SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  6
Télécharger pour lire hors ligne
1
A Europa Ocidental nos séculos XIII
e XIV
O espaço português
Por Raul Silva
Passado o ano mil, o Ocidente conhece um período de acentuada prosperidade económica. A
área cultivada expande-se, arrancando às florestas espaços até aí bravios. Novas técnicas
agrícolas fazem crescer a produtividade das terras, esconjurando o fantasma da fome, sempre
presente nos tempos medievais. Melhor alimentada, a população cresce. Beneficiando do clima
de paz e de abundância, a cidade renasce. Organiza-se o mercado, circula a moeda. As vias
comerciais, há muito desativadas, fervilham agora com um intenso tráfego de homens e
mercadorias. No século XIV, esta conjuntura de prosperidade chega ao fim. Rompe-se o
equilíbrio demográfico, sempre frágil, sempre dependente da abundância das colheitas. A fome
instala-se e, a meio do século, a peste devasta a Europa, cidade após cidade, região após região.
Portugal possui as mais antigas fronteiras da Europa. Independente no século XII (1143), fixou o
seu território no espaço de pouco mais de século e meio (1297). Nasceu da guerra, contra
Castelhanos e Muçulmanos, e cedo se apresentou dividido em senhorios e concelhos.
Os senhorios tiveram como berço a região Entre Douro e Minho, mas logo se estenderam ao
Centro e Sul do país. Neles, nobres, clérigos e até reis assumiram os poderes fundiários,
controlavam uma massa diversificada de dependentes e exerciam o poder senhorial.
Quanto aos concelhos, constituíram um entrave à expansão do senhorialismo. Nas cidades e as
vilas concelhias, dotadas de autonomia administrativa, a organização do espaço refletia formas
de organização económica e social, poderes e vivências em tudo distintos do campo.
A articular o país de senhorios e concelhos erguia-se o Rei, chefe de todos os homens, dos
senhores e vilãos, dos Portugueses, dos mouros e judeus.
CADERNODIÁRIO
EXTERNATO LUÍS DE
CAMÕES
N.º 3
https://
www.facebook.com/
historia.externato
http://
externatohistoria.blog
spot.pt/
externatohistoria@gm
ail.com
19deNovembrode2015
2
CADERNODIÁRIO19deNovembrode2015
O poder
senhorial
e a sua ascensão
Os senhorios (territórios onde o senhor
exercia poder sobre a terra e sobre os
homens) formaram através da
ocupação de terras pelos Cristãos,
terras conquistadas aos Muçulmanos,
logo, terras sem dono. Os senhorios
distinguiam-se pela origem social do
seu proprietário:
• reguengos - as terras do rei, a quem
cabia as terras sem dono por direito
de conquista;
• honras - as terras eram “honradas”
pela presença do senhor nobre, que
nelas exercia poderes públicos);
• coutos - senhorios que pertenciam à
Igreja e gozavam de isenção fiscal,
judicial e militar graças a terem
recebido uma carta de couto.
Podemos distinguir, durante o século
XII e primeira metade do século XIII,
em Portugal, dois tipos de ocupação:
1. No Norte Atlântico (noroeste
português e litoral até à margem sul
do Vouga) predominou o
senhorialismo nobre e eclesiástico:
era o “país senhorial”.
2. No Centro e Sul do país
abundavam os concelhos: era o país
“urbano”.
A formação do país senhorial
relaciona-se, por um lado, com a
presença da nobreza e, por outro, com a
influência da Igreja no Norte Atântico.
As terras ocupadas pela nobreza e a
doação, pelo rei, às famílias da nobreza,
de parcelas de território e de cargos
políticos, deram origem às honras.
Por outro lado, as doações do rei e da
nobreza à Igreja deram origem aos
coutos. A Igreja Cristã exercia grande
influência junto das populações, quer no
Norte atlântico (Sés de Braga e do
Porto), quer no Centro e Sul do país,
devido à presença de ordens religiosas
militares, encarregadas da defesa da
fronteira portuguesa (Templários,
Hospitalários, Calatrava, Santiago de
Espada).
O senhor podia exercer dois tipos de
poderes no seu senhorio:
• o poder senhorial, de natureza
política, que corresponde à
autoridade sobre os habitantes do
senhorio;
• o poder económico sobre os seus
domínios senhoriais, o qual resultava
da posse e exploração de terras.
O poder do senhor exercia-se sobre as
diferentes parte do seu domínio:
1. A quintã (reserva do senhor) incluía
a morada do senhor (o castelo),
uma igreja, estábulos, celeiros,
moinhos e uma porção de terra
explorada diretamente pelo senhor.
A quintã era explorada graças ao
trabalho obrigatório e gratuito
(jeiras) de escravos, servos e colonos
livres.
2. Os casais eram terras arrendadas e
eram exploradas através de
contratos entre senhores e colonos
ou caseiros. Estes pagavam as
rendas de forma fixa ou cedendo
uma parcela das colheitas.
O poder senhorial
no Norte Atlântico
D. Sancho I , Carta de doação ao Mosteiro
de Alcobaça (1229)
“Eu, Sancho, por graça de Deus, rei de
Portugal e do Algarve, e minha espôsa,
a rainha D. Dulce, juntamente com os
nossos filhos, fazemos esta carta de
doação e de perpétua segurança à casa
de Alcobaça e a vós, D. Martinho,
abade do mesmo lugar, e a todos os
irmãos que aí vivem sobr regra,
daquelle castelo (...), que para honra de
Deus vos damos e concedemos, para
que o possuais perpetuamente, livre de
toda a ação real e pacificamente, com
todos os seus termos novos e antigos, até
os limites que possam ser tidos como
verdadeiros por uma investigação feita
por homens dignos do maior crédito e
fé (...).”
Responder:
a) Explique a formação do pais
senhorial.
b) Relacionar o país senhorial com
a ascensão da nobreza e do
clero.
Eu, D. Afonso Henriques,
pela graça de Deus, rei
dos Portugueses, a Deus
e aos cavaleiros do
Templo de Salomão, faço
carta e pacto de doação
e de firmeza, de toda a
terça parte que possam
adquirir e povoar além do
rio Tejo, mediante o favor
divino, com tal condição
que, enquanto durar a
guerra dos Sarracenos, a
utilizes em serviço de
Deus, de meu filho (...),
com as rendas que de
mim recebeis.”
D. Afonso Henriques, Carta de
doação aos Templários (1169)
Vassalidade
Relação hierárquica que se estabelecia entre
dois indivíduos de estirpe social elevada.
Criava, entre eles, uma dependência pessoal,
alicerçada na fidelidade, ajuda e conselho. Um
dos senhores atribui um bem a outro senhor.
3
CADERNODIÁRIO19deNovembrode2015
O poder
senhorial
e o seu exercício
A nobreza medieval, dominante na
sociedade, constituída por famílias
antigas que haviam auxiliado
militarmente o rei, integrava diversos
graus.
A nobreza senhorial de Entre Douro e
Minho era constituída, desde os
tempos do Condado Portucalense, em
especial as famílias da Maia, de Riba
Douro, de Sousa, de Baião e de
Bragança, referidas no século XII. Os
infanções habitavam no castelo, a
partir do qual defendia militarmente e
controlava economicamente o
território circundante.
A partir do século XII, os infanções
ascenderam socialmente, passando,
muitos deles, a integrar o grupo dos
ricos-homens e, no século XIV, são estes
quem constitui o estrato dominante da
sociedade portuguesa. Os ricos-homens
possuíam grandes domínios territoriais,
onde exerciam o poder de julgar,
gozavam de isenções fiscais e
comandavam os seus próprios exércitos.
Abaixo deste grupos, pertenciam à
nobreza os cavaleiros e os escudeiros.
Os primeiros eram os guerreiros quer
pertenciam à ordem militar da
Cavalaria. Quando os escudeiros
acompanhavam e auxiliavam o seu
cavaleiro, combatendo na retaguarda.
Porém, nem uns nem outros ostentavam
o título e os privilégios dos senhores
medievais.
Os senhores exerciam um poder
económico e, sobretudo, político. Este
poder fora-lhes delegado por um rei ou
conde, em troca do serviços militares
prestados e da administração de terras e
castelos. Com o tempo, os senhores
deixaram de prestar contas sobre esses
poderes, estendendo-os até à
propriedade livre ou de outros senhores.
O senhor podia possuir armas e
comandar os exércitos;
receber multas relativas ao exercício da
justiça; cobrar exigências fiscais (por
exemplo, a obrigação de alimentar o
senhor; pagar o uso do forno, moinho
ou lagar; pagar para casar fora do
domínio senhorial).
Em suma, o poder senhorial abrange a
administração do senhorio, mas
também o exercício de poderes públicos
originariamente pertencentes ao rei. Os
senhores podiam mesmo proibir a
entrada de funcionários do rei nos seus
territórios.
Os dependentes englobam uma grande
quantidade de homens sujeitos ao poder
dos senhores, a saber:
• Herdadores - eram proprietários de
terras livres. Porém, todos eram
obrigados a escolher um senhor e a
depender dele, tendo de prestar
serviços e pagar impostos.
• Colonos - eram homens livres que
arrendavam as terras ao senhor em
contratos perpétuos ou a prazo,
estando sujeitos a obrigações de tipo
senhorial.
• Escravos - geralmente prisioneiros
mouros, eram utilizados como força
instrumental nos serviços domésticos,
artesanato e agricultura.
• Assalariados - viviam do aluguer do
seu trabalho e não dependiam de um
senhor.
Os senhorios
e a sociedade feudal
Pierre Grimal, A Civilização Romana
“Todo o nobre, em princípio, era um
senhor, isto é, possuía um património
fundiário extenso sobre o qual tinha
direitos de jurisdição e de cobrança de
rendas e impostos.
Esse património garantia-lhe,
igualmente, uma população de
dependentes.
Nobres havia, ainda, que não possuíam
senhorio, (...) vivendo em casa dos seus
senhores e deles totalmente
dependentes.
Por certos bens doados, o nobre havia
que prestar menagem ao rei ou a outro
senhor de quem os tivesse.
É difícil avaliar os efetivos, mesmo
aproximados da nobreza. Os cálculos
possíveis apontam para cerca de um
milhar de famílias, isto é, umas 5000
pessoas, menos de 1% da população do
país.”
Responder:
a) Caraterize o poder senhorial.
b) Reconheça a dependência das
comunidades rurais.
“Aquele que lavrar com
um jugo dê um moio. (...)
Aquele que lavrar com
mais de dois, dê dois
quarteiros, um de trigo e
outro de milho. (…) O
cavão que lavrar trigo ou
milho ou centeio dê a
teiga do pão que lavrar. O
peão dê a dízima do seu
vinho. (…) Dos peixes do
mar que trouxerem pelo
rio Mondego, dêem a
dízima ao senhor da terra
até ao mês de Maio. Os
monteiros daquele veado
que matarem darão ao
mordomo o lombo.
Sancho I, Foral de Penacova (1192)
Imunidade
Privilégio que consiste em interditar aos
delegados do rei a entrada nas terras de um
nobre, de um bispado ou de uma abadia para
aí exercer o seu poder público.
4
CADERNODIÁRIO19deNovembrode2015
O poder
concelhio
