lidar com
possíveis complicações, como a aplicação de toxina botulínica,
o uso de preenchedores, a aplicação de lasers e tecnologias
invasivas e peelings, entre outros. Qualquer profissional está
sujeito a complicações; o que importa é a sua real competência
na realização dos tratamentos.
Escolher um especialista da Sociedade Brasileira
de Dermatologia (SBD) no momento de realizar um
procedimento concede ao paciente a segurança de saber
que este profissional passou por 6 anos de estudo durante a
graduação em medicina, 3 anos durante a especialização em
dermatologia, além de um rigoroso processo de avaliação de
competências e habilidades, para poder atuar com segurança
e conhecimento, seja no tratamento e diagnóstico de doenças,
seja na realização de procedimentos estéticos de restauração
e promoção da beleza de sua pele.
No Brasil, os dermatologistas são oficialmente representados
pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Por meio do
conceito de sua campanha “Pele é saúde”, a entidade ressalta
a importância do acompanhamento médico em todos os tipos
de tratamento que envolvem a pele.
COMPRAS COLETIVAS
XDERMATOLOGISTASA febre das compras coletivas, iniciada em meados de 2010, tem durado mais que a média das tendências de
internet. E o pior, está em alta neste mercado de venda de pacotes que envolvem tratamentos médicos e estéticos,
como preenchimentos, laser, toxina botulínica e até cirurgias, realizados por profissionais nem sempre qualificados.
SERVIÇO - Sociedade Brasileira de Dermatologia - www.sbd.org.br - Av. Rio Branco, 39 - Centro - Rio de Janeiro, RJ.
INFORME PUBLICITÁRIO
CARTA DA PRESIDENTE
Se fizermos um balanço dos anos vividos ao longo dos nossos 100 anos de história,
percebemosoquantocrescemoseevoluímos.Evoluircomseriedadeeresponsabilidade
tem representado o maior propósito da Sociedade Brasileira de Dermatologia,
sobretudo nas relações com a comunidade. Disseminamos conhecimento médico-
dermatológico , agregamos valores éticos e morais e construímos uma sociedade séria
e socialmente responsável que tanto nos orgulha e nos honra! Valores, pensamento
no longo prazo e cuidados com a saúde da pele são características próprias da SBD
para o Brasil. A união dessas qualidades certamente fizeram a evolução dessa história.
Em tempos de mudanças sociais a Sociedade Brasileira de Dermatologia mantêm o
compromisso maior de servir...
Integração, responsabilidade social e disseminação do conhecimento são pilares
fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade que cresce com seus
associados e cresce com a população.
Brindar os 100 anos de história com base no trabalho realizado é ter a certeza da
missão cumprida, da integração partilhada, do valor agregado...
Reconhecer é necessário. Convocar a cooperação é fundamental. Agregar para
somar é razão de existir!
Existir na essência de ser ...
Acreditar com raça... na ordem mística, étnica, na mistura de cores que faz desse
país tão lindo e diversificado que tanto amamos...
A SBD brinda o centenário com essa edição, verdadeiramente brasileira!
Brindemos a mistura de pele e cores que faz do país Sensibilidade e Sensatez!!!
LAÇOS DE UNIÃO
Dra. Bogdana Victória Kadunc
Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia
revistasensatez@sbd.org.br
A SBD lança uma campanha para comunicar ao público a importância do médico dermatologista no
diagnóstico e tratamento dermatológico, além de conscientizar as pessoas sobre os cuidados que
elas devem ter com a própria pele e na escolha do profissional capacitado para realizar esta tarefa.
Faça parte deste projeto, você é a peça fundamental nesta campanha. Com toda certeza, de pele
você entende e vai saber muito bem como cuidar para que sua importância seja cada vez maior. É
a SBD nesses 100 anos trabalhando para você!
PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE CUIDADOS COM A PELE E ONDE ENCONTRAR UM MÉDICO
DERMATOLOGISTA ASSOCIADO À SBD MAIS PRÓXIMA, ACESSE www.sbd.org.br.
UM BRASIL DE RAÇA E DE
CORES
Editorial
Conhecer o Brasil étnico, místico é viajar na subjetividade do nosso povo que na
mistura de cores e culturas consegue ser tão plural e harmonioso como uma sintonia fas-
cinante! A grandeza desta nação está exposta em pequenos detalhes. Um lugar onde as
cores prevalecem! Nas paredes, na paisagem, nos corpos e nas almas... Nesta policromia
histórica retratamos o sentimento deste país...
Brasil de muitos ritos de sons diversos, de cores tão mistas, nascidos dos lugares,
emitidos sem reservas, sem descanso...
Brasil transformado e mistificado em vidas! A vida pragmática transformada em vida
simbólica, onde a cor passa a ser detalhe...
Viajemos nesse cenário! Os múltiplos olhares desse processo fazem a construção de
uma visão multifacetada e plural de Etnia, tema escolhido pela SBD para comemorar seu
centenário!
Nada é mais atual que discutir a pele nas diversas etnias...
Nada é mais apaixonante que ver a democratização do pensamento étnico, no mo-
mento atual brasileiro; trazendo-nos mais maturidade para construir conceitos e formar
opiniões...
Uma paixão presente na entrevista com a atriz Izabel Filardis. Mulher singular de ca-
racterísticas plurais. Bela, multifacetada e socialmente responsável; que faz crer o quanto
podemos unir beleza, sonhos e ideologias e acreditar na construção de um mundo melhor!
Surpreendente também é o relato de Tânia Nely, médica dermatologista, que conta
sem constrangimento sua luta contra o vitiligo. Despindo-se do medo e transformando-se
numa mulher corajosa e de fibra, ela escreve para a coluna Sentindo na Pele.
A Sensatez hoje nos faz ver a grandeza da alma de pessoas que constroem o Brasil.
Embarcando na nossa história, revelamos a alma de nossa gente, que é mistura de cor, de
ritos e festa, fome e fartura...Quebrando estigmas e amadurecendo...
Convidamos você leitor, a viajar nessa edição étnica, construindo também um olhar
transformador de um Brasil que amadurece...
Boa leitura !!
Dra. Luciana S. Rabello de Oliveira
2ª secretária da Sociedade Brasileira de Dermatologia
revistasensatez@sbd.org.br
Prezada Dra. Luciana e demais membros da Diretoria da SBD 2011/2012:
Gostaria de felicitá-los pela qualidade “máster” da nossa revista Sensatez.
Grande quantidade de pacientes elogiou os artigos! O interesse foi
surpreendente!!
Parabéns!
Dr.Jayme de Oliveira Filho / São Paulo - SP
Periodicamente costumo visitar minha dermatologista. Numa dessas
ocasiões encontrei na sala de espera a vossa revista “Sensatez” e pedi
permissão a minha médica para levar o exemplar, cuja leitura despertou meu
interesse.
Com admiração e muita consideração pelo profissionalismo do trabalho,
subscrevo-me.
Príncipe Alessandro Wassilieff de Ofrosimoff (Rússia)
Rio de Janeiro - RJ
Estava num consultório médico. Sou paciente e gostei muito do conteúdo
da revista Sensatez Edição 2- Ano 2012 cuja capa está Rolando Boldrin.
Parabéns pelo conteúdo completo e perfeito dessa edição. Gostaria
de mostrar algumas matérias para meus pais. Como posso obter esse
exemplar?
Adamélia Fernandes (Salvador- BA)
Realmente a SENSATEZ está surpreendendo. Parabéns pela excelência
nessa edição!
Sucesso!
André Dornelles (São Paulo - SP)
Parabéns aos editores da revista Sensatez, contextualizando informação de
qualidade agregada a uma diversidade de temas interessantes relacionados
a nossa especialidade e ao nosso dia-a-dia, esclarecendo de forma simples
e agradável para o leitor, temas ainda tão pouco divulgado na mídia tais
como vitiligo, psoríase, entre outros e abordados por especialista da nossa
área. Na última edição tive o prazer de ler uma abordagem completa
e multidisciplinar do envelhecimento como um processo da nossa condição
tão sonhada de vida longa com “qualidade de pele” e sobretudo, com
qualidade de vida.
Acredito nesse sucesso!
Parabéns pela iniciativa!
Grande abraço
Dra. Fátima Brito (Recife - PE)
Supervisão Geral
Sociedade Brasileira de Dermatologia
Diretoria 2011-2012
Presidente: Dra. Bogdana Victória Kadunc
Vice-Presidente: Dra. Sarita Maria F. Martins C. Bezerra
Tesoureira: Dr. Carlos Baptista Barcaui
Secretária Geral: Dra. Leandra D’ Orsi Metsavaht
1º Secretária: Dra. Eliandre Costa Palermo
2º Secretária: Dra. Luciana Silveira Rabello de Oliveira
Editora-Chefe
Dra. Luciana Silveira Rabello de Oliveira
Jornalistas Responsáveis
Ribamildo Bezerra de Lima - DRT 625/99
Ulisses Praxedes - DRT 2787/08
Julia Guimarães Silva Costa - 30472/RJ
Projeto Gráfico e Diagramação
Daniel Durante
danieldurante.tumblr.com
Revisão
Eliene Resende
Fotos Isabel Fillardis
Igor Rodriguez e
Assessoria
Versão Online
Nazareno N. de Souza
Victor Gimenes
Samuel Peixoto
Contato Publicitário
Priscila Rudge Simões
Impressão
Sol Gráfica
Circulação
Distribuição Gratuita
23.000 exemplares
Para se corresponder com a Redação
Av. Rio Branco, 39/ 17° andar-centro.
Rio de Janeiro-RJ
Cep: 20090-003
e-mail: revistasensatez@sbd.org.br
A equipe editorial da revista Sensatez e a
Sociedade Brasileira de Dermatologia não
garantem nem endossam os produtos ou
serviços anunciados, sendo as propagandas
de responsabilidade única e exclusiva dos
anunciantes. As matérias e textos assinados
são de inteira responsabilidade de seus autores.
FACE A FACE
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INTERFACE
PERFIL
EQUILIBRIUM
NATURALMENTE
SABOR E ARTE
CAMINHOS
SENTINDO NA PELE
EM EVIDÊNCIA
A etnia dos cabelos
e seus cuidados
O arco-íris da pele brasileira
Cuidados com a pele negra
Ensaio sobre a pele
22As cores do Brasil
Mimetismos
24A cor do corpo
As raízes de uma
mulher de raça
Tocados pela biodança
Arte inclusiva
A estética do real e do mito
Na cozinha com Carolina
Sidney: Look back! Look
around! Look forward!
A doença como caminho
Xingu - O passado
questionando o presente
Samba e feijoada: Pura
mistura brasileira
Laços de família:
Etnias do Brasil
O caldeamento das
múltiplas etnias
30
Expediente
Índice
52
10 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 11
SBD.ORG.BR
THINKSTOCK
FACE A FACE
As etnias são determinadas por influências
genéticas das diferentes raças. Além dos traços
físicos, são definidas também afinidades culturais
de uma comunidade. Os hábitos de bronzear a
pele, alisar ou tingir os cabelos entre outros mo-
dismos, participam da definição da própria etnia.
Para o dermatologista a cor da pele pode variar
do preto ao branco, passando por diversos tons
intermediários. A classificação mais tradicional
da cor da pele define cinco “fototipos” que são
determinados principalmente pela cor de pele,
cabelo e olhos. A facilidade da pele para bronze-
ar e queimar ao sol também auxilia na diferencia-
ção destes tipos de pele.
No Brasil a miscigenação indígena, europeia e
africana criou uma variação dos “fototipos”. En-
contramos pessoas de pele morena com olhos
claros ou cabelos loiros. Um estudo nacional de-
O ARCO-ÍRIS DA
PELE BRASILEIRA
Por Dra.Fabiane Mulinari Brenner
Dra. Fabiane Mulinari Brenner
Dermatologista pela SBD
revistasensatez@sbd.org.br
finiu 125 variações de tons de pele, muito mais
que as clássicas branca, preta, parda, amarela
(oriental) e indígena. Este painel é resultado da
progressiva miscigenação da população brasilei-
ra com evidente crescimento do número de par-
dos, descendentes de pelo menos duas diferen-
tes origens: indígena, europeia e africana. Cores
diferentes de pele apresentam diferenças estru-
turais que as definem. No caso do Brasil, em que
há uma grande variação de cor, verificar estas
desigualdades é um desafio. Já nos extremos de
cor, é possível evidenciá-las. O número de célu-
las produtoras do pigmento da pele, a melanina,
é igual em todas as raças, mas a quantidade e a
distribuição dele é maior nos indivíduos negros.
A melanina confere proteção solar que pode ser
comparada a um fator de proteção solar (FPS)
10, no caso dos negros. Infelizmente, na pele
branca, a redução da me-
lanina facilita as queimadu-
ras solares e expõe a pele
a doenças desencadeadas
pelo sol. Na pele clara as
modificações de cor estão
especialmente associadas
à exposição solar. Aqueles
que se queimam com fa-
cilidade e não bronzeiam,
apresentam com mais fre-
quência, sardas, manchas
nas áreas expostas ao sol
e câncer de pele. Já os
negros podem apresentar
escurecimento da pele ao
redor da boca, nas boche-
chas, na mucosa da boca,
gengivas, nas palmas e
plantas dos pés. Estes
achados comuns, não re-
lacionados à exposição
solar, são mais intensos quanto mais escura for
a pele.
A pele branca possui maior quantidade de
derivados oleosos na sua estrutura, e ainda tem
uma perda de água menor do que a negra. Bran-
cos necessitam menos de hidratação externa
(cremes e loções). O ressecamento na pele negra
é intensificado pelo menor número de glândulas
do suor no corpo. Por outro lado, essas mesmas
glândulas são mais ativas nas axilas, nos genitais
e na face, aumentando a transpiração e favore-
cendo o desenvolvimento dos odores, causados
principalmente pela proliferação de bactérias nos
locais úmidos.
A textura e firmeza da pele também são di-
ferentes entre raças. Nos negros as células que
produzem colágeno são maiores, mais ativas e
mais resistentes à degradação. Isso permite uma
pele mais densa e pouco flácida, mas dificulta a
cicatrização e facilita o aparecimento de cicatri-
zes elevadas (ou queloides).
As glândulas que produzem sebo são maio-
res e produzem maior quantidade na pele negra,
aumentando a chance de acne especialmente
quando a pele é exposta
a produtos oleosos. Ge-
ralmente a pele negra e
indígena requer cosméti-
cos mais leves em loção,
fluido ou gel; enquanto
que a pele clara, euro-
peia, tolera cremes mais
oleosos.
Cabelos podem auxi-
liar na caracterização das
etnias. O número de fios
de cabelo é menor nos
negros, quando compa-
rados aos brancos. Os
fios de cabelo tendem a
ser mais escuros, cres-
pos, ressecados e que-
bradiços nos negros.
Enquanto a estrutura dos
fios é cilíndrica, homogê-
nea e com corte transver-
sal arredondado nos brancos; o corte é triangular
e com irregularidades no diâmetro ao longo do
fio de cabelo dos negros. Estas peculiaridades
fazem com que os alisamentos e as tinturas em
cabelos negros e crespos necessitem de cuida-
do redobrado para evitar danos aos fios.
Traumas repetidos podem se associar a linhas
escuras nas unhas de mãos e pés, visíveis na
metade da população negra. Se a mancha escu-
ra for única e se estender para a cutícula, é im-
portante afastar o melanoma, um câncer de pele
de ocorrência frequente nestas áreas em negros
e orientais.
No Brasil, a grande variabilidade decorrente da
miscigenação dificulta a criação de uma rotina de
cuidados da pele e cabelos para todas as etnias.
Apesar das diferenças, todos nós necessitamos
de cuidados básicos diários. Higiene, hidratação
e proteção solar adequadas a cada tipo de pele
ajudam a manter a sua coloração homogênea,
viço e textura. O dermatologista é o profissional
habilitado a individualizar e tratar cada tipo pele,
considerando as características genéticas e cul-
turais de cada paciente.
NO BRASIL A
MISCIGENAÇÃO
INDÍGENA, EUROPEIA
E AFRICANA CRIOU
UMA VARIAÇÃO
DOS “FOTOTIPOS”.
ENCONTRAMOS
PESSOAS DE PELE
MORENA COM OLHOS
CLAROS OU CABELOS
LOIROS.
”
12 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 13
SBD.ORG.BR
Dra Katleen da Cruz Conceição
Dermatologista pela SBD
revistasensatez@sbd.org.br
S
FACE A FACE
É importante utilizar filtro solar com fator de proteção solar 15,
no mínimo, principalmente no rosto. No corpo, dê preferência
para hidratantes com filtro solar, além de proteger do sol e
evitar manchas, eles garantem a hidratação da pele.
A utilização de ácido deve ser feita com muita cautela, pois
as irritações de pele podem ocasionar escurecimento na pele
negra. Dê preferência para os alfa hidroxiácidos, como o ácido
glicólico e o ácido mandélico, que causam menos irritação.
Sim. Pode se realizar todos os tipos de lasers na pele negra,
mas é muito importante observar a fluência a ser utilizada. As
sessões na pele negra devem ter intervalos maiores do que na
pele branca, devido ao risco de hiperpigmentação.
2
1 USE FILTRO SOLAR SEMPRE
É POSSÍVEL FAZER LASER NA
PELE NEGRA?
3CONTROLE O USO DE CREMES
COM ÁCIDO
Dê preferência para produtos com substâncias como chá
verde, coffeberry ou camomila. Eles hidratam a região da
barba, evitando possíveis irritações durante o ato de barbear.
4USE SABONETES CALMANTES PARA
FAZER A BARBA
Ativos como óleo de rosa mosqueta e produtos como gel de
silicone podem evitar o surgimento de queloides após um
trauma ou após procedimentos cirúrgicos e estéticos. Esses
cuidados devem ser mantidos entre seis meses a um ano
depois da retirada da lesão.
5DOBRE A ATENÇÃO COM LESÕES
QUE POSSAM SE TRANSFORMAR EM
CICATRIZES OU QUELÓIDES:
SHUTTERSTOCK
Por Dra Katleen da Cruz Conceição
CUIDADOS
COM A PELE
NEGRA
COMO TRATAR
PELES ESCURAS
E NEGRAS
pele do povo brasileiro é formada
por uma mistura de mais de 100
tonalidades, cada uma com suas
características particulares.
Todos concordam que a diversidade
étnica do Brasil é o que garante a beleza
do seu povo, certo? O que muita gente
não sabe é a verdadeira dimensão des-
sa diversidade. Um estudo coordena-
do pela Unicamp, em 2005, identificou
125 diferentes tons de pele no país. E
A na progressão da pesquisa, surgiriam mais quatro
tons a cada dois anos. Ou seja, já devemos estar
nos encaminhando para as 140 nuances.
Mas o que designa beleza também chama a
atenção para cuidados especiais. Cada tipo de pele
exige atenção diferenciada, uma vez que cada um
desses tons reage de maneira diferente às agres-
sões do tempo, ao contato com o sol, problemas
de alimentação e aos produtos e tratamentos de
beleza.
As peles muito claras, de pessoas com cabelos
também claros, são menos preparadas para supor-
tar as agressões do sol, por exemplo, aumentando
as chances de fotoenvelhecimento e doenças de
pele. Já os tons amarelados e rosados das peles
asiáticas apresentam um aumento da pigmentação
natural, deixando a camada cutânea um pouco
mais protegida. Mas são os tratamentos que en-
volvem peles escuras e negras que mais tem des-
pertado a atenção de estudiosos ultimamente. As
características que definem a pele como mais pre-
servada, são as mesmas que a tornam mais resis-
tentes aos tratamentos. Isso sem falar na grande
variação de tons, que exige um tipo de tratamento
específico para cada caso.
Tratar foliculites e melasmas, por exemplo, é
sempre um grande desafio, já que cada tom exige
uma concentração diferente de um creme ou uma
intensidade alterada de um laser. Além disso, a pro-
pensão a manchas escurecidas é maior e são mais
difíceis de tratar. Por isso, pessoas de pele negra
necessitam de cuidados especiais.
cabelos estão entre os nossos
atributos físicos mais importantes
e suas implicações nas relações
humanas vão além do que podemos ima-
ginar. Cabelos podem definir, dentre outras
coisas, gênero, raça, sexualidade, doen-
ças, cultura, comunicação, identidade, be-
leza, aceitação e diversidade. Tratamentos
e cuidados para manter os fios bonitos e
vistosos estão entre os grandes sonhos de
muitas mulheres e homens. A boa notícia
é que, hoje, grandes avanços científicos e
descobertas nos permitem ter cabelos mais
bonitos e saudáveis. Para tanto, é necessá-
rio compreender as diferenças étnicas entre
os cabelos e seus cuidados básicos espe-
cíficos.
A aparência ou fenótipo dos cabelos é
a tradução visual da programação genéti-
ca ou genótipo de cada indivíduo. Porém
este processo é complexo e não totalmen-
te conhecido. Uma das principais variáveis
que determinam as diferenças raciais dos
cabelos é a pigmentação que, de maneira
espectral, define a coloração dos fios en-
tre mais claros e mais escuros. Dois são os
principais tipos de pigmento ou melanina;
a eumelanina de coloração marrom a pre-
ta e a feomelanina de coloração amarela a
vermelha. Todos os cabelos possuem os
dois tipos de melanina, é a quantidade va-
riável de cada tipo que determina todas as
cores que observamos. A constante misci-
genação das raças e migração dos povos
primitivos também foi determinante. Os três
grandes grupos étnicos humanos, o afri-
cano, o caucasiano e o asiático possuem
características estruturais próprias e, con-
sequentemente, cuidados específicos.
14 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 15
SBD.ORG.BR
THINKSTOCK
A ETNIA
DOS
CABELOS
E SEUS
CUIDADOS
FACE A FACE
O cabelo afro ou negro é um tipo muito especí-
fico com espessura mais fina e fios mais crespos e
achatados que, por sua configuração espiralada,
não recebem adequadamente a lubrificação natu-
ral produzida pelas glândulas sebáceas do couro
cabeludo. Dessa forma, são cabelos naturalmen-
te ressecados e frágeis, muitas vezes quebradi-
ços e de crescimento muito lento ou mesmo limi-
tado, volumosos ou não. Tendem a ser bastante
escuros pela maior quantidade de eumelanina em
relação à feomelanina.
Este tipo de cabelo deve sempre estar úmido
ou molhado para ser penteado e o pente deve
ter dentes largos para evitar a ruptura mecânica
dos fios e ajudar na definição dos cachos. Outro
cuidado fundamental é a hidratação que deve ser
constante. Para tanto, estão indicados xampus e
condicionadores hidratantes que contenham in-
gredientes como aloe vera, óleo de coco, pante-
nol, manteiga de carité, vitamina E, óleo de argan,
dentre outros. Máscaras nutritivas e cremes sem
enxágue também estão indicados após as lava-
gens. Evitar uso de secadores elétricos com ar
quente e utilizar toalhas sem fazer atrito ao secar
são medidas que garantem a integridade dos fios.
Em geral indivíduos com este tipo de cabelo
utilizam muitos tratamentos químicos para alisa-
mento e relaxamento dos fios. Estes tratamentos
modificam sensivelmente a estrutura da haste ca-
pilar, são potencialmente danosos e devem, ide-
almente, ser evitados. As substâncias mais utiliza-
das são: hidróxido de sódio ou lítio que apresenta
potente efeito alisador e também bastante preju-
dicial ao fio por quebrar as pontes dissulfeto de
queratina; tioglicato de amônio de efeito alisador
moderado e custo elevado, sendo o mais utiliza-
do no Brasil; formaldeído e o gluataraldeído estão
atualmente proibidos pela ANVISA por serem mui-
to voláteis e com potencial carcinogênico quando
inalados. A hidratação e limpeza adequadas redu-
zem os danos provocados por estes tratamentos.
O frequente hábito de prender os cabelos ten-
sionando os fios deve ser evitado porque pode
levar à foliculite e até mesmo à queda definitiva e
irreversível dos fios, principalmente em crianças.
Vale ressaltar que o cabelo afro tem seu elemento
estético próprio e que cortes e penteados ade-
quados garantem estilo e beleza a seus donos.
O CABELO AFROO
Por Dra. Denise Steiner e Dr. Thiago Vinícius R. Cunha
THINKSTOCK-IMAGENS(2,4,8)
Historicamente, mulheres asiáticas são admi-
radas por suas longas madeixas naturalmente
bonitas e resistentes. Os cabelos orientais apre-
sentam-se mais calibrosos e lisos, com maior
tendência a ser escuros pelo predomínio da eu-
melanina na sua pigmentação. São cabelos fortes
por apresentarem maior queratinização dos fios o
que lhes confere peso e brilho. Porém, se usados
muito curtos podem adquirir aspecto arrepiado ou
“espetado” principalmente em homens que, mui-
tas vezes, encontram dificuldade em controlar os
fios.
Outra queixa bastante comum é a presença
das pontas duplas que se originam principalmen-
te devido ao corte inadequado de fios mais longos
e excesso de tinturas, muito utilizadas pelas mu-
lheres japonesas que buscam cabelos mais cla-
ros. Evitar agressões químicas e realizar o corte
adequado é a melhor estratégia para combater
este problema.
