Este texto descreve o amor do autor por sua cidade natal, Maringá. Ele vê Maringá como 1) uma declaração apaixonada de amor e pertencimento à cidade; 2) um convite para os moradores e visitantes conhecerem a verdadeira cara e alma da cidade através de suas cores, sons e ideias; e 3) um esforço de enxergar o coração da cidade por meio dos corações de seus milhares de moradores.
Almanaque O Voo da Gralha Azul numero 7 junho a agosto 2011
1.
2. Revista Literária
“O Voo da Gralha
Azul”
n0. 7 – Paraná, junho - agosto 2011
Idealização, seleção e edição:
José Feldman
Contatos, sugestões, colaborações:
pavilhaoliterario@gmail.com
voodagralhaazul@gmail.com
http://singrandohorizontes.blogspot.com
Endereço para correspondencia:
Rua das Mangueiras, 296-A
Cep.87080-680
Maringá/PR
Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o equilíbrio e o respeito
ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência do Homem na face da Terra!!!
Prezado Leitor
Este almanaque não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros, jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou
não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado.
Por que o Voo da Gralha Azul? A Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia no coração de cada um que alcançar, o pinhão
da cultura, em todas as suas manifestações.
Ao leitor, novos conhecimentos.
Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc., um caminho de conhecimento e inspiração.
Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos,
José Feldman
3. SUMÁRIO
A Chave do Pai na Fechadura............................................................. 59
ADEMAR MACEDO (MENSAGENS POÉTICAS) ÁTILA JOSÉ BORGES
Chico Mil e Um .................................................................................101
Mensagens Poéticas n. 112.................................................................. 3 CAROLINA RAMOS
Mensagens Poéticas n. 129.................................................................. 7 Lurdeca............................................................................................. 28
Conteúdo das Mensagens Poéticas: CLARICE LISPECTOR
Uma Trova Nacional A Língua do P.................................................................................... 40
Uma Trova Potiguar DINO BUZZATI
Uma Trova Premiada – A Barata ........................................................................................ 50
Simplesmente Poesia – O Aumento .................................................................................... 51
Uma Trova De Ademar ÉLBEA PRISCILA DE SOUSA E SILVA
...E Suas Trovas Ficaram Pequena e Doce Crônica..................................................................... 31
Estrofe Do Dia FABIO AUGUSTO ANTEA ROTILLI
Soneto Do Dia O Celeiro............................................................................................ 73
IALMAR PIO SCHNEIDER
BIOGRAFIAS Mensagem aos Jovens ....................................................................... 94
JOSÉ FARIA NUNES
Adelmar Tavares ................................................................................88 Zézinho e o Pé do Frango.................................................................. 85
Alma Welt ........................................................................................... 2 LU OLIVEIRA
Antonio Manoel Abreu Sardenberg.....................................................24 O Vendedor de Livros ........................................................................ 76
Carolina Ramos ................................................................................106 LYGIA FAGUNDES TELLES
Cecy Barbosa Campos ......................................................................125 O Menino e o Velho ........................................................................... 69
Cláudio de Cápua................................................................................30 NILTO MACIEL
Dino Buzzati.......................................................................................53 Pescoço de Girafa na Poeira............................................................... 98
Esio Antonio Pezzoto..........................................................................97 PAULO V. PINHEIRO
Gil Vicente..........................................................................................44 – Um Sempre na Noite Clara............................................................. 37
Hermoclydes S. Franco.......................................................................19 – A Volta que Virá ............................................................................ 38
José Bidóia.........................................................................................79 RAQUEL AMÉLIA DOS SANTOS
José Faria Nunes................................................................................69 Um Dia Declara Outro Dia .................................................................105
José Feldman.....................................................................................74 RENATO BENVINDO FRATA
Kathryn VanSpanckeren...................................................................144 A Botina de Couro Crú ....................................................................... 26
Lu Oliveira .........................................................................................71 SEBAS SUNDFELD
Manuel Antonio de Almeida .............................................................151 A Ajuda ............................................................................................. 15
Marcelo Spalding ...............................................................................13 VICÊNCIA JAGUARIBE
Miriam Panighel Carvalho .................................................................96 Chuva de Verão ................................................................................117
Nei Garcez..........................................................................................93
Paulo Setubal.....................................................................................36
Roberth Marcel Fabris......................................................................130
CURIOSIDADES DO BRASIL
Rodolpho Abbud ................................................................................. 6
Sebas Sundfeld ..................................................................................16 Expressões Regionais
Sérgio Meneghetti ..............................................................................50 Paraná............................................................................................... 79
Sílvia Motta......................................................................................120
Tito Olívio..........................................................................................58 ENTREVISTAS
CONTOS, CRONICAS, CAROLINA RAMOS
A Escritora por trás da pessoa, a Pessoa por trás da Escritora..........106
ANDRÉ TELUCAZU KONDO
Celeiro da Infância .............................................................................57
AMOSSE MUCAVELE
ESTANTE DE LIVROS
Gaza, Meu Útero .................................................................................20
ANTONIO BRÁS CONSTANTE GIL VICENTE
Escrevendo sobre a Morada da Escrita..............................................125 Análise de Auto da Barca do Inferno ................................................. 42
ANTONIO ROBERTO DE PAULA ISABEL FURINI
Sou Maringá ........................................................................................ 1 Lançamento da Antologia de Contos Passageiros do Espelho ............123
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA LU OLIVEIRA
Caminho Sem Volta ..........................................................................121 Lançamento de Primeira Impressão................................................... 71
ARTUR DA TÁVOLA MANUEL ANTONIO DE ALMEIDA
4. Análise de Memórias de Um Sargento de Milícias .............................144 Devaneio ..........................................................................................124
Álbum ..............................................................................................124
Cena cotidiana..................................................................................124
FOLCLORE ESIO ANTONIO PEZZATO
Pantum ............................................................................................. 96
CHINA Pantum Silencioso............................................................................. 97
A Origem do Rio Amarelo...................................................................62 Pantum Da Vida Em Poesia................................................................ 97
EQUADOR JB XAVIER
Nunkui, criadora das plantas .............................................................38 Rosas ressequidas ............................................................................156
RUSSIA Reflexão ...........................................................................................157
A Princesa Sapa..................................................................................60 Tudo o que restou............................................................................157
TIBETE Lembrança de ti ...............................................................................157
A soberba da árvore...........................................................................39 Se.....................................................................................................157
Doce abandono.................................................................................157
JOSÉ BIDÓIA
BRASIL INDÍGENA Criança modelo ................................................................................. 77
Ser pioneiro ...................................................................................... 78
A Chefe Naruna: A Rebelião das Mulheres...........................................89 JOSÉ FARIA NUNES
Situação das mulheres entre os Kaiapós.............................................90 Quero indignar-me ............................................................................ 65
Tipos de casamento entre Kaiapós .....................................................90 O sonho de um povo.......................................................................... 65
Ritual das Amazonas (Mebiôk) ...........................................................91 Poesia e liberdade............................................................................. 65
Transcendência ................................................................................. 66
Oração do educador........................................................................... 66
HAIKAIS Ausente presença .............................................................................. 66
Essência ............................................................................................ 67
Roberth Marcel Fabris A linguagem do silêncio.................................................................... 67
Haikais à moda brasileira…..............................................................129 Desamor............................................................................................ 67
Sonho e vida ..................................................................................... 68
Nos campos de parnaso..................................................................... 68
POESIAS OLIVALDO JUNIOR
Eu, o poeta.......................................................................................126
A. A. DE ASSIS Poema ao 125º aniversário de Tarsila do Amaral (Somos todos pescadores)
Triversos Travessos............................................................................. 9 ........................................................................................................126
ADELMAR TAVARES Pois é, está frio ................................................................................127
A vida tem dois caminhos ..................................................................87 Não ..................................................................................................127
Serenidade.........................................................................................87 Migalhas...........................................................................................127
