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A CIDADE e as serras
Análise da obra
Professor Jefferson Cassiano
RO M A N C E D E E Ç A D E Q U E I R Ó S
Evolucionismo:
O HOMEM EVOLUI COMO QUALQUER OUTRO SER VIVO E
ATRAVÉS DA LEI DA SELEÇÃO NATURAL
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O QUE ACONTECIA NO FINAL DO SÉC. XIX A CIDADE e as serras
João Maria Eça de Queirós
(1845 - 1901)
1ª fase – Romântica (Prosas Bárbaras):
temas e idealizações Românticas, descrições já
Realistas e estilo de feições Simbolistas.
2ª fase – Realista (O Crime do Padre Amaro, O
Primo Basílio, Os Maias): romance de
costumes, com a análise objetiva e crítica da
sociedade.
3ª fase - Realista de Transição (A Ilustre Casa
de Ramires, A Cidade e as Serras, Últimas
Páginas): moderação no sarcasmo e na ironi,
sentimento mais afetivo em relação à Portugal.
AS FASES DE EÇA DE QUEIRÓS A CIDADE e as serras
A CIDADE E AS SERRAS
Publicado em 1901, depois da
morte do autor.
Duas concepções de vida: vida
no campo e a
vida na cidade.
A CIDADE E AS SERRAS:
UM OUTRO EÇA
DE 1875 até 1900:
Eça crítico dos excessos, dos
vícios e desvios da sociedade
burguesa. Eça pessimista, irônico,
descrente na mudança do homem.
EÇA SOCIALISTA
EM A CIDADE E AS SERRAS:
Eça crente na redenção de
Portugal. Eça moderado, otimista.
EÇA HUMANO.
O texto é uma ampliação de um conto intitulado
"Civilização" (1892). Conta-se a história de Jacinto,
neto de D. Galião. Órfão de pai, Jacinto nasceu e
cresceu em Paris, ficando desde cedo maravilhado
com a cidade e com todas as invenções e tecnologia
da época (é o período conhecido como Belle
Époque). Formulou então uma teoria, segundo a
qual, para um indivíduo tornar-se feliz deveria ser
"superiormente civilizado". Assim, reúne em seu
palacete tudo o que a civilização industrial produzira
até então: elevadores, telefones, engenhocas as
mais diversas, além de uma biblioteca de mais de 30
mil volumes.
A CIDADE e as serras
“Com estes olhos que recebemos da Madre Natureza, lestos e
sãos, nós podemos apenas distinguir além, através da Avenida,
naquela loja, uma vidraça alumiada. Nada mais! Se eu porém aos
meus olhos juntar os dois vidros simples de um binóculo de
corridas, percebo, por trás da vidraça, presuntos, queijos, boiões
de geléia e caixas de ameixa seca. Concluo, portanto, que é uma
mercearia. Obtive uma noção: tenho sobre ti, que com os olhos
desarmados vês só o luzir da vidraça, uma vantagem positiva. Se
agora, em vez destes vidros simples, eu usasse os de meu
telescópio, de composição mais científica, poderia avistar além,
no planeta Marte, os mares, as neves, os canais, o recorte dos
golfos, toda a geografia de um astro que circula a milhares de
léguas dos Campos Elísios. É outra noção, e tremenda! Tens aqui,
pois, o olho primitivo, o da natureza, elevado pela Civilização à
sua máxima potência da visão. E desde já, pelo lado do olho,
portanto, eu, civilizado, sou mais feliz que o incivilizado, porque
descubro realidades do universo que ele não suspeita e de que
está privado. Aplica esta prova a todos os órgãos e compreende o
meu princípio. Enquanto à inteligência, e à felicidade que dela se
tira pela incansável acumulação das noções, só te peço que
compares Renan e o Grilo... Claro é, portanto, que nos devemos
cercar de Civilização nas máximas proporções para gozar nas
máximas proporções a vantagem de viver.”