e a autonomia
O desenvolvimento das cidades e vilas
portuguesas data do século XII, graças
a um conjunto de fatores:
• o território português situava-se na
rota de peregrinação a Santiago de
Compostela, o que beneficiou certos
núcleos de passagem, como Porto e
Guimarães;
• com o avanço da Reconquista,
Portugal herdou as marcas de
urbanidade muçulmanas, bem
presentes no centro e sul do país;
• as cidades desenvolviam-se sempre
que o seu espaço era escolhido pela
corte ou pelas sés episcopais para se
instalar;
• o ressurgimento comercial do século
XII refletiu-se num surto urbano,
com destaque para urbes que faziam
trocas comerciais através da costa
atlântica como o Porto e Lisboa, mas
também cidades como Guimarães,
Coimbra, Santarém e Évora.
A principal caraterística dos concelhos
residia no privilégio de disporem de
autonomia administrativa. Este
privilégio era expresso na carta de foral,
documento outorgado por um monarca
ou um senhor, que estabelecia os
direitos e obrigações dos habitantes do
concelho, enquanto o selo concelhio
simbolizava a autonomia jurídica das
povoações.
Os concelhos perfeitos ou urbanos
localizavam-se nas regiões fronteiriças
das Beiras, na Estremadura, no
Alentejo, isto é, em zonas que era
urgente defender e povoar. Incluíam a
cidade ou vila e o seu termo (aldeias e
população em redor). Nessa área
governavam os vizinhos (homens livres,
maiores de idade, habitantes ou
trabalhadores na área do concelho)
reunidos em assembleia. As suas
decisões ficaram registadas nas posturas
municipais.
A autonomia dos concelhos era evidente
na forma como os nobres e clérigos se
tinham de submeter a esta
administração de tipo comunitário.
Responder:
a) Reconheça a afirmação das
cidades e vila concelhias no
espaço português.
b) Caraterizar a autonomia
político-administrativa das
cidades e vilas concelhias.
Os concelhos
e a sua administração
Manuela Silva, As Cidades
“Os cavaleiros-vilãos eram, em quase
todos os concelhos urbanos, os maiores
proprietários rurais, os detentores das
maiores fortunas, aqueles de quem
dependia a segurança da comunidade e
aqueles que monopolizavam e
perpetuavam num grupo fechado as
magistraturas da administração local.
(...)
O estrato social inferior aos dos
cavaleiros-peões é o dos peãos. os peãos
eram gente que vivia do seu trabalho,
que possuía algo de seu, que tinha
direito de participar nas assembleias de
vizinhos. Eram agricultores, almocreves,
pequenos comerciantes, pescadores ou
artífices. A restrição da administração
local apenas aos homens-bons deixou
aos peões muito poucas oportunidades
de colaboração com os novos órgãos
autárquicos. ”
“E mando que todos
aqueles que vierem a
essa feira por razão de
vender ou de comprar
sejam seguros da ida e
da vinda e não sejam
penhorados na feira em
esses dois dias que ela
durar, salvo a dívida que
for feita na dita feira. E
mando e defendo que
nenhum nome seja usado
que faça mal nem força
nem embargo na dita
feira, que aqueles que
ainda o fizesse peitaria a
mim.”
D. Dinis, Carta da Feira de Murça
(1342)
Carta de Foral
Diploma emanado do rei ou de um senhor, no
qual se estabeleciam as regras e os direitos
que regiam a vida das populações de uma
certa localidade, denominada concelho.
5
CADERNODIÁRIO19deNovembrode2015
A monarquia
feudal
e o poder do rei
No século XIII, a identidade nacional
ainda era uma ideia esbatida, pouco
nítida, tendo em conta que o país era
composto pelo conjunto de senhorios e
concelhos que beneficiavam de
privilégios e especificidades próprias. A
coesão interna assentava, então, numa
monarquia feudal, que obedecia aos
seguintes pressupostos, válidos para
todos os habitantes:
1. O rei era um senhor, o mais rico e
poderoso do território português.
de acordo com esse estatuto, os
nobres e clérigos eram seus
vassalos, e os restantes habitantes
seus súbditos.
2. Enquanto senhor feudal, o rei
exigia rendas e prestações públicas,
não só nos seus domínios, mas
também nas terras livres e nos
concelhos.
3. A relação do rei com os seus
vassalos era encarada como uma
relação de troca, típica da época
feudal, segundo a qual o monarca
oferece proteção e doações e os
vassalos obedecem à sua autoridade
e prestam-lhe apoio na governação.
4. O reino português era tratado, pelo
rei, como se fosse um território
privado, um património pessoal
fechado, que ele podia alienar sob a
forma de honras e coutos, como
recompensa por serviços prestados.
Esse património era transmitido,
por sua vez, em testamento, ao filho
primogénito.
Os reis de Portugal fundamentavam o
seu poder, desde o início da nação, no
direito divino e assumiam como
principais funções:
• a chefia militar;
• a manutenção da paz e da justiça (o
rei era o juiz supremo, cabendo-lhe a
função de tribunal de apelação);
• a cunhagem da moeda e a sua
desvalorização.
Desde o século XIII, os monarcas
portugueses esforçaram-se por somar às
suas funções originais a supremacia
sobre todas as ordens sociais. Para esse
efeito, tomaram as seguintes medidas:
• as Leis Gerais, de 1211, impuseram a
todos a mesma legislação, colocada
acima das jurisdições senhoriais e
concelhias, procurando recuperar os
poderes da Coroa;
• a itinerância da Corte permitia
atender mais facilmente às
necessidades de administração e de
justiça do país;
• o órgão consultivo que apoiava a
governação - a Cúria Régia - cujas
reuniões extraordinárias evoluíram
para as Cortes, que eram mais
representativas dos três estados do
reino e permitiu ao rei aliar-se ao
Terceiro Estado para submeter o
clero e a nobreza.
Responder:
a) Analise o funcionamento da
monarquia feudal.
b) Explique a passagem da
monarquia feudal à monarquia
centralizada.
A monarquia
centralizada
e o combate à
expansão senhorial
Gama Barros, História da Administração
“O monarca era sempre o chefe de
todos os poderes: militar, judiciário e
administrativo; poderes que se reuniam
tanto no rei como também muitas vezes
nos seus delegados. A sua autoridade
recebia-a ele imediatamente de Deus. E
esta doutrina do direito divino, como
origem da soberania, foi a dominante,
ou, para melhor dizer, única recebida
em Portugal. (...) E bastaria, para o
provar, o facto de ter o rei ido buscar á
proteção do Papa uma segurança para
a independência da nova monarquia,
pretensão que se invoca ainda no século
XIII para invalidar pretensões estanhas
contra o direito da realeza.
O rei era o mais alto senhor do
território português, ao qual estavam
sujeitos os súbditos, por natureza, todos
quantos a esse território se
encontrassem vinculados por senhorio,
propriedade ou residência. (...)
O súbditos acatam a autoridade do rei,
com os deveres daí decorrentes, em
troca da proteção que o monarca tem
que lhes dispensar.”
“A todos os Ricos
homens, Mestres, Priores
das Ordens, Cavaleiros e
Donas e a todos os
outros quaisquer dos
meus reinos, (...) e vós
devedes saber que é
direito e uso e costume
geral dos meus reinos
que em todas as doações
que os reis fazem a
alguns sempre fica
guardado para os reis as
apelações e a justiça
maior (...) que ficam aos
reis em sinal de maior
senhorio.”
D. Dinis, Ordenações Afonsinas
(1317)
Monarquia feudal
Monarquia na qual o rei se assume como o
maior e mais poderoso dos senhores; em
troca de doações e da concessão de proteção
estabelece laçõs de dependência pessoal de
vassalos e súbditos.
6
CADERNODIÁRIO19deNovembrode2015
A monarquia
centralizada
e o combate à
expansão
senhorial
Os senhores alargavam os seus
territórios à custa da ocupação de
territórios do rei e livrando-se, através
das imunidades, de pagamentos ao
fisco e exercendo poderes públicos que
pertenceriam ao rei.
Para combater esta situação, os
monarcas encetaram uma série de
medidas, desde do início do século
XIII:
1. Leis da Desamortização (1211) -
impediram os mosteiros e igrejas
de adquirirem bens de raiz e
herdar bens daqueles que haviam
professado votos.
2. Confirmações Gerais (1217-1221) -
reconheciam a posse de terras e
direitos da nobreza e do clero,
tornando a posse hereditária numa
questão de autorização régia.
3. Inquirições (1220) - inquéritos que
averiguavam o estado das terras do
rei diversas zonas do reino, com o
objetivo de verificar a existência de
usurpações por parte da Igreja e da
nobreza.
Por vezes, a tentativa do rei de controlar
os poderes senhoriais atingia contornos
de uma verdadeira luta, com os clérigos
a queixarem-se ao Papa, que podia
excomungar os reis e proibir a
celebração do culto no reino.
Responder:
a) Refira as medidas tomadas pelos
monarcas para conter o poder
senhorial.
Pesquisar:
https://www.youtube.com/watch?
v=ADAWkyDLKBc
https://www.youtube.com/watch?
v=Yg3YDN5gTX0
https://www.youtube.com/watch?
v=Lq1UXNjA3gQ
https://www.youtube.com/watch?
v=yrVise5qvx0
https://www.youtube.com/watch?
v=DoiC_V-RbTM
https://www.youtube.com/watch?
v=QnIhFXh8lZk
A monarquia
centralizada
e o combate à
expansão senhorial
D. Dinis, Inquirições (1310)
“Dom Dinis pela graça de Deus Rei de
Portugal e do Algarve. A quantos esta
carta virem faço saber, que como
fossem a mim feitos queixumes per
muitas e desvairadas pessoas,
queixando-se dos filhos dalgo, e do
Arcebispo e dos Bispos, e das Sés, e dos
Abades, e dos Priores, e de muitos
outros da minha terra, porque faziam
suas terras (honras) em muitas
maneiras, e como não deviam (...), que
muitos homens-bons e os lavradores
eram oprimidos (...), querendo-se servir
dos corpos e dos haveres por opressão
contra direito (...), usurpando-me
muitos dos meus reguengos. (...) E feita
a inquirição (...) foram deitados lugares
muitos em devasso (...) contra a postura
que lhes já fora posta e por eles
outorgada.
Todas as honras que foram feitas de
novo, ou acrescentadas nas velhas, que
não valham, e que sejam todas em
devasso (...). ”
“D. Dinis per graça de
Deos Rey de Portugal, e
do Algarve. A todolos
Alquaides, Meirinhos,
Juizes, Almoxarifes dos
meus Regnos (...) sabede
que (...) mando, e
defendo que os Clerigos
nem Hordees nom
comprem Herdamentos,
e aquelles Herdamentos,
que comprarom, des que
eu fui Rey, dou-lhes
prazo, os vendom (...); e
se os nõ venderem atta
este prazo, percam-nos.”
D. Dinis, Lei da Desamortização
(1284)
Inquirições
Inquéritos promovidos pelos reis, nos séculos
XIII e XIV. Destinavam-se a averiguar o estado
dos bens do rei e da Coroa. Permitiram
descobrir que os fidalgos e os bispos haviam
cometido inúmeras usurpações de terras.