Amor..................................................................................................87 PAULO SETUBAL
A cidade de Recife..............................................................................88 Vida campônia .................................................................................. 32
Mistério..............................................................................................88 A vila ................................................................................................ 33
Vela branca........................................................................................88 A forasteira ....................................................................................... 33
Guilherme de almeida........................................................................88 Idílio................................................................................................. 34
ALMA WEITT Só tu ................................................................................................. 34
O amor guardado ................................................................................ 1 À beira do caminho........................................................................... 34
Revelações .......................................................................................... 1 Árvores tristes................................................................................... 35
Sonetos gaúchos ................................................................................. 1 Certa vez ........................................................................................... 35
Névoas........................................................................................... 1 Fim de viagem .................................................................................. 35
A prenda........................................................................................ 2 O fruto .............................................................................................. 35
As naus.......................................................................................... 2 SÉRGIO ANTONIO MENEGHETTI
Os errantes .................................................................................... 2 Manifesto do Poeta ............................................................................ 48
A cigarra........................................................................................ 2 Ressurreição ..................................................................................... 49
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG Gota Azul do Universo ....................................................................... 49
Devagar eu vou ..................................................................................22 O Amigo ............................................................................................ 49
Astro rei ............................................................................................22 SILVIA MOTTA
Flauta mágica ....................................................................................22 Convite da borboleta azul.................................................................119
Alvorada ............................................................................................23 Esquecimento...................................................................................119
Andarilho...........................................................................................23 O sonho de um prêmio.....................................................................119
Cidade de santos ................................................................................23 Saudade passional............................................................................119
Encruzilhada......................................................................................23 Vida sem canção...............................................................................120
Nosso tio elmo ...................................................................................25 Ele partiu com o outono...................................................................120
CECY BARBOSA CAMPOS TITO OLÍVIO
Fúria................................................................................................124 Cama vazia ........................................................................................ 58
Desespero.........................................................................................124
5. Botões de rosa....................................................................................58 Ralph Ellison 1914-1994...........................................................141
Saul Bellow (1915-2005)...........................................................141
John Cheever (1915-2005) ........................................................142
SITES John Updike (1932- )................................................................142
Norman Mailer (1923- ) ............................................................142
José Ouverney Toni Morrison (1931- ) .............................................................143
Falando de Trova .............................................................................128 Louise Glück (1943- ) ...............................................................143
Billy Collins (1941- ).................................................................143
SOPA DE LETRAS (Artigos, Teoria, etc.) Annie Proulx (1935- )...............................................................144
Richard Ford (1944- )...............................................................144
Amy Tan (1952- ) .....................................................................144
GRAÇA MARIA FRAGOSO Sherman Alexie (1966- )...........................................................144
Biblioteca na Escola ...........................................................................82 MARCELO SPALDING
JOSÉ FELDMAN O Certo e o Errado no Ensino da Língua Portuguesa .......................... 12
Palestra: Panorama da Literatura no Brasil ........................................63 MIRIAM PANIGHEL CARVALHO
KATHRYN VANSPANCKEREN O Que é Pantum................................................................................. 95
Panorama da Literatura dos EUA ......................................................130 Pantum: Apalavrada ......................................................................... 95
Primórdios e Período Colonial..................................................130
Origens Democráticas e Escritores Pós-Revolucionários............131
James Fenimore Cooper (1789-1851)........................................132 TEATRO DE ONTEM E DE SEMPRE
O Período Romântico, Ensaístas e Poetas..................................132
Ralph Waldo Emerson (1803-1882) ..........................................133 A vida como ela é.............................................................................152
Henry David Thoreau (1817-1862)............................................133 Alice através do espelho...................................................................155
Walt Whitman (1819-1892).......................................................133 Anjo negro .......................................................................................155
Emily Dickinson (1830-1886) ...................................................134 Arena conta Tiradentes ....................................................................153
O Período Romântico, Ficção....................................................134 Auto da compadecida .......................................................................154
Herman Melville (1819-1891) ...................................................134
A Ascensão do Realismo ...........................................................135
Samuel Clemens (Mark Twain) (1835-1910)..............................136 TROVAS
Henry James (1843-1916).........................................................136
Modernismo e Experimentação.................................................137 ADELMAR TAVARES....................................................................... 99
T.S. Eliot (1888-1965) ..............................................................137 CAROLINA RAMOS .........................................................................116
Robert Frost (1874-1963) .........................................................138 CLÁUDIO DE CÁPUA......................................................................... 29
F. Scott Fitzgerald (1896-1940) ................................................138 HERMOCLYDES S. FRANCO............................................................. 16
Ernest Hemingway (1899-1961)................................................138 JB XAVIER ...................................................................................... 72
William Faulkner (1897-1962)..................................................139 JORGE FREGADOLLI ....................................................................... 56
Dramaturgia americana no século 20 .......................................139 JOSÉ FELDMAN................................................................................ 73
Eugene O'Neill (1888-1953)......................................................139 NEI GARCEZ..................................................................................... 91
O Desabrochar do Indivíduo .....................................................139 Trovas em Sala de Aula..................................................................... 93
Sylvia Plath (1932-1963) ..........................................................140 RODOLPHO ABBUD........................................................................... 4
Allen Ginsberg (1926-1997)......................................................140
Tennessee Williams (1911-1983) ..............................................141
6. 1
Antonio Roberto de Paula
Sou Maringá
Sou Maringá é um grito apaixonado, um brado, uma Sou Maringá é se inserir entre os que criam mensagens
declaração de amor, uma demarcação de território, um convite e que das mensagens produzem arte, seja ela qual for, pois arte é
para uma ou muitas visitas ou para o eterno ficar. sempre do tamanho do mundo. Finita jamais, perene sempre. O
Sou Maringá é pretender mostrar a cara da cidade para que sai da mente e ganha corpo, por mais frágil que seja, ganhou
quem é de fora e também para quem é de dentro; é dar cor e som o mundo porque o espírito da arte é eterno.
próprios à cidade, é buscar estes sons, estas cores e estas ideias É ver Maringá com todos os olhares; é tentar enxergar
gerais que vivem a vagar no tempo e no espaço chamado Maringá. o coração da cidade por meio dos seus milhares corações. É nessa
É ir ao passado, batendo poeira em fotografias em tentativa que a gente cria, produz, participa, vive para, enfim,
preto e branco ou em textos que a história catalogou; é trazer o conhecer o nosso próprio coração.
futuro para mais perto, tentando dar-lhe um rosto, uma Sou Maringá. Sou!
perspectiva; é viver esse presente sem pensar no compromisso de
Fonte:
depositar algo para amanhã, e mesmo assim, inconsciente, fazer http://www.antoniorobertodepaula.com/2011/08/sou-maringa.html
história. l
Alma Weitt
Antologia Poética
Pintura a óleo de Guilherme de Faria
A condição perene do momento
O AMOR GUARDADO E transforma a ação em pensamento
E em verbo o cenário do pensar.
O primeiro amor, eternizado
É como se lançado no papel, A cor do gesto o olhar plasma
Se não com apuro cinzelado, No exercício do diário poetar
Que a paixão possui um bom cinzel... Onde o ser comum deixa passar
Como se a ação fora um miasma.
Melhor se preservado na missiva,
Carta, se possível, ou o bilhete Mas tudo permanece na retina
Que acompanha o simples ramalhete Como a daqueles mortos de terror
Fanado... na memória ainda viva. Que gravam a face do assassino
O beijo, então, da despedida, Na pupila que logo perde a cor
É sempre guardado numa arca Assim que o detetive a examina
Para vir à tona bem mais tarde, E revela como prova de um destino.
Quando a emoção que nele arde
Das cinzas dos lábios, sua marca, SONETOS GAÚCHOS
Como a fênix recobra a sua vida.
NÉVOAS
REVELAÇÕES
A neblina que paira sobre a estância
O poeta em mim fixa no olhar A revela em sua falsa letargia.