A história é narrada por José Fernandes, melhor amigo
de Jacinto, que viera de uma propriedade rural localizada
em Guiães, Portugal, e fora a Paris estudar. José
Fernandes, a partir daí, pôde observar com maior
atenção o amigo; suas intensas atividades o
desgastavam e, com o passar do tempo, constatou que
Jacinto foi perdendo a credulidade, percebendo a
futilidade das pessoas com quem convivia, a inutilidade
de muitas coisas da sua tão decantada civilização. Nos
raros momentos em que conseguiam passear,
confessava ao amigo que o barulho das ruas o
incomodava, a multidão o molestava: ele atravessava um
período de nítido desencanto. Alguns incidentes
contribuíram sobremaneira para afetar o estado de ânimo
de Jacinto: o rompimento de um dos tubos da sala de
banho, fazendo jorrar água quente por todo o quarto,
inundando os tapetes, foi o bastante para aparecer uma
pilha de telegramas, alguns inclusive com um riso
sarcástico, com o do Grão-duque Casimiro, dizendo que
não mais apareceria pelo 202 sem que tivesse uma bóia
de salvação.
A CIDADE e as serras
As reuniões sociais estavam ficando
maçantes. Em uma recepção ao Grão-
Duque, Jacinto já não agüentava o farfalhar
das sedas das mulheres quando lhes
explicava o uso dos diferentes aparelhos, o
tetrafone, o numerador de páginas, o
microfone... O criado veio lhe informar que
o peixe a ser servido ficara preso no
elevador e os convidados puseram-se a
pescá-lo, inutilmente, porque o peixe
acabou não indo para a mesa, fato que
deixou ainda mais aborrecido o anfitrião.
A CIDADE e as serras
“ Claramente percebia eu que o meu Jacinto
atravessava uma densa névoa de tédio, tão
densa, e ele tão afundado na sua mole
densidade, que as glórias ou os tormentos de
um camarada não o comoviam, como muito
remotas, inatingíveis, separadas da sua
sensibilidade por imensas camadas de
algodão. Pobre Príncipe Grã-Ventura,
tombado para o sofá de inércia, com os pés no
regaço do pedicuro! Em que lodoso fastio
caíra, depois de renovar tão brava mente todo
o recheio mecânico e erudito do 202, na sua
luta contra a força e a matéria!”
A CIDADE e as serras
Preocupado, Zé Fernandes consulta o fiel
criado Grilo sobre o que está ocorrendo
com Jacinto. O homem respondeu com
tamanho conhecimento de causa que
espantou o narrador. Uma simples palavra
poderia definir todo o tédio de que era
acometido: o patrão sofria de “fartura”.
A CIDADE e as serras
“ Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a
fartura de Paris; e na Cidade, na simbólica Cidade, fora
de cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava,
iluminado) o homem do século XIX nunca poderia
saborear plenamente a "delícia de viver", ele não
encontrava agora forma de vida, espiritual ou social, que
o interessasse, lhe valesse o esforço de uma corrida curta
numa tipóia fácil. Pobre Jacinto! (...) Não se ocupara
mais das suas sociedades e companhias, nem dos
telefones de Constantinopla, nem das religiões esotéricas,
nem do bazar espiritualista, cujas cartas fechadas se
amontoavam sobre a mesa de ébano, de onde o Grilo as
varria tristemente como o lixo de uma vida finda. Também
lentamente se despegava de todas as sua convivências.
(...) Jazer, jazer em casa, na segurança das portas bem
cerradas e bem fendidas contra toda a intrusão do mundo,
seria uma doçura para o meu Príncipe se o seu próprio
202, com todo aquele tremendo recheio de Civilização,
não lhe desse uma sesação dolorosa de abafamento, de
atulhamento!”
Do maquinário instalado no palacete de
Jacinto, nada funciona adequadamente.
Os livros são, na verdade, reduzidos a
objetos de ostentação, uma vez que o
"Príncipe da Grã Ventura" (alcunha pela
qual o narrador se refere a Jacinto) não os
lê, sintoma entre outros do desânimo e
descrença na civilização que abraçara com
tanto ímpeto. Atira-se então à leitura do
livro bíblico Eclesiastes, segundo o qual
"tudo é vaidade", e à filosofia pessimista
de Schopenhauer, para quem a vida é um
pêndulo que oscila entre o tédio e o
sofrimento.
