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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - UFS
                         Grupo de Pesquisa Educação a Distância e Práticas
                         Educativas Comunicacionais e Interculturais – EDaPECI


  ANAIS DO II SEMINÁRIO EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO, INCLUSÃO E INTERCULTURALIDADE


                              DE 12 A 14 DE AGOSTO DE 2009

                  A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NO BRASIL IMPÉRIO

                                                         Josilene Souza Lima Barbosa
                                                          Mestranda em Educação/UFS
                                                                 Membro do NUPIEDE
                                                                    Membro do GEIED
                                                        josylenelbarbosa@hotmail.com


                                      RESUMO

A educação no Brasil Império foi marcada pelo ensino elitista, iniciava-se nas casas dos
aprendizes com aulas ministradas por profissionais escolhidos pelos pais, assim como
os conteúdos a serem ensinados a educação na Casa era o costume da época, as pessoas
acreditavam que mandar os filhos para colégios, estes poderiam ter más influências, já
que nos colégios eram freqüentados por pessoas de classes menos favorecidos. Diante
desta realidade, este estudo tem como objetivo fazer um breve recorte de como
acontecia à educação no século XIX e apresentar os meios pelos quais as pessoas com
surdez tinham acesso à educação neste período. Optamos por uma pesquisa
bibliográfica apoiada nos estudos de Brugger (2007), Azevedo (1996), Vasconcelos
(2005), Souza (2007) dentre outros. O estudo nos levou a refletir e reconhecer a
colaboração de D.Pedro II ao apoiar a iniciativa de L’Épée ao fundar o Instituto dos
Surdos –Mudos no Rio de Janeiro, a conhecer e valorizar o empenho do ilustre
sergipano Tobias Leite como diretor deste Instituto, divulgando e lutando pela a
educação dos surdos brasileiros.

Palavras-chave: Educação. Império. Instituto dos Surdos-Mudos.



              LA EDUCACIÓN DE LOS SORDOS EN BRASIL IMPERIO



                                     RESUMEN
La educación en Brasil Imperio fue marcada por lo ensenanza elitista, fue iniciada en
las casas de los aprendizes con lecciones dadas por los profesionales elegidos para los
padres, tan bien como el contenido para ser enseñado la educación en la casa que era el
costumbre del tiempo, la gente creyó que pedir a los niños para los colegios, éstos
podrían tener dañan influencias, puesto que en los colegios fueron frecuentadas por la
gente de clases menos favorecida. Delante de esta realidad, este estudio tiene tan

                                                                                    655
objetivo para hacer un informe que corta de como sucedió la educación en el siglo XIX
y presentar las maneras para las cuales la gente con sordera tenía acceso a la educación
en este período. Optamos a una investigación bibliográfica apoyada en los estudios de
Brugger (2007), Azevedo (1996), Vasconcelos (2005), Souza (2007) entre otros. El
estudio en él los tomó para reflejar y para reconocer la contribución de D.Pedro II al
apoyar la iniciativa de L Épée al establecer al Instituto de los sordomudos en el Río de
Janeiro.Para conocer y para valorar lo empeno del sergipano ilustre Tobias Leite como
el director de este Instituto, y divulgación y lucha para la educación de los sordos
brasileños.
Palabras-llave: Educación. Imperio. Instituto de los Sordomudos.




Educação no Brasil Imperial




          A educação brasileira no período imperial era destinada às elites e sob a
responsabilidade das famílias, isto é, eram os pais que escolhiam se os filhos iriam ter
aulas com mestres e/ou preceptores, as disciplinas a serem ensinadas, assim como os
conteúdos. A escolha dava-se de acordo com os interesses das famílias e os filhos na
maioria das vezes não tinham o direito de opinar quanto às decisões do seu futuro. A
família era à base da sociedade e em torno dela giravam todos os interesses. Segundo
Brugger (2007) ser obediente aos pais não implicava na maioria das vezes, na anulação
ou na contrariedade dos desejos dos filhos, não se tratava das vontades pessoais de pais
e filhos, mas sim de objetivos familiares e para atingí-los todos deveriam contribuir. A
autora coloca que nem todos os projetos familiares eram bem sucedidos. Mas ainda
nestes casos, o apoio, a reestruturação e a adequação à nova realidade eram buscadas no
interior do seio familiar. Nem tudo acontecia de forma harmoniosa, houve muitas
circunstâncias de desavenças e rupturas, “mas, mesmo nelas, o agente social por
excelência era a família, ainda que se pudessem opor ramos de uma mesma parentela”.
(p.330)

          Brugger cita que as famílias se preocupavam com a instrução de seus filhos e
que em seus testamentos elegiam tutores que pudessem se responsabilizar pela educação
dos filhos após a sua morte. Cabe salientar que os pais não confiam e/ou, julgavam as
mães incapazes de cuidar dos filhos e nomeavam tutores para essa função.


                                                                                    656
“[...] os tutores não deveriam além do trabalho da criação, assumir nenhum
                            tipo de despesa com ‘mestres, vestuários e enfermidade’. Estas deveriam ser
                            descontadas da herança do próprio filho, o que estabelecia por entender que
                            ‘lhe será mais útil a boa educação que, sem essa, o vulto da herança”
                            (BRUGGER, 2007, p.154)

          A educação “formal" iniciava-se nas casas dos aprendizes, geralmente por
mestres estrangeiros. Seus pais acreditavam que estes, eram melhores preparados para
se encarregar da educação dos seus filhos, já que a educação européia era famosa e tida
como a melhor. A educação na Casa era o costume da época, as pessoas acreditavam
que mandar os filhos para colégios, poderia ter más influências, já que nos colégios
eram freqüentados por pessoas de classes menos favorecidos. Os profissionais
interessados em candidatar-se a mestres, preceptores ou professores colocavam
anúncios nos jornais de acordo com as suas qualificações.

          Vasconcelos fez um estudo detalhado sobre a educação na Casa e trouxe dados
importantes esclarecendo e informando como acontecia a educação nas Casas no século
XIX, o perfil dos “professores”, e quais as modalidades de ensino existentes na época.
Traz em sua obra conceitos importantes, dentre eles:

        Professores particulares- também chamados de mestres particulares ou mestres que davam
        lições ‘por casas’, eram mestres específicos de primeiras letras, gramática, línguas, música, piano,
        e outros conhecimentos. [...] Não habitam nas casas, mas compareciam para ministrar aulas, em
        dias e horários pré-estabelecidos.
        Preceptores- eram mestres ou mestras que moravam na residência das famílias, às vezes,
        estrangeiros, contratados para a educação das crianças e jovens da casa (filhos, sobrinhos, irmãos
        menores). Por vezes, encontram-se preceptores denominados de aios ou amos, aias ou amas. [...]
        sendo encontrados nas classes mais abastadas.
        Aulas domésticas- eram aulas ministradas no espaço da própria casa, por membros da família,
        mãe, pai, tios, avós, ou até pelo padre capelão, que não tinham custo algum e atendiam apenas às
        crianças daquela família ou parentela.
         Mestre–escola- eram mestres que ministravam aulas em sua própria casa para crianças e jovens
   de diversas famílias, na maioria das vezes de faixas etárias diferentes. Os alunos recebiam aulas na
   casa do mestre em dias e horários determinados. [...] Podiam ser contratadas as apenas as aulas que
   interessassem aos alunos. O pagamento era feito por pai de cada criança atendida.