7. 2
Dois séculos de espera e de constância,
Lhe fizeram firme e cega companhia. Mas como Anita se lhe falta o italiano,
Vejam, nos meus versos eu lidero,
Quem chega ao casarão e suas soleiras? E arrasto naus em meio ao Minuano...
Que esporas já retinem na varanda?
Que olhos doces de casadas e solteiras OS ERRANTES
Lacrimejam e se abaixam como manda?
As ocultas trilhas do meu pampa
Na névoa revivem os áureos tempos, Conduzem ainda ao meu portão,
Os risos e esperanças se renovam, E espectros saídos de sua campa
Ainda não se contam contratempos... Assombram mesmo agora o casarão.
No salão Anita entra, e Garibaldi, Não busco exorcizar ou demovê-los:
E tavez esta família já comovam As velas são porque os quero bem
Que aqui não haverá quem deles malde. E procuro com meus versos comovê-los
Embora não me sinta sua refém.
A PRENDA
Mas compartilho sim, a solidão,
Sou guria orgulhosa deste Pampa De almas que malgrado sua paixão
Que ousa cantá-lo em verso e prosa. Ainda erram e deixam suas prendas.
Que digam que a caixa só destampa
Quando os grandes fazem sua glosa! Eu mesma, a esperar Rodo, meu irmão
(que este vaga vivo em outras sendas),
Evocando a valente farroupilha, Sou a novilha de um pródigo marrão...
Os maiores já contaram seus revezes,
Mas não com a candura de uma filha A CIGARRA
Como eu que a espero tantas vezes
Quando chega o tempo das cigarras,
Na soleira desta casa tão vetusta Eu que trabalhei como a formiga
E ilustre em sua anciã modorra Num romance, soltando as suas amarras,
Que nada faz crer que um dia morra. Nem por isso dou ouvido à sua intriga.
Ostentando pelo menos um punhal Sou da raça daquela cantadora
Reencontro Anita e não me custa E trabalhar pra mim é eufemismo.
Galopear junto dela o meu bagual... Cantar, cantar, mesmo que amadora
Na glória do meu diletantismo!
AS NAUS
Isso o é que faz feliz a pampiana
Leiam estes meus versos, ó futuros, Sem os remorsos que me cobra
Não despendia assim tanta energia A lembrança da dura Açoriana...
Em rimas, em palavras de poesia,
Não quisera eu transpor tais muros. Malgrado este prazer que quase aberra
Cantar, cantar a alma desta terra
Não estaria brincando no serviço E seu cenário ilustre... é minha obra!
Ao inventar assim tantos motetos...
Há muito notariam meu sumiço
Aqueles que invejam meus sonetos
Alma Welt (1972 – 2007)
Se não fosse aquele ilustre clero Escritora gaúcha nascida em Novo Hamburgo, poeta lírica,
De farrapos e de homens como Netto, grande sonetista (escreveu cerca de 700 belíssimos sonetos), deixou
Escoltando-me ao meu verso completo. uma obra profícua e numerosa, constando de um romance
8. 3
autobiográfico inédito em quatro tomos denominado "A Herança" Mayra"; e os "150 Sonetos Pampianos da Alma" escritos no seu
(dividido como quarteto com os seguintes títulos: A Herança, A Ara último mês de vida.
dos Pampas, O Sangue da Terra, A Vinha de Dioniso), e mais o A autora, mulher jovem, belíssima e misteriosa, não se
romance intitulado "O Retorno dos Menestréis", ambientado no deixava fotografar, somente permitindo a divulgação de seus retratos
sertão nordestino de Pernambuco e Paraíba, numa mítica e divertida em desenhos, gravuras e pinturas a óleo de Guilherme de Faria, seu
viagem a bordo do Pavão Misterioso. "retratista autorizado", pintor paulista que a ilustrou, prefaciou, e
Tem ainda quatro livros de contos: Contos da Alma, editou, lançando-a no meio artístico paulistano a partir de 2001,
publicado em 2004 pela Editora Palavras & Gestos(de São Paulo); quando a descobriu no seu auto-exílio paulistano, num ateliê de
Contos Pampianos da Alma, Contos Secretos da Alma, e "Lendas da pintura estabelecido nos Jardins.
Alma" (este uma coletânea de lendas poéticas de sua invenção, de As circunstância notáveis desse encontro providencial
caráter europeu, góticas e misteriosas, ilustradas com desenhos a foram narradas por ela no seu conto intitulado "Anagramas".
cores por Guilherme de Faria. Alma suicidou-se aos 35 anos por afogamento, na sua
Além disso tem um livro de crônicas curtas (Crônicas da estância pampiana, no auge de seu talento e beleza. Admirada pelo
Alma). Sua obra poética, igualmente prolífica, conta com 49 livros de grande poeta Paulo Bomfim (que escreveu um prefácio para o
poesia, sendo 33 de sonetos (perfazendo cerca de 700 sonetos),e vem próximo livro dela a ser publicado) e pelo famoso bibliófilo José
sendo publicada de maneira semi-artesanal, em folhetos dentro de Mindlin (que possui obras inéditas dela) começa agora a sua
uma caixa (Kit) de madeira, e ilustrados a cores com desenhos de trajetória triunfante, como "a última grande lírica do século XX",
Guilherme de Faria. Poeta e Musa ao mesmo tempo.
As duas últimas obras poéticas que escreveu são: um
notável drama lírico formado por 42 sonetos (cenas) encadeados, Fontes:
http://www.netsaber.com.br/
inspirado por sua paixão por uma aluna e denominado "Sonetos à http://www.luciawelt.blogspot.com/
Ademar Macedo
Mensagens Poéticas n. 112
UMA TROVA NACIONAL UMA TROVA PREMIADA
Uma lágrima, sequer, 2008 > Balneário Camboriú/SC
eu vi no adeus... Nem depois. Tema > LÁGRIMA(s) > Venc.
Não faz mal... Eu sou mulher,
posso chorar por nós dois! Em meus momentos aflitos
(DIVENEI BOSELI/SP) deixo-as nas faces rolando,
porque as lágrimas são gritos
UMA TROVA POTIGUAR
dos meus sonhos se afogando.
A lágrima, na verdade, (ALMERINDA LIPORAGE/RJ)
por seu poder infinito,
traduz com fidelidade SIMPLESMENTE POESIA
o que não pode ser dito...
(REINALDO AGUIAR/RN) – Inoema Nunes Jahnke/RS –
SAUDADE.
Se do nada uma lágrima
9. 4
rolar no seu rosto... serenidade é canção
Não tente entender, na voz que Deus abençoa;
se mesmo, sem você querer, passa a vida o tempo voa
outra lágrima teimar nas asas da ilusão.
em embaçar teu sorriso... (GERALDO AMÂNCIO/CE)
Não procure nem tente entender,
com certeza é teu coração, SONETO DO DIA
com vontade de me ver.
– Félix Pacheco/PI –
UMA TROVA DE ADEMAR ESTRANHAS LÁGRIMAS.
Da bebida fiquei farto, Lágrimas... noutras épocas verti-as.
bebendo, perdi quem amo; Não tinha o olhar enxuto como agora.
hoje bebo no meu quarto, - Alma, dizia então comigo, chora!
as lágrimas que eu derramo! Que assim minorarás as agonias!
(ADEMAR MACEDO/RN)
Ah! Quantas vezes pelas faces frias,
...E SUAS TROVAS FICARAM umas, outras após, a toda hora,
gota a gota rolando elas, outrora,
Quem já foi homem de bem, marcaram noites e marcaram dias!
e se fez trapo na vida,
sabe as lágrimas que tem Vinham do oceano d’alma, imenso e fundo,
cada copo de bebida... de espuma as ondas salpicando o flanco,
(ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE) numa fremência amargurada e louca.