A CIDADE e as serras
Em um passeio que fazem os dois amigos pelos arredores
de Paris, na colina da Basílica do Sacré-Coeur, José diz
ao amigo:
"o homem pensa que tem na cidade a base de toda a sua
grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria", e Jacinto
concorda: "sim, é talvez tudo uma ilusão... e a cidade a maior
ilusão!“
Zé Fernandes, nesse passeio, continuou a filosofar,
acrescentando preocupações de caráter pessoal,
indagando a posição dos pequenos que, como vermes, se
arrastavam pelo chão, enquanto os poderosos os
massacravam; eles iam às óperas aquecidos, lançando
aos pobres não mais que algumas migalhas.
Religiosamente, acreditava ser necessário um novo
Messias que ensinasse às multidões a humildade e a
mansidão.
A CIDADE e as serras
Só uma estreita e reluzente casta goza na Cidade e os gozos
especiais que ele a cria. O resto, a escura, imensa plebe, só nela
sofre, e com sofrimento especiais, que só nela existem! (...) A tua
Civilização reclama incansavelmente regalos e pompas, que só
obterá, nesta amarga desarmonia social, se o capital der ao
trabalho, por cada arquejante esforço, uma migalha ratinhada.
Irremediável é, pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe
pene! A sua esfalfada miséria é a condição do esplendor sereno da
Cidade. (...)
Pensativamente deixou a borda do terraço, como se a presença da
Cidade, estendida na planície, fosse escandalosa. E caminhamos
devagar, sob a moleza cinzenta da tarde, filosofando -
considerando que para esta iniqüidade não havia cura humana,
trazida pelo esforço humano. Ah, os Efrains, os Trèves, os vorazes
e sombrios tubarões do mar humano, só abandonarão ou
afrouxarão a exploração das plebes, se uma influência celeste, por
milagre novo, mais alto que os milagres velhos, lhes converter as
almas! O burguês triunfa, muito forte, todo endurecido no pecado
- e contra ele são impotentes os prantos dos humanitários, os
raciocínios dos lógicos, as bombas dos anarquistas. Para
amolecer tão duro granito só uma doçura divina. Eis pois a
esperança da Terra novamente posta num Messias!...
Por motivos familiares, Jacinto muda-se
para sua propriedade rural em Tormes,
vizinha à de José Fernandes; antes, envia
para lá uma série de aparelhos e livros.
Partem os dois amigos de volta a Portugal.
José Fernandes estava feliz em rever a
pátria; Jacinto, aborrecido e enfadado
principalmente porque, em Medina
(Espanha), as malas ficaram em
compartimentos errados quando foi feita a
baldeação. O narrador, com o intuito de
aclamar o amigo, diz-lhe que a Companhia
cuidaria de tudo. E ficaram os dois só com a
roupa do corpo. Enfim, chegaram a Tormes.
...e ambos em pé, às janelas, esperamos com
alvoroço a pequenina estação de Tormes,
termo ditodoso das nossas provações. Ela
apareceu enfim, clara e simples, à beira do
rio, entre rochas, com sues vistoso girassóis
enchendo um jardinzinho breve, as duas altas
figueiras assombreando o pátio, e por trás, a
serra coberta de velho e denso arvoredo.
A CIDADE e as serras
Do mesmo modo que idealizara a vida
urbana, Jacinto passa a idealizar a vida
campesina. Aos poucos, porém, percebe
que o ideal é unir o que a sociedade
urbana tem de melhor e útil, como por
exemplo o telefone, com a simplicidade
dos camponeses. Casa-se com
Joaninha, uma prima de Zé Fernandes, e
tem com ela dois filhos, Jacinto e Teresa.
Sua vida atinge o equilíbrio, sem
idealizações exageradas.
REALISMO/NATURALISMO
ROMANCE DE TESE:
Tese inicial: só a tecnologia
(CIDADE) traz felicidade
Antítese: só a simplicidade
(SERRAS) traz felicidade
Síntese: uma vida
equilibrada traz felicidade.
(alguma tecnologia + simplicidade)
A Cidade e as Serras mostra uma relação
entre as elites e as classes subalternas na
qual aquelas promovessem estas
socialmente, como faz Jacinto ao reformar sua
propriedade no campo e melhorar as
condições vida dos trabalhadores. Por meio
do personagem central, Jacinto de Tormes,
que representa a elite portuguesa, a obra
critica-lhe o estilo de vida afrancesado e
desprovido de autenticidade, que enaltece o
progresso urbano e industrial e se desenraiza
do solo e da cultura do país. Na obra, a
apologia da natureza não pode ser confundida
com o elogio da mesmice e da mediocridade
da vida campestre de Portugal. Ao contrário,
trata-se de agigantar o espírito lusitano, em
seu caráter ativo e trabalhador.