De acordo com o estudo de Vasconcelos (2005) existiam três modalidades de ensino:

        Ensino público- refere-se àquele oferecido nas escolas mantidas pelo Estado ou por ‘associações
        subordinadas a este’.
       Ensino particular- refere-se àquele que era oferecido nos colégios particulares ou na casa dos
       mestres, que recebiam crianças e jovens para ensinar-lhes os conhecimentos estabelecidos.
       Educação doméstica- era aquela que ocorria na Casa do aprendiz, na esfera privada, na qual os
       pais contratavam, mediante sua livre escolha, os mestres, os conteúdos e as habilidades a serem
       ensinados a seus filhos, no tempo e disposição exclusivamente determinados pela Casa. Essa
       modalidade de ensino tinha como agentes, os professores particulares, os preceptores, os parentes
       ou agregados e, ainda, os padres que ministravam aulas domésticas. (VASCONCELOS, 2005
       p.12-17)




                                                                                                       657
Cabe salientar que nesta época a educação de meninos e meninas dava-se em
espaços separados. Os meninos iniciavam a educação no ambiente doméstico e
posteriormente eram mandados para as instituições existentes para concluir a educação
secundária: particulares, oficiais e religiosas. Para as meninas as famílias traçavam
outros objetivos aprendiam a ler, escrever, noções de matemática, mas deveriam estar
incluídos nos “programas” de ensino as prendas do lar, música, tocar piano e artes para
prepará-las para o casamento e agradar aos futuros esposos.
             Segundo Azevedo (1996) com a chegada da família real foram criadas as
escolas de preparação profissional por D. João VI. No primeiro Império, dois cursos de
ciências jurídicas e sociais criados pela lei 11 de agosto de 1827, nas cidades de São
Paulo no dia 1º de março no convento de São Francisco e o de Olinda no dia 15 de maio
de 1828, no Mosteiro de São Bento. As duas faculdades de medicina surgem na
primeira metade do século XIX sendo uma na Bahia e a outra no Rio de Janeiro. Cabe
ressaltar que a elite da época é que tinha acesso a estas faculdades.


                               O trabalho da terra, como a atividade mecânica e industrial, parecia reservado
                               aos ignorantes e incapazes e mal se acomodava com essa espécie de
                               enobrecimento que confere a passagem pela escola – pelos liceus e
                               faculdades, destinadas à preparação para as profissões liberais. Os estudantes
                               do Brasil, como, aliás, em toda a parte, vinham da elite da sociedade – do
                               patriarcado rural ou daquela pequena burguesia que procurava ascender às
                               camadas superiores -, dirigiam-se às aulas e aos ginásios, e daí, às escolas de
                               profissões liberais, especialmente às duas faculdades de direito. (AZEVEDO,
                               1996, p.562)


         Como observado à educação no Brasil imperial era marcada pela valorização
da cultura, instrução e dos interesses familiares. E como era a educação das pessoas com
deficiência nesta época?

         Tentaremos na próxima seção trazer alguns dados sobre a educação dos surdos
no Brasil Império.

A importância do Instituto dos Surdos-Mudos1 para a educação brasileira

            As pessoas com deficiência sempre enfrentaram muitos preconceitos ao longo
dos séculos em busca de formação e acesso ao conhecimento. Muitos acreditavam que
eram incapazes, de aprender, de produzir e de dar a sua contribuição à sociedade. Como
vimos anteriormente o modelo educacional da época era baseados no modelo europeu,
tendo os preceptores, mestres, professores, na educação das casas oriundos em sua

1
    Termo utilizado na época

                                                                                                         658
maioria da Europa, assim como os professores que atuavam nos colégios. A educação
das pessoas com deficiência no Brasil não fugiu a essa regra. Nas fontes consultadas
não encontramos como se dava a educação destas pessoas nas Casas, encontramos
apenas a criação de institutos que viabilizaram o acesso ao conhecimento fundado por
estrangeiros. A educação dos surdos no Brasil e, em outros países, teve seu inicio
marcado pelos estudos de médicos e religiosos. Apesar da época delimitada não
podemos deixar de destacar alguns fatos que antecederam o século destacado para este
estudo.

                        Os estudos médicos sobre a deficiência e a linguagem, e a influência da
                        medicina com a aplicação de normas higiênicas e disciplinares nas escolas,
                        estiveram relacionadas às iniciativas de religiosos em criar e desenvolver
                        institutos específicos para a educação dos surdos. Muitos médicos passaram a
                        desenvolver seus trabalhos com surdos nos recém‐criados estabelecimentos,
                        como exemplo o trabalho de Itard (1775‐1838) no Instituto Nacional de
                        Surdos‐Mudos de Paris, o qual foi criado pelo Abade Charles Michel de
                        L’Epée em 1760.(www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf)


           Segundo as fontes consultadas Jean Itard foi o primeiro médico a interessar-se
pelo estudo da surdez e das deficiências auditivas. Quanto aos religiosos que deram a
sua contribuição na educação dos surdos encontramos:
           Pedro Ponce de Leon (1520-1584) era espanhol e foi um monge beneditino
considerado o primeiro professor de surdos. Seus alunos eram filhos de aristocratas ricos
que tinham recursos, tornando- se tutor destas crianças surdas. O trabalho de Leon era
focado em ensinar as crianças a aprender a escrever através de gestos simples e
desenvolveu o alfabeto manual que permitia aos estudantes a aprender a soletrar toda a
palavra.     O seu trabalho foi considerado de grande importância por seus
contemporâneos. Os europeus no século XVI acreditavam que os surdos não podiam ser
educados. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Ponce_de_Le%C3%B3n)
           Juan Pablo Bonet foi um padre espanhol, e educador de surdos. Em 1620
publicou em Madri, o livro Redução das Letras e Arte de Ensinar a Falar os Mudos. Foi
professor de Luís Velasco, Condestável de Castela, para quem Bonet era secretário
particular. Nesta família havia muitos surdos, já que existiam muitos casamentos entre
parentes, afim de, manter o patrimônio vinculado a família. O seu método consistia no
alfabeto manual (dactilologia), por acreditar que seria mais fácil ensinar o surdo a ler se
utilizasse este método. Conforme as fontes o seu livro atraiu as atenções de muitos
intelectuais europeus para a causa dos surdos, dentre eles: Jacob Rodrigues Pereira,
Amman e Wallis. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Pablo_Bonet)

