1. FICHA TÉCNICA: Arquitetura da Destruição. Direção: Peter Cohen. Produção: Versátil Home Vídeo.
Alemanha: Universal, 1992, 1 DVD.
Descrição do enredo:
O Documentário a arquitetura da destruição descreve a trajetória de Hitler e seus aliados durante a
ascensão do partido nazista na Alemanha, bem como da eclosão da 2º guerra mundial. Mostrando que
Hitler sempre sonhou em ser um grande artista, que após sua ascensão irá utilizar seus projetos
arquitetônicos bem como suas teorias, negando consideravelmente a arte modernista. Dessa forma esse
documentário relata como se dava a relação dos nazistas, com as obras artísticas existentes na
Alemanha e nos países dominados. Destacando, entretanto o nacionalismo e a moral ideológica Alemã
em uma época de grandes crises, em que o mundo se recuperava da 1º Guerra Mundial. Onde teóricos e
representantes do nazismo, passaram a questionar a arte moderna, relacionando essa arte a grupos
revoltosos, sublevadores como os judeus e os bolchevismo da Rússia. Nesta atmosfera o documentário
descreve a posição da Alemanha nazista em relação às obras modernistas. Pois nesse período florescia
na Europa diversas teorias raciais influenciariam Hitler, fazendo com que ele desenvolvesse uma política
de não aceitação da grande maioria das obras modernistas, que segundo ele representavam
deformações genéticas existentes na sociedade. O que despertou no regime nazista, um projeto de arte
em que se desenvolveria uma nova perspectiva dentro dos projetos, urbanísticos e arquitetônicos das
cidades. Assim este documentário trás importantes características da arte do governo Hitler. A qual dá
grande enfoque na teatralização, e na grandiosidade, promovendo um nacionalismo coletivo a cada idéia
defendida por Hitler e seus comandados.
Relatório:
Nesta obra, Arquitetura da Destruição, o ideal nazista é retratado sob a ótica da cultura, da arte,
arquitetura e dos projetos urbanísticos. Pois descreve Hitler como um líder que também detinha
conhecimento sobre a pintura, e como artista de algumas obras, porém Hitler como pintor não recebeu
inicialmente tanta atenção da sociedade Alemã. Fato que mudaria após ser eleito para comandar a
Alemanha nazista, Assim inicialmente percebe-se no documentário a determinação de Hitler em se
intitular como porta voz do povo.
Portanto com uma postura ditatorial e totalitária, Hitler não dialoga, com as massas, no Máximo utilizava
dos meios de propaganda para conquistar a moral dos soldados e da população civil, pois cada uma de
suas frases causava emoção, uma histeria coletiva, durante seus discursos.
Seu projeto inicial era unir o estado a uma nova arte, que negava a arte modernista por acreditar que esta
tinha um cunho degenerativo, depravando espiritualmente a sociedade alemã, bem como o resto do
mundo.
Assim dentro do projeto nazista de promover um anti-semitismo, almejar um crescimento em proporções
astronômicas, selecionar as pessoas de sangue puro, houve também o projeto que uniria o Estado a
opera, que compreendemos como o controle do Estado sob as artes.
Para isso o pensamento nazista, defendia o banimento e esterilização de doentes ou povos tidos como
raça impura. Apoiando-se em teorias médicas, que promovia tal política racial, a qual pretendia uma
higiene racial, um embelezamento e limpeza das cidades, que conseqüentemente promoveriauma saúde
"efetiva", e por fim um embelezamento do mundo.
Neste contexto, acreditamos que no Brasil essas teorias de limpeza e embelezamento também tiveram
grande receptividade com a finalidade renovar a arquitetura, é claro que aqui o movimento baseou-se na
rejeição de arquiteturas construídas antes do movimento modernista, caracterizando assim uma aversão
as idéias e aos estilos anteriores.
Portanto percebemos que, no caso de Brasília a população não participou das políticas públicas, ficando
somente a cargo de poucos grupos de intelectuais, "legítimos representantes dos interesses coletivos".
Que "acreditavam", em uma arquitetura urbanística que evitaria a discrimação social, pois todos
moradores coexistiriam socialmente.
Já dentro do ideal nazista, não toleravam indivíduos inferiores, consumindo os alimentos do povo Alemão,
bem como a utilização das principais construções para abrigar "loucos ou seres inferiores", enquanto os
sóbrios segundo a descrição do documentário se instalavam em guetos.
2. Dessa forma Hitler concentrou o poder, determinado como seria o projeto da grande arte nazista, filtrando
todas as medidas tomadas por seus homens de confiança no que desrespeitava as questões artísticas.
Neste contexto muitos artistas foram banidos, pois foram considerados impróprios ou degenerados para o
novo modelo estético de arte nazista.
A arte alemã ambicionava o embelezamento, mas para isso deveria haver um retorno a Beleza, o que
proporcionaria grandes mudanças, no local de trabalho, para que esse se torne bonito e funcional,
promovendo um bem estar pessoal no trabalho. Criando também um novo tipo de homem, com uma
imagem desejada. Que conforme Sandra Bernardes e Chauí o Brasil também, almejou idealizando a
construção de um Homem-novo, com base na aliança entre o Estado e os "gênios" da arquitetura, que
acreditavam que poderiam negar o passado para construir o futuro.
Nesse sentido acreditamos que na construção de Brasília, houve a influência algumas dessas teorias que
defendiam a libertação da sociedade do problema da luta de classe, que o que faria o trabalhador sair da
condição de proletariado, participando assim de uma cidade em que não haveria discriminações, a qual
seria baseada em grandes projetos urbanísticos e arquitetônicos, que idealizavam construções
monumentais, efetuando uma vasta mudança nas estruturas maciças e gigantescas nas construções.