Foco narrativo
Escrito em primeira pessoa, A Cidade e as
Serras, como a maioria dos romances de
Eça de Queirós, há um narrador-
personagem, José Fernandes, o qual não se
confunde com o protagonista da obra,
Jacinto de Tormes. Este narrador coloca-se
como menos importante do que o
protagonista, como podemos perceber, por
exemplo, no início da obra. Nos primeiros
parágrafos do livro o narrador, em vez de
apresentar-se ao leitor, coloca-se em
segundo plano para apresentar toda a
descendência dos de Tormes, até aparecer a
figura de Jacinto. Além disso, dá-lhe
tratamento diferenciado, parecendo idealizar
Jacinto, na medida em que o chama de
"Príncipe da Grã-Ventura", conforme apelido
estudantil do protagonista.
Jacinto de Tormes, ao buscar a felicidade,
empreendeu uma viagem que o reencontrou
consigo mesmo e com o seu país. Tal viagem,
que é exterior e interior, inclui a pátria
portuguesa e se reveste de uma significação
particular, pode ser lida como um processo de
auto-conhecimento:
um novo Portugal e um novo português se
percebem nas serras que querem utilizam
da cidade o necessário para se civilizarem
sem se corromperem.
A Cidade e as Serras é um romance no
qual se destaca a categoria espaço, na
medida em que os ambientes são
fundamentais para a compreensão da
história, destacando-se os contrastes
por meio dos quais se contrapõem.
Assim, a amplidão da quinta de Tormes
contrasta com a estreiteza do universo
tecnológico do 202, o que aponta para a
oposição entre o espaço civilizado e o
espaço natural, presente em todo o
romance.
Um registro importante a se fazer é que a
tese defendida no romance remete o
leitor ao Arcadismo (século XVIII), época
exatamente do início da Idade
Contemporânea, com as Revoluções
Industrial e Francesa. Nesse período, os
poetas propunham a fuga da cidade,
fugure urbem, e idealizam a vida
bucólica, tendo frequentemente a poesia
pastoral como tema e transformado o
campo numa espécie de território perdido
evocado em versos como os do nosso
Cláudio Manuel da Costa:
Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado!
Saudade de Minha Terra
(Goia e Belmonte)
De que me adianta viver na cidade
Se a felicidade não me acompanhar
Adeus paulistinha do meu coração
Lá pro meu sertão eu quero voltar
Ver a madrugada quando a passarada
Fazendo a alvorada começa a cantar
Com satisfação, eu arreio o burrão
Cortando o estradão, eu saio a galopar
E vou escutando o galo berrando
Sabiá cantando no jequitibá
Por Nossa Senhora, meu sertão querido
Vivo arrependido por ter te deixado
Essa nova vida aqui na cidade
De tanta saudade eu tenho chorado
Aqui tem alguém, diz que me quer bem
Mas não me convém, eu tenho pensado
Eu vivo com pena, pois essa morena
Não sabe o sistema que eu fui criado
Tô aqui cantando, de longe escutando
Alguém está chorando com o rádio ligado
Que saudade imensa do campo e do mato
Do nosso regato que corta as campina
Aos domingo eu ia passear de canoa
Nas lindas lagoas de águas cristalinas
Que doce lembrança daquela festança
Onde tinha dança e muitas meninas
Eu vivo hoje em dia sem ter alegria
O mundo judia mas também me ensina
Eu tô contrariado, mas não derrotado
Eu sou bem guiado pelas mãos divinas
Pra minha mãezinha já telegrafei
E já me cansei de tanto sofrer
Essa madrugada estarei de partida
Pra terra querida que me viu nascer
Já ouço sonhando o galo cantando
O inhambu piando no escurecer
A lua prateada clareando as estradas
A relva molhada desde o anoitecer
Eu preciso ir pra ver tudo ali
Foi lá que eu nasci, lá quero morrer
Sobre a cidade e as serras
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Sobre a cidade e as serras
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Sobre a cidade e as serras

  • 1. A CIDADE e as serras Análise da obra Professor Jefferson Cassiano RO M A N C E D E E Ç A D E Q U E I R Ó S