                                                                                               659
Charles-Michel de L’Épée (1712-1789), francês, foi um educador filantrópico
do século XVIII, ficou conhecido como o ‘Pai dos Surdos’. O método utilizado era
centrado no uso de gestos e sinais, acreditava no princípio de que o ‘surdo-mudo deve ser
ensinado através da visão. O seu diferencial em relação aos seus antecessores foi ter
permitido que os seus métodos e o acesso às suas aulas fossem abertas ao público e a
outros educadores. Estabeleceu programas de ensino/treinamento para estrangeiros que
pretendiam levar os métodos de ensino para o seu país, e acabou contribuindo para a
abertura de muitas escolas pelo mundo. Um exemplo foi Laurent Clerc, surdo francês,
aluno da escola de L’Épée que juntamente com Thomas HopKins Gallaudet, educador
ouvinte, fundaram a primeira escola de surdos da America do Norte aplicando os
conhecimentos adquiridos com o mestre. Dentre as suas principais contribuições estão:
Criação do Instituto Nacional de Surdos Mudos, em Paris. Esta foi a primeira escola de
surdos do mundo; Passagem da educação individual para a coletiva; Divulgação da língua
gestual entre nobre, filósofos e educadores da época, mostrando a importância e a riqueza
da mesma.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles- Michel_de_1%C3%89%p%C3%A9)
        Segundo Gugel no Brasil o Imperador D. Pedro II motivado pelo movimento
europeu cria duas instituições para as pessoas com deficiência: O Imperial Instituto dos
Meninos Cegos (atualmente Instituto Benjamim Constant), através do Decreto Imperial
nº 1.428, de 12 de setembro de 1854. E o Instituto de Surdos Mudos fundado em 26 de
setembro de 1857 (atualmente Instituto Nacional de Educação dos Surdos –INES). A
criação deste último instituto teve como objetivo apoiar as idéias do professor francês
Ernest Huet.
        Pinto traz dados importantes sobre a criação do Instituto dos Surdos- Mudos do
Rio de Janeiro. Segundo a autora começou na Europa através do Instituto Nacional de
Paris, cabe exaltar que Huet era surdo e professor deste instituto e já tinha sido diretor
do Instituto de Surdos-Mudos de Bourges. A criação desta escola começou com uma
carta de apresentação do Ministro da Instrução Pública da França entregue ao Governo
brasileiro. D. Pedro II determinou que fosse organizada uma comissão com figuras
importantes do Império para promover a fundação da escola para surdos. Em 1856 o
professor Huet apresenta o seu programa de ensino, cujas disciplinas eram:

                        Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração
                       Mercantil, Linguagem Articulada, Leitura sobre os Lábios e Doutrina Cristã.
                       No que se refere à disciplina “Leitura sobre os Lábios”, esta só seria
                       oferecida aos que tivessem aptidão, reconhecendo‐se que quem tivesse
                       resíduo auditivo teria muito mais chance de desenvolver a Linguagem Oral.
                       Esta questão sempre foi tomada como objeto de polêmica ao longo da

                                                                                             660
história do Instituto, uma vez que a orientação educacional era diferenciada,
                        ou seja, os que não tinham aptidão para a linguagem oral, segundo o
                        entendimento da época, não freqüentavam as aulas de Leitura sobre os
                        Lábios. (www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf)


         Em 1856 embora não oficializado o Instituto já funcionava e Huet e teve duas
meninas surdas como alunas eram: Umbelina Cabrita e Carolina Bastos. Segundo Pinto
eram do Rio de Janeiro e foram admitidas em 1º de janeiro de 1856, recebiam pensão
anual paga por sua Majestade Imperial. O instituto era mantido através de pensões de
diversos órgãos. Pinto embasado na matrícula de 1858 apresenta os seguintes dados:
havia dezenove alunos cujas pensões equivaliam 500 réis cada uma; dois alunos
recebiam pensão de Vossa Majestade Imperial, um recebia do Convento do Carmo, um
do Mosteiro de São Bento, seis eram mantidos pelo Tesouro Nacional, cinco pelo
Tesouro Provincial e quatro por pensões particulares, sendo que dois alunos mantidos
por particulares saíram do instituto.
         De acordo com Souza (2007) a escola de surdos funcionava no Colégio
Vassinon. No ano de 1856, segundo a autora, Huet apresentou o resultado do seu
trabalho e ganhou a admiração do imperador.               O professor passou por inúmeras
dificuldades econômicas, disciplinares e morais que tumultuaram o Instituto. Em 1861,
reconheceu que não tinha condições de dirigir à instituição, propôs ao Marques de
Olinda que lhe pagasse indenização e uma pensão anual para entregar a escola ao
Império, no final deste mesmo ano, “mediante acordo financeiro, desligou-se das suas
funções e mudou-se para o México, para ensinar aos surdos de um instituto fundado por
seu irmão também surdo, Adolphe Huet” (SOUZA, 2007, p. 85)

                        Até a chegada do novo Professor que estava sendo habilitado no Instituto de
                        Surdos de Paris, o Instituto do Rio de Janeiro foi dirigido por Frei João do
                        Monte do Carmo e por Ernesto do Prado Seixas. Em Julho de 1862, chegou
                        ao Brasil o professor contratado Dr. Manoel de Magalhães Couto, que ficou
                        na Direção até 1868. Ele foi exonerado pela constatação da inspeção de que
                        não havia trabalho algum no Instituto, simplesmente um grande depósito
                        asilar             de             surdos‐mudos.               (www.cultura-
                        sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf

         Conforme Souza (2007, p.86) em agosto de 1868 Tobias Leite, médico
sergipano, nascido na cidade de Riachuelo assume o cargo de diretor interino e em 1872
foi nomeado diretor efetivo, ocupando o cargo até 1896, ano de sua morte. A autora
coloca que desde que Tobias assumiu o instituto a educação dos surdos passou a ser
sistematizada e divulgada. Embasada em Bastos elenca as obras de Leite que tiveram
distribuição gratuita e de grande contribuição para a educação brasileira, são elas:
                                                                                                661
Notícia do Instituto dos Surdos-Mudos (1871) reeditada em 1876, 1877e 1887, tendo
como objetivo divulgar o instituto; Compêndio para o ensino dos Surdos-Mudos (1881);
Lições de Metrologia (1875); Salvaguarda do surdo-mudo brasileiro (1876); Noções de
língua portuguesa para surdos-mudos (1871), Contos morais para surdos-mudos
(tradução, 18770) e Regimento Interno dos Surdos-Mudos (1877).
        Administrar o instituto por 28 anos não foi uma tarefa fácil, assim como foi
para L’Èpée e seus sucessores. Os recursos eram insuficientes para manter os alunos na
instituição. Souza (2007) relata que de acordo com o recenseamento da época apontasse
a existência de 209 surdos no Rio de Janeiro. Desde a fundação até 1873, o instituto
recebeu apenas 101 alunos. Segundo a autora Tobias Leite lamentava por estes
números, já que o instituto era a única escola de surdos existente. O instituto estava
preparado para receber e educar 100 alunos internos e número ilimitado para externos,
porém não ultrapassava de 33 alunos.
        Em 1880, foi criado o Museu Escolar do Instituto dos Surdos-Mudos, através
do Decreto-Lei nº890, de 1880, com objetos oferecidos pelo imperador D. Pedro II.
Este museu era mais um recurso em prol da educação deste alunado na época, pois
facilitava a aprendizagem, porque os alunos visualizam e manuseavam objetos, aguçava
a curiosidade. Souza (2007) cita que o método utilizado no instituto era o método
intuitivo onde o professor utilizava materiais diversos (mapas, selos, gravuras, etc.) A
autora informa que no inicio Tobias adotou a língua de sinais como melhor meio de
ensinar os surdos, depois das polêmicas levantadas nos congressos internacionais
adotou o ensino da língua oral. Em 1875, Tobias Leite publicou o livro Iconografia dos
Sinais dos Surdos-Mudos, obra de Faustino José da Gama, aluno do instituto.


                       Além da organização do museu pedagógico, Tobias Leite interessou-se
                       ativamente por exposições internacionais, seja contribuindo financeiramente,
                       seja divulgando o Instituto dos Surdos-Mudos, através de livros e artefatos
                       dos alunos (SOUZA, 2007, p.94)


        Souza (2007) relata ainda, a existência do Colégio Menezes Vieira nesta fase
imperial, segundo a mesma o colégio teve uma curta duração de 1875 a 1887. Foi o
primeiro jardim de infância e era símbolo de modernismo no Império, cujo referencial
teórico era baseado em Frobel.




                                                                                              662
Como pudemos observar o método mais adotado na educação dos surdos era o
gestualismo 2 (método francês), porém existia outra corrente que defendia o oralismo (ou
método alemão). Os surdos optavam pelo gestualismo enquanto os ouvintes apoiavam o
oralismo. Em 1872, no Congresso de Veneza decidiu-se que o método que deveria ser
adotado era o oralismo, porque a língua oral tem vantagens para o desenvolvimento do
intelecto, da moral e da lingüística. O ano de 1880 no Congresso de Milão um grupo de
ouvintes, dentre eles Graham Bell, determinaram que a língua gestual fosse excluída e
substituída pela língua oral. Esta fase foi uma fase conturbada na educação dos surdos
de todo o mundo e o oralismo foi a técnica adotada nos anos finais do século XIX e
grande parte do século XX. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%B3ria_dos_surdos)
            Finalizando essa discussão gostaríamos de trazer um questionamento feito por
Quadros para nos levar a refletir sobre o famoso e polêmico Congresso de Milão,


                             Para justificar a deliberação do Congresso, que foi determinante na história
                             da educação de surdos, não podemos argumentar que o processo pedagógico
                             estava com problemas e precisava ser modificado. Pelo contrário, a educação
                             pública para surdos através das línguas de sinais, como vimos anteriormente,
                             vinha alcançando seus objetivos e conquistando seu espaço nas mesmas
                             condições dos ouvintes. Portanto, dentro desse quadro, pode-se levantar a
                             seguinte questão: que razões foram engendradas ao longo da história da
                             humanidade que autorizaram cento e sessenta e quatro pessoas ouvintes a
                             decidirem o rumo da educação de surdos? (QUADROS, 2006, p.33)


            Não é difícil entender o porquê de tal determinação, pelo que pudemos
constatar, ao longo do processo educacional como um todo, as imposições sempre são
colocadas por um número reduzido de pessoas, geralmente da elite. Acreditando que
sabem o que é melhor para a educação de uma nação, defendem uma tese sem procurar
conhecer os anseios dos maiores interessados, neste caso os surdos, e acabam
influenciando e prejudicando o desenvolvimento dos alunos ao longo de séculos. O pior
que em busca de imitar um modelo europeu de educação foi adotado um novo método
de ensino sem refletir sobre as suas conseqüências e sem considerar os pontos positivos
d o gestualismo ao longo do processo histórico na educação dos surdos.
            Como o estudo nos aponta este século mesmo com todas as dificuldades e
polêmicas foi muito importante para esse alunado que pôde ter acesso ao conhecimento.
E foi constatado que tendo oportunidades são capazes de aprender, progredir e dar a sua
contribuição para com a sociedade, a exemplo dos surdos que foram apresentados neste


2
    Conhecida na atualidade como Língua de Sinais

                                                                                                    663
estudo. Ficou uma incógnita como eram educados os surdos que não tiveram acesso ao
instituto, deduzimos que deveriam ter mestres ou preceptores incumbidos de tal tarefa,
como era o costume da elite da época, porém não podemos assegurar.
         Contudo devemos reconhecer diante do que foi exposto a colaboração de
D.Pedro II ao apoiar a iniciativa de L’Épée ao fundar o Instituto dos Surdos –Mudos no
Rio de Janeiro.E principalmente nos orgulhar de ter o sergipano Tobias Leite a frente
deste Instituto, por vinte e oito anos, divulgando e lutando pela a educação dos surdos
brasileiros.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


AZEVEDO, Fernando de. As origens das instituições escolares. In: A cultura
brasileira. Parte III- A transmissão da cultura. 6ª Ed. Brasília: Editora UNB, 1996.
P.545-601
BRUGGER, Silvia Maria Jardim. Minas Patriarcal: família e sociedade (São João Del
Rei- séculos XVIII e XIX). São Paulo: Annablume, 2007

GUGEL, Maria Aparecida. A pessoa com deficiência e sua história com a humanidade.
Disponível em: <htt://juazeirodonorte. apaebrasil.org.br/arquivos.phtml?t=11601>Acesso
em 20 maio.2009

PINTO, Fernanda Bouth. Vendo Vozes: a história da educação dos surdos no Brasil
oitocentista. Disponível em:
< http://www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf> Acesso em 20
maio.2009

QUADROS, Ronice Muller. Estudos Surdos I. Petrópolis: Arara Azul, 2006.

SOUZA, Verônica dos Reis Mariano. Gênese da Educação dos Surdos em Aracaju. Tese
( Doutorado em Educação) Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007.

VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. A casa e seus mestres: a Educação no Brasil de
Oitocentos. Rio de Janeiro: Gryphus, 2005.
Outras fontes:
CHARLES-MICHEL DE L’ÉPÉE. Disponível em:
<http://pt. wikipedia.org/wiki/Charles-   Michel_de_1%C3%89%p%C3%A9> Acesso
em:21maio.2009



                                                                                   664
HISTÓRIA DOS SURDOS.
Disponível<http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%B3ria_dos_surdos> Acesso em: 22maio.
2009
JUAN PABLO BONET.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Pablo_Bonet> Acesso em: 22 maio.
2009.
PEDRO PONCE DE LEON.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Ponce_de_Le%C3%B3n> Acesso
em 22 maio. 2009




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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - UFS Grupo de Pesquisa Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais – EDaPECI ANAIS DO II SEMINÁRIO EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO, INCLUSÃO E INTERCULTURALIDADE DE 12 A 14 DE AGOSTO DE 2009 A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NO BRASIL IMPÉRIO Josilene Souza Lima Barbosa Mestranda em Educação/UFS Membro do NUPIEDE Membro do GEIED josylenelbarbosa@hotmail.com RESUMO A educação no Brasil Império foi marcada pelo ensino elitista, iniciava-se nas casas dos aprendizes com aulas ministradas por profissionais escolhidos pelos pais, assim como os conteúdos a serem ensinados a educação na Casa era o costume da época, as pessoas acreditavam que mandar os filhos para colégios, estes poderiam ter más influências, já que nos colégios eram freqüentados por pessoas de classes menos favorecidos. Diante desta realidade, este estudo tem como objetivo fazer um breve recorte de como acontecia à educação no século XIX e apresentar os meios pelos quais as pessoas com surdez tinham acesso à educação neste período. Optamos por uma pesquisa bibliográfica apoiada nos estudos de Brugger (2007), Azevedo (1996), Vasconcelos (2005), Souza (2007) dentre outros. O estudo nos levou a refletir e reconhecer a colaboração de D.Pedro II ao apoiar a iniciativa de L’Épée ao fundar o Instituto dos Surdos –Mudos no Rio de Janeiro, a conhecer e valorizar o empenho do ilustre sergipano Tobias Leite como diretor deste Instituto, divulgando e lutando pela a educação dos surdos brasileiros. Palavras-chave: Educação. Império. Instituto dos Surdos-Mudos. LA EDUCACIÓN DE LOS SORDOS EN BRASIL IMPERIO RESUMEN La educación en Brasil Imperio fue marcada por lo ensenanza elitista, fue iniciada en las casas de los aprendizes con lecciones dadas por los profesionales elegidos para los padres, tan bien como el contenido para ser enseñado la educación en la casa que era el costumbre del tiempo, la gente creyó que pedir a los niños para los colegios, éstos podrían tener dañan influencias, puesto que en los colegios fueron frecuentadas por la gente de clases menos favorecida. Delante de esta realidad, este estudio tiene tan 655
  • 2. objetivo para hacer un informe que corta de como sucedió la educación en el siglo XIX y presentar las maneras para las cuales la gente con sordera tenía acceso a la educación en este período. Optamos a una investigación bibliográfica apoyada en los estudios de Brugger (2007), Azevedo (1996), Vasconcelos (2005), Souza (2007) entre otros. El estudio en él los tomó para reflejar y para reconocer la contribución de D.Pedro II al apoyar la iniciativa de L Épée al establecer al Instituto de los sordomudos en el Río de Janeiro.Para conocer y para valorar lo empeno del sergipano ilustre Tobias Leite como el director de este Instituto, y divulgación y lucha para la educación de los sordos brasileños. Palabras-llave: Educación. Imperio. Instituto de los Sordomudos. Educação no Brasil Imperial A educação brasileira no período imperial era destinada às elites e sob a responsabilidade das famílias, isto é, eram os pais que escolhiam se os filhos iriam ter aulas com mestres e/ou preceptores, as disciplinas a serem ensinadas, assim como os conteúdos. A escolha dava-se de acordo com os interesses das famílias e os filhos na maioria das vezes não tinham o direito de opinar quanto às decisões do seu futuro. A família era à base da sociedade e em torno dela giravam todos os interesses. Segundo Brugger (2007) ser obediente aos pais não implicava na maioria das vezes, na anulação ou na contrariedade dos desejos dos filhos, não se tratava das vontades pessoais de pais e filhos, mas sim de objetivos familiares e para atingí-los todos deveriam contribuir. A autora coloca que nem todos os projetos familiares eram bem sucedidos. Mas ainda nestes casos, o apoio, a reestruturação e a adequação à nova realidade eram buscadas no interior do seio familiar. Nem tudo acontecia de forma harmoniosa, houve muitas circunstâncias de desavenças e rupturas, “mas, mesmo nelas, o agente social por excelência era a família, ainda que se pudessem opor ramos de uma mesma parentela”. (p.330) Brugger cita que as famílias se preocupavam com a instrução de seus filhos e que em seus testamentos elegiam tutores que pudessem se responsabilizar pela educação dos filhos após a sua morte. Cabe salientar que os pais não confiam e/ou, julgavam as mães incapazes de cuidar dos filhos e nomeavam tutores para essa função. 656
  • 3. “[...] os tutores não deveriam além do trabalho da criação, assumir nenhum tipo de despesa com ‘mestres, vestuários e enfermidade’. Estas deveriam ser descontadas da herança do próprio filho, o que estabelecia por entender que ‘lhe será mais útil a boa educação que, sem essa, o vulto da herança” (BRUGGER, 2007, p.154) A educação “formal" iniciava-se nas casas dos aprendizes, geralmente por mestres estrangeiros. Seus pais acreditavam que estes, eram melhores preparados para se encarregar da educação dos seus filhos, já que a educação européia era famosa e tida como a melhor. A educação na Casa era o costume da época, as pessoas acreditavam que mandar os filhos para colégios, poderia ter más influências, já que nos colégios eram freqüentados por pessoas de classes menos favorecidos. Os profissionais interessados em candidatar-se a mestres, preceptores ou professores colocavam anúncios nos jornais de acordo com as suas qualificações. Vasconcelos fez um estudo detalhado sobre a educação na Casa e trouxe dados importantes esclarecendo e informando como acontecia a educação nas Casas no século XIX, o perfil dos “professores”, e quais as modalidades de ensino existentes na época. Traz em sua obra conceitos importantes, dentre eles: Professores particulares- também chamados de mestres particulares ou mestres que davam lições ‘por casas’, eram mestres específicos de primeiras letras, gramática, línguas, música, piano, e