ESTROFE DO DIA Nos olhos hoje as lágrimas estanco...
rolam, porém, sem que as descubra o mundo
Nossas conquistas são feitas, sob a forma de risos pela boca.
o mundo é nosso cartório,
a vida é um laboratório Fonte:
de diferentes receitas, Ademar Macedo
as lágrimas não são aceitas
como nossos risos são,
Rodolpho Abbud
Trovas
À noite, ao passar das horas, quando tirava a de cima ....
esqueço os dias tristonhos,
pois tuas longas demoras Cama nova, ele sem pressa
dão-me folga para os sonhos! ante a noivinha assustada,
quer examinar a peça
Ao hospício conduziu julgando já ser usada!...
a mulher para internar...
Feito o exame, ela saiu, Chegaste a sorrir, brejeira,
e ele teve que ficar!... depois da tarde sem fim...
E, nunca uma noite inteira
Ao se banhar num riacho, foi tão curta para mim!...
distraída, minha prima
lembrou da peça de baixo
10. 5
Contemplo o céu para vê-las quando chegas e me encantas,
com um respeito profundo, mesmo sendo às tantas horas,
pois na raiz das estrelas as horas já não são tantas...
eu vejo o dono do mundo.
Não sei como não soubeste
É força que vem comigo mas o amor veio, infeliz...
e no tempo não se esvai: Eu te quis, tu me quiseste,
– Sempre que eu falo de amigo mas o Destino não quis...
eu me lembro de meu pai!
Não sendo um homem moderno,
Em problemas envolvida, meu pecado e insensatez
por um beco se meteu, foi jurar amor eterno
que não tinha nem saída, e amar somente uma vez!...
e, mesmo assim, se perdeu! ...
Naquele hotel de terceira,
Em seus comícios, nas praças, que a policia já fechou,
o casal cria alvoroços: a Maria arrumadeira
- Vai ele inflamando as massas! muitas vezes se arrumou!
- Vai ela inflamando os moços...
Nas lojas sempre envolvido,
Em tudo o que ja vivi não tem crédito jamais...
Nesta passagem terrena, - ou por ser desconhecido,
Se um pecado eu cometi, ou conhecido demais !...
Com ela, valeu a pena !...
Na vida, em toscos degraus,
Enquanto um velho comenta entre tropeços e sustos,
sobre a vida: -"Ah! Se eu soubesse..." mais que a revolta dos maus,
um outro vem e acrescenta temo a revolta dos justos!...
já descrente: -"Ah! Se eu pudesse..."
Na vida, lutar, correr,
Eu finjo que estou contente... não me cansa tanto assim...
Ela finge que está triste... O que me cansa é saber
-- No canto do amor, a gente que estás cansada de mim!
desafina... mas resiste!...
Nessa paixão que me assalta,
Foram tais os meus pesares misto de encanto e de dor,
quando, em silêncio partiste, quanto mais você me falta
que, afinal, se tu voltares, mais aumenta o meu amor!...
talvez me tornes mais triste...
Nosso encontro ...O beijo a medo...
Hei de vencer esta sina A caricia fugidia...
que num capricho qualquer, Nosso amor era segredo,
me fez amar-te menina mas todo mundo sabia...
depois negou-me a mulher!...
Provando em definitivo
Minha mágoa e desencanto que o Brasil é de outros mundos,
foi ver, no adeus, indeciso, há muito "fantasma" vivo
eu, disfarçando meu pranto... passando cheques sem fundos...
tu, disfarçando um sorriso!...
Seja doce a minha sina
Na ansiedade das demoras, e, num porvir de esplendor,
11. 6
nunca transforme em rotina todos os Trovadores que ostentam essa honra, o titulo de “Magnífico
os nossos beijos de amor... Trovador”.
São poucos os pioneiros da trova em plena atividade. Entre
Soube o marido da Aurora, eles, com especial destaque figura Rodolpho Abbud, o grande e
ela não sabe por quem, querido apóstolo da trova de Nova Friburgo. Ele entrou na alegre
que o vizinho dorme fora, tribo dos trovadores em 1960, com aquele vozeirão inconfundível,
quando ele dorme também... como repórter de rádio, entrevistando os participantes dos I Jogos
Florais na Rádio Sociedade de Friburgo. Gostou tanto, que virou
Toda noite sai "na marra", trovador também.
Dizendo à mulher: -"Não Torra!" Quase meio século depois, super-jovem em seus 82 anos, o
Se na rua vai a farra, mestre Rodolpho Abbud continua brilhando não só como criador de
em casa ela vai à forra!... primorosos versos, mas também como um dos mais importantes
líderes nacionais da União Brasileira de Trovadores (UBT). A
Um Deputado ao rogar importância de Rodolpho Abbud vai muito além das fronteiras da
ao Senhor, em suas preces, cidade.
pede que o verbo "caçar" Premiado em centenas de concursos, Rodolpho é autor de
não se escreva com dois esses!... milhares de trovas memoráveis. Entre outros títulos, ostenta o de
Magnífico Trovador Honoris Causa, que lhe foi atribuído por ocasião
Um longo teste ela fez dos 40ºs Jogos Florais de Nova Friburgo. Ele faz parte da geração de
de cantora, com requinte... trovadores surgidos com o lançamento dos I Jogos Florais. Trata-se
Cantou somente uma vez, do trovador mais antigo da cidade e a prova está em sua carteira de
mas foi cantada umas vinte!... trovador, que ostenta o número 1.
Rodolpho explica aos que não são versados nesta arte que
Vem amor, vem por quem és! trovas são pequenos poemas de quatro versos, de sete sílabas
Pois já tens, em sonhos vãos, poéticas, isto é, com o som de sete sílabas – o primeiro rimando com
minhas noites a teus pés, o terceiro e o segundo com o quarto. Ele aprendeu rapidamente os
meus dias em tuas mãos!... segredos do estilo poético característico da trova recriado por J. G.
Vendo a viuva a chorar, de Araújo Jorge e Luiz Otávio.
muito linda, em seu cantinho, Quando teve início o movimento trovadoresco em Nova
todos queriam levar Friburgo, Rodolpho trabalhava como comentarista de futebol na
a "coroa" do vizinho... Rádio Sociedade de Friburgo e ainda não tinha descoberto que sabia
fazer trovas. Mas desde pequeno gostava de fazer quadrinhas. Na
Vejo em minhas fantasias, infância as crianças aprendiam na cartilha algumas rimas básicas,
em Friburgo, pelas ruas, que davam origem a quadras como uma que Rodolpho jamais
mil sois enfeitando os dias esqueceu: “Joãozinho é cabeçudo / mas tem belo coração / é
e, à noite, a luz de mil luas. dedicado ao estudo / e sabe sempre a lição”.
Por alguma razão Rodolpho sempre se identificou com o
estilo e, mesmo sem saber, já fazia trovas, que costumava chamar de
quadrinha, assim no diminutivo mesmo. Naquela época, porém,
Rodolpho Abbud (1926) bastava rimar o primeiro verso com o terceiro e o segundo com o
Nasceu em Nova Friburgo/RJ, em 21 de outubro de 1926; quarto. Rodolpho acha até graça, porque já naquela época faturou
filho de Dona Ana Jankowsky Abbud e de Ralim Abbud. Radialista, cem mil réis num concurso da Rádio Nacional, com uma de suas
Locutor Esportivo, Poeta e Trovador, foi sempre muito bom em tudo primeiras trovas, em 1950. “Foi numa festa junina/ que eu vi a Rita
aquilo que fez ou faz. Contam até que, certa vez, transmitindo um sapeca/ A cabocla era bonita/ Parecia uma boneca”.
jogo do Friburguense, teve a sua visão do campo totalmente coberta Levou um bom tempo para os trovadores, inclusive o
pelos torcedores. Sem perder a calma, e com sua habitual presença próprio Rodolpho Abbud, incorporar a expressão trova – que vem do
de espirito, continuou a transmissão assim: – “Se o Friburguense francês trouver, isto é, procurar, achar. Chamavam aqueles pequenos
mantém a sua formação habitual, a bola deve estar com o zagueiro poemas de quatro sílabas de quadra, quadrinha ou trovinha, menos
central, no bico esquerdo da área grande…” de trova. Um dia Luiz Otávio até chamou a atenção do J. G. de Araújo
Tem um livro de Trovas intitulado: “Cantigas que vêm da Jorge, quando este lhe contou que tinha feito uma trovinha: “Que
Montanha”, e, recebeu, com inteira justiça e por voto unânime de
12. 7
trovinha o quê, José Guilherme, isso aí se chama trova, não é cidades. As viagens são uma verdadeira festa, com todo mundo
trovinha nem trovão, é trova”. brincando e fazendo trovas dentro do ônibus.