De maneira geral, a mulher asiática deve evitar
produtos que contenham muitos óleos naturais,
queratina e silicone que podem promover acúmu-
lo de resíduos ou mesmo aumentar a oleosidade
deixando os fios mais pesados e comprometen-
do o volume. Formulações minimalistas com pH
mais ácido, entre 4 e 5, que contenham sílica, um
derivado do quartzo, resultam em cabelos mais
leves e brilhantes ao selar as cutículas.
O CABELO ORIENTAL
S
16 | Revista Sensatez
Caucasianos formam o grupo mais heterogê-
neo quando o assunto são os cabelos. De claros
a escuros, a proporção de eumelanina e feomela-
nina nestes indivíduos é extremamente variável o
que determina as inúmeras tonalidades encontra-
das. Os cabelos caucasianos também podem ser
lisos, encaracolados ou ondulados e, em geral,
são os que menos precisam de cuidados específi-
cos. Uma das maiores preocupações neste grupo
étnico é a ação da radiação ultravioleta (UV). Sabi-
damente a eumelanina é mais eficaz na proteção
UV quando comparada a feomelanina e indivíduos
caucasianos tendem a apresentar menores níveis
de eumelanina nos fios. Um exemplo são os rui-
vos que podem atingir mais de 50% de pigmenta-
ção por feomelanina. Portanto é de fundamental
importância que esses indivíduos se protejam do
dano solar.
Alguns estudos já demonstram que o desequi-
líbrio entre a agressão externa mediada por radi-
FACE A FACE
cais livres pela luz UV e a redução dos mecanis-
mos fisiológicos de combate a essas moléculas
resultam em perda funcional do folículo piloso que
leva aos cabelos brancos e à queda. A utilização
de produtos com proteção solar nos cabelos pode
ser benéfica neste processo e deve ser encoraja-
da, sobretudo em indivíduos de pele mais clara.
Outra queixa frequente neste grupo étnico é o
excesso de oleosidade ou mesmo a descamação
no couro cabeludo que, juntos, podem significar
dermatite seborréica. Para controlar esta condi-
ção dispomos de xampus específicos que conte-
nham ingredientes como cetoconazol ou ciclopi-
roxalamina capazes de eliminar fungos comensais
envolvidos na fisiopatologia desta doença. Reco-
menda-se ainda que os cabelos sejam lavados
diariamente sempre evitando água quente e oclu-
são do couro cabeludo como uso de chapéus e
bonés. Em conjunto essas medidas controlam de
maneira satisfatória o excesso de oleosidade e a
dermatite seborréica.
SBD.ORG.BR
O CABELO CAUCASIANO
Revista Sensatez | 17
Cabelos longos, curtos, lisos, cacheados, escuros, claros, misturados. Cuidar dos cabelos é cuidar da própria autoestima e
identidade. De cada grupo étnico e suas respectivas características ou respectivos problemas podemos aprender grandes
lições de como cuidar dos nossos cabelos. Vale lembrar que a vitalidade dos fios também está associada a hábitos de vida
saudáveis. Uma alimentação equilibrada, rica em vitaminas e minerais, prática de exercícios físicos e abandono de vícios como
tabagismo e álcool conferem também aos cabelos vigor e saúde.
CUIDADOS GERAIS Dra. Denise Steiner e Dr.Thiago Vinicius R. Cunha
Dermatologista pela SBD e Especializando em Dermatologia, respectivamente.
18 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 19
IMAGENSTHINKSTOCK
SBD.ORG.BRINTERFACE
pele é o maior órgão do
nosso corpo e desempe-
nha inúmeras funções vitais
e complexas e é sede de várias
manifestações emocionais e fi-
siológicas que acompanham o
homem desde sua origem mais
primitiva. A importância das fun-
ções táteis da pele vem desde o
berço e surgiu com os mamífe-
ros. As fêmeas costumam lam-
ber os filhotes recém-nascidos.
O comportamento de lamber
o filhote, mais do que simples-
mente limpá-lo, promoveria a
ativação de seus sistemas de
manutenção, em especial dos
mecanismos circulatório, respi-
ratório e excretório, estimulan-
do- os a funcionar adequada-
mente logo após o parto.
Os bebês humanos são de-
pendentes de extensos cui-
dados parentais, pois vêm ao
ENSAIO
SOBRE
Por Renato da Silva Queiroz
A PELE
A
mundo em condição de ima-
turidade comportamental, fi-
siológica e bioquímica, e se
beneficiam profundamente das
estimulações cutâneas sofridas
no decorrer do trabalho de par-
to. Estudos demonstram que o
ser humano pode sobreviver a
privações sensoriais extremas
de outra natureza, como a vi-
sual e a sonora, desde que seja
mantida a experiência sensorial
da pele. Por isso, os bebês pri-
vados de contatos com a mãe,
ou que não foram carinhosa-
mente tocados ou acariciados,
costumam enfrentar entraves fí-
sicos e emocionais nas fases de
desenvolvimento subsequen-
tes.
Se as carícias e estimulações
cutâneas são essenciais ao
bebê, também não se mostram
menos significativas na idade
Peles macias, suaves, fir-
mes e sedosas, acompanha-
das de cabelos lustrosos, são
atestados visuais de juventude
e boa saúde. Inversamente, a
presença de acne, rugas, sar-
das, manchas, verrugas e ou-
tras imperfeições compromete
a beleza do rosto, do mesmo
modo que estrias, flacidez, ce-
lulite e varizes enfeiam o restan-
te do corpo. São numerosos os
procedimentos adotados pelas
mulheres mais maduras e ido-
sas para imitar a pele fresca e
luminosa da juventude. No an-
tigo Egito, elas se banhavam
em uma mistura de água e car-
bonato de cal, esfregavam os
pés com pedra-pomes e, após
o banho, untavam-se de óleos
vegetais perfumados com ervas
aromáticas.
Na atualidade, recorrem a
variados procedimentos, como
limpeza de pele, cirurgia plásti-
ca, peeling, aplicação de toxina
botulínica e laser, e fazem uso
de uma miríade de produtos
cosméticos, com vistas na me-
lhoria estética e no rejuvenesci-
mento cutâneo.
Essas alterações, sujeitas a
grande variabilidade porque se
processam no âmbito de gru-
pos sociais específicos, cada
qual com sua cultura, marcam
e reafirmam status, identidades
nacionais, etárias, religiosas,
ocupacionais, de classe, de gê-
nero etc. Usualmente, as modi-
ficações introduzidas no corpo
se conformam aos ideais esté-
ticos de cada sociedade e de
seus diferentes subgrupos.
APENAS OS
SERES HUMANOS
MODIFICAM
VOLUNTARIAMENTE
O PRÓPRIO CORPO
S
adulta, particularmente nas inte-
rações amorosas. Em nenhuma
outra relação a pele é tão pro-
funda e extensamente envolvida
como na relação sexual.
O rubor é um ponto interes-
sante sobre o comportamento
humano. Charles Darwin definiu
o rubor, como “a mais humana
e peculiar das expressões”.
O corpo é um artefato da
cultura, apropriado, modelado
e modificado por ela desde o
nascimento, sendo assim sub-
metido a um processo de hu-
manização perene. Apenas os
seres humanos modificam vo-
luntariamente o próprio corpo,
ornamentando-o e introduzin-
do nele alterações temporárias
ou definitivas como extração de
dentes, piercings, depilações e
pinturas corporais.
Essas alterações, sujeitas a
grande variabilidade porque se
processam no âmbito de gru-
pos sociais específicos, cada
qual com sua cultura, marcam
e reafirmam status, identidades
nacionais, etárias, religiosas,
ocupacionais, de classe, de gê-
nero etc. Usualmente, as modi-
ficações introduzidas no corpo
se conformam aos ideais esté-
ticos de cada sociedade e de
seus diferentes subgrupos.
Renato da Silva Queiroz
Antropólogo e Professor
revistasensatez@sbd.org.br
20 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 21
MIMETISMOS
Por Severino Gomes
SBD.ORG.BR
O humorista Chico Anysio encarnava-se num dos
seus personagens para se tornar um velho profeta.
Rosto fixo num ponto distante, quando não no mais
íntimo do interlocutor. Serenidade e ironia. Voz grave
e barba de contemplador. Sintetizava as lições em
pesadas e penetrantes frases. Todos os que o ou-
viam, ficavam extasiados, suspensos no ar.
Ele concluía sempre dizendo: “Podem ficar à
vontade!”
Um dia, chegou a ele um grupo de eruditos pes-
quisadores, diplomados estudiosos do homem. Le-
vantaram questões referentes aos preconceitos vol-
tados para a coloração da pele. Ele fixou bem cada
um, buscou no horizonte e, de súbito, quis saber
deles: “O que vocês sabem sobre a cor da pele de
Deus?” Veio o silêncio. Vieram dúvidas e inquieta-
ções. Veio o bordão, mas ninguém ficou à vontade.
A pele do homem devia ser o que já nasceu sen-
do: a carteira de identidade; a sala de estar; o jardim
ou a vitrine da alma. A pele traz a cor da camisa do
usuário torcedor na estrada da vida!
Nós, brasileiros, encarnamos com os amarelos,
com brancos europeus; encarnamos com os ne-
gros. Mas nunca aceitamos torcer pelo time deles,
sobretudo destes últimos. Nos aproximamos des-
confiados: e esse negão, aí?...
Nossa cultura assimilou bem o preto como depri-
mente. Inferior. Símbolo de luto. Não vimos, nossa
formação escravista impediu de ver nas pessoas de
cor preta um símbolo de luta!
Inventamos mil piadas. Negro quando não isso,
faz aquilo... e ao se chegar a este estágio, a coisa
está preta. Ops! Por que não estaria cinza, marrom,
verde?...
Nosso imaginário caracterizou e pintou de preto
coisas de que não gostamos. O diabo nem é tão feio
como pintam e é preto. Peça ao doutor, ao senso co-
mum, ao operário, ao Presidente... todos pintarão o
diabo de preto. Até o presidente operário! Foi isto o
que nos ensinou o branco!
Hoje, até pode ser que digam que preto correndo
é artilheiro ou coisa que o valha. Há poucas décadas,
branco correndo era campeão! E preto?... Veja, você
facilmente achou a rima!
O preconceito é terrível. Jamais chegará a ser ci-
ência. É certeza incerta. Não vale nem como hipótese
de trabalho. Fazer o quê?
Há casos em que é um soco no queixo, uma cama
de gato. Todo preconceito devia ser pênalty. A propó-
sito, nos tempos de Pelé, dizia o palmeirense exalta-
do: “não tenho preconceito, mas um nego daquele
fazer mil gols!?” Aliás, pele e Pelé são realidades inter-
dependentes, elos que se entrelaçam. A pele de Pelé
faz Pelé ser o que é!
Alguém quer distinguir um negro? Basta tão so-
mente dizer que “ele tem alma branca!”
No Brasil do faz de conta, outro dia criaram uma
lei, um tanto preconceituosa, que proibiu bulir com
negro... Parece que ela não pegou, mas consegue
acirrar a luta entre pretos e brancos... Será virtude, ou
farsa, virar camaleão?
Só a lei do amor supera a visão míope das coisas.
O poeta Jorge de Lima disse que “trazia no seu san-
gue o pigmento das raças mais distantes”.
Jorge construiu “o poema do Cristão” onde des-
cobriu que “sou velhíssimo e apenas nasci ontem”.
Precisamos saber da cor da pele de Deus e, então,
como queria o profeta, podemos ficar à vontade!!! S
INTERFACE
Severino Gomes
Escritor , Filósofo e Professor
revistasensatez@sbd.org.br
Brasil é hoje proclamado
o País da diversidade ét-
nica. Tal diversidade foi
construída historicamente, aos
poucos, desde o descobrimen-
to até os dias atuais. De início, o
indígena – habitante original do
território –, com sua pele ama-
relada, depois, nos inícios do
século XVI chega da península
Ibérica o colono branco portu-
guês. Em seguida, vêm os pre-
tos vindos de várias partes da
África , aprisionados pelo siste-
ma escravocrata, que foi elimi-
nado somente no final do século
XIX. Esse desenho de cores (in-
dígenas, brancos e negros) ape-
nas é desmanchado em 1908,
tima na escala do IBGE, desliza
do critério de cor – que é funda-
mentalmente biológico- racial,
para o plano étnico-cultural.
Essa quebra de princípio clas-
sificatório em termos de cor
de pele explica- se tanto pelo
grande número e ampla diver-
sidade dos grupos indígenas
ainda existentes no país como
pela dificuldade em nominar as
cores ou a cor desse Bra-
sil tão presente na história
e tão ausente do cotidiano
de certas
áreas do país.
Na região amazônica,
a percentagem dá vanta-
gem à categoria indígena,
com pequenas manchas
de negros e mestiços pro-
venientes do Nordeste.
Essas manchas podem
ser detectadas também
no Sudeste e em parte do
Brasil central. Em síntese,
a distribuição dessa diver-
sificada população pelo territó-
rio brasileiro é absolutamente ir-
regular e heterogênea, dando a
impressão (falsa) de que ela foi
feita aleatoriamente.
Na verdade, há um padrão
na distribuição espacial dessa
pluralidade. É um padrão de
caráter socioeconômico, ape-
nas indiretamente ligado às ca-
racterísticas biológicas desses
diferentes segmentos popula-
cionais. Esse padrão foi cons-
truído historicamente a partir
dos ciclos pelos quais passou
a economia brasileira: o ciclo
da cana-de-açúcar, o da mi-
neração e o da grande lavou-
ra (café). Somando-se a esses
três macrociclos, o País passou
pelo menos por dois outros ci-
clos menos expressivos: o ciclo
do trigo, tendo como cenário a
então província de São Paulo, e
o da borracha, na região ama-
zônica.
Esse painel marcado pela
diversidade de raças, cores e
culturas, visto hoje como na-
tural, já polarizou no passado
o Brasil,definindo um Brasil de
pele branca e um Brasil de pele
negra.
A história do negro no Bra-
sil é marcada pela persistência
e luta desse segmento étnico
para se livrar do estigma asso-
ciado a seu passado de ser es-
cravizado e à cor de sua pele,
a fim de ocupar o lugar que jul-
ga ter direito na estrutura
social brasileira. Essa luta,
com ou sem a cumplicida-
de do branco, passa por
várias fases.
Em síntese, a partir de
1970, o Brasil em branco
e preto é redesenhado no
plano político ideológico
por brasileiros que se au-
todefinem como indivíduos
de pele negra sem nuanças
todos ansiosos por elimi-
nar os entraves reais e os
estigmas simbólicos que
historicamente colocaram
o “homem de cor” num quadro,
desde sempre, de subalternida-
de social. De certa forma, esse
redesenho arranha o perfil de
uma sociedade que se orgulha
de sua diversidade étnica, que
pode ser traduzida como diver-
sidade de cores que tingem as
peles dos brasileiros.
22 | Revista Sensatez
INTERFACE
Por José Baptista Borges Pereira
com a chegada de imigrantes
classificados numa quarta cor:
a amarela. É grande o fluxo imi-
gratório representado, de início,
pelos japoneses, e hoje, a partir
da II Guerra Mundial, pelos chi-
neses e, principalmente, pelos
coreanos.
Essa composição que tinge
o Brasil de quatro cores entra
pelos caminhos dos meios-
-tons, dado o histórico proces-
so de miscigenação entre es-
ses segmentos populacionais.
Atualmente, o censo brasileiro
capta e enquadra esse painel
de cores em cinco categorias:
branco, preto, pardo, amarelo
e indígena. Tais categorias re-
têm apenas a cor da pele pre-
dominante de indivíduos para
colocá-los em grupos “étnico-
-raciais” específicos, ignorando
a eventual diversidade que cada
um desses grupos contém. A
categoria pardo é um rótulo que
serve para englobar as cores
misturadas pelo processo de
mestiçagem. Nessa categoria
estão englobados os mulatos
de vários tons, resultantes da
miscigenação entre os brancos
e pretos; o mameluco, produto
do cruzamento entre brancos e
índios; o cafuzo, da união ge-
nética entre brancos, negros e
índios.
Já a categoria indígena, a úl-
ESSA COMPOSIÇÃO QUE TINGE
O BRASIL DE QUATRO CORES
ENTRA PELOS CAMINHOS
DOS MEIOS-TONS, DADO O
HISTÓRICO PROCESSO DE
MISCIGENAÇÃO ENTRE ESSES
SEGMENTOS POPULACIONAIS.
”
AS CORES
DO BRASIL
Indígena: Habitante original
do território brasileiro.
Chega da Penínsola Ibérica o
colono branco português
Aprisionados pelo sistema
escravocrata, chegam os negros
vindos da África.
Brasil recebe ondas migratórias
de Italianos.
A raça amarela representada pelos
orientais completa a miscigenação
brasileira.
A diversidade de cores tingem
as peles dos brasileiros.
Revista Sensatez | 23
XV XVI XVI XIX XX XXI
SÉCULO SÉCULO SÉCULO SÉCULO SÉCULO SÉCULO
O
José Baptista Borges Pereira
Antropólogo e Escritor
revistasensatez@sbd.org.br
S
GEORGIOSKOLLIDAS/SHUTTERSTOCK.COM
SBD.ORG.BR
24 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 25
SBD.ORG.BR
SHUTTERSTOCK
Os nossos corpos têm cor?
Se os corpos têm cor, o que
significam as cores do corpo?
Que relação há entre o corpo
e a cor ou entre a biologia e a
alma para a maioria dos brasi-
leiros? No contexto histórico, o
corpo representa lugar de ambi-
guidade e transformação.
Na África do Sul os cor-
pos negros, brancos e mesti-
ços foram dispostos em uma
hierarquia na qual os últimos
eram os mais poluidores,
destituídos de poder e
perigosos para a
Por Yvonne Maggie
nas, olhos, boca e coração,
sexo e o que mais houver de
universal, há espaço para a
construção de inúmeros signifi-
cados.
O exemplo da África do Sul
em comparação com o do Bra-
sil é interessante porque apon-
ta para o limitado, porém vasto
universo de sistemas classifica-
tórios que nos leva a vidas tam-
bém muito diversas.
Na África do Sul, mesmo
com o fim das leis raciais, mes-
mo com o fim do regime do
Apartheid, os casamentos mis-
tos são ainda raros e cheios de
impedimentos morais. Na África
do Sul pós-Apartheid, a mudan-
ça se deu no sentido de produzir
uma migração de todos os não
brancos para o grupo dos ne-
gros, e com vantagens devido
às ações afirmativas. As velhas
diferenças parecem ter ido pa-
rar debaixo do tapete. No Bra-
sil, ao contrário, os corpos se
tornam mais mestiços como
mostram as estatísticas.
Os corpos escultu-
rais das jovens e lindas mu-
lheres como Taís Araújo e
Izabel Filardis revelam que o
corpo é capital nesse nos-
so universo de brasileiros
de todas as cores
que prefere a
mistura,
ao que separa e se opõe.
Apesar disso, querem cons-
truir aqui um país de leis raciais
em nome de um princípio de
realidade, a realidade das desi-
gualdades, do preconceito e da
preterição. O chamado Estatuto
da Igualdade Racial, aprovado
por um acordo de lideranças na
Câmara e no Senado, e sancio-
nado pelo presidente Lula em
2010 obrigará o Estado a levar
em conta a “raça”, agora cha-
mada de “etnia”, dos indivíduos
nas políticas públicas, na edu-
cação, na saúde, no emprego
e nas empresas. Pela lógica, to-
dos os cidadãos terão de se de-
finir pela cor da sua pele e não
pelo seu caráter, diferentemente
do sonho do Prêmio Nobel da
Paz, Martin Luther King .
No entanto, esses que
pregam o fim do
nosso mito de
A COR DO CORPO
INTERFACE
origem em favor de uma socie-
dade “racializada” não podem
negar o universo dos desejos
dos brasileiros no qual tem pre-
valecido a regra que possibilitou
a produção de corpos versáteis,
misturados, ambíguos. A sim-
ples existência do crescimento
do número dos autodeclarados
pardos, misturados, pode ser a
prova viva de que o desejo pelo
diferente racialmente, embora
socialmente (in) desejável, não
foi reprimido por meio de leis e o
fruto dessa união não foi conde-
nado. É esse corpo produzido
por desejos reprimidos embora
não cerceados por lei que fala
mais do caráter do que da cor
dos brasileiros.
nação. No Brasil, ao contrário,
o desejo, embora reprovável,
não condenou o fruto das uni-
ões policromáticas que acabou
sendo enaltecido. Não só aqui
no Brasil nunca houve lei proi-
bindo casamentos mistos ou
relações afetivas e sexuais entre
corpos de cores ou “raças” dis-
tintas, como se elegeu o fruto
dessa união como a vitória dos
princípios universais, aqueles
da Revolução Francesa que di-
zem que todos os homens são
iguais. Os filhos dessas uniões
eram também geralmente reco-
nhecidos legalmente.
Falar de corpos e cores e
de seu significado é acreditar
que as cores são ou carregam
significados e assim como
a “raça” não são catego-
rias com um único sentido.
Há significados distintos
mesmo sendo as cores
limitadas pelo espectro e
pela emissão de mais ou
menos luz, e os corpos
também constrangi-
dos pela biologia,
com braços,
p e r -
Yvonne Maggie
Escritora e Antropóloga
*Publicado no livro Corpo,
envelhecimento e felicidade, organizado
por Mirian Goldenberg, Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2011
S
26 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 27
SBD.ORG.BR
Destacamos que, ainda assim, é notório
que após mais de três séculos de colonização
portuguesa, a cultura brasileira é fortemente in-
fluenciada pela raiz lusitana. No entanto, essa
complexidade do povo brasileiro também foi his-
toricamente marcada por conflitos e desigualda-
des que ainda não foram superadas. Na atuali-
dade, o nosso universo conceitual é dominado
por palavras que ocupam posição de destaque
na mídia, nas rodas de conversa, nos meios aca-
SHUTTERSTOCK
INTERFACE
Prof. Flávio Romero Guimarães dêmicos e até nos marcos legais das diversas
Políticas Públicas Sociais. Palavras como diver-
sidade, inclusão e multiculturalismo estão na or-
dem do dia. Portanto, atualmente, o nosso maior
desafio é conviver com essa diversidade alicer-
çada no respeito, na tolerância e na igualdade
de oportunidades. Historicamente, temos uma
dívida social com grupos étnicos importantes na
formação da nossa matriz identitária, a exemplo
dos negros e índios.
A escola não é uma célula isolada da tessitura
social. Na escola, os conflitos e desigualdades
do mundo externo muitas vezes são potencializa-
dos. O ambiente escolar é uma “caixa de resso-
nância” da realidade social externa. Os múltiplos
atores da realidade do chão da escola são os
mesmos que atuam em outros cenários no “pal-
co” da vida. Todos, irremediavelmente, trazem
ao ambiente escolar as suas leituras de mundo e
as suas ideias prévias, fortemente determinadas
pelo contexto sociocultural, econômico e até reli-
gioso em que vivem.
A escola, portanto, tem papel fundamental na
mediação de todas essas diferenças que carac-
terizam a formação do povo brasileiro, que se
fazem presente no cotidiano escolar, como res-
sonância da realidade externa. Aos educadores,
portanto, agrega-se essa missão cidadã de con-
tribuir no seu fazer pedagógico para a superação
das desigualdades, da intolerância, do precon-
ceito e da discriminação. Ao Estado como ga-
rantidor dos Direitos Fundamentais, cabe criar os
instrumentos, inclusive de caráter normativo, que
possam fomentar a ambiência de transformação
da realidade social, ainda marcada pela desigual-
dade, intolerância e preconceito.
Diante dessa realidade, é pertinente
um questionamento: qual o papel da
escola na mediação e enfrentamen-
to desse desa o
povo brasileiro, segundo a antropologia
tradicional, não forma um grupo étnico
único e homogêneo. A formação do nos-
so povo constitui uma história de longa duração
e de múltiplos atores. Mas, se há uma palavra
que pode sintetizar a realidade identitária do povo
brasileiro é diversidade. A diversidade de cores,
fisionomias, costumes e tradições da nossa gen-
te, encontrada em raros lugares do mundo, faz
do Brasil um país admirado.
É, portanto, correto afirmar que o povo bra-
sileiro é composto por diversos grupos étnicos,
formados, principalmente, por descendentes de
povos indígenas, colonos portugueses, escra-
vos vindos da África e de imigrantes europeus.
Neste sentido, os tipos mestiços – crioulos, ca-
boclos, sertanejos, caipiras e sulinos, conforme
classificação do etnólogo Darcy Ribeiro (O Povo
Brasileiro, 1996), constitui o caldeamento único
e o cerne melhor de nosso povo. Devido a esta
mestiçagem, os brasileiros possuem uma rique-
za de diversidade cultural que deixam marcas
profundas na música, na culinária, no folclore,
nas festas populares e até na religiosidade. Esse
mosaico cultural de múltiplas vertentes faz do
povo brasileiro ímpar, único e admirável.
A realidade desse caldeamento de etnias,
bem como o realce da mestiçagem como carac-
terística fundamental da formação identitária da
nossa gente tem sido cada vez mais marcante.
0,2% 1% 8% 43% 48%
817 mil
Indígenas
2,1 milhões
Amarelos
14,5 milhões
Negros
82,2 milhões
Pardos Brancos
91 milhões
Fonte: Censo Nacional de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Brasil de Múltiplas Etnias
Pela primeira vez, o
número de brancos
não ultrapassou
50% da população e
este percentual vem
caindo nas últimas
décadas.