Assim percebemos uma associação de técnicas, métodos científicos da arquitetura, entrelaçados a arte e
principalmente a questão político-ideológica do grupo que esta no poder.
Dentro do projeto arquitetônico nazistas, houve uma admiração por construções da antiguidade de Roma,
Esparta e Atenas, bem como a organização para a arte da guerra.
Contudo este estudo nos faz perceber que na Alemanha nazista, bem como no Brasil, resguardando é
claro as peculiaridades, o grupo dominante baseia-se no discurso de que a comunidade e despreparada e
que a elite é quem deve pensar e agir em nome da coletividade, não se adota uma política como a
defendida de que a cidadania cultural, deveria compreender a cultura como o direito do cidadão de ter
acesso à informação, à produção de cultura, e por fim de participação de todas as decisões políticas.
Dessa forma consideramos que a cultura é um direito do cidadão, de pensar, criar ou escolher obras que
tenham algum significado e importância dentro da comunidade, e sendo assim o fator comercial não
deveria interferir nessa questão, pois estes grupos dominantes escolhem obras, construções que deverão
ou não ser protegidas por leis patrimoniais, geralmente com interesses pessoais ou monetários.
Assim acredito que devemos considerar que os seres têm prioridade, sobre questões patrimoniais e que
se por um lado o tombamento de obras ou construções é de grande importância, por outro lado não
podemos nós submeter a questões burocráticas, bem como às leis elaboradas por grupos dominantes
que não representam os interesses da coletividade. Sendo assim acredito que os bens patrimoniais
sempre terão que ser adaptados as necessidades da pessoa humana.
A morte de Giordano Bruno: filosofia, religião
e o erro de Veneza
3. •
Por Cássio Lignani
Em 17 de fevereiro de 1600, Giordano Bruno foi queimado vivo depois de dois
julgamentos e seis anos de cárcere em Roma. Condenado à fogueira por heresia,
Giordano Bruno morreu como símbolo de um tempo de mudança. Seus livros foram
queimados, mas suas idéias se perpetuaram. A condenação de Bruno não só
evidenciou o desespero da Igreja Católica frente às reformas religiosas que
aconteceram em toda a Europa no século XVI, mas também propagandeou
involuntariamente as idéias heréticas que haviam sido condenadas.
Rebelde por natureza, Bruno ingressou na ordem dominicana de onde acabou fugindo
por insubordinação para se tornar, a partir de 1576, um “sábio errante”, como o designa
o escritor norte-americano Richard Morris, em seu livro Uma breve história do infinito –
dos paradoxos de Zenão ao universo quântico.
Em 1579, depois de ter vivido em várias cidades italianas, Bruno se mudou para
França onde obteve um doutorado em teologia pela Universidade de Toulouse. Viveu
também em Paris e na Inglaterra, tendo lecionado em Oxford. Trabalhou em algumas
universidades da Alemanha e, em 1591, voltou a Veneza para trabalhar como tutor de
Mocenigo, um rico comerciante.
O filme Giordano Bruno (1973), de Giuliano Montaldo, se inicia justamente nesse
período. Bruno já é um filósofo conhecido em grande parte da Europa e se hospeda na
casa de Mocenigo, em Veneza. Os dois se desentendem e Bruno é denunciado aos
inquisidores. Nessa ocasião, é realizado o primeiro julgamento, interrompido pela
Santa Inquisição Romana, que exigia a extradição do prisioneiro a Roma.
No filme, alguns traços históricos podem ser remarcados de forma muito interessante,
como as diferenças entre a República de Veneza e Roma, centro do poder papal. A
autoridade do papa era reconhecida por todos os reinos católicos, mas controlava
administrativamente apenas o centro da península itálica – embora a Igreja Católica
fosse um dos pilares de vários monarcas europeus. Quando o senado veneziano vota
4. em favor da extradição de Giordano Bruno, fica evidenciado o enfraquecimento da
autonomia de Veneza, que, no século XVI, já estava em decadência como as outras
cidades mercantes do Mediterrâneo, a ponto de o senado decidir conforme fosse mais
conveniente para suas relações com a Santa Sé.
A extradição de Giordano Bruno, mesmo depois de ter abjurado em troca de sua
liberdade, é uma ação política que retrata o momento pelo qual passava Veneza,
antecipando sua dependência do Papa. Nesse ponto, o filme acerta, pois refaz bem o
contexto político e mostra que Bruno morreu não só por suas idéias, mas também
como um sacrifício “diplomático” de Veneza.
Fora a questão de poder entre as cidades italianas, Giordano Bruno foi condenado à
fogueira por oito heresias destacadas de seus livros durante o segundo julgamento,
em Roma. Entre elas está a crença no sistema heliocêntrico, mas também está a
crença na reencarnação e no universo infinito. Sobre Bruno, Richard Morris também
diz que “embora fosse um copernicano ardoroso, Bruno não era um cientista e
contribuiu pouco ou nada para o desenvolvimento da astronomia.” No entanto, isso não
exclui a importância de suas idéias nem anula sua contribuição ao desenvolvimento do
conhecimento humano.
O filme Giordano Bruno é interessante – conta com trilha sonora de Enio Morricone –,
mas não é uma obra-prima cinematográfica. Parece que houve a preocupação em
colocar nos diálogos sempre uma frase de efeito, e algumas cenas são
demasiadamente melodramáticas. Apesar disso, é válido assistir por sua relevância
histórica. A morte de Giordano Bruno não foi só mais uma atrocidade resultante da
incompatibilidade entre a verdade filosófica e religiosa, mas representou também a
vergonha de Veneza ao entregar um livre-pensador à Santa Inquisição de Roma.