“Acho que eu sei fazer este negócio aí” Depois de trabalhar 42 anos na Fábrica de Filó, todo
Rodolpho Abbud já criou mais de cinco mil trovas. mundo pensava que ele fosse ficar deprimido quando se aposentasse.
Infelizmente, boa parte delas se perdeu e seu acervo conta apenas Que nada! Voltou a narrar partidas de futebol, depois mergulhou na
com as trovas premiadas nos concursos de que participa em todo o trova.
Brasil. A sorte é que o mais respeitado trovador da cidade e um dos Rodolpho é pai de Luiz Carlos, Suely e Rosane, de seu
maiores do país é um colecionador de prêmios, já perdeu a conta do primeiro casamento. Casado pela segunda vez há 50 anos com a doce
número de troféus e diplomas que já conquistou. Cyrléa Neves, eles são pais do conhecido percussionista Rocyr e da
Sua facilidade para criar trovas impressiona até seus não menos conhecida Rivana, do Bar América.
colegas trovadores. Todas, diga-se de passagem, dignas de figurar em Friburguense da gema, passou a infância na Rua Oliveira
qualquer antologia. “Com qualquer assunto se faz uma trova”, Botelho, até o 5º ano primário estudou com dona Helena Coutinho,
explica, modesto, tentando explicar os segredos desta arte. Ele que tinha uma escola na Rua São João. Fez o ginasial no Colégio
acredita em inspiração, tanto que carrega sempre papel e caneta no Modelo e depois foi aluno do professor Luiz Gonzaga Malheiros.
bolso para anotar as ideias que vão surgindo em sua cabeça. Do que sente mais saudades da Nova Friburgo de
Hoje em dia uma das atividades que mais gratificam o antigamente? Rodolpho Abbud não pensa um segundo antes de
velho trovador é ensinar a fazer trovas. Ele e seus colegas trovadores responder. “Da Fonte do Suspiro”, responde de imediato e,
já visitaram muitas escolas, transmitindo às crianças e jovens os subitamente, se emociona, chegando a ficar com lágrimas nos olhos.
conceitos básicos que permitem criar trovas capazes de fazer bonito Mas, como os homens de sua geração não choram, trata logo de
em qualquer concurso. Já estiveram no Ienf, na Escola Canadá, no mudar de assunto. “Ah, sinto muita saudade também do footing da
Ciep Glauber Rocha, na Universidade Candido Mendes. Até na Clínica praça, com os rapazes parados como se estivessem num corredor e as
Santa Lúcia eles já estiveram. moças passeando de um lado para o outro”, conta.
Junto com seus companheiros da UBT, Rodolpho mantém Maluco por futebol, Rodolpho pertence ao quadro de
há 50 anos um programa radiofônico pela Rádio Friburgo AM beneméritos do Friburgo Futebol Clube e, no Rio, é tricolor de
focalizando o movimento trovadoresco de Nova Friburgo e de todo o coração. Fez até uma trova para seu time: “É paixão que longe vai /
Brasil. O programa, transmitido todo sábado, às 20h, é o mais antigo na força do coração: / – Tricolor era meu pai / filhos, netos também
do Brasil e seu slogan diz assim: “É poesia sempre nova / cultivada são”.
com amor / Se você gosta de trova / Pode ser um trovador”. Fontes:
Solidão? Rodolpho diz que não sabe o que é. Junto com Dalva Ventura, do Jornal A Voz da Serra. Disponível em UBT/SP, site UBTrova,
seus amigos trovadores, viaja o Brasil inteiro, sendo sempre recebido http://www.ubtrova.com.br
com festa e toda a hospitalidade pelos companheiros das outras http://www.ubtjf.hpg.ig.com.br
Boletim Nacional da UBT
Ademar Macedo
Mensagens Poéticas n. 129
UMA TROVA NACIONAL UMA TROVA POTIGUAR
Por mais que eu garimpe e tente, Amo bastante, não minto;
nos meus pedregulhos tantos, sem envolver-me em lambanças,
nem com lupa ou forte lente sentir saudades, não sinto;
eu não acho os meus encantos. sinto, agradáveis lembranças.
(TIA PRISCA/SP) (PEDRO GRILO/RN)
13. 8
UMA TROVA PREMIADA cada dia mais me esforço
de pagá-los com os meus.
2010 > Curitiba/PR (MIGUEL RUSSOWSKY/SC)
Tema > IMAGEM > Menção Honrosa
ESTROFE DO DIA
A grande riqueza humana
consiste em se perceber Relembrar um grande amor,
quando a luz do "ter" profana uma ausência lamentar,
e ofusca a Imagem do "ser". ficar triste, suspirar,
(WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR) ver a beleza da flor,
andar com ar sonhador,
SIMPLESMENTE POESIA parecendo estar ausente,
isso é banzo recorrente
– Sérgio Severo/RN – uma coisa que maltrata,
TRIBUTO A NOVA FRIBURGO. pois saudade ninguém mata,
é ela que mata a gente.
Nova Friburgo se ergue (JOSÉ ALBERTO COSTA/AL)
das brumas de um pesadelo
e não há ninguém que negue: SONETO DO DIA
nunca o fez por merecê-lo.
– Humberto Rodrigues Neto/SP –
Essa Cidade tão Bela, PLÁGIOS.
"Capital dos Trovadores",
tornará a ser aquela, Há poetas que vivem no ostracismo,
"Eterna Terra das Flores". mas julgam-se a si próprios magistrais,
e em tábidas manobras imorais
Ó Terra dos meus Avós, fazem do plágio seu falaz lirismo.
permita falar por Vós,
e ao Brasil, todo, eu conclamo: Surdos à lei e às convenções morais,
entregam-se da inveja ao fatalismo,
"Venham à Terra revivida, essa filha bastarda do egoísmo
de novo, cheia de Vida, que tantos danos à poesia traz!
Nova Friburgo, TE AMO!!"
Por falha herdada de um viver pretérito,
UMA TROVA DE ADEMAR pouco lhes toca que um poema ultrajem
pra disfarçar seu crônico demérito!
Estão nos desígnios meus
lições de uma eternidade: Mal sabem os medíocres que assim agem,
só na colheita de Deus que a inveja é até uma forma de homenagem
se colhe Fé de verdade!... que prestam, sem saber, aos que têm mérito!
(ADEMAR MACEDO/RN)
Fonte:
...E SUAS TROVAS FICARAM Ademar Macedo
Para não sentir remorsos
de roubar os beijos teus,
14. 9
A. A. de Assis
Triversos Travessos
01 10
Ah, havia o espaço Na mesa grandona
e no espaço havia ação. vinho, massa e cantoria.
Apertem os cintos. Almoço na Nona.
02 11
Passa a teoria Segura, peão...
por debaixo do arco-íris. Segura, que a vida é dura
Vira poesia. e mais duro o chão.
03 12
Saudade por quê? Se borda é prendada,
Pra voltar a ser criança, bem mais ainda se pinta.
basta um bilboquê. E se pinta e borda?