Essa tendência
de queda no
percentual de
brancos no Brasil,
se deve à
revalorização da
identidade histórica
de grupos
étnico-raciais
historicamente
discriminados.
O CALDEAMENTO
DAS MÚLTIPLAS ETNIAS
O
28 | Revista Sensatez
INTERFACE
Neste sentido, importante avanço foi
a implantação da Lei nº 10.639/2003,
alterada posteriormente pela Lei nº
11.645/2008, que determina a obri-
gatoriedade da inclusão do estudo de
História e Cultura Afro-Brasileira e Indí-
gena nos currículos oficiais das Redes
de Ensino. Esta Lei se assenta no marco
do Estado Democrático de Direito, nota-
damente nos princípios da diversidade
e do pluralismo cultural, como pressu-
postos do reconhecimento e respeito à
dignidade humana e à sua identidade
cultural, assim como da igualdade de
valorização das múltiplas culturas que
compõem a formação social brasileira,
contribuindo dessa forma, com a supe-
ração da desigualdade, do preconceito
e da discriminação, promovendo o ho-
mem e a vida.
Da escola, a sociedade espera mu-
danças desejáveis à formação de uma
sociedade justa e igualitária devendo ter,
segundo Paulo Freire, “Compromisso
com o destino do país. Compromisso
com seu povo. Com o homem concre-
to. Compromisso com o ser mais des-
te homem”. Portanto, que a construção
dessa bela nação, justa e igualitária, seja
a nossa missão comum. Seja o nosso
sonho novo, cotidianamente acalentado.
A nossa nova utopia, a ser buscada por
toda a vida.
Prof. Flávio Romero Guimarães
Professor Universitário
prof.flavioromero@terra.com.br
S
30 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 31
PERFIL SBD.ORG.BR
Por Ribamildo Bezerra e Júlia Costa
e afirmarmos que Isabel Fillardis é uma mulher de vinculação étnica, não estaríamos
cometendo nenhum equívoco. Derivado do termo grego ethnos, etnia quer dizer povo,
no sentido de “estrangeiro”, onde na época referia-se a povos não-gregos.
Neste contexto, Isabel pode ser considerada uma estrangeira, por romper impor-
tantes fronteiras do mundo do entretenimento. Enquanto a mídia se sustenta pela força
de um glamour, Isabel se mostra de carne e osso, socialmente engajada, envolvida em
sonhos e ideologia que a fazem uma mulher surpreendentemente mais bela.
Sua luta simboliza a de todas as mulheres que, além de assumirem os papéis
básicos da vida – mãe, esposa, filha, profissional etc –, ainda conseguem tempo e
disposição para ir além, como se dedicar a projetos sociais e ambientais. Isabel está à
frente de uma das maiores organizações de coleta seletiva de lixo do Brasil, a Doe Seu
Lixo. Foi através desta organização, inclusive, que Isabel coordenou com exclusividade
a coleta seletiva de todo o Rio+20.
A cultura e o exercício da sensibilidade da alma, foi aos 17 anos, quando Isabel
abraçou o primeiro papel como atriz na televisão. E de lá para cá, vários papéis se
sucederam na sua vida artística. Atualmente, está com projetos para o teatro, como
atriz e diretora. E não deixa de lado seus projetos com cinema. No dia em que esta
entrevista foi realizada ela estava a caminho do Festival de Cinema do Ceará.
A mãe de Analuz e Jamal Anuar conta um pouco mais sobre seus projetos, realiza-
dos e sonhados, de cunho artístico e social, na entrevista exclusiva que deu à revista
Sensatez.
AS RAÍZES
DE UMA
MULHER
DE RAÇA
FOTO: IGOR RODRIGUEZ
S
32 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 33
A Sociedade Brasileira de Dermatologia nesse ano
que completa seu centenário desenvolveu um projeto
intitulado “Laços de família: etnias do Brasil”, com o
propósito de valorizar a mistura de raças e os dife-
rentes tipos de pele do brasileiro. Você conhece seus
antepassados? Qual é a origem de sua família? Há
muita mistura?
Do que eu conheço, sei que tenho descendentes de
índios, pela minha família materna do Espírito Santo e da
minha família paterna, baianos, negros baianos e italia-
nos. Meu bisavô era italiano, inclusive. É muito esclarece-
dora essa mistura, não só minha, como de tantos outros
brasileiros. Saber que ela existe pode mudar a mentalida-
de das pessoas quanto ao preconceito.
Mesmo num país tão antigo e miscigenado quanto o
nosso, ainda temos problemas com as diferenças, se-
jam elas em relação ao sexo, à cor, à origem... Quais
valores você considera importante passar para os
seus filhos, para que eles possam viver num mundo
mais justo?
Primeiro, acredito que é importante eles entenderem a
origem deles, tanto miscigenada, quanto social. Entender
que tudo o que a gente constrói é com muito esforço,
muito trabalho e que isso vale a pena. Porque a facilidade
de conseguir as coisas não é legal. Ela pode acabar inter-
ferindo na índole, no caráter e estragando a pessoa.
Eu sou da religião Espírita por influência da minha
família e os valores humanos foram norteando minha
vida, em questões de fazer o bem, fazer caridade, saber
dividir, distribuir. Aprendi muito com minha família, mas
muito também com minha ancestralidade. Quero que
meus filhos saibam de onde eles vieram. Como vieram.
Minha avó, por exemplo, era baiana. Nasceu em Cacho-
eira, uma cidade mística. Os navios negreiros chegaram
lá, ancoraram lá. Eu quero que eles saibam disso tudo.
Você tem dois filhos, a Analuz e o Jamal Anuar. O que
mudou na sua percepção de convivência ao saber
que o seu segundo filho, Jamal, era portador da Sín-
drome de West? Como cada um deles mudou a sua
vida?
Meus filhos me amadureceram muito. Me fizeram
mulher de fato. Porque você educar, gerar uma criança,
um ser, é algo inexplicável. Você acaba
vivendo não só por você, mas por eles.
Quando a a gente é jovem, é um pou-
co egoísta porque só pensa na gente.
Quando você casa, monta família e
é mãe, tudo muda: o olhar da vida,
o foco, o objetivo... Você faz planos
para você e para eles. Ainda que eles
tenham as suas escolhas, você prepa-
ra um alicerce. Tudo isso me mudou
muito e fez com que eu ficasse uma
pessoa ainda mais ponderante, gene-
rosa. Principalmente depois da chega-
da do Jamal. Foi mais profundo ainda,
da questão da essência do ser huma-
no, de enxergar as pessoas como são,
entendê-las com seus defeitos e suas
virtudes.
Quais foram suas intenções em criar
os projetos sociais A Força do Bem
e Doe seu Lixo?
Quando resolvemos criar a Força do
Bem o Jamal tinha dois anos e estava
entrando numa fase boa, depois do
diagnóstico da Síndrome de West. As
crianças com essa síndrome têm muita
crise convulsiva e ele, após os dois
anos, parou de ter. Foram diversas
conquistas motoras e cognitivas. A
Força do Bem foi criada, então, para
dividir essas experiência e informa-
ções que adquirimos com outros pais
e mães que tinham filhos especiais.
Nós os direcionamos para hospitais,
para que consigam atendimento e
agimos no direcionamento das famílias.
Quanto ao Instituto Doe seu Lixo, o
que me motivou foi minha filha. Quan-
do ela nasceu, li uma matéria sobre
todos os problemas que o mundo
estava enfrentando por conta da po-
luição e outras ações inconsequentes
dos homens. Eu tive esse despertar,
então, quando fui mãe. Falei com meu
marido que devíamos fazer alguma coi-
SBD.ORG.BRPERFIL
DIVULGAÇÃO
34 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 35
SBD.ORG.BR
”
Eu, digo por mim,
não gostaria de
ser colocada por
cota, mas pela
minha capacidade.
PERFIL
sa, que aquilo prejudicaria nossos filhos, por exemplo,
e tantas outras pessoas. Meu marido, começou a
me ajudar com essa ideia, estudando como o lixo
poderia gerar renda. Começamos a entender o que é
reciclagem, coleta seletiva... Aí estudamos uma forma
de criar o projeto e envolver empresas e pessoas da
sociedade. Buscamos moradores de rua para colocar
neste projeto, com o intuito de mudar as duas realida-
des, social e ambiental.
Através desse projeto conseguimos multiplicar
nossa tecnologia no país todo e criar um projeto
diferenciado. Veio, então, o Rio+20. Fomos convo-
cados pouco a pouco para fazer a coleta seletiva de
alguns polos. De repente, nos vimos fazendo a coleta
de todos os polos. O presidente da PNUMA, principal
autoridade global em meio ambiente, nos fez uma
visita e ficou encantado. Disse que tudo o que ele
prega, tudo o que ele fala dentro do que é economia
verde é o que fazemos. Ficamos orgulhosos de poder
estar fazendo algo assim, de estar no momento certo,
fazendo a coisa certa.
Há alguns anos você apoiou a iniciativa da promo-
tora Deborah Kelly sobre o projeto de cotas para
negros na São Paulo Fashion Week. Como você
vê projetos como este e o de cotas para negros
em universidades?
Existem dois olhares diferentes. O primeiro, eu
diria que é o seguinte: o negro vem sendo marginali-
zado desde a época da escravidão e acabou que ele
ficou à margem da sociedade e isso atinge a grande
maioria pobre. Com isso, ele tem dificuldade de ter
um ensino de excelência para que possa exercer uma
faculdade. O ensino fundamental dele não foi de base
e por isso não passou. A questão das cotas ajuda no
ensino e no mercado de trabalho porque o empresá-
rio acha que o negro não tem capacidade de gestão
e acaba não contratando um negro por causa disso.
Ainda que ele seja melhor.
E tem o outro olhar, de que, por exemplo, existem
os negros que são capazes e que não querem passar
por causa da cota, mas porque ele teve a oportunida-
de – ou buscou a oportunidade – de estudar e sabe
fazer. Ele não quer ser convocado por causa da cota.
Eu acho que esses olhares se chocam até hoje.
Eu, digo por mim, não gostaria de ser colocada por
cota, mas pela minha capacidade. Me daria mais
orgulho, mais felicidade de saber que eu fui por minha
capacidade, nao porque sou negra. Mas eu entendo
que para que algumas coisas aconteçam, a cota teria
um papel benéfico, por isso sou a favor.
Já perdeu ou ganhou oportunidade
por ser negra?
Isso acontece bastante. Na época
que eu era modelo, quando não era
eu a escolhida, era outra negra, pois
sempre tinha que ter UM negro e UMA
negra. Depois isso mudou, mas aí eu já
era atriz. Aí eu entrava no papel negro
da história. E era um problema porque
se fosse novela de época e não fosse
no contexto da escravidão, o negro
não era representado na história. Se a
novela era contemporânea, tinha que
dar sorte do autor ou diretor querer
trabalhar com você pelo seu talento.
Eu diria que sou uma pessoa de sorte,
pois apareci no momento certo. Me
destaquei no primeiro papel que fiz,
que foi a Ritinha, de Renascer. Era um
papel carismático, que me projetou no
Brasil todo.
FOTO:IGORRODRIGUEZ
36 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 37
SBD.ORG.BR
Se tomarmos a definição de preconceito,
como uma ideia concebida sem prévio conhe-
cimento, na sua opinião, poderíamos dizer  que
o preconceito sobre raças e culturas no Brasil
ainda é vigente? E qual seria a raiz do mesmo,
desconhecimento ou má fé na disseminação
de ideias sobre diferenças?
É bem por aí. É pura falta de conhecimento. É
preciso parar para estudar, para conhecer nossa
história, entender quem são de verdade os negros
que vieram para o Brasil ...
Ninguém conta de fato como a história acon-
teceu; que os negros eram príncipes, que tinham
famílias, terras na África, que foram arrancados
de lá. Só se conta que os negros foram trazidos,
mas e antes? De onde eles vieram? É uma história
muito cruel e ela sendo contada modificaria toda a
auto-estima do negro brasileiro.
Você é mãe, esposa, sempre se dedicou a pro-
jetos sociais e trabalha desde os 11 anos. Qual
é seu segredo para lidar com tudo? E o que faz
para manter-se bela?
Eu tive uma boa educação. A minha família à
minha volta foi fundamental para eu ter estrutu-
ra de suportar a distância. Hoje, eu conto com
pessoas que trabalham comigo, uma cozinheira,
uma arrumadeira, duas babás. Minha mãe e meu
pai e meu marido me ajudam muito. Isso me deixa
segura para tocar minha carreira e meus projetos
sociais. Minha família toda exerce função nos dois
projetos. Isso faz com que consigamos ir adiante.
Sobre continuar bela, é preciso muito esforço.
Tenho que encontrar tempo para ir ao pilates, ir
à minha orto-dentista – tenho bruxismo quando
estou muito tensa. Até durmo com aparelho por
causa do bruxismo. Estou sempre na dermatolo-
gista, com consulta semanal.
Ano que vem você completa 40 anos. Quais
projetos pessoais e profissionais estão em an-
damento e quais você ainda pretende realizar?
Nossa! Ano que vem faço 40 anos? Ainda não
pensei sobre isso. Hoje estou com alguns projetos
para o teatro, como atriz e como produtora. Estou
fazendo parceria com a Sarau Agência
para remontar o Pererê, do Ziraldo. Eu par-
ticipei em 2003 como atriz e agora quero
remontar como produtora. Estou lendo
alguns textos para teatro, musicais e co-
média. Quero muito fazer algo voltado para
comédia. Estou a espera da Cor Púrpura,
um espetáculo da Broadway, que deve
chegar aqui no próximo semestre. Hoje
estou indo para o Festival de Cinema do
Ceará. Quero muito voltar a fazer cinema
também. E quanto à TV, estou a espera de
um convite para novela.
No âmbito sócio-ambiental, em no-
vembro deste ano teremos um evento
chamado Rio Eco Moda. É um projeto que
faremos em novembro, dentro do instituto
Doe seu Lixo, onde teremos uma mesa
redonda para colocar moda e sustentabi-
lidade dentro do mesmo patamar. Vamos
ter desfile, mostra de produtos feitos com
reciclagem. A ideia é fazer com que esta
questão vire moda e se torne ferramenta
de divulgação de informação.
Quais sãos os próximos desafios sociais
da Isabel Fillardis?
O Rio Eco Moda é um deles. Penso na
possibilidade de virar empresária e criar
algo neste sentido. Ainda nao sei dizer o
que especificamente, porque estamos na
fase de pesquisas. Mas acredito que acon-
teça algo neste sentido. Estou também
vivendo o desafio como produtora cultural
e espero que venham muitos outros!
Depois do Rio+20 acredito que eu vão
ter outras responsabilidades. Na última
semana, por exemplo, participei de um
projeto do Ministério do Meio Ambiente
com a presidente Dilma e a ministra, que
fizeram uma conferência sobre sustenta-
bilidade. Quem sabe não sai algo dessa
proximidade com o Ministério do Meio
Ambiente. É o que a gente sempre quer!
Parcerias produtivas! S
Ribamildo Bezerra e Julia Costa
Jornalistas
revistasensatez@sbd.org.br
DIVULGAÇÃO
36 | Revista Sensatez
PERFIL
38 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 39
SBD.ORG.BREQUILIBRIUM
ivemos numa sociedade que olha o corpo mais no sentido con-
sumista; um corpo que se mostra cada vez mais trabalhado nas
academias, na praia. Mas esse corpo que adoece e que, através
da doença, está falando que alguma coisa não está funcionando bem
em termos gerais, precisa ser ouvido e entendido.
A biodança é um trabalho de grupo que utiliza no primeiro momento,
a palavra e posteriormente a vivência corporal.
Os exercícios passam por várias linhas de vivência: o canal da vitalida-
de, da sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência. Se alguém
sofre de depressão, de desânimo, de falta de objetividade, trabalhamos
com exercícios que falam e estimulam essa vitalidade. Depois, mexemos
com o canal da criatividade. Vivemos um padrão social, uma educação,
que tem o objetivo de dar forma para que as pessoas se enquadrem. E
a criatividade é sufocada demais neste sentido. A pessoa tem vergonha
de mostrar algo diferente. É preciso que ela resgate sua verdadeira for-
ma de ser, de fazer as coisas do seu jeito. Não só no sentido artístico,
mas na vida mesmo. Na linha de vivência que passa pela sexualidade,
trabalhamos o resgate do prazer na nossa vida. Não é só a sexualidade
genital, mas um erotismo da vida como um todo. No canal do afeto, o
objetivo é resgatar a sensibilidade do ser humano para o cuidado consi-
go mesmo, com o outro, com o planeta. O objetivo é recriar este
vínculo afetivo.
Na linha da transcendência, a proposta é entrar na dimensão
divina e repensar o sentido existencial da vida. É preciso redi-
mensionar os sentimentos amorosos e afetivos.
Depois dessas vivências, exploramos a intimidade verbal, que é
quando abrimos este espaço para que as pessoas possam conversar
sobre os momentos vivenciados.
Vivemos numa sociedade que está cada vez mais descuidada com
as coisas. Um exemplo são as inúmeras reportagens sobre como as
cidades estão sujas porque as pessoas jogam o lixo em qualquer lugar.
Isso é reflexo deste descuido, desta doença afetiva. É da mesma forma
que se jogam palavras e o descuido acontece com atitudes grosseiras.
Ao contrário, resgatando o afeto, você consegue começar a mudar isso
para você, começa a se cobrar e cobrar do outro uma nova posição.
Deixar-se tocar é fruto de uma educação. Uma família que tem muita
permissão para o contato tem crianças, naturalmente, mais abertas para
isso. Se dentro da própria família o contato já é uma coisa difícil e restrita,
a criança vai criando essa limitação. Muitas vezes as pessoas chegam
extremamente fechadas e com doenças, como o pânico, por exemplo.
O pânico é o medo de tudo, inclusive do outro. Todo mundo passa a ser
uma ameaça.
As vivências que podem ser construídas são inúmeras. Trabalhamos
o toque, o afeto, a criatividade e o amor...contribuindo dessa forma para
uma vida mais saudável e feliz ! S
SHUTTERSTOCK
Por Maria Dulce Mattoso
V
Maria Dulce Mattoso
Psicóloga e Escritora
revistasensatez@sbd.org.br
TOCADOS PELA
BIODANÇA
40 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 41
SBD.ORG.BR
Por Rossandro Klinjey Irineu Barros
Rossandro Klinjey Irineu Barros
Psicó
revistasensatez@sbd.org.br
THINKSTOCK
EQUILIBRIUM
a busca incessante por novas fontes de
identificação pessoal, o ser humano tem
investido de forma frenética e exagerada
no corpo. São crianças, jovens, adultos e velhos,
numa busca desenfreada para manter-se nos
padrões estéticos alucinantes e destrutivos dos
meios de comunicação.
A sociedade ocidental, com forte influência,
sobretudo do cinema, estabeleceu um padrão
estético nórdico, loiro(a), branco(a), olhos azuis,
como o símbolo máximo de beleza a ser seguida.
Esse modelo encontra seus primeiros referenciais
nas pinturas europeias, nas quais até mesmo um
clássico homem judeu de cabelos negros e pele
morena, é representado por um homem branco e
de cabelos e olhos claros, que é Jesus. E Ele sai
das pinturas e esculturas clássicas para as telas
do cinema sendo apresentando como um euro-
peu, e não como um hebreu do oriente médio.
Esse padrão, reforçado historicamente por
personagens que vão das celebridades do ci-
nema hollywoodiano, passando pela boneca
Barbie, paquitas e suas afins, cria um modelo
etnocêntrico que descaracteriza outros modelos,
gerando nas demais culturas e etnias um desejo
de se aproximar dessa estética europeia, como
vemos no afã de orientais para realizar cirurgia
que visam “ocidentalizar” os olhos, ou a guerra
constante por alisar os cabelos, algo que ficou
cristalizado em mim quando, ao término de uma
sessão de psicoterapia uma paciente comentou:
depois da consulta estou indo para o salão de
beleza “lembrar” aos meus cabelos que eles são
lisos!
A influência do meio na formação do concei-
to de belo sobrepuja, muitas vezes, a percep-
ção pessoal que temos da beleza, posto que ela
se inscreve dentro das referências culturais nas
quais estamos inseridos, sendo, portanto, uma
conquista dentro do grupo social ao qual perten-
cemos. Todavia, é uma busca sem limites e inal-
cançável, uma vez que a perfeição não é factível
e nem sequer é definida pela cultura.
O que vemos na verdade é uma cultura es-
pecífica, a branca-ocidental, eleger seu padrão
como o mais belo e, através dos aparelhos ide-
ológicos de que dispõe, da arte aos meios de
comunicação, ela pretende impor esse modelo
como meta para as demais etnias.
Todavia, num mundo cada vez mais multicul-
tural, esses padrões estão sendo questionados,
de modo que o belo é percebido em todas as
raças. Nas particularidades de cada grupo étni-
co, veem-se as expressões sensíveis e únicas da
beleza que transcende padrões ditatoriais esta-
belecidos.
A contribuição da dermatologia na descons-
trução dessa visão etnocêntrica da beleza é in-
discutível, posto ser o dermatologista um dos
profissionais que mais lida com a angustiosa
busca do belo por pacientes que muitas vezes
desrespeitam os limites do próprio corpo, sem
se darem conta da necessidade de consolidação
dos recursos emocionais que os permita enxer-
gar o belo de forma mais ampla, evitando assim
o aprisionamento aos padrões inalcançáveis.
Nada mais justo de que manter o corpo são,
desde que a mente também esteja sã, mas não é
o que tem acontecido. Para manter esse corpo,
não diria são, mas nos “padrões”, a nossa psi-
que tem pagado um alto preço, quais sejam: que
ninguém consegue ser perfeito, e essa busca
gera uma frustração constante. Há uma distância
entre a busca estética saudável e necessária, o
cuidado equilibrado com o corpo e a busca an-
gustiante de uma perfeição que nos escraviza.
Por Rossandro Klinjey Irineu Barros
A ESTÉTICA DO
REAL E DO MITO
S
N
econômico. Queremos também
que esses talentos escondidos
dentro das comunidades sejam
reconhecidos, descobertos. Pre-
tendemos ser – e já somos, na
verdade -, um catalizador des-
ses microempreendedores com
talentos que ninguém conhece”,
fala Alice, que já busca formas
concretas de expandir seus ne-
gócios pelo Brasil. E é assim que
essa ex-advogada do mundo
corporativo segue a vida: lutando
para que sua ideia de um mundo
melhor se torne realidade e acre-
ditando que com um pouco do
esforço de cada um de nós, sus-
tentabilidade e ação social não
serão somente palavras boni-
tas, mas que simbolizarão nosso
modo natural de viver.
Diz a mitologia que a humanidade viveu um período de obscurantis-
mo e guerras, prevalecendo a maldade e a inveja entre os homens.
Zeus decidiu enviar Astrea, a mais pura de todas as Deusas para
resolver a situação. Astrea impôs justiça e ordem entre os mor-
tais.  Sua época foi conhecida como Idade de Ouro, a idade feliz,
uma época de igualdade e harmonia. A palavra ASTA vem de As-
trea, a Idade Feliz.
42 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 43
NATURALMENTE SBD.ORG.BR
S
Júlia Costa
Jornalista
revistasensatez@sbd.org.br
advogada Alice Freitas é uma
dessas pessoas que não desis-
tem nunca, não importa o tama-
nho do desafio que encontram
pela frente. Aos 23 anos, quan-
do já era graduada em Direiro
pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) e possuía
uma carreira recente, mas con-
solidada, numa multinacional
americana de cosméticos, dei-
xou tudo para trás para realizar
um sonho: descobrir no mundo
formas diferentes de mudar a
vida das pessoas.
A rede ASTA é primeira rede
de venda direta de artesanato
inclusivo no país, com todos os
produtos feitos a mão por pe-
quenos empreendedores. Alice
conseguiu. A geração de renda
ARTE
INCLUSIVA
é única no objetivo de contribuir
para a redução da desigualdade
social brasileira. Além de ofere-
cer oportunidade a mulheres
que estão fora do mercado de
trabalho, capacitando-as para
produzir e comercializar, a rede
ASTA tem foco total na sus-
tentabilidade, pela utilização de
resíduos para a confecção dos
seus produtos.
Atualmente, a rede trabalha
com 50 grupos produtivos, be-
neficiando mais de 700 artesãs.
E a logística de todo o negócio
funciona assim: é feita a seleção
de grupos produtivos formados
por mulheres, moradoras de co-
munidades (90% do estado do
Rio de Janeiro e 10% em outros
Estados); a ASTA oferece trei-
namentos e apoio à criação das
coleções; é realizada a escolha
dos melhores produtos - entre
acessórios, itens de moda e de-
coração -, mais de 80% feitos
a partir do reaproveitamento ou
reciclagem de diferentes mate-
riais; os produtos seguem, en-
tão, para os canais de venda:
catálogo, site (www.asta.org.br)
ou empresas. A venda direta
dos produtos é feita pelas Con-
selheiras, termo usado para de-
signar pessoas que acreditam
no comércio justo e que podem
aconselhar sobre a importância
do consumo consciente.
Desde 2008, a ASTA já to-
taliza R$ 710 mil em renda ge-
rada para os artesãos. A cada
R$10,00 investidos por parcei-
ros na Asta, R$ 2,00 retornam
em renda direta para os grupos
produtivos. A meta é conquis-
tar ainda mais revendedores e
consumidores, atrair parceiros
investidores e replicar a ASTA
para outras cidades do país nos
próximos anos. Com a chega-
da a São Paulo, prevista para
este ano, a Rede quer aumentar
consideravelmente o número de
Conselheiras, incrementar em
30% seu faturamento e incluir
grupos paulistas nos catálogos.