outros conhecimentos. [...] Não habitam nas casas, mas compareciam para ministrar aulas, em dias e horários pré-estabelecidos. Preceptores- eram mestres ou mestras que moravam na residência das famílias, às vezes, estrangeiros, contratados para a educação das crianças e jovens da casa (filhos, sobrinhos, irmãos menores). Por vezes, encontram-se preceptores denominados de aios ou amos, aias ou amas. [...] sendo encontrados nas classes mais abastadas. Aulas domésticas- eram aulas ministradas no espaço da própria casa, por membros da família, mãe, pai, tios, avós, ou até pelo padre capelão, que não tinham custo algum e atendiam apenas às crianças daquela família ou parentela. Mestre–escola- eram mestres que ministravam aulas em sua própria casa para crianças e jovens de diversas famílias, na maioria das vezes de faixas etárias diferentes. Os alunos recebiam aulas na casa do mestre em dias e horários determinados. [...] Podiam ser contratadas as apenas as aulas que interessassem aos alunos. O pagamento era feito por pai de cada criança atendida. De acordo com o estudo de Vasconcelos (2005) existiam três modalidades de ensino: Ensino público- refere-se àquele oferecido nas escolas mantidas pelo Estado ou por ‘associações subordinadas a este’. Ensino particular- refere-se àquele que era oferecido nos colégios particulares ou na casa dos mestres, que recebiam crianças e jovens para ensinar-lhes os conhecimentos estabelecidos. Educação doméstica- era aquela que ocorria na Casa do aprendiz, na esfera privada, na qual os pais contratavam, mediante sua livre escolha, os mestres, os conteúdos e as habilidades a serem ensinados a seus filhos, no tempo e disposição exclusivamente determinados pela Casa. Essa modalidade de ensino tinha como agentes, os professores particulares, os preceptores, os parentes ou agregados e, ainda, os padres que ministravam aulas domésticas. (VASCONCELOS, 2005 p.12-17) 657
  • 4. Cabe salientar que nesta época a educação de meninos e meninas dava-se em espaços separados. Os meninos iniciavam a educação no ambiente doméstico e posteriormente eram mandados para as instituições existentes para concluir a educação secundária: particulares, oficiais e religiosas. Para as meninas as famílias traçavam outros objetivos aprendiam a ler, escrever, noções de matemática, mas deveriam estar incluídos nos “programas” de ensino as prendas do lar, música, tocar piano e artes para prepará-las para o casamento e agradar aos futuros esposos. Segundo Azevedo (1996) com a chegada da família real foram criadas as escolas de preparação profissional por D. João VI. No primeiro Império, dois cursos de ciências jurídicas e sociais criados pela lei 11 de agosto de 1827, nas cidades de São Paulo no dia 1º de março no convento de São Francisco e o de Olinda no dia 15 de maio de 1828, no Mosteiro de São Bento. As duas faculdades de medicina surgem na primeira metade do século XIX sendo uma na Bahia e a outra no Rio de Janeiro. Cabe ressaltar que a elite da época é que tinha acesso a estas faculdades. O trabalho da terra, como a atividade mecânica e industrial, parecia reservado aos ignorantes e incapazes e mal se acomodava com essa espécie de enobrecimento que confere a passagem pela escola – pelos liceus e faculdades, destinadas à preparação para as profissões liberais. Os estudantes do Brasil, como, aliás, em toda a parte, vinham da elite da sociedade – do patriarcado rural ou daquela pequena burguesia que procurava ascender às camadas superiores -, dirigiam-se às aulas e aos ginásios, e daí, às escolas de profissões liberais, especialmente às duas faculdades de direito. (AZEVEDO, 1996, p.562) Como observado à educação no Brasil imperial era marcada pela valorização da cultura, instrução e dos interesses familiares. E como era a educação das pessoas com deficiência nesta época? Tentaremos na próxima seção trazer alguns dados sobre a educação dos surdos no Brasil Império. A importância do Instituto dos Surdos-Mudos1 para a educação brasileira As pessoas com deficiência sempre enfrentaram muitos preconceitos ao longo dos séculos em busca de formação e acesso ao conhecimento. Muitos acreditavam que eram incapazes, de aprender, de produzir e de dar a sua contribuição à sociedade. Como vimos anteriormente o modelo educacional da época era baseados no modelo europeu, tendo os preceptores, mestres, professores, na educação das casas oriundos em sua 1 Termo utilizado na época 658
  • 5. maioria da Europa, assim como os professores que atuavam nos colégios. A educação das pessoas com deficiência no Brasil não fugiu a essa regra. Nas fontes consultadas não encontramos como se dava a educação destas pessoas nas Casas, encontramos apenas a criação de institutos que viabilizaram o acesso ao conhecimento fundado por estrangeiros. A educação dos surdos no Brasil e, em outros países, teve seu inicio marcado pelos estudos de médicos e religiosos. Apesar da época delimitada não podemos deixar de destacar alguns fatos que antecederam o século destacado para este estudo. Os estudos médicos sobre a deficiência e a linguagem, e a influência da medicina com a aplicação de normas higiênicas e disciplinares nas escolas, estiveram relacionadas às iniciativas de religiosos em criar e desenvolver institutos específicos para a educação dos surdos. Muitos médicos passaram a desenvolver seus trabalhos com surdos nos recém‐criados estabelecimentos, como exemplo o trabalho de Itard (1775‐1838) no Instituto Nacional de Surdos‐Mudos de Paris, o qual foi criado pelo Abade Charles Michel de L’Epée em 1760.(www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf) Segundo as fontes consultadas Jean Itard foi o primeiro médico a interessar-se pelo estudo da surdez e das deficiências auditivas. Quanto aos religiosos que deram a sua contribuição na educação dos surdos encontramos: Pedro Ponce de Leon (1520-1584) era espanhol e foi um monge beneditino considerado o primeiro professor de surdos. Seus alunos eram filhos de aristocratas ricos que tinham recursos, tornando- se tutor destas crianças surdas. O trabalho de Leon era focado em ensinar as crianças a aprender a escrever através de gestos simples e desenvolveu o alfabeto manual que permitia aos estudantes a aprender a soletrar toda a palavra. O seu trabalho foi considerado de grande importância por seus contemporâneos. Os europeus no século XVI acreditavam que os surdos não podiam ser educados. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Ponce_de_Le%C3%B3n) Juan Pablo Bonet foi um padre espanhol, e educador de surdos. Em 1620 publicou em Madri, o livro Redução das Letras e Arte de Ensinar a Falar os Mudos. Foi professor de Luís Velasco, Condestável de Castela, para quem Bonet era secretário particular. Nesta família havia muitos surdos, já que existiam muitos casamentos entre parentes, afim de, manter o patrimônio vinculado a família. O seu método consistia no alfabeto manual (dactilologia), por acreditar que seria mais fácil ensinar o surdo a ler se utilizasse este método. Conforme as fontes o seu livro atraiu as atenções de muitos intelectuais europeus para a causa dos surdos, dentre eles: Jacob Rodrigues Pereira, Amman e Wallis. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Pablo_Bonet) 659