04 13
Andorinha sobe, Sagüi faz xixi
andorinha sobe e desce, na mudinha de embaúba.
faz um “s” e some. Tudo bem: aduba.
05 14
Dizem que a cigarra Casal de velhinhos
nada faz senão cantar. na janela olhando a Lua.
Ah, é indispensável. Tão longe a de mel...
06 15
Pergunte às crianças A uva e a codorna.
se há vida onde ninguém brinca. Da uva se tira o vinho,
– Polegar pra baixo. da codorna ovinho.
07 16
Da folha de amora Balas e gorjeios.
para o lencinho da amada. O canarinho nem tchum
Mágico tear. para os tiroteios.
08 17
Estrela cadente. Quem foi que afinal
Vaga-lumes se alvoroçam tantas matas derrubou?
cobiçando a vaga. Ah, o pica-pau.
09 18
Na prova de salto E agora, vovô?
quem tem chance de medalha? – Agora, nas mãos dos netos,
– A de salto alto. sou que nem ioiô.
15. 10
19 29
Assanhadas rosas. Alô... é da Lua?...
Disputam a preferência Manda uma cheia, com flores,
de um raio de sol. para a minha amada.
20 30
No lombo do boi Relampeja e... troomm...
faz-lhe um cafuné o anu. – Afia a enxada, compadre,
E ele gosta: muuu... que vem chuva boa!
21 31
Ursinha moderna. Florzinha silvestre
Toda noite, após a lida, no jardim do shopping-center.
na internet hiberna. Êxodo rural.
22 32
Menina no zôo No topo do poste
faz bilu-bilu na onça. a mansão do joão-de-barro.
Isaías, onze. Tá podendo o cara.
23 33
Que delícia de cantigas Do asfalto se avista
na vozinha das vozinhas. ao longe um carro de boi.
Seresta na praça. Cheinho de histórias.
24 34
Xexéu na gaiola Serás a sereia
para o peixinho no aquário: que na lua cheia cantas?
– Como vai, colega? Serei-a, serei-a.
25 35
No meio do pasto Pálidas pernocas
um ponto de exclamação. na areia pegando cor.
Último coqueiro. Ou pescando amor?
26 36
Tarzã do terreiro Mosca na parede.
solta o seu grito de guerra: Avisem à lagartixa
Cucurucucu... que o jantar chegou.
27 37
Ante o Pão-de-Açúcar, Ao luar, no Éden,
dá as costas a Lua ao mar. primeiro jantar a dois.
A lei do mais doce. Que deu no que deu.
28 38
Abelha se aninha Menino de sete
no colo do girassol. versus menino de oitenta.
Vai ter mel quentinho. Jogo de botão.
16. 11
39 49
Diz o sapo à sapa: É a cegonha, bem...
– Coá-coaxá... coará-coaxá... Tá caçando uma barriga
E ela a ele: – Topo. pra ninhar neném...
40 50
Um pulo, medalha. Tudo bem, poeta.
Milhões de cabeças boas Minha terra tem Palmeiras,
tão longe das loas. mas sou são-paulino.
41 51
Trenzinho da serra. “Por que não te calas?”,
Pa... Pa-ra-ná... Pa-ra-ná.... diz a arara ao papagaio.
pra Paranaguá. – Se calo, me peias.
42 52
Piupiu canta à porta Na agüinha da bica
da gaiola da piupia. molha o bico o tico-tico.
Se arrepia a bela. Depois bica a tica.
43 53
Crocante e cheiroso, Céu de “brigadeiro”.
com garapa, na feirinha. – Aniversário de quem?,
Pastel de saudade. me pergunta o neto.
44 54
Na fila de idosos, Zunzunzum... zunzum...
troca-troca de sintomas. É um pernilongo brincando
Quem não tem inventa. de fórmula um.
45 55
Flagra na cozinha. Futebol é assim:
Um par de abelhas aos beijos só se ganha uma partida
sobre o meu pudim. na base do chute.
46 56
Manhêêê – diz o piá –, Balança o palanque.
trouxe uma flor pra você. O peso na consciência
Troco por um beijo. do nobre orador.
47 57
Galinha caipira Xô daqui, Seu Grilo.
desposa um pavão real. Pega a tua cantoria,
Continho de fada. pousa noutra cuca.
48 58
Veja a parasita: Banho de butique.
parece gente que a gente Mariposa bem-cuidada
acha até bonita... vira borboleta.
17. 12
59 60
Dó-ré-mi-fá-sol, Bons tempos aqueles
dó-ré-mi-fá-sol-lá-si. da escola risonha e franca.
Sabiá-laranjeira. A bênção, fessora!
Fonte:
ASSIS, A. A. De. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010.
Marcelo Spalding
O Certo e o Errado no Ensino da
Língua Portuguesa
Professores respeitados, como Claudio Moreno, foram
Chegou aos noticiários nacionais o dilema de cada enfáticos na defesa do ensino do português chamado padrão,
professor de língua portuguesa: diante das novas teorias reafirmando que o papel da escola é ensinar o futuro
linguísticas e, em especial, da sociolinguistica, como lidar cidadão a se utilizar da língua escrita culta, “cujas
com variações como “nós pega” ou “os carro” em sala de potencialidades espantosas aparecem na obra de nossos
aula? Simplesmente apontar o erro seria reforçar o que tem grandes autores”. Para Moreno, “os linguistas sabem que
se chamado de preconceito linguístico, mas deixar de fazê-lo nosso idioma é muito mais amplo do que a língua escrita
poderia colocar a disciplina num limbo perigoso onde o culta que é ensinada na escola — mas a escola sabe, mais
vale-tudo acaba com a especificidade da disciplina. que os linguistas, que essa é a língua que ela deve ensinar”.
O tema ganhou relevância graças à polêmica provocada Por outro lado, linguistas de consistente formação
pelo livro Por uma Vida Melhor, da Coleção Viver, Aprender acadêmica, como Pedro Garcez, reiteraram que não é uma
– adotado pelo Ministério da Educação (MEC) e distribuído questão de certo e errado, mas de adequação: “de certa
pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação forma, todos nós brasileiros produzimos frases com falta de
de Jovens e Adultos (PNLD-EJA) a 484.195 alunos de 4.236 concordância. Isso do nosso ponto de vista não é erro, é a
escolas. Confira um trecho do livro, publicado pela Editora linguagem natural. Esse é o português brasileiro.”, afirma o
Global: professor da UFRGS.
“Você pode estar se perguntando: ‘Mas eu posso falar Claro que a questão é mais profunda do que esses
‘os livro’?’ Claro que pode. Mas fique atento, porque, exemplos um tanto grosseiros pegos pela mídia, pois outras
dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de tantas construções corriqueiras são erradas do ponto de
preconceito linguístico (…) Muita gente diz o que se deve e o vista gramatical, mas continuam sendo repetidas por
que não se deve falar e escrever, tomando as regras pessoas das mais variadas classes sociais e pela própria
estabelecidas para a norma culta como padrão de correção mídia. Exemplos? “Tu vai”, “duzentas gramas”, “Houveram
de todas as formas linguísticas.” momentos”, “Me empresta”, “Ele trouxe para mim ver”,
“Assisti o show”, etc.
18. 13
No fundo o que está em jogo é a entrada de novos atores O papel da escola, enfim, é apresentar e ensinar ao
sociais no dia a dia da língua portuguesa, com suas aluno a variante “culta” da língua: aprender ou não,
influências e estilos. O paulistano usa “então” no começo de interessar-se ou não por ela, é um direito do aluno, mas se
cada frase, um vício de linguagem horrível, mas nem por ele precisar dessa variante e não conhecê-la por omissão da
isso se discrimina o paulistano ou, por outro lado, se usa escola teremos praticado, sem exagero, um crime. Dos
isso em filmes, novelas e livros didáticos. Mesma coisa o “r” grave.
carregado dos cariocas ou o “tu vai” dos gaúchos. Essas são
as variações geográficas, por isso não causam tanto furor
como as variações sociais, marcas linguísticas de classes ou
Marcelo Spalding (1982)
grupos sociais específicos. Essa variação pode ser de
Marcelo Spalding nasceu em Porto Alegre, RS, em
interpretação, léxico, sintaxe e até ortografia (como os
1982.
sempre criticados “vc” ou “tb” da Era Digital).