Contenu connexe

Tendances

O Mundo Romano No Apogeu Do ImpéRio
O Mundo Romano No Apogeu Do ImpéRioO Mundo Romano No Apogeu Do ImpéRio
O Mundo Romano No Apogeu Do ImpéRio
Sílvia Mendonça
 
Módulo 6 monarquia e república romanas 111 112-113
Módulo 6   monarquia e república romanas 111 112-113Módulo 6   monarquia e república romanas 111 112-113
Módulo 6 monarquia e república romanas 111 112-113
Edson
 
A romanização da hispânia
A romanização da hispâniaA romanização da hispânia
A romanização da hispânia
Susana Simões
 
A civilização romana
A civilização romana  A civilização romana
A civilização romana
eb23ja
 
Os Romanos na Península Ibérica
Os Romanos na Península IbéricaOs Romanos na Península Ibérica
Os Romanos na Península Ibérica
HistN
 
01 história rafael - roma antiga - super revisão - 6º ano 2015
01 história   rafael - roma antiga - super revisão - 6º ano 201501 história   rafael - roma antiga - super revisão - 6º ano 2015
01 história rafael - roma antiga - super revisão - 6º ano 2015
Rafael Noronha
 

Tendances (20)

13 o império romano
13   o império romano13   o império romano
13 o império romano
 
Idade Média - Poder e Arte
Idade Média - Poder e ArteIdade Média - Poder e Arte
Idade Média - Poder e Arte
 
1. Roma, a cidade que se fez império
1. Roma, a cidade que se fez império1. Roma, a cidade que se fez império
1. Roma, a cidade que se fez império
 
Roma a.C.
Roma a.C.Roma a.C.
Roma a.C.
 