Até 2015, a expectativa é apoiar
85 grupos, beneficiando mais de
1500 artesãs.
“Nosso objetivo está se tor-
nando realidade, que é tornar
a marca ASTA numa referência
de produtos com essa histó-
ria de cunho social, ambiental e
A rede ASTA, idealizada e
fundada por Alice Freitas,
transforma grupos
comunitários em negócios
sustentáveis
Por Júlia Costa
A
POR QUE ASTA?
www.asta.org.br
rede_astawww.facebook.com/redeasta
Receita extraída do livro
“Na cozinha com Carolina”,
Ed. Blocker Comercial Ltda.
São Paulo, 2010.
Revista Sensatez | 45
ara os que estão entrando em
contato com este meu lado agora,
saibam que minha paixão por cozi-
nha é antiga. Começou há muitos
anos, ainda pequena, na cidade de Goi-
ânia, quando minha mãe fazia jantares
pros amigos e ficava o dia inteiro às
voltas com os preparativos. Sempre ado-
rei o espaço da cozinha, pra mim o recanto
mais caloroso e vibrante de uma casa.
Minha paixão por essa alquimia che-
gou ao ponto de algumas vezes eu sair
sem destino pra provar qualquer coisa,
voltar pra casa e, por pura pretensão,
tentar reproduzir exatamente o que havia
experimentado apenas com a memória do
paladar. Confesso que poucas vezes acer-
tei, outras errei profundamente, mas na
maioria acabei fazendo a minha própria
interpretação de tudo o que provava.
P
SABOR E ARTE
Por Carolina Ferraz
SBD.ORG.BR
Modo de fazer
Ingredientes
Imagem ilustrativa
3 limões espremidos
3 tomates, picados bem miudinhos
1 cebola grande, picada bem miudinha
½ pimentão vermelho, picado bem miudinho
caldo de frango reservado
azeite de oliva extravirgem, a gosto
sal e pimenta-do-reino, a gosto
Misture todos os ingredientes e sirva
em uma molheira à parte.
NA COZINHA
COM CAROLINA
2 kg de frango (peito, coxas e sobrecoxas)
temperado com sal, alho, pimenta-do-reino e limão
5 xícaras de chá de arroz, lavado e escorrido
3 cebolas médias, cortadas bem miudinhas
2 dentes de alho grandes, espremidos
3 tabletes de caldo de galinha
1 colher de chá de açafrão (cúrcuma), em
pó ou 1 ½ colher dele fresco, ralado fno
1 maço de cheiro-verde, picado
3 tomates maduros, sem pele e cortados miúdos
Pimenta-do-reino branca, moída na hora, a gosto
Sal e pimenta-de-cheiro, a gosto
Óleo
Numa panela de ferro grande, coloque um pouco de óleo e refogue os
pedaços de frango (alguns por vez) até que eles fiquem bem corados.
Coloque água o suficiente para cozinhá-los e ainda sobrar. Reserve o
caldo e os pedaços de frango.
Desosse-os e deixe alguns pedaços inteiros e mais bonitos para
colocar por cima na hora de servir. Na mesma panela, coloque mais um
pouquinho de óleo e refogue a cebola e o alho com 1 pimenta-de-
-cheiro. Depois, refogue o tomate até desmanchar. Em seguida, coloque
o arroz e, quando ele estiver bem refogado, junte o frango, o açafrão, a
pimenta-do-reino, os tabletes de caldo de galinha e a água em que co-
zinhou o frango, porém reservando ainda um pouco para o molho, o
suficiente para cozinhar o arroz, deixando-o bem soltinho. Quando estiver
quase seco, ponha os pedaços de frango que ficaram reservados e, por
cima, bastante cheiro-verde e pimenta-de-cheiro para decorar. Sirva
bem quente, acompanhada do seguinte molho:
GALINHADA
(OU ARROZ COM GALINHA)
Serve 10 pessoas
44 | Revista Sensatez
O mais legal em
cozinhar é que uma
vez dominada aquela
receita, você pode
incrementar e variar
de acordo com seu
gosto. Isso torna as
possibilidades de
combinação infinitas.
Carolina Ferraz
Atriz e Escritora
46 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 47
SABOR E ARTE
heróica saga dos Irmãos Villas Bôas, criadores do Parque Na-
cional do Xingu em 1961, marco na defesa dos direitos dos
povos indígenas, ganha as salas de cinema com o longa Xingu.
Dirigido por Cao Hamburger, o filme vem ressaltar e imprimir a
importância devida da atuação de Orlando, Cláudio e Leonardo
Villas Bôas no estabelecimento da maior reserva indígena em
território brasileiro.
O projeto nasceu de um desejo de Noel Villas Bôas, filho de
Orlando, em ver a aventura dos irmãos contada pelo cinema.
Caracterizando-se como uma verdadeira aula para aqueles que
não compreendem o quanto movimentos como a “Marcha para
o Oeste” ou a construção da rodovia Transamazônica geraram
verdadeiros genocídios responsáveis por afetar tribos indígenas
“Se achamos que nosso objetivo aqui,
na nossa rápida passagem pela terra é acumular riquezas,
então não temos nada a aprender com os índios.
Mas, se acreditamos que o ideal é o equilíbrio do homem
dentro de sua família e dentro de sua comunidade,
então os índios têm lições extraordinárias para nos dar”.
Cláudio Villas Bôas
que há muito eram as reais donas daquelas ter-
ras. O filme traz um ótimo elenco e também uma
direção brilhante de Cao Hamburger.
Na obra são narrados os principais aconteci-
mentos da expedição que
os Irmãos Villas Bôas con-
duziram pelas entranhas do
Brasil, que de início era pra
ser apenas uma aventura e
que culminou na criação do
Parque Nacional do Xingu.
Os irmãos embarcaram na
defesa de um ideal e segui-
ram sertão adentro a par-
tir de 1944, data do início
da Expedição Roncador-
-Xingu. Dois anos depois
fizeram o primeiro contato
direto com uma etnia indí-
gena, a Kapalo. Em 1952,
apresentaram o projeto de
criação do Parque, que só
viria a se concretizar após
nove anos de negociações.
A missão de personifi-
car os irmãos foi entregue a
três grandes atores da pro-
dução brasileira: Felipe Ca-
margo, João Miguel e Caio
Blat. “Escolher o ator certo para cada persona-
gem é 70% do trabalho. Estou satisfeito com o
resultado”, avalia Hamburger.
O filme transpassa emoção e sentimento na
medida certa, sem a busca do clichê e sem in-
cluir lugares comuns. A fotografia, em sépia,
saturada ao contraste, brilhando por causa do
calor, conserva a nostalgia dos anos quarenta.
A narrativa procura o ama-
dorismo proposital, quase
quem em estilo de docu-
mentário, com qualidade,
aludindo ao gênero nove-
lesco por ser épico e clás-
sico. Essa mesma foto-
grafia favorece a benéfica
exposição da etnia indíge-
na. O barro, a madeira e a
cor da pele se fundem em
uma raça única felizmente
bem retratada.
Analisamos, então, a
estrutura antropológica
e antropofágica de um
país, no caso o nosso.
Ao retratar o encontro e
relacionamento de duas
etnias vemos que a lógi-
ca é simples: é inevitável
a influência mútua ao co-
locarmos dois povos dife-
rentes frente a frente. De
um lado, temos os índios,
que sobrevivem do próprio trabalho, da caça,
pesca, com tradições éticas, terapêuticas e reli-
giosas. Do outro, os brancos, que já absorveram
inúmeras transformações e “mutações”. Quando
O PASSADO QUESTIONANDO O PRESENTE
XXINGU
heró
Por Ulisses Praxedes
48 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 49
IMAGENS:SHUTTERSTOCK
SBD.ORG.BRSABOR E ARTE
este encontro se faz presente, os dois perdem e
os dois ganham, dependendo do ponto de vista
extremamente subjetivo, caso questionemos o
que é evolução. São percepções sem o certo e
o errado.
Xingu não é apenas um filme de época que
aborda um episódio do passado, mas também
uma produção que permite ao público traçar lei-
turas com questões do presente. Enquanto es-
pectador, a certa altura do filme, o envolvimento
com a narrativa, ultrapassa a identidade da pe-
lícula quebrando a dicotomização de brancos e
índios.
É possível, por imersão na história, nos identi-
ficarmos sensorialmente, ora como brancos, ora
como índios; uma positiva provocação sobre o
quanto estamos culturalmente amalgamados,
sem definir ao certo onde começa a influência de
uma cultura e onde termina a outra.
Uma saga que também descreve o quanto
ainda é inexplorada a nossa construção cultural
social e política, e o quanto estas múltiplas rela-
ções precisam vir à baila. Uma necessária expe-
dição nessa selva histórica que define a plurali-
dade de raças e que nos leva a diálogos sobre a
identidade multicultural do povo brasileiro. S
Direção: Cao Hamburger
Roteiro: Elena Soarez, Cao
Hamburger e Anna Muylaert.
Elenco: João Miguel, Felipe
Camargo, Caio Blat, Maiarim Kaiabi
(Prepori), Awakari Tumã Kaiabi
(Pionim), Adana Kambeba (Kaiulu)
Tapaié Waurá (Izaquiri), Totomai
Yawalapiti (Guerreiro Kalapalo), Maria
Flor, Augusto Madeira e Fábio Lago.
Fotografia: Adriano Goldman, ABC
Música: Beto Villares
Montagem: Gustavo Giani
Produção: Fernando Meirelles,
Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck.
Produtora: O2 Filmes
Coprodução: Globo Filmes
Distribuição: Downtown Filmes,
Sony Pictures e RioFilme
FICHA TÉCNICA
SAMBA E
FEIJOADA:
PURA MISTURA BRASILEIRA
Por Ribamildo Bezerra
DIVULGAÇÃO-XINGUOFILME.COM.BR
Ulisses Praxedes
Jornalista e Especialista em
Assessoria de Mídia e Comunicação
Pois sem os elementos bá-
sicos da mistura e do tempero
que faz a magia do amálgama
brasileiro, nem a feijoada seria
este prato tão nosso, quanto
samba que estaria fadado a ser
uma dança exótica, onde pes-
soas em coreografias marcadas
dariam umbigadas a cada bati-
da forte do ritmo. Dentro deste
grande caldeirão cultural é pos-
sível afirmar que tanto a feijoada
como o samba são resultados
do encontro de diferentes po-
vos que com suas referências
construíram a nossa miscigena-
50 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 51
SBD.ORG.BRSABOR E ARTE
Uma das revelações do sam-
ba no Brasil, a artista Eloísa Olin-
to, ao cantar a música Feijoada
Completa, de Chico Buarque
de Holanda, em um dos seus
shows, coloca um tempero tão
seu na interpretação, que mais
parece ter sido uma música feita
para ela.
Talvez aí esteja a magia do
samba. Um gênero tão secular
quanto dinâmico, e que soube
fincar raízes nesta pluralidade
étnico-cultural chamada Brasil,
que não há quem o descreva
sem que cometa algum pecado
por omissão, pois ninguém até
hoje se arrisca a definir um gê-
nero musical que soube agregar
manifestações religiosas, per-
formáticas, literárias e gastronô-
micas. “Ninguém canta samba
cartesianamente. Toda musica-
lidade deste gênero dá ao seu
intérprete uma singularidade
própria, desde que sua alma
esteja aberta para sonoridade
a mágica só acontece se tiver
mistura” afirma Eloísa.
da identidade.
A feijoada está longe de ser
romanticamente um prato cria-
do nas senzalas pelos escravos
que juntava os restos de carne
que os senhores de engenho e
fazendeiros não queriam. Estu-
dos comprovam, cerca de 300
anos antes do descobrimen-
to do Brasil, os portugueses
já conheciam o feijão, e que a
mistura de feijões com carnes
não era comum aos africanos
e, sim, aos europeus. São his-
tóricas europeias as receitas
que misturam carnes com feijão
exemplo disso é o próprio cas-
soulet, de origem francesa .
O Feijão Preto que é origi-
nário da América do Sul, era
parte integrante da alimenta-
ção dos índios, acompanhado
de pimenta-malagueta e milho,
uma soma até então desconhe-
cida pelos europeus. Este “elo
gastronômico” tem continuida-
de com os escravos africanos,
que viriam a substituir os ín-
dios como mão de obra. His- toriadores constataram, além
da presença do feijão ralo, a
complementação com a laran-
ja utilizada pelos escravos no
combate ao escorbuto doença
causada pela falta de vitamina C
no corpo. Coincidência ou não
é no século que marcaria o fim
da escravatura que a feijoada
ganha anúncio e registro histó-
rico de um prato apreciado pela
elite da época, exemplo disso
está no 7 de agosto de 1833,
no Diário de Pernambuco, em
que o recém-inaugurado Hotel
Théâtre, de Recife, informa que
às quintas-feiras seriam servi-
das feijoada à brasileira. Ou no
afamado restaurante carioca
G. Lobo, que localizado na Rua
General Câmara, 135, no cen-
tro da cidade do Rio de Janeiro,
tornou famosa entre o final do
Século XIX até 1905 a sua fei-
joada completa acompanhada
de arroz branco, laranja fatia-
da, couve refogada e farofa - a
combinação tal qual conhece-
mos hoje.
É nessas mediações cultu-
rais que o Samba também en-
controu fértil terreno para as-
sumir o seu espaço enquanto
resultado de uma sonoridade
que influenciou e recebeu influ-
ência de outras manifestações
culturais.
No Rio de Janeiro, na virada
do Século XIX, o ar cosmopo-
lita da então capital do Brasil,
era o espaço ideal para que os
recém-libertos escravos, mão
de obra não qualificada, pudes-
se, através das manifestações
culturais, garantir sua sobrevi-
vência e a preservação de suas
raízes.
As famosas ‘Tias Baianas’
eram as transmissoras da cul-
tura popular trazida da Bahia e
sacerdotisas de cultos e ritos de
tradição africana, além de gran-
des quituteiras e festeiras, reu-
nindo em torno de si a comu-
nidade que inundava de música
e dança suas celebrações em
festas que chegavam a durar
dias seguidos. A mais famosa
se chamava Hilária Batista de
Almeida, cuja casa era frequen-
tada por Pixinguinha, Donga,
Heitor dos Prazeres, João da
Baiana, Sinhô. De lá saiu o pri-
meiro samba gravado, a música
‘Pelo telefone’, no final do ano
de 1916. A grande sacerdotisa
também comandava muito bem
as panelas de sua casa em dia
de festa, e o prato mais afama-
do naquele berço do samba,
era a famosa feijoada.
A música Feijoada Completa
do Chico Buarque de Holanda,
encerrava o show da cantora
Eloísa Olinto naquela manhã de
domingo. Na hora do almoço
nenhum músico teve dúvida de
qual prato eles se serviriam... S
Feijoada Completa
Chico Buarque
Mulher, você vai fritar
Um montão de torresmo
pra acompanhar:
Arroz branco, farofa
e a malagueta;
A laranja-bahia ou da seleta.
Joga o paio, carne-seca,
Toucinho no caldeirão
E vamos botar água no feijão.
Ribamildo Bezerra
Jornalista e Especialista em
Comunicação Educacional
Conhecer as diversidades étnicas e raciais da população brasileira é
como investigar suas próprias origens, sejam nas raízes ou descendên-
cias. Este foi o principal objetivo do projeto Laços de Família: Etnias do
Brasil, da Sociedade Brasileira de Dermatologia - SBD, que colocou na
estrada cinco fotógrafos para registrar a multiplicidade racial e cultural tão
característica do Brasil. A miscigenação de colonizadores de origem euro-
peia com negros de origem africana e índios nativos, além de, anos mais
tarde, termos recebido hordas de orientais das mais distintas nações,
contribuíram para que hoje haja um misto de cores e belezas na pele de
homens e mulheres que orgulhosamente se proclamam brasileiros.Etnias do Brasil
Laços de Família:
52 | Revista Sensatez
EM EVIDÊNCIA
Para celebrar o centenário da Sociedade Bra-
sileira de Dermatologia – SBD, a segunda Socie-
dade Médica mais antiga do Brasil, foi criado o
projeto Laços de Família: Etnias do Brasil, que
compõe o trabalho de cinco renomados fotógra-
fos, com respectivos assistentes, enviados cada
um, a uma região do País para registrar as mais
representativas diversidades étnicas.
Por Daniele Torres
índios e alemães (por parte de ancestrais que
colonizaram o Sul). Há inclusive a Associação
dos Familiares Rezer, que compreende a família
mais numerosa de Porto dos Gaúchos, descen-
dentes de polacos e alemães. Antes casamen-
tos “fora da família” eram proibidos. Entretanto,
por conta da miscigenação, novas raças já são
bem aceitas na Associação.
Os preconceitos foram quebrados também
no Recife, em que uma comunidade holandesa
se instalou no Estado e trouxe além das dife-
renças raciais, novidades culturais e religiosas,
como o judaísmo. Os judeus de origem ibérica
ocuparam a região, fundaram a primeira Sina-
goga das Américas, em 1637, a Kahal Zur Israel,
mas deixaram o Brasil por medo da Inquisição,
época em que os portugueses reconquistaram
o Recife. Alguns holandeses que escaparam
de navio fundaram Nova Iorque, uma das mais
cosmopolitas capitais do planeta.
Descendentes da colonização italiana na
Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, carregam
características de seus ancestrais, em maioria
de pele clara, cabelos loiros e olhos claros. A
vinda de italianos do norte do país é representa-
da inclusive nas construções de Garibaldi, cidade
a 105 quilômetros de Porto Alegre, na arquitetura
de igrejas, casas de madeira, entre outros.
Ainda no Sul, Florianópolis, em Santa Catari-
na, é um reduto de portugueses que não só são
representados na pele dos moradores da região
– em que na maioria exibem cabelos e pele clara,
Ary Diesendruck, Gal Oppido, José Caldas, Már-
cio Scavone e Patrícia Gouvêa visitaram respectiva-
mente Mato Grosso, Recife, Amapá, Serra Gaúcha
e Florianópolis. O resultado do trabalho de cada
um destes profissionais resultou em uma formidá-
vel exposição fotográfica com imagens e material
em vídeo de making-off, um livro sobre a história da
Dermatologia ao longo do século – e em paralelo
com a história da fundação da SBD – além de um
catálogo com imagens de pessoas e paisagens dos
lugares visitados pelos expedicionários.
“Este foi um trabalho de fundamental importância
para ilustrar, com imagens e fatos, as peculiaridades
de um povo que tem, em seu DNA, a maior mistura
de raças de todo o mundo”, diz Dra. Bogdana Vic-
tória Kadunc, presidente da SBD. De acordo com
Bogdana, é por esta razão que a Dermatologia no
Brasil exige estudos e pesquisas muito mais profun-
dos que em qualquer outro País.
Juntos e Misturados - No centro-oeste, em Por-
to dos Gaúchos, no Mato Grosso, algumas famílias
vindas do Rio Grande do Sul migraram até a região
em busca de melhores condições de vida. O primei-
ro contato com indígenas aconteceu aos poucos e
atualmente algumas famílias têm descendência de
Revista Sensatez | 53
SBD.ORG.BR
Foto:AryDiesendruckFoto:JoséCaldas
Fotos:GalOppido
54 | Revista Sensatez
EM EVIDÊNCIA
Daniele Torres
jornalista responsável do projeto
Laços de Família: Etnias do Brasil
revistasensatez@sbd.org.br
A exposição Laços de Família: Etnias do
Brasil teve início em 5 de fevereiro, no Rio de
Janeiro, e compõe o trabalho dos cinco fo-
tógrafos com mais de 100 imagens, mosaico
de etnias, linha do tempo e projeções audio-
visuais. Mais de 6.900 milhões de pessoas já
visitaram o projeto.
Além do MAM – Museu de Arte Moderna, no Rio de
Janeiro, a mostra já passou por Osasco, em São Paulo e
Biblioteca Nacional, em Brasília desde fevereiro até junho.
Em setembro esteve novamente no Rio de Janeiro, no
Riocentro, durante o Congresso Brasileiro de Dermatolo-
gia da SBD.
mas na cultura de seus ancestrais. A Festa do
Divino, data importante do calendário religio-
so açoriano, celebra o Divino Espírito Santo e
acontece anualmente na cidade com as devi-
das comemorações, como a divinha farinhada,
procissão da corte real, entre outros.
O legado cultural e racial proveniente destas
e outras colonizações no Brasil contribuíram
para ampliar a diversidade étnica dos nativos
por conta da miscigenação. Tradições, gastro-
nomia e religião também foram agregadas à
nossa cultura tornando-a mais rica e pluraliza-
da.
Mostra Fotográfica
S
REALIZAÇÃOPATROCINADOR APOIO APOIO INSTITUCIONAL
PROJETO: DESIGN:
CO-PATROCINADOR
FOTO:GALOPPIDO
VISANA
REDES SOCIAIS
twitter.com/etnias_brasil
facebook.com/etniasdobrasil
youtube.com/EtniasdoBrasil
No dia 17 de setembro, o príncipe
herdeiro da Dinamarca, Frederik
Andre Henrik Christian visitou a
mostra fotográfica no Museu
Brasileiro da Escultura, em São Paulo.
UM PROJETO
DA NOSSA CULTURA
PARA TODAS AS CULTURAS
O projeto que emocionou milhares de
pessoas pelo Brasil, continua encantando
a todos com o auxílio do mundo digital.
Se você não teve a oportunidade de visitar
a exposição e ver as belíssimas imagens
da nossa cultura, registradas pelos fotó-
grafos Ary Diesendruck, Gal Oppido, José
Caldas, Marcio Scavone e Patricia
Gouvêa, acesse o nosso portal agora
mesmo.
O projeto Laços de Família - Etnias do
Brasil é resultante de uma expedição por
cinco estados brasileiros, organizado pela
Sociedade Brasileira de Dermatologia em
comemoração do seu centenário.
etniasdobrasil.com.br
Foto:PatriciaGouvêa
zer para eles que sou portadora
de Vitiligo e que também me sub-
meto a vários tratamentos, traz, a
certeza, do significado da missão
a mim concebida.
Expor a minha história, mos-
trar meus caminhos, acreditar
nos sonhos faz da vida uma
aventura maravilhosa!
Se você tem Vitiligo diga: Que-
ro voltar a ter pele normal! Quero
voltar a ter pele saudável!
Se for do seu desejo isso
ocorrerá. No tempo certo!
Pois há de se percorrer um
caminho. Qual o seu?
A jornada inicia-se com o pri-
meiro passo. Dê esse passo!
56 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 57
SENTINDO NA PELE SBD.ORG.BR
S
Mineira, nascida em Itabira
em 1957, médica-dermatologis-
ta, casada e mãe de dois filhos.
Em 1995 descobre que tem Vi-
tiligo. Essa sou eu: apaixonada
por Dermatologia e por ironia
quis o destino me presentear
com uma paciente especial: eu
mesma!
Questionamentos surgiam
ao atender meus pacientes:
Quanto de poder a mente tem
para influenciar o paciente para
a cura? Quanto um momento
de estresse ou tristeza pode
fazer ou não um paciente ado-
ecer? O que fez Tânia Nely ado-
ecer nesse momento da vida?
Como lidar com o Vitiligo justo
no seu rosto? Pensamentos e
indagações rondavam minha
A DOENÇA
COMO CAMINHO
Por Dra. Tânia Nely
vida, feriam minha alma; mas
construíram minha história...
Sendo Itabirana, invariavel-
mente, lembro Carlos Drumond
de Andrade: “no meio do ca-
minho tinha uma pedra... tinha
uma pedra no meio do cami-
nho...”
Procurei caminhos. Optei por
ampliar meus conhecimentos na
área da Psicodermatologia, além
de tomar as providências de usar
os medicamentos, que existiam
na época, para o Vitiligo. Com a
ajuda de colegas dermatologistas
que iniciavam o Departamento
de Dermatologia Integrativa da
Sociedade Brasileira de Derma-
tologia, hoje, Psicodermatologia,
comecei a estudar as relações
existentes entre corpo e mente
que me fizeram evoluir para uma
especialização adicional em Psi-
coterapia. Que jornada incrível...
Como aprendi! Não foi fácil... Tive
que não somente aprender, como
também reaprender a viver... Pre-
cisei adicionar qualidades ao meu
dicionário interno de como se re-
lacionar com pessoas e aprofun-
dar meu autoconhecimento.
Assim, fui me sentindo cada
vez mais segura; o suficiente,
não só para tratar de mim mes-
ma, como também para atender
as demandas que surgissem em
uma consulta de Psicodermato-
logia.
Mas, eu permanecia com Vi-
tiligo, que melhorava com o tra-
tamento, porém novas lesões às
vezes surgiam, após um período
que variava de meses a anos.
Passei a ministrar aulas em
Congressos de Dermatologia
com temas relacionados à Psico-
neuroimunodermatologia.
Cumpri mais uma etapa do
caminho e fiquei orgulhosa de
mim mesma, por ter conseguido
publicar um artigo que contribu-
ísse para que os dermatologistas
pudessem conhecer esse enten-
dimento amplo e holístico da Psi-
codermatologia.