É formado em Jornalismo e Letras, mestre e
E o professor, em sala de aula, faz o quê? Uma das
doutorando em Literatura pela UFRGS, professor da Uniritter
formas de lidar com o problema sem encara-lo de frente tem
(Língua Portuguesa e Oficina de Criação Literária), editor do
sido concentrar o trabalho com a Língua Portuguesa em
portal Artistas Gaúchos, autor dos livros 'As cinco pontas de
textos, evitando a normatização da gramática e da
uma estrela', 'Vencer em Ilhas Tortas', 'Crianças do Asfalto',
ortografia. Mas será que, afora os exageros, não é importante
'A Cor do Outro' e 'Minicontos e Muito Menos' e colunista do
que os jovens tenham um conhecimento técnico de sua
Digestivo Cultural. Recebeu dois Prêmios AGES Livro do Ano
língua, e não apenas intuitivo, para melhor interpretação,
(2008 e 2009) e um Prêmio Açorianos de Literatura (2008).
correção, clareza e variação na leitura e na produção
É vice-presidente da Associação Gaúcha de
textual? Não será importante, especialmente aos futuros
Escritores na gestão 2010-2011. Como acadêmico, é
profissionais da língua, como comunicadores, advogados,
especialista em miniconto e em Literatura Digital.
professores de todas as áreas, cientistas sociais, etc, saber
onde se utiliza ou não o “a” craseado, a vírgula, a
Cronologia:
preposição antes do “que”? E não é importante que, para
isso, eles saibam pelo menos o que é um sujeito, um verbo,
1993
um objeto, um adjunto adverbial? Um adjetivo, um advérbio,
Então com 11 anos, Marcelo ganha o 1º lugar em
um substantivo, um pronome, uma preposição?
sua categoria do concurso Jornalista por um Dia, da Zero
Pode parecer espantoso, mas nem sempre eles sabem.
Hora. Eram cerca de 3000 trabalhos concorrendo, dos quais
Não com facilidade. Vejamos um exemplo bem prático do
cerca de 80 foram publicados e 4, premiados. O prêmio é
meu dia a dia em sala de aula, a frase "A expansão
uma viagem a Brasília.
desenfreada da cidade é uma grande ameaça para seu
desenvolvimento". Para muitos, o verbo é "expansão", o
1995 e 1996
que pode causar grande confusão na hora de concordar o
Marcelo volta a ser classificado entre os 80
verbo com o sujeito e faria com que muitos escrevessem
melhores trabalhos no Jornalista por um Dia.
essa frase com “Há” ou “À” no lugar do “A”. Adiante,
poucos percebem que “seu” é um pronome que retoma “a
1997
cidade”, ainda que um esteja no masculino e o outro no
Começa a editar o jornal Ação & Reação, do
feminino.
Grêmio de sua escola. Edita 8 jornais em dois anos,
Claro que o mais importante não é a gramatiquice, é que
ininterruptamente, com temas como política e drogas.
nosso cidadão saiba expressar-se com coerência, coesão e,
Agora com 15 anos (idade limite para o
mais ainda, tenha postura crítica e ideias originais. Também
concurso), é a primeira pessoa a vencer pela segunda vez o
é importante, entretanto, que não sejam sonegadas desse
Jornalista por um Dia, desta vez na categoria 14/15 anos. O
cidadão as regras sociais, incluindo aí o português padrão,
prêmio é uma viagem a Minas Gerais.
pois ali adiante esse desconhecimento pode acabar
excluindo, ou, pelo menos, subvalorizando pessoas de alta
1998
capacidade e que lutaram muito para reescrever seus
Vence o concurso Jovens Autores na Cidade
destinos.
Sorriso e participa de sua primeira antologia. Seu trabalho é
19. 14
destacado, também, como o melhor dentre os publicados na 2005
antologia; Forma-se em jornalismo pela UFRGS.
Escreve, aos 16 anos, a novela As Cinco Pontas de Torna-se colaborador do Jornal da Universidade
uma Estrela; Com o grupo Casa Verde, lança Fatais, em março,
Contos de Bolso, em junho, e Era uma Vez em Porto Alegre,
1999 em novembro
Fica entre os 3 primeiros colocados do Concurso Palestra no II Encontro Gaúcho de Escritores em
Nacional de Redação Assis Chateubriand, realizado em Bento Gonçalves
Brasília, e como prêmio ganha uma viagem a Capital e um Publica Vencer em Ilhas Tortas, pela WS Editor
valor em dinheiro; É eleito Vice-Presidente Administrativo da
Começa a editar a revista literária Veredas; Associação Gaúcha de Escritores
2000 2006
Ingressa na faculdade de Jornalismo da É convidado para ser colunista da revista nacional
Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Digestivo Cultural
Lança o livro As Cinco Pontas de uma Estrela, Ingressa no Mestrado em Literatura Brasileira na
então com 17 anos; UFRGS
Participa com trabalho sobre miniconto na
2001 ABRALIC, no RJ
Cria a msmidia.com, empresa de criação de sites É o autor com maior número de participações na
na internet, e futuramente teria clientes como Jaime Vaz programação oficial da 52ª Feira do Livro de Porto Alegre
Brasil, Caio Riter, Marô Barbieri, Luís Dill, Jane Tutikian,
Cíntia Moscovich, Mario Pirata, entre outros. 2007
Publica, no final do ano, a 2ª edição de As Cinco Participa com trabalho sobre miniconto na
Pontas de uma Estrela, pela WS Editor; ABRAPLIP, em SP
Faz a orelha do livro Adeus contos de fadas, de
2002 Leonardo Brasiliense, que é premiado com o Prêmio Jabuti
Associa-se na Associação Gaúcha de Escritores - de Melhor Livro Infantil de 2007
AGEs; É convidado para ministrar a 1ª Oficina de Criação
É selecionado para a Oficina de Criação Literária Literária da Uniritter
do Programa de Pós-Graduação da PUCRS, ministrada por Lança Crianças do Asfalto pela Casa do Psicólogo,
Luiz Antônio de Assis Brasil; sua estréia numa editora nacional e na literatura adulta
Lança o portal Artistas Gaúchos com o objetivo de
2003 fomentar a produção artística local
Lança a antologia Contos de Oficina 30, fruto da
Oficina realizada no ano anterior 2008
Trabalha como bolsista da Rádio da Universidade É convidado a integrar o Programa Autor
cobrindo, entre outros, a Feira do Livro; Presente, do IEL
Aos 21 anos, é eleito Vice-Presidente Social da É convidado para ministrar oficina de minicontos
Associação Gaúcha de Escritores no SESC-Copacabana, RJ
Cria o I Prêmio Gaúcho de Arte Eletrônica
2004 Lança A Cor do Outro pela Editora Kassol
Edita o Jornal das Letras, em parceria com Marisa É convidado para ministrar oficinas do Projeto
Magalhães, depois transformado em Entretexto Inclusive Eu, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre
Participa do grupo literário Casa Verde ao lado de Crianças do Asfalto ganha o Prêmio Livro do Ano
escritores como Luiz Paulo Faccioli, Laís Chaffe e Christina da Associação Gaúcha de Escritores - Categoria Não-Ficção
Dias Ganha o Prêmio Açorianos de Literatura pelo
Participa do Grande Júri para o Prêmio Açorianos portal Artistas Gaúchos
20. 15
2009 Lança Liberdade pela Escrita, coleção de textos
Ingressa no Doutorado em Literatura Comparada organizados por Marcelo Spalding e Neiva Tebaldi Gomes,
na UFRGS pela Editora Uniritter
É convidado para organizar a I Semana de Passa a integrar o corpo docente da Uniritter,
Literatura Digital da Feira do Livro de Porto Alegre atuando no curso de Letras
É convidado para participar do PROLER Caxias
para falar do Leitor na Era Digital 2011
Lança o projeto hiperconto.com.br e o primeiro Passa a atuar no curso de Direito da Uniritter,
hiperconto do Brasil, Um Estudo em Vermelho ministrando a disciplina de Língua Portuguesa
A Cor do Outro ganha o Prêmio Livro do Ano da Lança a versão online de Minicontos e Muito
Associação Gaúcha de Escritores - Categoria Juvenil Menos
É eleito Vice-Presidente Administrativo da
Associação Gaúcha de Escritores Fontes:
Biografia http://www.marcelospalding.com/?pg=2501
Texto enviado pelo autor.