Roma slides
Roma slidesRoma slides
Roma slides
 
Monarquia Romana - Prof. Altair Aguilar
Monarquia Romana - Prof. Altair AguilarMonarquia Romana - Prof. Altair Aguilar
Monarquia Romana - Prof. Altair Aguilar
 
Roma, cidade imperial
Roma, cidade imperialRoma, cidade imperial
Roma, cidade imperial
 
O Mundo Romano No Apogeu Do ImpéRio
O Mundo Romano No Apogeu Do ImpéRioO Mundo Romano No Apogeu Do ImpéRio
O Mundo Romano No Apogeu Do ImpéRio
 
Módulo 6 monarquia e república romanas 111 112-113
Módulo 6   monarquia e república romanas 111 112-113Módulo 6   monarquia e república romanas 111 112-113
Módulo 6 monarquia e república romanas 111 112-113
 
A romanização da hispânia
A romanização da hispâniaA romanização da hispânia
A romanização da hispânia
 
2.O Modelo Romano - das magistraturas republicanas ao poder do imperador
2.O Modelo Romano - das magistraturas republicanas ao poder do imperador2.O Modelo Romano - das magistraturas republicanas ao poder do imperador
2.O Modelo Romano - das magistraturas republicanas ao poder do imperador
 
A civilização romana
A civilização romana  A civilização romana
A civilização romana
 
Os Romanos na Península Ibérica
Os Romanos na Península IbéricaOs Romanos na Península Ibérica
Os Romanos na Península Ibérica
 
12 formação do império romano
12   formação do império romano12   formação do império romano
12 formação do império romano
 
01 história rafael - roma antiga - super revisão - 6º ano 2015
01 história   rafael - roma antiga - super revisão - 6º ano 201501 história   rafael - roma antiga - super revisão - 6º ano 2015
01 história rafael - roma antiga - super revisão - 6º ano 2015
 
A urbe romana
A urbe romanaA urbe romana
A urbe romana
 
A civilização romana
A civilização romanaA civilização romana
A civilização romana
 
Roma
RomaRoma
Roma
 
A romanização romana
A romanização romanaA romanização romana
A romanização romana
 
O império romano
O império romanoO império romano
O império romano
 

En vedette

Caderno diário os loucos anos 20 n.º 17 1415
Caderno diário os loucos anos 20 n.º 17 1415Caderno diário os loucos anos 20 n.º 17 1415
Caderno diário os loucos anos 20 n.º 17 1415
Laboratório de História
 
Caderno Diário Portugal e o Estado Novo n.º 20 1415
Caderno Diário Portugal e o Estado Novo n.º 20 1415Caderno Diário Portugal e o Estado Novo n.º 20 1415
Caderno Diário Portugal e o Estado Novo n.º 20 1415
Laboratório de História
 
Caderno diário as opções totalitárias n.º 19 1415
Caderno diário as opções totalitárias n.º 19 1415Caderno diário as opções totalitárias n.º 19 1415
Caderno diário as opções totalitárias n.º 19 1415
Laboratório de História
 
A sociedade medieval
A sociedade medievalA sociedade medieval
A sociedade medieval
anagagon
 
Apresentação Portugal coordenadas económicas e demográficas
Apresentação Portugal coordenadas económicas e demográficasApresentação Portugal coordenadas económicas e demográficas
Apresentação Portugal coordenadas económicas e demográficas
Laboratório de História
 
Caderno diário As Transformações Económicas na Europa e no Mundo n.º10 1415
Caderno diário As Transformações Económicas na Europa e no Mundo n.º10 1415Caderno diário As Transformações Económicas na Europa e no Mundo n.º10 1415
Caderno diário As Transformações Económicas na Europa e no Mundo n.º10 1415
Laboratório de História
 
Caderno Diário Roma 1213
Caderno Diário Roma 1213Caderno Diário Roma 1213
Caderno Diário Roma 1213
Escoladocs
 
Apresentação A Revolução Francesa 1415
Apresentação A Revolução Francesa 1415Apresentação A Revolução Francesa 1415
Apresentação A Revolução Francesa 1415
Laboratório de História
 
Apresentação Portugal Coordenadas Económicas e Demográficas
Apresentação Portugal Coordenadas Económicas e DemográficasApresentação Portugal Coordenadas Económicas e Demográficas
Apresentação Portugal Coordenadas Económicas e Demográficas
Laboratório de História
 

En vedette (20)

Caderno diário marxismo leninismo
Caderno diário marxismo leninismoCaderno diário marxismo leninismo
Caderno diário marxismo leninismo
 
Caderno Diário A revolução russa e o marxismo leninismo n.º 16 1415
Caderno Diário A revolução russa e o marxismo leninismo n.º 16 1415Caderno Diário A revolução russa e o marxismo leninismo n.º 16 1415
Caderno Diário A revolução russa e o marxismo leninismo n.º 16 1415
 
Caderno diário os loucos anos 20 n.º 17 1415
Caderno diário os loucos anos 20 n.º 17 1415Caderno diário os loucos anos 20 n.º 17 1415
Caderno diário os loucos anos 20 n.º 17 1415
 
Caderno Diário Portugal e o Estado Novo n.º 20 1415
Caderno Diário Portugal e o Estado Novo n.º 20 1415Caderno Diário Portugal e o Estado Novo n.º 20 1415
Caderno Diário Portugal e o Estado Novo n.º 20 1415
 
Caderno diário as opções totalitárias n.º 19 1415
Caderno diário as opções totalitárias n.º 19 1415Caderno diário as opções totalitárias n.º 19 1415
Caderno diário as opções totalitárias n.º 19 1415
 
Caderno diário a grande depressão 1314
Caderno diário a grande depressão 1314Caderno diário a grande depressão 1314
Caderno diário a grande depressão 1314
 
A sociedade medieval
A sociedade medievalA sociedade medieval
A sociedade medieval
 
Apresentação Portugal coordenadas económicas e demográficas
Apresentação Portugal coordenadas económicas e demográficasApresentação Portugal coordenadas económicas e demográficas
Apresentação Portugal coordenadas económicas e demográficas
 
Caderno Diário Portugal e o Estado Novo
Caderno Diário Portugal e o Estado NovoCaderno Diário Portugal e o Estado Novo
Caderno Diário Portugal e o Estado Novo
 
Caderno diário As propostas socialistas n.º12 1415
Caderno diário As propostas socialistas n.º12 1415Caderno diário As propostas socialistas n.º12 1415
Caderno diário As propostas socialistas n.º12 1415
 
Caderno Diário A Primeira Guerra Mundial e as transformações do pós-guerra n...
Caderno Diário A Primeira Guerra Mundial e as transformações do pós-guerra n...Caderno Diário A Primeira Guerra Mundial e as transformações do pós-guerra n...
Caderno Diário A Primeira Guerra Mundial e as transformações do pós-guerra n...
 