  • 2. Evolucionismo: O HOMEM EVOLUI COMO QUALQUER OUTRO SER VIVO E ATRAVÉS DA LEI DA SELEÇÃO NATURAL Positivismo: SÓ O DADO POSITIVO (científico) É VÁLIDO. O DADO NEGATIVO (intuitivo) DEVE SER DESCARTADO. Determinismo: TODAS AS ESCOLHAS DO HOMEM SÃO DEFINIDAS PELO MEIO, PELA RAÇA E PELA CULTURA. Socialismo: TODOS OS MEIOS DE PRODUÇÃO PERTENCEM À COLETIVIDADE. O QUE ACONTECIA NO FINAL DO SÉC. XIX A CIDADE e as serras
  • 3. • Gustave Flaubert: Madame Bovary • Oposição ao Romantismo: Questão Coimbrã • Antero de Quental X Antonio Castilho • Anti-burguês, Anti-monárquico, Anti-Clerical • Portugal: Geração de 70 • EÇA DE QUEIRÓS O QUE ACONTECIA NO FINAL DO SÉC. XIX A CIDADE e as serras
  • 4. João Maria Eça de Queirós (1845 - 1901)
  • 5. 1ª fase – Romântica (Prosas Bárbaras): temas e idealizações Românticas, descrições já Realistas e estilo de feições Simbolistas. 2ª fase – Realista (O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, Os Maias): romance de costumes, com a análise objetiva e crítica da sociedade. 3ª fase - Realista de Transição (A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras, Últimas Páginas): moderação no sarcasmo e na ironi, sentimento mais afetivo em relação à Portugal. AS FASES DE EÇA DE QUEIRÓS A CIDADE e as serras
  • 6. A CIDADE E AS SERRAS Publicado em 1901, depois da morte do autor. Duas concepções de vida: vida no campo e a vida na cidade.
  • 7. A CIDADE E AS SERRAS: UM OUTRO EÇA DE 1875 até 1900: Eça crítico dos excessos, dos vícios e desvios da sociedade burguesa. Eça pessimista, irônico, descrente na mudança do homem. EÇA SOCIALISTA EM A CIDADE E AS SERRAS: Eça crente na redenção de Portugal. Eça moderado, otimista. EÇA HUMANO.
  • 8. O texto é uma ampliação de um conto intitulado "Civilização" (1892). Conta-se a história de Jacinto, neto de D. Galião. Órfão de pai, Jacinto nasceu e cresceu em Paris, ficando desde cedo maravilhado com a cidade e com todas as invenções e tecnologia da época (é o período conhecido como Belle Époque). Formulou então uma teoria, segundo a qual, para um indivíduo tornar-se feliz deveria ser "superiormente civilizado". Assim, reúne em seu palacete tudo o que a civilização industrial produzira até então: elevadores, telefones, engenhocas as mais diversas, além de uma biblioteca de mais de 30 mil volumes. A CIDADE e as serras
  • 9. “Com estes olhos que recebemos da Madre Natureza, lestos e sãos, nós podemos apenas distinguir além, através da Avenida, naquela loja, uma vidraça alumiada. Nada mais! Se eu porém aos meus olhos juntar os dois vidros simples de um binóculo de corridas, percebo, por trás da vidraça, presuntos, queijos, boiões de geléia e caixas de ameixa seca. Concluo, portanto, que é uma mercearia. Obtive uma noção: tenho sobre ti, que com os olhos desarmados vês só o luzir da vidraça, uma vantagem positiva. Se agora, em vez destes vidros simples, eu usasse os de meu telescópio, de composição mais científica, poderia avistar além, no planeta Marte, os mares, as neves, os canais, o recorte dos golfos, toda a geografia de um astro que circula a milhares de léguas dos Campos Elísios. É outra noção, e tremenda! Tens aqui, pois, o olho primitivo, o da natureza, elevado pela Civilização à sua máxima potência da visão. E desde já, pelo lado do olho, portanto, eu, civilizado, sou mais feliz que o incivilizado, porque descubro realidades do universo que ele não suspeita e de que está privado. Aplica esta prova a todos os órgãos e compreende o meu princípio. Enquanto à inteligência, e à felicidade que dela se tira pela incansável acumulação das noções, só te peço que compares Renan e o Grilo... Claro é, portanto, que nos devemos cercar de Civilização nas máximas proporções para gozar nas máximas proporções a vantagem de viver.”