  • 6. Charles-Michel de L’Épée (1712-1789), francês, foi um educador filantrópico do século XVIII, ficou conhecido como o ‘Pai dos Surdos’. O método utilizado era centrado no uso de gestos e sinais, acreditava no princípio de que o ‘surdo-mudo deve ser ensinado através da visão. O seu diferencial em relação aos seus antecessores foi ter permitido que os seus métodos e o acesso às suas aulas fossem abertas ao público e a outros educadores. Estabeleceu programas de ensino/treinamento para estrangeiros que pretendiam levar os métodos de ensino para o seu país, e acabou contribuindo para a abertura de muitas escolas pelo mundo. Um exemplo foi Laurent Clerc, surdo francês, aluno da escola de L’Épée que juntamente com Thomas HopKins Gallaudet, educador ouvinte, fundaram a primeira escola de surdos da America do Norte aplicando os conhecimentos adquiridos com o mestre. Dentre as suas principais contribuições estão: Criação do Instituto Nacional de Surdos Mudos, em Paris. Esta foi a primeira escola de surdos do mundo; Passagem da educação individual para a coletiva; Divulgação da língua gestual entre nobre, filósofos e educadores da época, mostrando a importância e a riqueza da mesma.(http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles- Michel_de_1%C3%89%p%C3%A9) Segundo Gugel no Brasil o Imperador D. Pedro II motivado pelo movimento europeu cria duas instituições para as pessoas com deficiência: O Imperial Instituto dos Meninos Cegos (atualmente Instituto Benjamim Constant), através do Decreto Imperial nº 1.428, de 12 de setembro de 1854. E o Instituto de Surdos Mudos fundado em 26 de setembro de 1857 (atualmente Instituto Nacional de Educação dos Surdos –INES). A criação deste último instituto teve como objetivo apoiar as idéias do professor francês Ernest Huet. Pinto traz dados importantes sobre a criação do Instituto dos Surdos- Mudos do Rio de Janeiro. Segundo a autora começou na Europa através do Instituto Nacional de Paris, cabe exaltar que Huet era surdo e professor deste instituto e já tinha sido diretor do Instituto de Surdos-Mudos de Bourges. A criação desta escola começou com uma carta de apresentação do Ministro da Instrução Pública da França entregue ao Governo brasileiro. D. Pedro II determinou que fosse organizada uma comissão com figuras importantes do Império para promover a fundação da escola para surdos. Em 1856 o professor Huet apresenta o seu programa de ensino, cujas disciplinas eram: Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada, Leitura sobre os Lábios e Doutrina Cristã. No que se refere à disciplina “Leitura sobre os Lábios”, esta só seria oferecida aos que tivessem aptidão, reconhecendo‐se que quem tivesse resíduo auditivo teria muito mais chance de desenvolver a Linguagem Oral. Esta questão sempre foi tomada como objeto de polêmica ao longo da 660
  • 7. história do Instituto, uma vez que a orientação educacional era diferenciada, ou seja, os que não tinham aptidão para a linguagem oral, segundo o entendimento da época, não freqüentavam as aulas de Leitura sobre os Lábios. (www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf) Em 1856 embora não oficializado o Instituto já funcionava e Huet e teve duas meninas surdas como alunas eram: Umbelina Cabrita e Carolina Bastos. Segundo Pinto eram do Rio de Janeiro e foram admitidas em 1º de janeiro de 1856, recebiam pensão anual paga por sua Majestade Imperial. O instituto era mantido através de pensões de diversos órgãos. Pinto embasado na matrícula de 1858 apresenta os seguintes dados: havia dezenove alunos cujas pensões equivaliam 500 réis cada uma; dois alunos recebiam pensão de Vossa Majestade Imperial, um recebia do Convento do Carmo, um do Mosteiro de São Bento, seis eram mantidos pelo Tesouro Nacional, cinco pelo Tesouro Provincial e quatro por pensões particulares, sendo que dois alunos mantidos por particulares saíram do instituto. De acordo com Souza (2007) a escola de surdos funcionava no Colégio Vassinon. No ano de 1856, segundo a autora, Huet apresentou o resultado do seu trabalho e ganhou a admiração do imperador. O professor passou por inúmeras dificuldades econômicas, disciplinares e morais que tumultuaram o Instituto. Em 1861, reconheceu que não tinha condições de dirigir à instituição, propôs ao Marques de Olinda que lhe pagasse indenização e uma pensão anual para entregar a escola ao Império, no final deste mesmo ano, “mediante acordo financeiro, desligou-se das suas funções e mudou-se para o México, para ensinar aos surdos de um instituto fundado por seu irmão também surdo, Adolphe Huet” (SOUZA, 2007, p. 85) Até a chegada do novo Professor que estava sendo habilitado no Instituto de Surdos de Paris, o Instituto do Rio de Janeiro foi dirigido por Frei João do Monte do Carmo e por Ernesto do Prado Seixas. Em Julho de 1862, chegou ao Brasil o professor contratado Dr. Manoel de Magalhães Couto, que ficou na Direção até 1868. Ele foi exonerado pela constatação da inspeção de que não havia trabalho algum no Instituto, simplesmente um grande depósito asilar de surdos‐mudos. (www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf Conforme Souza (2007, p.86) em agosto de 1868 Tobias Leite, médico sergipano, nascido na cidade de Riachuelo assume o cargo de diretor interino e em 1872 foi nomeado diretor efetivo, ocupando o cargo até 1896, ano de sua morte. A autora coloca que desde que Tobias assumiu o instituto a educação dos surdos passou a ser sistematizada e divulgada. Embasada em Bastos elenca as obras de Leite que tiveram distribuição gratuita e de grande contribuição para a educação brasileira, são elas: 661