Caderno diário As Transformações Económicas na Europa e no Mundo n.º10 1415
Caderno diário As Transformações Económicas na Europa e no Mundo n.º10 1415Caderno diário As Transformações Económicas na Europa e no Mundo n.º10 1415
Caderno diário As Transformações Económicas na Europa e no Mundo n.º10 1415
 
Caderno Diário Roma 1213
Caderno Diário Roma 1213Caderno Diário Roma 1213
Caderno Diário Roma 1213
 
Caderno diário marxismo leninismo
Caderno diário marxismo leninismoCaderno diário marxismo leninismo
Caderno diário marxismo leninismo
 
Caderno diário os loucos anos 20
Caderno diário os loucos anos 20Caderno diário os loucos anos 20
Caderno diário os loucos anos 20
 
Apresentação A Sociedade de Ordens 1415
Apresentação A Sociedade de Ordens 1415Apresentação A Sociedade de Ordens 1415
Apresentação A Sociedade de Ordens 1415
 
Apresentação A Revolução Francesa 1415
Apresentação A Revolução Francesa 1415Apresentação A Revolução Francesa 1415
Apresentação A Revolução Francesa 1415
 
Apresentação O Estado Novo
Apresentação O Estado NovoApresentação O Estado Novo
Apresentação O Estado Novo
 
Caderno Diário 1ª guerra mundial
Caderno Diário 1ª guerra mundialCaderno Diário 1ª guerra mundial
Caderno Diário 1ª guerra mundial
 
Apresentação Portugal Coordenadas Económicas e Demográficas
Apresentação Portugal Coordenadas Económicas e DemográficasApresentação Portugal Coordenadas Económicas e Demográficas
Apresentação Portugal Coordenadas Económicas e Demográficas
 

Similaire à Guia de estudo n.º3 A Europa nos séculos XIII e XIV 1516

A sociedade europeia
A sociedade europeiaA sociedade europeia
A sociedade europeia
NTTL98
 
Antiguidade clássica roma 7ano
Antiguidade clássica roma 7anoAntiguidade clássica roma 7ano
Antiguidade clássica roma 7ano
Leonardo Caputo
 
História de roma oficial
História de roma oficialHistória de roma oficial
História de roma oficial
Nilmar Galvão
 

Similaire à Guia de estudo n.º3 A Europa nos séculos XIII e XIV 1516 (20)

A identidade civilizacional da Europa Ocidental - A multiplicidade de poderes
A identidade civilizacional da Europa Ocidental - A multiplicidade de poderesA identidade civilizacional da Europa Ocidental - A multiplicidade de poderes
A identidade civilizacional da Europa Ocidental - A multiplicidade de poderes
 
A sociedade europeia
A sociedade europeiaA sociedade europeia
A sociedade europeia
 
O Feudalismo.pptx
O Feudalismo.pptxO Feudalismo.pptx
O Feudalismo.pptx
 
A identidade civilizacional da europa ocidental e o espaço português a conso...
A identidade civilizacional da europa ocidental e o espaço português  a conso...A identidade civilizacional da europa ocidental e o espaço português  a conso...
A identidade civilizacional da europa ocidental e o espaço português a conso...
 
Da idade média à idade moderna
Da idade média à idade modernaDa idade média à idade moderna
Da idade média à idade moderna
 
Idade Média
Idade MédiaIdade Média
Idade Média
 
A sociedade europeia nos séculos ix a xii
A sociedade europeia nos séculos ix a xiiA sociedade europeia nos séculos ix a xii
A sociedade europeia nos séculos ix a xii
 
O Feudalismo.pptx
O Feudalismo.pptxO Feudalismo.pptx
O Feudalismo.pptx
 
02 história a_revisões_módulo_2
02 história a_revisões_módulo_202 história a_revisões_módulo_2
02 história a_revisões_módulo_2
 
Antiguidade clássica roma 7ano
Antiguidade clássica roma 7anoAntiguidade clássica roma 7ano
Antiguidade clássica roma 7ano
 
O Feudalismo.ppt
O Feudalismo.pptO Feudalismo.ppt
O Feudalismo.ppt
 
Feudalismo ens médio
Feudalismo ens médioFeudalismo ens médio
Feudalismo ens médio
 
02 historia a_revisoes_modulo_2
02 historia a_revisoes_modulo_202 historia a_revisoes_modulo_2
02 historia a_revisoes_modulo_2
 
Roma antiga
Roma antigaRoma antiga
Roma antiga
 
Feudalismo
FeudalismoFeudalismo
Feudalismo
 
Fortalecimento poder reis
Fortalecimento poder reisFortalecimento poder reis
Fortalecimento poder reis
 
História de roma oficial
História de roma oficialHistória de roma oficial
História de roma oficial
 
O Feudalismo.pptx
O Feudalismo.pptxO Feudalismo.pptx
O Feudalismo.pptx
 
O futuro precário do estado nação - 1
O  futuro precário do estado nação - 1O  futuro precário do estado nação - 1
O futuro precário do estado nação - 1
 
Séc. xii a xiv
Séc. xii a xivSéc. xii a xiv
Séc. xii a xiv
 

Plus de Laboratório de História

Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
Laboratório de História
 
Caderno diário O Liberalismo em Portugal n.º9 1415
Caderno diário O Liberalismo em Portugal n.º9 1415Caderno diário O Liberalismo em Portugal n.º9 1415
Caderno diário O Liberalismo em Portugal n.º9 1415
Laboratório de História
 
Caderno diário A Revolução Francesa n.º8 1415
Caderno diário A Revolução Francesa n.º8 1415Caderno diário A Revolução Francesa n.º8 1415
Caderno diário A Revolução Francesa n.º8 1415
Laboratório de História
 
Caderno diário A Filosofia das Luzes n.º7 1415
Caderno diário A Filosofia das Luzes n.º7 1415Caderno diário A Filosofia das Luzes n.º7 1415
Caderno diário A Filosofia das Luzes n.º7 1415
Laboratório de História
 
Caderno Diário Imobilismo político e crescimento político do pós guerra a 1974
Caderno Diário Imobilismo político e crescimento político do pós guerra a 1974Caderno Diário Imobilismo político e crescimento político do pós guerra a 1974
Caderno Diário Imobilismo político e crescimento político do pós guerra a 1974
Laboratório de História
 

Plus de Laboratório de História (16)

Apresentação n.º 2 O Modelo Romano
Apresentação n.º 2 O Modelo RomanoApresentação n.º 2 O Modelo Romano
Apresentação n.º 2 O Modelo Romano
 
Guia de estudo n.º 2 O Modelo Romano
Guia de estudo n.º 2 O Modelo RomanoGuia de estudo n.º 2 O Modelo Romano
Guia de estudo n.º 2 O Modelo Romano
 
Guia de estudo n.º 1 O Modelo Ateniense
Guia de estudo n.º 1 O Modelo AtenienseGuia de estudo n.º 1 O Modelo Ateniense
Guia de estudo n.º 1 O Modelo Ateniense
 
Apresentação n.º 1 O Modelo Ateniense
Apresentação n.º 1 O Modelo AtenienseApresentação n.º 1 O Modelo Ateniense
Apresentação n.º 1 O Modelo Ateniense
 
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
Caderno diário a grande depressão n.º 18 1415
 
Caderno diário O Liberalismo em Portugal n.º9 1415
Caderno diário O Liberalismo em Portugal n.º9 1415Caderno diário O Liberalismo em Portugal n.º9 1415
Caderno diário O Liberalismo em Portugal n.º9 1415
 
Caderno diário A Revolução Francesa n.º8 1415
Caderno diário A Revolução Francesa n.º8 1415Caderno diário A Revolução Francesa n.º8 1415
Caderno diário A Revolução Francesa n.º8 1415
 
Apresentação A Filosofia das Luzes 1415
Apresentação A Filosofia das Luzes 1415Apresentação A Filosofia das Luzes 1415
Apresentação A Filosofia das Luzes 1415
 
Caderno diário A Filosofia das Luzes n.º7 1415
Caderno diário A Filosofia das Luzes n.º7 1415Caderno diário A Filosofia das Luzes n.º7 1415
Caderno diário A Filosofia das Luzes n.º7 1415
 
Apresentação O Absolutismo 1415
Apresentação O Absolutismo 1415Apresentação O Absolutismo 1415
Apresentação O Absolutismo 1415
 
Guia de estudo o modelo romano 1415
Guia de estudo o modelo romano 1415Guia de estudo o modelo romano 1415
Guia de estudo o modelo romano 1415
 
O modelo romano 1415
O modelo romano 1415O modelo romano 1415
O modelo romano 1415
 
Apresentação O modelo ateniense
Apresentação O modelo atenienseApresentação O modelo ateniense
Apresentação O modelo ateniense
 
Caderno Diário O modelo ateniense
Caderno Diário O modelo atenienseCaderno Diário O modelo ateniense
Caderno Diário O modelo ateniense
 
Caderno Diário Imobilismo político e crescimento político do pós guerra a 1974
Caderno Diário Imobilismo político e crescimento político do pós guerra a 1974Caderno Diário Imobilismo político e crescimento político do pós guerra a 1974
Caderno Diário Imobilismo político e crescimento político do pós guerra a 1974
 
Apresentação As opções totalitárias
Apresentação As opções totalitáriasApresentação As opções totalitárias
Apresentação As opções totalitárias
 

Dernier

ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
azulassessoria9
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
Autonoma
 

Dernier (20)

E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...E a chuva ...  (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
E a chuva ... (Livro pedagógico para ser usado na educação infantil e trabal...
 