  • 10. A história é narrada por José Fernandes, melhor amigo de Jacinto, que viera de uma propriedade rural localizada em Guiães, Portugal, e fora a Paris estudar. José Fernandes, a partir daí, pôde observar com maior atenção o amigo; suas intensas atividades o desgastavam e, com o passar do tempo, constatou que Jacinto foi perdendo a credulidade, percebendo a futilidade das pessoas com quem convivia, a inutilidade de muitas coisas da sua tão decantada civilização. Nos raros momentos em que conseguiam passear, confessava ao amigo que o barulho das ruas o incomodava, a multidão o molestava: ele atravessava um período de nítido desencanto. Alguns incidentes contribuíram sobremaneira para afetar o estado de ânimo de Jacinto: o rompimento de um dos tubos da sala de banho, fazendo jorrar água quente por todo o quarto, inundando os tapetes, foi o bastante para aparecer uma pilha de telegramas, alguns inclusive com um riso sarcástico, com o do Grão-duque Casimiro, dizendo que não mais apareceria pelo 202 sem que tivesse uma bóia de salvação. A CIDADE e as serras
  • 11. As reuniões sociais estavam ficando maçantes. Em uma recepção ao Grão- Duque, Jacinto já não agüentava o farfalhar das sedas das mulheres quando lhes explicava o uso dos diferentes aparelhos, o tetrafone, o numerador de páginas, o microfone... O criado veio lhe informar que o peixe a ser servido ficara preso no elevador e os convidados puseram-se a pescá-lo, inutilmente, porque o peixe acabou não indo para a mesa, fato que deixou ainda mais aborrecido o anfitrião. A CIDADE e as serras
  • 12. “ Claramente percebia eu que o meu Jacinto atravessava uma densa névoa de tédio, tão densa, e ele tão afundado na sua mole densidade, que as glórias ou os tormentos de um camarada não o comoviam, como muito remotas, inatingíveis, separadas da sua sensibilidade por imensas camadas de algodão. Pobre Príncipe Grã-Ventura, tombado para o sofá de inércia, com os pés no regaço do pedicuro! Em que lodoso fastio caíra, depois de renovar tão brava mente todo o recheio mecânico e erudito do 202, na sua luta contra a força e a matéria!” A CIDADE e as serras
  • 13. Preocupado, Zé Fernandes consulta o fiel criado Grilo sobre o que está ocorrendo com Jacinto. O homem respondeu com tamanho conhecimento de causa que espantou o narrador. Uma simples palavra poderia definir todo o tédio de que era acometido: o patrão sofria de “fartura”. A CIDADE e as serras
  • 14. “ Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a fartura de Paris; e na Cidade, na simbólica Cidade, fora de cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava, iluminado) o homem do século XIX nunca poderia saborear plenamente a "delícia de viver", ele não encontrava agora forma de vida, espiritual ou social, que o interessasse, lhe valesse o esforço de uma corrida curta numa tipóia fácil. Pobre Jacinto! (...) Não se ocupara mais das suas sociedades e companhias, nem dos telefones de Constantinopla, nem das religiões esotéricas, nem do bazar espiritualista, cujas cartas fechadas se amontoavam sobre a mesa de ébano, de onde o Grilo as varria tristemente como o lixo de uma vida finda. Também lentamente se despegava de todas as sua convivências. (...) Jazer, jazer em casa, na segurança das portas bem cerradas e bem fendidas contra toda a intrusão do mundo, seria uma doçura para o meu Príncipe se o seu próprio 202, com todo aquele tremendo recheio de Civilização, não lhe desse uma sesação dolorosa de abafamento, de atulhamento!”