Em dezembro de 2007, depa-
rei-me com fortes desafios, após
ter vivenciado um ano conside-
rado impactante sob o aspecto
emocional, e, além disso, estava
novamente com Vitiligo só que
agora em quase 90% da face.
Que paradoxo! Justo eu que
Dra. Tânia Nely Rocha
Dermatologista pela SBD
revistasensatez@sbd.org.br
estudava as questões emocio-
nais, ainda evoluía com Vitiligo?
Na verdade, Vitiligo não é
sempre emocional! Pode estar
associado também a questões
genéticas, endocrinológicas ou
traumas físicos.
Resolvi aliar a Medicina Mente
e Corpo à evolução da Biologia
Molecular e dos Lasers em Me-
dicina. Depois de várias sessões
de laserterapia aliadas aos cui-
dados emocionais e espirituais,
consegui ver meu rosto normal
novamente.
E que emoção! Maravilhoso é
poder compartilhar a alegria do
meu tratamento com a bênção
de ver portadores de Vitiligo as-
sociando terapia moderna atual
com a psicoterapia de apoio. Di-
THINKSTOCK
58 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 59
CAMINHOS
SIDNEY
Por Paulo Ricardo Criado
JANKRATOCHVILA/SHUTTERSTOCK.COM
Look Back! Look Around! Look Forward!
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E book-revista-sensatez n3

  • 1.
  • 2. Por valorizar mais a beleza e o preço do que a qualidade dos serviços, milharesdepessoas,comooTheo,colocamasaúdeemriscobuscando tratamentos não adequados para a sua pele. Muitos se esquecem de checar as credenciais do profissional e do local do atendimento. Evite problemas, o primeiro passo é buscar sempre um dermatologista associado da SBD. Ele é o profissional certificado para cuidar da sua pele como ela merece. MAIS INFORMAÇÕES SOBRE CUIDADOS COM A PELE E ONDE ENCONTRAR UM MÉDICO DERMATOLOGISTA MAIS PRÓXIMO, ACESSE WWW.SBD.ORG.BRConheça a história completa do Theo. Procure antes um médico dermatologista certificado. CERTIFICADO Baixe o app mobile e saiba qual o dermatologista da SBD mais próximo de você. Os clientes são atraídos pelos baixos preços e pela facilidade de compra e terminam por adquirir, na verdade, um grande problema. “O anúncio prometia um tratamento quase milagroso contra acne, com resultados rápidos e um preço bem em conta. Depois entendi o porquê. Além de não funcionar, o tratamento piorou minha pele, só então eu procurei um médico dermatologista e consegui um tratamento realmente eficaz”, desabafou Theo Van Der Loo, que comprou o tratamento neste tipo de site. A saúde e o bem-estar envolvem o conceito de atendimento multidisciplinar, mas temos observado, em várias áreas da saúde e da medicina, uma proliferação de profissionais não capacitados. A cada dia recebemos com pesar notícias de erros gravíssimos em atendimentos hospitalares, em clínicas e consultórios, relatando a aplicação de substâncias e medicações erradas, procedimentos mal executados, além da realização de procedimentos invasivos realizados por não médicos. Um dos problemas fundamentais nestes incidentes é a falta de preparo, competência e qualificação técnica dos profissionais envolvidos. Na dermatologia, particularmente no que abrange a estética, a busca por tratamentos ligados à beleza alavanca uma invasão de profissionais nem sempre habilitados, que vêm realizando diversos procedimentos relacionados à pele, muitos destes considerados invasivos e, portanto, pressumindo-se que sejam de competência profissional do médico. Como consequência, é cada vez maior o número de reclamações e o volume de complicações graves. Muitos anúncios na internet confundem e enganam a população, no que diz respeito à qualificação do atendimento e do profissional. É curioso observar a proliferação de vários termos combinando as palavras estética e dermatologia com dermaticistas - “técnicos que atuam nas estéticas facial e corporal”; dermatofuncional - “área de atuação do fisioterapeuta no campo da estética” e biomédico estético - “área da biomedicina que atua nas disfunções estéticas faciais e corporais”. Como se não bastasse, ainda aparecem em sites como doutor ou doutora, a confusão é certa, e a situação se agrava, pois, para a opinião pública, estes profissionais podem ser vistos ou confundidos com dermatologistas. E tudo fica ainda pior, quando se sabe que os tratamentos dermatológicos e estéticos estão cada vez mais vulgarizados e banalizados em promoções de sites de compras coletivas que oferecem milagres como no caso de Theo. A dermatologia e a estética caminham juntas, envolvendo cuidados com a saúde do corpo e da pele. Os maiores riscos ocorrem especialmente quando se realizam procedimentos invasivos, com substâncias e tecnologias que requerem habilidade e conhecimento técnico para manipular e lidar com possíveis complicações, como a aplicação de toxina botulínica, o uso de preenchedores, a aplicação de lasers e tecnologias invasivas e peelings, entre outros. Qualquer profissional está sujeito a complicações; o que importa é a sua real competência na realização dos tratamentos. Escolher um especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) no momento de realizar um procedimento concede ao paciente a segurança de saber que este profissional passou por 6 anos de estudo durante a graduação em medicina, 3 anos durante a especialização em dermatologia, além de um rigoroso processo de avaliação de competências e habilidades, para poder atuar com segurança e conhecimento, seja no tratamento e diagnóstico de doenças, seja na realização de procedimentos estéticos de restauração e promoção da beleza de sua pele. No Brasil, os dermatologistas são oficialmente representados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Por meio do conceito de sua campanha “Pele é saúde”, a entidade ressalta a importância do acompanhamento médico em todos os tipos de tratamento que envolvem a pele. COMPRAS COLETIVAS XDERMATOLOGISTASA febre das compras coletivas, iniciada em meados de 2010, tem durado mais que a média das tendências de internet. E o pior, está em alta neste mercado de venda de pacotes que envolvem tratamentos médicos e estéticos, como preenchimentos, laser, toxina botulínica e até cirurgias, realizados por profissionais nem sempre qualificados. SERVIÇO - Sociedade Brasileira de Dermatologia - www.sbd.org.br - Av. Rio Branco, 39 - Centro - Rio de Janeiro, RJ. INFORME PUBLICITÁRIO
  • 3. CARTA DA PRESIDENTE Se fizermos um balanço dos anos vividos ao longo dos nossos 100 anos de história, percebemosoquantocrescemoseevoluímos.Evoluircomseriedadeeresponsabilidade tem representado o maior propósito da Sociedade Brasileira de Dermatologia, sobretudo nas relações com a comunidade. Disseminamos conhecimento médico- dermatológico , agregamos valores éticos e morais e construímos uma sociedade séria e socialmente responsável que tanto nos orgulha e nos honra! Valores, pensamento no longo prazo e cuidados com a saúde da pele são características próprias da SBD para o Brasil. A união dessas qualidades certamente fizeram a evolução dessa história. Em tempos de mudanças sociais a Sociedade Brasileira de Dermatologia mantêm o compromisso maior de servir... Integração, responsabilidade social e disseminação do conhecimento são pilares fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade que cresce com seus associados e cresce com a população. Brindar os 100 anos de história com base no trabalho realizado é ter a certeza da missão cumprida, da integração partilhada, do valor agregado... Reconhecer é necessário. Convocar a cooperação é fundamental. Agregar para somar é razão de existir! Existir na essência de ser ... Acreditar com raça... na ordem mística, étnica, na mistura de cores que faz desse país tão lindo e diversificado que tanto amamos... A SBD brinda o centenário com essa edição, verdadeiramente brasileira! Brindemos a mistura de pele e cores que faz do país Sensibilidade e Sensatez!!! LAÇOS DE UNIÃO Dra. Bogdana Victória Kadunc Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia revistasensatez@sbd.org.br A SBD lança uma campanha para comunicar ao público a importância do médico dermatologista no diagnóstico e tratamento dermatológico, além de conscientizar as pessoas sobre os cuidados que elas devem ter com a própria pele e na escolha do profissional capacitado para realizar esta tarefa. Faça parte deste projeto, você é a peça fundamental nesta campanha. Com toda certeza, de pele você entende e vai saber muito bem como cuidar para que sua importância seja cada vez maior. É a SBD nesses 100 anos trabalhando para você! PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE CUIDADOS COM A PELE E ONDE ENCONTRAR UM MÉDICO DERMATOLOGISTA ASSOCIADO À SBD MAIS PRÓXIMA, ACESSE www.sbd.org.br.
  • 4. UM BRASIL DE RAÇA E DE CORES Editorial Conhecer o Brasil étnico, místico é viajar na subjetividade do nosso povo que na mistura de cores e culturas consegue ser tão plural e harmonioso como uma sintonia fas- cinante! A grandeza desta nação está exposta em pequenos detalhes. Um lugar onde as cores prevalecem! Nas paredes, na paisagem, nos corpos e nas almas... Nesta policromia histórica retratamos o sentimento deste país... Brasil de muitos ritos de sons diversos, de cores tão mistas, nascidos dos lugares, emitidos sem reservas, sem descanso... Brasil transformado e mistificado em vidas! A vida pragmática transformada em vida simbólica, onde a cor passa a ser detalhe... Viajemos nesse cenário! Os múltiplos olhares desse processo fazem a construção de uma visão multifacetada e plural de Etnia, tema escolhido pela SBD para comemorar seu centenário! Nada é mais atual que discutir a pele nas diversas etnias... Nada é mais apaixonante que ver a democratização do pensamento étnico, no mo- mento atual brasileiro; trazendo-nos mais maturidade para construir conceitos e formar opiniões... Uma paixão presente na entrevista com a atriz Izabel Filardis. Mulher singular de ca- racterísticas plurais. Bela, multifacetada e socialmente responsável; que faz crer o quanto podemos unir beleza, sonhos e ideologias e acreditar na construção de um mundo melhor! Surpreendente também é o relato de Tânia Nely, médica dermatologista, que conta sem constrangimento sua luta contra o vitiligo. Despindo-se do medo e transformando-se numa mulher corajosa e de fibra, ela escreve para a coluna Sentindo na Pele. A Sensatez hoje nos faz ver a grandeza da alma de pessoas que constroem o Brasil. Embarcando na nossa história, revelamos a alma de nossa gente, que é mistura de cor, de ritos e festa, fome e fartura...Quebrando estigmas e amadurecendo... Convidamos você leitor, a viajar nessa edição étnica, construindo também um olhar transformador de um Brasil que amadurece... Boa leitura !! Dra. Luciana S. Rabello de Oliveira 2ª secretária da Sociedade Brasileira de Dermatologia revistasensatez@sbd.org.br Prezada Dra. Luciana e demais membros da Diretoria da SBD 2011/2012: Gostaria de felicitá-los pela qualidade “máster” da nossa revista Sensatez. Grande quantidade de pacientes elogiou os artigos! O interesse foi surpreendente!! Parabéns! Dr.Jayme de Oliveira Filho / São Paulo - SP Periodicamente costumo visitar minha dermatologista. Numa dessas ocasiões encontrei na sala de espera a vossa revista “Sensatez” e pedi permissão a minha médica para levar o exemplar, cuja leitura despertou meu interesse. Com admiração e muita consideração pelo profissionalismo do trabalho, subscrevo-me. Príncipe Alessandro Wassilieff de Ofrosimoff (Rússia) Rio de Janeiro - RJ Estava num consultório médico. Sou paciente e gostei muito do conteúdo da revista Sensatez Edição 2- Ano 2012 cuja capa está Rolando Boldrin. Parabéns pelo conteúdo completo e perfeito dessa edição. Gostaria de mostrar algumas matérias para meus pais. Como posso obter esse exemplar? Adamélia Fernandes (Salvador- BA) Realmente a SENSATEZ está surpreendendo. Parabéns pela excelência nessa edição! Sucesso! André Dornelles (São Paulo - SP) Parabéns aos editores da revista Sensatez, contextualizando informação de qualidade agregada a uma diversidade de temas interessantes relacionados a nossa especialidade e ao nosso dia-a-dia, esclarecendo de forma simples e agradável para o leitor, temas ainda tão pouco divulgado na mídia tais como vitiligo, psoríase, entre outros e abordados por especialista da nossa área. Na última edição tive o prazer de ler uma abordagem completa e multidisciplinar do envelhecimento como um processo da nossa condição tão sonhada de vida longa com “qualidade de pele” e sobretudo, com qualidade de vida. Acredito nesse sucesso! Parabéns pela iniciativa! Grande abraço Dra. Fátima Brito (Recife - PE)
  • 5. Supervisão Geral Sociedade Brasileira de Dermatologia Diretoria 2011-2012 Presidente: Dra. Bogdana Victória Kadunc Vice-Presidente: Dra. Sarita Maria F. Martins C. Bezerra Tesoureira: Dr. Carlos Baptista Barcaui Secretária Geral: Dra. Leandra D’ Orsi Metsavaht 1º Secretária: Dra. Eliandre Costa Palermo 2º Secretária: Dra. Luciana Silveira Rabello de Oliveira Editora-Chefe Dra. Luciana Silveira Rabello de Oliveira Jornalistas Responsáveis Ribamildo Bezerra de Lima - DRT 625/99 Ulisses Praxedes - DRT 2787/08 Julia Guimarães Silva Costa - 30472/RJ Projeto Gráfico e Diagramação Daniel Durante danieldurante.tumblr.com Revisão Eliene Resende Fotos Isabel Fillardis Igor Rodriguez e Assessoria Versão Online Nazareno N. de Souza Victor Gimenes Samuel Peixoto Contato Publicitário Priscila Rudge Simões Impressão Sol Gráfica Circulação Distribuição Gratuita 23.000 exemplares Para se corresponder com a Redação Av. Rio Branco, 39/ 17° andar-centro. Rio de Janeiro-RJ Cep: 20090-003 e-mail: revistasensatez@sbd.org.br A equipe editorial da revista Sensatez e a Sociedade Brasileira de Dermatologia não garantem nem endossam os produtos ou serviços anunciados, sendo as propagandas de responsabilidade única e exclusiva dos anunciantes. As matérias e textos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. FACE A FACE 14 10 12 18 20 30 38 42 40 44 26 58 56 46 49 52 INTERFACE PERFIL EQUILIBRIUM NATURALMENTE SABOR E ARTE CAMINHOS SENTINDO NA PELE EM EVIDÊNCIA A etnia dos cabelos e seus cuidados O arco-íris da pele brasileira Cuidados com a pele negra Ensaio sobre a pele 22As cores do Brasil Mimetismos 24A cor do corpo As raízes de uma mulher de raça Tocados pela biodança Arte inclusiva A estética do real e do mito Na cozinha com Carolina Sidney: Look back! Look around! Look forward! A doença como caminho Xingu - O passado questionando o presente Samba e feijoada: Pura mistura brasileira Laços de família: Etnias do Brasil O caldeamento das múltiplas etnias 30 Expediente Índice 52
  • 6. 10 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 11 SBD.ORG.BR THINKSTOCK FACE A FACE As etnias são determinadas por influências genéticas das diferentes raças. Além dos traços físicos, são definidas também afinidades culturais de uma comunidade. Os hábitos de bronzear a pele, alisar ou tingir os cabelos entre outros mo- dismos, participam da definição da própria etnia. Para o dermatologista a cor da pele pode variar do preto ao branco, passando por diversos tons intermediários. A classificação mais tradicional da cor da pele define cinco “fototipos” que são determinados principalmente pela cor de pele, cabelo e olhos. A facilidade da pele para bronze- ar e queimar ao sol também auxilia na diferencia- ção destes tipos de pele. No Brasil a miscigenação indígena, europeia e africana criou uma variação dos “fototipos”. En- contramos pessoas de pele morena com olhos claros ou cabelos loiros. Um estudo nacional de- O ARCO-ÍRIS DA PELE BRASILEIRA Por Dra.Fabiane Mulinari Brenner Dra. Fabiane Mulinari Brenner Dermatologista pela SBD revistasensatez@sbd.org.br finiu 125 variações de tons de pele, muito mais que as clássicas branca, preta, parda, amarela (oriental) e indígena. Este painel é resultado da progressiva miscigenação da população brasilei- ra com evidente crescimento do número de par- dos, descendentes de pelo menos duas diferen- tes origens: indígena, europeia e africana. Cores diferentes de pele apresentam diferenças estru- turais que as definem. No caso do Brasil, em que há uma grande variação de cor, verificar estas desigualdades é um desafio. Já nos extremos de cor, é possível evidenciá-las. O número de célu- las produtoras do pigmento da pele, a melanina, é igual em todas as raças, mas a quantidade e a distribuição dele é maior nos indivíduos negros. A melanina confere proteção solar que pode ser comparada a um fator de proteção solar (FPS) 10, no caso dos negros. Infelizmente, na pele branca, a redução da me- lanina facilita as queimadu- ras solares e expõe a pele a doenças desencadeadas pelo sol. Na pele clara as modificações de cor estão especialmente associadas à exposição solar. Aqueles que se queimam com fa- cilidade e não bronzeiam, apresentam com mais fre- quência, sardas, manchas nas áreas expostas ao sol e câncer de pele. Já os negros podem apresentar escurecimento da pele ao redor da boca, nas boche- chas, na mucosa da boca, gengivas, nas palmas e plantas dos pés. Estes achados comuns, não re- lacionados à exposição solar, são mais intensos quanto mais escura for a pele. A pele branca possui maior quantidade de derivados oleosos na sua estrutura, e ainda tem uma perda de água menor do que a negra. Bran- cos necessitam menos de hidratação externa (cremes e loções). O ressecamento na pele negra é intensificado pelo menor número de glândulas do suor no corpo. Por outro lado, essas mesmas glândulas são mais ativas nas axilas, nos genitais e na face, aumentando a transpiração e favore- cendo o desenvolvimento dos odores, causados principalmente pela proliferação de bactérias nos locais úmidos. A textura e firmeza da pele também são di- ferentes entre raças. Nos negros as células que produzem colágeno são maiores, mais ativas e mais resistentes à degradação. Isso permite uma pele mais densa e pouco flácida, mas dificulta a cicatrização e facilita o aparecimento de cicatri- zes elevadas (ou queloides). As glândulas que produzem sebo são maio- res e produzem maior quantidade na pele negra, aumentando a chance de acne especialmente quando a pele é exposta a produtos oleosos. Ge- ralmente a pele negra e indígena requer cosméti- cos mais leves em loção, fluido ou gel; enquanto que a pele clara, euro- peia, tolera cremes mais oleosos. Cabelos podem auxi- liar na caracterização das etnias. O número de fios de cabelo é menor nos negros, quando compa- rados aos brancos. Os fios de cabelo tendem a ser mais escuros, cres- pos, ressecados e que- bradiços nos negros. Enquanto a estrutura dos fios é cilíndrica, homogê- nea e com corte transver- sal arredondado nos brancos; o corte é triangular e com irregularidades no diâmetro ao longo do fio de cabelo dos negros. Estas peculiaridades fazem com que os alisamentos e as tinturas em cabelos negros e crespos necessitem de cuida- do redobrado para evitar danos aos fios. Traumas repetidos podem se associar a linhas escuras nas unhas de mãos e pés, visíveis na metade da população negra. Se a mancha escu- ra for única e se estender para a cutícula, é im- portante afastar o melanoma, um câncer de pele de ocorrência frequente nestas áreas em negros e orientais. No Brasil, a grande variabilidade decorrente da miscigenação dificulta a criação de uma rotina de cuidados da pele e cabelos para todas as etnias. Apesar das diferenças, todos nós necessitamos de cuidados básicos diários. Higiene, hidratação e proteção solar adequadas a cada tipo de pele ajudam a manter a sua coloração homogênea, viço e textura. O dermatologista é o profissional habilitado a individualizar e tratar cada tipo pele, considerando as características genéticas e cul- turais de cada paciente. NO BRASIL A MISCIGENAÇÃO INDÍGENA, EUROPEIA E AFRICANA CRIOU UMA VARIAÇÃO DOS “FOTOTIPOS”. ENCONTRAMOS PESSOAS DE PELE MORENA COM OLHOS CLAROS OU CABELOS LOIROS. ”
  • 7. 12 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 13 SBD.ORG.BR Dra Katleen da Cruz Conceição Dermatologista pela SBD revistasensatez@sbd.org.br S FACE A FACE É importante utilizar filtro solar com fator de proteção solar 15, no mínimo, principalmente no rosto. No corpo, dê preferência para hidratantes com filtro solar, além de proteger do sol e evitar manchas, eles garantem a hidratação da pele. A utilização de ácido deve ser feita com muita cautela, pois as irritações de pele podem ocasionar escurecimento na pele negra. Dê preferência para os alfa hidroxiácidos, como o ácido glicólico e o ácido mandélico, que causam menos irritação. Sim. Pode se realizar todos os tipos de lasers na pele negra, mas é muito importante observar a fluência a ser utilizada. As sessões na pele negra devem ter intervalos maiores do que na pele branca, devido ao risco de hiperpigmentação. 2 1 USE FILTRO SOLAR SEMPRE É POSSÍVEL FAZER LASER NA PELE NEGRA? 3CONTROLE O USO DE CREMES COM ÁCIDO Dê preferência para produtos com substâncias como chá verde, coffeberry ou camomila. Eles hidratam a região da barba, evitando possíveis irritações durante o ato de barbear. 4USE SABONETES CALMANTES PARA FAZER A BARBA Ativos como óleo de rosa mosqueta e produtos como gel de silicone podem evitar o surgimento de queloides após um trauma ou após procedimentos cirúrgicos e estéticos. Esses cuidados devem ser mantidos entre seis meses a um ano depois da retirada da lesão. 5DOBRE A ATENÇÃO COM LESÕES QUE POSSAM SE TRANSFORMAR EM CICATRIZES OU QUELÓIDES: SHUTTERSTOCK Por Dra Katleen da Cruz Conceição CUIDADOS COM A PELE NEGRA COMO TRATAR PELES ESCURAS E NEGRAS pele do povo brasileiro é formada por uma mistura de mais de 100 tonalidades, cada uma com suas características particulares. Todos concordam que a diversidade étnica do Brasil é o que garante a beleza do seu povo, certo? O que muita gente não sabe é a verdadeira dimensão des- sa diversidade. Um estudo coordena- do pela Unicamp, em 2005, identificou 125 diferentes tons de pele no país. E A na progressão da pesquisa, surgiriam mais quatro tons a cada dois anos. Ou seja, já devemos estar nos encaminhando para as 140 nuances. Mas o que designa beleza também chama a atenção para cuidados especiais. Cada tipo de pele exige atenção diferenciada, uma vez que cada um desses tons reage de maneira diferente às agres- sões do tempo, ao contato com o sol, problemas de alimentação e aos produtos e tratamentos de beleza. As peles muito claras, de pessoas com cabelos também claros, são menos preparadas para supor- tar as agressões do sol, por exemplo, aumentando as chances de fotoenvelhecimento e doenças de pele. Já os tons amarelados e rosados das peles asiáticas apresentam um aumento da pigmentação natural, deixando a camada cutânea um pouco mais protegida. Mas são os tratamentos que en- volvem peles escuras e negras que mais tem des- pertado a atenção de estudiosos ultimamente. As características que definem a pele como mais pre- servada, são as mesmas que a tornam mais resis- tentes aos tratamentos. Isso sem falar na grande variação de tons, que exige um tipo de tratamento específico para cada caso. Tratar foliculites e melasmas, por exemplo, é sempre um grande desafio, já que cada tom exige uma concentração diferente de um creme ou uma intensidade alterada de um laser. Além disso, a pro- pensão a manchas escurecidas é maior e são mais difíceis de tratar. Por isso, pessoas de pele negra necessitam de cuidados especiais.