Novena de Pentecostes com textos de São João Eudes
Novena de Pentecostes com textos de São João EudesNovena de Pentecostes com textos de São João Eudes
Novena de Pentecostes com textos de São João Eudes
 
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidadeAcessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
Acessibilidade, inclusão e valorização da diversidade
 
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 2 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
Aula 1 - Psicologia Cognitiva, aula .ppt
Aula 1 - Psicologia Cognitiva, aula .pptAula 1 - Psicologia Cognitiva, aula .ppt
Aula 1 - Psicologia Cognitiva, aula .ppt
 
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptxSlides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
Slides Lição 6, Betel, Ordenança para uma vida de obediência e submissão.pptx
 
Caderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdf
Caderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdfCaderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdf
Caderno de exercícios Revisão para o ENEM (1).pdf
 
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
 
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
AULÃO de Língua Portuguesa para o Saepe 2022
 
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptxM0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
M0 Atendimento – Definição, Importância .pptx
 
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LPQuestões de Língua Portuguesa - gincana da LP
Questões de Língua Portuguesa - gincana da LP
 
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
 
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
 
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfMESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Falando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introdFalando de Física Quântica apresentação introd
Falando de Física Quântica apresentação introd
 
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM  POLÍGON...Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM  POLÍGON...
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
 
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptxMonoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
Monoteísmo, Politeísmo, Panteísmo 7 ANO2.pptx
 
Missa catequese para o dia da mãe 2025.pdf
Missa catequese para o dia da mãe 2025.pdfMissa catequese para o dia da mãe 2025.pdf
Missa catequese para o dia da mãe 2025.pdf
 
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.docGUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
 