  • 15. Do maquinário instalado no palacete de Jacinto, nada funciona adequadamente. Os livros são, na verdade, reduzidos a objetos de ostentação, uma vez que o "Príncipe da Grã Ventura" (alcunha pela qual o narrador se refere a Jacinto) não os lê, sintoma entre outros do desânimo e descrença na civilização que abraçara com tanto ímpeto. Atira-se então à leitura do livro bíblico Eclesiastes, segundo o qual "tudo é vaidade", e à filosofia pessimista de Schopenhauer, para quem a vida é um pêndulo que oscila entre o tédio e o sofrimento. A CIDADE e as serras
  • 16. Em um passeio que fazem os dois amigos pelos arredores de Paris, na colina da Basílica do Sacré-Coeur, José diz ao amigo: "o homem pensa que tem na cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria", e Jacinto concorda: "sim, é talvez tudo uma ilusão... e a cidade a maior ilusão!“ Zé Fernandes, nesse passeio, continuou a filosofar, acrescentando preocupações de caráter pessoal, indagando a posição dos pequenos que, como vermes, se arrastavam pelo chão, enquanto os poderosos os massacravam; eles iam às óperas aquecidos, lançando aos pobres não mais que algumas migalhas. Religiosamente, acreditava ser necessário um novo Messias que ensinasse às multidões a humildade e a mansidão. A CIDADE e as serras
  • 17. Só uma estreita e reluzente casta goza na Cidade e os gozos especiais que ele a cria. O resto, a escura, imensa plebe, só nela sofre, e com sofrimento especiais, que só nela existem! (...) A tua Civilização reclama incansavelmente regalos e pompas, que só obterá, nesta amarga desarmonia social, se o capital der ao trabalho, por cada arquejante esforço, uma migalha ratinhada. Irremediável é, pois, que incessantemente a plebe sirva, a plebe pene! A sua esfalfada miséria é a condição do esplendor sereno da Cidade. (...) Pensativamente deixou a borda do terraço, como se a presença da Cidade, estendida na planície, fosse escandalosa. E caminhamos devagar, sob a moleza cinzenta da tarde, filosofando - considerando que para esta iniqüidade não havia cura humana, trazida pelo esforço humano. Ah, os Efrains, os Trèves, os vorazes e sombrios tubarões do mar humano, só abandonarão ou afrouxarão a exploração das plebes, se uma influência celeste, por milagre novo, mais alto que os milagres velhos, lhes converter as almas! O burguês triunfa, muito forte, todo endurecido no pecado - e contra ele são impotentes os prantos dos humanitários, os raciocínios dos lógicos, as bombas dos anarquistas. Para amolecer tão duro granito só uma doçura divina. Eis pois a esperança da Terra novamente posta num Messias!...
  • 18. Por motivos familiares, Jacinto muda-se para sua propriedade rural em Tormes, vizinha à de José Fernandes; antes, envia para lá uma série de aparelhos e livros. Partem os dois amigos de volta a Portugal. José Fernandes estava feliz em rever a pátria; Jacinto, aborrecido e enfadado principalmente porque, em Medina (Espanha), as malas ficaram em compartimentos errados quando foi feita a baldeação. O narrador, com o intuito de aclamar o amigo, diz-lhe que a Companhia cuidaria de tudo. E ficaram os dois só com a roupa do corpo. Enfim, chegaram a Tormes.
  • 19. ...e ambos em pé, às janelas, esperamos com alvoroço a pequenina estação de Tormes, termo ditodoso das nossas provações. Ela apareceu enfim, clara e simples, à beira do rio, entre rochas, com sues vistoso girassóis enchendo um jardinzinho breve, as duas altas figueiras assombreando o pátio, e por trás, a serra coberta de velho e denso arvoredo. A CIDADE e as serras
  • 20. Do mesmo modo que idealizara a vida urbana, Jacinto passa a idealizar a vida campesina. Aos poucos, porém, percebe que o ideal é unir o que a sociedade urbana tem de melhor e útil, como por exemplo o telefone, com a simplicidade dos camponeses. Casa-se com Joaninha, uma prima de Zé Fernandes, e tem com ela dois filhos, Jacinto e Teresa. Sua vida atinge o equilíbrio, sem idealizações exageradas.
  • 21. REALISMO/NATURALISMO ROMANCE DE TESE: Tese inicial: só a tecnologia (CIDADE) traz felicidade Antítese: só a simplicidade (SERRAS) traz felicidade Síntese: uma vida equilibrada traz felicidade. (alguma tecnologia + simplicidade)
  • 22. A Cidade e as Serras mostra uma relação entre as elites e as classes subalternas na qual aquelas promovessem estas socialmente, como faz Jacinto ao reformar sua propriedade no campo e melhorar as condições vida dos trabalhadores. Por meio do personagem central, Jacinto de Tormes, que representa a elite portuguesa, a obra critica-lhe o estilo de vida afrancesado e desprovido de autenticidade, que enaltece o progresso urbano e industrial e se desenraiza do solo e da cultura do país. Na obra, a apologia da natureza não pode ser confundida com o elogio da mesmice e da mediocridade da vida campestre de Portugal. Ao contrário, trata-se de agigantar o espírito lusitano, em seu caráter ativo e trabalhador.