  • 8. cabelos estão entre os nossos atributos físicos mais importantes e suas implicações nas relações humanas vão além do que podemos ima- ginar. Cabelos podem definir, dentre outras coisas, gênero, raça, sexualidade, doen- ças, cultura, comunicação, identidade, be- leza, aceitação e diversidade. Tratamentos e cuidados para manter os fios bonitos e vistosos estão entre os grandes sonhos de muitas mulheres e homens. A boa notícia é que, hoje, grandes avanços científicos e descobertas nos permitem ter cabelos mais bonitos e saudáveis. Para tanto, é necessá- rio compreender as diferenças étnicas entre os cabelos e seus cuidados básicos espe- cíficos. A aparência ou fenótipo dos cabelos é a tradução visual da programação genéti- ca ou genótipo de cada indivíduo. Porém este processo é complexo e não totalmen- te conhecido. Uma das principais variáveis que determinam as diferenças raciais dos cabelos é a pigmentação que, de maneira espectral, define a coloração dos fios en- tre mais claros e mais escuros. Dois são os principais tipos de pigmento ou melanina; a eumelanina de coloração marrom a pre- ta e a feomelanina de coloração amarela a vermelha. Todos os cabelos possuem os dois tipos de melanina, é a quantidade va- riável de cada tipo que determina todas as cores que observamos. A constante misci- genação das raças e migração dos povos primitivos também foi determinante. Os três grandes grupos étnicos humanos, o afri- cano, o caucasiano e o asiático possuem características estruturais próprias e, con- sequentemente, cuidados específicos. 14 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 15 SBD.ORG.BR THINKSTOCK A ETNIA DOS CABELOS E SEUS CUIDADOS FACE A FACE O cabelo afro ou negro é um tipo muito especí- fico com espessura mais fina e fios mais crespos e achatados que, por sua configuração espiralada, não recebem adequadamente a lubrificação natu- ral produzida pelas glândulas sebáceas do couro cabeludo. Dessa forma, são cabelos naturalmen- te ressecados e frágeis, muitas vezes quebradi- ços e de crescimento muito lento ou mesmo limi- tado, volumosos ou não. Tendem a ser bastante escuros pela maior quantidade de eumelanina em relação à feomelanina. Este tipo de cabelo deve sempre estar úmido ou molhado para ser penteado e o pente deve ter dentes largos para evitar a ruptura mecânica dos fios e ajudar na definição dos cachos. Outro cuidado fundamental é a hidratação que deve ser constante. Para tanto, estão indicados xampus e condicionadores hidratantes que contenham in- gredientes como aloe vera, óleo de coco, pante- nol, manteiga de carité, vitamina E, óleo de argan, dentre outros. Máscaras nutritivas e cremes sem enxágue também estão indicados após as lava- gens. Evitar uso de secadores elétricos com ar quente e utilizar toalhas sem fazer atrito ao secar são medidas que garantem a integridade dos fios. Em geral indivíduos com este tipo de cabelo utilizam muitos tratamentos químicos para alisa- mento e relaxamento dos fios. Estes tratamentos modificam sensivelmente a estrutura da haste ca- pilar, são potencialmente danosos e devem, ide- almente, ser evitados. As substâncias mais utiliza- das são: hidróxido de sódio ou lítio que apresenta potente efeito alisador e também bastante preju- dicial ao fio por quebrar as pontes dissulfeto de queratina; tioglicato de amônio de efeito alisador moderado e custo elevado, sendo o mais utiliza- do no Brasil; formaldeído e o gluataraldeído estão atualmente proibidos pela ANVISA por serem mui- to voláteis e com potencial carcinogênico quando inalados. A hidratação e limpeza adequadas redu- zem os danos provocados por estes tratamentos. O frequente hábito de prender os cabelos ten- sionando os fios deve ser evitado porque pode levar à foliculite e até mesmo à queda definitiva e irreversível dos fios, principalmente em crianças. Vale ressaltar que o cabelo afro tem seu elemento estético próprio e que cortes e penteados ade- quados garantem estilo e beleza a seus donos. O CABELO AFROO Por Dra. Denise Steiner e Dr. Thiago Vinícius R. Cunha
  • 9. THINKSTOCK-IMAGENS(2,4,8) Historicamente, mulheres asiáticas são admi- radas por suas longas madeixas naturalmente bonitas e resistentes. Os cabelos orientais apre- sentam-se mais calibrosos e lisos, com maior tendência a ser escuros pelo predomínio da eu- melanina na sua pigmentação. São cabelos fortes por apresentarem maior queratinização dos fios o que lhes confere peso e brilho. Porém, se usados muito curtos podem adquirir aspecto arrepiado ou “espetado” principalmente em homens que, mui- tas vezes, encontram dificuldade em controlar os fios. Outra queixa bastante comum é a presença das pontas duplas que se originam principalmen- te devido ao corte inadequado de fios mais longos e excesso de tinturas, muito utilizadas pelas mu- lheres japonesas que buscam cabelos mais cla- ros. Evitar agressões químicas e realizar o corte adequado é a melhor estratégia para combater este problema. De maneira geral, a mulher asiática deve evitar produtos que contenham muitos óleos naturais, queratina e silicone que podem promover acúmu- lo de resíduos ou mesmo aumentar a oleosidade deixando os fios mais pesados e comprometen- do o volume. Formulações minimalistas com pH mais ácido, entre 4 e 5, que contenham sílica, um derivado do quartzo, resultam em cabelos mais leves e brilhantes ao selar as cutículas. O CABELO ORIENTAL S 16 | Revista Sensatez Caucasianos formam o grupo mais heterogê- neo quando o assunto são os cabelos. De claros a escuros, a proporção de eumelanina e feomela- nina nestes indivíduos é extremamente variável o que determina as inúmeras tonalidades encontra- das. Os cabelos caucasianos também podem ser lisos, encaracolados ou ondulados e, em geral, são os que menos precisam de cuidados específi- cos. Uma das maiores preocupações neste grupo étnico é a ação da radiação ultravioleta (UV). Sabi- damente a eumelanina é mais eficaz na proteção UV quando comparada a feomelanina e indivíduos caucasianos tendem a apresentar menores níveis de eumelanina nos fios. Um exemplo são os rui- vos que podem atingir mais de 50% de pigmenta- ção por feomelanina. Portanto é de fundamental importância que esses indivíduos se protejam do dano solar. Alguns estudos já demonstram que o desequi- líbrio entre a agressão externa mediada por radi- FACE A FACE cais livres pela luz UV e a redução dos mecanis- mos fisiológicos de combate a essas moléculas resultam em perda funcional do folículo piloso que leva aos cabelos brancos e à queda. A utilização de produtos com proteção solar nos cabelos pode ser benéfica neste processo e deve ser encoraja- da, sobretudo em indivíduos de pele mais clara. Outra queixa frequente neste grupo étnico é o excesso de oleosidade ou mesmo a descamação no couro cabeludo que, juntos, podem significar dermatite seborréica. Para controlar esta condi- ção dispomos de xampus específicos que conte- nham ingredientes como cetoconazol ou ciclopi- roxalamina capazes de eliminar fungos comensais envolvidos na fisiopatologia desta doença. Reco- menda-se ainda que os cabelos sejam lavados diariamente sempre evitando água quente e oclu- são do couro cabeludo como uso de chapéus e bonés. Em conjunto essas medidas controlam de maneira satisfatória o excesso de oleosidade e a dermatite seborréica. SBD.ORG.BR O CABELO CAUCASIANO Revista Sensatez | 17 Cabelos longos, curtos, lisos, cacheados, escuros, claros, misturados. Cuidar dos cabelos é cuidar da própria autoestima e identidade. De cada grupo étnico e suas respectivas características ou respectivos problemas podemos aprender grandes lições de como cuidar dos nossos cabelos. Vale lembrar que a vitalidade dos fios também está associada a hábitos de vida saudáveis. Uma alimentação equilibrada, rica em vitaminas e minerais, prática de exercícios físicos e abandono de vícios como tabagismo e álcool conferem também aos cabelos vigor e saúde. CUIDADOS GERAIS Dra. Denise Steiner e Dr.Thiago Vinicius R. Cunha Dermatologista pela SBD e Especializando em Dermatologia, respectivamente.
  • 10. 18 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 19 IMAGENSTHINKSTOCK SBD.ORG.BRINTERFACE pele é o maior órgão do nosso corpo e desempe- nha inúmeras funções vitais e complexas e é sede de várias manifestações emocionais e fi- siológicas que acompanham o homem desde sua origem mais primitiva. A importância das fun- ções táteis da pele vem desde o berço e surgiu com os mamífe- ros. As fêmeas costumam lam- ber os filhotes recém-nascidos. O comportamento de lamber o filhote, mais do que simples- mente limpá-lo, promoveria a ativação de seus sistemas de manutenção, em especial dos mecanismos circulatório, respi- ratório e excretório, estimulan- do- os a funcionar adequada- mente logo após o parto. Os bebês humanos são de- pendentes de extensos cui- dados parentais, pois vêm ao ENSAIO SOBRE Por Renato da Silva Queiroz A PELE A mundo em condição de ima- turidade comportamental, fi- siológica e bioquímica, e se beneficiam profundamente das estimulações cutâneas sofridas no decorrer do trabalho de par- to. Estudos demonstram que o ser humano pode sobreviver a privações sensoriais extremas de outra natureza, como a vi- sual e a sonora, desde que seja mantida a experiência sensorial da pele. Por isso, os bebês pri- vados de contatos com a mãe, ou que não foram carinhosa- mente tocados ou acariciados, costumam enfrentar entraves fí- sicos e emocionais nas fases de desenvolvimento subsequen- tes. Se as carícias e estimulações cutâneas são essenciais ao bebê, também não se mostram menos significativas na idade Peles macias, suaves, fir- mes e sedosas, acompanha- das de cabelos lustrosos, são atestados visuais de juventude e boa saúde. Inversamente, a presença de acne, rugas, sar- das, manchas, verrugas e ou- tras imperfeições compromete a beleza do rosto, do mesmo modo que estrias, flacidez, ce- lulite e varizes enfeiam o restan- te do corpo. São numerosos os procedimentos adotados pelas mulheres mais maduras e ido- sas para imitar a pele fresca e luminosa da juventude. No an- tigo Egito, elas se banhavam em uma mistura de água e car- bonato de cal, esfregavam os pés com pedra-pomes e, após o banho, untavam-se de óleos vegetais perfumados com ervas aromáticas. Na atualidade, recorrem a variados procedimentos, como limpeza de pele, cirurgia plásti- ca, peeling, aplicação de toxina botulínica e laser, e fazem uso de uma miríade de produtos cosméticos, com vistas na me- lhoria estética e no rejuvenesci- mento cutâneo. Essas alterações, sujeitas a grande variabilidade porque se processam no âmbito de gru- pos sociais específicos, cada qual com sua cultura, marcam e reafirmam status, identidades nacionais, etárias, religiosas, ocupacionais, de classe, de gê- nero etc. Usualmente, as modi- ficações introduzidas no corpo se conformam aos ideais esté- ticos de cada sociedade e de seus diferentes subgrupos. APENAS OS SERES HUMANOS MODIFICAM VOLUNTARIAMENTE O PRÓPRIO CORPO S adulta, particularmente nas inte- rações amorosas. Em nenhuma outra relação a pele é tão pro- funda e extensamente envolvida como na relação sexual. O rubor é um ponto interes- sante sobre o comportamento humano. Charles Darwin definiu o rubor, como “a mais humana e peculiar das expressões”. O corpo é um artefato da cultura, apropriado, modelado e modificado por ela desde o nascimento, sendo assim sub- metido a um processo de hu- manização perene. Apenas os seres humanos modificam vo- luntariamente o próprio corpo, ornamentando-o e introduzin- do nele alterações temporárias ou definitivas como extração de dentes, piercings, depilações e pinturas corporais. Essas alterações, sujeitas a grande variabilidade porque se processam no âmbito de gru- pos sociais específicos, cada qual com sua cultura, marcam e reafirmam status, identidades nacionais, etárias, religiosas, ocupacionais, de classe, de gê- nero etc. Usualmente, as modi- ficações introduzidas no corpo se conformam aos ideais esté- ticos de cada sociedade e de seus diferentes subgrupos. Renato da Silva Queiroz Antropólogo e Professor revistasensatez@sbd.org.br
  • 11. 20 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 21 MIMETISMOS Por Severino Gomes SBD.ORG.BR O humorista Chico Anysio encarnava-se num dos seus personagens para se tornar um velho profeta. Rosto fixo num ponto distante, quando não no mais íntimo do interlocutor. Serenidade e ironia. Voz grave e barba de contemplador. Sintetizava as lições em pesadas e penetrantes frases. Todos os que o ou- viam, ficavam extasiados, suspensos no ar. Ele concluía sempre dizendo: “Podem ficar à vontade!” Um dia, chegou a ele um grupo de eruditos pes- quisadores, diplomados estudiosos do homem. Le- vantaram questões referentes aos preconceitos vol- tados para a coloração da pele. Ele fixou bem cada um, buscou no horizonte e, de súbito, quis saber deles: “O que vocês sabem sobre a cor da pele de Deus?” Veio o silêncio. Vieram dúvidas e inquieta- ções. Veio o bordão, mas ninguém ficou à vontade. A pele do homem devia ser o que já nasceu sen- do: a carteira de identidade; a sala de estar; o jardim ou a vitrine da alma. A pele traz a cor da camisa do usuário torcedor na estrada da vida! Nós, brasileiros, encarnamos com os amarelos, com brancos europeus; encarnamos com os ne- gros. Mas nunca aceitamos torcer pelo time deles, sobretudo destes últimos. Nos aproximamos des- confiados: e esse negão, aí?... Nossa cultura assimilou bem o preto como depri- mente. Inferior. Símbolo de luto. Não vimos, nossa formação escravista impediu de ver nas pessoas de cor preta um símbolo de luta! Inventamos mil piadas. Negro quando não isso, faz aquilo... e ao se chegar a este estágio, a coisa está preta. Ops! Por que não estaria cinza, marrom, verde?... Nosso imaginário caracterizou e pintou de preto coisas de que não gostamos. O diabo nem é tão feio como pintam e é preto. Peça ao doutor, ao senso co- mum, ao operário, ao Presidente... todos pintarão o diabo de preto. Até o presidente operário! Foi isto o que nos ensinou o branco! Hoje, até pode ser que digam que preto correndo é artilheiro ou coisa que o valha. Há poucas décadas, branco correndo era campeão! E preto?... Veja, você facilmente achou a rima! O preconceito é terrível. Jamais chegará a ser ci- ência. É certeza incerta. Não vale nem como hipótese de trabalho. Fazer o quê? Há casos em que é um soco no queixo, uma cama de gato. Todo preconceito devia ser pênalty. A propó- sito, nos tempos de Pelé, dizia o palmeirense exalta- do: “não tenho preconceito, mas um nego daquele fazer mil gols!?” Aliás, pele e Pelé são realidades inter- dependentes, elos que se entrelaçam. A pele de Pelé faz Pelé ser o que é! Alguém quer distinguir um negro? Basta tão so- mente dizer que “ele tem alma branca!” No Brasil do faz de conta, outro dia criaram uma lei, um tanto preconceituosa, que proibiu bulir com negro... Parece que ela não pegou, mas consegue acirrar a luta entre pretos e brancos... Será virtude, ou farsa, virar camaleão? Só a lei do amor supera a visão míope das coisas. O poeta Jorge de Lima disse que “trazia no seu san- gue o pigmento das raças mais distantes”. Jorge construiu “o poema do Cristão” onde des- cobriu que “sou velhíssimo e apenas nasci ontem”. Precisamos saber da cor da pele de Deus e, então, como queria o profeta, podemos ficar à vontade!!! S INTERFACE Severino Gomes Escritor , Filósofo e Professor revistasensatez@sbd.org.br
  • 12. Brasil é hoje proclamado o País da diversidade ét- nica. Tal diversidade foi construída historicamente, aos poucos, desde o descobrimen- to até os dias atuais. De início, o indígena – habitante original do território –, com sua pele ama- relada, depois, nos inícios do século XVI chega da península Ibérica o colono branco portu- guês. Em seguida, vêm os pre- tos vindos de várias partes da África , aprisionados pelo siste- ma escravocrata, que foi elimi- nado somente no final do século XIX. Esse desenho de cores (in- dígenas, brancos e negros) ape- nas é desmanchado em 1908, tima na escala do IBGE, desliza do critério de cor – que é funda- mentalmente biológico- racial, para o plano étnico-cultural. Essa quebra de princípio clas- sificatório em termos de cor de pele explica- se tanto pelo grande número e ampla diver- sidade dos grupos indígenas ainda existentes no país como pela dificuldade em nominar as cores ou a cor desse Bra- sil tão presente na história e tão ausente do cotidiano de certas áreas do país. Na região amazônica, a percentagem dá vanta- gem à categoria indígena, com pequenas manchas de negros e mestiços pro- venientes do Nordeste. Essas manchas podem ser detectadas também no Sudeste e em parte do Brasil central. Em síntese, a distribuição dessa diver- sificada população pelo territó- rio brasileiro é absolutamente ir- regular e heterogênea, dando a impressão (falsa) de que ela foi feita aleatoriamente. Na verdade, há um padrão na distribuição espacial dessa pluralidade. É um padrão de caráter socioeconômico, ape- nas indiretamente ligado às ca- racterísticas biológicas desses diferentes segmentos popula- cionais. Esse padrão foi cons- truído historicamente a partir dos ciclos pelos quais passou a economia brasileira: o ciclo da cana-de-açúcar, o da mi- neração e o da grande lavou- ra (café). Somando-se a esses três macrociclos, o País passou pelo menos por dois outros ci- clos menos expressivos: o ciclo do trigo, tendo como cenário a então província de São Paulo, e o da borracha, na região ama- zônica. Esse painel marcado pela diversidade de raças, cores e culturas, visto hoje como na- tural, já polarizou no passado o Brasil,definindo um Brasil de pele branca e um Brasil de pele negra. A história do negro no Bra- sil é marcada pela persistência e luta desse segmento étnico para se livrar do estigma asso- ciado a seu passado de ser es- cravizado e à cor de sua pele, a fim de ocupar o lugar que jul- ga ter direito na estrutura social brasileira. Essa luta, com ou sem a cumplicida- de do branco, passa por várias fases. Em síntese, a partir de 1970, o Brasil em branco e preto é redesenhado no plano político ideológico por brasileiros que se au- todefinem como indivíduos de pele negra sem nuanças todos ansiosos por elimi- nar os entraves reais e os estigmas simbólicos que historicamente colocaram o “homem de cor” num quadro, desde sempre, de subalternida- de social. De certa forma, esse redesenho arranha o perfil de uma sociedade que se orgulha de sua diversidade étnica, que pode ser traduzida como diver- sidade de cores que tingem as peles dos brasileiros. 22 | Revista Sensatez INTERFACE Por José Baptista Borges Pereira com a chegada de imigrantes classificados numa quarta cor: a amarela. É grande o fluxo imi- gratório representado, de início, pelos japoneses, e hoje, a partir da II Guerra Mundial, pelos chi- neses e, principalmente, pelos coreanos. Essa composição que tinge o Brasil de quatro cores entra pelos caminhos dos meios- -tons, dado o histórico proces- so de miscigenação entre es- ses segmentos populacionais. Atualmente, o censo brasileiro capta e enquadra esse painel de cores em cinco categorias: branco, preto, pardo, amarelo e indígena. Tais categorias re- têm apenas a cor da pele pre- dominante de indivíduos para colocá-los em grupos “étnico- -raciais” específicos, ignorando a eventual diversidade que cada um desses grupos contém. A categoria pardo é um rótulo que serve para englobar as cores misturadas pelo processo de mestiçagem. Nessa categoria estão englobados os mulatos de vários tons, resultantes da miscigenação entre os brancos e pretos; o mameluco, produto do cruzamento entre brancos e índios; o cafuzo, da união ge- nética entre brancos, negros e índios. Já a categoria indígena, a úl- ESSA COMPOSIÇÃO QUE TINGE O BRASIL DE QUATRO CORES ENTRA PELOS CAMINHOS DOS MEIOS-TONS, DADO O HISTÓRICO PROCESSO DE MISCIGENAÇÃO ENTRE ESSES SEGMENTOS POPULACIONAIS. ” AS CORES DO BRASIL Indígena: Habitante original do território brasileiro. Chega da Penínsola Ibérica o colono branco português Aprisionados pelo sistema escravocrata, chegam os negros vindos da África. Brasil recebe ondas migratórias de Italianos. A raça amarela representada pelos orientais completa a miscigenação brasileira. A diversidade de cores tingem as peles dos brasileiros. Revista Sensatez | 23 XV XVI XVI XIX XX XXI SÉCULO SÉCULO SÉCULO SÉCULO SÉCULO SÉCULO O José Baptista Borges Pereira Antropólogo e Escritor revistasensatez@sbd.org.br S GEORGIOSKOLLIDAS/SHUTTERSTOCK.COM SBD.ORG.BR
  • 13. 24 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 25 SBD.ORG.BR SHUTTERSTOCK Os nossos corpos têm cor? Se os corpos têm cor, o que significam as cores do corpo? Que relação há entre o corpo e a cor ou entre a biologia e a alma para a maioria dos brasi- leiros? No contexto histórico, o corpo representa lugar de ambi- guidade e transformação. Na África do Sul os cor- pos negros, brancos e mesti- ços foram dispostos em uma hierarquia na qual os últimos eram os mais poluidores, destituídos de poder e perigosos para a Por Yvonne Maggie nas, olhos, boca e coração, sexo e o que mais houver de universal, há espaço para a construção de inúmeros signifi- cados. O exemplo da África do Sul em comparação com o do Bra- sil é interessante porque apon- ta para o limitado, porém vasto universo de sistemas classifica- tórios que nos leva a vidas tam- bém muito diversas. Na África do Sul, mesmo com o fim das leis raciais, mes- mo com o fim do regime do Apartheid, os casamentos mis- tos são ainda raros e cheios de impedimentos morais. Na África do Sul pós-Apartheid, a mudan- ça se deu no sentido de produzir uma migração de todos os não brancos para o grupo dos ne- gros, e com vantagens devido às ações afirmativas. As velhas diferenças parecem ter ido pa- rar debaixo do tapete. No Bra- sil, ao contrário, os corpos se tornam mais mestiços como mostram as estatísticas. Os corpos escultu- rais das jovens e lindas mu- lheres como Taís Araújo e Izabel Filardis revelam que o corpo é capital nesse nos- so universo de brasileiros de todas as cores que prefere a mistura, ao que separa e se opõe. Apesar disso, querem cons- truir aqui um país de leis raciais em nome de um princípio de realidade, a realidade das desi- gualdades, do preconceito e da preterição. O chamado Estatuto da Igualdade Racial, aprovado por um acordo de lideranças na Câmara e no Senado, e sancio- nado pelo presidente Lula em 2010 obrigará o Estado a levar em conta a “raça”, agora cha- mada de “etnia”, dos indivíduos nas políticas públicas, na edu- cação, na saúde, no emprego e nas empresas. Pela lógica, to- dos os cidadãos terão de se de- finir pela cor da sua pele e não pelo seu caráter, diferentemente do sonho do Prêmio Nobel da Paz, Martin Luther King . No entanto, esses que pregam o fim do nosso mito de A COR DO CORPO INTERFACE origem em favor de uma socie- dade “racializada” não podem negar o universo dos desejos dos brasileiros no qual tem pre- valecido a regra que possibilitou a produção de corpos versáteis, misturados, ambíguos. A sim- ples existência do crescimento do número dos autodeclarados pardos, misturados, pode ser a prova viva de que o desejo pelo diferente racialmente, embora socialmente (in) desejável, não foi reprimido por meio de leis e o fruto dessa união não foi conde- nado. É esse corpo produzido por desejos reprimidos embora não cerceados por lei que fala mais do caráter do que da cor dos brasileiros. nação. No Brasil, ao contrário, o desejo, embora reprovável, não condenou o fruto das uni- ões policromáticas que acabou sendo enaltecido. Não só aqui no Brasil nunca houve lei proi- bindo casamentos mistos ou relações afetivas e sexuais entre corpos de cores ou “raças” dis- tintas, como se elegeu o fruto dessa união como a vitória dos princípios universais, aqueles da Revolução Francesa que di- zem que todos os homens são iguais. Os filhos dessas uniões eram também geralmente reco- nhecidos legalmente. Falar de corpos e cores e de seu significado é acreditar que as cores são ou carregam significados e assim como a “raça” não são catego- rias com um único sentido. Há significados distintos mesmo sendo as cores limitadas pelo espectro e pela emissão de mais ou menos luz, e os corpos também constrangi- dos pela biologia, com braços, p e r - Yvonne Maggie Escritora e Antropóloga *Publicado no livro Corpo, envelhecimento e felicidade, organizado por Mirian Goldenberg, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011 S