Guia de estudo n.º3 A Europa nos séculos XIII e XIV 1516

  • 1. 1 A Europa Ocidental nos séculos XIII e XIV O espaço português Por Raul Silva Passado o ano mil, o Ocidente conhece um período de acentuada prosperidade económica. A área cultivada expande-se, arrancando às florestas espaços até aí bravios. Novas técnicas agrícolas fazem crescer a produtividade das terras, esconjurando o fantasma da fome, sempre presente nos tempos medievais. Melhor alimentada, a população cresce. Beneficiando do clima de paz e de abundância, a cidade renasce. Organiza-se o mercado, circula a moeda. As vias comerciais, há muito desativadas, fervilham agora com um intenso tráfego de homens e mercadorias. No século XIV, esta conjuntura de prosperidade chega ao fim. Rompe-se o equilíbrio demográfico, sempre frágil, sempre dependente da abundância das colheitas. A fome instala-se e, a meio do século, a peste devasta a Europa, cidade após cidade, região após região. Portugal possui as mais antigas fronteiras da Europa. Independente no século XII (1143), fixou o seu território no espaço de pouco mais de século e meio (1297). Nasceu da guerra, contra Castelhanos e Muçulmanos, e cedo se apresentou dividido em senhorios e concelhos. Os senhorios tiveram como berço a região Entre Douro e Minho, mas logo se estenderam ao Centro e Sul do país. Neles, nobres, clérigos e até reis assumiram os poderes fundiários, controlavam uma massa diversificada de dependentes e exerciam o poder senhorial. Quanto aos concelhos, constituíram um entrave à expansão do senhorialismo. Nas cidades e as vilas concelhias, dotadas de autonomia administrativa, a organização do espaço refletia formas de organização económica e social, poderes e vivências em tudo distintos do campo. A articular o país de senhorios e concelhos erguia-se o Rei, chefe de todos os homens, dos senhores e vilãos, dos Portugueses, dos mouros e judeus. CADERNODIÁRIO EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 3 https:// www.facebook.com/ historia.externato http:// externatohistoria.blog spot.pt/ externatohistoria@gm ail.com 19deNovembrode2015
  • 2. 2 CADERNODIÁRIO19deNovembrode2015 O poder senhorial e a sua ascensão Os senhorios (territórios onde o senhor exercia poder sobre a terra e sobre os homens) formaram através da ocupação de terras pelos Cristãos, terras conquistadas aos Muçulmanos, logo, terras sem dono. Os senhorios distinguiam-se pela origem social do seu proprietário: • reguengos - as terras do rei, a quem cabia as terras sem dono por direito de conquista; • honras - as terras eram “honradas” pela presença do senhor nobre, que nelas exercia poderes públicos); • coutos - senhorios que pertenciam à Igreja e gozavam de isenção fiscal, judicial e militar graças a terem recebido uma carta de couto. Podemos distinguir, durante o século XII e primeira metade do século XIII, em Portugal, dois tipos de ocupação: 1. No Norte Atlântico (noroeste português e litoral até à margem sul do Vouga) predominou o senhorialismo nobre e eclesiástico: era o “país senhorial”. 2. No Centro e Sul do país abundavam os concelhos: era o país “urbano”. A formação do país senhorial relaciona-se, por um lado, com a presença da nobreza e, por outro, com a influência da Igreja no Norte Atântico. As terras ocupadas pela nobreza e a doação, pelo rei, às famílias da nobreza, de parcelas de território e de cargos políticos, deram origem às honras. Por outro lado, as doações do rei e da nobreza à Igreja deram origem aos coutos. A Igreja Cristã exercia grande influência junto das populações, quer no Norte atlântico (Sés de Braga e do Porto), quer no Centro e Sul do país, devido à presença de ordens religiosas militares, encarregadas da defesa da fronteira portuguesa (Templários, Hospitalários, Calatrava, Santiago de Espada). O senhor podia exercer dois tipos de poderes no seu senhorio: • o poder senhorial, de natureza política, que corresponde à autoridade sobre os habitantes do senhorio; • o poder económico sobre os seus domínios senhoriais, o qual resultava da posse e exploração de terras. O poder do senhor exercia-se sobre as diferentes parte do seu domínio: 1. A quintã (reserva do senhor) incluía a morada do senhor (o castelo), uma igreja, estábulos, celeiros, moinhos e uma porção de terra explorada diretamente pelo senhor. A quintã era explorada graças ao trabalho obrigatório e gratuito (jeiras) de escravos, servos e colonos livres. 2. Os casais eram terras arrendadas e eram exploradas através de contratos entre senhores e colonos ou caseiros. Estes pagavam as rendas de forma fixa ou cedendo uma parcela das colheitas. O poder senhorial no Norte Atlântico D. Sancho I , Carta de doação ao Mosteiro de Alcobaça (1229) “Eu, Sancho, por graça de Deus, rei de Portugal e do Algarve, e minha espôsa, a rainha D. Dulce, juntamente com os nossos filhos, fazemos esta carta de doação e de perpétua segurança à casa de Alcobaça e a vós, D. Martinho, abade do mesmo lugar, e a todos os irmãos que aí vivem sobr regra, daquelle castelo (...), que para honra de Deus vos damos e concedemos, para que o possuais perpetuamente, livre de toda a ação real e pacificamente, com todos os seus termos novos e antigos, até os limites que possam ser tidos como verdadeiros por uma investigação feita por homens dignos do maior crédito e fé (...).” Responder: a) Explique a formação do pais senhorial. b) Relacionar o país senhorial com a ascensão da nobreza e do clero. Eu, D. Afonso Henriques, pela graça de Deus, rei dos Portugueses, a Deus e aos cavaleiros do Templo de Salomão, faço carta e pacto de doação e de firmeza, de toda a terça parte que possam adquirir e povoar além do rio Tejo, mediante o favor divino, com tal condição que, enquanto durar a guerra dos Sarracenos, a utilizes em serviço de Deus, de meu filho (...), com as rendas que de mim recebeis.” D. Afonso Henriques, Carta de doação aos Templários (1169) Vassalidade Relação hierárquica que se estabelecia entre dois indivíduos de estirpe social elevada. Criava, entre eles, uma dependência pessoal, alicerçada na fidelidade, ajuda e conselho. Um dos senhores atribui um bem a outro senhor.
  • 3. 3 CADERNODIÁRIO19deNovembrode2015 O poder senhorial e o seu exercício A nobreza medieval, dominante na sociedade, constituída por famílias antigas que haviam auxiliado militarmente o rei, integrava diversos graus. A nobreza senhorial de Entre Douro e Minho era constituída, desde os tempos do Condado Portucalense, em especial as famílias da Maia, de Riba Douro, de Sousa, de Baião e de Bragança, referidas no século XII. Os infanções habitavam no castelo, a partir do qual defendia militarmente e controlava economicamente o território circundante. A partir do século XII, os infanções ascenderam socialmente, passando, muitos deles, a integrar o grupo dos ricos-homens e, no século XIV, são estes quem constitui o estrato dominante da sociedade portuguesa. Os ricos-homens possuíam grandes domínios territoriais, onde exerciam o poder de julgar, gozavam de isenções fiscais e comandavam os seus próprios exércitos. Abaixo deste grupos, pertenciam à nobreza os cavaleiros e os escudeiros. Os primeiros eram os guerreiros quer pertenciam à ordem militar da Cavalaria. Quando os escudeiros acompanhavam e auxiliavam o seu cavaleiro, combatendo na retaguarda. Porém, nem uns nem outros ostentavam o título e os privilégios dos senhores medievais. Os senhores exerciam um poder económico e, sobretudo, político. Este poder fora-lhes delegado por um rei ou conde, em troca do serviços militares prestados e da administração de terras e castelos. Com o tempo, os senhores deixaram de prestar contas sobre esses poderes, estendendo-os até à propriedade livre ou de outros senhores. O senhor podia possuir armas e comandar os exércitos; receber multas relativas ao exercício da justiça; cobrar exigências fiscais (por exemplo, a obrigação de alimentar o senhor; pagar o uso do forno, moinho ou lagar; pagar para casar fora do domínio senhorial). Em suma, o poder senhorial abrange a administração do senhorio, mas também o exercício de poderes públicos originariamente pertencentes ao rei. Os senhores podiam mesmo proibir a entrada de funcionários do rei nos seus territórios. Os dependentes englobam uma grande quantidade de homens sujeitos ao poder dos senhores, a saber: • Herdadores - eram proprietários de terras livres. Porém, todos eram obrigados a escolher um senhor e a depender dele, tendo de prestar serviços e pagar impostos. • Colonos - eram homens livres que arrendavam as terras ao senhor em contratos perpétuos ou a prazo, estando sujeitos a obrigações de tipo senhorial. • Escravos - geralmente prisioneiros mouros, eram utilizados como força instrumental nos serviços domésticos, artesanato e agricultura. • Assalariados - viviam do aluguer do seu trabalho e não dependiam de um senhor. Os senhorios e a sociedade feudal Pierre Grimal, A Civilização Romana “Todo o nobre, em princípio, era um senhor, isto é, possuía um património fundiário extenso sobre o qual tinha direitos de jurisdição e de cobrança de rendas e impostos. Esse património garantia-lhe, igualmente, uma população de dependentes. Nobres havia, ainda, que não possuíam senhorio, (...) vivendo em casa dos seus senhores e deles totalmente dependentes. Por certos bens doados, o nobre havia que prestar menagem ao rei ou a outro senhor de quem os tivesse. É difícil avaliar os efetivos, mesmo aproximados da nobreza. Os cálculos possíveis apontam para cerca de um milhar de famílias, isto é, umas 5000 pessoas, menos de 1% da população do país.” Responder: a) Caraterize o poder senhorial. b) Reconheça a dependência das comunidades rurais. “Aquele que lavrar com um jugo dê um moio. (...) Aquele que lavrar com mais de dois, dê dois quarteiros, um de trigo e outro de milho. (…) O cavão que lavrar trigo ou milho ou centeio dê a teiga do pão que lavrar. O peão dê a dízima do seu vinho. (…) Dos peixes do mar que trouxerem pelo rio Mondego, dêem a dízima ao senhor da terra até ao mês de Maio. Os monteiros daquele veado que matarem darão ao mordomo o lombo. Sancho I, Foral de Penacova (1192) Imunidade Privilégio que consiste em interditar aos delegados do rei a entrada nas terras de um nobre, de um bispado ou de uma abadia para aí exercer o seu poder público.