2010
É convidado para palestrar no V Salão do Livro de
Tocantins sobre Literatura na Era Digital
Sebas Sundfeld
A Ajuda
Uma das cinco cronicas vencedoras do V Concurso Literário - Seu padre, aqui era só mato. Carpi tudu no cabu
“Cidade de Maringá” 2011. Sebas Sundfeld é de Tambaú/SP. da inxada, edubei e prantei. Óia agora o mio imbonecando...
os cacho do arrois...e ali, óia, o feijão nos carreadô.
Zéca, moço simples da roça, trabalhador e O vigário benzeu e ponderou: - É, meu filho, mas
religioso, herdara umas terrinhas do avô. Para lá se tocou tudo foi com a ajuda de Deus.
com a mulher, a tomar posse da propriedade e botar mãos à Passaram por perto do pasto, onde um matungo
obra. Com seu trabalho já rendendo alguma coisa e bom tordilho descansava do arado, à sombra de um jatobazeiro
cristão que era, convidou o vigário da Vila para benzer o nativo. Uma vaquinha leiteira e um bezerro completavam a
fruto do seu esforço honesto e suado. cena bucólica.
Após o almoço suculento servido na cozinha da - Aqui, seu padre - o Zéca continuava mostrando -
casa de chão de terra-batida e teto de telha-vâ, saíram ao sol, fofei a terra e óia só que beleza de hortinha!
o vigário de barrete e o Zéca com seu chapéu de banda. Com E o vigário contrito, alegou novamente: - Muito
justo orgulho, o roceiro ia mostrando, rindo e gesticulando, bom, meu filho, mas, veja bem, com a ajuda de Deus.
o produto resultante do seu esforço rude.
21. 16
Assim foi, o Zeca mostrando o fruto do seu distinguido com os Diplomas de Cidadão Honorário de
trabalho e o vigário lembrando a ajuda de Deus. Por último, Tambaú e Cidadão Benemérito de Pirassununga.
o roceiro já meio encabulado mostrou o pequeno celeiro. Ocupa a Cadeira "Mário de Andrade" na Academia
Comentou: - Tá barrotado. de Estudos e Pesquisas Literárias.
Outra vez o vigário repetiu: - Bonito, meu filho, É considerado um dos corifeus do haicai da escola
mas com a ajuda de Deus, não esqueça. guilherminiana.
Desenxabido, coçando o cocoruto, o Zéca Publicou 14 livros, entre 1960 e 2009, sendo 4 de
desabafou: trovas. Seus livros de contos e crônicas "Reticências" e
- Tá certo, seu vigário, tá certo. Mai, porém, o "Figuras" foram recentemente premiados com Medalha de
sinhor percisava era vê cumu tava istu tudo aqui, quando Ouro pela Câmara do Livro, orgão da ABEPL, no Rio de
Deus trabaiava sozinho... Janeiro.
Possui verbetes em Dicionários e Enciclopédias
Literárias.
Além das múltiplas publicações esparsas consta
Sebas Sundfeld em dezenas de Antologias. Detém considerável acervo de
Natural de Pirassununga-SP, Sebastião Alicio premiações literárias no Brasil e em Portugal. Na Rádio e
Sundfeld é conhecido pelo tratamento hipocorístico de Televisão Atlântico (Olhão/Algarve/Portugal), em 1997, foi
Sebas. assunto do programa Amigos em Sintonia".
De formação acadêmica em Pedagogia, exerceu Por ocasião do cinqüentenário da
funções docente e administrativa no Ensino Oficial do seu Capital Federal, foi contemplado com troféu alusivo,
estado. É orador, palestrante, musicista, com presença em oferecido pela Revista Brasilia.
jornais e revistas.
Criou a Biblioteca Pública Municipal de Tambaú, Fontes:
considerada a melhor da região e da qual é o patrono. De - Biografia (http://www.ubtnacional.com.br/)
- AGULHON, Olga e PALMA, Eliana. V Concurso Literário "Cidade de Maringá".
Tambaú é ainda o criador dos seus Símbolos Oficiais. Maringá: Academia de Letras de Maringá, 2011.
Na década de 80 realizou ali concorridos
Concursos Internacionais de Trova.
Recebeu homenagem pública, em 1991, por
ocasião do desfile de aniversário da cidade. É
Hermoclydes S. Franco
Trovas
A bengala cor da paz, tem um mistério que faz
que o homem cego conduz, o som transformar-se em luz!
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O prazer de conhecer-te!
Abraça o tempo que corre,
Na rapidez em que avança, Com efeitos especiais,
Que um bom momento não morre, Meus sonhos mostram, em tela,
Acaba sempre em lembrança! Os teus encantos reais
Na mais bonita aquarela!...
A emoção é bailarina,
Num palco azul de ilusões... Com talhadeira e martelo,
Se Deus a fez feminina, finas madeiras entalho...
Tinha lá Suas razões. E esse trabalho é tão belo
que já nem sei se é trabalho!
A fraqueza é um artifício
que leva alguém, sem escalas, Da guerra, entre os seus horrores,
a abrir as portas do vício não há glória que compense,
e não saber mais fechá-las!... para os Pracinhas, as dores
de quem perde ou de quem vence!...
Aquele que a paz expande
Tem a luz, bem definida, Dizem que todo baixinho
Que se transforma no grande tem mania de grandeza...
Prazer de viver a vida! Por isso é que o meu vizinho
só chama a mulher de... "alteza"!...
A inspiração é uma fada,
Com varinha de condão... Em privação de sentidos,
Quando toca a musa, amada, Em teus braços perfumados,
Há poesia em profusão!... Sonhei sonhos não vividos...
Vivi sonhos não sonhados...
Ante a maçã do pecado
na dúvida, vou sofrendo: Era uma vez... A saudade
- Se como... sou castigado; da meiga MÃE que ensinava,
se não como... me arrependo! na minha infância, a verdade
nas histórias que contava!…
Às vezes, troféus de glória
e incensos de aduladores Escondendo tal carinho
podem fazer da vitória Em seu semblante sisudo,
o ocaso dos vencedores!... Meu PAI me pôs no caminho
Preparado para tudo!...
A tempestade aparente
Do teu gênio, por magia, Eu, no rumo das gaivotas
Transformou-se de repente, no mar rendado de espumas,
Ao meu beijo, em calmaria! dentre centenas de rotas,
busco o roteiro em que rumas…
A vagar pela cidade,
Desde os tempos de menino, Foi tanta emoção sentida,
Procuro a felicidade Foram mil sonhos sonhados,
Que mora além do destino!... Que atravessamos a vida
Como eternos namorados...
A vida é dura batalha
que não aceita um "talvez" Lobo máu, o vento, ao léu,
e nem outorga medalha Se transforma em furacão
aos filhos da timidez! Ao ver, nas nuvens do céu,
Carneirinhos de algodão!...
A vida é a fada-madrinha
Que, ao ver nosso intenso flerte, Mãe! Flor de amor e bondade,
Deu-me, em toque de varinha, Nem precisa rima rica,