  • 14. 26 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 27 SBD.ORG.BR Destacamos que, ainda assim, é notório que após mais de três séculos de colonização portuguesa, a cultura brasileira é fortemente in- fluenciada pela raiz lusitana. No entanto, essa complexidade do povo brasileiro também foi his- toricamente marcada por conflitos e desigualda- des que ainda não foram superadas. Na atuali- dade, o nosso universo conceitual é dominado por palavras que ocupam posição de destaque na mídia, nas rodas de conversa, nos meios aca- SHUTTERSTOCK INTERFACE Prof. Flávio Romero Guimarães dêmicos e até nos marcos legais das diversas Políticas Públicas Sociais. Palavras como diver- sidade, inclusão e multiculturalismo estão na or- dem do dia. Portanto, atualmente, o nosso maior desafio é conviver com essa diversidade alicer- çada no respeito, na tolerância e na igualdade de oportunidades. Historicamente, temos uma dívida social com grupos étnicos importantes na formação da nossa matriz identitária, a exemplo dos negros e índios. A escola não é uma célula isolada da tessitura social. Na escola, os conflitos e desigualdades do mundo externo muitas vezes são potencializa- dos. O ambiente escolar é uma “caixa de resso- nância” da realidade social externa. Os múltiplos atores da realidade do chão da escola são os mesmos que atuam em outros cenários no “pal- co” da vida. Todos, irremediavelmente, trazem ao ambiente escolar as suas leituras de mundo e as suas ideias prévias, fortemente determinadas pelo contexto sociocultural, econômico e até reli- gioso em que vivem. A escola, portanto, tem papel fundamental na mediação de todas essas diferenças que carac- terizam a formação do povo brasileiro, que se fazem presente no cotidiano escolar, como res- sonância da realidade externa. Aos educadores, portanto, agrega-se essa missão cidadã de con- tribuir no seu fazer pedagógico para a superação das desigualdades, da intolerância, do precon- ceito e da discriminação. Ao Estado como ga- rantidor dos Direitos Fundamentais, cabe criar os instrumentos, inclusive de caráter normativo, que possam fomentar a ambiência de transformação da realidade social, ainda marcada pela desigual- dade, intolerância e preconceito. Diante dessa realidade, é pertinente um questionamento: qual o papel da escola na mediação e enfrentamen- to desse desa o povo brasileiro, segundo a antropologia tradicional, não forma um grupo étnico único e homogêneo. A formação do nos- so povo constitui uma história de longa duração e de múltiplos atores. Mas, se há uma palavra que pode sintetizar a realidade identitária do povo brasileiro é diversidade. A diversidade de cores, fisionomias, costumes e tradições da nossa gen- te, encontrada em raros lugares do mundo, faz do Brasil um país admirado. É, portanto, correto afirmar que o povo bra- sileiro é composto por diversos grupos étnicos, formados, principalmente, por descendentes de povos indígenas, colonos portugueses, escra- vos vindos da África e de imigrantes europeus. Neste sentido, os tipos mestiços – crioulos, ca- boclos, sertanejos, caipiras e sulinos, conforme classificação do etnólogo Darcy Ribeiro (O Povo Brasileiro, 1996), constitui o caldeamento único e o cerne melhor de nosso povo. Devido a esta mestiçagem, os brasileiros possuem uma rique- za de diversidade cultural que deixam marcas profundas na música, na culinária, no folclore, nas festas populares e até na religiosidade. Esse mosaico cultural de múltiplas vertentes faz do povo brasileiro ímpar, único e admirável. A realidade desse caldeamento de etnias, bem como o realce da mestiçagem como carac- terística fundamental da formação identitária da nossa gente tem sido cada vez mais marcante. 0,2% 1% 8% 43% 48% 817 mil Indígenas 2,1 milhões Amarelos 14,5 milhões Negros 82,2 milhões Pardos Brancos 91 milhões Fonte: Censo Nacional de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Brasil de Múltiplas Etnias Pela primeira vez, o número de brancos não ultrapassou 50% da população e este percentual vem caindo nas últimas décadas. Essa tendência de queda no percentual de brancos no Brasil, se deve à revalorização da identidade histórica de grupos étnico-raciais historicamente discriminados. O CALDEAMENTO DAS MÚLTIPLAS ETNIAS O
  • 15. 28 | Revista Sensatez INTERFACE Neste sentido, importante avanço foi a implantação da Lei nº 10.639/2003, alterada posteriormente pela Lei nº 11.645/2008, que determina a obri- gatoriedade da inclusão do estudo de História e Cultura Afro-Brasileira e Indí- gena nos currículos oficiais das Redes de Ensino. Esta Lei se assenta no marco do Estado Democrático de Direito, nota- damente nos princípios da diversidade e do pluralismo cultural, como pressu- postos do reconhecimento e respeito à dignidade humana e à sua identidade cultural, assim como da igualdade de valorização das múltiplas culturas que compõem a formação social brasileira, contribuindo dessa forma, com a supe- ração da desigualdade, do preconceito e da discriminação, promovendo o ho- mem e a vida. Da escola, a sociedade espera mu- danças desejáveis à formação de uma sociedade justa e igualitária devendo ter, segundo Paulo Freire, “Compromisso com o destino do país. Compromisso com seu povo. Com o homem concre- to. Compromisso com o ser mais des- te homem”. Portanto, que a construção dessa bela nação, justa e igualitária, seja a nossa missão comum. Seja o nosso sonho novo, cotidianamente acalentado. A nossa nova utopia, a ser buscada por toda a vida. Prof. Flávio Romero Guimarães Professor Universitário prof.flavioromero@terra.com.br S
  • 16. 30 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 31 PERFIL SBD.ORG.BR Por Ribamildo Bezerra e Júlia Costa e afirmarmos que Isabel Fillardis é uma mulher de vinculação étnica, não estaríamos cometendo nenhum equívoco. Derivado do termo grego ethnos, etnia quer dizer povo, no sentido de “estrangeiro”, onde na época referia-se a povos não-gregos. Neste contexto, Isabel pode ser considerada uma estrangeira, por romper impor- tantes fronteiras do mundo do entretenimento. Enquanto a mídia se sustenta pela força de um glamour, Isabel se mostra de carne e osso, socialmente engajada, envolvida em sonhos e ideologia que a fazem uma mulher surpreendentemente mais bela. Sua luta simboliza a de todas as mulheres que, além de assumirem os papéis básicos da vida – mãe, esposa, filha, profissional etc –, ainda conseguem tempo e disposição para ir além, como se dedicar a projetos sociais e ambientais. Isabel está à frente de uma das maiores organizações de coleta seletiva de lixo do Brasil, a Doe Seu Lixo. Foi através desta organização, inclusive, que Isabel coordenou com exclusividade a coleta seletiva de todo o Rio+20. A cultura e o exercício da sensibilidade da alma, foi aos 17 anos, quando Isabel abraçou o primeiro papel como atriz na televisão. E de lá para cá, vários papéis se sucederam na sua vida artística. Atualmente, está com projetos para o teatro, como atriz e diretora. E não deixa de lado seus projetos com cinema. No dia em que esta entrevista foi realizada ela estava a caminho do Festival de Cinema do Ceará. A mãe de Analuz e Jamal Anuar conta um pouco mais sobre seus projetos, realiza- dos e sonhados, de cunho artístico e social, na entrevista exclusiva que deu à revista Sensatez. AS RAÍZES DE UMA MULHER DE RAÇA FOTO: IGOR RODRIGUEZ S
  • 17. 32 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 33 A Sociedade Brasileira de Dermatologia nesse ano que completa seu centenário desenvolveu um projeto intitulado “Laços de família: etnias do Brasil”, com o propósito de valorizar a mistura de raças e os dife- rentes tipos de pele do brasileiro. Você conhece seus antepassados? Qual é a origem de sua família? Há muita mistura? Do que eu conheço, sei que tenho descendentes de índios, pela minha família materna do Espírito Santo e da minha família paterna, baianos, negros baianos e italia- nos. Meu bisavô era italiano, inclusive. É muito esclarece- dora essa mistura, não só minha, como de tantos outros brasileiros. Saber que ela existe pode mudar a mentalida- de das pessoas quanto ao preconceito. Mesmo num país tão antigo e miscigenado quanto o nosso, ainda temos problemas com as diferenças, se- jam elas em relação ao sexo, à cor, à origem... Quais valores você considera importante passar para os seus filhos, para que eles possam viver num mundo mais justo? Primeiro, acredito que é importante eles entenderem a origem deles, tanto miscigenada, quanto social. Entender que tudo o que a gente constrói é com muito esforço, muito trabalho e que isso vale a pena. Porque a facilidade de conseguir as coisas não é legal. Ela pode acabar inter- ferindo na índole, no caráter e estragando a pessoa. Eu sou da religião Espírita por influência da minha família e os valores humanos foram norteando minha vida, em questões de fazer o bem, fazer caridade, saber dividir, distribuir. Aprendi muito com minha família, mas muito também com minha ancestralidade. Quero que meus filhos saibam de onde eles vieram. Como vieram. Minha avó, por exemplo, era baiana. Nasceu em Cacho- eira, uma cidade mística. Os navios negreiros chegaram lá, ancoraram lá. Eu quero que eles saibam disso tudo. Você tem dois filhos, a Analuz e o Jamal Anuar. O que mudou na sua percepção de convivência ao saber que o seu segundo filho, Jamal, era portador da Sín- drome de West? Como cada um deles mudou a sua vida? Meus filhos me amadureceram muito. Me fizeram mulher de fato. Porque você educar, gerar uma criança, um ser, é algo inexplicável. Você acaba vivendo não só por você, mas por eles. Quando a a gente é jovem, é um pou- co egoísta porque só pensa na gente. Quando você casa, monta família e é mãe, tudo muda: o olhar da vida, o foco, o objetivo... Você faz planos para você e para eles. Ainda que eles tenham as suas escolhas, você prepa- ra um alicerce. Tudo isso me mudou muito e fez com que eu ficasse uma pessoa ainda mais ponderante, gene- rosa. Principalmente depois da chega- da do Jamal. Foi mais profundo ainda, da questão da essência do ser huma- no, de enxergar as pessoas como são, entendê-las com seus defeitos e suas virtudes. Quais foram suas intenções em criar os projetos sociais A Força do Bem e Doe seu Lixo? Quando resolvemos criar a Força do Bem o Jamal tinha dois anos e estava entrando numa fase boa, depois do diagnóstico da Síndrome de West. As crianças com essa síndrome têm muita crise convulsiva e ele, após os dois anos, parou de ter. Foram diversas conquistas motoras e cognitivas. A Força do Bem foi criada, então, para dividir essas experiência e informa- ções que adquirimos com outros pais e mães que tinham filhos especiais. Nós os direcionamos para hospitais, para que consigam atendimento e agimos no direcionamento das famílias. Quanto ao Instituto Doe seu Lixo, o que me motivou foi minha filha. Quan- do ela nasceu, li uma matéria sobre todos os problemas que o mundo estava enfrentando por conta da po- luição e outras ações inconsequentes dos homens. Eu tive esse despertar, então, quando fui mãe. Falei com meu marido que devíamos fazer alguma coi- SBD.ORG.BRPERFIL DIVULGAÇÃO
  • 18. 34 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 35 SBD.ORG.BR ” Eu, digo por mim, não gostaria de ser colocada por cota, mas pela minha capacidade. PERFIL sa, que aquilo prejudicaria nossos filhos, por exemplo, e tantas outras pessoas. Meu marido, começou a me ajudar com essa ideia, estudando como o lixo poderia gerar renda. Começamos a entender o que é reciclagem, coleta seletiva... Aí estudamos uma forma de criar o projeto e envolver empresas e pessoas da sociedade. Buscamos moradores de rua para colocar neste projeto, com o intuito de mudar as duas realida- des, social e ambiental. Através desse projeto conseguimos multiplicar nossa tecnologia no país todo e criar um projeto diferenciado. Veio, então, o Rio+20. Fomos convo- cados pouco a pouco para fazer a coleta seletiva de alguns polos. De repente, nos vimos fazendo a coleta de todos os polos. O presidente da PNUMA, principal autoridade global em meio ambiente, nos fez uma visita e ficou encantado. Disse que tudo o que ele prega, tudo o que ele fala dentro do que é economia verde é o que fazemos. Ficamos orgulhosos de poder estar fazendo algo assim, de estar no momento certo, fazendo a coisa certa. Há alguns anos você apoiou a iniciativa da promo- tora Deborah Kelly sobre o projeto de cotas para negros na São Paulo Fashion Week. Como você vê projetos como este e o de cotas para negros em universidades? Existem dois olhares diferentes. O primeiro, eu diria que é o seguinte: o negro vem sendo marginali- zado desde a época da escravidão e acabou que ele ficou à margem da sociedade e isso atinge a grande maioria pobre. Com isso, ele tem dificuldade de ter um ensino de excelência para que possa exercer uma faculdade. O ensino fundamental dele não foi de base e por isso não passou. A questão das cotas ajuda no ensino e no mercado de trabalho porque o empresá- rio acha que o negro não tem capacidade de gestão e acaba não contratando um negro por causa disso. Ainda que ele seja melhor. E tem o outro olhar, de que, por exemplo, existem os negros que são capazes e que não querem passar por causa da cota, mas porque ele teve a oportunida- de – ou buscou a oportunidade – de estudar e sabe fazer. Ele não quer ser convocado por causa da cota. Eu acho que esses olhares se chocam até hoje. Eu, digo por mim, não gostaria de ser colocada por cota, mas pela minha capacidade. Me daria mais orgulho, mais felicidade de saber que eu fui por minha capacidade, nao porque sou negra. Mas eu entendo que para que algumas coisas aconteçam, a cota teria um papel benéfico, por isso sou a favor. Já perdeu ou ganhou oportunidade por ser negra? Isso acontece bastante. Na época que eu era modelo, quando não era eu a escolhida, era outra negra, pois sempre tinha que ter UM negro e UMA negra. Depois isso mudou, mas aí eu já era atriz. Aí eu entrava no papel negro da história. E era um problema porque se fosse novela de época e não fosse no contexto da escravidão, o negro não era representado na história. Se a novela era contemporânea, tinha que dar sorte do autor ou diretor querer trabalhar com você pelo seu talento. Eu diria que sou uma pessoa de sorte, pois apareci no momento certo. Me destaquei no primeiro papel que fiz, que foi a Ritinha, de Renascer. Era um papel carismático, que me projetou no Brasil todo. FOTO:IGORRODRIGUEZ
  • 19. 36 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 37 SBD.ORG.BR Se tomarmos a definição de preconceito, como uma ideia concebida sem prévio conhe- cimento, na sua opinião, poderíamos dizer  que o preconceito sobre raças e culturas no Brasil ainda é vigente? E qual seria a raiz do mesmo, desconhecimento ou má fé na disseminação de ideias sobre diferenças? É bem por aí. É pura falta de conhecimento. É preciso parar para estudar, para conhecer nossa história, entender quem são de verdade os negros que vieram para o Brasil ... Ninguém conta de fato como a história acon- teceu; que os negros eram príncipes, que tinham famílias, terras na África, que foram arrancados de lá. Só se conta que os negros foram trazidos, mas e antes? De onde eles vieram? É uma história muito cruel e ela sendo contada modificaria toda a auto-estima do negro brasileiro. Você é mãe, esposa, sempre se dedicou a pro- jetos sociais e trabalha desde os 11 anos. Qual é seu segredo para lidar com tudo? E o que faz para manter-se bela? Eu tive uma boa educação. A minha família à minha volta foi fundamental para eu ter estrutu- ra de suportar a distância. Hoje, eu conto com pessoas que trabalham comigo, uma cozinheira, uma arrumadeira, duas babás. Minha mãe e meu pai e meu marido me ajudam muito. Isso me deixa segura para tocar minha carreira e meus projetos sociais. Minha família toda exerce função nos dois projetos. Isso faz com que consigamos ir adiante. Sobre continuar bela, é preciso muito esforço. Tenho que encontrar tempo para ir ao pilates, ir à minha orto-dentista – tenho bruxismo quando estou muito tensa. Até durmo com aparelho por causa do bruxismo. Estou sempre na dermatolo- gista, com consulta semanal. Ano que vem você completa 40 anos. Quais projetos pessoais e profissionais estão em an- damento e quais você ainda pretende realizar? Nossa! Ano que vem faço 40 anos? Ainda não pensei sobre isso. Hoje estou com alguns projetos para o teatro, como atriz e como produtora. Estou fazendo parceria com a Sarau Agência para remontar o Pererê, do Ziraldo. Eu par- ticipei em 2003 como atriz e agora quero remontar como produtora. Estou lendo alguns textos para teatro, musicais e co- média. Quero muito fazer algo voltado para comédia. Estou a espera da Cor Púrpura, um espetáculo da Broadway, que deve chegar aqui no próximo semestre. Hoje estou indo para o Festival de Cinema do Ceará. Quero muito voltar a fazer cinema também. E quanto à TV, estou a espera de um convite para novela. No âmbito sócio-ambiental, em no- vembro deste ano teremos um evento chamado Rio Eco Moda. É um projeto que faremos em novembro, dentro do instituto Doe seu Lixo, onde teremos uma mesa redonda para colocar moda e sustentabi- lidade dentro do mesmo patamar. Vamos ter desfile, mostra de produtos feitos com reciclagem. A ideia é fazer com que esta questão vire moda e se torne ferramenta de divulgação de informação. Quais sãos os próximos desafios sociais da Isabel Fillardis? O Rio Eco Moda é um deles. Penso na possibilidade de virar empresária e criar algo neste sentido. Ainda nao sei dizer o que especificamente, porque estamos na fase de pesquisas. Mas acredito que acon- teça algo neste sentido. Estou também vivendo o desafio como produtora cultural e espero que venham muitos outros! Depois do Rio+20 acredito que eu vão ter outras responsabilidades. Na última semana, por exemplo, participei de um projeto do Ministério do Meio Ambiente com a presidente Dilma e a ministra, que fizeram uma conferência sobre sustenta- bilidade. Quem sabe não sai algo dessa proximidade com o Ministério do Meio Ambiente. É o que a gente sempre quer! Parcerias produtivas! S Ribamildo Bezerra e Julia Costa Jornalistas revistasensatez@sbd.org.br DIVULGAÇÃO 36 | Revista Sensatez PERFIL
  • 20. 38 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 39 SBD.ORG.BREQUILIBRIUM ivemos numa sociedade que olha o corpo mais no sentido con- sumista; um corpo que se mostra cada vez mais trabalhado nas academias, na praia. Mas esse corpo que adoece e que, através da doença, está falando que alguma coisa não está funcionando bem em termos gerais, precisa ser ouvido e entendido. A biodança é um trabalho de grupo que utiliza no primeiro momento, a palavra e posteriormente a vivência corporal. Os exercícios passam por várias linhas de vivência: o canal da vitalida- de, da sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência. Se alguém sofre de depressão, de desânimo, de falta de objetividade, trabalhamos com exercícios que falam e estimulam essa vitalidade. Depois, mexemos com o canal da criatividade. Vivemos um padrão social, uma educação, que tem o objetivo de dar forma para que as pessoas se enquadrem. E a criatividade é sufocada demais neste sentido. A pessoa tem vergonha de mostrar algo diferente. É preciso que ela resgate sua verdadeira for- ma de ser, de fazer as coisas do seu jeito. Não só no sentido artístico, mas na vida mesmo. Na linha de vivência que passa pela sexualidade, trabalhamos o resgate do prazer na nossa vida. Não é só a sexualidade genital, mas um erotismo da vida como um todo. No canal do afeto, o objetivo é resgatar a sensibilidade do ser humano para o cuidado consi- go mesmo, com o outro, com o planeta. O objetivo é recriar este vínculo afetivo. Na linha da transcendência, a proposta é entrar na dimensão divina e repensar o sentido existencial da vida. É preciso redi- mensionar os sentimentos amorosos e afetivos. Depois dessas vivências, exploramos a intimidade verbal, que é quando abrimos este espaço para que as pessoas possam conversar sobre os momentos vivenciados. Vivemos numa sociedade que está cada vez mais descuidada com as coisas. Um exemplo são as inúmeras reportagens sobre como as cidades estão sujas porque as pessoas jogam o lixo em qualquer lugar. Isso é reflexo deste descuido, desta doença afetiva. É da mesma forma que se jogam palavras e o descuido acontece com atitudes grosseiras. Ao contrário, resgatando o afeto, você consegue começar a mudar isso para você, começa a se cobrar e cobrar do outro uma nova posição. Deixar-se tocar é fruto de uma educação. Uma família que tem muita permissão para o contato tem crianças, naturalmente, mais abertas para isso. Se dentro da própria família o contato já é uma coisa difícil e restrita, a criança vai criando essa limitação. Muitas vezes as pessoas chegam extremamente fechadas e com doenças, como o pânico, por exemplo. O pânico é o medo de tudo, inclusive do outro. Todo mundo passa a ser uma ameaça. As vivências que podem ser construídas são inúmeras. Trabalhamos o toque, o afeto, a criatividade e o amor...contribuindo dessa forma para uma vida mais saudável e feliz ! S SHUTTERSTOCK Por Maria Dulce Mattoso V Maria Dulce Mattoso Psicóloga e Escritora revistasensatez@sbd.org.br TOCADOS PELA BIODANÇA
  • 21. 40 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 41 SBD.ORG.BR Por Rossandro Klinjey Irineu Barros Rossandro Klinjey Irineu Barros Psicó revistasensatez@sbd.org.br THINKSTOCK EQUILIBRIUM a busca incessante por novas fontes de identificação pessoal, o ser humano tem investido de forma frenética e exagerada no corpo. São crianças, jovens, adultos e velhos, numa busca desenfreada para manter-se nos padrões estéticos alucinantes e destrutivos dos meios de comunicação. A sociedade ocidental, com forte influência, sobretudo do cinema, estabeleceu um padrão estético nórdico, loiro(a), branco(a), olhos azuis, como o símbolo máximo de beleza a ser seguida. Esse modelo encontra seus primeiros referenciais nas pinturas europeias, nas quais até mesmo um clássico homem judeu de cabelos negros e pele morena, é representado por um homem branco e de cabelos e olhos claros, que é Jesus. E Ele sai das pinturas e esculturas clássicas para as telas do cinema sendo apresentando como um euro- peu, e não como um hebreu do oriente médio. Esse padrão, reforçado historicamente por personagens que vão das celebridades do ci- nema hollywoodiano, passando pela boneca Barbie, paquitas e suas afins, cria um modelo etnocêntrico que descaracteriza outros modelos, gerando nas demais culturas e etnias um desejo de se aproximar dessa estética europeia, como vemos no afã de orientais para realizar cirurgia que visam “ocidentalizar” os olhos, ou a guerra constante por alisar os cabelos, algo que ficou cristalizado em mim quando, ao término de uma sessão de psicoterapia uma paciente comentou: depois da consulta estou indo para o salão de beleza “lembrar” aos meus cabelos que eles são lisos! A influência do meio na formação do concei- to de belo sobrepuja, muitas vezes, a percep- ção pessoal que temos da beleza, posto que ela se inscreve dentro das referências culturais nas quais estamos inseridos, sendo, portanto, uma conquista dentro do grupo social ao qual perten- cemos. Todavia, é uma busca sem limites e inal- cançável, uma vez que a perfeição não é factível e nem sequer é definida pela cultura. O que vemos na verdade é uma cultura es- pecífica, a branca-ocidental, eleger seu padrão como o mais belo e, através dos aparelhos ide- ológicos de que dispõe, da arte aos meios de comunicação, ela pretende impor esse modelo como meta para as demais etnias. Todavia, num mundo cada vez mais multicul- tural, esses padrões estão sendo questionados, de modo que o belo é percebido em todas as raças. Nas particularidades de cada grupo étni- co, veem-se as expressões sensíveis e únicas da beleza que transcende padrões ditatoriais esta- belecidos. A contribuição da dermatologia na descons- trução dessa visão etnocêntrica da beleza é in- discutível, posto ser o dermatologista um dos profissionais que mais lida com a angustiosa busca do belo por pacientes que muitas vezes desrespeitam os limites do próprio corpo, sem se darem conta da necessidade de consolidação dos recursos emocionais que os permita enxer- gar o belo de forma mais ampla, evitando assim o aprisionamento aos padrões inalcançáveis. Nada mais justo de que manter o corpo são, desde que a mente também esteja sã, mas não é o que tem acontecido. Para manter esse corpo, não diria são, mas nos “padrões”, a nossa psi- que tem pagado um alto preço, quais sejam: que ninguém consegue ser perfeito, e essa busca gera uma frustração constante. Há uma distância entre a busca estética saudável e necessária, o cuidado equilibrado com o corpo e a busca an- gustiante de uma perfeição que nos escraviza. Por Rossandro Klinjey Irineu Barros A ESTÉTICA DO REAL E DO MITO S N