  • 4. 4 CADERNODIÁRIO19deNovembrode2015 O poder concelhio e a autonomia O desenvolvimento das cidades e vilas portuguesas data do século XII, graças a um conjunto de fatores: • o território português situava-se na rota de peregrinação a Santiago de Compostela, o que beneficiou certos núcleos de passagem, como Porto e Guimarães; • com o avanço da Reconquista, Portugal herdou as marcas de urbanidade muçulmanas, bem presentes no centro e sul do país; • as cidades desenvolviam-se sempre que o seu espaço era escolhido pela corte ou pelas sés episcopais para se instalar; • o ressurgimento comercial do século XII refletiu-se num surto urbano, com destaque para urbes que faziam trocas comerciais através da costa atlântica como o Porto e Lisboa, mas também cidades como Guimarães, Coimbra, Santarém e Évora. A principal caraterística dos concelhos residia no privilégio de disporem de autonomia administrativa. Este privilégio era expresso na carta de foral, documento outorgado por um monarca ou um senhor, que estabelecia os direitos e obrigações dos habitantes do concelho, enquanto o selo concelhio simbolizava a autonomia jurídica das povoações. Os concelhos perfeitos ou urbanos localizavam-se nas regiões fronteiriças das Beiras, na Estremadura, no Alentejo, isto é, em zonas que era urgente defender e povoar. Incluíam a cidade ou vila e o seu termo (aldeias e população em redor). Nessa área governavam os vizinhos (homens livres, maiores de idade, habitantes ou trabalhadores na área do concelho) reunidos em assembleia. As suas decisões ficaram registadas nas posturas municipais. A autonomia dos concelhos era evidente na forma como os nobres e clérigos se tinham de submeter a esta administração de tipo comunitário. Responder: a) Reconheça a afirmação das cidades e vila concelhias no espaço português. b) Caraterizar a autonomia político-administrativa das cidades e vilas concelhias. Os concelhos e a sua administração Manuela Silva, As Cidades “Os cavaleiros-vilãos eram, em quase todos os concelhos urbanos, os maiores proprietários rurais, os detentores das maiores fortunas, aqueles de quem dependia a segurança da comunidade e aqueles que monopolizavam e perpetuavam num grupo fechado as magistraturas da administração local. (...) O estrato social inferior aos dos cavaleiros-peões é o dos peãos. os peãos eram gente que vivia do seu trabalho, que possuía algo de seu, que tinha direito de participar nas assembleias de vizinhos. Eram agricultores, almocreves, pequenos comerciantes, pescadores ou artífices. A restrição da administração local apenas aos homens-bons deixou aos peões muito poucas oportunidades de colaboração com os novos órgãos autárquicos. ” “E mando que todos aqueles que vierem a essa feira por razão de vender ou de comprar sejam seguros da ida e da vinda e não sejam penhorados na feira em esses dois dias que ela durar, salvo a dívida que for feita na dita feira. E mando e defendo que nenhum nome seja usado que faça mal nem força nem embargo na dita feira, que aqueles que ainda o fizesse peitaria a mim.” D. Dinis, Carta da Feira de Murça (1342) Carta de Foral Diploma emanado do rei ou de um senhor, no qual se estabeleciam as regras e os direitos que regiam a vida das populações de uma certa localidade, denominada concelho.
  • 5. 5 CADERNODIÁRIO19deNovembrode2015 A monarquia feudal e o poder do rei No século XIII, a identidade nacional ainda era uma ideia esbatida, pouco nítida, tendo em conta que o país era composto pelo conjunto de senhorios e concelhos que beneficiavam de privilégios e especificidades próprias. A coesão interna assentava, então, numa monarquia feudal, que obedecia aos seguintes pressupostos, válidos para todos os habitantes: 1. O rei era um senhor, o mais rico e poderoso do território português. de acordo com esse estatuto, os nobres e clérigos eram seus vassalos, e os restantes habitantes seus súbditos. 2. Enquanto senhor feudal, o rei exigia rendas e prestações públicas, não só nos seus domínios, mas também nas terras livres e nos concelhos. 3. A relação do rei com os seus vassalos era encarada como uma relação de troca, típica da época feudal, segundo a qual o monarca oferece proteção e doações e os vassalos obedecem à sua autoridade e prestam-lhe apoio na governação. 4. O reino português era tratado, pelo rei, como se fosse um território privado, um património pessoal fechado, que ele podia alienar sob a forma de honras e coutos, como recompensa por serviços prestados. Esse património era transmitido, por sua vez, em testamento, ao filho primogénito. Os reis de Portugal fundamentavam o seu poder, desde o início da nação, no direito divino e assumiam como principais funções: • a chefia militar; • a manutenção da paz e da justiça (o rei era o juiz supremo, cabendo-lhe a função de tribunal de apelação); • a cunhagem da moeda e a sua desvalorização. Desde o século XIII, os monarcas portugueses esforçaram-se por somar às suas funções originais a supremacia sobre todas as ordens sociais. Para esse efeito, tomaram as seguintes medidas: • as Leis Gerais, de 1211, impuseram a todos a mesma legislação, colocada acima das jurisdições senhoriais e concelhias, procurando recuperar os poderes da Coroa; • a itinerância da Corte permitia atender mais facilmente às necessidades de administração e de justiça do país; • o órgão consultivo que apoiava a governação - a Cúria Régia - cujas reuniões extraordinárias evoluíram para as Cortes, que eram mais representativas dos três estados do reino e permitiu ao rei aliar-se ao Terceiro Estado para submeter o clero e a nobreza. Responder: a) Analise o funcionamento da monarquia feudal. b) Explique a passagem da monarquia feudal à monarquia centralizada. A monarquia centralizada e o combate à expansão senhorial Gama Barros, História da Administração “O monarca era sempre o chefe de todos os poderes: militar, judiciário e administrativo; poderes que se reuniam tanto no rei como também muitas vezes nos seus delegados. A sua autoridade recebia-a ele imediatamente de Deus. E esta doutrina do direito divino, como origem da soberania, foi a dominante, ou, para melhor dizer, única recebida em Portugal. (...) E bastaria, para o provar, o facto de ter o rei ido buscar á proteção do Papa uma segurança para a independência da nova monarquia, pretensão que se invoca ainda no século XIII para invalidar pretensões estanhas contra o direito da realeza. O rei era o mais alto senhor do território português, ao qual estavam sujeitos os súbditos, por natureza, todos quantos a esse território se encontrassem vinculados por senhorio, propriedade ou residência. (...) O súbditos acatam a autoridade do rei, com os deveres daí decorrentes, em troca da proteção que o monarca tem que lhes dispensar.” “A todos os Ricos homens, Mestres, Priores das Ordens, Cavaleiros e Donas e a todos os outros quaisquer dos meus reinos, (...) e vós devedes saber que é direito e uso e costume geral dos meus reinos que em todas as doações que os reis fazem a alguns sempre fica guardado para os reis as apelações e a justiça maior (...) que ficam aos reis em sinal de maior senhorio.” D. Dinis, Ordenações Afonsinas (1317) Monarquia feudal Monarquia na qual o rei se assume como o maior e mais poderoso dos senhores; em troca de doações e da concessão de proteção estabelece laçõs de dependência pessoal de vassalos e súbditos.
  • 6. 6 CADERNODIÁRIO19deNovembrode2015 A monarquia centralizada e o combate à expansão senhorial Os senhores alargavam os seus territórios à custa da ocupação de territórios do rei e livrando-se, através das imunidades, de pagamentos ao fisco e exercendo poderes públicos que pertenceriam ao rei. Para combater esta situação, os monarcas encetaram uma série de medidas, desde do início do século XIII: 1. Leis da Desamortização (1211) - impediram os mosteiros e igrejas de adquirirem bens de raiz e herdar bens daqueles que haviam professado votos. 2. Confirmações Gerais (1217-1221) - reconheciam a posse de terras e direitos da nobreza e do clero, tornando a posse hereditária numa questão de autorização régia. 3. Inquirições (1220) - inquéritos que averiguavam o estado das terras do rei diversas zonas do reino, com o objetivo de verificar a existência de usurpações por parte da Igreja e da nobreza. Por vezes, a tentativa do rei de controlar os poderes senhoriais atingia contornos de uma verdadeira luta, com os clérigos a queixarem-se ao Papa, que podia excomungar os reis e proibir a celebração do culto no reino. Responder: a) Refira as medidas tomadas pelos monarcas para conter o poder senhorial. Pesquisar: https://www.youtube.com/watch? v=ADAWkyDLKBc https://www.youtube.com/watch? v=Yg3YDN5gTX0 https://www.youtube.com/watch? v=Lq1UXNjA3gQ https://www.youtube.com/watch? v=yrVise5qvx0 https://www.youtube.com/watch? v=DoiC_V-RbTM https://www.youtube.com/watch? v=QnIhFXh8lZk A monarquia centralizada e o combate à expansão senhorial D. Dinis, Inquirições (1310) “Dom Dinis pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve. A quantos esta carta virem faço saber, que como fossem a mim feitos queixumes per muitas e desvairadas pessoas, queixando-se dos filhos dalgo, e do Arcebispo e dos Bispos, e das Sés, e dos Abades, e dos Priores, e de muitos outros da minha terra, porque faziam suas terras (honras) em muitas maneiras, e como não deviam (...), que muitos homens-bons e os lavradores eram oprimidos (...), querendo-se servir dos corpos e dos haveres por opressão contra direito (...), usurpando-me muitos dos meus reguengos. (...) E feita a inquirição (...) foram deitados lugares muitos em devasso (...) contra a postura que lhes já fora posta e por eles outorgada. Todas as honras que foram feitas de novo, ou acrescentadas nas velhas, que não valham, e que sejam todas em devasso (...). ” “D. Dinis per graça de Deos Rey de Portugal, e do Algarve. A todolos Alquaides, Meirinhos, Juizes, Almoxarifes dos meus Regnos (...) sabede que (...) mando, e defendo que os Clerigos nem Hordees nom comprem Herdamentos, e aquelles Herdamentos, que comprarom, des que eu fui Rey, dou-lhes prazo, os vendom (...); e se os nõ venderem atta este prazo, percam-nos.” D. Dinis, Lei da Desamortização (1284) Inquirições Inquéritos promovidos pelos reis, nos séculos XIII e XIV. Destinavam-se a averiguar o estado dos bens do rei e da Coroa. Permitiram descobrir que os fidalgos e os bispos haviam cometido inúmeras usurpações de terras.