  • 8. Notícia do Instituto dos Surdos-Mudos (1871) reeditada em 1876, 1877e 1887, tendo como objetivo divulgar o instituto; Compêndio para o ensino dos Surdos-Mudos (1881); Lições de Metrologia (1875); Salvaguarda do surdo-mudo brasileiro (1876); Noções de língua portuguesa para surdos-mudos (1871), Contos morais para surdos-mudos (tradução, 18770) e Regimento Interno dos Surdos-Mudos (1877). Administrar o instituto por 28 anos não foi uma tarefa fácil, assim como foi para L’Èpée e seus sucessores. Os recursos eram insuficientes para manter os alunos na instituição. Souza (2007) relata que de acordo com o recenseamento da época apontasse a existência de 209 surdos no Rio de Janeiro. Desde a fundação até 1873, o instituto recebeu apenas 101 alunos. Segundo a autora Tobias Leite lamentava por estes números, já que o instituto era a única escola de surdos existente. O instituto estava preparado para receber e educar 100 alunos internos e número ilimitado para externos, porém não ultrapassava de 33 alunos. Em 1880, foi criado o Museu Escolar do Instituto dos Surdos-Mudos, através do Decreto-Lei nº890, de 1880, com objetos oferecidos pelo imperador D. Pedro II. Este museu era mais um recurso em prol da educação deste alunado na época, pois facilitava a aprendizagem, porque os alunos visualizam e manuseavam objetos, aguçava a curiosidade. Souza (2007) cita que o método utilizado no instituto era o método intuitivo onde o professor utilizava materiais diversos (mapas, selos, gravuras, etc.) A autora informa que no inicio Tobias adotou a língua de sinais como melhor meio de ensinar os surdos, depois das polêmicas levantadas nos congressos internacionais adotou o ensino da língua oral. Em 1875, Tobias Leite publicou o livro Iconografia dos Sinais dos Surdos-Mudos, obra de Faustino José da Gama, aluno do instituto. Além da organização do museu pedagógico, Tobias Leite interessou-se ativamente por exposições internacionais, seja contribuindo financeiramente, seja divulgando o Instituto dos Surdos-Mudos, através de livros e artefatos dos alunos (SOUZA, 2007, p.94) Souza (2007) relata ainda, a existência do Colégio Menezes Vieira nesta fase imperial, segundo a mesma o colégio teve uma curta duração de 1875 a 1887. Foi o primeiro jardim de infância e era símbolo de modernismo no Império, cujo referencial teórico era baseado em Frobel. 662
  • 9. Como pudemos observar o método mais adotado na educação dos surdos era o gestualismo 2 (método francês), porém existia outra corrente que defendia o oralismo (ou método alemão). Os surdos optavam pelo gestualismo enquanto os ouvintes apoiavam o oralismo. Em 1872, no Congresso de Veneza decidiu-se que o método que deveria ser adotado era o oralismo, porque a língua oral tem vantagens para o desenvolvimento do intelecto, da moral e da lingüística. O ano de 1880 no Congresso de Milão um grupo de ouvintes, dentre eles Graham Bell, determinaram que a língua gestual fosse excluída e substituída pela língua oral. Esta fase foi uma fase conturbada na educação dos surdos de todo o mundo e o oralismo foi a técnica adotada nos anos finais do século XIX e grande parte do século XX. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%B3ria_dos_surdos) Finalizando essa discussão gostaríamos de trazer um questionamento feito por Quadros para nos levar a refletir sobre o famoso e polêmico Congresso de Milão, Para justificar a deliberação do Congresso, que foi determinante na história da educação de surdos, não podemos argumentar que o processo pedagógico estava com problemas e precisava ser modificado. Pelo contrário, a educação pública para surdos através das línguas de sinais, como vimos anteriormente, vinha alcançando seus objetivos e conquistando seu espaço nas mesmas condições dos ouvintes. Portanto, dentro desse quadro, pode-se levantar a seguinte questão: que razões foram engendradas ao longo da história da humanidade que autorizaram cento e sessenta e quatro pessoas ouvintes a decidirem o rumo da educação de surdos? (QUADROS, 2006, p.33) Não é difícil entender o porquê de tal determinação, pelo que pudemos constatar, ao longo do processo educacional como um todo, as imposições sempre são colocadas por um número reduzido de pessoas, geralmente da elite. Acreditando que sabem o que é melhor para a educação de uma nação, defendem uma tese sem procurar conhecer os anseios dos maiores interessados, neste caso os surdos, e acabam influenciando e prejudicando o desenvolvimento dos alunos ao longo de séculos. O pior que em busca de imitar um modelo europeu de educação foi adotado um novo método de ensino sem refletir sobre as suas conseqüências e sem considerar os pontos positivos d o gestualismo ao longo do processo histórico na educação dos surdos. Como o estudo nos aponta este século mesmo com todas as dificuldades e polêmicas foi muito importante para esse alunado que pôde ter acesso ao conhecimento. E foi constatado que tendo oportunidades são capazes de aprender, progredir e dar a sua contribuição para com a sociedade, a exemplo dos surdos que foram apresentados neste 2 Conhecida na atualidade como Língua de Sinais 663
  • 10. estudo. Ficou uma incógnita como eram educados os surdos que não tiveram acesso ao instituto, deduzimos que deveriam ter mestres ou preceptores incumbidos de tal tarefa, como era o costume da elite da época, porém não podemos assegurar. Contudo devemos reconhecer diante do que foi exposto a colaboração de D.Pedro II ao apoiar a iniciativa de L’Épée ao fundar o Instituto dos Surdos –Mudos no Rio de Janeiro.E principalmente nos orgulhar de ter o sergipano Tobias Leite a frente deste Instituto, por vinte e oito anos, divulgando e lutando pela a educação dos surdos brasileiros. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Fernando de. As origens das instituições escolares. In: A cultura brasileira. Parte III- A transmissão da cultura. 6ª Ed. Brasília: Editora UNB, 1996. P.545-601 BRUGGER, Silvia Maria Jardim. Minas Patriarcal: família e sociedade (São João Del Rei- séculos XVIII e XIX). São Paulo: Annablume, 2007 GUGEL, Maria Aparecida. A pessoa com deficiência e sua história com a humanidade. Disponível em: <htt://juazeirodonorte. apaebrasil.org.br/arquivos.phtml?t=11601>Acesso em 20 maio.2009 PINTO, Fernanda Bouth. Vendo Vozes: a história da educação dos surdos no Brasil oitocentista. Disponível em: < http://www.cultura- sorda.eu/resources/Bouth_vendo_vozes.pdf> Acesso em 20 maio.2009 QUADROS, Ronice Muller. Estudos Surdos I. Petrópolis: Arara Azul, 2006. SOUZA, Verônica dos Reis Mariano. Gênese da Educação dos Surdos em Aracaju. Tese ( Doutorado em Educação) Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007. VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. A casa e seus mestres: a Educação no Brasil de Oitocentos. Rio de Janeiro: Gryphus, 2005. Outras fontes: CHARLES-MICHEL DE L’ÉPÉE. Disponível em: <http://pt. wikipedia.org/wiki/Charles- Michel_de_1%C3%89%p%C3%A9> Acesso em:21maio.2009 664
  • 11. HISTÓRIA DOS SURDOS. Disponível<http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%B3ria_dos_surdos> Acesso em: 22maio. 2009 JUAN PABLO BONET. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Pablo_Bonet> Acesso em: 22 maio. 2009. PEDRO PONCE DE LEON. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Ponce_de_Le%C3%B3n> Acesso em 22 maio. 2009 . 665