  • 22. econômico. Queremos também que esses talentos escondidos dentro das comunidades sejam reconhecidos, descobertos. Pre- tendemos ser – e já somos, na verdade -, um catalizador des- ses microempreendedores com talentos que ninguém conhece”, fala Alice, que já busca formas concretas de expandir seus ne- gócios pelo Brasil. E é assim que essa ex-advogada do mundo corporativo segue a vida: lutando para que sua ideia de um mundo melhor se torne realidade e acre- ditando que com um pouco do esforço de cada um de nós, sus- tentabilidade e ação social não serão somente palavras boni- tas, mas que simbolizarão nosso modo natural de viver. Diz a mitologia que a humanidade viveu um período de obscurantis- mo e guerras, prevalecendo a maldade e a inveja entre os homens. Zeus decidiu enviar Astrea, a mais pura de todas as Deusas para resolver a situação. Astrea impôs justiça e ordem entre os mor- tais.  Sua época foi conhecida como Idade de Ouro, a idade feliz, uma época de igualdade e harmonia. A palavra ASTA vem de As- trea, a Idade Feliz. 42 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 43 NATURALMENTE SBD.ORG.BR S Júlia Costa Jornalista revistasensatez@sbd.org.br advogada Alice Freitas é uma dessas pessoas que não desis- tem nunca, não importa o tama- nho do desafio que encontram pela frente. Aos 23 anos, quan- do já era graduada em Direiro pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e possuía uma carreira recente, mas con- solidada, numa multinacional americana de cosméticos, dei- xou tudo para trás para realizar um sonho: descobrir no mundo formas diferentes de mudar a vida das pessoas. A rede ASTA é primeira rede de venda direta de artesanato inclusivo no país, com todos os produtos feitos a mão por pe- quenos empreendedores. Alice conseguiu. A geração de renda ARTE INCLUSIVA é única no objetivo de contribuir para a redução da desigualdade social brasileira. Além de ofere- cer oportunidade a mulheres que estão fora do mercado de trabalho, capacitando-as para produzir e comercializar, a rede ASTA tem foco total na sus- tentabilidade, pela utilização de resíduos para a confecção dos seus produtos. Atualmente, a rede trabalha com 50 grupos produtivos, be- neficiando mais de 700 artesãs. E a logística de todo o negócio funciona assim: é feita a seleção de grupos produtivos formados por mulheres, moradoras de co- munidades (90% do estado do Rio de Janeiro e 10% em outros Estados); a ASTA oferece trei- namentos e apoio à criação das coleções; é realizada a escolha dos melhores produtos - entre acessórios, itens de moda e de- coração -, mais de 80% feitos a partir do reaproveitamento ou reciclagem de diferentes mate- riais; os produtos seguem, en- tão, para os canais de venda: catálogo, site (www.asta.org.br) ou empresas. A venda direta dos produtos é feita pelas Con- selheiras, termo usado para de- signar pessoas que acreditam no comércio justo e que podem aconselhar sobre a importância do consumo consciente. Desde 2008, a ASTA já to- taliza R$ 710 mil em renda ge- rada para os artesãos. A cada R$10,00 investidos por parcei- ros na Asta, R$ 2,00 retornam em renda direta para os grupos produtivos. A meta é conquis- tar ainda mais revendedores e consumidores, atrair parceiros investidores e replicar a ASTA para outras cidades do país nos próximos anos. Com a chega- da a São Paulo, prevista para este ano, a Rede quer aumentar consideravelmente o número de Conselheiras, incrementar em 30% seu faturamento e incluir grupos paulistas nos catálogos. Até 2015, a expectativa é apoiar 85 grupos, beneficiando mais de 1500 artesãs. “Nosso objetivo está se tor- nando realidade, que é tornar a marca ASTA numa referência de produtos com essa histó- ria de cunho social, ambiental e A rede ASTA, idealizada e fundada por Alice Freitas, transforma grupos comunitários em negócios sustentáveis Por Júlia Costa A POR QUE ASTA? www.asta.org.br rede_astawww.facebook.com/redeasta
  • 23. Receita extraída do livro “Na cozinha com Carolina”, Ed. Blocker Comercial Ltda. São Paulo, 2010. Revista Sensatez | 45 ara os que estão entrando em contato com este meu lado agora, saibam que minha paixão por cozi- nha é antiga. Começou há muitos anos, ainda pequena, na cidade de Goi- ânia, quando minha mãe fazia jantares pros amigos e ficava o dia inteiro às voltas com os preparativos. Sempre ado- rei o espaço da cozinha, pra mim o recanto mais caloroso e vibrante de uma casa. Minha paixão por essa alquimia che- gou ao ponto de algumas vezes eu sair sem destino pra provar qualquer coisa, voltar pra casa e, por pura pretensão, tentar reproduzir exatamente o que havia experimentado apenas com a memória do paladar. Confesso que poucas vezes acer- tei, outras errei profundamente, mas na maioria acabei fazendo a minha própria interpretação de tudo o que provava. P SABOR E ARTE Por Carolina Ferraz SBD.ORG.BR Modo de fazer Ingredientes Imagem ilustrativa 3 limões espremidos 3 tomates, picados bem miudinhos 1 cebola grande, picada bem miudinha ½ pimentão vermelho, picado bem miudinho caldo de frango reservado azeite de oliva extravirgem, a gosto sal e pimenta-do-reino, a gosto Misture todos os ingredientes e sirva em uma molheira à parte. NA COZINHA COM CAROLINA 2 kg de frango (peito, coxas e sobrecoxas) temperado com sal, alho, pimenta-do-reino e limão 5 xícaras de chá de arroz, lavado e escorrido 3 cebolas médias, cortadas bem miudinhas 2 dentes de alho grandes, espremidos 3 tabletes de caldo de galinha 1 colher de chá de açafrão (cúrcuma), em pó ou 1 ½ colher dele fresco, ralado fno 1 maço de cheiro-verde, picado 3 tomates maduros, sem pele e cortados miúdos Pimenta-do-reino branca, moída na hora, a gosto Sal e pimenta-de-cheiro, a gosto Óleo Numa panela de ferro grande, coloque um pouco de óleo e refogue os pedaços de frango (alguns por vez) até que eles fiquem bem corados. Coloque água o suficiente para cozinhá-los e ainda sobrar. Reserve o caldo e os pedaços de frango. Desosse-os e deixe alguns pedaços inteiros e mais bonitos para colocar por cima na hora de servir. Na mesma panela, coloque mais um pouquinho de óleo e refogue a cebola e o alho com 1 pimenta-de- -cheiro. Depois, refogue o tomate até desmanchar. Em seguida, coloque o arroz e, quando ele estiver bem refogado, junte o frango, o açafrão, a pimenta-do-reino, os tabletes de caldo de galinha e a água em que co- zinhou o frango, porém reservando ainda um pouco para o molho, o suficiente para cozinhar o arroz, deixando-o bem soltinho. Quando estiver quase seco, ponha os pedaços de frango que ficaram reservados e, por cima, bastante cheiro-verde e pimenta-de-cheiro para decorar. Sirva bem quente, acompanhada do seguinte molho: GALINHADA (OU ARROZ COM GALINHA) Serve 10 pessoas 44 | Revista Sensatez O mais legal em cozinhar é que uma vez dominada aquela receita, você pode incrementar e variar de acordo com seu gosto. Isso torna as possibilidades de combinação infinitas. Carolina Ferraz Atriz e Escritora
  • 24. 46 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 47 SABOR E ARTE heróica saga dos Irmãos Villas Bôas, criadores do Parque Na- cional do Xingu em 1961, marco na defesa dos direitos dos povos indígenas, ganha as salas de cinema com o longa Xingu. Dirigido por Cao Hamburger, o filme vem ressaltar e imprimir a importância devida da atuação de Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas no estabelecimento da maior reserva indígena em território brasileiro. O projeto nasceu de um desejo de Noel Villas Bôas, filho de Orlando, em ver a aventura dos irmãos contada pelo cinema. Caracterizando-se como uma verdadeira aula para aqueles que não compreendem o quanto movimentos como a “Marcha para o Oeste” ou a construção da rodovia Transamazônica geraram verdadeiros genocídios responsáveis por afetar tribos indígenas “Se achamos que nosso objetivo aqui, na nossa rápida passagem pela terra é acumular riquezas, então não temos nada a aprender com os índios. Mas, se acreditamos que o ideal é o equilíbrio do homem dentro de sua família e dentro de sua comunidade, então os índios têm lições extraordinárias para nos dar”. Cláudio Villas Bôas que há muito eram as reais donas daquelas ter- ras. O filme traz um ótimo elenco e também uma direção brilhante de Cao Hamburger. Na obra são narrados os principais aconteci- mentos da expedição que os Irmãos Villas Bôas con- duziram pelas entranhas do Brasil, que de início era pra ser apenas uma aventura e que culminou na criação do Parque Nacional do Xingu. Os irmãos embarcaram na defesa de um ideal e segui- ram sertão adentro a par- tir de 1944, data do início da Expedição Roncador- -Xingu. Dois anos depois fizeram o primeiro contato direto com uma etnia indí- gena, a Kapalo. Em 1952, apresentaram o projeto de criação do Parque, que só viria a se concretizar após nove anos de negociações. A missão de personifi- car os irmãos foi entregue a três grandes atores da pro- dução brasileira: Felipe Ca- margo, João Miguel e Caio Blat. “Escolher o ator certo para cada persona- gem é 70% do trabalho. Estou satisfeito com o resultado”, avalia Hamburger. O filme transpassa emoção e sentimento na medida certa, sem a busca do clichê e sem in- cluir lugares comuns. A fotografia, em sépia, saturada ao contraste, brilhando por causa do calor, conserva a nostalgia dos anos quarenta. A narrativa procura o ama- dorismo proposital, quase quem em estilo de docu- mentário, com qualidade, aludindo ao gênero nove- lesco por ser épico e clás- sico. Essa mesma foto- grafia favorece a benéfica exposição da etnia indíge- na. O barro, a madeira e a cor da pele se fundem em uma raça única felizmente bem retratada. Analisamos, então, a estrutura antropológica e antropofágica de um país, no caso o nosso. Ao retratar o encontro e relacionamento de duas etnias vemos que a lógi- ca é simples: é inevitável a influência mútua ao co- locarmos dois povos dife- rentes frente a frente. De um lado, temos os índios, que sobrevivem do próprio trabalho, da caça, pesca, com tradições éticas, terapêuticas e reli- giosas. Do outro, os brancos, que já absorveram inúmeras transformações e “mutações”. Quando O PASSADO QUESTIONANDO O PRESENTE XXINGU heró Por Ulisses Praxedes
  • 25. 48 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 49 IMAGENS:SHUTTERSTOCK SBD.ORG.BRSABOR E ARTE este encontro se faz presente, os dois perdem e os dois ganham, dependendo do ponto de vista extremamente subjetivo, caso questionemos o que é evolução. São percepções sem o certo e o errado. Xingu não é apenas um filme de época que aborda um episódio do passado, mas também uma produção que permite ao público traçar lei- turas com questões do presente. Enquanto es- pectador, a certa altura do filme, o envolvimento com a narrativa, ultrapassa a identidade da pe- lícula quebrando a dicotomização de brancos e índios. É possível, por imersão na história, nos identi- ficarmos sensorialmente, ora como brancos, ora como índios; uma positiva provocação sobre o quanto estamos culturalmente amalgamados, sem definir ao certo onde começa a influência de uma cultura e onde termina a outra. Uma saga que também descreve o quanto ainda é inexplorada a nossa construção cultural social e política, e o quanto estas múltiplas rela- ções precisam vir à baila. Uma necessária expe- dição nessa selva histórica que define a plurali- dade de raças e que nos leva a diálogos sobre a identidade multicultural do povo brasileiro. S Direção: Cao Hamburger Roteiro: Elena Soarez, Cao Hamburger e Anna Muylaert. Elenco: João Miguel, Felipe Camargo, Caio Blat, Maiarim Kaiabi (Prepori), Awakari Tumã Kaiabi (Pionim), Adana Kambeba (Kaiulu) Tapaié Waurá (Izaquiri), Totomai Yawalapiti (Guerreiro Kalapalo), Maria Flor, Augusto Madeira e Fábio Lago. Fotografia: Adriano Goldman, ABC Música: Beto Villares Montagem: Gustavo Giani Produção: Fernando Meirelles, Andrea Barata Ribeiro e Bel Berlinck. Produtora: O2 Filmes Coprodução: Globo Filmes Distribuição: Downtown Filmes, Sony Pictures e RioFilme FICHA TÉCNICA SAMBA E FEIJOADA: PURA MISTURA BRASILEIRA Por Ribamildo Bezerra DIVULGAÇÃO-XINGUOFILME.COM.BR Ulisses Praxedes Jornalista e Especialista em Assessoria de Mídia e Comunicação
  • 26. Pois sem os elementos bá- sicos da mistura e do tempero que faz a magia do amálgama brasileiro, nem a feijoada seria este prato tão nosso, quanto samba que estaria fadado a ser uma dança exótica, onde pes- soas em coreografias marcadas dariam umbigadas a cada bati- da forte do ritmo. Dentro deste grande caldeirão cultural é pos- sível afirmar que tanto a feijoada como o samba são resultados do encontro de diferentes po- vos que com suas referências construíram a nossa miscigena- 50 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 51 SBD.ORG.BRSABOR E ARTE Uma das revelações do sam- ba no Brasil, a artista Eloísa Olin- to, ao cantar a música Feijoada Completa, de Chico Buarque de Holanda, em um dos seus shows, coloca um tempero tão seu na interpretação, que mais parece ter sido uma música feita para ela. Talvez aí esteja a magia do samba. Um gênero tão secular quanto dinâmico, e que soube fincar raízes nesta pluralidade étnico-cultural chamada Brasil, que não há quem o descreva sem que cometa algum pecado por omissão, pois ninguém até hoje se arrisca a definir um gê- nero musical que soube agregar manifestações religiosas, per- formáticas, literárias e gastronô- micas. “Ninguém canta samba cartesianamente. Toda musica- lidade deste gênero dá ao seu intérprete uma singularidade própria, desde que sua alma esteja aberta para sonoridade a mágica só acontece se tiver mistura” afirma Eloísa. da identidade. A feijoada está longe de ser romanticamente um prato cria- do nas senzalas pelos escravos que juntava os restos de carne que os senhores de engenho e fazendeiros não queriam. Estu- dos comprovam, cerca de 300 anos antes do descobrimen- to do Brasil, os portugueses já conheciam o feijão, e que a mistura de feijões com carnes não era comum aos africanos e, sim, aos europeus. São his- tóricas europeias as receitas que misturam carnes com feijão exemplo disso é o próprio cas- soulet, de origem francesa . O Feijão Preto que é origi- nário da América do Sul, era parte integrante da alimenta- ção dos índios, acompanhado de pimenta-malagueta e milho, uma soma até então desconhe- cida pelos europeus. Este “elo gastronômico” tem continuida- de com os escravos africanos, que viriam a substituir os ín- dios como mão de obra. His- toriadores constataram, além da presença do feijão ralo, a complementação com a laran- ja utilizada pelos escravos no combate ao escorbuto doença causada pela falta de vitamina C no corpo. Coincidência ou não é no século que marcaria o fim da escravatura que a feijoada ganha anúncio e registro histó- rico de um prato apreciado pela elite da época, exemplo disso está no 7 de agosto de 1833, no Diário de Pernambuco, em que o recém-inaugurado Hotel Théâtre, de Recife, informa que às quintas-feiras seriam servi- das feijoada à brasileira. Ou no afamado restaurante carioca G. Lobo, que localizado na Rua General Câmara, 135, no cen- tro da cidade do Rio de Janeiro, tornou famosa entre o final do Século XIX até 1905 a sua fei- joada completa acompanhada de arroz branco, laranja fatia- da, couve refogada e farofa - a combinação tal qual conhece- mos hoje. É nessas mediações cultu- rais que o Samba também en- controu fértil terreno para as- sumir o seu espaço enquanto resultado de uma sonoridade que influenciou e recebeu influ- ência de outras manifestações culturais. No Rio de Janeiro, na virada do Século XIX, o ar cosmopo- lita da então capital do Brasil, era o espaço ideal para que os recém-libertos escravos, mão de obra não qualificada, pudes- se, através das manifestações culturais, garantir sua sobrevi- vência e a preservação de suas raízes. As famosas ‘Tias Baianas’ eram as transmissoras da cul- tura popular trazida da Bahia e sacerdotisas de cultos e ritos de tradição africana, além de gran- des quituteiras e festeiras, reu- nindo em torno de si a comu- nidade que inundava de música e dança suas celebrações em festas que chegavam a durar dias seguidos. A mais famosa se chamava Hilária Batista de Almeida, cuja casa era frequen- tada por Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres, João da Baiana, Sinhô. De lá saiu o pri- meiro samba gravado, a música ‘Pelo telefone’, no final do ano de 1916. A grande sacerdotisa também comandava muito bem as panelas de sua casa em dia de festa, e o prato mais afama- do naquele berço do samba, era a famosa feijoada. A música Feijoada Completa do Chico Buarque de Holanda, encerrava o show da cantora Eloísa Olinto naquela manhã de domingo. Na hora do almoço nenhum músico teve dúvida de qual prato eles se serviriam... S Feijoada Completa Chico Buarque Mulher, você vai fritar Um montão de torresmo pra acompanhar: Arroz branco, farofa e a malagueta; A laranja-bahia ou da seleta. Joga o paio, carne-seca, Toucinho no caldeirão E vamos botar água no feijão. Ribamildo Bezerra Jornalista e Especialista em Comunicação Educacional
  • 27. Conhecer as diversidades étnicas e raciais da população brasileira é como investigar suas próprias origens, sejam nas raízes ou descendên- cias. Este foi o principal objetivo do projeto Laços de Família: Etnias do Brasil, da Sociedade Brasileira de Dermatologia - SBD, que colocou na estrada cinco fotógrafos para registrar a multiplicidade racial e cultural tão característica do Brasil. A miscigenação de colonizadores de origem euro- peia com negros de origem africana e índios nativos, além de, anos mais tarde, termos recebido hordas de orientais das mais distintas nações, contribuíram para que hoje haja um misto de cores e belezas na pele de homens e mulheres que orgulhosamente se proclamam brasileiros.Etnias do Brasil Laços de Família: 52 | Revista Sensatez EM EVIDÊNCIA Para celebrar o centenário da Sociedade Bra- sileira de Dermatologia – SBD, a segunda Socie- dade Médica mais antiga do Brasil, foi criado o projeto Laços de Família: Etnias do Brasil, que compõe o trabalho de cinco renomados fotógra- fos, com respectivos assistentes, enviados cada um, a uma região do País para registrar as mais representativas diversidades étnicas. Por Daniele Torres índios e alemães (por parte de ancestrais que colonizaram o Sul). Há inclusive a Associação dos Familiares Rezer, que compreende a família mais numerosa de Porto dos Gaúchos, descen- dentes de polacos e alemães. Antes casamen- tos “fora da família” eram proibidos. Entretanto, por conta da miscigenação, novas raças já são bem aceitas na Associação. Os preconceitos foram quebrados também no Recife, em que uma comunidade holandesa se instalou no Estado e trouxe além das dife- renças raciais, novidades culturais e religiosas, como o judaísmo. Os judeus de origem ibérica ocuparam a região, fundaram a primeira Sina- goga das Américas, em 1637, a Kahal Zur Israel, mas deixaram o Brasil por medo da Inquisição, época em que os portugueses reconquistaram o Recife. Alguns holandeses que escaparam de navio fundaram Nova Iorque, uma das mais cosmopolitas capitais do planeta. Descendentes da colonização italiana na Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, carregam características de seus ancestrais, em maioria de pele clara, cabelos loiros e olhos claros. A vinda de italianos do norte do país é representa- da inclusive nas construções de Garibaldi, cidade a 105 quilômetros de Porto Alegre, na arquitetura de igrejas, casas de madeira, entre outros. Ainda no Sul, Florianópolis, em Santa Catari- na, é um reduto de portugueses que não só são representados na pele dos moradores da região – em que na maioria exibem cabelos e pele clara, Ary Diesendruck, Gal Oppido, José Caldas, Már- cio Scavone e Patrícia Gouvêa visitaram respectiva- mente Mato Grosso, Recife, Amapá, Serra Gaúcha e Florianópolis. O resultado do trabalho de cada um destes profissionais resultou em uma formidá- vel exposição fotográfica com imagens e material em vídeo de making-off, um livro sobre a história da Dermatologia ao longo do século – e em paralelo com a história da fundação da SBD – além de um catálogo com imagens de pessoas e paisagens dos lugares visitados pelos expedicionários. “Este foi um trabalho de fundamental importância para ilustrar, com imagens e fatos, as peculiaridades de um povo que tem, em seu DNA, a maior mistura de raças de todo o mundo”, diz Dra. Bogdana Vic- tória Kadunc, presidente da SBD. De acordo com Bogdana, é por esta razão que a Dermatologia no Brasil exige estudos e pesquisas muito mais profun- dos que em qualquer outro País. Juntos e Misturados - No centro-oeste, em Por- to dos Gaúchos, no Mato Grosso, algumas famílias vindas do Rio Grande do Sul migraram até a região em busca de melhores condições de vida. O primei- ro contato com indígenas aconteceu aos poucos e atualmente algumas famílias têm descendência de Revista Sensatez | 53 SBD.ORG.BR Foto:AryDiesendruckFoto:JoséCaldas Fotos:GalOppido
  • 28. 54 | Revista Sensatez EM EVIDÊNCIA Daniele Torres jornalista responsável do projeto Laços de Família: Etnias do Brasil revistasensatez@sbd.org.br A exposição Laços de Família: Etnias do Brasil teve início em 5 de fevereiro, no Rio de Janeiro, e compõe o trabalho dos cinco fo- tógrafos com mais de 100 imagens, mosaico de etnias, linha do tempo e projeções audio- visuais. Mais de 6.900 milhões de pessoas já visitaram o projeto. Além do MAM – Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, a mostra já passou por Osasco, em São Paulo e Biblioteca Nacional, em Brasília desde fevereiro até junho. Em setembro esteve novamente no Rio de Janeiro, no Riocentro, durante o Congresso Brasileiro de Dermatolo- gia da SBD. mas na cultura de seus ancestrais. A Festa do Divino, data importante do calendário religio- so açoriano, celebra o Divino Espírito Santo e acontece anualmente na cidade com as devi- das comemorações, como a divinha farinhada, procissão da corte real, entre outros. O legado cultural e racial proveniente destas e outras colonizações no Brasil contribuíram para ampliar a diversidade étnica dos nativos por conta da miscigenação. Tradições, gastro- nomia e religião também foram agregadas à nossa cultura tornando-a mais rica e pluraliza- da. Mostra Fotográfica S REALIZAÇÃOPATROCINADOR APOIO APOIO INSTITUCIONAL PROJETO: DESIGN: CO-PATROCINADOR FOTO:GALOPPIDO VISANA REDES SOCIAIS twitter.com/etnias_brasil facebook.com/etniasdobrasil youtube.com/EtniasdoBrasil No dia 17 de setembro, o príncipe herdeiro da Dinamarca, Frederik Andre Henrik Christian visitou a mostra fotográfica no Museu Brasileiro da Escultura, em São Paulo. UM PROJETO DA NOSSA CULTURA PARA TODAS AS CULTURAS O projeto que emocionou milhares de pessoas pelo Brasil, continua encantando a todos com o auxílio do mundo digital. Se você não teve a oportunidade de visitar a exposição e ver as belíssimas imagens da nossa cultura, registradas pelos fotó- grafos Ary Diesendruck, Gal Oppido, José Caldas, Marcio Scavone e Patricia Gouvêa, acesse o nosso portal agora mesmo. O projeto Laços de Família - Etnias do Brasil é resultante de uma expedição por cinco estados brasileiros, organizado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia em comemoração do seu centenário. etniasdobrasil.com.br Foto:PatriciaGouvêa
  • 29. zer para eles que sou portadora de Vitiligo e que também me sub- meto a vários tratamentos, traz, a certeza, do significado da missão a mim concebida. Expor a minha história, mos- trar meus caminhos, acreditar nos sonhos faz da vida uma aventura maravilhosa! Se você tem Vitiligo diga: Que- ro voltar a ter pele normal! Quero voltar a ter pele saudável! Se for do seu desejo isso ocorrerá. No tempo certo! Pois há de se percorrer um caminho. Qual o seu? A jornada inicia-se com o pri- meiro passo. Dê esse passo! 56 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 57 SENTINDO NA PELE SBD.ORG.BR S Mineira, nascida em Itabira em 1957, médica-dermatologis- ta, casada e mãe de dois filhos. Em 1995 descobre que tem Vi- tiligo. Essa sou eu: apaixonada por Dermatologia e por ironia quis o destino me presentear com uma paciente especial: eu mesma! Questionamentos surgiam ao atender meus pacientes: Quanto de poder a mente tem para influenciar o paciente para a cura? Quanto um momento de estresse ou tristeza pode fazer ou não um paciente ado- ecer? O que fez Tânia Nely ado- ecer nesse momento da vida? Como lidar com o Vitiligo justo no seu rosto? Pensamentos e indagações rondavam minha A DOENÇA COMO CAMINHO Por Dra. Tânia Nely vida, feriam minha alma; mas construíram minha história... Sendo Itabirana, invariavel- mente, lembro Carlos Drumond de Andrade: “no meio do ca- minho tinha uma pedra... tinha uma pedra no meio do cami- nho...” Procurei caminhos. Optei por ampliar meus conhecimentos na área da Psicodermatologia, além de tomar as providências de usar os medicamentos, que existiam na época, para o Vitiligo. Com a ajuda de colegas dermatologistas que iniciavam o Departamento de Dermatologia Integrativa da Sociedade Brasileira de Derma- tologia, hoje, Psicodermatologia, comecei a estudar as relações existentes entre corpo e mente que me fizeram evoluir para uma especialização adicional em Psi- coterapia. Que jornada incrível... Como aprendi! Não foi fácil... Tive que não somente aprender, como também reaprender a viver... Pre- cisei adicionar qualidades ao meu dicionário interno de como se re- lacionar com pessoas e aprofun- dar meu autoconhecimento. Assim, fui me sentindo cada vez mais segura; o suficiente, não só para tratar de mim mes- ma, como também para atender as demandas que surgissem em uma consulta de Psicodermato- logia. Mas, eu permanecia com Vi- tiligo, que melhorava com o tra- tamento, porém novas lesões às vezes surgiam, após um período que variava de meses a anos. Passei a ministrar aulas em Congressos de Dermatologia com temas relacionados à Psico- neuroimunodermatologia. Cumpri mais uma etapa do caminho e fiquei orgulhosa de mim mesma, por ter conseguido publicar um artigo que contribu- ísse para que os dermatologistas pudessem conhecer esse enten- dimento amplo e holístico da Psi- codermatologia. Em dezembro de 2007, depa- rei-me com fortes desafios, após ter vivenciado um ano conside- rado impactante sob o aspecto emocional, e, além disso, estava novamente com Vitiligo só que agora em quase 90% da face. Que paradoxo! Justo eu que Dra. Tânia Nely Rocha Dermatologista pela SBD revistasensatez@sbd.org.br estudava as questões emocio- nais, ainda evoluía com Vitiligo? Na verdade, Vitiligo não é sempre emocional! Pode estar associado também a questões genéticas, endocrinológicas ou traumas físicos. Resolvi aliar a Medicina Mente e Corpo à evolução da Biologia Molecular e dos Lasers em Me- dicina. Depois de várias sessões de laserterapia aliadas aos cui- dados emocionais e espirituais, consegui ver meu rosto normal novamente. E que emoção! Maravilhoso é poder compartilhar a alegria do meu tratamento com a bênção de ver portadores de Vitiligo as- sociando terapia moderna atual com a psicoterapia de apoio. Di- THINKSTOCK
  • 30. 58 | Revista Sensatez Revista Sensatez | 59 CAMINHOS SIDNEY Por Paulo Ricardo Criado JANKRATOCHVILA/SHUTTERSTOCK.COM Look Back! Look Around! Look Forward!