  • 23. Foco narrativo Escrito em primeira pessoa, A Cidade e as Serras, como a maioria dos romances de Eça de Queirós, há um narrador- personagem, José Fernandes, o qual não se confunde com o protagonista da obra, Jacinto de Tormes. Este narrador coloca-se como menos importante do que o protagonista, como podemos perceber, por exemplo, no início da obra. Nos primeiros parágrafos do livro o narrador, em vez de apresentar-se ao leitor, coloca-se em segundo plano para apresentar toda a descendência dos de Tormes, até aparecer a figura de Jacinto. Além disso, dá-lhe tratamento diferenciado, parecendo idealizar Jacinto, na medida em que o chama de "Príncipe da Grã-Ventura", conforme apelido estudantil do protagonista.
  • 24. Jacinto de Tormes, ao buscar a felicidade, empreendeu uma viagem que o reencontrou consigo mesmo e com o seu país. Tal viagem, que é exterior e interior, inclui a pátria portuguesa e se reveste de uma significação particular, pode ser lida como um processo de auto-conhecimento: um novo Portugal e um novo português se percebem nas serras que querem utilizam da cidade o necessário para se civilizarem sem se corromperem.
  • 25. A Cidade e as Serras é um romance no qual se destaca a categoria espaço, na medida em que os ambientes são fundamentais para a compreensão da história, destacando-se os contrastes por meio dos quais se contrapõem. Assim, a amplidão da quinta de Tormes contrasta com a estreiteza do universo tecnológico do 202, o que aponta para a oposição entre o espaço civilizado e o espaço natural, presente em todo o romance.
  • 26. Um registro importante a se fazer é que a tese defendida no romance remete o leitor ao Arcadismo (século XVIII), época exatamente do início da Idade Contemporânea, com as Revoluções Industrial e Francesa. Nesse período, os poetas propunham a fuga da cidade, fugure urbem, e idealizam a vida bucólica, tendo frequentemente a poesia pastoral como tema e transformado o campo numa espécie de território perdido evocado em versos como os do nosso Cláudio Manuel da Costa: Quem deixa o trato pastoril amado Pela ingrata civil correspondência, Ou desconhece o rosto da violência, Ou do retiro a paz não tem provado!
  • 27. Saudade de Minha Terra (Goia e Belmonte) De que me adianta viver na cidade Se a felicidade não me acompanhar Adeus paulistinha do meu coração Lá pro meu sertão eu quero voltar Ver a madrugada quando a passarada Fazendo a alvorada começa a cantar Com satisfação, eu arreio o burrão Cortando o estradão, eu saio a galopar E vou escutando o galo berrando Sabiá cantando no jequitibá Por Nossa Senhora, meu sertão querido Vivo arrependido por ter te deixado Essa nova vida aqui na cidade De tanta saudade eu tenho chorado Aqui tem alguém, diz que me quer bem Mas não me convém, eu tenho pensado Eu vivo com pena, pois essa morena Não sabe o sistema que eu fui criado Tô aqui cantando, de longe escutando Alguém está chorando com o rádio ligado Que saudade imensa do campo e do mato Do nosso regato que corta as campina Aos domingo eu ia passear de canoa Nas lindas lagoas de águas cristalinas Que doce lembrança daquela festança Onde tinha dança e muitas meninas Eu vivo hoje em dia sem ter alegria O mundo judia mas também me ensina Eu tô contrariado, mas não derrotado Eu sou bem guiado pelas mãos divinas Pra minha mãezinha já telegrafei E já me cansei de tanto sofrer Essa madrugada estarei de partida Pra terra querida que me viu nascer Já ouço sonhando o galo cantando O inhambu piando no escurecer A lua prateada clareando as estradas A relva molhada desde o anoitecer Eu preciso ir pra ver tudo ali Foi lá que eu nasci, lá quero morrer